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Estudo de Onde Tirar Esperança Leonardo Boff
Estudo de Onde Tirar Esperança Leonardo Boff
Mas não esqueçamos o nosso país. Algumas derrotas eleitorais trouxeram decepções para
muitos, derrotas que representam uma resposta do povo à taxa de iniqüidade social que a
macroeconomia da equipe econômica produz. É verdade que as exportações cresceram, mas
cresceu também, em parte por causa do superávit primário, o desemprego e o empobrecimento
do povo a níveis piores que os da Etiópia, segundo os que conhecem lá e aqui.
Honestamente e angustiados nos perguntamos: que fazer com este mundo aqui e lá fora? De
onde tirar esperança?
Tenho para mim que esta esperança não pode vir daquelas instâncias que estão produzindo a
destruição da esperança. Depositou-se demasiada esperança em certos partidos de extração
popular e em seus líderes carismáticos que chegaram ao poder. Ao invés da coragem para o
novo, como prometeram, tornaram-se reféns da lógica do sistema com o argumento de que, de
todas as formas, há de evitar o caos sistêmico. Ocorre que o caos social já se instalou e se
agrava dia a dia. Ou a economia é para superar o caos social ou ela é uma forma perversa de
continuada vitimação dos pobres no altar do deus Mamom. Nenhuma sociedade, minimamente
ética, pode aceitar essa perversidade. Que não se espere nada desta política macroeconômica
súcuba dos mercados.
Vamos beber esperança nas religiões e nas Igrejas, já que Ernst Bloch, com razão dizia: “Onde
há religião, ai há esperança”? De fato, para os realmente pobres, as igrejas se transformaram
em seu refúgio, o lugar onde bebem alguma esperança, embora, milagreira, alienada dos
processos históricos e dos compromissos de mudança social. Mas encontram mesmo assim
alguma razão para viver. Lamentavelmente para muitas destas Igrejas vale o dito espanhol:
“Entre Deus e dinheiro, o segundo é primeiro”.
A fonte da esperança se encontra nas próprias vítimas. A esperança é a única coisa que lhes
sobra, esperança de que, por adversa que seja a realidade, alguma coisa boa vai sair dela. Elas
são portadoras da utopia mínima de que, um dia, todos vão poder comer, morar, ir ao médico
quando doentes, mandar os filhos para a escola e tomar sua cervejinha com os amigos na sexta-
feira à tarde e, quem sabe, ter uma aposentadoria que os deixe tranqüilos. E por fim, isso
pensam os pobres sim, não Bush, nem Blair nem nossas elites, que é possível a humanidade
sentir-se uma família, habitando todos juntos no planeta Terra, como irmãos e irmãs. Não são
eles que nos lembram que a “esperança é a última que morre”? (Adital)