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14/01/2019 Crônica dos nossos velhos tempos que o jovem de hoje ignora - DM.COM.

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Crônica dos nossos velhos tempos que o jovem de


hoje ignora
Hoje tudo está diferente: o crime campeia, as drogas arrasam famílias

Postado por Liberato Póvoa (/search/Liberato+Póvoa) em 29 de outubro de 2018 às 21h08

Recordava-me, diinhas atrás, com meu primo José Cândido, o filósofo-poeta


da família, de coisas de nossa meninice, evocadas pela leitura do livro “O
mundo acabou”, de Alberto Vila, que escarafunchou lembranças que estavam
numa fundura medonha do nosso passado, naquela quadra de vida em que
éramos pixotes de calça curta chupando cajuzinhos e comendo puçá nas cha-
odomésticos
o e Pronta padas das rodeanças de São José do Duro. Certamente, aqueles que viveram
eço
o e mais 5% aquela fase no interior vão lembrar-se.
o no Boleto.

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A gente, de escassos recursos, sonhava com uma bicicleta “Monark” de pneu


balão e até mesmo fazia um memento aos pais às vésperas do Natal com o
“não se esqueça da minha Caloi”; após um bom banho com o sabonete “Eucalol”, “Le-
ver”, “Dorly” ou “Gessy”, uma escovada nos dentes com as pastas “Kolynos”, “Colippe” e
“Anti-Cárie Xavier”, vestia uma calça “Cowboy Faroeste”, de “Brim Coringa Sanforiza-
do” ou uma “Topeka”, uma camisa “Volta ao mundo” ou “Banlon” (lavadas com “Rin-
so”), e às vezes uma calça social de “nycron” de vinco permanente, calçava um sapato
“Passo Doble”, “Vulcabrás”, ou um modesto “Kichute”, uma “Conga”, “Bamba” ou mes-
mo “Alpargatas Roda”, e saía perfumado com um autêntico “Maderas de Oriente” (com
aquele raminho verde dentro do frasco) ou “Royal Briar”, o cabelo lavado com “Sham-
poo de Ovo” e besuntado com a “Brilhantina Glostora”, e ia à noite dançar no “Bandei-
rante Bar” ou no “Bagó” de Leonides, ao som do vinil daquelas “Músicas para ouvir e so-
nhar”, ou “As 14 Mais”, com Irany e seu Conjunto, de Anísio Silva, Orlando Dias e Cauby
Peixoto, e com um chaveirinho com um pé-de-coelho para dar sorte e tentar atrair as
meninas no sem-que-fazer de todas as noites. E era de bom preceito, para demonstrar
importância, andar com “Drops Dulcora” no bolso ou aqueles cigarrinhos de chocolate
imitando o cigarro real.

Era sagrado ouvir o “Repórter Esso”, com Heron Domingues, todas as manhãs, as radio-
novelas, ler as fotonovelas (pois televisão não havia), os gibis de “Roy Rogers”, “Rocky
Lane”, “Pinduca” e “Os sobrinhos do Capitão”; tentar ser gente grande, fumando escon-
dido dos pais os cigarros “Mistura Fina”, “Yolanda” (branco e azul), “Astória”, “Liberty”,
“Continental” e “Beverly”, às vezes com uma esnobe piteira; bebendo aquela “Mirinda” e
o “Crush” quentes mesmo; e era um luxo passear de carona num “DKW-Vemag”, numa
“Rural Willys”, “Vemaguete” ou num “Jipe Willys”, que nem fusca havia naquele tempo.
E aquele adesivo “Não corra, papai!” que não faltava no painel.

Toda casa tinha uma “Santa Ceia” na parede, como que trazendo a proteção divina, ou
um quadro do casal retocado a pincel, a ponto de ser às vezes irreconhecível; um filtro
de barro “São João” na copa; uma enceradeira na sala, onde também os ricos tinham
um relógio “cuco”; e na caixinha de remédios não podia faltar o “Fontol”, as sulfas (“Sul-
fadiazina”, “Sulfamerazina”, “Sulfanilamida”), a “Cibalena” para as infecções e dores em
geral, as “Pílulas de vida do Dr. Ross”, “Pílulas dos quatro humores”, “Pílulas do Abade
Moss”, e os comprimidos de “Aralém” e “Metoquina” pra atalhar impaludismo (que a
gente chamava de “sezão”), os detestados lombrigueiros (“Saúde dos meninos” e “Lom-
brigol”) os xaropes “Capivarol” e “Bromil”, a “Saúde da mulher”, o ”Regulador Xavier”, e
a “Água Inglesa” pras parturientes, que cumpriam um resguardo de quarenta dias co-
mendo só pirão de frangos capões (sem os miúdos), que eram “limpos” em um ceveiro,
alimentados só com milho por semanas. Não vemos mais assafétida, calomelanos e ru-
ão, que nem sei mais pra que serviam.

Quando chegou a televisão, assistia-se, em preto-e-branco, ao Curta nossa página no


“Papai sabe tudo”, às propagandas com o elefantinho da Shell Facebook!
e o tucano da Varig, cobertores “Parahyba”, e, como a imagem

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era embaralhada, havia sempre um tufo de “Bombril” na ponta DM - Portal de Conteúdo


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da antena para clarear as figurinhas animadas e controlando
com os botões horizontal/vertical..
Curtir Página Usar aplic

Na escola não havia o protecionismo de hoje, que, vira e mexe,


por qualquer és-não-és, leva os pais às Delegacias e Varas da Infância, e os professores
já vinham autorizados a usar da palmatória (chamada de “Santa Luzia”) nos “argumen-
tos” e sabatinas, sem que isto viesse escandalizar os pais; lá éramos submetidos a casti-
gos corporais, como ficar de em pé no canto da sala e até mesmo de joelhos, práticas
adrede autorizadas, como providencial na ajuda da formação do caráter, e nunca se sou-
be de casos de depressão, pois o “bullying” nem sonhava em existir, e os alunos pena-
vam para aprender a tabuada nas contas de somar, diminuir, multiplicar e dividir por.
Calculadoras eram utopia, e hoje, se fazem parte do progresso, contribuem para estimu-
lar a preguiça mental, escorraçando a arte de raciocinar. E as paradas de “Sete de Se-
tembro” despertavam o espírito cívico, que hoje anda escasso, quando, ao som de tam-
bores e taróis, cantávamos “Cisne branco” e “Nós somos todos do jardim da infância”,
desfilando pelas ruas. Hoje, até tapumes se construíram em Brasília para impedir o po-
vo de assistir.

Ainda nem tínhamos o mimeógrafo a álcool com seu estêncil, que veio a ser novidade,
mas já frequentávamos a “Escola de Datilografia”, com o A-S-D-F-G nas famosas e “mo-
derníssimas” máquinas “Royal”, “Olivetti”, “Remington Rand”, e depois a “revolucioná-
ria” “Facit” e, na falta das fotocopiadoras (que nem sonhávamos que viriam um dia), o
papel carbono era a nossa valência, embora nos sujasse as mãos e o trabalho, soltando
aquele pozinho azul arroxeado ou preto.

Eram obrigatórios os cadernos grampeados “Avante”, com um escoteiro na capa carre-


gando uma bandeira nacional, e citações latinas (“Omnia labor vincit improbus”), o pa-
pel almaço (em que escrevíamos com tinta “Parker Super Quink azul-real lavável” nas
canetas-tinteiro), as cartilhas “Vamos ler?”, “Felisberto de Carvalho” e “Santa Luzia”,
que a gente estudava e “recordava”; depois surgiram os cadernos de “caligrafia vertical”
e o indefectível “Ivo vê a uva”.

Felizes eram os tempos dos pentes “Flamengo”, dos espelhos “Rodiasol” (com mulheres
peladas do outro lado), os monóculos com fotografia no fundo; o espanto com os pri-
meiros gravadores com rolo de fitas, que nem “cassete” existia ainda. Os tempos em que
o pai da gente botava meia-sola nos sapatos e cortava nosso cabelo deixando só o topete.
À noite, as brincadeiras inocentes de “bacondê” (“esconde-esconde”), “Flor de pequi, ve-
ado”, “Linha de ferro”, “Pau melado”, “Guarda meu anelzinho bem guardadinho”, bem
como as cantigas de “Atirei o pau no gato”, “Bom barquinho”, “Pai Francisco entrou na
roda” e “Nesta rua, nesta rua tem um bosque”.

Hoje tudo está diferente: o crime campeia, as drogas arrasam famílias, a televisão, com
seus “reality shows” e novelas ensinando safadezas e traições, contribuindo para detur-
par personalidades em formação, pulverizando os valores morais e as tradições da famí-

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Como eram bons aqueles nossos tempos de inocência, sem “fast food”, “drive in”, zape-
zape e outras porcarias – e, o que é pior, hoje indispensáveis – que apareceram de uns
tempos pra cá.

(Liberato Póvoa, articulista)

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