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[Cartas de um Militante reticente]

O domingo amanheceu chuvoso mas, próximo a hora do almoço, o sol ressurgiu. Porém,
tímido. A luz amarelada e tímida que entra pela janela parece querer revelar algo. Este algo, no
entanto, não está em outro lugar senão dentro de mim.

A luz tímida é aquela que desvela lembranças empoeiradas, trazendo à tona cheiros, sons e
lágrimas. Hoje acordei assim, num domingo chuvoso mas que próximo a hora do almoço o sol
surgiu tímido. Revelando-se, portanto, quanto é grande a falta que me faz mãe, pai, irmã,
irmão, tias, primos e primas.

Estes dias estava revendo "Cartas da Mãe", um filme baseado nas cartas que o Henfil escrevia
à Dona Maria, sua mãe, enquanto estava exilado, no período da nefasta ditadura militar
brasileira. É um filme que me toca muito. Talvez por eu compreender que o exílio é um estado
permanente de incomodo, e que ele faz a gente se mexer, não se acomodar. Não me leve a
mal, mas acho necessário o exílio. Eu acredito. Não quero me adaptar!

Mas o exílio, tenho aprendido a porradas, também é lonjura. E esse domingo chuvoso mas que
próximo a hora do almoço o sol ressurgiu, porém tímido, mostrou-me um pouco mais sobre
lonjuras. Um colo de mãe cairia muito bem... Um dia eu volto, prometo! Não o mesmo, mas eu
volto...

Com carinho,

Alexandro C. Florentino

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