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O presente artigo tem por objetivo, numa linguagem simples e descomplicada, abordar
como a economia brasileira se encontra, apresentando alguns aspectos e setores
considerados relevantes para tal fim.
1 - Distribuição de renda
O Brasil é o país que apresenta a maior concentração de renda entre 174 nações
analisadas pelo relatório de 1999 do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud). A renda per capita anual dos 20% mais pobres – 578 dólares,
quase igual à de um Estado africano como a Tanzânia – é 32 vezes menor que a dos
20% mais ricos – 18.563 dólares, equivalente à de uma nação européia como a Suécia.
O primeiro grupo detém apenas 2,5% dos rendimentos nacionais, enquanto o segundo
concentra 64,2% do total, de acordo com dados do Banco Mundial de 1999.
A melhoria das condições de vida das populações mais pobres deve-se, sobretudo, às
iniciativas da sociedade civil e de prefeituras. Essa é a avaliação do Banco Mundial,
que, em maio de 1999, divulga dez experiências bem sucedidas de combate à pobreza
desenvolvidas em 11 estados brasileiros. A seleção foi feita em conjunto com a
Fundação Getúlio Vargas (FGV). Dos dez projetos escolhidos, sete contam com a
participação da prefeitura local. A maior parte dos programas adota a mesma
estratégia para reduzir a pobreza: organizar e capacitar pequenas comunidades,
reunindo-as em cooperativas para facilitar a obtenção de crédito. As experiências
selecionadas são: Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente (BA),
Projeto de Couro Vegetal da Amazônia (AC e AM), Projeto Pescar e Instituição
Comunitária de Crédito Portosol (ambos no RS), Casa de Apoio à Mulher Adolescente
(PI), Bolsa-Escola (DF), Programa de Saúde da Família (PB), Introdução do Catador de
Papel no Mercado de Reciclagem de Lixo (MG), Sistema Integrado de Saneamento
Rural (CE) e Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local (CE e PE).
2 - Desemprego
Em 1999, a taxa média de desemprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) nas principais regiões metropolitanas do país é de 8,72% entre
janeiro e agosto. A projeção do índice para todo o país indica que nesse período 6,5
milhões de pessoas do total de 75,2 milhões da população economicamente ativa
brasileira estavam desempregadas. Em dezembro de 1997, o número de
desempregados não chegava a 4 milhões.
A quantidade de vagas extintas entre 1997 e 1998 passa de 35.731 para 581.752, de
acordo com o Ministério do Trabalho – um aumento de 1.528%. A indústria de
transformação, os serviços (sobretudo transportes e comunicação) e a construção
civil, embora sejam os setores que mais empregam, também são os que mais fecham
vagas.
Em virtude das reivindicações das centrais sindicais para que houvesse um acréscimo
no número das parcelas e no valor pago, o governo federal institui, em novembro de
1998, o seguro-desemprego extra. O benefício – três parcelas de 100 reais – é
concedido aos desempregados que receberam a primeira parte do seguro-desemprego
padrão entre julho de 1997 e janeiro de 1998. Essa nova modalidade é válida somente
para os pedidos apresentados entre 1o de janeiro e 30 de junho de 1999.
3 - Balanço de pagamentos
Até o primeiro semestre de 1999, o balanço de pagamentos do Brasil segue a mesma
tendência de déficit dos dois anos anteriores.
Isso significa que a saída de recursos do país continua maior que a entrada,
comportamento resultante do persistente déficit nas transações correntes e da
entrada insuficiente de recursos externos.
No final de 1998, após a crise financeira russa, surge certa desconfiança sobre o
desempenho da economia brasileira. Os investidores estrangeiros de curto prazo
começam a retirar seu capital do país e os nacionais passam a enviar mais recursos ao
exterior. A elevação dos juros provoca um aumento da dívida pública e deprime ainda
mais a atividade econômica, situação que ajuda a piorar as expectativas dos
investidores . Com isso, ocorre uma profunda diminuição das reservas internacionais, o
que interfere na capacidade do Banco Central de manter a política de bandas
cambiais .
4 - Balança comercial
Em 1999, a balança comercial brasileira – relação entre as exportações e as
importações – apresenta perspectiva de déficit de 1 bilhão de dólares. No ano
anterior, havia sido de 6,4 bilhões de dólares. O déficit ocorre quando o valor das
importações excede o das exportações. Quando se dá o contrário, há um superávit. O
melhor resultado de 1999 em relação a 1998 deve-se, principalmente, à desvalorização
cambial do início do ano.
O dólar e outras moedas estrangeiras se tornam mais valorizados que o real, o que
implica importações mais caras e exportações mais baratas. Assim, há estímulo para a
redução das compras externas e para o aumento das vendas no exterior. Esse
processo, no entanto, não se dá instantaneamente, pois exige o ajuste da produção
interna para a substituição, quando possível, de insumos importados por nacionais e a
fabricação de uma quantidade maior de mercadorias exportáveis. Desse modo, a
reação das exportações só deve ser percebida de fato a partir de 2000. A diminuição
da importação de bens de consumo acontece de forma mais rápida. A recessão
(decréscimo do montante produzido em relação ao ano anterior) de 0,1% projetada
para 1999 contribui para a redução do consumo, sobretudo de ítens importados.
Desde a crise da dívida externa, na década de 80, o país faz grande esforço para
conseguir superávits comerciais. A intenção é adquirir dólares para pagar os juros da
dívida externa. A situação de superávit, que se estende de 1984 a 1994, modifica-se
com a implantação do Plano Real, pois a política de valorização do câmbio torna o dólar
mais barato, facilitando as importações. A balança comercial brasileira passa, assim, a
apresentar déficits a partir de 1995.
Para isso também contribui a abertura comercial (redução das barreiras contra as
importações) do início da década.
5 - Dívida externa
A dívida externa brasileira vem mudando de perfil nos últimos anos. Além de
relativamente estabilizada – praticamente não cresce de 1998 para 1999 –, já não se
concentra nos governos estaduais e federal, mas na iniciativa privada. Por causa dos
juros elevados impostos pela política monetária e cambial implementada com o Plano
Real a partir de 1995, torna-se mais barato para as empresas nacionais financiar seus
projetos de investimento com recursos externos, que oferecem taxas de juros
inferiores .
entrada, há um déficit na balança de serviços – que mede o fluxo de divisas para fins
de turismo e remessas de lucros e juros, entre outros.
No final da década de 70, com a elevação dos juros internacionais, o valor da dívida
externa brasileira aumenta de forma acentuada. Em 1982, a crise atinge seu auge.
Nessa época, o setor público respondia por quase a totalidade da dívida, ao contrário
do que ocorre hoje. Em 1999, empresas e governo reduzem a emissão de títulos
(documento que certifica a propriedade de determinado valor) no exterior, pois, com a
crise cambial de janeiro, diminui a disposição dos investidores para emprestar
dinheiro ao país. O mercado internacional fica receoso quanto ao desempenho da
economia brasileira e teme uma possível suspensão dos pagamentos. Atualmente, o
grande problema do governo brasileiro não é mais a dívida externa, mas a dívida
interna.
6 - Política cambial
Em janeiro de 1999, o rompimento da política de bandas cambiais, em vigor desde
1995, leva à desvalorização do real diante do dólar, com reflexos diretos na inflação,
no produto interno bruto (PIB) e na taxa de juros. Nesse mês, a cotação da moeda
brasileira sofre uma redução média de 25%. De dezembro de 1998 a outubro de 1999,
a desvalorização chega a 73%.
país. O governo tenta, então, incentivar a entrada de capital estrangeiro por meio de
taxas de juros elevadas – que atraem os investidores externos por oferecer maior
remuneração – para compensar o saldo negativo da balança .
As crises asiática, em 1997, e russa, em 1998, geram uma expectativa negativa nos
mercados financeiros nacional e internacional, que passam a desconfiar da capacidade
do governo brasileiro de manter a política de bandas cambiais, com taxa de câmbio
sobrevalorizada. A partir do segundo semestre de 1998, há grande saída de capitais
do país e compra de dólares por investidores nacionais e estrangeiros, como forma de
se precaver contra uma crise cambial. Dessa forma, as reservas do BC diminuem, o que
interfere na sua capacidade de manter o sistema de bandas cambiais. Os agentes
econômicos, ao perceber a fragilidade do BC, passam a demandar ainda mais dólares.
Aliado a isso existe a ação dos especuladores, que, retirando seu capital, tentam
forçar a desvalorização, atitude conhecida como ataque especulativo. Os investidores
compram dólar a uma cotação sobrevalorizada (mais barato) e esperam vender por um
valor mais alto, após uma possível depreciação da moeda.
7 - PIB
O produto interno bruto (PIB) brasileiro, de acordo com projeções para 1999,
apresenta um decréscimo de 0,1% em relação a 1998, o que indica uma pequena
recessão (redução da produção). Por causa da desvalorização do real em relação ao
dólar em janeiro de 1999, as expectativas eram de uma queda ainda maior, próxima a
4%, o que não se confirmou. Desde 1992, o PIB não registrava um valor negativo.
A renda per capita é a média obtida ao dividir o produto nacional bruto (PNB) pelo
número de habitantes de um país. O PNB é a expressão em valor monetário de todos
os bens e serviços finais produzidos com recursos de uma nação, empregados dentro
ou fora dela, pertencentes a pessoas de nacionalidade brasileira ou empresas de
capital nacional. Ao contrário do PIB, inclui os resultados obtidos no exterior e
desconta as remessas de lucro do capital estrangeiro dentro do território nacional.
8 - Indústria
O ano de 1999 é marcado por uma forte crise do setor industrial, gerada pela
desvalorização cambial pela queda de produção, pelo aumento dos níveis de
produtividade e pela dispersão geográfica das fábricas. Entre janeiro e setembro, a
indústria apresenta uma retração de 2,6% em relação ao mesmo período de 1998. É o
segundo ano consecutivo de decréscimo, após uma fase de crescimento entre 1993 e
1997. Dos 20 principais ramos da indústria brasileira, 12 indicam diminuição da
produção, em especial o complexo metal-mecânico: material elétrico e de
comunicações (-13,5%), mecânica (-11,2%), material de transporte (-11,5%) e
metalúrgica (-5,1%). Essas áreas, que incluem entre outras a produção de bens de
consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos, por exemplo) e de máquinas
industriais, são as mais atingidas pela crise, pois dependem de crédito tanto para o
consumo quanto para a produção. Dos oito segmentos que apresentam desempenho
positivo, destacam-se extrativismo mineral (10,4%), produtos alimentícios (2,4%),
papel e papelão (3,7%) e têxtil (1,9%). Em 1998, a participação do setor industrial no
produto interno bruto (PIB) é de 34%, valor praticamente igual ao registrado no ano
anterior (34,3%).
A indústria nacional é atingida nos últimos anos pela abertura comercial, pelo câmbio
que favorece importações (até janeiro de 1999) e pelas elevadas taxas de juros
Setores do empresariado reivindicam medidas para estimular a produção e
estabelecer critérios mais vantajosos para o país nas relações comerciais com o
mercado internacional. Como resposta a isso, é criado, em 1o de janeiro de 1999, o
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O segmento das micros e pequenas indústrias ganha novo impulso em outubro de 1999
com a aprovação do Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Sua
entrada em vigor estava prevista para 14 de dezembro de 1999. Ele garante
tratamento diferenciado a essas indústrias em relação a questões trabalhistas,
previdenciárias e tributárias. Estabelece ainda incentivos fiscais e financeiros ao
setor, determina que as instituições financeiras oficiais devam manter linhas de
crédito específicas e aumenta o limite de faturamento anual para a classificação das
micros de 120 mil para 244 mil reais. O teto para as pequenas é mantido em 1,2 milhão
de reais. Outras facilidades são a desburocratização do processo de registro e o
acesso à exportação e à importação.
Desde meados dos anos 90, os ramos da indústria que mais crescem no Brasil são de
produtos plásticos (28,4%), materiais elétricos e de comunicações (27,7%), produtos
alimentícios (21,6%), bebidas (21%) e materiais de transporte (19,1%). O aumento na
produção de materiais elétricos, de comunicações e de transporte está ligado aos
novos investimentos em infra-estrutura, às recentes privatizações na área de
telecomunicações e às concessões ferroviárias e rodoviárias. O desempenho positivo
da indústria de alimentos e bebidas nos últimos anos, por sua vez, tem relação com o
crescimento do consumo verificado após a implantação do Plano Real em julho de 1994.
de trabalho diminui 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda assim,
representa uma pequena melhora diante do resultado registrado no primeiro
semestre, quando a retração foi de 9%. As indústrias que mais fecharam vagas são as
localizadas em Minas Gerais (12,2%) e São Paulo (9,4%). No Nordeste, a retração no
emprego é de 8,4%, e, no Sul, de 6,6%.
A localização da indústria automobilística também tem mudado nos últimos anos. Antes
ela estava concentrada no Sudeste do país, mais especificamente na região do ABC
paulista. As novas fábricas, porém, têm preferido o Sul e o Nordeste, atraídas por
vantagens fiscais e custos de mão-de-obra mais baixos. A indústria de automóveis é
um dos segmentos industriais que mais se transformam tecnologicamente nos últimos
anos, utilizando o que há de mais avançado no mundo em mecanização, informatização e
robotização. Isso influi na menor quantidade de empregos gerados pelo setor.
9 - Comércio
Em 1999, o comércio, parte do setor de serviços, é marcado pela crise gerada pela
desvalorização cambial, que atinge tanto consumidores como comerciantes . De janeiro
a agosto, apresenta uma retração de 4,5% em relação ao mesmo período do ano
anterior.
Nos oito primeiros meses de 1999, os itens que registram os melhores desempenhos
em relação ao mesmo período de 1998 são alimentação (expansão de 4,4%); remédios,
produtos farmacêuticos e artigos de perfumaria (12%); combustíveis e lubrificantes
(1,1%); e consumo residencial, composto de móveis e eletrodomésticos (0,5%).
Apresentam queda as lojas de departamentos (-27,6%), os ramos de automóveis e
motos (-18,8%), vestuário (-11,0%), materiais de construção (-5,7%) e supermercados
e hipermercados (-1,7%). Sete atividades apresentam diminuição no número de
trabalhadores empregados: lojas de departamentos (-21,6%); automóveis, motos,
peças e acessórios (-15,8%); farmácias, drogarias e perfumarias (-12,7%); vestuário,
calçados e tecidos (-11,6%); outros artigos de uso pessoal, como livros, brinquedos e
jóias (-6,0%); combustíveis e lubrificantes automotivos (-4,7%); e mercearias,
açougues e assemelhados (-0,7%).
O resultado obtido em 1999 se deve aos superávits fiscais – o governo arrecada com
impostos mais do que gasta com pessoal, custeio e transferências – e à redução da
taxa de juros básica da economia a partir de abril. De janeiro a julho, a dívida cresce
menos que a projeção feita pelo acordo com o FMI firmado em 1998. A elevação
ocorre sobretudo em razão do pagamento dos juros da própria dívida. Quanto a sua
composição, o governo federal responde por quase 60% do total.
Toda vez que a União, os estados e os municípios gastam mais do que arrecadam com a
receita de impostos, há um déficit. A fim de reduzi-lo, o governo contrai dívidas, em
geral saldadas por meio de empréstimos obtidos das empresas e dos cidadãos
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residentes no país, que formam o setor privado da economia nacional. Para isso, emite
um documento que certifica a propriedade de um determinado valor expresso em
moeda nacional, chamado título da dívida pública. O governo compromete-se a pagar
essa quantia ao portador num prazo específico.
11 - Déficit público
Déficit público é o montante de gastos do governo que excede a arrecadação. No
Brasil, esse é um problema crônico, que nos últimos anos se agrava por causa das altas
taxas de juros. Desde 1995, após a implantação do Plano Real, o governo brasileiro
mantém os juros elevados como forma de remunerar melhor quem investe no mercado
financeiro e atrair o capital estrangeiro. Essa política, no entanto, piora seus
problemas de caixa. Além disso, com a estabilidade econômica, o governo deixa de
contar com uma importante fonte de receita para financiamento do déficit público: o
imposto inflacionário – diferença entre o valor da moeda quando produzida e seu valor
efetivo no momento em que circula –, pois a emissão de moeda passa a ser controlada
com o objetivo de evitar a inflação. Para combater o déficit, são adotados planos de
ajuste que buscam a ampliação da arrecadação, por meio do aumento da carga
tributária, e o corte dos gastos públicos – em geral, suspendendo programas
governamentais.
Para analisar o comportamento do déficit público são usados três conceitos: o déficit
primário, o nominal e o operacional. Cada um apresenta um desempenho diferente em
1999.
O déficit primário – que não considera os gastos com os juros da dívida interna pública
– é negativo em razão da adoção de um pacote fiscal segundo os termos do Programa
de Estabilidade Fiscal estabelecido em outubro de 1998 e do acordo com o Fundo
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12 - Inflação
Depois de mais de quatro anos de taxas decrescentes – de 909,7% a 1,71% entre 1994
e 1998 –, a inflação volta a subir em 1999 . Até setembro desse ano, o índice
registrado é de 13,4%, de acordo com o Índice Geral de Preços (IGP-DI), da Fundação
Getúlio Vargas (FGV). A desvalorização cambial ocorrida em janeiro é apontada como
uma das principais responsáveis por esse desempenho. Com o dólar e outras moedas
estrangeiras mais valorizados que o real, as matérias-primas e os bens de consumo
importados tornam-se mais caros e provocam aumento dos preços em geral. Dessa
forma, há a perda do poder aquisitivo da moeda, o que caracteriza a inflação. Ou seja,
a mesma quantidade de dinheiro não consegue mais adquirir a mesma quantidade de
produtos que obtinha num período anterior.
Em 1999 quebra-se, então, uma tendência de queda na taxa de inflação – inclusive com
o registro de deflação (redução persistente dos preços) –, que se mantinha desde
1994. Para combater a inflação, o programa eliminou os mecanismos de indexação
formal e desestimulou a indexação informal (correção monetária feita de forma
independente pelas pessoas) por meio do controle da emissão da moeda, dos gastos
públicos e do câmbio.
Por mais de trinta anos, até 1994, a inflação é um dos principais problemas da
economia brasileira. Os índices anuais chegam várias vezes a romper a barreira dos
1.000%. Entre os fatores responsáveis pela origem da inflação estão os desequilíbrios
estrutural e monetário, ou a combinação dos dois. O desequilíbrio estrutural implica o
crescimento dos custos em alguma parte da cadeia produtiva, o que provoca a elevação
dos preços dos produtos finais. O fator monetário consiste no aumento da quantidade
de moeda em circulação na economia, o que leva a um maior consumo, mas sem
ampliação da oferta de bens e serviços. Como há mais pessoas querendo comprar do
que quantidade disponível, os preços dos produtos sobem.
Para calcular os vários índices que medem a inflação são utilizadas metodologias
baseadas em diferentes componentes de preço. Um índice de preços é uma média dos
valores de uma série de produtos e serviços num determinado período. O peso que
cada produto tem na sua formulação é definido pela quantidade de cada bem ou
serviço que é consumida por um conjunto de famílias ou empresas. Se o índice for
voltado para os consumidores, por exemplo, realiza-se periodicamente uma pesquisa de
orçamento familiar (POF) com uma amostra de famílias, em que se observa seus
hábitos de consumo. Com base nisso, é possível montar uma cesta de bens que
representa o consumo médio desse grupo. Os principais são o IPCA, o IGP-DI, o IPA-
DI e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).
12 - Juros
A taxa de juros acumulada para 1999 é de aproximadamente 25% ao ano. A taxa
brasileira é uma das maiores do mundo. Em julho de 1999, por exemplo, enquanto ela
chega a 1,62% ao mês, os juros básicos do Reino Unido (Libor) e dos Estados Unidos
(Federal Funds) ficam em 5,6% e 5% ao ano, respectivamente. O comportamento da
política de juros em 1999 é influenciado pelo rompimento do sistema de bandas
cambiais (flutuação do câmbio dentro de um intervalo prefixado) em janeiro, pelo
conseqüente temor da volta de índices elevados de inflação e pela tentativa de evitar
a saída do capital estrangeiro de curto prazo (volátil). A taxa de juros sofre aumento
entre fevereiro e março e começa a declinar a partir de abril, quando o Banco Central
(BC) realiza sucessivas intervenções para reduzi-la.
A atividade agropecuária brasileira passa por uma grande mudança nos últimos anos.
De modo geral, diminui o tamanho dos estabelecimentos em razão do avanço da
urbanização, da maior procura por áreas de lazer e da construção de obras de infra-
estrutura, mas há um aumento da produtividade.
13 - Política fiscal
Em outubro de 1999, o texto final do projeto de reforma tributária, que deve
introduzir uma profunda mudança na política fiscal do país, é apresentado à Comissão
Especial de Reforma Tributária da Câmara dos Deputados, após quatro anos de
tramitação. A política fiscal é um conjunto de ações e medidas tomadas pelo governo
com o objetivo de corrigir distorções econômicas e sociais; manter a estabilidade do
nível de produção, preços e empregos; e administrar os recursos de forma a produzir
bens e serviços para a sociedade. Isso é feito principalmente por meio da
determinação de impostos e contribuições.
sistema financeiro, em maio de 1997, 34% (cerca de 825 bilhões de reais) do dinheiro
movimentado pelos bancos não paga imposto. Uma das formas de elisão fiscal é a
remessa de capital para o exterior. O retorno, como investimento estrangeiro em
fundos de renda fixa e variável, é isento de tributação. Esse tipo de evasão é
calculado em 50 milhões de reais mensais.
Nos últimos anos, a isenção de impostos – como o ICMS – tem sido um dos recursos
usados pelos governos estaduais para atrair a instalação de novas fábricas ou manter
a atividade industrial já existente. No entanto, a produção e o número de vagas
criadas nem sempre compensam o valor que não arrecada com tributos. Nos últimos 20
anos, o Brasil gastou 180 bilhões de dólares em incentivos fiscais. Desde o início do
Plano Real, em 1994, o governo federal deixou de arrecadar 64 bilhões de dólares.
Um dos setores que menos geram empregos hoje é o automobilístico, segundo o estudo
Modelo de Geração de Empregos: Metodologia e Resultados, lançado em outubro de
1999 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A cada 1
milhão de reais concedido em forma de isenção de impostos a empresas da área,
criam-se apenas 85 empregos diretos e indiretos. No entanto, as montadoras
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recebem, até esse mês, 1 bilhão de reais do BNDES, o maior volume em empréstimos
para uma única área. O setor com maior capacidade de gerar vagas (202 postos por 1
milhão de reais investido), o agropecuário, obtém do BNDES menos de 700 milhões de
reais. O comércio, com potencial para gerar 149 vagas, consegue apenas 481 milhões.
Em 1999, o caso mais polêmico nesse sentido é o da Ford da Bahia. O governo federal
aprova um empréstimo de 691 milhões de reais proveniente do BNDES e abre mão de
arrecadar 1,8 bilhão de reais em impostos durante dez anos (180 milhões de reais por
ano) para os cofres públicos.
14 - Setor financeiro
O setor financeiro brasileiro é atingido em 1999 pelo impacto da desvalorização
cambial, ocorrida em janeiro. No final de 1998, após a declaração da moratória russa,
a expectativa era de que o Brasil seria a bola da vez da crise financeira mundial. Um
primeiro alarme surge em dezembro, com o anúncio do empréstimo do Fundo
Monetário Internacional (FMI). Apesar do lançamento do Programa de Estabilização
Fiscal, em outubro desse mesmo ano, o mercado estava tenso e o capital estrangeiro
de curto prazo passou a sair de forma intensa do país. Em janeiro de 1999, a perda
acentuada de reservas monetárias internacionais provoca o rompimento da política de
bandas cambiais (flutuação da taxa de câmbio dentro de um intervalo prefixado),
adotada desde 1995. Com a desvalorização da moeda, o preço do dólar – que estava em
torno de 1,20 real – chega a atingir 2,20 reais. Muitos bancos têm grande prejuízo,
pois apostaram na conservação da taxa de câmbio e assumiram compromissos de venda
futura de dólares. Por outro lado, instituições financeiras que acreditaram na
desvalorização cambial obtêm lucros. Em abril, o Congresso Nacional instala a comissão
parlamentar de inquérito (CPI) que investiga o sistema financeiro. A CPI apura a
responsabilidade do Banco Central (BC) no socorro aos bancos FonteCidam e Marka,
que adquiriram dólares abaixo da cotação do dia após a desvalorização do real. Em
novembro, a CPI encerra seus trabalhos e pede que o Ministério Público investigue o
BC.
entre outros), ainda muito elevadas – enquanto a taxa de juros básica, à qual os bancos
têm acesso, gira em torno de 20% ao ano, a taxa de juros sobre o cheque especial, por
exemplo, é de 10% ao mês.
Referências bibliográficas:
GREMAUD, Amaury Patrick, SAES, Flávio Azevedo Marques de, TONETO JÚNIOR,
Rudinei. Formação econômica do Brasil, São Paulo : Atlas, 1997.
LACERDA, Antônio Corrêa de et al. Economia Brasileira, São Paulo : Saraiva, 2000.
TROTER, Roberto Luís, MOCHÓN, Francisco. Introdução à Economia, 3. Ed., São
Paulo : Makron Books, 1998.
Sites da Internet:
www.bcb.gov.br
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www.dieese.gov.br
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www.fgv.br
www.unicamp.br