Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brunovksy 1992 01 Abaixo Dos Anjos. A Escalada Do Homem PDF
Brunovksy 1992 01 Abaixo Dos Anjos. A Escalada Do Homem PDF
9 788533 600560
A magnífica série de treze programas
de televisão da BBC, A Escalàda do
Homem, realizada pelo Dr. Bronowski,
traçou nosso surgimento quer como es
pécie, quer como artífices de nosso am
biente e nosso futuro. O livro escrito a
partir desses programas trata da histó
ria da ciência, mas da ciência no seu
sentido mais abrangente. Invenções, des
de os utensílios de pedra até a geome
tria, do arco até a teoria da relativida
de, surgem como expressões da capaci
dade específica do homem para enten
der e controlar a natureza.
O Dr. Jacob Bronowski nasceu na
Polônia em1908 e morreu em 1974. Sua
família havia se estabelecido na Ingla
terra e ele se educou na Universidade de
Cambridge.
Além de cientista renomado, foi au
tor de vários livros e de programas de
rádio sobre Artes. Também escreveu pe
ças para rádio, uma das quais conquis
tou oItalia Prize.
O Dr. Bronowski era Fellow honorário
do Jesus College, em Cambridge. Em
1964 passou a viver e trabalhar nos Es
tados Unidos, na qualidade de Senior
Fellow e Diretor do Council for Biology
in Human Affairs, no Salk Institute for
Biological Studies, San Diego, California.
___ L
__
SICILIANO A
ESCALADA
DO
HOMEM
A
ESCALADA
DO
HOMEM
TI3ADUÇÃO:
NÚBIO NEGRÃO
1. BRONOWSKI
Martins Fontes
São Paulo - 1992
Titulo original:
THE ASCENT OF MAN
© Copyright by Science Horizons Inc., 1973
© Copyright by Livraria Martins Fontes Editora Ltda.,
através de acordo com the British Broadcasting Corporation,
para a presente edição
3." edição brasileira: abril de 1992
Impressão e acabamento:
Gráfica Brasiliana
ISBN 85-336-0059-9
92-0767 CDD-501
�-
SUMÁRIO
Pre fácio . 13
Cap ítulo 1 - AbaL'(o dos Anjos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
A daptação animal - A alternativa hu mana - In (cio na Africa - O dom da
antevisão - Evolução CÚl cabeça - O mosaico do homem - As culturas do
caçador - A través CÚlS glaciações - Culturas transumân ticas: os Iapões -
Imaginação na arte rupestre.
Bibliografia . . . . . 440
(ndice Remissivo . 443
6
ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES
Dança da desova do grullioll (Natiollal Geogra 24 Trigo selvagem , de Jaubert e Spach, Plantas Ori
phic).1 8. en tais (British Museum, Natural History) , 68, 69.
2 Exercício de perspectiva do Renascimento gera 25 Objetos do sítio de Jericó: tijolo de barro seco,
do no computador e espiral do A DN. 2. 3, 2 1 . British Museum; amantes de quartzo, Ashmolean
3 l m pala (Ed Ross) 22. Museum; crânio decorado, Ashmolean Museum,
Manada de Topi (Simoll Trevor.Bruce Colemall 70, 71.
L tcL).23 . A torre de Jericó (Dave Brinicombe) , 71 .
4 O leito do Omo (Yves Coppells) , 25. 26 Carpinteiro. Museu Nacional, Copenhage m ; pino
5 Chifres moderno e fóssil de nyala. Musée de de cerâmica decorada, forno de padeiro, brinque
I'Homme, Paris (Yves Coppells) , 27. do grego, velho com uma prensa de vinho, todos
6 Crânio da criança de Taung, Universidade de do British Museum, Londres, 72, 73 .
Witwatersrand , Johannesburg (A lull R. Hughes, 27 Arando com bois ajoujados, Museo Civico, Bo
com permissão do prof P. V. To bias) , 28. logna (C M. Duon). 74 , 75.
7 Ossos de dedos e do polegar do A ustralopithecus 28 Modelo de cobre de um carro de guerra, Museu
(Mary Waldron) , 28. de Bagdá (Oriental Institute, University of
8 Criança de quatorze meses de idade (Ge"y Cra Chicago), 76.
nham) , 3 0 , 31, 3 2, 3 3 . 29 Carpinteiros trabalhando com torno-de-arco
9 Saltador de salto-com-vara em ação (Ge"y Cra (lndia Office Library) , 78.
nham) , 34 , 3 5. 30 Cavalaria mongol e tropa cruzando rio, do
10 I m agem gráfica de compu tador dos estágios Jami 'al- Tawarikh (Edinburgh University L ibra
da evolução da cabeça, 36, 3 7. ry), 78.
11 Machado de pedra aqueu (Lee Boltin) , 3 9 . 31 Pintura de vaso grego, British Museum, Londres
12 Grupo de índios caçadores wayana (ComeU (Raynon Raikes) , 83.
Capa, Magnum), 42, 4 3 _ 32 Buz Kashi, Afganistão (David Stock), 84, 85.
13 Um lem urideo moderno (Ed R oss) , 44. 33 Dedicação a Oljeitu Khan e m um manuscrito do
O esqueleto de um galago (Jonathan Kingdon, Alcorão, British Museum, Londres, 86.
cortesia da A cademic Press) , 45. O túmulo de Oljeitu Khan (Dave Brinicombe) , 87.
14 H arpão magdaleniano de chifre de rena, Ashmo 34 Página de rosto da Europa de William Blake
lean Muse u m , Oxford, 4 6. (John Freeman) , 90.
Ponteira decorada, National Gallery of Art, 35 " A Casa Branca", Canyon de CheUy, Arizona,
Washington (Hugo Obermaier) , 4 7. em 1873 (T. H. O 'Sullivan), 9 3 .
Pintura em rocha (Erwin O. Christensen, por 36 Pote pueblo em forma d e coruja, British Museum,
cortesia de Bonanza Books) , 4 7_ Londres (C M. Dixon) , 94 .
15 Manadas de renas dos lapões, 1 900 (Norsk Fol Pote pueblo, Museu da Universidade do Colora
kemuseum, Oslo), 4 8 , 49. do, Boulder, 95.
16 M u lher lapã (Norsk Folkemuseum, Oslo) , 51 . 37 Construção inca e m Machu Picchu ( H. Ubbeloh
Manada de renas selvagens (Gunnar R onn) , 51 . de Doering) , 97.
17 Lapões e m m archa, desenhos de Johan Turi, Machu Picchu (Georg Gerster, John Hillelson
Howard para a Daily Telegraph Colour L ibrary), cos (Sharples Photomechanics L td.). 1 05.
41 " E I Puente deI Diablo." Segóvia (A . F. Kers
58, 62, 63.
22 Foice curvada, A shmolean Museu m, 65. ting) , 106, 1 07.
42 A Grande Mesquita, Córdoba (A . F. Kersting),
23 Variedad es de trigo, nova e antiga (Tony Evans,
Marcel Sire) , 66, 67. 107. 7
43 Nave e aléia, Catedral d e Rheims ( Wim Swaan) , Terra, ar e fogo, por Paracelsus (S. Karger), 1 3 8,
1 0 8. 1 39 .
44 Pedreiros trabalhando, 1 3 .0 século, do Livro de A Teoria Alquímica d a Natureza: d e Limbourg,
Saint A lban (The Board of Trinity College, Du "L'hornrne anatomique", de Les Tres R iches
blin), 1 1 0 . Heures, Musée Condé, Chantilly (Giraudon), 1 39 .
45 Arcobotante, Catedral d e Rheims ( Wim Swaan) , 59 Entalhe em madeira de Paracelsus, Opus Chy
1 1 1. rurgieum (The Wellcome Trustees) , 1 40, 1 4 1 .
46 Desenho rle Nervi para o Palazzetto dei Sport, 60 Paracelsus, atrib. a Quentin Metsys, Louvre,
Roma (Cement and Concrete A ssociation, Lon Paris, 1 4 3 .
dres) , 1 1 2, 1 1 3 . 61 Joseph Priestley, por Ellen Sharples, National
47 "Brutus" d e Michelangelo, Bargello, Florença Portrait Gallery, Londres, 1 45.
(Scala), 1 1 4 . 62 Reconstrução do experimento de Lavoisier
48 Moore, "Knife-edge-Two-piece", coleção parti (Paul Buerly e Michael Freeman, por cortesia
cular (Henry Moore), 1 1 7 . de Charles Moore, Science Museum, Londres) ,
49 Mosaico da Watts Towers, Los Angeles (Robert 1 46, 1 4 7 .
Grant), 1 1 9 . 63 Gigantesca lente de aquecimento de Lavoisier
Watts Towers (Charles Eames) , 1 20 , 1 2 1 . (Science Museum, Londres) , 1 50 .
50 De la Tour, "Le Souffleur à la Lampe", Musée 64 John Dalton, por J. Stephenson (Science Mu
des Beaux-Arts, Dijon (Giraudon) , 1 2 2. seum, Londres) , 1 50 .
Fénix de Conrad Lycosthenes, Prodigiorum ac 65 Símbolos para os elementos de Dalton (Science
Ostentorum (Biblioteca de Pinturas de Roma), Museum, Londres) , 1 52 .
1 24 . Gravura d e Thomas Bewick (British Museum) ,
51 Adelgaçamento d e u m arame d e cobre. (The 1 53 .
British Non-Fe"ous Metais A ssociation) , 1 25. 66 Cordas vibrantes (Charles Taylor) , 1 54 .
52 Jarra de vinho em forma de coruja, Victoria and Harpista cego, Rijksmuseum, Leiden, 1 56.
Albert Museum, Londres (Raynon Raikes), 1 27 . Fragmentos da mão de um harpista, Ashmolean
53 SiÁ o de bronze fundido, Victoria and Albert Museum, Oxford, 1 57 .
Museum, Londres (Raynon Raikes), 1 2 8, 129. 67 A prova pitagórica (John Webb) , 1 59 .
54 A forja de urna espada (National Geographic) , 68 Urna versão árabe d o teorema d e Pitágoras
1 30 , 1 3 1 . (British Museum), 1 61 .
55 Marcas de resfriamento em urna espada do Século Gravura chinesa do teorema de Pitágoras (Bri
XIX, Victoria and Albert Museum, Londres tish Museum), 1 61 .
(Raynon Raikes) , 1 3 2, 1 3 3 . 69 Página da tradução de Euclides por Adelard de
Estampa, e m bloco d e madeira, d e u m Samurai Bath (British Museum), 1 63 .
(H. Roger- Viollet) , 1 3 3 . 70 Ilustração de um manuscrito provençal do Século
56 Máscara de um rei aqueu, Museu Arqueológico XIV (British Museum), 1 64 , 1 65.
Nacional, Atenas (e. M. Dixon), 1 35. 71 Astrolábio islâmico, Museum of the History of
Moeda de Creso, Museu Britânico, Londres (Mi Science, Oxford, 1 66.
chael Holford), 1 35. Astrolábio gótico, Museum of the History of
Onça mochica, Coleção Mojico Gallo, Lima (Mi Science, Oxford, 1 66.
chael Holford) , 1 35. Computador astrológico de cobre, British Mu
E scudo peitoral de um chefe africano, Victoria seum, Londres, 1 67 .
and Albert Museum, Londres (Raynon Raikes) , Extraído d e Kushyar ibn Labban (University
1 3 5. of Wisconsin Press) , 1 68.
Receptor de entrada central em uma calculadora 72 A Serra Nevada e o Alhambra, Granada ( Wim
de bolso (Paul Brier/y), 135. Swaan, Camera Press) , 1 70 .
57 Saleiro esculpido por Cellini, Kunsthistorisches 73 Galeria dos músicos e banhos d o harém no
Museum, Viena, 1 3 7. Alhambra (Mas) , 1 7 1 .
Gargalheira irlandesa, Museu Nacional da Irlanda, 74 Cristais naturais (Institute of Geological Scien
1 3 7. ces) , 174, 1 75.
58 A fornalha do corpo, por Paracelsus (The Well 75 Alfonso, o Sábio, ditando para Scholars, El Es
8 come Trustees), 138. coriai (Michael Holford) , 1 76, 1 7 7 .
76 Afresco de Florença, c. 1350, Orfanotrofio dei 92 Mural em um ático em Roma (Um berto Galeasi) ,
Bigallo, Florença (ScalD), 178. 203.
77 Cone de raios de Alhazen, d o Opticae TheSilurus 93 Desenhos das fases da Lua, por Galilelo, Biblio-
A lhazeni (British Museum). 179. teca Nacional, Florença (ScalD), 202.
78 Carpaccio, "Santa OrsuIa e seu Pretendente", 94 Páginas-título dos trabalhos de GaWeo, 204, 205.
Accademia, Veneza (Osvaldo Bohn), 180. 95 O autor no Vaticano (David Peterson), 207.
79 Desenho de Dürer de um nu reclinado. Staatliche 96 Bernini, Urbano VIII, Galeria Nacional, Roma
Museen Preussischer Kulturbesitz Kupferstichka (de A ntonis) , 206.
binett, Berlim, 181. 97 Sacchi, Um teto no Pallazzo Barberini, Roma
Dürer, Diagrama da construção de urna elipse, (de A ntonis) , 210.
do Unterweisung der Messung, 181. 98 Guache de Urbano VllI, coleção particular,
80 Dürer, "A Adoração dos Magos", UfrlZi, Flo ( Warbug Institute). 212.
rença (ScalD). 182. 99 Mural em uma casa particular em Roma (Umber
Ucello, "A Enchente", S. Maria Novella, Flo to Galeasi), 215.
rença (ScalD). 183. 100 O documento no julgamento de GaWeo, Biblio
Ucello, Análise da perspectiva de uma taça, Ga teca do Vaticano, 217.
binetto Disegni, Florença (ScalD), 183. 101 A Terra vista da Lua (NASA), 219.
81 Da Vinci, desenho da trajetória de balas de mor 102 Wright of Derby, "The Orrery" (planetário me
teiro, Biblioteca Ambrosiana, Milão, 184, 185. cânico), Derby Museum e Art Gallery, 220.
Gotas de água (Oskar Kreisel). 184, 185. 103 A Mansão de Woolsthorpe (Royal Society) , 223.
82 Semente de pinheiro (Marcel Sire); pétala de 104 Isaac Newton em 1689, por Godfrey Kneller,
rosa (Cambridge Scientific Instruments); concha coleção particular (Mansell Collection), 225.
(British Museum. Natural History); margarida 105 Desenho do Trinity College, feito por Wren (The
(Marcel Sire), 186. Warden and Fellows of Ali Souls College.
83 Trajetória de partículas subatômicas (Paul Brier Oxford), 228, 229.
ly) , 1 8 7 . 106 Experimentos ópticos de Newton de 1672 (Paul
84 Peça "Q" do altar, Copan (British Museum). 188. Brierly). 230, 231.
85 As trajetórias dos planetas (A ldus Books) , 190. 107 Isaac Newton em 1702, por Godfrey Kneller,
Os movimentos de Mercúrio, Vênus, Marte, Jú National Portrait Gallery, Londres, 232.
piter e Saturno (Erich L essing, Magnum), 191. 108 Carta de Halley a Newton de 29 de junho de
86 Estátuas da Ilha da Páscoa (Camera Press) , 192, 1686 (King's College Library, Cambridge) ,
193. 232.
87 Páginas do manuscrito de de Dondi (MS Laud. 109 Busto de Isaac Newton, por John Rysbrack,
Misc. 620, fe. 87v-88, Bodleian L ibrary. Oxford). Victoria and Albert Museum, Londres (Crown
194, 195. Copyright), 235.
Reconstrução do relógio astronômico de de 110 Caricatura satirizando a teoria da gravidade de
Dondi, Smithsonian Institution, Washington, Newton (British Museum), 237.
195. 111 Rysbrack, baixo-relevo do monumento de
As faces do relógio ( Wellcome Trustees) . 196. Newton, Abadia de Westminster (A_ F. Kersting) ,
88 Nicolaus Copernicus (Polish Cultural Institute. 238, 239.
Londres). 197. 112 Gráfico gerado por computador da inversão de
Páginas do De R evolutionibus Orbium Coeles uma esfera, 240, 241.
tium, 197. 113 Griffier, Vista geral de Greenwich (Dept. Envi
89 De Barbari, entalhe em madeira de Veneza (de ronment, Crown Copyright). 241.
talhe), British Museum, Londres (John Freeman), 114 O primeiro marcador de tempo marítimo de
199. John Harrison, National Maritime Museum,
90 Galileo Galilei, por Octavio Leoni, Biblioteca Londres, 243.
Maruceliana, Florença, (Scala), 199. 115 Detalhe do Teto Pintado, Royal Naval College,
91 Balança hidrostática, Museu da Ciência, Florença Greenwich (Dept. of Environment , Crown Co
175 Stephan Borgrajewicz , por Feliks Topolski, 200 Células de S pirogyra (Arthur 111. Siegelman) , 402.
3 52. 201 Gorilas (George Schaller, Bruce Coleman L td.) ,
12
PREFÁCIO
J. B.
La]olla, Califórnia
Agosto de 1 9 73.
16
A ESCALADA
DO HOMEM
Editor da Série:
A drian Malone
Produ tor:
Richard Gilling
Equipe de Produção:
Mick Jackson
David J oh n Kennard
David Paterson
Fotograf ia:
Nat Crosby
John Else
John McGlashan
Som:
Dave Brinicombe
Mike Billing
John Tellick
Patrick Jeffery
John Gatland
Pe ter Rann
Editores do Filme:
Roy Fry
Paul Carter
J im Latham
John Camp bell
1 ABAIXO DOS ANJOS
I ' \
, '
�'
8
A criança assumiu a
condição humana
de andar ereta.
Criança de
catorze meses de
idade começando
a andar.
Abaix o dos Anjos
9
Não sendo um
exercício dirigido ao
;
presente, as ações
do atleta se
apresentam como
que destituídas
de objetividade.
Mas, acontece que
sua mente se ftxa
no futuro, e
seu objetivo é
aprimorar sua
habilidade; assim,
em sua imaginação,
dá um salto no
futuro.
A tleta no cl(max da
ação de saltar.
FotograFw com
infravermelho da
cabeça e do torso de
um atleta fatigado.
10
A Escalada do Homem A cabeça é a mola que im
pulsiona a evolução cultural.
Gráfico dos estágios da
evolução da cabeça, obtido
através de computador.
atual ; mas essa criatura era baixa, medindo por volta de um metro
e vinte . Na realidade, achados recentes de Richard Leakey sugerem
que, há dois milhões de anos, o cérebro seria até mesmo maior.
Com seus grandes cérebros, os ancestrais do homem chegaram a
duas importantes invenções, das quais uma deixou evidências
observáveis, e a outra, pelo menos, dedutíveis. Vejamos as obser
váveis em primeiro lugar. Há dois milhões de anos o A ustralopi
thecus fabricou ferramentas rudimentares, conseguindo lâminas
cortantes mediante a aplicação de simples golpes entre duas
pedras. No milhão : de anos seguinte o homem não inovou essa
técnica. A invenção fundamental havia sido feita : o ato proposital
de preparar e guardar uma pedra para utilização futura. A través
desse passe de habilidade e antecipação, ato simbólico da desco
berta do futuro, ele cortou as amarras com as quais o ambiente ata
todas as outras criaturas. O uso continuado da mesma ferramenta
por tão longo tempo dá uma mostra da sua força. Era segura
mantendo a parte romba contra a palma das mãos (essa pega era
firme porque, embora esses ancestrais do homem apresentassem
polegares curtos, estes estavam em completa oposição aos outros
detlos) . Tratava-se, certamente, de ferramenta de comedor de
carne, destinada a golpear e cortar.
A outra invenção é social, e chegamos a ela por meio de uma
aritmética mais sutil. Os crânios e esqueletos dos A ustralopithecus,
encontrados agora em número relativamente grande, mostram que
a maioria deles morreu antes de completar vinte anos. Isso significa
que devia haver muitos órfãos. Uma vez que o Australopithecus
devia ter uma infância prolongada, como é o caso de todos os
primatas, aos dez anos, digamos, os sobreviventes eram todos
crianças. Dessa maneira, alguma forma de organização social
deveria se encarregar dos cuidados com as crianças, sua adoção
(se fosse o caso), sua integração na comunidade e, de uma forma
geral, sua educação. Eis aí um grande passo na evolução cultural.
Em que ponto teriam os precursore s do homem se tornado
verdadeiram ente humanos? Essa questão é delicada posto que tais
mudanças não se dão do dia para a noite. Seria tolice tentar fazê-las
parecer mais bem-demar cadas do que o foram na realidade - fixar
uma transição abrupta ou argumentar em torno de nomes. Nós
ainda não éramos homens há dois milhões de anos. Mas, há um
milhão de anos, já o éramos, e aqui aparece o primeiro represen�
40 tante do Homo - o Homo erectus. Este se espalhou para muito
Abaixo dos Anjos
lapões são mais livres do que as renas, pois sua adaptação é cultural
e não biológica. Essa adaptação, isto é, o estilo de vida transumante
através de uma superfície gelada, é uma escolha que pode ser
mudada ; não é irreversível como o são as mutações biológicas.
Uma adaptação biológica implica uma forma inata de comporta
mento, e nquanto que uma cultura representa um comportamento
aprendido - uma preferência que, à semelhança de outras invenções,
foi adotada por toda uma sociedade.
Aí se e ncontra a diferença fundamental entre adaptações cultu
rais e biológicas ; e ambas podem ser demo nstradas nos lapões. A
construção de tendas com peles de renas é uma adaptação que os ...
lapões podem mudar amanhã - a maioria deles já o fez. Por outro -- - ,
lado, os lapões, ou linhas humanas ancestrais deles, também �r
sofreram algumas adaptações biológicas. Estas, no Homo sapiens, ' /'
não foram de grande monta; somos uma espécie bastante homogênea
48 porque nos espalhamos rapidamente para todos os cantos do globo,
-
A Escalada do Homem
"--
--._- -
_, 'I )<'I:�
,, ' .
'!
(� . ,
A Escalada do Homem 't,,;;...�
I \,
r . : /"
:\ '. . < Iri- C./
I -.;1"'-., ,�
( .,o "
o'l ."" . . ' to.'t �-::::::!i '
�' .�e?\. ..
"'-
� l.--2:.-,\
,-<:�::�-"o�� -. .
/ )
r é : ... L
eXlstencia dos mesmos. O homem é um animal franzino, lento,
desajeitado, inerme, que em sua evolução teve de inventar a
atiradeira, a pedra de fogo, a faca, a lança. Mas por que, ainda
nessa primitividade, teve de acrescentar às suas invenções científicas ,
essenciais como tais à sua sobrevivênc ia, uma produção artística
que nos confunde : decorações com formas animais? Acima de
tudo, qual a razão por que, embora vivendo em cavernas, não
decorou seu lar, mas escolheu lugares escuros, secretos, remotos e
inacessíveis para aí registrar os produtos de sua imaginação?
Nesses locais o animal se tornava um ente mágico, é a resposta
óbvia. Não se duvida de sua exatidão ; mas, magia é apenas uma
palavra, e não constitui �esposta. Por si mesma, magia nada explica.
Ela permite inferir-se que o homem acreditava possuir algum poder ;
Mas que forma de poder? Ainda hoje gostaríamos de saber que
poder os caçadores acreditavam emanar daquelas pinturas de
animais.
Posso apenas dar-lhes minha opinião pessoal. O poder lá expresso
pela primeira vez é o poder da antecipação: a imaginação do futuro.
Através dessas pinturas o caçador não só se familiarizava com os
perigos da caça, mas também podia antecipar as situações a serem
enfrentadas. Quando, pela primeira vez, um caçador era levado até
esses lugares secretos e obscuros, e a luz projetava-se bruscamente
naquelas figuras, ele via o bisão a ser enfrentado, o veado em
carreira, a investida do javali. E o jovem caçador sentia-se tão sozi
nho diante deles como em uma caçada real. Era a iniciação ao
medo ; a postura com a lança tinha de ser aprendida, e o temor
dominado. O pintor imortalizara o momento do medo, e o caçador
o vivia através das pinturas.
A arte rupestre, tal qual um lampejo histórico, recria o modo
de vida do caçador ; através dela descortinamos o passado. Mas,
para aqueles que a criaram, foi mais uma fresta para olhar o futuro. 18
Em cavernas como a
Em qualquer direção, essas pinturas são uma espécie de telescópio de Altamira
para a imaginação: eles dirigem a mente do percebido ao inferido e encontramos
registros daquilo
à conjectura. Na verdade, a ação sugerida em uma pintura é isso que d.ominava a
mesmo : por mais elegante que seja, uma tela significa alguma coisa mente do homem
caçador. Para mim,
aos olhos somente na medida em que a mente é capaz de completá-la o poder aqui
em forma e movimento , uma realidade por inferência, onde a expresso pela
primeira vez é o
imaginação substitui a sensação. poder da
Arte e ciência são ações exclusivam ente humanas, fora do alcance antecipação : a
de qualquer outro animal. E uma e outra derivam de uma só facul- imaginação
projetada no futuro.
54 dade humana: a habilidade de enxergar no futuro, de antecipar um Bisão deitado.
A Escalada do Homem
19
Nas cavernas, a mão
impressa diz : "Esta
é minha marca. Eu
sou o homem".
Pintura de uma
mão, El Castillo,
Santander, Espanha.