Você está na página 1de 14

Arquivo disponível gratuitamente no site: www.servicosocialparaconcursos.

com

Fichamento do livro “Serviço Social na Escola – O Encontro da Realidade


com a Educação”

AMARO, Sarita Teresinha Alves – Serviço social na escola: o encontro da


realidade com a educação.

PÁG. 12

Introdução

Esta publicação é [...] um ato ousado, pois não estamos analisando teorias,
revisando literaturas mais sim nos expondo À socialização de um conhecimento
que foi construído a partir de experiências concretas, com a certeza de que
encerra contradições e licitações próprias de seu tempo e de suas autoras.
Revela, ainda, nosso compromisso com a competência profissional e nossas
preocupações com os rumos da profissão na década em que vivemos as
angústias de um fim de século.

Este livro, como produção teórica, também é fruto deste contexto e se ancora
nesta conjuntura para emoldurar suas reflexões e propostas.

A sociedade nos seus diversos modos de expressão tem registrado as marcas


impressas por esse “novo” tempo. Somos assolados por adversidades e
contradições que nos provocam a realizar rupturas e criações originais.

A escola, por sua função político-social, e o processo educacional como um todo,


inseridos neste contexto sócio-histórico, não poderiam passar imunes a esta
avalanche de determinações e indagações.

No plano macroestrutural somos todos passageiros de um complexo processo de


transformação mundial das relações de produção e reprodução social, cujo
destino é incerto ou pelo menos polêmico.

PÁG. 13

No contrafluxo histórico das conquistas tecnológicas deste mundo que se globaliza


a passos largos, a questão social se transmuta no mesmo ritmo e nível de
complexidade, assim como as tentativas de seu enfrentamento.

É neste movimento e neste recorte da prática social que situamos a intervenção


do Serviço Social junto à escola e as suas demandas emergentes, ambos atores
na busca da superação das desigualdades sociais.
[...]
O cenário escolar é um espaço social rico e fecundo. Nele, as contradições
sociais, os jogos de força e a luta pelos direitos de cidadania estão vivos e
pulsantes, espelhando a realidade tal como ela é.
A população que freqüenta a escola (principalmente a escola pública) é a
mesma atendida em outras instituições sociais. Famílias desagregadas,
desemprego, fome, violência, sofrimento e injustiça social também
freqüentam as escolas, através de crianças e adolescentes, agitados, frágeis
e cheios de esperança.

Pág. 17
Capítulo 1 – A atenção a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual

[...] quando se ouve falar em violência ou abuso sexual contra criança, é comum
observar-se associações diretas com a classe social ou situação socioeconômica
e algumas indiretas relacionadas ao formato da família.

Na tentativa de compreender por que ocorrem as situações de maltrato as


pessoas tentam atribuir sua presença à pobreza, à liberação sexual, à
desagregação familiar, à ignorância, à doença mental, à drogadição, ao alcoolismo
ou a conflitos familiares. Não eliminamos a hipótese de que alguns destes fatores
estejam entre os causadores da violência contra a criança. Ocorre, porém, que
nem sempre eles são tão determinantes quanto parecem.

Pág. 18

Curiosamente, o adulto incestuoso é quase sempre uma pessoa normal com


problemas e conflitos usuais: o abusador é o cidadão acima de qualquer suspeita,
o cidadão correto, o esposo dedicado, bom vizinho, trabalhador e religioso.
(BAGGIO 1991:18)

Segundo BAGGIO(1991), o adulto incestuoso abusa da confiança da criança para


introduzir lentamente seus propósitos libidinosos. Aos poucos a criança vai sendo
submetida ao desejo do agressor, sem possibilidades de escape ou proteste.
Acontece o episódio do incesto. O primeiro de uma série – pois o abusador
permite-se cada vez mais liberdade, viciando-se naquela situação – até que
alguém descubra e dê fim a esta violência.

Acreditamos que os profissionais, sobretudo os atuantes na saúde e educação,


devem voltar sua atenção a esta face da realidade infantil, para melhor intervir em
sua prevenção e tratamento.

O que é violência conta crianças e adolescentes?

O abuso ou violência contra crianças e adolescentes constitui uma violência dos


direitos humanos universais ratificados pelo Brasil na Declaração Universal dos
Direitos Humanos, na Declaração dos Direitos da Criança (1959), na Convenção
das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989), na Constituição Federal
(1989) e na Lei Federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Pág. 19
Nestes documentos são qualificados como abuso ou maltrato as seguintes ações:
• abandono ou tratamento negligente, diante das necessidades biopsicossociais da criança;
• violência física ou lesão física definia;
• tortura, coação, punição cruel ou privação da liberdade;
• violência mental, humilhação ou difamação moral;
• incentivo ou coação para que a criança se dedique a qualquer atividade ilegal como o uso
ou tráfico de drogas e o envolvimento em pornografia;
• exploração sexual, incluídos a prostituição e o envolvimento em materiais pornográficos ou
outros de natureza sexual;
• seqüestro, venda ou tráfico de crianças, para qualquer fim ou sob qualquer forma;
• estimulação sexual (carícias inapropriadas em partes consideradas íntimas), em suas
variadas manifestações: exibicionismo, masturbação, contatos genitais incompletos, entre
outros;
• realização ou tentativa de penetração oral, anal ou genital, incluído o incesto.

O que acontece com a criança quando submetida ao abuso sexual?

As crianças são [...] vítimas de abuso sexual a partir dos quatro anos.

Segundo BAGGIO (1991) inicialmente, a estimulação sexual e a carícia


incestuosa, despertam na criança uma sensação inesperada e prazerosa.

Submetida à repetição do contato libidinoso a criança experimenta uma


sobrecarga de excitação, que ela não está preparada para suportar, dada a
evolução em que se encontra.

Pág. 20

O abuso sexual representa para a criança uma experiência má, algo ruim e sujo,
que ela deseja esquecer, eliminar. Ao tentar nega-lo, abriga-o dentro de si como
um segrego mau. Esta atitude pode lhe custar uma regressão a etapas já
ultrapassadas em seu desenvolvimento.

[...] A gravidade das seqüelas correspondentes ao maltrato estão associadas a


uma série de fatores, entre estes:
• natureza e duração do abuso;
• a idade mental e cronológica da criança;
• as vivências sócio-afetivas da criança;
• o carinho e apoio da família ou alguns de seus entes;
• o nível de relação que a criança possuía com o agressor antes do abuso (confiança,
apego, amparo, dependência...).

Pág. 21

Tendo em conta os aspectos acima, de acordo com as particularidades de cada caso, são
prováveis as seguintes conseqüências:

• estados depressivos;
• desejo de morte podendo chegar à tentativa de suicídio;
• regressão da linguagem e do comportamento;
• distúrbios do sono (terror noturno, sono agitado, insônia ou sonolência excessiva);
• baixa expressiva no rendimento escolar;
• erotização das relações de afeto ou apego;
• sociopatias residuais (delinqüência, consumo de drogas, criminalidade);
• perturbação emocional;
• psicose;

Esteja atento aos sinais de abuso sexual

Pág. 22

A identificação do abuso, quanto mais adiantada, melhores chances oferece à


superação das seqüelas pela criança e o adolescente.

Muitas vezes a suspeita do abuso sexual, surge do reconhecimento de lesões


decorrentes de algum outro maltrato físico, tais como: presença de queimaduras,
fraturas, feridas, hematomas e lesões, principalmente no dorso, na cabeça, nas
nádegas e nos membros. Pode-se investigar também sintomas comportamentais
como:

• mudança de conduta (apatia ou agitação, medo ou agressividade);


• falta de fome;
• tristeza profunda;
• isolamento de colegas e amigos de mesmo grupo etário;
• tensão e medo indefinido;
• relação com adultos com certo grau de provocação erótica;
• desânimo excessivo e indisposição freqüente inclusive diante de atividade desportivas ou
sociais de sua preferência.

Trabalhando a família e a criança para prevenir o abuso sexual

Dar destaque à família na prevenção do abuso e todas as formas de violência


contra a criança é, além de importante, indispensável.

[...] No esforço de caracterizar o perfil da família incestuosa, FONSECA(1996)


chama a atenção para a sua configuração: A família incestuosa é comumente
constituída de pai autoritário, mãe débil e filha com características especiais das
quais avultam aspectos e modos de sedutora, assumindo o papel de pequena
mãe. (FONSECA et alii, 1996:42).

Pág. 23

[...] O apoio à prevenção do maltrato físico e do abuso sexual, bem como o


bloqueio de sua continuidade, exige do profissional firmeza ética em denunciar o
crime do abuso, como também conhecimento e sensibilidade para ajudar a
pequena vítima e a família incestuosa a reabilitar-se emocional e socialmente.

Recomenda-se o atendimento interdisciplinar, a partir de uma equipe formada no


mínimo por assistentes sociais, psicólogos e médicos.

O caminho interventivo poderá seguir diferentes procedimentos, conforme a linha


de atendimento do profissional e/ou equipe, entre estes:
• a organização de grupos de auto-ajuda, formados por crianças e adolescentes vítimas de
violência;
• acompanhamento individual, terapêutico, da vítima da violência;
• acompanhamento grupal da família, através de entrevistas/sessões periódicas;
• a promoção de cursos ou oficinas voltados a famílias em geral, sobre as necessidades
infantis, a importância da tolerância, sensibilidade e atenção de ambos os pais (em todas
as etapas do desenvolvimento dos filhos), o afeto nas relações familiares, como identificar
situações de abuso ou a ele favoráveis (dentro e fora de casa) e o que fazer após
confirmar a suspeita (como ajudar a vítima);
• a promoção de palestras, oficinas, peças teatrais e atividades semelhantes, voltadas à
educação sexual da criança e do adolescente (de ambos os sexos), incluindo na pauta
desde sua capacitação para reagir à tentativa de abuso sexual, reconhecendo e evitando
situações e atitudes suspeitas, que possam oferecer perigo até a busca de ajuda, e a
denúncia propriamente dita;
• cursos oferecidos a casais recém-formados ou que aguardam o nascimento de bebês
sobre as necessidades e direitos infanto-juvenis, os traumas decorrentes da violação
desses direitos, e o papel do afeto e da tolerância dos pais no desenvolvimento infantil.

Pág. 24

Como a escola é o lugar em que cada vez mais os sintomas da violência contra a
criança são expressos, aproximar estes cursos, oficinas e teatros de seu
ambiente, acessando-os não só aos alunos como também aos funcionários e
professores.

Porém, a oferta e realização destas atividades educativas na escola não elimina a


necessidade do professor estar atento às alterações emocionais, atitudinais e
físicas dos alunos.

Pág. 25

Proteger a criança vítima de violência e zelar por sua dignidade e privadidade é


compromisso de todos os profissionais atuantes na escola.

Nesse sentido, a capacitação social de professores e funcionários da escola, além


das demais alternativas até aqui apontadas, deve fazer parte do plano de
intervenção do Assistente Social na escola.

Incentivar o professor a respeitar e ajudar o aluno, sem discrimina-lo, rejeita-lo,


nem tampouco aceitar que outros (professores e alunos) o façam, deve estar entre
as prioridades na proposta de capacitação a ser implementada.
Pág 27
Capítulo ll – A Leitura Social do Fracasso Escolar

A literatura crítica nacional e internacional da educação tem se ocupado em


estudar a questão do fracasso ou insucesso escolar, em seus vários enfoques.
Tudo por conta de preocupantes dados estatísticos.

OBS. Fazer levantamentos dos dados do IBGE em 2004/2005 sobre taxa de


repetência e evasão escolar.

Estudos revelam que a questão do fracasso escolar não está apenas associada à
aprendizagem, mas também à evasão escolar, ao abandono temporário da escola,
a problemas e conflitos familiares, à disparidade entre a série cursada e a idade
do aluno e ao histórico de repetências sucessivas.

Alunos com faltas contínuas e prolongadas, associadas ao trabalho infantil, a


conflitos familiares, à violência doméstica, à drogadição e a criminalidade tendem
a ter maiores dificuldades de aprendizagem que outros, sem estas vivências.
Portanto, reprovam com mais facilidade, tendem a perder o interesse pela escola
e a não desejar freqüenta-la nos próximos anos.

Pág. 28

Devido à prevalência de casos de evasão e repetência escolar entre alunos


pobres, pode-se deduzir daí que o fracasso escolar tem sido historicamente uma
questão de classe social, agravada pela falta de uma política educacional
comprometida com os interesses e necessidades dessas populações.

[...], as possibilidades de aprendizagem e a conclusão da série cursada, sobretudo


entre as classes populares, são dificultadas cada vez menos por problemas
cognitivos e cada vez mais pelo baixo investimento da escola na estimulação do
aluno.

Relações “frias” entre professor e aluno, bem como a presença de uma


comunicação intermediada por quadro-negros invariavelmente cheios e livros
didáticos contendo dados de realidade fictícios, são o golpe fatal na motivação do
aluno.

Pág. 29

No esforço de enfrentar este conjunto de condições desfavoráveis que conduzem


ao fracasso escolar, a escola tornou-se permeável à ação profissional de
diferentes técnicos.

Pág 30
Na escola, o assistente social é o profissional que se preocupa em promover o
encontro da educação com a realidade social, através da abordagem totalizante
das dificuldades e necessidades infanto-juvenis.

A atenção desse profissional volta-se não só aos problemas sociais emergentes


que efervescem na escola, como às estruturas e relações que em maior ou menor
grau reiteram a pobreza social e política dos alunos e suas famílias.

O assistente social tem várias possibilidades de intervenção nos fenômenos da


evasão e repetência escolar. É importante, porém, que a atenção do profissional
não se reserve à solução do problema, abordando também sua prevenção.

A prevenção da evasão e repetência escolar atravessa a criação de condições


favoráveis à aprendizagem e à permanência do aluno na escola, capazes de
sobrepor-se aos fatores desfavoráveis e suas conseqüências sociais.

Pág. 31

[...], vale destacar que as ações sociais voltadas à facilitação do sucesso escolar
dos alunos não têm apenas um fim em si mesmas. A atenção do assistente social
orienta-se não só à superação dos problemas socioeconômicos, rupturas
familiares e situações traumáticas relacionadas a maus tratos e abuso.

Organizar ações dinâmicas e envolventes pode servir tanto à motivação do aluno


para permanecer na escola, como à abordagem de seus problemas e dificuldades
psicossociais e econômicas.

Atuar diretamente nos grupos existentes, como grêmios estudantis, conselhos


escolares e grupos de pais, apoiar sua nucleação ou promover grupos de
convivência entre alunos, partindo de atividades de seu interesse(como: rádio
escolar, torneios esportivos, teatro, dança, artes plásticas, canto, etc.) são alguns
dos caminhos possíveis ao fortalecimento dos laços e aa facilitação do diálogo
entre alunos, pais e professores na escola.

OBS: Inclusão digital pode ser aplicada no espaço escolar como ação motivadora

As possibilidades são muitas, entretanto, operacionalizá-las prescinde de uma


análise rigorosa da realidade, assim como de determinação, criatividade e
sensibilidade do profissional, em articular este universo de limites, expectativas e
necessidades em alternativas de ação para o Serviço Social.

Pág. 33

Capítulo III – O Serviço Social e a Interdisciplinaridade: uma expressão do


agir profissional na escola
A capacidade do assistente social predispor-se à comunicação sem fronteiras e
com múltiplos sujeitos sociais deve ser mais valorizada e explorada por ele
próprio, pois o “trânsito” é facilitado nas diversas “vias” pelas quais a ação
profissional se espraia: no âmbito interno da equipe, no âmbito das relações
institucionais e com a população usuária.

No cotidiano da ação profissional não é incomum muitos projetos de trabalho


“morrerem” no seio da própria equipe ou setor.[...] Se forem examinar as causas
deste fato, certamente encontrar-se-á “ruas” bloqueadas, “trânsito interrompido”,
ou seja, mentalidades fechadas para o diálogo, com e entre idéias e saberes.

Pág. 35

Mais do que nunca revigoram-se as teorias e as tentativas que apontam para o


resgate da unidade do saber, para uma reaproximação das disciplinas e, em
contrapartida, para o trabalho coletivo, solidário e interdisciplinar como resposta e
reação à tendência mundial de fragmentação das relações sociais.

Nesse sentido, o Assistente Social pode assumir, no bojo de suas atribuições, o


papel do profissional que articula propostas de ações efetivas, a partir do resgate
da visão da integralidade humana e do real significado histórico-social do
conhecimento.

A interdisciplinaridade aparece neste contexto como uma das possibilidades de


instrumentalizar os profissionais a interagir em equipe de forma mais coerente e
eficiente, conjugando esforços, ampliando o raio de análise e de ação, face a uma
realidade sempre pronta a nos desafiar e a tornar nossa intervenção obsoleta.

Pág. 36

Interdisciplinaridade: o que é?

A interdisciplinaridade não implica apenas na noção de integração ou inter-relação


entre disciplinas (FERREIRA, 1993:33). Sua pretensão vai mais longe e exige a
superação da prática multidisciplinar, por isso deve ser devidamente entendia, a
partir das concepções etimológicas.

Nos diversos textos pesquisados, constata-se uma gama de designações


atribuídas à interdisciplinaridade: atitude, concepção, proposta, metodologia,
pedagogia, movimento, abordagem, empreendimento, saber, visão, são alguns
exemplos.

Não há [...] uma única definição na qual o termo possa ser enquadrado
consensualmente. Entretanto, há um único sentido para sua existência: a busca
do saber como uno para preservar a integralidade do pensamento e das
complexidades humanas.
[...], a temática relevante é a compreensão de que se atinge a interdisciplinaridade
por sucessivas aproximações, buscando a superação de estágios limitados de
significado, intensidade e abrangência acerca da realidade que se quer conhecer
e transformar. Ela não se institui pelo discurso ou definição, mas no processo
complexo de construção coletiva, de encontros, de parcerias. Não há verdades
absolutas, sendo que nenhuma disciplina é capaz de explicar o mundo
isoladamente. A verdade do conhecimento é uma procura e não uma posse
(JAPIASSU, 1975:149).

Pág. 37

Enquanto processo, a interdisciplinaridade representa estágios de superação do


pensar fragmentado e disciplinar. O estágio inicial denominado de multi ou
pluridisciplinaridade, que segundo SAMPAIO (1989:83) caracteriza-se pela relação
de justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração de
conteúdos numa disciplina, alcançando a integração de métodos, teorias ou
conhecimentos. Dá-se, neste estágio, uma comunicação baseada no diálogo
paralelo entre as disciplinas.

Pág 38

Portanto, a interdisciplinaridade caracteriza-se pela Intensidade das trocas entre


os especialistas e pelo grau de Integração real das disciplinas de um mesmo
projeto (JAPIASSU, 1976:74).

Pág. 39

Como transformar o trabalho de equipe em uma ação interdisciplinar?

Educadores e Assistentes Sociais são profissionais que compartilham desafios


semelhantes: ambos têm na escola seu ponto de encontro; Podemos, assim,
acenar para uma possível prática interdisciplinar se considerarmos a Educação
como práxis que se realiza concretamente na escola, e o Serviço Social como
disciplina profissional que tem nas relações sociais seu objeto de atenção e faz da
prática sócio-educativa o eixo básico de sua intervenção.

Porém, esta relação a priori não é suficiente para caracterizar a troca


interdisciplinar.

O que consagra o encontro interdisciplinar é a idéia de complementariedade


recíproca entre as áreas e seus respectivos saberes.

Pág. 40

Os desafios colocados hoje, para os profissionais que trabalham com crianças e


adolescentes, têm cada vez mais exigido que se unam esforços na busca de
soluções além das fronteiras das disciplinas em questão. Cabe ao profissional
reconhecer os limites de sua intervenção e buscar a contribuição múltipla que as
diversas áreas do saber podem proporcionar.

Pág. 41

É [...] fundamental que os profissionais aprendam a enfrentar a multiplicidade de


diferenças, especificidades e relações em que se inserem, tomando para si o
desafio de “exercitar” a complementariedade solidária entre as disciplinas.

Pág. 43

Capítulo IV – Repensando a Participação da Família na Escola

É inegável que a educação tem um papel preponderante na formação do cidadão


e que só se constrói consciente e criticamente1. Para tanto, é fundamental que a
escola conheça a realidade social de seu aluno e encurte a distância que a
separa, inclusive do universo familiar.

Pág. 44

Geralmente, a presença dos pais é lembrada na ocasião de quermesses, feiras e


contribuições financeiras ou, com maior freqüência, para ouvir reclamações e
queixas sobre o comportamento ou rendimento dos filhos. Mas isto não é
participação.

Espaços tipicamente participativos como assembléias de pais e mestres, reuniões


do conselho escolar e clubes de mães, quando não estão esvaziados,
desenvolvem ações pontuais e assistemáticas, acarretando um crescente
descrédito à possibilidade de construção de férteis espaços democráticos.

Pág. 45

Participação: como se dá

A falta de participação ativa da população, [...] não é um fenômeno exclusivo da


escola mas que estende-se a outros campos sociais, uma vez que é reproduzido
cultural e politicamente por grupos monolíticos de poder.

Pág. 46

De acordo com LIMA(1983:37), as relações de produção, assim como suas


expressões ideológicas e políticas são fundamentais para explicar as forma de
participação social e cultural. Segundo ela: “não se pode analisar a aprticipação
social dos grupos populares decorrente de sua integração ou não à sociedade,
pois é a própria posição que ocupam na estrutura econômica e social e a natureza

1
Vale dizer que a prática educativa pode ter significativa influência na definição do projeto de vida dos sujeitos
do processo de desenvolvimento que condicionam e limitam as manifestações
sociais, culturais e políticas das classes populares”.

Pág. 47

A falta de participação, na verdade, serve à velha cultura dominante pautada no


centralismo das decisões e na obediência incondicional das massas às normas e
determinações que, além de raramente corresponderem a seus interesses,
necessidade e preocupações, ainda voltam-se a impedir sua participação
consciente.

Urge que a escola redefina seu conceito de participação e construa mecanismos


eficientes de comunicação e gestão com as famílias. Não basta comunicar as
decisões arbitrariamente tomadas, é necessário que se aprenda a compartilha-las
democraticamente. É isso só se constrói através de uma perspectiva dialógica.
Reuniões sistemáticas de avaliação e planejamento das atividades executadas
pela escola, grupos organizados como CPMs e Conselhos Escolares são alguns
espaços potencialmente fecundos para consagrar este encontro dialógico de pais,
alunos, professores e direções de escola.

Pág. 48

Escola pra quê?

Os professores defendem a idéia de que os pais colocam os filhos na escola


primeiro para estarem ocupados e, em segundo lugar, para aprenderem. Já as
famílias acreditam que a tarefa da escola consiste em ensinar e educar as
crianças.

Para que a escola cumpra com suas funções políticas é fundamental que ela
identifique que tipo de homem está se dedicando a formar. Podem ser cidadãos
ou massas de manobra, sujeitos críticos e políticos, ou dependentes, passivos e
conformados.

Para que a escola desempenhe o seu papel político desenvolvendo o senso crítico
e o cidadão, é preciso que esteja me sintonia com a realidade da comunidade em
que se insere, respeitando a realidade social, cultural e econômica dos alunos e
partindo dela para empreender as atividades sócio-pedagógicas a eles voltadas.

Pág. 51

Capítulo V – A Identidade e a Prática do Serviço Social Escolar no Rio


Grande do Sul: Sua Trajetória Institucional

O Serviço Social foi implantado como serviço de assistência ao escolar na antiga


Secretaria de Educação e Cultura em 25 de março de 1946, [...] vinculado ao
programa geral de assistência ao escolar. Suas atividades estavam voltadas à
identificação de problemas sociais emergentes que repercutissem no
aproveitamento do aluno, bem como à promoção de ações que permitissem a
‘adaptação” dos escolares ao seu meio e “equilíbrio’ social da comunidade
escolar.

Os Assistentes Sociais eram requisitados a intervir em situações escolares


consideradas desvio, defeito ou anormalidade social.

Pág. 57

A propósito: a escola pública não é o limite

O espaço do Serviço Social no cenário educacional ainda é pouco reconhecido,


mas vem sendo gradativamente conquistado.

Ainda que a passos lentos, o Serviço Social tem alcançado as escolas tanto da
esfera pública como privada.

As atividades de assessoria e consultoria têm instaurado uma nova relação de


trabalho inserindo o assistente social na escola, sob a modalidade de prestação
de serviços.

Pág. 58

O aperfeiçoamento teórico-metodológico e a qualificação técnica para a atuação


neste contexto são uns dos desafios do Serviço Social neste final de século.

Responder a esse desafio significa para o Serviço Social ultrapassar seus limites
históricos e politicamente determinados, e conquistar efetivamente mais espaço
social, a escola.

Pág. 77

Capítulo VI – De Olho no Futuro: Novos Rumos para o Serviço Social?

As sociedades, instituições e profissões em geral, estão surpreendentemente em


estado de crise e criação: ávidas em revisar-se e renovar-se para ingressar no
novo milênio.

Especificamente no Serviço Social, em que essa inquietude é permanente, este


movimento reflexivo encontra eco em sua crescente produção, equipando-o com
maior rigor teórico, técnico e operativo, tornando-o, assim, mais exigente e mais
competente na interlocução com as áreas de conhecimento contemporâneas.

Pág. 79
Neste [...] mercado de trabalho, regido pelas tendências neoliberais onde a mão-
de-obra assume a característica flexível e polivalente, estão as escolas
particulares, que cada vez mais optam pela prestação de serviços profissionais
especializados.

Em meio a tudo isso, impõe-se a necessidade de redimensionamento da ação


profissional, independente da área a que pretende responder.

[...] O assistente social está preparado para conquistar estes espaços,


acompanhando estar transformações societárias e ao mesmo tempo
salvaguardando sua competência ética e técnica?

Estamos, pois, chamando a atenção para as portas que se fecham e para as


janelas que se abrem.

[...] no encontro da realidade com a educação, nos mostrou os desafios deste final
de século afetam tanto pobres (escola pública) quanto os ricos (escola particular).
O que varia são as respostas e as formas de enfrentamento que cada classe tem
ao seu alcance ou de que se utiliza para “resolver” os mesmos problemas:
dificuldades de aprendizagem, comportamento violento, indisciplina, apatia
generalizada, experiências precoces envolvendo drogas e sexualidade.

Pág. 80

Se há uma década atrás a demanda básica do Serviço Social era a situação de


carência econômica, onde alunos e famílias precisavam ser ajudados com
ranchos, roupas, remédios, tratamentos, encaminhamentos, ou ainda conflitos
familiares envolvendo agravantes como alcoolismo, hoje a realidade é ainda mais
dramática. Essa carência extrema transita em todas as classes sociais.
Desemprego ou duplas (e até triplas) jornadas de trabalho destroem famílias.
Tempo é artigo raro no mercado. Afeto ou relações amorosas são produtos
distribuídos em doses mínimas.

Neste contexto, as demandas de atendimento vêm associadas aos sinais destes


novos tempos e nos desafiam a cada instante: AIDS, homossexualismo, gravides
na adolescência, abuso sexual, depressão, dependência química, tentativas de
suicídio, tráfico de drogas, etc.

Pág. 81

[...], a escola é um espaço inegavelmente fértil. No seu cotidiano as contradições


sociais convivem com o sorriso e com o beijo melado das crianças, com
esperança de educadores que ainda acreditam na luta pelos direitos de cidadania
e com pais que ainda acreditam ser a escola o local onde seus filhos aprendem a
difícil arte de ser alguém na vida.
Conhecer a instituição escola deste tempo histórico, capacitar-se para nela atuar e
conquista-la como campo profissional é um dos desafios que se colocam para o
Assistente Social.

As dificuldades são muitas. Apesar delas, e também por causa delas, temos o
compromisso de contribuir para o dever histórico do Serviço Social, visitando
todas as fontes que possam nos apontar trilhas ainda não percorridas.

[...] apesar das contradições, equívocos e indagações, o desafio não está apenas
posto. Ele está sendo assumido pela profissão, com o rigor da crítica, o que torna
apta a dialogar com a pós-modernidade.

[...] A conquista de uma profissão que sobreviva e se reconcilie na direção desta


realidade, também. Portanto, todos nós estamos implicados neste movimento.

Você também pode gostar