Você está na página 1de 2

A América Latina, sobretudo os países localizados na área central, passou

por experiências revolucionárias de caráter nacionalista que nos levam a refletir


sobre os efeitos desses precedentes no futuro. As contradições pós revoluções e
a situação atual desses espaços são questionamentos indispensáveis ao se
pensar os caminhos pelos quais vão trilhar a América Latina. Como Pablo Neruda
diz em seu poema ​Aquel Hombre​: “Sandino era un fusil con esperanzas”. O início
da luta nicaraguense contra o imperialismo norte americano tem como figura
simbólica Augusto C. Sandino, e observar sua trajetória, tanto física como
ideológica, é pontuar a integração necessária para uma América Latina forte e
soberana.
Analisar a figura de Sandino como força motriz da revolução nicaraguense
é perpassar por outros focos revolucionários latino americanos e entender a
dinâmica revolucionária que pairou sob a América Latina. Lutar contra os ​ianques
estruturalmente estabelecidos em seus solos, era defender o projeto de nação
favorável aos povos residentes; a construção do Estado Nacional só seria
possível a partir da soberania do mesmo. México, Cuba e Nicarágua, dentro de
suas particularidades, sentiram a necessidade de se emancipar das amarras
criadas pelas oligarquias imperialistas, fortalecendo suas existências a partir de
uma conduta revolucionária.
Augusto Sandino, que morou no México e lá foi influenciado pelos ideais da
recente revolução mexicana, travou uma guerra contra a ocupação americana
dentro de sua nação. Mesmo tendo a Nicarágua tomado rumos contraditórios
após a guerrilha de Sandino, seu nome ainda era visto como sinônimo de
resistência. A Frente Sandinista de Libertação Nacional surge em um contexto de
dominação oligárquica, na qual a família Somoza dinasticamente detém total
controle econômico social do país.
Os caminhos e descaminhos da Revolução Sandinista são sentidos ainda
hoje na Nicarágua. Após o fim da dinastia Somoza, a estruturação governamental
se baseou nos pilares idealizados por Sandino e foram convocadas eleições,
tendo como partido vitorioso aquele que engrenou a revolução no país. Os
embargos norte americanos e seu apoio, sobretudo financeiro e armamentício,
aos grupos opositores tornou o pós revolução conturbado e defasado, uma vez
que 70% da arrecadação nicaraguense se destinava a proteção do país. Mesmo
tendo a FSLN conquistado importantes melhorias para a população, como o
confisco e popularização das terras de Somoza e a Cruzada Nacional de
Alfabetização, o partido oscila, desde então, entre oposição e situação e sofre
hoje com o projeto neoliberal pensado pela direita latino americana. A situação
nicaraguense hoje pode ser pensada ainda como uma repressão liberal ao seu
projeto de nação na tentativa da derrubada do governo sandinista.
O projeto neoliberal para a América Latina não corresponde à lógica
socioeconômica na qual vivemos; a volta de governos compactuantes com a
estrutura imperialista e o distanciamento da cooperação interna nos faz
questionar a projeção de um futuro positivo, principalmente no que tange a esfera
social. Pablo Neruda finaliza o poema supracitado com um trecho simbólico:
“Augusto C. Sandino se llamaba / para que nos dé luz y nos dé fuego / en la
continuación de sus batallas.” nos levando a pensar que a luta é contínua e não
deve nunca cessar, sobretudo quando, mais uma vez, nossas estruturas que
nunca foram concretamente estabelecidas são ameaçadas de ruir.

Você também pode gostar