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Supremo Tribunal Federal

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 970.918 SÃO PAULO

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECTE.(S) : ANTONIO CARLOS LUZIO
ADV.(A/S) : LUIZ CARLOS LOPES
RECDO.(A/S) : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL FEDERAL

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. EXECUÇÃO
DE TÍTULO JUDICIAL.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E
DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA N.
279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
AUSÊNCIA DE OFENSA
CONSTITUCIONAL DIRETA. AGRAVO AO
QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra inadmissão de recurso


extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, al. a, da
Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal Regional
Federal da Terceira Região:
“PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL. DECISÃO
MONOCRÁTICA. PRINCÍPIO DA FIDELIDADE AO TÍTULO.
I - Agravo legal, interposto por Antonio Carlos Luzio, em face
da decisão monocrática que negou seguimento ao seu recurso,
mantendo o decisum do Juiz a quo, que decidiu não haver diferenças a
pagar a seu favor.
II - O agravante sustenta que a sentença exeqüenda afeta à coisa
julgada formal e material nos autos, constitui direito adquirido do
segurado, não "a índice correcional", mas revisão e cálculo do
benefício sob tracejo dos artigos 201, § 3º e 202 da CF/88, de modo que

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corretos seus cálculos


III - O autor interpôs ação pleiteando a correção dos 36 salários
de contribuição do PBC pela ORTN/OTN/BTN, convertendo-se o
valor apurado em número de salários mínimos até a regulamentação
da Lei 8.213/91, com o pagamento das diferenças daí advindas.
IV - A sentença julgou procedente em parte a ação de
conhecimento para o fim de determinar ao réu que proceda ao cálculo
do valor do benefício do autor, corrigindo-se todos os salários de
contribuição utilizados, apurando-se a média com aplicação dos
critérios de maior e menor valor teto nos termos da legislação
revogada.
V - O v. acórdão, ao argumento da auto-aplicabilidade do art.
202 da CF, consignou que a correção dos 36 últimos salários-de-
contribuição deve ser efetuada pela ORTN/OTN/BTN, bem como que
a equivalência salarial é assegurada a partir de abril/89 até a
Regulamentação do Plano de Benefícios da Previdência Social.
VI - Os embargos de declaração foram acolhidos, com
excepcional efeito modificativo, para determinar a observância do teto
previsto nos artigos 29 e 33 da Lei nº 8.213/91.
VII - Transitado em julgado o decisum, o autor apresentou conta
de liquidação, apurando RMI de 141.479,68 e diferenças no valor de
R$ 574.182,82, para abril/2004.
VIII - Remetidos ao Contador Judicial, este informou que o
cálculo estava incorreto, em razão da correção dos salários-de-
contribuição pelo INPC, em ofensa ao título exeqüendo, sendo que a
correção pelos índices da ORTN/OTN resultam em RMI em valor
inferior à concedida judicialmente, inexistindo diferenças resultantes
da condenação. Ressaltou que os cálculos do autor desconsideraram os
tetos previstos na Lei nº 8.213/91.
IX - Em tema de execução vige o princípio da fidelidade ao
título, ou seja, a sentença deve ser executada fielmente, sem ampliação
ou restrição do que nela estiver contido.
X - A decisão monocrática com fundamento no art. 557, caput e
§ 1º-A, do C.P.C., que confere poderes ao relator para decidir recurso
manifestamente improcedente, prejudicado, deserto, intempestivo ou
contrário a jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, do

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Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior, sem submetê-lo ao


órgão colegiado, não importa em infringência ao CPC ou aos
princípios do direito.
XI - É assente a orientação pretoriana no sentido de que o órgão
colegiado não deve modificar a decisão do Relator, salvo na hipótese
em que a decisão impugnada não estiver devidamente fundamentada,
ou padecer dos vícios da ilegalidade e abuso de poder, e for passível de
resultar lesão irreparável ou de difícil reparação à parte.
XII - In casu, a decisão está solidamente fundamentada e traduz
de forma lógica o entendimento do Relator, juiz natural do processo,
não estando eivada de qualquer vício formal, razão pela qual merece
ser mantida.
XIII - Recurso improvido.”.

2. No recurso extraordinário, o Agravante alega contrariedade ao art.


5º, inc. XXXVI e XXXVII, da Constituição da República.

Assevera que “o v. Acórdão sob tergiversação e relativização à coisa


julgada formal e material preestabelecida sobre o direito concedido antes da MP
2.108-35/2001, olvidou o direito adquirido do segurado equivocado sob a égide do
revogado (Dec. 89.312/84) contraposto aos arts. 94, IV, 201 e §§ e 202, da CF/88,
implementados sob o art. 144, da lei n. 8.213/91, sobre os quais concedido o
benefício e recolhidos 36 últimos salários de contribuição que são corrigidos
monetariamente (art. 5º, inciso XXXVI – CF), como decidido em 1º Grau de
Jurisdição na fase de cognição e confirmado pelo v. Acórdão do E. TRF/SP,
constitutivos o título executivo judicial” (fl. 113, vol. 2).

3. O Tribunal de origem inadmitiu o recurso extraordinário com base


nas Súmulas 279 e 282 do Supremo Tribunal Federal, por impossibilidade
de incursão na legislação infraconstitucional previdenciária ante a
ausência de ofensa direta à Constituição.

4. Contra essa decisão, o Agravante suscita ter havido afronta direta


ao art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição pois “atos e fatos jurídicos
amplamente decididos e cobertos pela coisa julgada formal e material são

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intangíveis e não passíveis de revisão, rescisão ou coisa que o valha” (fl. 31, vol.
3).
Examinados os elementos havidos nos autos, DECIDO.

5. Razão jurídica não assiste ao Agravante.

6. O agravo não pode ter seguimento pois o Agravante não infirmou


todos os fundamentos da decisão agravada, limitando-se a reiterar a
aludida ofensa ao art. 5º, inc. XXXVI da Constituição. Nesse sentido:
“Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo.
Recurso extraordinário. Decisão de inadmissibilidade. Fundamentos
não impugnados. Precedentes. 1. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é firme no sentido de que devem ser impugnados, na
petição de agravo, todos os fundamentos da decisão com que não se
admitiu o apelo extremo. 2. Agravo regimental não provido” (ARE n.
711.585-AgR, Relator o Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma,
DJe 10.12.2012);

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DEVER DE IMPUGNAR
TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO DE
ADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
INOBSERVÂNCIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 287. AGRAVO
IMPROVIDO. I - O agravo não atacou os fundamentos da decisão
que inadmitiu o recurso extraordinário, o que o torna inviável,
conforme a Súmula 287 do STF. Precedentes. II - Agravo regimental
improvido” (ARE n. 654.292-AgR, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, Segunda Turma, DJe 25.10.2011).

7. No julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo n. 748.371,


(Tema n. 660), Relator o Ministro Gilmar Mendes, este Supremo Tribunal
assentou inexistir repercussão geral na alegação de contrariedade aos
princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada
e do devido processo legal quando necessário o exame da legislação
infraconstitucional:

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“Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema relativo à


suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos
limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento da
causa dependente de prévia análise da adequada aplicação das normas
infraconstitucionais. Rejeição da repercussão geral” (DJe 1º.8.2013).

8. A apreciação do pleito recursal demandaria o reexame da matéria


fático-probatória e da legislação infraconstitucional previdenciária
aplicável à espécie (Lei n. 8.213/91). A alegada contrariedade à
Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, a
inviabilizar o processamento do recurso extraordinário. Incide, na
espécie, a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal:
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.
REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. 1. Análise de
normas infraconstitucionais. Ofensa constitucional indireta. 2.
Necessidade de reexame de fatos e provas. Incidência da Súmula n.
279 do Supremo Tribunal Federal. 3. Interposição simultânea de
recursos extraordinário e especial. Aplicabilidade do art. 543, § 1º, do
Código de Processo Civil somente se admitidos os recursos.
Precedentes. 4. Sucumbência recíproca. Matéria infraconstitucional.
Questão a ser verificada pelo juízo da execução. Precedentes. 5.
Agravo regimental ao qual se nega provimento” (AI n. 792.204-AgR,
de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 15.8.2012, grifos
nossos).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO.
REVISÃO DE PENSÃO. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DA
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA
CONSTITUCIONAL INDIRETA. REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO”
(ARE n. 861.587-AgR/RJ, de minha relatoria, Segunda Turma,
DJe 6.3.2015).

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“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO.
REVISÃO DE BENEFÍCIO. DECADÊNCIA. INTERPRETAÇÃO
DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LEI Nº 9.528/97.
OFENSA REFLEXA. PRECEDENTE. 1. A decadência, quando
controversa sua incidência, demanda a análise da legislação
infraconstitucional, o que acarreta uma violação reflexa e oblíqua da
Constituição Federal e torna inadmissível o recurso extraordinário .
Precedente: AI Nº 708.897-AgR, Relatora Ministra Cármen Lúcia,
Segunda Turma, DJe de 20/11/2012. 2. In casu, o acórdão recorrido
negou provimento ao recurso inominado, mantendo a sentença por
seus próprios fundamentos, que julgou improcedente o pedido de
revisão de benefício previdenciário, acolhendo a arguição de
decadência. 3. Agravo regimental DESPROVIDO” (ARE n. 685.033-
AgR, Relator o Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe
10.9.2013).

Nada há, pois, a prover quanto às alegações do Agravante.

9. Pelo exposto, nego provimento ao agravo (art. 932, inc. IV, al. a, do
Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 25 de maio de 2016.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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