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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

NWN
Nº 70077062800 (Nº CNJ: 0071492-18.2018.8.21.7000)
2018/CÍVEL

Apelação cível. Responsabilidade civil. Ação


indenizatória por dano moral. Ausência de
comprovação da notificação prevista no § 2° do
art. 43 do CDC. Inscrição considerada indevida
em cadastro de inadimplentes. CCF.
Legitimidade passiva reconhecida. Aquele que
mantém ou reproduz informações, mesmo que
oriunda de outros órgãos, tem legitimidade para
responder ação em razão da ausência de
notificação a que alude o art. 43, § 2º, do CDC.
Ausência de notificação no caso concreto.
Preexistência de inscrição legítima. Inteligência
da Súmula 385 do STJ Inexistência dos
pressupostos da responsabilidade civil e
conseqüente do dever de indenizar. Apelo
parcialmente provido.

APELAÇÃO CÍVEL SEXTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70077062800 (Nº CNJ: 0071492- COMARCA DE GRAVATAÍ


18.2018.8.21.7000)

ANDREIA BICHET APELANTE

ACIGRA - ASSOCIACAO COMERCIAL APELADO


INDUSTRIAL DE SERVICOS DE
GRAVATAI

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Magistrados integrantes da Sexta Câmara Cível


do Tribunal de Justiça do Estado, por maioria, vencida a Relatora, dar
parcial provimento ao apelo.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além dos signatários, os


eminentes Senhores DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (PRESIDENTE),
DES. NIWTON CARPES DA SILVA E DRA. MARLENE MARLEI DE SOUZA.
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2018/CÍVEL

Porto Alegre, 07 de dezembro de 2018.

DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA,


Relatora.

DES. NEY WIEDEMANN NETO,


Redator.

RELATÓRIO

DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA (RELATORA)

Trata-se de ação de cancelamento de registro com pedido de


tutela antecipada ajuizada por ANDREIA BICHET em face de ACIGRA -
ASSOCIACAO COMERCIAL INDUSTRIAL DE SERVICOS DE GRAVATAI, por
meio da qual relatou que a autora não recebeu nenhum comunicado
acerca do registro negativo. Sustentou não ter sido observado o preceito
do art. 43, §2º, do CDC, que exige a prévia notificação. Afirmou que os
danos morais decorrem in re ipsa. Requereu a concessão da tutela
antecipada. Postulou o benefício da AJG, deferido à fl. 12. Juntou
documentos (fls. 05/07).

Citada, a ré contestou (fls. 15/27). Solicitou o benefício da


AJG, indeferido à fl. 37. Sustentou a extinção do feito em vista da falta de
interesse de agir. Requereu a extinção do feito sem julgamento de
mérito.

Houve réplica (fls. 31/33).

Após, sobreveio sentença com o seguinte dispositivo (fls.


39/40):

ANTE O EXPOSTO, julgo IMPROCEDENTE o


pedido, com fundamento no artigo 487, I, do
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CPC. Condeno a parte autora no pagamento das


custas processuais e dos honorários
advocatícios, os quais fixo em R$ 500,00
(quinhentos reais), considerados os critérios
estabelecidos pelo Código de Processo Civil.
Fica suspensa a exigibilidade, nos moldes do
art. 12, da Lei 1.060/50.

A parte autora apelou (fls. 42/49). Sustentou que todos os


fatos narrados na inicial restaram incontroversos. Citou o RESP
1.061.134/RS. Requereu que seja julgada procedente a ação, bem como
seja majorado os honorários advocatícios.

Com contrarrazões subiram os autos (fls. 51/56).

É o relatório.

VOTOS

DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA (RELATORA)

Preenchidos os pressupostos e requisitos de admissibilidade,


conheço dos recursos.

Busca o autor o cancelamento de registro negativo no banco


de dados da requerida, bem como indenização por danos morais sofridos
em virtude da alegada ausência de notificação prévia.

No caso dos autos, porém, a demandante não nega a


existência do débito levado a registro ou que tenha feito pagamento
antes da anotação, limitando-se a argüir a ausência de notificação.
Entendo que a jurisprudência criada em torno do assunto, por certo, não
tem a intenção de dar guarida a inadimplentes e fixar dano moral que de
fato não existe. Ora, no momento em que o consumidor não paga uma
dívida, tem plena ciência que o seu nome poderá ser cadastrado nos
órgãos de proteção ao crédito.

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Trata-se, com efeito, de mero exercício regular de direito, de


modo a se afastar a caracterização de ato ilícito apto a conformar o
reconhecimento de dano moral indenizável.

Ademais, a parte autora não narra circunstância de efetivo


prejuízo advindo do agir da parte ré, não se verificando o mero indício de
abalo extrapatrimonial potencial ou experimentado.

Isto posto, voto por negar provimento ao recurso, ao efeito


de julgar improcedente a ação, mantendo hígida a sentença.

DES. NEY WIEDEMANN NETO (REDATOR)

Com a devida vênia da eminente relatora, estou em dar


parcial provimento ao apelo.

Comungo do entendimento de que o órgão de restrição ao


crédito requerido possui o dever de notificar a parte consumidora da sua
inclusão no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos, mantido pelo
Banco Central. Tal cadastro é de consulta restrita, cabendo aos órgãos
que divulgam tais informações restritivas este dever, conforme dispõe o
art. 43, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor. Sinalo que o presente
feito está centrado em pedido de cancelamento de registro em cadastro
de inadimplentes cumulado com indenização por dano moral, ambos em
decorrência descumprimento do art. 43, § 2º, do Código de Defesa do
Consumidor, que assim dispõe:

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto


no art. 86, terá acesso às informações
existentes em cadastros, fichas, registros e
dados pessoais e de consumo arquivados sobre
ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores
devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em
linguagem de fácil compreensão, não podendo
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conter informações negativas referentes a


período superior a cinco anos.
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e
dados pessoais e de consumo deverá ser
comunicada por escrito ao consumidor, quando
não solicitada por ele.(grifei)

Neste particular, registro que, em precedentes anteriores,


vinha me manifestando no sentido de que a mera ausência de prévia
notificação, nas hipóteses em que não comprovada a ilegalidade ou
inexistência do débito que originou o registro, não teria o condão de
configurar dano moral indenizável, constituindo mera irregularidade.
Todavia, também em atenção ao entendimento sufragado pelo Superior
Tribunal de Justiça no precedente paradigma supramencionado, estou em
rever minha posição, para o fim de reconhecer a ocorrência de abalo
moral em tais casos. Transcrevo, por oportuno, a orientação n.° 2
daquele julgado:

Direito processual civil e bancário. Recurso


especial. Ação de compensação por danos
morais. Inscrição em cadastro de proteção ao
crédito sem prévia notificação. Legitimidade
passiva do órgão mantenedor do cadastro
restritivo. Dano moral reconhecido, salvo
quando já existente inscrição desabonadora
regularmente realizada, tal como ocorre na
hipótese dos autos.
I- Julgamento com efeitos do art. 543-C, § 7º, do
CPC.
(...)
- Orientação 2: A ausência de prévia
comunicação ao consumidor da inscrição do seu
nome em cadastros de proteção ao crédito,
prevista no art. 43 , §2º do CDC, enseja o direito
à compensação por danos morais, salvo quando
preexista inscrição desabonadora regularmente
realizada. Vencida a Min. Relatora quanto ao
ponto.

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(REsp 1061134/RS. Relatora: Min. Nancy


Andrighi. Órgão julgador: Segunda Seção. Data
do julgamento: 10/12/2008)

Nesses termos, a Corte Superior definiu que a simples


ausência da comunicação em comento já enseja o direito à indenização
por dano moral, sendo irrelevante, destarte, a efetiva existência do
débito, haja vista que o fito da notificação não é cientificar o devedor da
mora, mas sim lhe propiciar o acesso às informações, de molde a preveni-
lo de futuros danos. Excetua-se apenas a hipótese em que haja outro
registro negativo regularmente inscrito antes da inscrição não precedida
de prévia comunicação, em relação à qual, em tal caso, é cabível apenas
o cancelamento do cadastro, de conformidade com a Súmula 385 do
Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 385. Da anotação irregular em cadastro


de proteção ao crédito, não cabe indenização
por dano moral, quando preexistente legítima
inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

Na hipótese dos autos, conforme se depreende da inicial, a


autora insurge-se tão somente em relação à inscrição proveniente de
cheques sem fundos, alegando que não teria sido previamente notificada,
porém, conforme documento de fl. 05 dos autos, previamente a esta
inscrição a autora foi inscrita em razão de dívida proveniente de compra
realizada em RJ/CARTÂO AUTOEXPRESSO, o que impõe a aplicação da
súmula 385.

Assim, inexistindo qualquer substrato probatório não há


como considerar atendido o disposto no § 2° do art. 43 do CDC, restando
caracterizada a ilicitude a ensejar a necessidade de cancelamento do
registro, porém, o pedido de reparação por dano moral resta afastado
diante da existência de prévia inscrição.

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Ante o exposto, voto pelo parcial provimento do apelo para o


efeito de determinar que a ré realize o cancelamento do registro objeto
da demanda. Cada parte arcará com o pagamento de 50% das custas
processuais e honorários ao procurador da parte adversa que fixo em
R$500,00 com correção pelo IGPM a contar desta data. Vedada a
compensação da verba honorária e suspensa a exigibilidade do ônus da
sucumbência a cargo da autora, por litigar sob o pálio da gratuidade de
justiça.

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (PRESIDENTE)

De acordo com a divergência.

DES. NIWTON CARPES DA SILVA

Eminentes Colegas. Com a devida vênia da ilustre Relatora,


acompanho a douta divergência.

É como voto.

DRA. MARLENE MARLEI DE SOUZA

Com a vênia da Eminente Relatora, acompanho a


divergência.

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DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA - Presidente - Apelação Cível nº


70077062800, Comarca de Gravataí: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO. POR
MAIORIA."

Julgador(a) de 1º Grau: MARIA DE LOURDES DE SOUZA PEREIRA

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