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TRECHO TRADUZIDO E ADAPTADO DE:

CHRISTALLER, W. Central places in Southern Germany. Englewood cliffs: Prentice-


Hall, 1961.

Introdução:

1. Existem leis que determinam o número, o tamanho e a distribuição das


cidades?

Na recente literatura sobre regiões geográficas, seguindo o exemplo de


Gradmann, as noções de povoado urbano e povoado rural foram bruscamente separadas
uma da outra1.Gradmann fala muito acertadamente sobre “duas coisas tão diferentes na
origem como a vila e a cidade”.2. A origem da vila é tipicamente agrícola e de outros
usos da terra. A conexão entre o número de pessoas vivendo nas vilas e em fazendas e o
tamanho das áreas das terras se observa dessa forma: há tantas pessoas em uma área,
quanto elas conseguirem viver do cultivo da terra com a tecnologia agrícola e
organização que possuírem. Se essas pessoas vivem em grandes assentamentos como
grandes vilas fechadas, pequenas vilas, aldeias ou em fazendas individuais não está
claro a priori. Entretanto, as investigações de Gradmann e outros clarificaram o
problema por eles falarem que certo tipo de assentamento é geralmente predominante
em uma dada região.
A situação das cidades é um pouco diferente. Na mesma região nós vemos
grandes e pequenas cidades de todas as categorias, uma ao lado da outra. Às vezes elas
se aglomeram em certas regiões de uma maneira improvável e aparentemente sem
sentido. Às vezes há largas regiões onde nenhum lugar merece a designação de cidade
ou até mesmo de mercado. Geralmente é afirmado que a conexão entre a cidade e a
atividade profissional de seus habitantes não é acidental, mas, ao contrário, é baseada na
natureza dos dois. Mas por que há, então, grandes e pequenas cidades e por que são
distribuídas tão irregularmente?
Nós procuramos respostas à essas questões. Nós procuramos as causas para
cidades serem grandes ou pequenas porque acreditamos que existem alguns princípios
de ordenação até antes desconhecidos que governam sua distribuição.
Essas questões são trabalhadas não apenas por geógrafos3, mas também por
historiadores, sociólogos, economistas4 e estatísticos. Mas até hoje houve uma única

1
Robert Grandmann, “Das ländliche Siedlungswesen des Königreichs Württemberg”, em Forschungen zur
deutschen Lands und Volkshunde, 21, Part I (Stuttgart:1926)
Robert Grandmann, “Die städtischen Siedlungen des Königreichs Würrttemberg” em ibid, Part II.
2
Robert Grandmann, Süddeutschland (Stuttgard: 1931), Vol. I, p. 162
3
O desafio de responder essas questões foi determinado por ele desde que a “ciência da distancia” o ajudou a
explicar o “arranjo espacial da superfície da terra.” (Friedrich Ratzel, Anthropogeographie oder Grundzüge
der Anwendung der Grographie auf die Geschichte (Stuttgart: 1882), Part I, p. 177.) Ratzel mesmo se refere a
parte I da formulação de Ritter da “teoria das relações geográficas.” (Carl Ritter, Einleitung zur allgemeinen
vergleichenden Geographie und Abhandlungen zur Begründung einer mehr wissenschaftlichen Behandlung
der Erdkunde (Berlin: 1852), p. 137.) A tentative de Götz de desenvolver uma ciência da distância certamente
falhou completamente. (Wilhelm Götz, Die Verkehrswege im Dienste dês Welthandels: Eine historish-
tentativa significativa para achar as verdadeiras leis que determinam a distribuição e
tamanho das cidades. Isso foi feito há quase 100 anos atrás por Kohl5. As conclusões
dessa tentativa foram estranhamente contraditórias e Kohl foi criticado severamente por
se desviar demais da natureza. Por exemplo, Ratzel disse que alguém não pode se
desviar muito da “verdade” (ele quis dizer realidade) se esse alguém quer ser
cientificamente útil6. Hassert disse que por conta da natureza ser tão diversa, as pessoas
deveriam evitar ordenar isso em um esquema facilmente construído com bases em
figuras estatísticas.7 Hettner, por outro lado, reconheceu o valor do trabalho de Kohl
declarando que ele chegou até regras, onde “a maioria delas ainda pode ter validade
hoje”.8 Schlüter declarou que a tarefa de traçar as redes de tráfico de volta às leis
teóricas fundamentais foi resolvida “de uma vez por todas”9 por Kohl. E Sax construiu
sua própria teoria com base nas “leis de rotas de trânsito” formulada por Kohl. 10 A
tentativa engenhosa de Kohl de descobrir leis que governavam os tamanhos e
distribuição das cidades falhou, não porque ele foi muito abstrato, mas sim porque ele
começou com suposições que são basicamente erradas. As evidencias para essa
conclusão serão dadas depois.
Mas como nós podemos achar uma explicação geral para o tamanho, número e
distribuição das cidades? Como nós descobriremos as leis? Perguntas puramente
geográficas podem produzi-las?

geographische Untersuchung, sami einer Einleitung für eine “Wissenschaft von den geographischen
Entfernungen” (Stuttgart: 1888), p. 1-28.)
4
Bücher: uma cidade germânica medieval tinha cerca de 4.3 milhas quadradas e servia, talvez, trinta a
quarenta fazendas, vilas e pequenas vilas. “Essa organização das áreas ilustrava uma ordem social,” na qual a
pequena cidade assume um papel determinante. Entretanto, nas suas relações funcionais, a cidade e o campo
permanecem dependentes um do outro. (Karl Bücher, “Die Groβstädte in Gegenwart und Vergangenheit,” in
“Die Groβstadt.” Jahrbuch der Gabestiftung (Dresden: 1927), 21f.).
Os economistas tem ignorado a questão mais geográfica da distribuição das cidades; ainda não há teoria de
localização das cidades, apesar das dependências dos tamanhos das cidades serem frequentemente
mencionada. Assim, Werner Sombart afirma “o tamanho de uma cidade é condicionado pela quantidade de
produtos de suas regiões suporte e da extensão de seu dividendo, que nós podemos chamar de produto
excedente.” (Der moderme Kapitalismus (Munich e Leipzig: 1916), Vol. I, p. 130.). Adam Smith já até
afirmou (Livro III, capitulo I, citando Sombart): “É apenas o produto excedente de um país... que constitui a
subsistência do excedente da produção”. Essa sentença é valida apenas sobre condições de pouco
desenvolvimento de troca; na organização economia moderna da esfera de cultura europeu-americana, isso é
aplicado apenas no sentido figurado.
Hans Bobeck, em sua excelente discussão, entendida pela expressão “questões básicas da geografia da
cidade,” que foi convertida para a atual investigação da expressão. Para melhor compreensão, é o “produto
adicional” (a taxa de excedente e a demanda extra criam uma espécie de “tensão nas trocas”), que determina o
atual tamanho da cidade (em Geographischer anzeiger, 28º ano (Gotha: 1927), 213ff, 221)
5
Johann Georg Kohl, Der Verkehr und die Ansiedelungen der Menschen in ihrer Abhängigkeit von der
Gestaltung der Erdoberfläche, 2ª ed. (Leipzig: 1850).
6
Friedrich Ratzel, in op. cit., “Die geographische Verbreitung des Menschen,” Part II, p. 466.
7
Kurt Hassert, Die Städte geographisch betrachtet (Leipzig: 1907), p.13.
8
Alfred Hettner, “Der gegenwärtige stand der Verkehrsgeographie,” in Geographische Zeitschrift, 3º ano
(Leipzig: 1895), 628.
9
Otto Schlüter, “Über die Aufgaben der Verkehrsgeographie im Rahmen der ‘Reinen’ Geographie,” em
Hermann Wagner, Gedächtnisschrift, Suplemento nº 209 de Petermanns Mitteilungen (Gotha: 1930), 298-
309, cit. 307. Leitura similar: “Die Stellung der Geographie des Menschen in der erdkunlichen Wissenschaft,”
Die Geographie als Wissenschaft und Lehrfach (Berlin: 1919), p. 25ff.
10
Emil Sax, “Die Verkehrsmittel in Volks und Staatswirtschaft,” Allgemeine Verkehrslehre, 2ª ed. (Berlin:
1918), Volume I, p.71ff.
Tudo começa, via de regra, com as condições geográficas e topográficas e
explica-se simplesmente que aqui uma cidade “tinha que surgir”11 e, se a localização for
favorável, que especialmente aqui uma cidade “tinha que se desenvolver
favoravelmente”. Mas existem inúmeros lugares, onde nenhuma cidade é achada, que
são igualmente ou até mais favoráveis. Na verdade, cidades podem ser achadas em
lugares muito desfavoráveis e essas cidades, se as circunstancias permitirem, podem ser
grandes. Nem o número ou a distribuição ou o tamanho das cidades podem ser
explicados por sua localização a respeito das condições geográficas da natureza12.
Hettner demonstrou em 1902 a importância de uma investigação sobre o número de
povoados e as distâncias médias dos povoados com as mesmas 13características
econômicas. 14 Desde essa época, esses fatores dificilmente faltam nas monografias de
geografia da população. Ainda assim, até agora, nenhuma obteve leis claras e genéricas
sobre o assunto.
Pode, talvez, uma investigação histórica gerar uma resposta genérica? Se todo o
desenvolvimento de todas as cidades do seu início até o seu estado moderno fosse
investigado em detalhes, alguém poderia discernir leis desse material que tem distinções
definidas regionalmente e em um período de tempo. Alguém pode achar certa ordem na
diversidade, mas o principio de ordem em si pode nunca ser descoberto pela
investigação histórica sozinha. Esse conceito foi reconhecido pela escola histórica de
economia que apresentou abundantes materiais empíricos, mas que nunca poderão gerar
leis econômicas válidas com esse método histórico.15
Finalmente, pode o método estatístico nos ajudar? Alguém pode computar a
densidade da cidade de uma região e a distancia média entre cidades; alguém pode
estabelecer recortes de classe e marcar o número de cidades pertencentes a cada classe;
e alguém pode descobrir, dessa forma, frequências e médias, talvez certas regularidades
e frequentemente pode existir combinações de fenômenos particulares. A prova lógica
de que isso são leis genuínas, no entanto, podem nunca ser descoberta simplesmente
pela estatística.
Se a geografia das áreas* for uma disciplina das ciências naturais ou, pelo
menos, que isso predomine em tal disciplina, como alguns autores quase pareceram
considerar, não haveria dúvidas a não ser que as leis das ciências naturais fossem
aplicadas para todo fenômeno natural governado por tais leis. Mas nós acreditamos que
a geografia das áreas é uma disciplina das ciências sociais. É obvio que para a criação,
desenvolvimento e declínio das cidades acontecer, uma demanda tem que existir para as
coisas que uma cidade tem a oferecer. Ainda, os fatores econômicos são decisivos para
a existência das cidades. Logo, a geografia da população é parte da geografia

11
Como Goethe disse de Regensburg.
12
Representantes do método geográfico são Friedrich Ratzel no seu Anthropogeographie oder Grundzüge der
Anwendung der Geographie auf die Geschichte e Kurt Hassert no seu Die Städte geographisch betrachtet.
13
Alfred Hettner, “Die wirtschaftlichen Typen der Ansiedelungen,” em Geographische Zeitschrift, 8º ano
(Leipzig: 1902), 98.
14
Veja a extensa literatura sobre as disputas metodológicas incluídas em “Volkswirtschaft und
Volkswirtschaftslehre,” em Die Handwörterbücher der Staatswissenschaften, 4ª Ed. (Jena: 1928), volume
VIII, e recentemente de toda a discussão crítica de Werner Sombart, Die drei Nationalökonomien, Geschichte
und System der Lehre Von der Wirtschaft (Munich e Leipzig: 1930).
15
Veja Hans Jürgen Seraphim, “Statistik und Sozialökonomie”, em Jahrbücher für Nationalökonomie und
Statistik, 3ª série, 76 (1929), 321 ff.
econômica. Assim como a geografia econômica, ela deve passar pelas teorias
econômicas para explicar o caráter das cidades. Se há leis da teoria econômica, então
deve ter também leis da geografia da população, leis econômicas de caráter especial,
que nós podemos chamar de leis especiais econômico-geográficas. A questão de que se
elas são realmente leis econômicas não pode ser tratada aqui, pois nós acreditamos que
elas são leis e então concordamos com a maioria dos economistas.16 Essas leis, para
deixar claro, são de um tipo diferente das leis naturais, mas não menos “válidas” por
conta disso. Elas podem, talvez, ser designadas não como leis, mas, mais
convenientemente, de tendências porque elas não são tão inexoráveis quanto às leis
naturais. Mas a terminologia não é tão importante quando alguém não está lidando com
pesquisas teoréticas abstratas. Isso será o suficiente para nós mantermos em mente o
fato que há leis econômicas que determinam a vida da economia e que há também,
consequentemente, leis especiais econômico-greográficas, como aquelas que
determinam os tamanhos, distribuição e número das cidades.17 Logo, não parece sem
sentido pesquisar tais leis.
Uma segunda questão ainda está aberta: O que deve ser entendido pelo termo
cidade? A resposta a esta pergunta será dada na parte I.

2. Alguns apontamentos sobre o plano e fontes do estudo em investigação.

A seguir estão as razões porque os métodos usuais daqueles engajados em


investigações geográficas serão descartados na construção do estudo em consideração. O
procedimento usado aqui é mais sintético na parte I e mais analítico na Parte III. O plano
deste trabalho é ser concreto em todas as partes. Os fatos de tamanhos, números e
distribuição das cidades na Alemanha meridional serão estabelecidos e explicados. O
trabalho irá começar, entretanto, não com uma descrição detalhada da realidade, mas
com uma teoria geral e dedutiva. Infelizmente, é necessário ir tão distante porque até
agora não houve nenhuma teoria coerente abrangendo os fundamentos econômicos das
cidades; tal teoria é indispensável, entretanto, se nós estamos procurando leis
(Gesetzmäβigkeiten).
Assim, nós tivemos uma razão prática para começar com a teoria. Essa teoria,
que será indispensável na futura demonstração e analise da economia, será desenvolvida
e uma introdução à apresentação econômica será dada. Aí a classificação fundamental
dos estudos anteriores será considerada. A teoria, do ponto de vista disciplinar, não pode
ser derivada indutivamente, mas só dedutivamente. É, portanto, desnecessário começar
com a descrição da realidade.18 Assim, a teoria tem uma validade completamente

16
Veja Franz Eulenberg, “Sind ‘historische Gesetze’ möglich?” em Hauptprobleme der Soziologie,
Erinnerungsgable für Max Weber (Munich e Leipzig: 1923), volume I, p. 23ff.
Acima de tudo, ver Werner Sombart, Die drei Nationalökomien . . . ., p. 248ff, que contém uma discussão
fundamental e exaustiva sobre toda teoria de compreensão e metodologia de hipóteses sobre a economia.
17
Franz Eulenberg, que investigou métodos econômicos ao fazer um estudo exaustivo, guiado pelo “fato de
que toda condição de cooperação social requer mudanças no espaço”, achou um grupo especial de leis sociais.
Ele deu, portanto, as “leis do assentamento... uma lei valida da organização dos transportes.” (“Gesellschaft
und Natur.” Commencement address in Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik, 21 (Tübiengen:
1905), 537.)
18
Veja Werner Sombart, Die drei Nationalökonomien…, p.319: “As ‘leis’ aparecem para nós não como um
fim, mas como o começo da nossa investigação.”
independente do que a realidade aparenta, mas apenas pela virtude de sua lógica e
“senso de adequação”19 (Sinnadäquanz). Quando essa eo ipso teoria é confrontada com a
realidade fica claro a que extensão a teoria corresponde com a realidade, em que
extensão ela é explicada por essa e em que aspectos a realidade não corresponde a teoria
e portanto não pode ser explicada por essa. Os fatos inexplicados devem então ser
esclarecidos por métodos históricos e geográficos, porque eles envolvem resistências
condicionadas pessoais, históricas e naturais: fatores que causam desvios da teoria. Eles
não têm nada a ver com a teoria em si, e acima de tudo eles não podem ser citados
diretamente como prova contra a validade da teoria.20 Alfred Weber, que seguiu o
mesmo método com grande sucesso em sua teoria da localização21, chamou esse método
de verificação da teoria.
É bom deixa claro que a teoria oferecida aqui não esta completa. Nós
escolhemos apenas 4 desse tipo de relações e desenvolvimentos de acordo com a
importância para clarificar as questões concretas apresentadas aqui. Portanto, a teoria
não é desenvolvida extremamente sistematizada, mas um pouco pragmática.
Entre as partes teórica e regional deste livro, uma parte de conexão será
inserida, onde os métodos e princípios serão desenvolvidos para ajudar na determinação
dos lugares que costumam de fato cumprir a função de cidade, como os seus tamanhos
podem ser demonstrados estatisticamente e o quanto sua influencia se estende.
Assim, as quatro partes do estudo serão: Parte I, a apresentação da teoria; Parte
II, o desenvolvimento de um método para compreender a realidade de forma mais
precisa; Parte III, a descrição e claras demonstrações individuais da realidade e Parte VI,
a conclusão e verificação geral dos princípios geográficos da teoria.
Considerando a origem das fundações teóricas, que foram discutidas na
primeira parte desta introdução, uma coisa precisa ser adicionada: a teoria da nova teoria
econômica veio majoritariamente da combinação da teoria clássica (Adam Smith,
Ricardo e Thünen); escola da utilidade marginal ( Menger e von Wieser) e da
abordagem sociológica dos jovens da história nova (especialmente Sombart e Max
Weber).
Infelizmente, as preocupações teóricas econômicas estão um pouco distantes
das relações espaciais e da influencia do espaço22 e muito distantes da influencia do
tempo, como mostrado por Böhm-Bawerk,23 e mais recentemente por Cassel24 assim
como os estudos sobre ciclos empresariais.25 A escola de Harms buscou investigar os

19
A terminologia e toda a interpretação em geral é tirada de Max Weber, assim como nós achamos, por
exemplo, em “Wirtschaft und Gesellschaft,” em Grundriβ der Sozialökonomie, 2ª Ed. (Tübingen: 1925),
volume III, parte II.
20
Esse “sistema ou formulação da questão” corresponde aproximadamente ao “esquema racional” de Sombart
e aos “tipos ideais” de Max Weber. (Otto Scglüter, “Die Stellung der Geographie des Menschen...”, p.267).
21
Alfred Weber, “Über den Standort der Industrien,” Reine Theorie des Standorts, 2ª ed. (Tübingen: 1922),
parte I
22
Veja Gerhard Menz, Irrationales in der Rationalisierung, Mensch und Maschine (Breslau: 1928). Menz
também pensa que o problema das “regiões econômicas racionais” é pouco conhecido em contraste com a
racionalização do elemento tempo na vida econômica. O que está faltando aqui é a determinação dos fatos
fundamentais e das relações.
23
Eugen Von Böhm-Bawerk, Positive Theorie dês Kapitals (Jena: 1921), volume I.
24
Gustav Cassel, Theoretische Sozialökonomie (Leipzig: 1927), esp. P. 568ff.
25
Por exemplo, Rudolf Stucken, Die Konjunkturen dês Wirtschaftslebens (Jena: 1932).
aspectos espaciais e incorporá-los na teoria econômica.26 Harms já havia chamado a
atenção27para as bases teóricas já existentes, assim como para as diferenças entre
economia nacional e internacional resultantes das diferenças na extensão espacial.
Alguém pode até deduzir, com igual certeza, uma teoria de pequenas economias,28 que
incluiriam acima de tudo a relação de mercado local, a relação social das comunidades
vizinhas e as relações internas nas suas estruturas peculiares. Os termos introduzidos por
esse grupo, “economia espacial” e até “estruturas espaciais”29 (que não foram aceitas),
foram incidentalmente indistintas e portanto não devem ser recomentadas. O que isso
quer dizer é que o tratamento econômico-teórico das relações espaciais e
desenvolvimentistas, por exemplo, a consideração de que toda atividade econômica
acontece em relações espaciais e que toda a analise teórica do fenômeno econômico
concreto (Gebilde) inclui toda as conexões espacial e temporal concretas.
Desenvolvendo as ideias e os desafios de Harms ainda mais, Weigmann publicou mais
recentemente o promissor “Ideias sobre a teoria das economias espaciais”30, no qual,
por exemplo, o termo regiões econômicas tomaria sua posição na teoria das estruturas
econômicas. Dos autores mais antigos, Eugen Dühring examinou as questões espaciais
teoricamente,31, enquanto Albert Schäffle mencionou tais questões, mas não tratou delas
do ponto de vista teórico.32 No tratamento dos problemas gerais dos aspectos
geográficos pelos representantes da economia, P. H. Schmidt deu uma ótima
sondagem.33
Cada relação econômica e cada evento econômico estão, sem exceção,
relacionados com o espaço e assim a relação espacial também constitui um elemento
dessas relações que são fatos que apenas poucos economistas estão totalmente
conscientes. Mas quando essas relações espaciais são iluminadas pela teoria econômica
e suas leis espaciais são expostas, elas se provam muito eficazes, não apenas para a
economia, mas também para a geografia. Portanto, os economistas, assim como os
geógrafos, devem retornar ao trabalho fundamental e norteador de Von Thünen, “O
estado isolado”,34 se desejam resolver problemas econômico-geográficos. Thünen
trabalha primeiro com aspectos agrícolas. Ele procura achar, de acordo com as leis
econômicas, como a distribuição espacial dos diferentes produtos agrícolas é
estabelecida. Seu método de isolar e matematicamente trabalhar os elementos isolados

26
A maioria publicado em Weltwirtschaftliches Archiv (Jena: 1913), assim como nas séries Probleme der
Weltwirtschaft (Jena: n.d.).
27
Bernhard Harms, Volkswirtschaft und Weltwirtschaft, Versuch der Begründung einer Weltwirtschaftslehre
(Jena: 1912).
28
Hermann Lautensach dá em seu Allgemeine Geographie zur Einführung in die Länderkunde (Gotha: 1926),
p.290, escrito com ótimo entendimento de antropogeografia, a seguinte independência espacial “paços da
distancia das trocas-traficos”: (1) economia individual; (2) economia regional; (3) economia nacional e (4)
economia mundial.
29
Bernhard Harms, “Strukturwandlungen in der Weltwirtschaft,” em Weltwirtschaftliches Archiv, 25 (Jena:
1927), 4.
30
Hans Weigmann, “Ideen zu einer Theorie der Raumwirtschaft. Ein Versuch zur Begründung einer
realistischen Wirtschaftstheorie,” em Weltwirtschaftliches Archiv, 34 (Jena: 1927), 1-40.
31
Eugen Dühring, Kursus der National und Sozialökonomie, 2ª ed. (Leipzig: 1876), esp. p. 81ff.
32
Albert Schäffle, Das gesellschaftliche System der menschlichen Wirtschaft, 3ª ed. (Tübingen: 1873),
volume II.
33
Peter Heinrich Schmidt, Wirtschaftsforschung und Geographie (Jena: 1925).
34
Johann Heinrich Von Thünen, Der isolierte Staat in Beziehung auf Landwirtschaft und Nationalökonomie,
2ª ed. (Jena: 1910).
se tornou indispensável para todas as investigações na área de teoria econômica. É
surpreendente que são feitas raras menções na literatura geográfica a esse tão importante
trabalho econômico-geográfico, com exceção de Von Sapper, que aplicou os
ensinamentos de Thünen no seu “Economia geral e Geografia do fluxo”35 e Lautensach,
que se refere a ele em “Geografia Geral”36. Em um ensaio de Pfeifer,37 que pretende
pesquisar o uso de termos e conceitos da economia espacial, nós encontramos uma
rápida referência, quase insignificante, a Thünen. No texto muito lido de Hermann
Wagner, não há referencias a Thünen. Por outro lado, P. H. Schmidt38 dá uma detalhada
valorização da importância desse clássico da teoria econômico-geografica.
Alfred Weber continuando o trabalho de Thünen adicionando a teoria de
localização das indústrias, que finalmente reintroduziram relações espaciais na teoria
econômica.39 Com as bases da teoria, economistas, assim como geógrafos-econômicos,
continuaram a desenvolver a teoria. Mas apenas Engländer foi longe para conectar todas
as partes da teoria econômica com as relações espaciais. Ele analisa, especialmente, a
dependência de preços – a pedra fundamental da teoria econômica – em relação aos
mercados e outros fatores espaciais.40
Além dos trabalhos desses três autores, não há trabalhos extensivos que estejam
preocupados com a importância do espaço na teoria econômica, apesar de haver vários
trabalhos pequenos que devem ser mencionados: Von Furlan sobre o entorno dos portos
marítimos41 e algumas contribuições importantes em problema mais especializados por
Schilling, P Krebs, Von Dobbeler e Schneider42 publicado pelo periódico “Technik und
Wirtschaft” sobre o titulo genérico de “Transporte e Geografia Economica.”. Em alguns
aspectos, “Significados da comunicação em economia politica” de Sax43 também é
relevante.
Finalmente, o “System der Soziologie” de Oppenheimer,44 que é fortemente
determinado por relações espaciais deve ser mencionado. (Termos como “mercado”,

35
Karl Sapper, Allgemeine Wirtschafts und Verkehrsgeographie (Berlin: 1925), p.159f.
36
Hermann Lautensach, op. Cit., p.317f.
37
Gottfried Pfeifer, “über raumwirtschaftliche Begriffe und Vorstellungen und ihre bisherige Anwendung in
der Geographie und Wirtschaftswissenschaft,” em Geographische Zeitschrift, 34º ano (Leipzig e Berlin:
1928), 321.
38
Peter Heinrich Schmidt, op. Cit., p.68ff.
39
Veja nota 21 acima. E também: Alfred Weber, “Die industrielle Standortlehre (allgemeine und
kapitalistische Theorie dês Standortes),” Grundriβ der Sozialökonomie (Tübingen: 1914), parte VI, p.54ff.
40
Oskar Engländer, “ preisbildung und Preisaufbau,” Theorie der Volkswirtschaft (Vienna:1929), Part 1.
Oskar Engländer, Theorie des Güterverkehrs und der Fraschtätze (Jena: 1924)
Oskar Engländer “Volkawirtschaftlieche Theorie dess Personenverkehrs,” em Archiv für Sozialpolitik, 50
(Tübingen: 1923), 653ff.
41
V.Furlan, “Die Standortsprobleme in der Volks- und Weltwirschaftslehre”,em Weltwirtschafliches Archiv,
2 (Jena: 1913), 1ff.
42
A. Schilling, “Die wirtschaftsgeographischen Grundgesetze dês Wettberbes in mathematischer Form” em
Technik und Wirtschaft, 17º ano, 7 (Berlin: 1924), 145ff.
P. Krebs, “Die Frachtgrenze der deutschen Braunkohle,” em Technik und Wirtschaft, 17º ano, 9 (Berlin:
1924), 213ff.
C. von Dobbeler, “Mathematische Beiträge zur Wirtschaftsgeographie,” em Technik und Wirtschaft,17º ano, 9
(Berlin: 1924), 204 ff.
43
Emil Sax, op. cit., esp. Vol. I.
44
Franz oppenheimer, esp. “Theorie der reinen und politischen Ökonomie” System der Soziologie (Jena;
1923), Vol III, pp. 272ff, como no anterior, Theorie der reinen und politischen Ökonomie (Berlin: 1910).
“corporativas” e etc usados por Oppenheimer devem ser tomados como espacialmente
concretos). Apesar de seu trabalho ser muito estimulante, há numerosas leis, como a “lei
dos tamanhos dos mercados”, a “lei dos fluxos”, a “lei dos obstáculos aos transportes” e
a “lei fundamental geocêntrica”, que são muito amplas e portanto muito inexatas para
serem usadas na nossa pesquisa.
Para o propósito deste trabalho, nós devemos trazer novos caminhos com o
objetivo de demonstrar os efeitos espaciais das leis e regras econômicas na geografia da
população. O caminho foi preparado por Thünen, Alfred Weber e Engländer. É
suficiente citar o trabalho desses autores apenas uma vez, pois referencias a citações
específicas devem ser repetidas frequentemente. A teoria desenvolvida na Parte I pode
também ser chamada de “a teoria da localização do comércio e instituições urbanas”,
para corresponder com a teoria de Thünen da localização da produção agrícola e da
teoria de Alfred Weber sobre a localização das indústrias, para as quais Engländer
desenvolveu os traçados gerais.
A divisão da teoria em partes estáticas e dinâmicas advém principalmente de
45
Stucken.

A) Significados Fundamentais.

1. Centralização como um principio de ordem.

A cristalização de uma massa em volta de um núcleo é, na natureza orgânica e


inorgânica, uma forma elementar de ordem das coisas semelhantes – uma ordem
centralista. Essa ordem não é apenas uma forma de pensar humana, existente no mundo
da imaginação humana e desenvolvida porque as pessoas queriam ordem; na verdade
existe fora da inerência da questão.
O mesmo principio de centralidade é também achado em algumas formas de
vida humana em comunidade, predominante em certas estruturas organizativas e
expressada de uma forma objetiva invisível. Nós, assim, pensamos em construções
simples: a igreja, a prefeitura, o fórum, a escola – esses são os sinais da aparência
exterior da ordem centralista em diferentes tipos de comunidades. Essas construções,
devido a sua localização no centro de uma resistência difusa individual (o tipo usual de
expressão de organizações familiares não-centralistas), seu tipo especifico de
construção, seus prédios, seus porches e acima de tudo, seu tamanho e altura, tem um
destaque das construções na área. A localização, forma e tamanho mais puros e fortes
expressam as características centrais das construções de uma comunidade e maior é o
nosso prazer estético ao vê-las, pois reconhecemos que a congruência de propósito e
sentido com a forma externa é logicamente correta e, portanto, pode ser reconhecida tão
claramente.
Por isso, nós temos prazer em olhar uma figura de uma cidade medieval. No
lugar de comércio, que geralmente fica no meio da área, estão as casas representativas
mais importantes – o boticário, as estalagens, os armazens, a casa do médico, os
aluguéis, o posto de finanças (com a frente mais notável) e, talvez no meio do mercado,

45
Rudolf Stucken, “Zur Lehre Von den Bewegungsvorgägen des Wirtschaftslebens,” em Zeitschirft für die
gesamien Staatswissenschaften, 89 (Tübingen: 1932), além da teoria já citada na nota 25.
a prefeitura. A uma pequena distancia do barulho das lojas está um aglomerado de
igrejas sobre as quais se elevam os campanários magnificos. Para a periferia, as casas
vão diminuindo, com jardins localizados na borda, e também um hospital simples ou
monastério e os extensos armazens com seus bons pátios. Tudo isso é um simbolo
visivel e claro da ordem centralista de uma comunidade. E se nós olharmos mais a
fundo, nós vemos que toda essa entidade está cercada por um murro, o que sugere mais
uma vez que essa entidade é algo distinto, importante e único e é essa a essencia de um
centro de uma comunidade regional. No lado de fora, no campo, há muitas formas de
fazendas, aldeias e vilas parecendo peões num jogo de xadrez,** que são áreas (lugares
que não são parte da cidade – Unabgesondert**), mas ainda ligadas ao solo, embora não
tão claramente na esfera mais elevada da nobre vida humana como no vegetativo46.
Se nós entramos em uma nova, cidade moderna, entretanto, nós reclamamos da
falta de ordem; tal cidade frequentemente nos parece caótica e, portanto, sem atrativos.
A ordem centralista das comunidades não existe mais? Isso foi substituído por atomismo
puro e a composição acidental e ocasional de elementos heterogêneos? A ordem ainda
permanece; a orientação do centro está em parte fortalecida e em parte enfraquecida.
Frequentemente o tipo de vida comunitária mudou – novos aspectos foram adicionados,
outros declinaram em importância. Mas a organização da cidade permaneceu centralista.
No entanto, em cidades modernas importantes, essa ordem centralista não mais possui a
clara, quase simples e visível expressão da cidade medieval; a ordem ficou quase
imperceptível da parte de fora. Certamente a multidão nas ruas, as luzes e as lojas da
cidade na grande cidade nos mostram que aqui, também, é uma ordem central; também,
as cidades pequenas mostram que há outra tarefa para a vida da população do campo.
Mas os sinais exteriores do centro da cidade, assim como da região, estão faltando hoje
ou são muito difíceis de reconhecer.
Não pretendemos considerar nesse livro as aparências das formas exteriores da
ordem centralista, para por no mesmo nível uma cidade com núcleo medieval, com uma
moderna ou qualquer área que pareça uma vila, quando todos são órgãos centrais de
ordens centralistas. Nós procuramos não pela aparência da cidade, mas pela sua função
na comunidade da vida humana.47

2. Lugares Centrais.

Nós não olhamos para a total aparência de uma cidade, mas apenas para aquelas
características que são decididamente importantes para o significado da cidade e da
geografia das áreas. É esse o significado de Gradmann chamou de profissão principal de

46
É notável que Otto Maull em seu Politische Geographie (Berlin: 1925) não considera essas diferentes
posições da cidade e da vila no corpo do estado. Ele define como “órgãos culturais espaciais” (p.593):
povoados, via de transito, áreas nas quais a população tira seu sustento e os “órgãos espaciais” do estado (p.
112): prisões, órgãos de sustentação, órgãos de proteção (as fronteiras), além das ruas. O núcleo, o centro, a
cidade é certamente um dos mais importantes “órgãos espaciais” do estado e sua função é um pouco diferente
dos povoados rurais.
47
M. Aurousseau (“Recent Contributions to Urban Geography,” em Geographical Review, 14 (Nova York:
1924), p. 444) fala “a cidade deve ser interpretada como uma parte orgânica do grupo social, assim como
descrita como uma massa material.” Essa investigação é limitada a esse começo dessas considerações.
A estreita concepção de Carlberg, que foi influenciado por Schüler, é que a tarefa “adequada” do geógrafo é
“estudar a aparência física da cidade.” Essa visão deve ser evitada. (Berthold Carlberg, “Stadtgeophraphie,”
em Geographischer Anzeiger, ano 27 (Gotha: 1926), p. 153.)
uma cidade, isto é, “ser o centro dos arredores rurais e mediador do local de comercio
com o mundo a fora.”48
Como alguém pode pensar, essa profissão principal afeta as pequenas cidades
rurais que são de fato exceções, sendo nada mais que centros do seu entorno rural. Mas
isso afeta da mesma forma as cidades grandes, não apenas a respeito das vizinhanças
imediatas, mas também a respeito da sua posição em sistemas de regiões menores. Todas
as regiões têm alguns centros que estão perto, ainda que seus centros de maior
abrangência sejam encontrados em cidades maiores que satisfaçam aquelas demandas do
campo e das menores cidades que as cidades pequenas não conseguem satisfazer. Então,
nós podemos ampliar e generalizar a afirmação de Gradmann dessa maneira: a profissão
principal – ou característica – de uma cidade é ser o centro de uma região.
Essa profissão principal não se aplica somente às áreas que geralmente
chamamos de cidade – isso se aplica, por exemplo, a maioria dos pontos de mercado – e
porque há, por outro lado, cidades que não, ou apenas em pouca medida, mostram essa
característica, nós devemos chamar essas áreas que são principalmente regiões centrais,
áreas centrais.49 Central é relativo em significado. Ele se refere a uma região, mas mais
concretamente, se refere a uma área disposta sobre uma região.50
Em contraste com esses lugares centrais, temos os lugares dispersos, ou seja,
todos os lugares que não são centros. 51 Eles incluem: 1) os de ligações de fato – nessas
áreas os habitantes que vivem de sua atividade agrícola, que são condicionados pelo
pedaço de terra que os circunda e 2) os de ligação pontual – nessas áreas os habitantes de

48
Robert Gradmann, “Schwäbische Städte,” em Zeitschrift der Gesellschaft für Erdkunde (Berlim: 1926), p.
427.
49
Essa expressão se refere ao que Paul Vidal de la Blache mais genericamente e extensamente chama de
organe directeur, o que dirige o fornecimento, por exemplo, de matérias-primas para regiões de mineração e
também a coleção de produtos das minas. Essa organe directeur deve ser o centro de, por exemplo, uma
região industrial (groupement). (Paul Vidal de la Blache, La France de l’Est (Lorraine-Alsace) (Paris: 1920).)
Nosso significado de povoado central é ainda mais precisamente transmitido por citta completi, ao que
Marinelli chama de grandes centros. Muito em concordância com o nosso ponto de vista, ele fala:
Considerando as profissões dos habitantes, as dúvidas de alguém sobre se as cidades agrícolas, pesqueiras,
mineradoras ou industriais podem ser chamadas de cidades absolutas. Preferencialmente cidades comerciais e
administrativas podem ser individualmente consideradas como cidades. “Cidades completas”, para Marinelli,
não são as cidades especializadas. Nós, como geógrafos, preferimos o significado que salienta os aspectos
espaciais mais do que a aparência da cidade. (Olinto Marinelli, “Dei tipi economici dei centri abitati, a
propósito di alcune citta italiane Ed americane,” em Rivista Geografica Italiana, 22, 23 (Florença: 1916), p.
413ff, cit. 430.)
50
Passarge classifica povoados de acordo com sua localização à respeito de outros povoados. Sua
classificação, entretanto, é baseada totalmente em características externas como as locais individuais, locais
para o grupo, locais lineares e locais no subúrbio. O local mais importante para reconhecer relações válidas, o
lugar central, não é citado. (Siegfried Passarge, “Beschreibende Landschaftskunde,” Die Grundlagen der
Landschaftskunde (Hamburgo: 1919), Vol. I, p. 15.) Sua classificação da “estrutura dos povoados”(o padrão
de distribuição dos povoados) é, da mesma forma, sem sentido. Passarge (Die Erde und ihr Wirtschaftsleben
(Hamburgo e Berlim: 1929), parte II, p. 164) sugere: estruturas centrais (multi ou mono centrais) e estrutura
estrelada. Além da ordem difusa e na forma de nuvem, que depois são ordenadas na forma de tiras irradiando
para fora.
51
Essa distinção entre lugares centrais e dispersos se refere a toda uma região. É diferente das distinções entre
povoados centrípetos (cidades que os interesses econômicos dos habitantes são dirigidos principalmente para
o centro desses povoados) e povoados centrífugos (vilas nas quais a área de atividade econômica dos
habitantes permanece na periferia), assim como Hassinger definiu. (Hugo Hassinger, “Über Aufgaben der
Stadtkundle,” em Petermanns Mitteilungen, ano 56, 2 (Gotha: 1910), p. 292.)
cada área sobrevive de recursos achados em lugares específicos. Os últimos são:
primeiro, as áreas de mineração que são bem limitados no espaço se comparados com as
possibilidades do uso agrícola do solo e geralmente estão mais concentrados na sua
localização no país e segundo, todas essas áreas que fazem fronteiras com certos pontos
da superfície da terra, ou seja, fronteiras com pontos absoulos (não os relativos como no
caso dos lugares centrais) – por exemplo pontes e vaus, fronteiras ou lugares
customizados e principalmente portos. Muito frequentemente portos se tornam áreas
centrais, enquanto áreas de mineração e resorts de saúde raramente são lugares centrais.
Finalmente, 3) nós temos áreas que não fazem fronteira com um ponto central, uma área
ou ponto absoluto. Áreas de mosteiros (mas não santuários, que geralmente são rodeados
pela área do milagre), são exemplos. Outros exemplos são áreas de trabalhadores que
trabalham em casa e grandes áreas industriais, as localizações que raramente são
determinadas de acordo com alguma vantagem econômica como facilidades no
transporte ou oferta de trabalho. 52 Apenas áreas residenciais localizadas em locais
proeminentes perto de ótimas cidades não pertencem a esse grupo porque eles são
absolutamente determinados pela beleza da paisagem (e, portanto, ligação pontual) ou
são relativamente determinados pela proximidade da grande cidade.
Doravante, quando falamos de povoados centrais, nós devemos evitar introduzir
um novo significado de cidade,53 pois isso pode causar uma confusão considerável. Nós
devemos ir além e substituir outro termo por povoado para ter mais precisão na
expressão. A palavra povoado [NT] tem vários sentidos, mas evoca especialmente uma
imagem detalhada de ruas, casas, prédios e etc, que pode cobrir os sentidos individuais
dos fatos importantes para nós. Nós não queremos definir o significado múltiplo de
povoado, mas sim apenas a localização de funções de um centro na localização
geométrica das áreas. Nós devemos, assim, falar de lugares centrais.54 Lugar é também

52
Veja os indicados, que são fundamentais:
Alfred Weber, “Die industrielle Standortlehre (allgemeine und kapitalistische Theorie des Standortes),”
Grundriβ der Sozialökonomie (Tübingem: 1914), parte VI.
Werner Sombart, Der modern Kapitalismus (Monique e Leipzig: 1917), vol. II, parte II, p. 800ff, p. 901ff.
Andreas Predöhl, “Das Standortproblem in der Wirtschaftstheorie,” em Weltwirtschaftliches Archiv, 21 (Jena:
1925), p. 294ff.
Nikolaus Creutzburg, “Das lokalisationsphänomen der Industrien. Am Beispiel des nordwestlichen Thüringer
Waldes,” em Forschungen zur deutschen Lands und Volkskundle, 23, parte IV (Stuttgart: 1925).
53
Veja a abundante literatura sobre a definição de cidade, que é citada na crítica de Hans Dörries, “Der
gegenwärtige Stand der Stadtgeographie,” em Hermann Wagner Gedächtnisschrift (Gotha: 1930), p.314ff.
Veja também a compilação de significados não-geográficos para cidade por Werner Sombart, “Städtische
Siedlungen, Stadt” em Handwörter der Soziologie, Ed. Alfred Vierkandt (Stuttgart: 1931), p. 527ff e “Der
Begriff der Stadt und das Wesen der Städtebildung,” em Archiv für Sozialwissenschaften und Sozialpolitik, 25
(Berlim: 1907), p.4ff. O significado de Ratzel para cidade é inútil para os nossos propósitos porque de jeito
nenhum se refere a um caráter especifico a gênese ou função de uma cidade. Para ele, o significado
geográfico da cidade é “uma permanente aglomeração de seres humanos e casas que cobre uma área
considerável e está no meio de grandes rotas de transito.” (Friedrich Ratzel, “Die geographische Lage der
groβstadt,” Jahrbuch der Gabestiftung, 9 (Dresden: 1903), 37.)
[NT] Carlisie W. Baskin, ao traduzir a obra de Christaller do alemão para o inglês omitiu o termo original
referente a palavra povoado. Obviamente Christaller não discutiu quanto o significado da palavra Settlement
(em ingles) ou Povoado, em portugues. A discussão do significado das palavras é feito na lingua original do
autor, e não na lingua traduzida.
54
De acordo com o livro Wörterbuch, vol. VII de Grimm:Ort (lugar) significa “um ponto firme no espaço,
uma posição, um lugar.” Na sec. 4: “um lugar que as pessoas procuram e utilizam, um lugar das relações
públicas.”
mais correto, num sentido mais concreto, porque nas nossas considerações nós não
tratamos nem de unidades de assentamentos, nem de comunidades políticas e muito
menos unidades econômicas.Assim, lugar inclui os povoados próximos, assim como os
habitantes desses povoados que exercem urbano ou, como devemos dizer agora,
profissões centrais.55 O lugar pode ser maior ou menor do que o povoado ou
comunidade. 56
Esses lugares que tem funções centrais que se estendem por uma grande região,
na qual outros lugares centrais de menor importância existem, são chamados de lugares
centrais de ordem maior. Os que têm apenas importância central local para as
proximidades imediatas são chamados, correspondentemente, de lugares centrais de
uma ordem mais baixa. Pequenos lugares que geralmente não tem importância central e
que exercem poucas funções centrais são chamados de lugares centrais auxiliares.

3. Importância e centralidade.

Todo lugar tem certa importância que é definida, ainda que sem exatidão, pelo
tamanho do lugar. O tamanho de uma cidade é definido pela sua dimensão espacial em
área e altura. Seguindo concepções estatísticas, nós estamos mais acostumados a usar o
numero de habitantes como medida do tamanho de uma cidade. Nem área, ou população
expressão precisamente o sentido de importância de uma cidade. Hermann Wagner
acertadamente discorda da frequente opinião dada que “lugares com população igual,
são iguais.”57 Importância não é um valor numérico, uma quantia de pessoas ou o que é
um pouco melhor uma quantidade de população ponderada, o que significa que a cada
pessoa é dado um valor de acordo com a importância de sua atividade econômica e tem
um numero definido assegurando-o como peso. O tamanho de sua renda, por exemplo,
pode ser usado como valor de base. A importância não é a soma de tudo, mas sim os
esforços econômicos combinados dos habitantes. Esse esforço envolve graus de
intensidade e é algo um pouco diferente da simples soma de simples resultados
econômicos. Esse esforço combinado, que nós podemos chamar de importância, é o que
se faz referência quando alguém chama uma cidade de “próspera”, “florescente” ou
“significante.”.
A vida de uma cidade, isso é, sua importância, não é necessariamente um
paralelo do numero de habitantes, por isso é possível que um excedente de importância
exista e que a maioria dos lugares centrais tenha tal excedente. (lugares dispersos
correspondentemente mostram um déficit de importância). O que causa esse excedente?

Veja também Peter Heinrich Schmidt, “Raum und Ort als geographische Grundbegriffe,” em Geographische
Zeitschrift, ano 36 (Leipzig e Berlim: 1930), p. 357ff.
55
Isso corresponde a principio com Hugo Hassinger, “Beiträge zur Siedlungs und Verkehrsgeographie Von
Wien,” em Mitteilungen der geographischen Gesellschaft, 53 (Vienna: 1910) e com E. Hanslik, Biala – eine
deutsche Stadt in Galizien (Leipzig: 1909) e inúmeros outros autores.
56
Lugar significa aproximadamente o que Ernst Hasse disse quando combinou a comunidade política
(primeiro circulo) e a “população do subúrbio que junta forma uma unidade fixa e viva” (segundo circulo)
junto com a região do transito (o resultado da “troca entre as populações residenciais e de trabalhadores”).
Portanto, os círculos um e dois juntos formam, de acordo com o exemplo de Belgian, a “aglomeração.” (“Die
Intensität groβstädtischer Menschenanhäufungen,” em Allgemeines staatlisches Archiv, 2º ano (Tübingen:
1892), p. 615f)
57
Hermann Wagner, em “Allgemeine Erdkunde” Lehrbuch der Geographie, 9ª ed. (Hannover e Leipzig:
1912), Vol. I, p. 885.
A resposta fica clara, por exemplo, na cidade grande onde existem vários projetos de
casas de trabalhadores próximos. Talvez a cidade tenha uma população bem pequena e
ainda tenha uma importância alta como um lugar central, mas os projetos de casas para
trabalhadores com uma população grande quase não tem importância para o nosso
sentido da palavra. O lugar das atividades de cooperação é a cidade, não a vila. Se nós
concebemos a importância como determinada pelo tamanho, então parte da importância
deve ser atribuída a cidade em si como uma aglomeração da população e outra parte da
cidade como um lugar central. Em matemática simples, somente imaginemos sem
pretender exatidão, alguém pode dizer que uma cidade tem importância agregada de B,
no qual Bz representa a população da cidade, então B – Bz = o excedente de importância
para a região.** Nós podemos chamar a importância agregada de importância absoluta e
o excedente de importância de importância relativa (relativa em consideração a região
que tem um déficit de importância). O excedente de importância nos mostra o quanto
uma cidade é central. Assim, uma conclusão pode ser traçada para o tamanho de uma
região fornecida a partir da cidade (quanto melhor o excedente de importância de uma
região central, maior o tamanho da região complementar). Vamos, nesse sentido, falar
simplesmente da centralidade de um lugar e entender centralidade com o significado de
relativa importância de um lugar com consideração a região que o cerca ou com o grau
de função central que exerce uma cidade. Assim, estamos aptos a falar de uma maior,
menor, crescente ou decrescente centralidade de um lugar.

4. Bens e serviços centrais.

Mas num sentido exato, não é o lugar, nem mesmo o povoado, que é central.
Centralidade se refere menos ao mérito da localização espacial central do que a função
central num sentido mais abstrato. Sem uma região, é possível para o centro geométrico
ser um lugar simples e disperso. Devido a população ser inadequadamente distribuída
sobre essa região, o centro populacional é, como regra, o lugar central. Isso significa que
a soma das distancias que os habitantes percorrem de e para esse lugar central é a menor
soma imaginável. Mas para nós, um lugar merece a designação de centro apenas quando
ele de fato exerce a função de centro. Ele tem essa função se os habitantes tem
profissões que são limitadas pela necessidade do local central. Essas profissões serão
chamadas de profissões centrais. Os bens sendo produzidos no lugar central, apenas
porque ele é central e os serviços oferecidos no lugar central, serão chamados de bens
centrais e serviços centrais. Similarmente, nós devemos falar de bens dispersos e
serviços dispersos em referencia aos bens que são necessariamente produzidos ou
oferecidos centralmente ou dispersamente. Engländer, junto com vários autores
economistas e geógrafos, usa o termo bens urbanos em contraste com bens rurais.58 Nós
devemos evitar essas definições porque elas não são nem exatas ou auto-inclusas.
É possível definir o significado de bem centrais. Bens e serviços centrais são
produzidos e oferecidos em poucos e necessários pontos centrais para serem consumidos
em muitos pontos disseminados. Bens e serviços dispersos são necessariamente
produzidos e oferecidos em muitos pontos disseminados (ou em poucos pontos, mas não
em pontos centrais), preferencialmente para serem consumidos em poucos pontos. Além

58
Oskar Engländer, “Preisbildung und Preisaufbau,” Theorie der Volkswirtschaft (Vienna: 1929), parte I, p.
114ff.
disso, é frequente o caso de que um bem que não é centralmente produzido será, não
obstante, centralmente oferecido (por exemplo, nos pontos mais industrializados), ou
que um bem será centralmente produzido e dispersamente oferecido (por exemplo, o
jornal, que necessariamente é produzido centralmente, mas é geralmente oferecido para
qualquer lugar). No primeiro caso, a oferta é central e, no segundo caso, a produção é
central.
Além disso, nós devemos distinguir entre bens centrais de uma ordem superior
que são produzidos e oferecidos em lugares centrais de uma ordem maior, e bens
centrais de ordem inferior que são produzidos e oferecidos em lugares centrais de ordem
mais baixa (mas também em todos os lugares de uma ordem mais alta). Produtos de uma
ordem maior já foi usado para designar meios de produção e matérias-primas,59 mas
apenas porque nós usamos o termo conectado com bens centrais, assim não haverá
confusão.
Bens centrais a respeito da produção, por exemplo, aqueles que são produzidos
em lugares centrais com as melhores vantagens, raramente existem, por causa das
vantagens da produção central (acima de tudo, os custos de frete mais econômicos para
os indivíduos dispersos e consumidores centralmente localizados) são mais balanceadas
pelas desvantagens, quanto mais cara a produção em consequência dos altos salários e
altos preços para o estado real. Acima de tudo, as manufaturas que, de acordo com o
significado terminológico de Alfred Weber, são orientadas para o consumidor
(excluindo-se aquelas que podem ser encontradas em qualquer vila), pertencem ao lugar
central; e, de fato, a produção é atribuída a locais confinados (chamados de centro)
dentro de um povoado disperso compondo um lugar de consumo (que também pode ser
uma região grande). Produção orientada para o centro ocorre quando a coleção e nova
manufatura de produtos dispersamente produzidos e inacabados ou matéria prima
acontece no centro. Típicas ilustrações de produção orientadas para o centro são as
muitas indústrias artesanais, frequentemente as indústrias alimentícias, cervejarias,
fabricas de laticínios, refinarias de açúcar e indústrias de vasilhas. Cervejarias são
orientadas para o consumo e fabricas de laticinios, refinarias de açucar e fabricas de
vasilhas são matérias primas orientadas. As localizações de empresas de jornais, que não
são necessariamente orientadas para consumo, são determinadas organizacionalmente.**
Mas principalmente, não é a produção de bens, mas a oferta de bens e o
rendimento do serviço que estão limitados ao lugar central. Na economia, a oferta de
serviços é considerada conjuntamente com a oferta de bens. Esse é o porque, na teoria
econômica, alguém fala frequentemente não de bens e serviços, mas simplesmente de
bens, o que inclui o rendimento dos serviços.60 A esses serviços centrais pertence, acima
de tudo, o comercio, que é quase que exclusivamente orientado para o centro (uma
exceção é a usura do mascate), então bancos, muitas industrias de artesanatos (lojas de
reparos), administrações do governo, ofertas culturais e espirituais (igrejas, escolas,
teatros), organizações profissionais e comerciais, transporte e saneamento.61

59
Esse termo deve ser achado no sistema de ordem entre bens assim como foi introduzido pela escola de
utilidade marginal, seguindo o exemplo de Carl Menger, Grundsätze der Volkswirtschaftslehre, 2ª Ed, (Viena
e Leipzig: 1923).
60
Veja Hans Mayer, “Gut” em Handwörterbuch der Staatswissenschaften, 4 (Jena: 1927), 1277ff.
61
Essa lista deixa claro que nós devemos entender bens centrais incluindo não apenas os bens e serviços
econômicos, mas também os não-econômicos, os culturais, os de higiene, etc. Sua oferta e consumo
acontecem de acordo com as leis econômicas porque sua aquisição causa encargos e custos e sua oferta requer
No nosso sistema econômico atual, esses bens e serviços são, via de regra,
oferecidos centralmente nas cidades ou outros lugares centrais, pois é mais vantajoso do
ponto de vista econômico. Essa regra, entretanto, não se aplica a todas as sociedades por
todo o tempo. Até mesmo hoje nós frequentemente achamos esses serviços não sendo
oferecidos centralmente.62 Existem dois métodos principais que alguém pode distribuir
bens para o consumidor: podem oferecê-los no lugar central para onde o consumidor
deve ir, ou podem viajar com os bens e oferecê-los ao consumidor em sua casa. O
método formal leva necessariamente ao desenvolvimento de lugares centrais ou
mercados centrais. Entretanto, esse método não requer lugares centrais. No começo, os
vendedores andarilhos eram muito mais dominantes que hoje em dia. O mascate, o
amolador de facas, um menestrel nômade da Idade Medieval e os padres viajantes, todos
levavam bens aos consumidores. Até a administração das cidades medievais
frequentemente não eram orientadas centralmente, mas eram guiadas por meio de
mensageiros. No presente, parece que a oferta não-central de bens centrais está
crescendo novamente. O aumento do negocio de pedidos via correios é um sinal claro.
Mas alguém sempre escolhe qual dos dois métodos é mais vantajoso economicamente.
Ninguém pode afirmar a priori que uma forma é mais desenvolvida do que outra.
Por isso, os bens centrais de hoje são mais frequentemente oferecidos
centralmente, por exemplo, em mercados e não por mascates, por conta da venda de
maiores quantidades de produtos, complicações de organização e contabilidade, etc. Não
apenas a produção, mas também as ofertas fizeram necessário um aumento do capital
investido que, consistindo frequentemente de capital fixo, demanda uma localização
fixa. O aumento no capital investido é feito possível apenas através da transferência de
produção da produção orientada para o consumidor para a produção para um mercado
anônimo, ou seja, através do livre intercambio da atividade econômica.

5. A Região complementar.**

A região para qual o lugar central é o centro será chamada de região


complementar.63 Nós evitamos termos comuns como região de mercado, região radia e

despesas de dinheiro e trabalho. Apesar do objetivo ser a satisfação das demandas culturais, higiênicas e
políticas, é, no entanto, preciso ver que custos são necessários para atingir esse objetivo. Um gasto menor
sempre será preferido em relação a um alto custo na aquisição de um bem.
62
Maunier escreveu um artigo interessante sobre a distribuição das indústrias, da qual nós podemos aprender
algo para o nosso tema espacial. (RenéMaunier, “La distribution géographique dês industries,” em Revue
internationale de Sociologie, 16 (Paris: 1908), p. 481.) Ele afirma que dispersar e centralizar indústrias
sempre trouxe mudanças alternadas nas épocas da história econômica: economia de vila - centralizada;
economia dos grandes Estados (seigneurie) – dispersa; economia da cidade medieval – centralizada; período
da indústria caseira – disperso; período das economias nacionais – concentrado.Hoje nós estamos vivendo um
período de dispersão. Maunier assim fala (p. 433) de um “rhythme de concentration et de dispersion,” de
modo que qualquer migração da industria para locais com mais vantagens de localização para a produção e
mercado ou a migração da industria para mercados de mão de obra mais favoráveis (distribution selon
l’habitat) é achada. Ele conclui (p. 511) que “grosso-modo, lês conditions gépgraphiques agissent de plus em
plus” e que é muito errado dizer que as indústrias nos estágios mais primitivos do desenvolvimento
econômico dependem fortemente dos fatores físicos da geografia. Pelo contrário, esses fatores têm um papel
fundamental na indústria moderna por conta da acirrada competição que demanda a utilização das menores
vantagens obtidas da natureza geográfica.
63
Isso corresponde com a definição que Bobek dá: “A influência regional de uma cidade (por exemplo, os
tipos tipicamente urbanos de trabalho) estende-se geralmente, se não for artificialmente fixado (por fronteiras
mercado de saída, porque eles são u9sados mais para descrever comercio e isso pode
causar confusão. Além disso, o termo região complementar inclui tanto a relação de
cidade e campo, quanto a relação campo e cidade. Isso, portanto, exprime melhor a
relação mutua deles.64
Nós podemos chamar de região complementar de um lugar central de uma
ordem maior de região complementar de uma ordem menor. Frequentemente, nós
podemos nos referir, brevemente, a região de um lugar central, querendo dizer a região
complementar. A região complementar de um lugar central é difícil de determinar,
principalmente porque seu tamanho é diferente para diferentes tipos de bens e isso varia
segundo variações periódicas e sazonais. Além disso, ela se sobrepõe de forma
consistente as regiões vizinhas complementares na sua periferia. Ainda assim, seu
tamanho é relativamente constante, embora não muito imutável, porque é determinado,
em grande medida, pela distancia da vizinhança de um lugar central de ordem igual ou
superior.65 Recordando o significado de centralidade, nós descobrimos que a região
complementar é a região na qual existe um deficit de importancia. Esse deficit de
importancia é contrabalanceado pelo excedente de importancia do lugar central. Assim a
região e o lugar central juntos formam uma entidade.

6. A distancia economica e a area de um bem.

Entre o processo economico e as circunstancias que levam a formação de


orgãos espaciais especiais (os lugares centrais), a distancia tem um importante papel.
Quanto mais desenvolvido é um sistema economico e quanto mais opera por livre
iniciativa, mais decizivo é o fator da distancia. Sob esse aspecto, a expressão matematica
de distancia, em metros ou quilometros, é quase sem importancia. Apenas a expressão
economica de distancia corresponde com a importancia economica da distancia. Essa
distancia economica66 é determinada pelos custos do frete, segurança e armazenagem;
tempo e perda de peso ou espaço no transito; e, considerando as viagens do passageiro, o
custo de transporte, o tempo requerido e o disconforto da viagem. 67 Vamos citar a
definição de Zopfl: “A distancia economicaé igual a distancia geografica convertida em

políticas ou administrativas), tão longamente quanto às despesas de transporte (no comercio com a cidade)
não excedam as vantagens que são oferecidas pelo centro urbano.” (Hans Bobek, “Innsbruck. Eine
Gebirgsstadt, ihr Lebensraum und ihre Erscheinung,” em Forschungen zur deutschen Landes und
Volkskunde, 25 (Stuttgart: 1928), p. 222)
64
Nas publicações do Comite para a Investigação das Condições de Produção e vendas da Economia
Germanica (Enquete-Ausschuss), veja Das Wirtschaftsleben der Städte, Landkreise und Landgemeinden
(Berlin: 1930), Vol I, p.1, as “relações passivas e ativas” das cidades com os países próximos (uma declaração
supreendendemente expressa) é referida.
65
Gradmann (op. Cit., p.456) fala de um “imutável tamanho do mercado regional.” Isso é correto para muitas
regiões, especialmente as mais remotas que são limitadas de forma energética pelas condições da natureza.
Para a maioria, entretanto, as condições são de “curta duração” o que é apenas relativo. Por outro lado, a boa
solidez dos mercados rurais regionais é um fato impressionante para o economista. Esse fato aparentemente
não fica em harmonia com os efeitos das leis econômicas em uma organização econômica que está fundada
sobre a livre iniciativa.
66
Veja Kurt Hassert, Allgemeine Verkehrsgeographie, 2ª Ed. (Berlin e Leipzig: 1931), Vol. I, p. 63.
67
Ferdinand Von Richthofen subordina esses fatores sob a frase generalista “tempo e trabalho” (Vorl3sungen
über allgemeine Siedlungs und Verkehrs geographie, versão e edição de Otto Schlüter (Berlin: 1908), p.
210). A teoria econômica fala simplesmente de “custos”, o que não necessariamente consiste em valor
monetário ou precisa ser expresso em valores monetários.
frete e outras disvantagens ou vantagens economicas importantes,”68 na qual ele quiz
dizer em valores monetários em vez de números.
Essa distancia econômica é um elemento muito importante para determinar a
área de um bem,69 pelo qual nós queremos dizer a maior distancia a população dispersa
esta disposta a ir para comprar um bem oferecido em um lugar (um lugar central). Se a
distancia é muito grande, a população não irá comprar esse bem porque se torna muito
caro para ela ou então a população irá comprar o item em outro lugar central onde ela irá
gastar menos. Além disso, o raio de um bem é fortemente influenciado pelo preço do
bem no lugar central, especialmente se o bem é vendido a um preço um pouco mais alto
ou baixo em outro lugar central. Além disso, a área é determinada pelo numero de
habitantes concentrados no lugar central, a dencidade e a distribuição da população
disperça do lado de fora, as condições de renda e a estrutura social da população,70 a
proximidade ou afastamento de outro lugar central e inumeros outros elementos. Assim,
cada bem tem uma area especial e caracteristica e essa área pode ser diferente em cada
caso concreto, em cada lugar central e também em cada momento no tempo.
Porque nós obviamente trabalhamos aqui com processos muito complicados
que não emprestam a si mesmos para soluções simples ou formulas fixas, nós devemos
deixar futuros desenvolvimentos dos significados para uma futura investigação.

68
Citado em Kurt Hassert, loc.cit.
69
Oskar Engländer usa a expressão “venda de extensão” como se fosse mal falar de uma venda conectada
com um serviço central como a atividade administrativa de um Estado a qual nos referimos com uma
expressão mais abrangente, “área” (Oskar Engländer, Theorie dês Güterverkehrs und der Frachtsätze (Jena:
1924), p. 3). A expressão de Engländer não é completa o suficiente para nossos propósitos.
70
Engländer inclui tudo isso sob o termo “preço-boa vontade do comprador”. Essa pequena expressão é muito
impressionante. Ela significa aproximadamente que certa população ou certo segmento da população,
dependendo da sua estrutura e composição, tem a boa vontade de pagar certo preço elevado por um bem
particular que deseja. (Oskar Engländer, Theorie der Volkswirtschaft, p. 29ff.)

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