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A cidade latino-americana:

uma categoria histórica


Pedro Demenech (PUC-Rio)
INTRODUÇÃO
● A “cidade latino-americana” é uma construção
cultural.
● Entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a década
de 1970, “a cidade latino-americana” funciona como
categoria do pensamento social e figura no
imaginário intelectual e político do continente.
HISTÓRIA E CIDADE
• Local, por excelência, da aglomeração humana, a cidade foi, ao longo da história, produto de
série de transformações que afetaram o estilo de vida de seus habitantes. Passando a
Indústria a influenciar fortemente as relações sociais e o espaço urbano que seguiam por
mudanças caracterizadas pela lógica temporal da técnica – as transformações engendradas
pelo tempo da fábrica, por exemplo. Como afirmou G.C. Argan: a cidade moderna é,
diretamente, produto da industrialização.

• Na medida em que as grandes cidades passaram a ser locais, não apenas da produção
industrial, mas de estilos de vida, produtos culturais, produção de serviços especializados,
atraíram para seu interior uma gama considerável de indivíduos. Nesse momento, o
problema (ou a questão) do modo de vida urbana se transforma em objeto de estudo.

• No advento da modernidade – com o Renascimento – a cidade era vista como obra de arte,
ou até mesmo como o local da utopia (onde o novo poderia concretizar-se), a partir do
período industrial surge uma série de problemas que intensificam seu estado de conflito.
GEORG SIMMEL (1858-1918)
• “As grandes cidades e a vida do espírito”:
análise do comportamento individual nas
grandes metrópoles;

• Dualismo “metrópole/vida mental”: “O


fundamento psicológico sobre o qual se
eleva o tipo das individualidades da
cidade grande é a intensificação da vida
nervosa, que resulta da mudança rápida e
ininterrupta de impressões interiores e
exteriores”.

• Estudo urbano: “individualismo como fio


condutor da modernidade”.
WA LT E R B E N J A M I N ( 1 8 9 2 - 1 9 4 0 )

• Figura do flâneur: indivíduo que


transitava livremente pelas multidões;

• “Uma rua, um incêndio, um acidente de


trânsito, reúnem pessoas, como tais, livres
de determinações de classe. Apresentam-
se como aglomerações concretas, mas
socialmente permanecem abstratas, ou
seja, isoladas em seus interesses privados.
[...] Muitas vezes, essas aglomerações
possuem apenas existência estatística.
Ocultam aquilo que perfaz sua real
monstruosidade, ou seja, a massificação
dos indivíduos por meio de seus interesses
privados”.
RICHARD MORSE (1922-2001)
• Principal livro: O espelho de Próspero (1988).
[Nunca foi publicado inteiramente nos EUA].

• Abordou as transformações do ambiente urbano


a partir das experiências modernizadoras;

• Cidades como “arenas culturais”: “cadinhos de


mudança na era moderna”.

• Diagnósticos não dos especialistas em construir


o ambiente urbano, mas dos envolvidos nos
processos que se lançaram sobre todos recursos
(intelectuais, sociais, econômicos e psíquicos)
de que dispunham para interpretar a condição
humana na formação das cidades.
JOSÉ LUIS ROMERO (1909-1977)

• Principal livro: América Latina: as


cidades e as idéias.

• “Todos observaram que estava sendo


cultivado um novo estilo de vida latino-
americano, marcado, sem dúvida, pelas
influências estrangeiras, porém
sombriamente original, como era
original o processo social e cultural que se
desenvolvia nestas cidades. Metrópoles
de imitação à primeira vista, cada uma
delas escondia um matiz singular que se
manifestaria pouco a pouco”.
ÁNGEL RAMA (1926-1983)
• Principal livro: A cidade das letras
(1985).

• Relações entre os intelectuais e a


política.

• “América Latina continua


sendo um projeto intelectual
vanguardista que espera sua
realização concreta”.
ROMERO, RAMA E MORSE

• Somando-se as forças de Romero, Rama, e Morse, percebe-


se o germe de uma historiografia das cidades que se
constituía em finais dos anos de 1970 e no início de 1980.
Com essas abordagens, a história das cidades, a partir de
então, concentrou esforços para estudar a complexidade do
fenômeno urbano latino-americano, não reduzindo suas
complexidades a meras especulações factuais ou a modelos
pré-estabelecidos que explicassem o seu funcionamento.
BEATRIZ SARLO
• “Buenos Aires cresceu de forma espetacular nas
duas primeiras décadas do século XX. A nova
cidade torna possível, literariamente verossímil
e culturalmente aceitável o flâneur que lança o
olhar anônimo daquele que não será
reconhecido por aqueles que são observados, o
olhar que não supõe comunicação com o outro.
Observar o espetáculo: um flâneur é um
espectador imerso na cena urbana e, ao mesmo
tempo, faz parte dela: uma sequência infinita, o
flâneur é observado por outro flâneur que por
sua vez é visto por um terceiro e... O circuito do
passante anônimo só é possível na cidade
grande, que é uma categoria ideológica e um
universo de valores, mais do que um conceito
demográfico ou urbanístico”.

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