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Extraído de: Clair, Kate. Manual de tipografia. Porto Alegre, Bookman, 2009.
A impressão tipográfica
Os primeiros prelos de impressão foram construídos com o design modificado de
prensas de esmagar frutas. A prensa original de platina (uma placa sólida e lisa) incluía
um grande leito de impressão, ou cofre, com uma moldura ao redor dele. Todos os
tipos ou imagens a serem impressos tinham a altura precisa de 0,918 de polegada
(23,317 mm), denominada altura do tipo.
Era necessária precisão nas dimensões do leito de impressão e da composição dos
tipos; quaisquer blocos ou peças de chumbo que estivessem acima da altura do tipo
rasgariam o papel ou a superfície que estivesse sendo impressa, enquanto qualquer
imagem mais baixa do que 0,918 de polegada não seria corretamente entintada, resul-
tando numa impressão má ou inexistente. Essa profundidade era essencial para uma
distribuição uniforme de tinta e uma boa impressão.
A moldura ao redor do leito da prensa era mais baixa do que 0,918 de polegada de
forma a não ser entintada ou impressa. Os tipos de madeira ou de chumbo eram arran-
jados no leito da prensa, seguros por guarnições (blocos de madeira e metal) colocadas
nas laterais da composição tipográfica e nos lados internos da rama. As combinações
de guarnições prendiam os tipos em seus lugares para evitar que escorregassem sob a
alta pressão da platina durante a impressão. Testes preliminares de impressão, deno-
minados provas, permitiam que o impressor verificasse tudo para que a impressão
fosse clara e correta.
A impressão tipográfica (letterpress printing) é uma variação do prelo de platina
original. De início, a impressão tipográfica era limitada a uma estrutura ou layout com-
posicional horizontal e vertical. Mais tarde os artistas dadaístas experimentaram com-
posições mais livres, compondo diretamente no leito de impressão, mudando as com-
posições antes altamente estruturadas dos trabalhos impressos. A impressão tipográ-
fica é um processo complicado que envolve prática e paciência; às vezes é necessário
compensar com suportes o fundo dos tipos para que as dimensões de altura sejam
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precisas em todas as áreas a serem impressas. A tinta deve ser misturada com óleo na
viscosidade exata para uma impressão clara e limpa. A temperatura e a umidade afe-
tam tanto a tinta como o papel, assim métodos de provas são aplicados para que os
resultados da impressão sejam perfeitos.
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fonte Baskerville era reta, com uma ênfase vertical e serifas mais chatas. Refletia várias
das qualidades encontradas na Roman du Roi, o tipo matematicamente construído.
Baskerville é reconhecido como o primeiro designer puro de tipos, diferenciando-
se daqueles que eram também talhadores de punções (o talhador de punções de
Baskerville foi John Handy). Ele é considerado um dos primeiros designers de tipos a
criar e a refinar as formas de suas letras desenhando-as primeiramente no papel em
vez de talhar diretamente os punções no metal. Baskerville considerava os objetivos,
as possibilidades e as limitações de todo o processo de impressão durante o desenho
de uma face de tipo.
Sabendo desde o início do design que não queria uma impressão de letras forçadas
para dentro do papel, ele fabricou suas próprias tintas fervendo o óleo de linhaça,
maturando-o com resina negra e queimando o negro-de-fumo ele mesmo.
Perfeccionista, ele procurou uma superfície de impressão mais suave e acabou desen-
volvendo o primeiro papel acetinado. Rejeitando o acabamento de textura tradicional,
ele prensou à quente a superfície do papel ainda úmido para torná-Io mais liso.
Durante o processo de impressão, ele cobria o cobertor por trás da folha de papel com
um material mais duro do que o usualmente aplicado, conseguindo assim um resulta-
do mais liso.
A obra de Baskerville é identificada pelo uso generoso do espaço em branco incor-
porado dentro do layout e pela ausência de ornamentação desnecessária; ele confiava
exclusivamente na tipografia para transmitir significado e sentido na composição.
Inicialmente seus esforços foram criticados, muitos reclamando que o papel era muito
liso e que a tinta era negra demais. Alguns reclamavam que o reflexo causado pelo
papel limpo e brilhante feria os olhos. Infelizmente, Baskerville morreu antes de cons-
tatar que suas inovações na arte de imprimir e seu compromisso com a excelência
eram amplamente aceitos pelo público em geral.
A tipografia na Itália
Em 1788 em Parma, na Itália, Giambattista Bodoni apresentou a primeira face de
tipos de Estilo Moderno (Modern Style), com extrema variação de peso entre os tra-
ços espessos e finos. As letras redondas eram estreitas, com serifas muito finas que não
tinham ligações com a haste. A precisão geométrica desse tipo transmite um senti-
mento clássico por sua ênfase vertical e sua pequena altura-de-x em proporção com a
altura da letra capital, como também pelos detalhes encontrados nos ângulos retos
bem marcados das serifas, e pelas ascendentes, que têm a mesma altura das letras capi-
tais. Existe uma consistência mecânica no design, porque Bodoni usou a repetição da
forma para criar letras similares em todo o alfabeto.
É possível que Bodoni estivesse familiarizado com a obra (e nela tenha se inspira-
do) do designer francês Firmin Didot, que por sua vez foi influenciado pelo Romain
du Roi. As faces em Estilo Moderno de Bodoni e Didot podem ter sido influenciadas
pelas mudanças de traço feitas com o instrumento do gravador, um estilete fino e
pontiagudo usado para marcar as placas de metal. À medida que esse instrumento foi
aperfeiçoado, tornou-se possível a criação de formas de letras mais precisas.
O alvorecer da industrialização
No final dos anos 1700 haviam ocorrido as revoluções tanto da América como da
França, e a transição de uma sociedade agrária e artesanal para economias mecaniza-
das e de produção em massa estava em curso. Muitos fizeram essa transição da noite
para o dia, vendendo suas fazendas e mudando-se para as cidades em busca de empre-
gos viáveis para sua sobrevivência. O caminho em direção à Idade Industrial estava
atravancado com muitos desempregados e muitos que trabalhavam demais, no meio
de uns poucos que prosperavam, enfatizando os contrastes no status social. As gran-
des mudanças na sociedade e na economia refletiam-se na arte e na literatura da época.
À medida que a Idade Industrial ganhava impulso, os anos 1800 viram a produção
de bens e serviços ganharem velocidade à medida que a energia a vapor era empregada
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em todas as áreas do processo de fabricação. Em Londres, os bairros degradados cres-
ceram em proporção espantosa, porque muitos dos que estavam vivendo parcamente
nas fazendas pobres mudaram-se para as cidades em busca de trabalho. As condições
de vida miseráveis eram agravadas pela superpopulação.
Como conseqüência, uma classe média emergiu dessas revoluções políticas e eco-
nômicas. À medida que o padrão de vida das classes trabalhadoras melhorou, elas
puderam adquirir os bens e serviços que se tornaram disponíveis com a industrializa-
ção. A riqueza não era mais medida pela propriedade de terras, mas pelo investimento
de capital.
A população urbana que crescia demandava mercadorias que fossem baratas. A
propaganda de tais produtos resultou em uma explosão de material impresso. Por
meio da criação de um consumidor de classe média, a industrialização tinha dado
nascimento a uma economia de mercado, como também a uma oportunidade com-
pletamente nova e imensa para a palavra impressa.
Muitos países europeus tinham colonizado terras distantes durante a exploração
em busca de matérias-primas baratas. Sob a pretensão de "cristianizar" os nativos, a
igreja também expandiu seus domínios. À medida que sua ascensão ao poder na
França continuava, Napoleão tentou tomar militarmente grandes áreas da Europa. A
derrota de Napoleão por Wellington em Waterloo, em 1815, levou a uma maior defini-
ção das identidades nacionais independentes ao longo do século. Em 1860, a Itália foi
unificada como uma só nação, e em 1870 a Alemanha foi unificada por Bismarck,
definindo de forma mais clara suas fronteiras e seus territórios.
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mica nunca vista antes. As mudanças violentas na sociedade continuavam, e grandes
grupos de imigrantes estavam sendo rapidamente absorvidos pela força de trabalho
americana, muitas vezes explorados como força barata de trabalho.
Para atender às necessidades do crescente setor de produtos manufaturados, os
anúncios tornaram-se predominantes. Tipos inusitados em formato display aparece-
ram para ser usados em cartazes, papéis de carta, catálogos, tabelas de horários, car-
tões postais e outras necessidades de uma economia voltada para a fabricação e para o
marketing. Os fabricantes sentiram a necessidade de atrair maior atenção para seus
próprios produtos e serviços dentro de um ambiente visual congestionado por meio
do desenvolvimento de fontes ornamentadas, sombreadas e de aparência tridimensio-
nal. Grandes variações de fontes extravagantes que tinham de 5 a 8 centímetros de
altura tornaram-se uma norma, adequadas para espalhar as mensagens sobre as novas
mercadorias.
Esses enormes títulos eram talhados em madeira, material mais leve e menos dis-
pendioso do que se fosse fundido em chumbo. Tipos em tamanhos maiores torna-
ram-se mais populares, e em 1827 o americano Darius Wells (inventor e impressor de
Nova York) era conhecido por produzir enormes tipos talhados em madeira. Não
havia limite para o tamanho do tipo que podia ser impresso e variações na largura dos
tipos eram comuns. Versões condensadas e expandidas dos grandes tipos de madeira
também se tornaram populares. Wells eventualmente desenvolveu uma fresadora
mecânica (chamada de cortador giratório vertical) de forma que pudesse produzir
tipos de madeira com mais rapidez e maior precisão. Em 1828 ele publicou o primeiro
catálogo de tipos conhecido nos Estados Unidos.
Os tipos sem serifas eram misturados nas composições para dar uma aparência
mais cheia e escura para a página, com o propósito de chamar mais atenção. Novas
formas de tipos apareceram, exibindo traços pesados e negros, bem como pesadas
serifas na forma de blocos. Essas fontes ganharam o nome de Egípcias devido ao
interesse dos ingleses nas descobertas e expedições que estavam acontecendo simulta-
neamente ao longo do Rio Nilo. Tendo hastes e serifas em bloco de peso quase igual,
elas eram consideradas altamente visíveis nos painéis abarrotados de anúncios. Um
exemplo de tipo desse período, P.T. Barnum, que tinha as letras sombreadas e com
incisões atraentes, exageradas e tridimensionais, foi desenhado para prender a atenção
do público comprador.
A ênfase em vender mercadorias conduziu o design de tipos do período.
Anteriormente, as mudanças na tipografia tinham sido orientadas pelos instrumentos,
materiais e pela tecnologia disponível aos impressores e pelo seu senso de estética. O
resultado era material de leitura na forma de livros e panfletos. Agora, no entanto, a
mudança era determinada pela indústria manufatureira, e as necessidades dos anunci-
antes influenciavam os aspectos estéticos do design de tipos.
A máquina de escrever
Uma máquina de escrever primitiva foi patenteada em 1714, porém foi somente
em 1829 que William Austin Burt patenteou nos Estados Unidos uma prática máqui-
na de escrever. Os primeiros modelos produziam somente letras maiúsculas e de iní-
cio as letras eram embossadas (marcadas profundamente no papel), por isso eram
consideradas somente como um instrumento para preparar material para os cegos.
Com o tempo, as modernas máquinas de escrever tornaram-se a ferramenta preferida
dos secretários masculinos, substituindo as correspondências e os registros escritos
caprichosamente à mão.
Os tipos para as máquinas aperfeiçoadas eram semelhantes ao Bodoni, mas as
serifas muito finas não permitiam que o operador fizesse múltiplas cópias com signifi-
cante qualidade. O mecanismo da máquina de escrever era tal que as letras eram mono-
espacejadas na página resultante. Monoespacejado refere-se ao espaço igual entre as
letras dentro de uma palavra, de forma que letras largas como o M tomavam o mesmo
espaço da letra i.
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As letras monoespacejadas são difíceis de ser lidas de forma fluente, causando um
ritmo staccato desigual. Para compensar essa dificuldade técnica, as serifas das letras
mais estreitas foram estendidas para preencher um espaço horizontal mais largo. O
novo tipo para as letras das máquinas ficou conhecido como paica (pica, em inglês) e
assim as máquinas de escrever proliferaram.
A máquina de escrever proporcionou às pessoas a oportunidade de criar docu-
mentos acabados, que pareciam impressos, na privacidade de suas próprias casas ou
escritórios. Escrever à máquina tornou-se rapidamente um hábito no setor dos negó-
cios, e em algumas décadas as máquinas de escrever eram equipamento padrão nos
escritórios, causando o declínio do uso de escreventes para preparar documentos
formais legais e para a transcrição de documentos jurídicos. Com a invenção da má-
quina de escrever elétrica em 1935 vieram as opções de espaços variáveis, fazendo
com que mais designers viessem a se interessar pelo design de estilos de tipos para a
máquina de escrever.
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narrativas de primeira mão foram levadas aos jornais. Mais de um milhão de homens
americanos perderam suas vidas na sangrenta guerra e, com o advento do fotojorna-
lismo, a ânsia por notícias oportunas de cada batalha propagaram a ampla distribuição
de jornais diários.
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