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Cosit

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Coordenação-Geral de Tributação

Solução de Consulta nº 9 - Cosit


Data 13 de janeiro de 2017
Processo
Interessado
CNPJ/CPF

ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS


CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA INCIDENTE SOBRE A
RECEITA BRUTA. LEI Nº 12.546, DE 2011. SOCIEDADE EM CONTA
DE PARTICIPAÇÃO. NÃO SUJEIÇÃO.
As receitas decorrentes da atividade constitutiva do objeto social da
Sociedade em Conta de Participação devem compor a base de cálculo da
contribuição previdenciária devida pelo sócio ostensivo, empresa de
construção de obras de infraestrutura, enquadrada nos grupos 421, 422,
429 e 431 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE
2.0), conforme inciso VII do art. 7º e §§ 9º e 10 do art. 9º da Lei nº 12.546,
de 2011.
Dispositivos Legais: Lei Complementar nº 7, de 1970, artº. 1º, § 1º; Lei
Complementar nº 70, de 1991, art. 1º; Lei nº 5.172, de 1966 (CTN), arts.
97, 111 e 121; Lei nº 7.689, de 1988, art. 4º; Lei nº 10.406, de 2002, arts.
991 e 993; Lei nº 12.546, de 2011, arts. 7º e 9º; Lei nº 8.212, de 1991, art.
15, I; Decreto nº 3.000, de 1999 (RIR/1999), art. 148; Decreto nº 4.524, de
2002, arts. 3º e 81; Instrução Normativa SRF nº 179, de 1987; Instrução
Normativa SRF nº 390, de 2004, art. 8º; Instrução Normativa RFB nº
1.252, de 2012, arts. 1º e 4º, § 4º; Instrução Normativa RFB nº 1.422, de
2013, art. 1º, § 1º; Instrução Normativa RFB nº 1.470, de 2014, art. 52.

Relatório

1. O interessado, sócio ostensivo em sociedade em conta de participação


(SCP), protocolou, em 09.10.2014, consulta, na forma da Instrução Normativa RFB nº 1.396,
de 16 de setembro de 2013, acerca da contribuição previdenciária sobre a receita bruta, de que
tratam os arts. 7º a 9º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011, e do cumprimento de
obrigações acessórias.
2. Informa que presta serviços XXX, classificado no código XXX da
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0), e de XXX, classificado no

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código XXX da CNAE 2.0, os quais, “em sua maioria são contratados através de SCP –
Sociedades em Conta de Participação, reguladas pelos artigos 991 a 996 do Novo Código Civil
(Lei 10.406/2002)”.
3. Relata que “assume a responsabilidade” pelos “impostos e contribuições,
obrigações acessórias, registros de obra e CEI da SCP”, que “são recolhidos e informados na
inscrição do CNPJ” do consulente, na “qualidade de sócio ostensivo”, e “toda contabilização
das operações da SCP” é “realizada de forma a identificar, gerando Diário Auxiliar que é
registrado individualmente demonstrando o resultado da Sociedade”.
4. Afirma que, “de acordo com as atividades exercidas pela Consulente, está
sujeita a desoneração da folha de pagamento a partir de janeiro de 2014 conforme inciso VII do
art. 7º da Lei 12.546, de 14/12/2011, incluído pela Lei 12.844 de 19/07/2013”.
5. Quanto às “receitas geradas pela SCP”, sustenta que não estão “sujeitas à
desoneração de acordo com o inciso VII do art. 9º da Lei 12.546 de 14.12./2011” (trata da
equiparação à empresa para os fins da contribuição prevista no caput dos arts. 7º e 8º dessa
Lei).
6. Acrescenta que, na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), “código 150, de acordo com o Ato
Declaratório Executivo Codac nº 3 de 19/12/2011, está informando a título de Compensação
para demonstração dos valores a recolher para Previdência, apenas os referentes à Receita
Própria”, e “Recolhendo os valores correspondentes à Previdência Social da SCP pela folha de
pagamento”.
7. Ao final, assim resume a sua consulta:
1) Está correta a interpretação que a SCP – Sociedade em Conta de Participação
não está sujeita a Desoneração da Folha de Pagamento.
2) Que os procedimentos de informação na Guia de Recolhimento do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social – GFIP estão
corretos.

Fundamentos

8. As sociedades em conta de participação (SCP) resultam da conjugação de


duas ou mais pessoas em busca de resultados econômicos que possam ser partilhados entre
elas, sendo a atividade constitutiva do objeto social exercida unicamente pelo sócio ostensivo,
em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade. Os demais sócios,
apenas participam dos resultados correspondentes (art. 991 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 - Código Civil).
9. Embora as SCP não possuam personalidade jurídica (art. 993 do Código
Civil), são equiparadas às pessoas jurídicas pela legislação do imposto de renda (art. 148 do
Regulamento do Imposto de Renda - RIR/1999, Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999),
sendo igualmente contribuintes da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL (art. 4º
da Lei nº 7.689, de 15 de dezembro de 1988), da Contribuição para o PIS/Pasep e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins (art. 1º, § 1º, da Lei
Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970; art. 1º da Lei Complementar n° 70, de 30 de
dezembro de 1991; art. 3º do Decreto nº 4.524, de 17 de dezembro de 2002).
10. É do sócio ostensivo a responsabilidade pela apuração e recolhimento dos
tributos devidos pela SCP (Instrução Normativa SRF nº 179, de 30 de dezembro de 1987, itens
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2 e 5; Decreto nº 4.524, de 2002, art. 81; Instrução Normativa SRF nº 390, de 30 de janeiro de
2004, art. 8º, parágrafo único) e, também, pelo cumprimento das obrigações acessórias, tais
como a transmissão da Escrituração Fiscal Digital da Contribuição para o PIS/Pasep, da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição
Previdenciária sobre a Receita – EFD-Contribuições (arts. 1º e 4º, § 4º da Instrução Normativa
RFB nº 1.252, de 1º de março de 2012) e da Escrituração Contábil Fiscal – ECF (art. 1º, § 1º da
Instrução Normativa RFB nº 1.422, de 19 de dezembro de 2013).
10.1. Vale destacar, que a partir do ano-calendário de 2014, as pessoas jurídicas
que forem sócias ostensivas de SCP deverão transmitir, separadamente, a ECF e a EFD-
Contribuições para cada SCP, além da transmissão da ECF e da EFD-Contribuições da própria
sócia ostensiva.
11. Em virtude da revogação do item 4 da Instrução Normativa SRF nº 179, de
1987, pelo art. 52 da Instrução Normativa RFB nº 1.470, de 30 de maio de 2014, a SCP está
obrigada a se inscrever no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).
12. No entanto, as obrigações acessórias instituídas pelas Instruções
Normativas RFB nº 1.252, de 2012, nº 1.422, de 2013, e nº 1.470, de 2014, não alteraram as
disposições da Instrução Normativa SRF nº 179, de 1987, que estabelece a responsabilidade
pela apuração e recolhimento dos tributos devidos pela SCP ao sócio ostensivo.
13. Feitas essas considerações, há que se verificar se a contribuição
substitutiva sobre o valor da receita bruta, nos termos dos arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de
2011, aplica-se à SCP.
14. Em razão da ausência, na Lei nº 12.546, de 2011, do conceito de empresa,
editou-se a Medida Provisória nº 612, de 4 de abril de 2013, posteriormente convertida na Lei
nº 12.844, de 19 de julho 2013, para incluir o inciso VII no art. 9º dessa Lei e deixar expresso
esse conceito, definindo os sujeitos passivos da contribuição substitutiva sobre o valor da
receita bruta (CPRB), de que tratam os arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 2011.
14.1. Segundo o inciso VII do art. 9º da Lei nº 12.546, de 2011, considera-se
empresa, para fins da incidência dessa contribuição, a sociedade empresária, a sociedade
simples, a empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli) e o empresário. Os
consórcios constituídos nos termos dos arts. 278 e 279 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de
1976, também foram equiparados a empresa para os fins da contribuição previdenciária
prevista nos arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 2011, com a inclusão do inciso IX no art. 9º dessa
Lei, pela Medida Provisória nº 634, de 26 de dezembro de 2013, posteriormente convertida na
Lei nº 12.995, de 18 de julho de 2014. É evidente, portanto, que a SCP não é considerada
empresa nem a ela é equiparada, para efeito de incidência da CPRB.
14.2. Diante disso, resta claro, que a SCP não é considerada empresa, nem a ela
se equipara, para fins de recolhimento da contribuição previdenciária sobre a receita bruta de
que tratam os arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 2011, porquanto inexiste previsão legal para
tanto.
15. Assim, diante do fato de a SCP não ter sido equiparada a empresa para fins
da Lei nº 12.546, de 2011, a obrigação de recolher a contribuição previdenciária prevista nos
incisos I e III do art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, devida em virtude da contratação de
trabalhadores para a execução das atividades da SCP, recai sobre o sócio ostensivo, que é a
pessoa que executa o empreendimento objeto da SCP, assume o risco da atividade econômica,
e, juridicamente, se obriga perante terceiros (art. 991 do Código Civil).

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15.1. Nesse passo, para os fins da contribuição previdenciária sobre a receita


bruta de que trata a Lei nº 12.546, de 2011, a receita obtida em razão da execução da atividade
da SCP deve ser considerada como auferida pelo sócio ostensivo e, consequentemente, compor
o cálculo da CPRB por ele devida.
16. Recorde-se que o consulente afirma estar “sujeito a desoneração da folha
de pagamento” conforme “inciso VII do art. 7º da Lei nº 12.546, de 14/12/11”.
17. Dessarte, é preciso mencionar o art. 17, caput, e § 1º, da Instrução
Normativa RFB nº 1.436, de 30 de dezembro de 2013 (dispõe sobre a CPRB), o qual estabelece
que as empresas para as quais a substituição da contribuição previdenciária prevista nos incisos
I e III do art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, pela contribuição previdenciária sobre a receita
estiver vinculada ao seu enquadramento na Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE) deverão considerar apenas o código CNAE de sua atividade econômica principal,
assim considerada, dentre as atividades constantes no ato constitutivo ou alterador, aquela de
maior receita auferida ou esperada.
17.1. No caso de empresa que já iniciou suas atividades, a receita auferida será
apurada com base no ano-calendário anterior (§ 2º do art. 17 da Instrução Normativa RFB nº
1.436, de 2013).
17.2. Assim sendo, presume-se que a classificação da atividade econômica
principal do consulente, conforme indicado em seu Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
(CNPJ), tenha observado a maior receita auferida pelo sócio ostensivo, apurada com base no
ano-calendário anterior, estando nela computadas as receitas decorrentes da execução das
atividades da SCP.
18. Em razão das conclusões acima, fica prejudicada a parte da consulta em
que o consulente pede que a RFB confirme se estão “corretos os procedimentos” adotados pelo
consulente que correspondem a preencher a GFIP com o “código 150”, conforme Ato
Declaratório Executivo da Coordenação-Geral de Arrecadação e Cobrança (Codac) nº 93, de
19 de dezembro de 2011, informar “a título de Compensação para demonstração dos valores a
recolher para Previdência, apenas os referentes a Receita Própria do Consulente” e recolher “os
valores correspondentes a Previdência Social da SCP pela folha de pagamento”.

Conclusão

19. Ante o exposto, responde-se ao consulente que as receitas decorrentes da


atividade constitutiva do objeto social da Sociedade em Conta de Participação devem compor a
base de cálculo da contribuição previdenciária devida pelo sócio ostensivo, empresa de
construção de obras de infraestrutura, enquadrada nos grupos 421, 422, 429 e 431 da
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0), conforme inciso VII do art. 7º
e §§ 9º e 10 do art. 9º da Lei nº 12.546, de 2011.

À consideração do revisor.
[Assinado digitalmente.]

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CASSIA TREVIZAN
Auditora-Fiscal da RFB

De acordo. À consideração superior.

[Assinado digitalmente.]
MARCOS VINICIUS GIACOMELLI
Auditor-Fiscal da RFB

De acordo. Encaminhe-se à Coordenadora da Copen.

[Assinado digitalmente.]
IOLANDA MARIA BINS PERIN
Auditora-Fiscal da RFB - Chefe da SRRF10/Disit

De acordo. À Coordenadora-Geral substituta da Cosit.

[Assinado digitalmente.]
MIRZA MENDES REIS
Auditora-Fiscal da RFB – Coordenadora da Copen

Ordem de Intimação

Aprovo a Solução de Consulta. Publique-se e divulgue-se nos termos do


art. 27 da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013. Dê-se ciência ao
consulente.

[Assinado digitalmente.]
CLAUDIA LUCIA PIMENTEL MARTINS DA SILVA
Auditor-Fiscal da RFB – Coordenadora-Geral substituta da Cosit

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