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História da Cultura e das Artes II

Profª Marta Esteves

O INÍCIO DA ÓPERA
 A Ópera surge no séc.XVII como uma obra teatral que combina monólogos, diálogos, música
contínua, acção e cenários.
 O teatro com ligação à música iniciou-se na Antiguidade com as Tragédias Gregas, depois na
Idade Média com os Dramas Litúrgicos e, no final do Renascimento algumas tragédias e
comédias tentavam imitar o Teatro Grego.
 Entre os actos dessas comédias ou tragédias era costume representar-se interlúdios –
intermedi – com carácter pastoril, campestre, alegórico ou mitológico.
 Em acontecimentos sociais mais importantes estes interlúdios eram produções musicais
muito elaboradas, com solistas, coros e grupos de instrumentos onde as representações
reforçavam as expressões de sentimentos que eram sugeridas nos textos, como suspirar, rir,
chorar, etc.
 Grande parte dos compositores italianos que fizeram madrigais, também fizeram intermedi
nos finais do séc.XVI-XVII.
 Os madrigais foram o género que mais se aproximou da ideia de
ópera pois era usado como texto um poema e a respectiva cena
dramática – epopeias, pastorelas, etc – sendo uma das mais
conhecidas Il Pastor Fido de Guarini.
 Quando se tentaram adaptar os madrigais a fins dramáticos,
com várias cenas, diálogos, com personagens com vozes
constantes e solos, deram-lhes o nome de Ciclos de Madrigais,
hoje chamadas Comédias de Madrigais.
 Estes eram apenas apresentados em concerto em círculos
privados. Mais tarde, acabaram por desaparecer.

Os textos

 Nos intermedi e nos ciclos de madrigais, o compositor usava dois tipos de texto:
o Narração – onde se desenvolve a acção.
o Diálogo - exteriorização de sentimentos.
 A poesia adaptava-se bem a ser cantada por um grupo de cantores, mas era necessário criar
um estilo de canto solístico onde o indivíduo (personagem) exprimisse o seu estado de alma.

Pastorela

 Era um dos géneros literários favoritos do Renascimento tornando-se a principal forma de


composição poética italiana.
 Tinha poemas sobre pastores e temas campestres, carácter dramático e contavam histórias
de natureza amorosa e idílica
 Falava sobre histórias de rapazes e raparigas do campo e dos seres imaginários do bosque e
das fontes.

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A camerata fiorentina

 Academia de músicos, poetas, escritores, atores e sábios que levam ao aparecimento da


Ópera e da Oratória, liderada pelo conde Giovanni Bardi (1534-1612) e Vincenzo Galilei (?-
1591, pai do astrónomo Galileu Galilei) a que se juntou Giulio Caccini (1545-1618) que deu o
nome à Camerata.
 Estes homens, deduziram, através de estudos feitos na época, que os gregos usavam no
teatro uma música que consistia numa única melodia que era cantada ora a solo, ora
acompanhada, ora pelo coro.
 Nas reuniões efetuadas na academia decidiram que iriam tentar recriar o teatro ou tragédia
grega defendendo que todo o texto deveria ser cantado, incluindo as falas dos atores.
 Galilei no seu tratado «Dialogo della musica antica e della musica moderna», defende o uso
de uma só linha melódica, pois acreditava que várias vozes a cantar ao mesmo tempo
melodias e letras diferentes, em alturas e ritmos diferentes não transmitiam a emoção do
texto.
 Rejeitava também os madrigalismos pois achava que só serviam para mostrar o engenho do
compositor e a capacidade vocal dos cantores.
 O ideal seria usar uma melodia a solo que usasse as inflexões da fala.

Compositores

 Em debates destes devem ter estado o poeta Ottavio


Rinuccini (1562-1621) e o músico Jacopo Peri (1561-1633),
pois na sua obra L’Euridice, o prefácio indica que as tragédias
antigas eram todas cantadas.
 Inicialmente, Peri fez uma tentativa com o poema Dafne de
Rinuccini com uma primeira Pastorela toda musicada, em
Florença, em 1597, cuja música se perdeu.
 Depois, o poema L’Euridice, com música de Peri e Caccini foi
apresentado em 1600 no casamento de Maria de Médicis e
Henrique IV, rei francês em Florença. A música foi publicada.

 Entretanto, Emilio de
Cavalieri (1550-1602), músico,
que geria o teatro, as artes e
a música da corte florentina,
apresenta em Roma em 1600,
num estilo semelhante, uma
peça musical sacra - «La
rappresentatione di anima et
di corpo» - o espetáculo
dramático mais longo e todo
musicado, até então feito.

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 Peri e Caccini, além de compositores eram cantores e Cavalieri era compositor, coreógrafo,
administrador teatral e professor de canto. Tinham semelhantes abordagens à música
teatral e procuraram chegar a uma forma de cantar entre a recitação falada e a canção.
 Peri inventou para os diálogos um novo estilo a que chamou Stile Recitativo.

O estilo recitativo

 Peri começou por sustentar as notas do Baixo Contínuo, enquanto a voz se movia por
dissonâncias e consonâncias, semelhante ao movimento da fala ou como uma declamação
livre sem altura definida. Nas sílabas mais entoadas, Peri colocava-lhe uma consonância na
harmonia e no baixo. Muitos madrigais dos finais do séc.XVI eram já escritos neste estilo, a
solo, com acompanhamento de acordes instrumentais.

 Caccini desenvolveu um estilo mais melodioso e silábico, com declamação clara das
palavras e com embelezamento da linha melódica, iniciando assim o virtuosismo vocal
monódico, com improvisação de ornamentos sobre as notas da melodia, tendo começado a
escrever árias e madrigais polifónicos neste estilo.

 Estes dois estilos de canção – recitativo e ária – alastraram-se a todos os tipos de música
profana sacra do início do séc.XVII.
 A monodia tornava possível transmitir melhor o diálogo e a narração.

 No ano seguinte ao da apresentação da pastorela L’Euridice de Peri, todos os compositores


publicaram uma versão da mesma, sendo a versão de Caccini a mais melodiosa e lírica e a
de Peri a mais dramática. Este aproximou-se mais de uma linguagem que eles pensavam ser
o teatro grego.
 Estes são os primeiros exemplos de ópera da História da Música intituladas como – dramma
per musica em stille rappresentativo.

Aspeto escrito de um recitativo

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