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Abordagem Descompensacao - Aguda PDF
Abordagem Descompensacao - Aguda PDF
Carlos Henrique Miranda1; Renato Barroso Pereira de Castro2 & Antônio Pazin Filho3
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Médico residente. 2 Médico Assistente. Divisão de Cardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
-USP. 3 Docente. Divisão de Cardiologia. Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
CORRESPONDÊNCIA: Prof.Dr. Antônio Pazin Filho – Divisão de Cardiologia – Departamento de Clínica Médica – Hospital das Clínicas –
Campus Universitário – CEP 14048-900- Ribeirão Preto – SP- Email: apazin@.fmrp.usp.br
MIRANDA CH; CASTRO RBP & PAZIN FILHO A. Abordagem da descompensação aguda da insuficiência
cardíaca crônica. Medicina, RibeirãoPreto, 36: 179-186, abr./dez. 2003.
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O objetivo deste artigo é revisar o manejo clíni- conhecida, pode ser necessária a realização de exames
co inicial, na sala de urgência, do paciente com des- de imagem, para determinar a presença e a extensão
compensação aguda da IC crônica, necessitando de de isquemia miocárdica como fator desencadeante (6).
internação hospitalar. Na anamnese, é importante a pesquisa do uso
Para melhor padronização, propõe-se aborda- de medicações que podem precipitar a descom-
gem em cinco etapas, o que inclui: 1- detecção de pensação cardíaca, como: 1- antiinflamatórios não
fatores precipitantes da descompensação aguda; 2- esteroidais, que promovem retenção de sódio e água,
definição do perfil clínico/hemodinâmico do paciente; interferem com os mecanismos farmacológicos dos
3- abordagem terapêutica, baseada no perfil clínico/ inibidores de ECA e diminuem a efetividade dos
hemodinâmico; 4- terapia medicamentosa associada; diuréticos de alça; 2- aminofilina e broncodilatores
5- critérios para alta hospitalar. betaagonistas, que podem exacerbar a IC, induzindo
taquiarritmias; 3- agentes antiarrítmicos da classe Ia
e Ic, bem como os bloqueadores dos canais de cálcio,
2- ABORDAGEM CLÍNICA DA DESCOM-
que podem deprimir a função ventricular (6).
PENSAÇÃO AGUDA DA IC
Algumas complicações, que se manifestam no
2.1- Detecção de fatores precipitantes da des- paciente descompensado, podem ser decorrentes da
compensação aguda própria terapêutica; como exemplo, citamos os distúr-
bios eletrolíticos, notadamente a hipopotassemia, cau-
Diante de um paciente com descompensação
sada pelo uso intensivo de diuréticos, e a hiperpotas-
aguda de IC crônica, devemos, sempre, buscar uma semia, freqüente na associação de inibidores da ECA
causa precipitante (6). Segundo Opasich et al, em 280 e espironolactona; as arritmias típicas da intoxicação
pacientes analisados com descompensação aguda, digitálica, ou mesmo secundárias ao uso de antiarrítmi-
somente 40% não tinham um fator desencadeante, cos (pró-arritmia), também devem ser citadas.
sugerindo que, nesse grupo, a exacerbação era se- Cerca de 20 a 40% dos pacientes com IC apre-
cundária à progressão da doença (7). sentam fibrilação atrial (FA), sendo que eles apresen-
Fatores precipitantes, como interrupção/redu- tam pior prognóstico. Na maioria das vezes, a FA é bem
ção da medicação, infecção, isquemia silenciosa, ar- tolerada por tais pacientes, mas, em situações de alta
ritmias, interação medicamentosa, podem interferir resposta ventricular, pode contribuir para a descompen-
agudamente com parâmetros hemodinâmicos, levan- sação (9). Em oposição, a FA de baixa resposta ventri-
do a um aumento da pré-carga, diminuição da contra- cular, muitas vezes secundária à associação de medi-
tilidade ou aumento da pós-carga. As alterações des- cações, como digitálico, amiodarona e betabloqueado-
sas variáveis resultam em piora dos fenômenos res, pode configurar um fator limitante à manutenção
congestivos e das manifestações de baixo débito, com de um débito cardíaco adequado, tornando necessária
conseqüente descompensação clínica (6). a estimulação cardíaca artificial, temporária ou defini-
A falta de aderência do paciente às orientações tiva. Do mesmo modo, os bloqueios atrioventriculares
médicas (uso correto das medicações, dieta hipossó- avançados devem ser pesquisados e corrigidos.
dica) sempre deve ser questionada, pois é um fator Outros fatores precipitantes importantes são a
precipitante, muito comum e facilmente reversível. infecção sistêmica, salientando-se a nítida predisposi-
Michalsen et al mostraram que, em 179 pacientes ção a infecções pulmonares, as desordens tireoidianas
hospitalizados com descompensação aguda de IC, (hipo e hipertireoidismo), a embolia pulmonar e a ane-
cerca de 42% falhavam em seguir as orientações mia (Tabela I).
médicas (8). Nunca é demais salientar que a polimedi-
cação, inerente a tão complexa situação, e o baixo 2.2- Definição do perfil clínico/hemodinâmico
poder aquisitivo de nossa população, são alguns dos A observação de pacientes portadores de IC,
fatores predisponentes à baixa aderência. criticamente descompensados, tem sido objeto de inú-
A isquemia miocárdica, sintomática ou silencio- meras publicações, notadamente de centros especiali-
sa, é outro importante fator precipitante, sendo funda- zados no manejo de pacientes candidatos ao trans-
mental a realização de eletrocardiograma e dosagem plante cardíaco. Esses centros difundiram o que se
sérica dos marcadores de necrose miocárdica, para ava- convencionou chamar de “terapêutica guiada por pa-
liação da possível contribuição desse fator no episódio de râmetros hemodinâmicos invasivos”, na qual os dados
descompensação. Em pacientes com coronariopatia obtidos através do cateter de Swan-Ganz guiam, com
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mendan, que se liga à troponina C, facilitando a inte- momento da alta hospitalar, as medicações que me-
ração entre a actina e a miosina e proporcionando lhoram a sobrevida, ou seja, aquelas que atuam no
positivo efeito inotrópico(14). A possível vantagem dessa bloqueio da ativação neuro-hormonal.
medicação relaciona-se à observação de que ela, ao Como a grande maioria dos pacientes que in-
contrário da dobutamina e da milrinone, não causa ternam com descompensação aguda da IC pertencem
aumento intracelular de cálcio e, assim teria menos às classes funcionais III e IV, da New York Heart
efeito arritmogênico. Comparou-se o levosimendan Association, existem evidências bem consolidadas da
com a dobutamina, sendo observada melhora das va- importância da utilização da espironolactona, do
riáveis hemodinâmicas e diminuição da mortalidade inibidor da ECA e do carvedilol, os quais mostraram
no primeiro grupo (15). Aqui, também, a hipotensão é redução de mortalidade nesse grupo específico de
fator limitante, já que o levosimendan produz vasodi- pacientes (16,17,18).
latação periférica, mediada pelos canais de potássio. Os betabloqueadores somente deverão ser ini-
O uso rotineiro dos agentes inotrópicos, endo- ciados após estabilização inicial e quando os pacien-
venosos, nesse grupo de pacientes, não deve ser esti- tes não tiverem mais evidências de congestão. O es-
mulado, pois os riscos não justificam os benefícios. tudo IMPACT-HF mostrou que, quando se iniciam os
Essa opção deve ser reservada para pacientes que betabloqueadores, durante a internação hospitalar, há
estão evoluindo para colapso hemodinâmico, quando maior aderência dos pacientes (19). O objetivo princi-
deverá ser considerada como terapia de “ponte” até a pal é iniciar essa classe de medicamento na internação,
realização do transplante, até outras intervenções ou, para que a titulação de dosagem seja feita posterior-
ainda, até a melhora de condições transitórias, como mente, no seguimento ambulatorial.
infecções. Situação freqüentemente vivenciada rela- Com o uso da digoxina, não foi observada re-
ciona-se à dificuldade no “desmame” das drogas dução de mortalidade, mas houve melhora de sinto-
inotrópicas; em tais casos, deve-se, eventualmente, mas e redução de reinternação, e seu uso deverá ser
suspender, temporariamente, o uso concomitante de considerado em pacientes sintomáticos, mesmo após
drogas, como os inibidores de ECA. a utilização de diuréticos, inibidores de ECA e beta-
Como conclusão, pacientes, no perfil C, devem bloqueadores (20).
ser tratados, inicialmente, com redução/suspensão dos O uso de diuréticos é a base do tratamento dos
betabloqueadores e otimização dos vasodilatadores; a pacientes com sintomas congestivos, e, apesar de não
pressão arterial não deve ser utilizada como parâmetro haver estudos mostrando impacto em relação à mor-
único a contra-indicar essa prática, devendo ser valo- talidade, é uma medicação que sempre deverá ser
rizada a presença de sinais inequívocos, de baixo dé- mantida, geralmente, em doses menores que as ne-
bito, como oligúria e obnubilação. Caso os sinais este- cessárias inicialmente para a compensação, para ma-
jam presentes, as drogas inotrópicas poderão ser ini- nutenção do estado volêmico(10). (Tabela III).
ciadas. Os pacientes devem ser monitorizados em uma Apesar de não fazer parte da terapêutica
unidade de tratamento intensivo, e, ocasionalmente, medicamentosa, a restrição de cloreto de sódio a 2g/
pode-se considerar o uso de monitorização hemodinâ- dia é parte fundamental do tratamento desse tipo de
mica, invasiva, através do cateter de Swan-Ganz. paciente. A restrição hídrica deverá ser reservada para
os casos associados a hiponatremia.
2.3.3. Perfil clínico/hemodinâmico L (frio/seco)
É o perfil que representa um subgrupo muito 2.5- Critérios para alta hospitalar
pequeno nos grandes estudos. Na grande maioria das A reinternação hospitalar ocorre em cerca de
vezes, são pacientes estáveis e pouco sintomáticos. 50% dos pacientes, em seis meses. É importante o
Deve-se, sempre, observar se esses pacientes não es- estabelecimento de critérios clínicos bem definidos para
tão utilizando doses excessivas de diuréticos e alta hospitalar, para que se tente a redução dessa taxa.
inibidores da ECA. Introdução gradual de betabloquea- Deve-se considerar os seguintes critérios de alta
dores, geralmente é tolerada, e pode associar-se com hospitalar: 1- peso seco atingido (peso livre de edemas);
melhora clínica (10). 2- ausência de dispnéia ou tontura para caminhar; 3-
uso de medicações orais, sendo que não foi necessá-
2.4- Terapia medicamentosa associada rio ajuste de doses nas últimas 24 h; 4- não utilização
Nos pacientes internados por descompensação de agentes inotrópicos nas últimas 48 h; 5- função re-
de IC, é importante tentar manter ou introduzir, até o nal estável ou melhorando; 6- educação do paciente e
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DIURÉTIC O S
IN IBIDO RES DA EC A
DIGITÁLIC O
dos familiares sobre restrição de sódio, limitação hí- Sempre se deve procurar um fator desenca-
drica, horários das medicações e possíveis efeitos deante da descompensação em lugar de atribuí-la à
colaterais, assim como um plano flexível de uso de progressão da doença, visto que tais fatores, quando
diuréticos e um retorno breve (em torno de uma se- identificados e anulados, permitem a reversão efetiva
mana) para reavaliação. do quadro.
É muito importante a definição do perfil clínico/
3- CONCLUSÕES hemodinâmico do paciente, o que é facilmente realizá-
vel com base em dados da anamnese e do exame físi-
O manejo da descompensação aguda da IC co; assim, define-se a terapia inicial e se caracteriza
requer avaliação clínica judiciosa, para as decisões melhor o prognóstico. Nohria et al demonstraram que
terapêuticas corretas, sempre visando abreviar a pacientes com perfil C têm menor sobrevivência que
internação e reduzir o risco de morte ou reinternação pacientes do perfil B, e que ambos os perfis, B e C,
em curto prazo. apresentam maior mortalidade que o perfil A; em rela-
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ção ao perfil L, devido ao pequeno número de pacien- isto, cada vez mais encontraremos pacientes com des-
tes nesse grupo, não foi possível a realização da aná- compensação aguda, internados na sala de urgência.
lise estatística adequada da categoria (21). (Figura 1) O médico deve estar preparado para o tratamento ade-
A IC vem se transformando em um problema quado do paciente, ajudando, assim, a reduzir as eleva-
de saúde pública, especialmente quando se considera das taxas de mortalidade e reinternação hospitalar, bem
o aumento de sua incidência nos últimos anos, e, com como o significante impacto econômico associado.
Sobrevida livre de eventos
Meses
MIRANDA CH; CASTRO RBP & PAZIN FILHO A. Medical management of acute decompensation of chronic
heart failure in the emergency room. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 179-186, apr./dec. 2003.
ABSTRACT - Heart failure is a public health problem. The number of patients with heart failure
referred to the emergency department is increasing. We propose a systematic approach to the
acute exacerbation of heart failure based on: 1 – detection of the precipitating factors; 2 – definition
of the clinical/hemodinamic profile; 3 – a therapeutic approach according to this clinical/
hemodinamic profile; 4 – choice criteria for combined drug treatment; and 5 – determination of
criteria to leave the hospital. This standartization proposed to reduce the mortality and readmission
rates at short term.
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