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XXVII ENANGRAD

O CUSTO DE MANUTENÇÃO DO REGISTRO DE COMPANHIA ABERTA NA


FORMAÇÃO DO RESULTADO: O CASO DE UMA COMPANHIA ABERTA DO
SETOR TÊXTIL
Ana Carolina Coutinho de Oliveira
Eduardo Duarte Horta
Anderson Rocha Valverde

CAMPINAS, 2016
ÁREA TEMÁTICA: EMPREENDEDORISMO E GOVERNANÇA CORPORATIVA
(EGC)

O CUSTO DE MANUTENÇÃO DO REGISTRO DE COMPANHIA ABERTA NA


FORMAÇÃO DO RESULTADO: O CASO DE UMA COMPANHIA ABERTA DO
SETOR TÊXTIL
RESUMO

Devido a existência de várias obrigações e custos vinculados à manutenção do


registro de Companhia Aberta essa pesquisa analisa qual o impacto desses custos e
obrigações na formação do resultado de uma empresa com essa característica. O
objetivo geral deste estudo é medir a relação entre os custos obrigatórios para
manutenção do registro de companhia aberta e os principais medidores de
performance da empresa: a receita líquida e o lucro. Através de uma pesquisa
documental e bibliográfica este estudo delimita todos os custos obrigatórios imputados
às companhias abertas e por meio de um estudo de caso em uma companhia aberta
do setor têxtil este estudo demonstra qual a aplicação desses custos na empresa,
como ele se detalha e qual o percentual de participação desses custos na formação
do resultado desta companhia. Para a empresa objeto do estudo de caso, os gastos
mais relevantes entre os obrigatórios ficaram com a manutenção do conselho de
administração e contratação de auditoria contábil independente. O total de custos
perante a Receita Líquida ficou em 0,63% do total. Considerando a hipótese de
ausência de benefícios pela falta de atividade na bolsa de valores, um possível
fechamento de capital poderia representar uma melhoria de 11,77% no resultado
líquido da empresa, considerando o histórico dos últimos 5 anos tomados para
análise.

Palavras chave: Companhia Aberta. Custo de manutenção. Bolsa de Valores.

ABSTRACT

Because there are several obligations and costs related to maintenance the listed
company status this research analyzes the impact of these costs and obligations in the
formation of the result of a public company. The aim of this study is to measure the
relationship between the costs required to maintain the listed company status and the
performance gauges company's, net revenue and profit. Through a documental and
bibliographical research this study defines all required costs allocated to public
companies and through a case study in a textile public company it demonstrates the
application of these costs, as it is detailed and which the percentage share of these
costs in the formation of the result of this company. For the subject company case
study, the most important spending between mandatory stayed with the maintenance
of the Administrative Council and the hiring an independent audit. The total costs
compared to net sales stood at 0.63% of the total. Considering the hypothesis of no
benefit for the lack of activity on the stock exchange, a possible delisting could
represent an improvement of 11.77% in net income of the company, considering the
history of the last five years taken for analysis.

Keywords: Public Company. Maintenance Cost. Stock Exchange.


1 INTRODUÇÃO

O mercado de capitais, na forma da Bolsa de Valores, é de grande


importância para empresas de grande porte que desejam obter novas formas de
financiamento para suas atividades. Os benefícios são muitos, atrelados não só a
captação de recursos, mas, também, à estrutura que é formada para atender as
necessidades desse mercado.
Podem operar nesse mercado para negociar seus títulos empresas
constituídas sob a forma de sociedade anônima, que a partir de seu registro e oferta
inicial tomam a condição de companhia aberta.
Todavia, tomada essa condição de companhia aberta a empresa também
entra num mundo específico de cumprimento das exigências legais (legislação
societária), regulatórias (CPCs), fiscais (IR) e de custos que existem para manter a
confiança do mercado sobre suas ações e manter a transparência e a tranquilidade
para o investidor.
Esses custos podem ser expressivos, passando por gastos elevados com
auditoria independente, publicações de demonstrações financeiras, manutenção de
departamento de Relação com Investidores, gastos com conselho administrativo,
entre outros.
A existência de tantas obrigações vinculadas à manutenção de uma
companhia aberta nos leva a levantar a seguinte questão: qual o impacto dos custos
obrigatórios de manutenção do registro de companhia aberta no resultado da
empresa?
A análise do impacto dos custos obrigatórios de manutenção do registro de
companhia aberta se justifica pelo relevante número de obrigações existentes para as
companhias abertas e pelo fato de muitos desses custos serem expressivos, podendo
em alguns casos serem determinantes para manutenção ou não do capital aberto.
O objetivo geral desse estudo é medir a relação existente entre os custos
obrigatórios de manutenção do registro de companhia aberta e os principais
medidores de performance da empresa: a receita líquida e o lucro líquido.
Especificamente objetiva-se: delimitar os custos obrigatórios existentes e a sua origem
na legislação; explorar a aplicação e a composição dessas obrigações em uma
companhia aberta do setor têxtil, por meio de um estudo de caso; e medir o impacto
desses custos na formação do resultado da empresa objeto do estudo.
Como aspecto metodológico optou-se por uma pesquisa documental e
bibliográfica, com a utilização de fontes secundárias como livros, legislação e outras
publicações relacionadas ao tema. Tais fontes foram trabalhadas dando origem ao
referencial teórico e servindo como base para apresentação e discussão dos
resultados. Os resultados foram obtidos através de um estudo de caso dos custos
obrigatórios existentes para uma companhia aberta do setor têxtil.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O capítulo ora exposto tem como finalidade apresentar os conceitos


necessários para compreensão e análise do estudo desenvolvido. Para melhor
visualização ele foi dividido em subcapítulos: o mercado de valores mobiliários; a
Comissão de Valores Mobiliários; os benefícios da abertura de capital; os custos para
se manter como companhia aberta no Brasil.
2.1 MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

O Sistema Financeiro Nacional rege o ambiente onde poupadores e


tomadores se reúnem para troca de recursos financeiros. Esse sistema é responsável
pela regulação e operacionalização do fluxo financeiro necessário para o giro da
economia do país (GALLAGHER apud LOPES, FIGUEIREDO e BUOSI, 2014, p. 18).
O mercado de valores mobiliários, ou, mercado de capitais, é parte do
Sistema Financeiro Nacional. A maioria das operações realizadas no mercado de
capitais são de longo prazo. A operação mais conhecida é utilizada para a compra de
ações de empresas podendo ser realizada por pessoas físicas ou jurídicas. Os
principais títulos negociados no mercado de capitais são: ações, debêntures
conversíveis, bônus de subscrição, entre outros (LOPES, FIGUEIREDO e BUOSI,
2014, p. 25).
A Lei 6.404/76, que rege as sociedades anônimas no Brasil, define em seu
artigo 4º que “a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de
sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores
mobiliários” (BRASIL, 1976).
Quando uma empresa decide operar no mercado de capitais ela estará
abrindo suas possibilidades de captação de recursos. De acordo com Lopes,
Figueiredo e Buosi (2014, p.25):

[...] as empresas de capital aberto atuantes dentro do mercado de


capitais utilizam esse mercado como uma forma estratégica para
captar recursos financeiros, estando constantemente ligada ao
crescimento da empresa e ao ciclo de vida da mesma. O mercado de
capitais pode adequar algumas vantagens e desvantagens sobre os
meios tradicionais de captação de recursos financeiros.

2.2 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Com a função de fiscalizar e disciplinar o mercado de valores mobiliários,


foi criada a Comissão de Valores Mobiliários – CVM. O artigo 5º da Lei 6.385/76 assim
a define:

[...] entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério


da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada
de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação
hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e
autonomia financeira e orçamentária (BRASIL, 1976).

A Lei 6.385/76 esclarece que é de competência da CVM regulamentar, com


observância da política definida pelo Conselho Monetário Nacional, as matérias
expressamente previstas nesta Lei (relativas ao mercado de valores mobiliários) e na
lei de sociedades por ações. Entre outras atividades, também são de competência da
CVM: a administração de registros, a fiscalização permanente das atividades e dos
serviços do mercado de valores mobiliários e a fiscalização e inspeção das
companhias abertas, dada prioridade às que não apresentem lucro em balanço ou às
que deixem de pagar o dividendo mínimo obrigatório (BRASIL, 1976).
De acordo com Lopes, Figueiredo e Buosi (2014), é papel da Comissão de
Valores Mobiliários supervisionar, desenvolver, regular e fiscalizar todos os aspectos
que envolvam operações estruturadas no mercado de capitais e que possuam alto
risco, quando realizadas por empresas de capital aberto.

2.3 OS BENEFÍCIOS DA ABERTURA DE CAPITAL

A maioria das empresas que optam pela abertura de capital estão


procurando uma nova forma de captação de recursos no mercado. Cavalcanti e
Misumi (2001, apud BONFIM, SANTOS e PIMENTA JÚNIOR, 2006) citam que a
captação de recursos via mercado de capitais é uma alternativa aos financiamentos
bancários, viabilizando o acesso a investidores potenciais. Os recursos podem ser
destinados às diversas necessidades de financiamento das empresas.
Bonfim, Santos e Pimenta Júnior (2006) afirmam que a abertura de capital
pode ser a solução para questões de reestruturação societária, decorrentes de
processos sucessórios, estratégia empresarial ou saída de um dos principais
acionistas.
A abertura de capital facilita não só a captação via mercado de capitais,
mas também no mercado financeiro e de crédito. De acordo com os autores:

O detalhamento e a confiabilidade das informações, exigências da


CVM para as empresas de capital aberto, tendem a fazer com que o
mercado perceba maior transparência na gestão dessas
organizações, o que pode facilitar a realização de negócios, operações
financeiras e de crédito, e a ampliação do prestígio no mercado. Além
disso, a companhia aberta tende a ter um diferencial competitivo e
melhoria de imagem institucional. Quando recorre ao endividamento
bancário, por exemplo, seu custo financeiro é, em geral, inferior ao de
uma companhia fechada (BONFIM, SANTOS e PIMENTA JUNIOR,
2006, p. 6).

Os benefícios da abertura de capital são refletidos tanto na empresa,


quanto na sociedade econômica. As companhias abertas possibilitam a
democratização do capital, pois, uma vez que todos podem investir nessas empresas,
elas conduzem a sociedade para a democratização do seu capital e de seus frutos.
Além disso, elas contribuem para o desenvolvimento econômico por terem a
capacidade de agregar poupanças de diferentes fontes para seus investimentos (EID
JUNIOR, 2012).

2.4 OS CUSTOS PARA SE MANTER COMO COMPANHIA ABERTA NO BRASIL

Um mercado tão oportuno como o de capitais não é barato. A empresa que


opta pela abertura de capital entra num mundo de obrigações e custos, desde o
processo de registro, passando pela oferta inicial, e que acompanham a empresa
durante toda a sua manutenção como companhia aberta.
A primeira etapa do processo de abertura de capital é o registro no órgão
regulador do mercado de capitais, a CVM. A Instrução CVM 480/2009, que dispõe
sobre o registro de emissores de valores mobiliários, assim estabelece em seu artigo
1º:

Art. 1º A negociação de valores mobiliários em mercados


regulamentados, no Brasil, depende de prévio registro do emissor na
CVM. § 1º O pedido de registro de que trata o caput pode ser
submetido independentemente do pedido de registro de oferta pública
de distribuição de valores mobiliários. § 2º O emissor de valores
mobiliários deve estar organizado sob a forma de sociedade anônima,
exceto quando esta Instrução dispuser de modo diverso [...]
(COMISSAO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2009).

O registro na CVM deve vir acompanhado do registro na Bolsa de Valores,


e assim, quando a empresa estiver pronta, poderá fazer sua oferta inicial de ações,
conhecida como IPO (Initial Public Offering). Nesse processo a empresa terá custos
legais e institucionais, custo de publicação, publicidade e marketing, custo de
intermediação financeira, custos com advogados e auditores, custos com consultores
e custos internos da empresa (BM&FBOVESPA; PWC, 2011).
Após consumado todo o processo de abertura do capital, surgem para a
empresa as obrigações de manutenção, vinculadas às regras da CVM e da própria
Lei das Sociedades Anônimas.
A companhia aberta está obrigada a manter o órgão Conselho de
Administração, conforme determina a Lei 6.404/76. A manutenção desse órgão para
companhias fechadas é facultativa. Dutra e Saito, assim dispõe sobre o órgão:

Trata-se de um órgão existente em todas as empresas de capital


aberto, de caráter deliberativo, e integrado por profissionais eleitos
pelos próprios acionistas. Suas atribuições estão apresentadas no art.
142 da Lei das Sociedades Anônimas - Lei 6.404, de 15 de dezembro
de 1976, que destaca, especificamente em relação às funções de
controle, a fiscalização da gestão dos diretores, o exame de livros e
papéis da companhia, dos contratos celebrados e quaisquer outros
atos ligados à administração da empresa. (DUTRA e SAITO, 2002, p.
5)

Outra obrigação para as companhias abertas é a contratação de auditoria


contábil independente, conforme determina a Lei 6.404/76, artigo 177:

Art. 177 § 3o As demonstrações financeiras das companhias abertas


observarão, ainda, as normas expedidas pela Comissão de Valores
Mobiliários e serão obrigatoriamente submetidas a auditoria por
auditores independentes nela registrados (BRASIL, 1976).

A Lei das S.A. ainda coloca como obrigação para as companhias abertas a
publicação de suas demonstrações financeiras. Em seu artigo 289, a Lei 6.404/76, diz
que as publicações serão feitas no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito
Federal, conforme o lugar em que esteja situada a sede da companhia, e em outro
jornal de grande circulação editado na localidade em que está situada a sede da
companhia.
Além das demonstrações financeiras a companhia deverá publicar atas do
conselho de administração que contiverem deliberação destinada a produzir efeitos
perante terceiros, conforme § 1º do artigo 142 da lei 6.404/76. E, além das atas, a
empresa incorrerá em gastos para publicação de avisos aos acionistas e editais de
convocação.
Junto às obrigações citadas a companhia também estará obrigada ao
pagamento de taxas específicas das companhias abertas, como a anuidade da
Bovespa e as taxas de fiscalização da CVM.
3 METODOLOGIA

A pesquisa será desenvolvida como pesquisa exploratória, para melhor


caracterização do problema. De acordo com Cervo, Bervian e Silva (apud LOPES,
FIGUEIREDO e BUOSI, 2014, p. 16):

A pesquisa exploratória realiza descrições precisas da situação e quer


descobrir as relações existentes entre seus elementos componentes.
Esse tipo de pesquisa requer um planejamento bastante flexível para
possibilitar a consideração dos mais diversos aspectos de um
problema ou de uma situação.

Utiliza-se também a pesquisa bibliográfica, examinando a literatura sobre o


tema. De acordo com Lakatos (apud MARTINEZ, 2001, p. 9):

A bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não


somente problemas conhecidos, como também explorar novas áreas
onde os problemas não se cristalizaram suficientemente, e tem por
objetivo permitir aos cientistas em esforço paralelo na análise de suas
pesquisas ou manipulações de suas informações.

Além da pesquisa bibliográfica, utiliza-se também uma pesquisa


documental, visto que servem como base para essa pesquisa os dados dos registros
contábeis da empresa objeto do estudo. De acordo com Gil (2012, p. 45):

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica.


A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes.
Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das
contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a
pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um
tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo
com os objetos da pesquisa.

Por fim, será realizado um estudo de caso, utilizando-se uma companhia


aberta do setor têxtil para análise dos custos atrelados ao registro e manutenção de
empresa como companhia aberta. De acordo com Gil (2012), o estudo de caso é uma
modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas ciências sociais, e que consiste no
estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita amplo
e detalhado conhecimento.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com base na revisão de literatura que nos permite conhecer os custos e


obrigações das companhias abertas, principalmente a legislação societária trazida
pela Lei 6.404/76 e suas alterações, foi realizado um estudo de caso numa companhia
aberta do setor têxtil para identificar os valores referentes a cada um dos custos
citados, fazendo a coleta dos dados referente a um período de cinco anos para
ponderar a análise.
4.1 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

O Conselho de Administração é órgão de existência obrigatória para as


companhias abertas, conforme determina o artigo 138 § 2 da Lei 6.404/76. Ao
Conselho de Administração é dado poder de deliberação sobre vários assuntos de
grande importância para a companhia. Os gastos com esse departamento tendem a
ser relevantes no conjunto administrativo, devido à importância de seus membros no
processo de tomada de decisão estratégica.
A legislação societária dá diretrizes gerais a respeito da função do
Conselho de Administração, mas detalhes específicos de sua atuação podem ser
encontrados no estatuto social da companhia.
O estatuto social da companhia objeto do estudo versa sobre diversas
atribuições dadas a seu conselho de administração, dentre elas o número de membros
do órgão, os cargos dos membros do conselho, suas competências específicas de
deliberação além das instituídas por lei, a periodicidade de reuniões ordinárias, entre
outras.
Através de dados coletados na contabilidade da empresa objeto do estudo,
foi possível delimitar os principais tipos de gastos relacionados à manutenção do
Conselho de Administração na companhia. A Tabela 1 abaixo demonstra a natureza
dos gastos com o Conselho de Administração e suas quantias com um histórico de
cinco anos para análise.

Tabela 1 – Gastos com Conselho de Administração em R$/mil


Tipo de Despesa 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL A.V.
Honorários e despesas trabalhistas 515 512 515 512 548 2.603 66%
Serviços Técnicos de Terceiros 67 125 188 356 135 871 22%
Despesa Viagem, Hospedagem e Alimentação 53 87 77 102 106 426 11%
Outros 12 9 14 18 16 68 2%
TOTAL 647 732 795 988 806 3.968 100%
Fonte: Elaborado pelos autores

O gasto mais expressivo do Conselho de Administração da empresa foi


com os honorários e despesas trabalhistas dos membros do conselho. Esse gasto
representou 66% do total despendido com o Conselho de Administração no
acumulado dos últimos cinco anos da análise.
Em segundo lugar foi mensurado com maior número os gastos com
serviços técnicos tomados pelo Conselho de Administração. O órgão necessitou de
serviços técnicos de terceiros para exercer sua função de deliberação e tomada de
decisão estratégica. O principal tipo de serviço técnico tomado foi o de consultoria,
para assuntos nos quais eles se fizeram necessários. O total gasto com serviços
técnicos chegou a 22% do total gasto pelo departamento no acumulado dos últimos
cinco anos.
Devido ao número de reuniões que se fazem necessárias para o controle e
deliberação do órgão, existe um gasto específico com viagem, hospedagem e
alimentação dos membros do conselho, já que nem todos são da mesma cidade onde
as reuniões precisam ser realizadas. Essa despesa fecha a lista de gastos relevantes
do órgão ficando em 11% do total acumulado de gastos dos últimos cinco anos. Outros
gastos do órgão totalizaram 2%.
4.2 AUDITORIA

Para garantir a integridade da informação contábil prestada, a legislação


societária determina que a companhia aberta submeta suas demonstrações à
auditoria contábil independente de empresa ou profissional registrados na CVM.
A relação de firmas de auditoria registradas na CVM é grande, passando
de trezentos e cinquenta firmas pessoa jurídica em consulta realizada no andamento
dessa pesquisa. Todavia a concentração dos trabalhos de auditoria está entre as
quatro maiores empresas de auditoria atuantes, conhecidas pelo termo Big Four.
A instrução CVM 308/99 em seu artigo 31, com o objetivo de inibir a não
independência das firmas de auditoria pelo elevado tempo de prestação do serviço,
estabeleceu que os serviços de auditoria não podem ser prestados para um mesmo
cliente por período superior a cinco anos, exigindo-se um intervalo mínimo de três
anos para sua recontratação. O prazo citado para troca pode ser de dez anos caso a
empresa auditada possua Comitê de Auditoria Estatutário e o auditor seja pessoa
jurídica, mas para isso deve-se proceder a rotação do responsável técnico ou gerente
responsável pela companhia a ser auditada.
A empresa objeto deste estudo contratou os trabalhos de duas firmas de
auditoria das quatro maiores do mercado (Big Four) nos últimos cinco anos da análise.
A Tabela 2 abaixo demonstra as despesas incorridas pela contratação dos
serviços de auditoria independente nos últimos cinco anos.

Tabela 2 – Gastos com Auditoria Contábil Independente em R$/mil


Tipo de Despesa 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL A.V.
Honorários dos serviços de auditoria 235 268 225 287 222 1.237 87%
Despesa com Viagem, Hospedagem e Alimentação 25 23 30 50 59 186 13%
TOTAL 260 291 256 336 281 1.424 100%
Fonte: Elaborado pelos autores

No contrato firmado entre a empresa e a firma de auditoria são


estabelecidos os valores referentes aos honorários cobrados pela auditoria das
demonstrações financeiras trimestrais e anuais do exercício. Do total gasto com
auditoria independente nos últimos cinco anos os valores referentes a honorários
contratados e honorários extras requeridos pelo andamento do trabalho totalizaram
87% do total gasto com auditoria independente.
Os outros 13% ficaram a cargo das despesas com viagem, hospedagem e
alimentação dos auditores durante suas visitas à empresa para realização dos
trabalhos. Esses valores são assumidos pelo cliente conforme acordado em contrato.

4.3 PUBLICAÇÃO DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Para tornar pública a situação patrimonial e o resultado da empresa, a


legislação societária determina que a companhia aberta faça publicações de suas
demonstrações contábeis, uma em jornal oficial da união ou do estado e outra em
jornal de grande circulação da localidade da sede da companhia.
A companhia objeto do estudo atende a primeira exigência através do
Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, estado onde ela tem sua sede localizada. A
segunda publicação é feita através do Jornal Brasil Econômico, de grande circulação
na localidade da sede da empresa.
Tabela 3 – Gastos com publicação de demonstrações financeiras em R$/mil
Jornal 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL A.V.
Diário Oficial do Estado de Minas Gerais 38 74 74 71 67 323 62%
Jornal Brasil Econômico 32 45 46 44 29 196 38%
TOTAL 69 119 120 115 96 519 100%
Fonte: Elaborado pelos autores

Pela coleta dos dados é possível dizer que a publicação em jornal oficial é
expressivamente mais cara do que a do jornal de grande circulação escolhido,
totalizando 62% do total gasto com publicação nos últimos cinco anos.

4.4 ANUIDADES E TAXAS

A condição de companhia aberta no Brasil está vinculada ao registro na


bolsa de valores em operação, a BM&FBovespa, e no órgão fiscalizador do mercado
de valores mobiliários, a CVM.
O Ofício Circular 077/2013-DP, assim define a obrigação com a bolsa de
valores:

A Anuidade consiste em uma contribuição periódica devida pelas


companhias e pelos demais emissores em razão do tipo de sua
listagem na BM&FBovespa, possibilitando assim, a admissão de seus
valores mobiliários à negociação no mercado de bolsa ou MBO,
conforme o caso (BM&FBOVESPA, 2013).

A forma de cálculo da anuidade varia conforme o valor do capital social do


emissor.
A lei 7.940/89 instituiu a taxa de fiscalização da CVM, obrigatória para as
companhias abertas e para outros agentes do sistema de distribuição de valores
mobiliários.
A forma de cálculo da taxa de fiscalização varia conforme o patrimônio
líquido da companhia e é devida trimestralmente.
A empresa objeto do estudo registrou os seguintes valores para essas
taxas nos cinco anos da análise.

Tabela 4 – Gastos com anuidades e taxas em R$/mil


Tipo de despesa 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL A.V.
Anuidade BM&FBovespa 29 34 35 36 35 169 72%
Taxa Fiscalização CVM 13 13 13 13 13 66 28%
TOTAL 42 48 48 49 48 235 100%
Fonte: Elaborado pelos autores

4.5 PUBLICAÇÃO DE EDITAIS AVISOS E ATAS

Conforme determina a Lei 6.404/76, a companhia aberta deve fazer a


publicação em jornal dos Editais de Convocação aos acionistas para Assembleia
Geral, dos Avisos aos Acionistas para assembleia geral ordinária e de todas as Atas
de Assembleia Geral de Acionistas.
Seguindo a mesma determinação dada à publicação de demonstrações
financeiras, as publicações de editais, avisos e atas devem ser feitas em jornal oficial
da união ou estado e em jornal de grande circulação da localidade da sede da
companhia.

Tabela 5 – Gastos com publicação de editais, avisos e taxas em R$/mil


Tipo de despesa 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL
Editais de Convocação, Avisos aos acionistas e Atas 20 20 26 15 20 101
TOTAL 20 20 26 15 20 101
Fonte: Elaborado pelos autores

Os valores referentes à essas publicações se mostram menores do que o


de publicações de demonstrações financeiras devido ao menor tamanho que essas
publicações ocupam nos jornais, mesmo sendo feitas por mais vezes ao longo do ano.

4.6 PARTICIPAÇÃO DOS CUSTOS NA COMPOSIÇÃO DO RESULTADO

Na empresa objeto do estudo a despesa mais representativa dentre as


caracterizadas como obrigatórias para companhias abertas é a manutenção do
Conselho de Administração. No acumulado dos últimos cinco anos, essa despesa
representou 64% das despesas obrigatórias totais. Logo após vem as despesas com
auditoria contábil independente, representando no acumulado dos últimos cinco anos
23% das despesas obrigatórias totais. Essas são seguidas, em ordem decrescente,
pelas despesas com publicações de demonstrações financeiras, 8%, despesas com
anuidades e taxas, 3%, e despesas com publicações de editais, avisos e atas, 2%.
Para o caso da empresa estudada não foi considerado o custo com o cargo
do Diretor de Relações com Investidores, obrigatório para todas as companhias
abertas, pois nela como em muitas outras companhias, outro diretor assume essa
função para cumprimento da obrigação. No caso em estudo o cargo é ocupado pelo
Diretor Presidente.

Tabela 6 – Total de despesas obrigatórias em R$/mil


Despesas 2010 2011 2012 2013 2014 Total A.V.
Conselho de Administração 647 732 795 988 806 3.968 64%
Auditoria 260 291 256 336 281 1.424 23%
Publicações de Demonstrações Financeiras 69 119 120 115 96 519 8%
Anuidades e Taxas 42 42 42 42 42 210 3%
Publicação de Editais, Avisos e Atas 20 20 26 15 20 101 2%
TOTAL 1.039 1.204 1.238 1.497 1.244 6.223 100%
Fonte: Elaborado pelos autores

A partir da coleta e organização dos dados, é possível medir o impacto


dessas despesas de manutenção de companhias abertas perante os principais
medidores de performance da empresa, a Receita líquida e o Lucro Líquido.
Nos últimos cinco anos a empresa objeto do estudo totalizou os seguintes
números:

Tabela 7 – Receita líquida e lucro líquido em R$/mil


Medidor de Performance 2010 2011 2012 2013 2014 Total Média últimos 5 anos
Receita líquida 191.610 224.486 192.686 189.468 189.534 987.784 197.557
Lucro Líquido 14.657 14.435 5.173 7.068 11.526 52.859 10.572
Fonte: Elaborado pelos autores
Deste modo, pode-se medir a relação entre os números da seguinte forma:

Tabela 8 – Participação das despesas na composição do resultado


Despesas Média últimos 5 anos % s/ Receita % s/ Lucro
Conselho de Administração 794 0,40% 7,51%
Auditoria 285 0,14% 2,69%
Publicações de Demonstrações Financeiras 104 0,05% 0,98%
Anuidades e Taxas 42 0,02% 0,40%
Publicação de Editais, Avisos e Atas 20 0,01% 0,19%
TOTAL 1.245 0,63% 11,77%
Fonte: Elaborado pelos autores

O total médio dos últimos cinco anos das despesas obrigatórias


representou 0,63% da Receita líquida média do mesmo período. O valor mostrou-se
consideravelmente baixo em relação a receita. Todavia, na hipótese da ausência dos
benefícios financeiros citados no referencial teórico, a inexistência dessas despesas
obtida pelo fechamento do capital poderia proporcionar um aumento de 11,77% no
lucro líquido da empresa, com base nos valores históricos dos últimos cinco anos.
Analisando por essa ótica, o impacto do custo de manutenção alcança considerável
relevância.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos pela presente pesquisa foi possível
verificar que existem obrigações importantes para as companhias abertas cumprirem
a fim de estarem regulares para operar no mercado de capitais. A maior parte dessas
obrigações visam a transparência e a tranquilidade para o investidor desse mercado.
Foi possível também verificar por meio de um estudo de caso, como são
quantificados e em que se detalham cada um dos custos citados.
Para a empresa objeto do estudo de caso, o gasto mais relevante entre os
obrigatórios é o gasto para manutenção do Conselho de Administração, que
representa na média dos últimos cinco anos 64% do total gasto com obrigações
inerentes à manutenção do registro de companhia aberta. Logo após vem os gastos
com auditoria contábil independente, que representaram 23% do total. Os demais
custos com publicações e pagamento de taxas, juntos, ficaram em 13% do total.
Analisando o total de despesas perante os principais medidores de
performance da empresa, a Receita líquida e o Lucro Líquido, pode-se inferir que
perante as receitas essas despesas se diluem na formação do resultado
representando apenas 0,63% de seu total. Todavia analisando pela ótica de melhoria
do resultado líquido, e considerando a hipótese de ausência de benefícios pela falta
de atividade na bolsa de valores, o fechamento do capital e consequente eliminação
dessas obrigações poderia aumentar o lucro líquido em 11,77%.
Essa pesquisa tem por limitação a quantificação dos benefícios que a
empresa objeto do estudo está tendo pela condição de companhia aberta. Pela falta
de operação atual em bolsa e sua condição de companhia aberta estar mais ligada a
seu registro nessa categoria, os benefícios que ela possui tem natureza mais
subjetiva, como transparência e maior confiança sobre suas demonstrações o que
pode trazer maior credibilidade perante instituições financeiras, o que não é facilmente
quantificável.
Como toda pesquisa, esse estudo não tem por finalidade esgotar o assunto
e por isso sugere-se como continuidade dessa pesquisa que se aprofunde o estudo
dos benefícios que a empresa está tendo pela condição de companhia aberta e se
possa assim sugerir ou não o fechamento do capital pelo cruzamento de benefícios e
custos.
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