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A primeira recessão depois da entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE) foi influenciada
pelo contexto internacional, pautado pela Guerra do Golfo, pela reunificação alemã e pela
instabilidade no Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (MTC). O choque externo na balança
comercial precipitou a recessão, agravada por uma reorientação restritiva das políticas orçamental
e monetária que contraiu o investimento na segunda fase da recessão.
1 O Comité baseia as suas decisões numa estratégia multidimensional e subjectiva, recorrendo a um Nota: as linhas tracejadas horizontais representam o valor dos indicadores no
conjunto de indicadores de actividade económica de frequência mensal e trimestral, a vários algoritmos pico definido pelo Comité (1992:T2).
computacionais e às apreciações dos seus membros. A avaliação é feita no âmbito trimestral e com
ênfase no produto. Para mais detalhes, consulte as Notas Metodológicas.
COMITÉ DE DATAÇÃO DOS CICLOS ECONÓMICOS PORTUGUESES Recessão de 1992:T2-1993:T3
Figura 2. Índices de Produção Industrial e de Sentimento Figura 3. Decomposição da Variação em Cadeia do PIB real –
Económico (mensal) Óptica da Despesa (trimestral)
Fonte: INE, Eurostat Fonte: Banco de Portugal, Comité
O investimento também registou uma grande quebra no início A taxa de desemprego apresentou um comportamento atípico
da recessão, que depois se acentuou em 1993:T1, contribuindo em relação aos outros indicadores cíclicos. O fim da recessão
para uma parte significativa da queda do produto. Em linha com levou a uma inflexão ligeira no seu crescimento, mas a taxa de
a quebra no sentimento económico, o investimento caiu nos desemprego continuou a subir durante vários meses depois da
sectores de material de transporte e na construção e cava do ciclo de negócios.
imobiliário. Por fim, na fase final da recessão, teve lugar uma
quebra acentuada do consumo público.
INDICADORES E FACTORES ADICIONAIS
A taxa de desemprego (Figura 4) começou a subir um trimestre
antes do pico, logo em 1992:T1. A inversão no mercado laboral Entre a queda do Muro de Berlim, em Novembro de 1989, e
foi mais notória no número de trabalhadores, que havia estado Julho de 1992, o banco central alemão subiu as taxas de juro
em crescimento contínuo desde há vários anos, revertendo-se de 5% para 8,75%, com 1,25 p.p. dessa subida concentrada
esta tendência entre 1992:T1 e 1992:T3, seguida de uma queda nos oito meses finais. Esta política monetária foi a resposta
acentuada de 2,2% no espaço de apenas um ano. ao aumento na inflação alemã provocado pela despesa
pública associada à reunificação do país.
Para calibrar a cava, quer o PIB real per capita, quer o indicador
de sentimento económico, quer o emprego tiveram os seus Para manter a paridade das moedas que faziam parte do
mínimos locais em 1993:T2. O consumo começou a recuperar MTC com o marco alemão, os restantes bancos centrais
também em 1993:T2, embora o investimento tenha continuado europeus tiveram de subir as suas taxas de juro também.
em queda durante mais um ano. Sem beneficiarem da expansão orçamental, mas com uma
política monetária restritiva, estes países entraram em
Olhando antes para o indicador coincidente, depois de alisado
recessão. A procura pelas exportações portuguesas
das flutuações em redor, a data da cava apontada é um
diminuiu, causando a contracção da actividade económica.
trimestre mais tarde, em 1993:T3. Igualmente, o índice de
Esta recessão ficou assim marcada pelo choque externo que
produção industrial tem um mínimo local em 1993:T3, iniciando
levou à queda das exportações e do investimento.
depois uma lenta recuperação, em linha com o investimento.
COMITÉ DE DATAÇÃO DOS CICLOS ECONÓMICOS PORTUGUESES Recessão de 1992:T2-1993:T3
Figura 4. Mercado de Trabalho – Índice de Emprego e Taxa Figura 5. Composição da Balança Comercial (trimestral)
de Desemprego (trimestral)
Fonte: Banco de Portugal, Comité Fonte: Banco de Portugal, Comité
CONCLUSÃO
A origem externa do choque é visível na decomposição da
balança comercial (Figura 5). Para manter a paridade com o Com uma duração relativamente curta (5 trimestres) e
marco, o escudo ficou relativamente apreciado, pelo que os redução do PIB real per capita relativamente ligeira
bens exteriores eram relativamente baratos e os bens (amplitude de 1,1%), esta recessão foi suave em relação a
nacionais relativamente caros. As exportações diminuíram outras, mas marcante, porque quebrou uma fase longa de
de forma mais acentuada do que as importações, contraindo expansão da economia portuguesa. Ela ficou associada ao
o produto nacional através da balança comercial. contexto externo, com uma contracção das exportações
líquidas e queda do investimento na sequência do aumento
Por sua vez, o Banco de Portugal teve também de
dos preços do petróleo e da recessão na Zona Euro,
acompanhar a subida das taxa de juros do banco central
associada à instabilidade no MTC. As políticas
alemão. Além disso, a política orçamental em Portugal
macroeconómicas domésticas de resposta ao contexto
seguia na direção oposta da política alemã, devido à
externo tiveram um papel contraccionário importante, com
necessidade de reduzir o défice para iniciar o processo de
políticas monetária e cambial restritivas, e uma redução
convergência ditado pelo Tratado de Maastricht. Quer a
acentuada no défice público. Acompanhando estas políticas
política orçamental, quer a política monetária estavam assim
e o contexto internacional, registou-se uma quebra
numa direcção restritiva. Isto acentuou e prolongou a
acentuada no sentimento económico. Apenas em 1994:T2 o
recessão, com o investimento a registar uma contracção
nível do PIB real per capita recuperaria para o nível do pico
acentuada numa segunda fase da recessão.
de 1992:T2.
Com a desvalorização do Escudo entre 1993 e 1994, no
contexto dos realinhamentos do MTC, é notória a reversão
quer nas exportações, quer nas importações na Figura 5. Na
segunda metade da recessão foram antes o investimento e
o consumo público que adiaram a cava (Figura 3).