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AKAICHI, Tatianne
Mestre em Ciência da Informação 305
E-mail: tatianne.akaichi@gmail.com
RESUMO
Esse artigo apresenta as mídias (rádio, televisão, computador, internet, celular, tablet, figuras
audiovisuais e mídia escrita) como ferramentas para vencer a dificuldade de aprendizagem.
Considerando o pressuposto que as mídias são objetos de pesquisa e ferramentas interdisciplinares,
indaga: por que não valer-se das mídias como ferramentas pedagógicas para a superação de problemas
relacionados à dificuldade de aprendizagem? Por meio da pesquisa bibliográfica, a discussão seguiu o
modelo de pesquisa mídia educação, que é espécie do gênero pesquisa educativa sobre as mídias. Assim,
entende a mídia como aprimoramento da tecnologia e, portanto, do conhecimento. Espera-se que as
ações desenvolvidas com os meios midiáticos sejam para além do uso instrumental e propiciem uma
dimensão discursiva que potencialize a internalização de saberes e amplie a visão de mundo do discente,
de modo a possibilitar a superação da dificuldade de aprendizagem com a consequente internalização do
conhecimento.
ABSTRACT
This paper presents media (radio, television, computer, internet, cell phone, tablet, audiovisual images
and writing media) as tools to overcome the learning difficulty. Considering the assumption that media
are objects of research and interdisciplinary tools, the question is: Why do not use the media as a
pedagogical tool to overcome problems of learning difficulties? Through bibliographic research, the
discussion followed the research model media education, which is part of the gender educational
research on media. Therefore, the media is understood as an improvement of technologies and
knowledge. It is expected that the procedures developed with the media means go beyond the
instrumental use and provides a discursive dimension that intensify the internalization of knowledge and
increase the student worldview, in a way that make possible overcome the learning difficulty with the
knowledge internalization.
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Artigo apresentado como parte da avaliação final da disciplina Mídia-Arte e Interculturalidade na Formação de
Professores/as: Pressupostos Interdisciplinares do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Sociedade, Cultura e
Fronteiras – Nível Mestrado e Doutorado.
INTRODUÇÃO
1. PERCURSO METODOLÓGICO
A pesquisa bibliográfica, que é a base desse estudo, teve como parâmetro autores como:
Nutti (2006); Cool (2004); Krepsky (2004); Nérice (1992); Libâneo e Oliveira (2009); Fischer
(2007), Martín Barbero (1996), entre outros. Tal pesquisa elenca como objetivo possibilitar a
compreensão sobre os diferentes conceitos dos termos dificuldade de aprendizagem,
metodologia de ensino e mídias. Igualmente, busca investigar implicações desses para a
efetivação do processo de ensino e aprendizagem.
2. DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
Coll (2004) apresenta de maneira semelhante as diversas causas das dificuldades de 309
aprendizagem. Corroborando, Oliveira (1997) discorre acerca de uma abordagem que alcança
desde problemas internos na escola até questões que envolvem o ambiente externo à realidade
da sala de aula e da escola.
Sob essa ótica, é imprescindível que o educador não exclua o estudante, mas busque ter
conhecimentos sobre como se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem, a respeito de
métodos e metodologias que possam ajudar a superar situações problemáticas relacionadas à
internalização de novos conhecimentos.
Logo, para identificar e sanar os problemas ligados às deficiências no processo de
aprendizagem, deve-se partir do pressuposto de que é necessário analisar se o conteúdo
apresentado está sendo compreensível ao aluno, assim como se a prática pedagógica está
coerente com o método e metodologia definidos pelo professor, em consonância com seus
alunos, de modo a avaliar se é possível melhorar a organização do seu trabalho pedagógico de
maneira que valorize fundamentalmente o processo de ensino e aprendizagem.
Assim, pode-se afirmar que a mídia tem potencial para ser uma importante ferramenta
pedagógica que contribui com a efetivação do processo de ensino e aprendizagem e para a
superação das dificuldades de aprendizagem.
3. METODOLOGIA DE ENSINO
Já as técnicas são mais instrumentais e indicam como fazer algo. Para Martins (1989,
p. 40), as “técnicas são instâncias intermediárias, os componentes operacionais de cada
proposta metodológica, os quais viabilizarão a implementação de cada proposta metodológica,
em situações concretas”.
Portanto, conclui-se que “método indica o caminho e a técnica mostra como
percorrê-lo” (NÉRICI, 1992, p. 53). Vista desse modo, a metodologia representa a atitude
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assumida pelo educador na condução de seu pensamento e nas ações desenvolvidas na sua
prática diária em sala de aula.
Assim, podemos dizer que a metodologia de ensino envolve a concepção de mundo, de
homem, de educação, do processo de ensino e aprendizagem e avaliação, que influencia
diretamente na escolha dos conteúdos e métodos de trabalho do educador.
Libâneo (1994) afirma que a vinculação dos métodos de ensino com os objetivos de
ensino, a decisão de selecioná-los e utilizá-los nas situações didáticas específicas depende de
uma concepção metodológica mais ampla do processo educativo. Segundo o autor:
Dizer que o professor “tem método” é mais do que dizer que domina
procedimentos e técnicas de ensino, pois o método deve expressar, também,
uma compreensão global do processo educativo na sociedade: os fins sociais e
pedagógicos do ensino, as exigências e desafios que a realidade social coloca,
as expectativas de formação dos alunos para que possam atuar na sociedade de
forma crítica e criadora, as implicações da origem de classe dos alunos no
processo de aprendizagem, a relevância social dos conteúdos de ensino etc.
(LIBÂNEO, 1994, p. 149-150)
Seguindo esse mesmo raciocínio, Martins (1989) afirma que o método constitui o
elemento unificador e sistematizador do processo de ensino, determinando o tipo de relação a
ser estabelecida entre professor e aluno, conforme a orientação filosófica que o fundamenta: tal
orientação envolve uma concepção de homem e de mundo, respondendo, em última analise, a
um ponto de vista de classe.
Assim, o método de ensino assume diferentes orientações conforme as várias teorias da
educação construídas historicamente. “Na teoria da Escola Tradicional, a ênfase recai na
transmissão do conhecimento, que deve ser rigorosamente lógica, sistematizada e ordenada, daí
o uso do método expositivo que tem como centro a figura do professor” (MARTINS, 1989, p.
40).
A autora ainda enfatiza que na teoria Escola Nova há uma valorização da experiência
vivenciada do aluno e o enfoque é predominantemente psicológico. Na teoria Escola
tecnológica, a preocupação se desloca para os meios, sendo que os alunos e professores ocupam
lugar de executores de tarefas.
Como filosofia mais recente tem-se a Abordagem Sociocultural, que tem sua origem
ligada ao método de alfabetização de Paulo Freire. Nessa concepção, “o conhecimento é
elaborado e criado a partir do mútuo condicionamento, pensamento e prática” (LOPES, 2009,
p. 8). Nesse sentido, “a ação educativa deve ser precedida tanto de uma reflexão sobre o
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homem, como uma análise do meio de vida desse homem concreto, o homem se torna, nessa
abordagem, o sujeito da educação, resta-lhe transformar essa situação” (Ibidem, p. 8).
Tem-se ainda, como uma vertente relativamente nova, a chamada Pedagogia
Histórico-Crítica2, na qual o eixo central é a interação dos conteúdos com a prática social do
alunado. Perfeito (2010), citando Saviani (1999), afirma que essa concepção é:
[...] tributária da concepção dialética, especificamente na versão do
materialismo histórico, tendo fortes afinidades, no que ser refere às suas bases
psicológicas, com a psicologia histórico-cultural desenvolvida pela “Escola
de Vigotski”. A educação é entendida como o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida
histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. (SAVIANI, 1999 apud
PERFEITO, 2010, p. 7)
Portanto, nessa tendência o educador parte da prática social para alcançar a prática
educativa e cabe a ele fazer a seleção dos conteúdos mais significativos para o aluno
transformar a realidade no qual esteja inserido. Essas teorias da educação formam um todo
organizado, pois todas são desenvolvidas em função da concepção de educação, de homem e de
sociedade que as fundamenta. Martins (1989) afirma que:
O professor, ao lançar mão de uma determinada técnica para desenvolver o
processo de ensino, não está trazendo para a sua sala de aula apenas uma
técnica, mas toda uma teoria que a sustenta vinculada a uma visão de homem e
de mundo que responde a interesses de classes (MARTINS, 1989, p. 40).
Assim, pode-se dizer que os métodos regulam as formas de interação entre ensino e
aprendizagem, bem como entre professor e aluno. E o resultado dessas interações é a
associação, a internalização do conhecimento e o desenvolvimento das capacidades cognitivas
e operativas dos alunos.
2
Nomenclatura elaborada por Dermeval Saviani, filósofo da educação.
4. MÍDIA
Para Pinto (2005), as mídias são meios advindos da tecnologia. Nessa perspectiva, a
tecnologia é a evolução da sociedade e se constitui em um bem comum, efetiva arte humana,
um conhecimento aprimorado e, com isso, um legitimo processo histórico.
Corroborando o autor, a tecnologia é um conhecimento que possibilita ao homem,
desde a antiguidade, a criação de instrumentos e meios para arrefecer o trabalho humano e então
facilitar a vida em sociedade.
Dessa forma, o fogo e as pinturas rupestres podem ser considerados meios precursores
da tecnologia. Na idade moderna, século XV, a invenção da impressora tipográfica por
Johannes Gutenberg é considerada a primeira tecnologia moderna (SÁ; MORAES, 2014).
O surgimento da mídia impressa possibilitou a impressão em massa, o que abaixou os
custos e consequentemente oportunizou maior acesso da população – já que, até então, eram
mais viáveis economicamente que os pergaminhos e livros manuscritos. Para Sá e Moraes
(2014, p. 5) “o livro proporcionaria à educação sua entrada na modernidade, pois seria o
Nesse mesmo sentido, Busarello, Bieging e Ulbricht (2013) ponderam que o uso do
computador, da internet, da televisão, da ficção seriada, das histórias em quadrinhos, do
cinema, dos ambientes virtuais e hipermídia e das redes sociais temáticas apresentam-se além
de simples produtos ou tecnologias. Para os autores:
Todas estas alternativas, e também os usos destas mídias, chegam para
mudar a concepção da aprendizagem formal e da necessidade exclusiva
de um espaço institucionalizado para o ensino. As tecnologias e todas
as ramificações derivadas estão a todo tempo ressignificando os papéis
dos autores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
(BUSARELLO; BIEGING; ULBRICHT, 2013, p. 5)
Nessa perspectiva, Moran (2007) pondera que a educação escolar precisa compreender
e incorporar mais as novas linguagens - representadas pelas diversas mídias - e desvendar os
seus códigos, dominando as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De todo o exposto, constata-se que utilização das mídias como instrumentos e meios,
tomadas criticamente na prática pedagógica, podem possibilitar a construção conhecimento, a
partir do qual o discente poderá interpretar o mundo e desenvolver habilidades que poderá
ajudá-lo na superação de dificuldades de aprendizagem.
De fato, a prática pedagógica pode ser otimizada com a utilização das mídias. Todavia,
para fugir da utilização sem reflexão, puramente instrumental, deve-se partir do entendimento
que as mídias têm significação mais ampla, apresentam um percurso histórico e são formas
distintas de representação da realidade, que podem promover a emancipação ou a alienação.
Depreende-se, também, que é possível que só a inserção das mídias na prática
pedagógica pode não resolver os problemas com a dificuldade de aprendizagem, pois,
conforme visto, tais dificuldades podem advir de muitas outras condições que fogem ao alcance
do professor.
REFERÊNCIAS
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