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Relatório final

4ª Comissão Permanente
da Assembleia Municipal de Lisboa

Fevereiro de 2017
Debate temático sobre o “Parque Florestal de Monsanto”,
Assembleia Municipal de Lisboa, dia 31 de Março de 2016

Relatório elaborado por DM Sofia Cordeiro e DM Sobreda Antunes

No dia trinta e um de Março de dois mil e dezasseis, pelas dezoito horas, reuniu
em sessão extraordinária na sua sede, sita no Fórum Lisboa, na Avenida de Roma, a
Assembleia Municipal de Lisboa, para a realização de um Debate Temático subordinado
ao tema “Parque Florestal de Monsanto”. A proposta do presente debate, inicialmente
apresentada como recomendação pelo GM “Os Verdes”, e aprovada por unanimidade na
AML de 14/04/2015, foi reapresentada na 43ª reunião da Conferência de Representantes
de 14/12/2015.

I - Breve descrição da sessão e apresentação inicial dos painéis

A sessão foi presidida pela srª Presidente da Assembleia Municipal, tendo sido
nomeados como vogais e relatores a srª DM Sofia Cordeiro, Presidente da 4ª Comissão
Permanente de Ambiente e Qualidade de Vida, independente pelo GM-PS, e o DM
Sobreda Antunes, do GM-Os Verdes.

Os trabalhos foram organizados de acordo com a seguinte estrutura: 1º painel,


com intervenção do sr. vereador José Sá Fernandes, em representação da CML, do sr.
João Pinho, em representação do ICNF e do sr. Artur Lourenço, em representação da
Plataforma por Monsanto; um 2º painel, com intervenção das Juntas de Freguesia da
Ajuda (que esteve ausente), Alcântara, Belém, Benfica, Campolide e S. Domingos de
Benfica, da Provedora dos Animais de Lisboa e da Polícia Florestal; e um 3º painel,
com intervenção de associações e organizações, do público e das forças políticas
representadas na AML.

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A Srª Presidente da AML esclareceu que as intervenções no painel inicial teriam
a duração de oito minutos, para que cada orador procedesse a uma apresentação e
levantamento de problemas, tendo de seguida passado a palavra ao primeiro orador.

II - 1º painel: Intervenções dos oradores convidados

O sr. vereador Sá Fernandes que, em simultâneo, utilizou uma projecção como


suporte da sua explanação (conferir Anexo II), começou por explicar que a principal
tarefa do Município seria a elaboração de um Plano Estratégico para o próprio Parque
Florestal de Monsanto (PFM), com o objectivo de se concluir o processo de certificação
florestal e de se desenvolver acções de divulgação e de sensibilização que melhorassem
o conforto e a segurança dos utilizadores. Nesta projecção o sr. vereador procedeu à
esquematização dos seguintes elementos: a título da gestão florestal traçou o
enquadramento de toda a área e os objectivos para os talhões e as parcelas do PFM; o
tipo de intervenções para uma mata modelo e para a sua biodiversidade entre 2013 e
2015; os núcleos arbóreos classificados; as áreas de protecção de fitomonumentos e de
geomonumentos; as áreas passíveis de reordenação ou de expansão; a certificação da
gestão florestal. Ao nível da mobilidade fez referência aos percursos e aos trilhos
existentes; às medidas de acalmia de tráfego; a um futuro ‘Eco-bus’ e às ligações
pedonais e cicláveis. Quanto à oferta de equipamentos indicou os de cultura, desporto e
recreio; as casas de função; os dois parques recreativos; os do Monte das Perdizes, do
Alto do Duque e do Alto da Ajuda. Quanto à segurança e vigilância da floresta sinalizou
o recurso a câmaras e a rondas de segurança.

A partir destes pontos, pormenorizou ter considerado relevante dividir Monsanto


em vários talhões e parcelas, bem como reconhecer as espécies e áreas a desmatar,
substituir e proteger. Quanto às áreas para expansão, enumerou as que em breve
deveriam ser abertas ao público, como a do antigo Clube de Tiro no Monte das
Perdizes, a do Aquaparque, a da Tapada da Ajuda e uma outra área que se esperava que
o Estado pudesse ceder ao Município. Quanto ao Plano da Biodiversidade, lembrou uma
recente certificação sobre boas práticas na gestão florestal. Apreciou como deveras
importante a questão da mobilidade dentro do PFM, por considerar ser absolutamente
fundamental a ligação dos percursos existentes à cidade, como a ligação por corredores,
um na zona da Ajuda, um outro com quase ligação a Alcântara e ainda a ligação no Rio
Seco, alguns dos quais na sequência de um orçamento participativo. Demostrou a sua

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preocupação por terem sido detectados vários pontos negros no tráfego a requerer
medidas de acalmia de trânsito, estando previsto lançar no imediato alguns projectos de
execução com base em três ou quatro concursos, em particular, para os cruzamentos que
lhe parecia serem mais perigosos. Nestas medidas incluía a melhoria dos
estacionamentos existentes, nomeadamente, junto aos parques recreativos, estando em
estudo a organização de um percurso em ‘Eco-bus’, o qual desejava entrasse em
funcionamento durante 2017. Estariam também em reavaliação as vias cicláveis de
ligação à cidade e os circuitos de corrida, uns em obra e outros a executar até ao final do
primeiro semestre do próximo ano. Em relação aos equipamentos que, disse, vinham
sendo alvo de uma grande polémica, todos tinham concursos públicos para a sua
concessão, casos do Espaço Monsanto gerido pela CML; a Quinta da Pimenteira para
recuperação do património para o ecoturismo, com retirada dos ‘bungalows’; as três
Casas de Função que fariam parte deste ecoturismo, tendo uma sido cedida à Junta de
Freguesia de São Domingos de Benfica para reaproveitamento do Parque do Calhau; e
outras três com projecto de execução pronto, em princípio para uso de ateliês de artistas.
Especificou que uma parte do antigo Clube de Tiro iria ser concessionada, bem como o
antigo Aquaparque, e que uma área seria também cedida à Junta de Freguesia de
Benfica para a prática de aeromodelismo. Já em relação aos parques recreativos da
Serafina e o do Alvito, comunicou que teria sido lançado um concurso que se
encontrava já em adjudicação, contemplando o melhoramento do estacionamento. A
CML estaria também a trabalhar na segurança e vigilância da floresta a nível de
incêndios.

De seguida, a srª Presidente da AML cedeu a palavra ao representante do ICNF.

O sr. João Pinho (ICNF) utilizou também, em simultâneo, uma projecção como
suporte da sua explanação (conferir Anexo III), na qual descreveu a situação do PFM e
das políticas florestais em Portugal. Começou por enquadrar as primeiras visões
sectoriais para a Serra de Monsanto em 1867, o contexto do Plano de Povoamento
Florestal de 1934/38 para o PFM, citando o Decreto de 24/12/1901 e o D.-Lei nº 24625
de 1/11/1934, os objectivos da política florestal definidos na Lei de Bases de 1996 e o
novo Sistema de Planeamento Florestal de 2006, actualizado já em 2015. Em síntese,
esquematizou que o PFM constituía uma das mais notáveis obras de urbanismo e
engenharia, ao nível da sua dimensão metropolitana, e sem qualquer semelhança no País
ou mesmo na Europa; que os instrumentos de política florestal reconheciam o PFM

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como uma floresta modelo, sobretudo na sua componente ecológica e de utilização
social, constituindo um laboratório vivo de experimentação de técnicas silvícolas e do
ordenamento para recreio, que defendia dever ser replicado no resto do País; que a sua
concepção concretizara alguns dos principais objectivos da política florestal nacional; e
que considerava relevante que a gestão do PFM mantivesse o alinhamento com a actual
Estratégia Nacional para as Florestas e com o PROF (Plano Regional de Ordenamento
Florestal), conservando-se os necessários recursos técnicos e humanos, a fim de ser
mantida a base do sucesso alcançado. Sobre estes tópicos, dissertou que a gestão
florestal era um processo de muito longa duração, com, no caso do PFM, quase cento e
cinquenta anos. Na década de 30 do século passado Monsanto resultara da execução de
um projecto de arborização nacional e do plano de povoamento florestal, com
objectivos vários que incluíam não apenas a valorização da paisagem e do turismo,
como o combate à grande depressão e ao desemprego que, em Lisboa, tiveram o
objectivo de empregar pessoas e criar riqueza para o Estado e para o País. Neste
contexto, o PFM fora submetido ao regime florestal total, como mata municipal com
características especiais, apoiado num programa de intervenção concreto, com uma
servidão administrativa de protecção, sinalizada no cadastro e com pessoal qualificado
como, por exemplo, a polícia florestal. Mesmo assim, lamentou que o concelho tivesse
apenas 10% da sua superfície ocupada por áreas arborizadas, quando no País se rondaria
os 35% a 38%. Lembrou que nos anos 90, com Cimeiras, como a do Rio, se deu maior
amplitude à utilização social da floresta, garantindo-se os aspectos paisagísticos e de
recreio. Dentro das cinco grandes funções que as florestas desempenham, Monsanto
compreendia a função principal de recreação e paisagem, como um centro de Área
Metropolitana para os seus dois milhões e meio de habitantes. Destacou que se
encontrava em vigor o Plano Regional de Ordenamento Florestal da Área Metropolitana
de Lisboa, o qual procedia ao enquadramento do PFM como exemplo de floresta
modelo e de enquadramento paisagístico. Relevou o facto de que, garantidamente, não
haveria muito mais ‘Monsantos’ em Portugal, embora existissem mais matas e parques
florestais construídos pelos serviços florestais e que, mesmo na Europa e a nível
mundial, haveria poucos exemplos similares, daí a importância única que a preservação
do PFM merecia. Invocou que as respostas para o PFM teriam de advir da sua história e
do conhecimento das pessoas que ali trabalhavam, viviam e dele usufruiam, numa
lógica de gestão de uma floresta viva com mais de 80 anos, pelo que, para ser mantida
no longo prazo, necessitava de uma dinâmica adequada e de muita gestão permanente,

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sendo fundamental para a Política Florestal Nacional que Monsanto mantivesse o seu
alinhamento com os instrumentos de nível superior e de estratégia nacional, como os
Planos Nacional e Regional de Ordenamento Florestal. Informou que como o Plano
Regional de Ordenamento Florestal se encontrava em revisão, apelava para que os
cidadãos e as entidades também participassem no processo de elaboração e de revisão
desse Plano, tendo assertado, como conclusão, que a política florestal era, começava e
acabava nas pessoas que usufruiam do PFM e naqueles que, durante mais de 8 décadas,
o haviam concebido, criado e mantido, em particular, os mestres, os técnicos superiores
e os guardas florestais que, de alguma forma, haviam conseguido manter o que hoje
ainda existia.

Depois de agradecer a explanação, a srª Presidente da AML cedeu a palavra ao


orador seguinte.

O sr. Artur Lourenço (Plataforma Por Monsanto), começou por destacar que a
AML sempre se distinguira pela defesa, protecção e valorização do PFM, tendo
aprovado inúmeras moções que o comprovavam, mas que constatava o facto de as suas
fronteiras estarem a diminuir, devido a representar uma enorme atracção para interesses
privados e corporativos. Tal facto conduzira a uma consciencialização e maior
sensibilidade ambiental e cívica, fazendo aparecer inúmeros movimentos de defesa do
PFM, os quais haviam estado na génese da Plataforma Por Monsanto (PPM). Referiu
que, ao longo dos anos, o PFM havia sofrido da incoerência e dualidade de critérios na
sua administração, pois o Município dificilmente tinha resistido à tentação de o
transformar num banco de terrenos. Projectos esses que teriam sido altamente nocivos
para o PFM, como a ameaça de instalação da Feira Popular ou a transferência do
Hipódromo do Campo Grande entre outros, mas que foram travados e abandonados,
devido ao diálogo e ao esforço de todos os cidadãos, apesar de tal ter resultado em
alguma ostracização por parte de alguns sectores da CML. Registou que subsistiam
ainda muitas preocupações quanto ao presente e ao futuro do Parque, devido a
problemas que careciam de urgente resolução, tendo de seguida enumerado alguns.

1º, a manutenção e a vigilância. No caso da manutenção, esta era ainda


deficiente em várias zonas, por estar, de momento, entregue na sua quase totalidade a
empresas privadas, tendo os jardineiros e os trabalhadores afectos à CML praticamente
desaparecido do PFM. Tal apenas favorecia os interesses privados, de que seriam

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exemplo a Semana Académica, as novas cavalariças, o abate injustificado de árvores
junto à prisão, a deficiente manutenção de equipamentos e instalações sanitárias, ou até
o seu desaparecimento, como no caso do ‘Skate Park’. Quanto ao que dizia ser a
evidente diminuição da vigilância do PFM, assinalava serem cada vez menos as forças
de segurança, em bicicleta ou em moto-quatro, bem como a desocupação e vandalização
das Casas de Função, que contribuíam para uma sensação de insegurança no PFM,
permitindo o regresso da prostituição e/ou o aumento de furto, cabendo parte da sua
vigilância aos próprios utentes.

2º, o trânsito e a velocidade. Lembrou ter sido formalmente anunciado, no dia


21/03/2011, e prometido, que rapidamente seriam adoptadas medidas de acalmia de
trânsito, lamentando que, decorridos 5 anos, rigorosamente nada tivesse sido feito,
circulando os automobilistas sem o devido controlo de velocidade. Contabilizava
poucas passadeiras, muitas delas mal sinalizadas, daí serem raramente acatadas, pelo
que pedia a máxima urgência na assunção de medidas efectivas de redução do tráfego e
da velocidade nas vias de Monsanto, com a criação, dentro do PFM, de zonas limitadas
a 30 e a 20 k/h, retomando-se o encerramento de várias vias aos fins de semana, como já
acontecera no passado. Sugeria também a circulação de um autocarro eléctrico,
prioridade para bicicletas e peões, com acessibilidades seguras para veículos de
mobilidade suave, com a criação de mais ciclovias e passeios pedonais.

3º, o Aquaparque. Aquando da cedência dos terrenos para a construção de um


parque de diversões, cidadãos da antiga Freguesia de São Francisco Xavier haviam
decidido contestar essa decisão, tendo instaurado um processo contra o Município, a fim
de travar o processo. Após ter perdido a causa em tribunal, a vereação prometera que,
antes de qualquer decisão, reestabeleceria o diálogo, Porém, sustentou, a Associação de
Moradores, que exigia que as decisões do tribunal fossem cumpridas, continuava à
espera desse contacto.

4º, o Campo de Tiro. Este, que sempre fora considerado fonte de uma enorme
poluição ambiental e sonora, era exemplo de que valia sempre a pena fazer alguma
coisa, pois o já quase impossível acontecera: graças às constantes reclamações, o campo
de tiro acabaria por encerrar, devido à luta constante e determinada da PPM, apesar das
ameaças sofridas, e graças à decisão de um anterior vereador do Ambiente que ousou
dizer ‘não’ a um projeto que lesaria enormemente o PFM, renegociando o contrato que

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ligava o Clube de Tiro a chumbo à CML. No entanto, e apesar de ilegal, o Campo de
Tiro continuaria a funcionar durante mais seis anos. Lamentando por a PPM não ter
ainda sido contactada para contribuir sobre o que deveria ser aquele espaço, exigia que
fossem salvaguardados os direitos dos trabalhadores que lá viviam.

5º, o Panorâmico de Monsanto e outros eventos. Sobre aquele edifício,


argumentou que nunca tinham estado de acordo com tudo o que para lá havia sido
projectado. E quanto aos grandes eventos, havia um outro exemplo concreto da
dualidade de critérios, da incoerência e da arrogância com que, assim pensava, a CML
vinha administrando o PFM. Em pleno período de biodiversidade, na Primavera, após a
nidificação de uma espécie endémica da Península Ibérica como a perdiz vermelha, num
local que havia sido mantido por voluntários com a supervisão da CML, toda a área
acabaria sendo arrasada e os ninhos destruídos, aquando da realização da primeira
edição de um evento que reunira milhares de pessoas - a Semana Académica -, lesando
a fauna e a flora. Quanto aos novos projectos, a PPM sentia muita apreensão, devido,
inclusivé, à permissividade dos cadernos de encargos, que admitiam a privatização pura
de diversos espaços de um património único que deveria ser de usufruto público,
pautado pela defesa intransigente da preservação dos seus valores ambientais. Concluía
fazendo votos para que o debate determinasse ‘tolerância zero’ à destruição do PFM.

III - 2º painel: Intervenção das Juntas de Freguesia com área no PFM, da


Provedora dos Animais de Lisboa e da Polícia Florestal

O sr. Presidente da JFCampolide, DM André Couto, destacou na sua intervenção


o papel do arquitecto Ribeiro Telles nas intervenções feitas no corredor verde de
Monsanto, incluindo zonas novas recuperadas e regeneração de zonas degradadas,
referindo-se também ao lado negativo de Monsanto, casos da degradação e abandono
dos Bairros da Liberdade e da Serafina, para os quais se deveria procurar uma solução
que pensasse nas pessoas que ali diariamente viviam. Considerou que não se deveria
pensar apenas no coração de uma área que se desejava fosse um pulmão verde,
ignorando nas suas margens as zonas mais degradadas. Propôs, por isso, que se
começasse a pensar nos acessos aos bairros numa perspectiva mais estratégica e que não
ignorasse aquele território. Para concluir, pediu desculpa por se ir ausentar, pois tinha
agendada uma presidência aberta marcada na sua Freguesia.

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De seguida, o sr. Presidente da JFAlcântara, DM Davide Amado, depois dos
cumprimentos iniciais, assinalou que pretendia fazer referência a três questões
concretas. Primeiro, dirigiu uma saudação muito positiva para a criação do Parque
Urbano do Alvito, por ser um espaço novo na cidade com potencial enorme e uma mais-
valia única para futuro usufruto dos munícipes, recordando, porém, que o Parque
Infantil do Alvito não se encontrava contemplado nos novos projectos camarários a fim
de ser requalificado. Em segundo lugar, apontou uma preocupação sobre as
acessibilidades ao PFM, em particular pela deficiente rede de transportes públicos para
todos dentro do Parque, apesar da referência do sr. vereador à futura circulação de um
Ecobus. Por último, apelou à CML para que na discussão dos projectos para Monsanto
fossem envolvidas as partes interessadas, de modo a ser uma mais-valia, quer para todos
quer para o próprio Município.

O orador seguinte, o sr. Presidente da JFBelém, DM Fernando Rosa, destacou o


PFM como um ex-libris da cidade de Lisboa que, por ser fundamental para a qualidade
de vida de todos, tinha de ser gerido com muito bom senso e sem fundamentalismos.
Lembrou as primeiras ideias de arborização daquela zona, tanto em 1868 como, mais
tarde, em 1929, quando uma Comissão elaborou um plano que, por decreto de Duarte
Pacheco, conduziria à criação do PFM em 1934, complementado, de seguida, com a
contratação do arquitecto Keil do Amaral e dos projectos que se seguiram a partir de
1938. Lembrou algumas especificidades interiores/anteriores? ao PFM, como o Bairro
de Caselas construído em 1947, o Bairro da GNR construído em 1958 quase perto de
Algés, e alterações mais recentes, como a construção de alguns novos equipamentos
dentro do Parque, nomeadamente, da RTP e da RDP, ou o próprio Hospital São
Francisco Xavier, mas também a felicidade por se ter conseguido transformar Monsanto
numa zona de uso familiar, retirando-se grande parte da prostituição que ali havia.
Destacou também o facto de, em 2003, se ter conseguido fechar a envolvente da
Alameda Keil do Amaral, transformando-a numa zona para actividades desportivas e de
manutenção. Fez ainda breve referência ao Ginásio do Alto do Duque e ao novo Campo
de Râguebi do Belenenses, onde seiscentas crianças vinham praticando desporto. Por
tudo isto, relevava como muito importante para a qualidade de vida de Lisboa que o
PFM fosse um verdadeiro pulmão para a cidade.

Depois, em representação da srª Presidente da JFBenfica, a vogal Carla Rothes


apontou a obtenção da Certificação da Gestão Florestal como um sinal claro do

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investimento da autarquia, no sentido de implementar um modelo eficaz de gestão
florestal, que se cruzava com as questões ambientais e sociais. Considerou essencial que
o plano para o PFM fosse trabalhado e pudesse ser discutido e apreciado por todos os
seus intervenientes, nomeadamente pelo poder local, pelo tecido associativo e pelos
cidadãos. E, como parte significativa do Parque se inseria nesta Freguesia, iria descrever
quatro casos que considerava pertinentes. O 1º, por apesar de a Freguesia ter perto de 40
mil habitantes, continuarem a existir barreiras físicas que constituiam limitações na
acessibilidade ao Parque. Um melhor conseguido, que era a ponte pedonal na zona do
Fonte Nova, mas já o segundo acesso, o mais central, por ter como barreira a linha de
comboio, continuava a possuir um único acesso por meio de dezenas de degraus,
impedindo a acessibilidade ao PFM a pessoas com mobilidade reduzida e mesmo a
desportistas com os seus equipamentos e pais com carrinhos de bebé ou com crianças
pequenas, situação que constituía uma preocupação por resolver e que se estendia já há
demasiado tempo. O 2º, onde no acesso a Monsanto, pela Estrada da Circunvalação, a
passadeira se situar numa curva apertada e extremamente perigosa para os peões, pelo
que solicitava que se transformasse esta passadeira numa passagem clara e definida em
que os peões pudessem circular com segurança. O 3º, por considerar importante ser
requalificado o espaço público na zona do Calhariz Velho, no acesso ao PFM, onde as
ruas se encontravam com buracos, passeios destruídos e ausência total de sinalética para
quem acedia de Benfica, incluindo a requalificação do restante património, como o
chafariz e parte do aqueduto. E uma 4ª situação, em particular, o caso da ampliação da
pista de radiomodelismo, para que se tornasse num centro de acolhimento e partida para
algumas práticas desportivas, nomeadamente para o ciclismo e o atletismo,
disponibilizando balneários, bar e outros serviços.

Ainda no período de intervenção das Juntas de Freguesia, o sr. Presidente da


JFSão Domingos de Benfica, DM José Cardoso Alves, distinguiu a certificação de
gestão florestal atribuída ao PFM, e o contributo da recuperação da Mata de São
Domingos de Benfica, no ano de 1999, com a instalação de um parque infantil, um
circuito de manutenção e um parque aventura. Decorridos dezassete anos, alertava agora
para a melhoria das acessibilidades à Freguesia, bem como para a recuperação do
património edificado e a revitalização do Parque do Calhau e para um melhor
aproveitamento daquelas infraestruturas, incluindo novos trilhos para passeios a pé e de
bicicleta, ou ainda a recuperação do polidesportivo já existente. Lembrou a degradação

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e a falta de condições de segurança da parede de escalada localizada na Mata, pelo que
estava a ser ponderada uma parceria com a Federação de Campismo e Montanhismo de
Portugal para a sua recuperação. Lembrou que no passado se havia dado prioridade às
vias de comunicação, com, por exemplo, a Radial de Benfica e a linha de comboio, que
haviam criado barreiras físicas à circulação das pessoas, factor a corrigir, também por
motivos de sustentabilidade ambiental. Destacou também uma parceria com a vizinha
Junta de Freguesia de Benfica para a realização de eventos desportivos, culturais e de
lazer, como no caso do Festival Primavera. Numa perspectiva de desenvolvimento
turístico mencionou o Palácio Marquês da Fronteira e os seus jardins classificados como
um dos vinte e cinco mais belos do mundo. Considerou importante diluir-se as barreiras
de acesso ao PFM e, para se alcançar todos aqueles objectivos, trabalhar em
colaboraração com outras entidades e, em particular, com o Município de Lisboa.

Como oradora neste painel, a srª Provedora dos Animais, Inês de Sousa Real,
destacou o contributo da complexidade e do património natural do PFM para a
biodiversidade do arvoredo da capital, necessária não apenas para a nidificação das
aves, como para a reprodução de anfíbios, répteis e outros mamíferos. Lembrou que
Lisboa acolhia mais de 290 espécies diferentes de animais, mas que a intervenção
humana havia provocado a diminuição das espécies, entre as quais algumas em vias de
extinção, tendo apontado o caso do atropelamento de uma gineta. Devido a ser
atravessado por estradas de tráfego intenso, e a partir daquele exemplo, sustentou que
qualquer eventual aumento das acessibilidades ao Parque teria de ponderar os impactos
sobre a salvaguarda das espécies que necessitavam de condições de sossego. Nelas
incluia tanto as aves migratórias e as de rapina, como os grandes mamíferos, como a
raposa que há 25 anos teria sido abundante no PFM e hoje raramente era vista, em
detrimento da presença de pequenos organismos, como os insectos. Por isso, para si era
fundamental que se cruzasse a preservação das espécies existentes com o
desenvolvimento do Plano da Biodiversidade, com a ligação das zonas arborizadas
através de corredores verdes sem obstáculos, mas restringindo-se também a construção
de equipamentos. Quanto à muito elevada presença de chumbo no Campo de Tiro, tal
repercutir-se-ía tanto na saúde humana, como acarretava danos e prejuízos para as
espécies residentes. Propôs a instalação de mais bebedouros e comedouros públicos
para os animais em geral e para os munícipes. Para concluir, deixou nota do papel do
LxCRAS (Centro de Recolha e Recuperação de Animais e Aves Silvestres) e da Casa

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dos Animais de Lisboa, na preservação e na recuperação de espécies selvagens, algumas
em vias de extinção, como uma águia-real que teria sido envenenada e ali pôde ser
recuperada, pelo que a presença daqueles animais no PFM deveria ser preservada, por
constituir o único habitat para algumas espécies na área de Lisboa.

Como último interveniente convidado para este painel, o sr. Subcomissário José
Paulo Brissos dos Santos, na qualidade de Comandante da Polícia Florestal, enumerou
os três tipos de vigilância no PFM. Por um lado, um policiamento motorizado em
viaturas ligeiras, um segundo feito a cavalo pelo interior de todo o Parque e outro de 24
horas por dia de prevenção aos fogos florestais, através de câmaras de videovigilância.
Indicou que a Polícia Municipal também destacava um carro-patrulha que procedia a
rondas durante 24 horas por dia, ao longo das vias circuláveis do PFM. Deixou também
o testemunho de que a Polícia Florestal tinha ainda como missão a vigilância e a
segurança de pessoas, incluindo dos eventos de que tinham conhecimento e que, fora
das horas normais de expediente, recebia e transportava até ao CRAS pequenos animais
e aves silvestres, feridos ou recém-nascidos, para tratamento pelos médicos veterinários.
Para além disso, tomava~se conta de reclamações e de situações ilícitas, apreendiam-se
várias toneladas de pinhas, ilegalmente recolhidas no PFM, bem como armadilhas para
aves, identificando-se os infractores e procedendo-se aos respectivos autos de notícia e
seu envio para tribunal.

IV - 3º painel: Intervenções de associações e organizações, de elementos do


público e das forças políticas representadas na AML

Tendo a Mesa concedido alguma tolerância suplementar de tempo, a primeira


interveniente deste painel, a srª Ana Muller, da Associação Portuguesa dos Arquitectos
Paisagistas, reconhecendo a elevada actualidade e importância do presente debate para a
cidade de Lisboa, afirmou que gostaria de também contribuir com algumas
recomendações. Lembrando que o PFM fora concebido como o pulmão para Lisboa,
destacou que, nas últimas décadas, se vinha aprofundando essa noção, defendendo que o
seu papel para a cidade teria de estar integrado no conceito de estrutura ecológica, de
modo a assegurar a circulação e permuta de recursos essenciais para a vida entre o
Parque e o tecido urbano consolidado, como espaço de recreio e de melhoria da imagem
de qualidade visual do conjunto da cidade. Por um lado, porque a ecologia urbana dizia
respeito à saúde pública, por outro, porque a área contínua do PFM não era nem

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substituível nem fragmentável em vários parques urbanos e, também, porque a extensão
de Monsanto tinha uma grande expressão a nível da própria Área Metropolitana de
Lisboa, na sua ligação ao Jamor e às Serras de Sintra e da Carregueira, pelo que reduzir
a sua área seria mau para a própria cidade. Lembrou de seguida que, ao longo dos
tempos, sempre que fora preciso construir um novo equipamento a CML recorria
sempre um pouco ao PFM, roubando algumas áreas nas suas margens, de que
constituiam exemplos o Parque Universitário da Ajuda, vários bairros sociais e até as
vias de comunicação, procedimento que considerou errado e não deveria ter sido feito.
Um 2º ponto relativamente à vegetação existente no Parque que, por na altura ter vindo
dos viveiros, não teria sido a mais adequada para o local, tanto pela sua dimensão, como
em termos de cobertos florestais, ao ter permitido o aparecimento de espécies
espontâneas. Um 3º ponto que prejudicava aquela ecologia era a existência das vias que
haviam rompido e roubado mais área ao Parque, quando o ideal poderia ser sido a
constituição de ecodutos ou o rebaixamento das próprias vias, para protecção da
vegetação, dos animais e até da sua utilização pelas pessoas. Dando o exemplo de uma
alternativa mais segura e agradável, como o Corredor Verde de Monsanto inaugurado
em 2012, lembrou serem necessárias soluções de mobilidade suave, por serem mais
adequadas às actividades humanas, e clareiras equipadas com planos de água, como
garantia da permanência da fauna. Por último, perante as pressões de ocupação e usos e
como garantia da sustentabilidade ecológica e cultural do PFM, considerou ser
fundamental a existência de um plano estratégico de Parque Florestal periurbano de uma
grande capital, promovendo-se um amplo debate que definisse uma visão global daquele
espaço, com as intervenções prioritárias, seus responsáveis e modos de financiamento.

Na continuação, falou o sr. João Pinto Soares, da Associação Lisboa Verde que
integra a Plataforma Por Monsanto desde a sua constituição. Mencionou o Plano de
Urbanização para o Vale de Alcântara o qual, por este estar associado ao PFM,
permitiria uma grande área verde e a instalação de um biótipo diversificado. O sistema
seco das suas encostas teria tido uma etapa decisiva em Março de 2010, com a
florestação da encosta do Casal Ventoso, o que veio contribuir para a sua consolidação,
a melhoria da qualidade do ar e a fruição de uma paisagem equilibrada. Destacou a
intervenção na encosta fronteira, também pertencente ao sistema seco, com a
constituição do Jardim do Alvito, o qual deveria ser incluído, mantendo a sua
integridade e autonomia, na unidade de paisagem da Serra de Monsanto. Quanto ao

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sistema húmido, onde no Vale de Alcântara corria a ribeira com o mesmo nome,
lembrou que ali existia a maior bacia hidrográfica da cidade, com uma extensão total de
cerca de 10 kms, desde o Concelho da Amadora até ao Rio Tejo. Como este curso de
água, que constituía o Caneiro de Alcântara, se encontrava canalizado em toda a sua
extensão, desde 1967, para permitir resolver os problemas sanitários originados pelas
descargas de afluentes domésticos, e por o seu fecho ter anulado a riqueza e a
complexidade associadas aos sistemas ribeirinhos, esta ribeira deveria agora ser
reabilitada. Para esta reabilitação propunha a criação de uma nova linha de água
naturalizada que funcionasse como alternativa ao Caneiro de Alcântara, entre a ETAR
de Alcântara e o Rio Tejo. Esta nova ribeira permitiria receber, a céu aberto, a retenção
das águas pluviais e dos jardins agrícolas limítrofes, evitando as cheias em Alcântara e
na Avenida de Ceuta, valorizando a paisagem daquela zona. Quanto ao campo social,
apontou a integração das zonas de lazer e recreio no tecido urbano, salvaguardando-se a
manutenção periódica da estrutura verde, a segurança dos espaços envolventes, bem
como a qualidade da água armazenada. Terminou referindo-se à importância da inclusão
de um corredor verde transversal que ligasse a Tapada das Necessidades e o Cemitério
dos Prazeres à Tapada da Ajuda, de modo a colocar Lisboa no topo das Capitais Verdes
Europeias.

O orador seguinte, o sr. Manuel Verdugo, da Associação Amigos de Monsanto,


começou por aludir a autorização para a construção de mais um campo de râguebi em
Monsanto, a juntar a tantos outros já existentes, num terreno bastante arborizado que
dele foi desafectado, colocando o interesse privado à frente do interesse público e onde
mais árvores iriam ser abatidas em função de interesses privados, em vez de serem
protegidas. De seguida apontou a grande apreensão pelos novos projectos e concessões
conducentes à privatização de diversos espaços do PFM, como os campos de
basquetebol da zona do Moinho do Penedo, facto que, apesar de desmentido, ainda
constava do caderno de encargos aprovado e para o qual a Plataforma por Monsanto
exigia fosse rapidamente retirado. Uma outra preocupação dizia respeito ao abate de
árvores na Quinta da Fonte e no Alto da Ajuda para a construção de cavalariças e
picadeiro, sacrificando-se as aves/árvores? em nome do interesse privado. Outra
preocupação, também constante no caderno de encargos, era por num raio de cerca de 2
kms a partir da Alameda Keil do Amaral terem passado a existir 5 locais para a
realização de grandes eventos, como o Anfiteatro Keil do Amaral, a zona dos campos de

13
basquete do Moinho do Penedo, o renovado Restaurante Montes Claros, a antiga casa
do Presidente e a zona do Alto da Ajuda onde se realizava a Semana Académica.
Concluiu considerando serem demasiados eventos para um Parque Florestal que
requeria antes ser protegido, esperando que se conseguisse a reversão das políticas de
delapidação prosseguidas nos últimos anos, não se permitindo nem mais construção,
nem mais estradas, incentivando-se antes o aumento da sua zona verde.

De seguida, a srª Conceição Lopes, em representação da Quercus, sublinhou que


apreciara muito a apresentação do sr. Vice-Presidente do ICNF, por ter feito uma
destrinça muito correcta entre o que eram uma floresta ou um parque florestal, mas que
depois assistira aos órgãos de gestão envolvidos naquela zona a apenas falarem de
equipamentos, da redução da área do Parque, sem se referirem a melhorias a nível de
floresta e da preservação do PFM. Também se espantara ao ouvir falar de uns planos
que desconhecia, que não haviam sido suficientemente divulgados, que viabilizavam
festivais e mais construções, mas que esperava que as associações envolvidas e as
populações ainda os viessem a discutir. Terminou realçando que aquilo que interessava
era o contraste entre o tipo de discursos: um contemplando o que era necessário fazer
para proteger Monsanto e um outro mais virado para o “vamos lá construir à brava”.

Tendo depois sido dada a palavra ao sr. José Veloso, do Clube de Actividades ao
Ar Livre, este representante sublinhou ser o Centro Associativo do Calhau, em
Monsanto, a casa das associações, desde 1995. Depois de saudar a gestão do PFM pelo
prémio recentemente recebido, salientou um projecto de intervenção comunitária de
iniciativa da Junta de Freguesia de Campolide, em conjunto com o CAAL, para ligar os
Bairros da Liberdade e da Serafina às Amoreiras, mas que apenas não fora em frente por
não ter tido a concordância da EPAL. Tratava-se de um projecto que, para além de criar
um posto de trabalho, previa a inclusão de um passe que poderia ser adquirido a um
preço simbólico, unindo aqueles dois bairros às Amoreiras, através do percurso do
Aqueduto das Águas Livres. O projecto viabilizaria a presença da população em
Monsanto, diminuindo a marginalidade e dando mais espaço e mais fluidez de
passagem para aqueles bairros, encontrando-se presentemente parado por falta de apoio
da EPAL.

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A Senhora Presidente da AML, ao dar início ao período aberto ao público,
concedeu aos futuros intervenientes uma tolerância suplementar, a fim de poderem
dispôr de mais tempo de expressão.

O primeiro orador, o sr. Nuno Mendonça Raimundo, disse ter apreciado na


apresentação do sr. vereador Sá Fernandes a frase “reaproximar o parque da cidade”,
por ser isso o que os lisboetas e a cidade pretendiam e precisavam. Enquanto o Parque
da Bela Vista, que seria o maior na capital, não dispunha de qualquer equipamento
cultural, o PFM, não sendo um parque urbano, estaria totalmente desligado da cidade,
sem estar qualificado como parque de recreação urbana, com os poucos equipamentos
existentes completamente espalhados, sem terem qualquer ligação ou integração entre
eles, tornando-se difícil usufruir de todos, na sua plenitude, caso não se utilizasse uma
viatura. Sendo a favor da preservação da fauna e da flora, visto Monsanto não poder ser
um terreno urbanizável, entendia ser preciso encontrar um equilíbrio entre espaços para
animais e para as pessoas. Sustentou que não se podia querer que o parque fosse vivido
pelas pessoas e depois não existir condições para tal. Defendeu a ligação entre os
equipamentos, e meios para as pessoas utilizarem a bicicleta sem serem forçadas a
deslocar-se de carro, caminhos e trilhos qualificados, bem como áreas verdes abertas.
Por isso, pedia à CML que elaborasse um plano integrado e pormenorizado dos espaços
que deveriam ser criados, distinguindo os reservados à preservação da fauna e da flora
dos que deveriam ser alocados à recreação e lazer. Na sequência deste raciocício deixou
como sugestões a deslocalização dos vários equipamentos militares que impediam um
plano integrado de recuperação do Parque, a instalação de equipamentos desportivos de
gestão pública, a criação de áreas arrelvadas abertas para fruição do sol, a qualificação
dos acessos ao Palácio dos Marqueses de Fronteira, bem como a deslocalização do
Jardim Zoológico para dentro do PFM. Para concluir, apelou para que não se cedesse a
fundamentalismos, adaptando a Natureza à nova realidade da cidade, pois com o abate
de árvores poderia dar-se lugar a algo muito melhor no futuro, como a presença e a
fruição das pessoas.

O próximo orador, o sr. José Victor Cavaco, descreveu-se como um utilizador


pontual de Monsanto nas suas diversas vertentes, pelo que estava preocupado com o seu
futuro para a qualidade do ambiente urbano, numa perspectiva de protecção da
biodiversidade e de regulação do clima. Lembrou o efeito das alterações climáticas e a
importância do PFM no combate aquele fenómeno, como sumidouro de carbono, e no

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contributo à redução dos gases com efeito de estufa na atmosfera, destacando a
necessidade de as cidades se adaptarem com zonas verdes e florestais como mitigadoras
das cada vez mais frequentes ondas de calor nas zonas urbanas e dos seus efeitos na
saúde humana. Neste contexto, a preservação daquela mancha florestal seria vital para o
futuro da Área Metropolitana, pelo que merecia ser considerada a sua ampliação. A sua
preocupação baseava-se na constante pressão que era exercida sobre Monsanto, com a
diminuição da sua área e o aumento da construção. Citou um estudo europeu divulgado
pela Royal Society, no qual Lisboa possuía bastante menos de 10% de área verde na
totalidade do seu concelho, com um indicador de área verde per capita abaixo dos 10
m2, contrastando com outras cidades europeias que iam além de 40% de área verde e
com mais de 300 m2 per capita. Concluiu pela preservação do PFM, expressando a
necessidade da sua ampliação integrada numa rede de corredores verdes do Município
interligados entre si.

O sr. Emanuel Nobre de Sousa no uso da palavra, informou que, para chegar ao
Fórum Lisboa, se deslocara de transportes públicos, utilizando um comboio da CP em
cerca de 15 km e percorrendo os restantes 3 km a pé, sem utilizar combustíveis fósseis.
Em contraponto a esta prática, interrogava sobre qual o motivo de se restringir a
circulação na Avenida da Liberdade a veículos com matrículas anteriores a 2001 e o
mesmo não ser feito no PFM, visto ser esta uma zona ligada à Natureza e ao Ambiente.
Questionava também o porquê de não serem delimitadas algumas zonas apenas à
circulação pedonal, a veículos de fiscalização ou de patrulha da PSP, aos da CML e das
Juntas, controlando-se o trânsito rodoviário em algumas vias por meio de pinos
movíveis, como se fazia nas entradas para o Bairro Alto. Também não compreendia
porque se falava da poluição dos solos do antigo Campo de Tiro de Monsanto
esquecendo-se que os veículos movidos a combustíveis fósseis também libertavam
chumbo e outros metais pesados (como Cádmio, Bário, Níquel, Arsénio, Crómio, entre
outros), mas tal facto não era equacionado em relação às fontes de poluição do PFM.
Recordou que não existiam travessias seguras para peões, nem passeios ao lado das
estradas, o que obrigava os peões a deslocarem-se pelas valas. Quanto às ameaças à
biodiversidade e aos impactos das actividades humanas em pleno PFM, deixou um
testemunho pessoal, que teria vivenciado, do atropelamento de uma ave de rapina
nocturna (uma coruja), mas também das ameaças sobre outros tipos de animais, como
aves migratórias, esquilos, raposas, animais de locomoção lenta e outros de pequenas

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dimensões, uns que dantes eram avistados e agora já não o eram, que culminavam em
morte instantânea, ferimentos graves, fracturas ósseas ou amputações de membros.
Propunha, por isso, que se restringisse o acesso a algumas estradas do PFM, por muitas
vezes os condutores apenas as utilizarem para fugir ao trânsito e chegar mais depressa
ao seu destino, por via de atalhos e em alta velocidade. Também enumerou os impactos
negativos para o ecossistema, como nos casos de espécies ali introduzidas que
competiam directamente com as selvagens e as autóctones, de que constituiam exemplo
os gatos abandonados que se tornavam assilvestrados, reduzindo a biodiversidade em
populações de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Apontou ainda a invasão de espécies
exóticas, introduzidas apenas pela sua beleza, sem se ter em conta o seu impacto nos
ecossistemas, de que os casos mais flagrantes eram os da Acácia longifólia, do
Pitospóro, da importação massiva de Palmeiras que, por arrasto, traziam o escaravelho
da Palmeira, mas ainda da vespa asiática que dizimava outras comunidades, como
abelhas europeias/domésticas/solitárias, a vespa europeia e borboletas, entre outras.
Abordou também o caso de outras plantas, espécies exóticas e animais que requeriam o
devido controlo de infestantes, como o Chorão-das-praias, o Jacinto-de-água, as Azedas
ou o Lagostim-vermelho-do-Louisiana. Defendeu a necessidade de uma legislação
eficaz, pois a falta de coordenação originava custos elevados, quer para os proprietários
particulares, quer no esbanjamento/desperdício de fundos públicos para as Autarquias,
através de planos de controlo e erradicação de espécies invasoras que depois não eram
eficazes. Já sobre os eventos de massas que tinham lugar dentro do PFM, parte dos
resíduos acabavam por ali ficar depositados, contribuindo para a compactação dos solos.
E quanto aos abates e recentes desmatamentos, se alguns teriam permitido acabar com a
prostituição, depois fora preciso inverter a situação, plantando-se novas árvores. Para
finalizar, clarificou que muitas das espécies arbóreas levavam 40 ou mais anos para
entrar na fase reprodutiva do seu ciclo de vida, pelo que uma árvore não seria um bem
desnecessário, mas sim um ser vivo que deveria merecer todo o respeito.

A Senhora Presidente da Mesa, lembrando que mais tarde se realizaria uma


continuação deste debate com uma segunda sessão formal da AML, abriu depois um
período final dedicado a ouvir as forças políticas representadas na AML, cingindo de
novo o tempo aos habituais três minutos.

O sr. DM José Franco (IND), agora no uso da palavra, sustentou que o presente
debate se inseria na linha de anteriores debates públicos realizados no Fórum Lisboa,

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sobre temas relevantes para a vida da cidade e dos seus munícipes, sendo inquestionável
a importãncia estratégica do PFM, relativamente à região e à cidade de Lisboa. Não
duvidava, por isso, da sua oportunidade, por decorrer da preocupação sobre um recente
conjunto de iniciativas por parte do executivo municipal, para o território do PFM, que
suscitavam dúvidas e reservas, não só pelas alterações previstas para o uso do solo, mas
também, pelos próprios modelos de concessão desses espaços a entidades privadas.
Defendeu que, com maioria de razão, por o rigor da avaliação das alterações ao uso do
solo no território municipal dever ser total, no caso do PFM esse princípio deveria ser
observado e praticado na sua plena dimensão, não se podendo circunscrever a um mero
entendimento jurídico das situações em análise. Nesta óptica, as propostas de
intervenção teriam forçosamente de contar com uma discussão o mais alargada possível.
Para os Cidadãos por Lisboa, o PFM era já uma preocupação antiga, desde o problema
das 46 casas de função que se pretendia atribuir ao corpo da Guarda Florestal, pelo que
não defendiam qualquer tipo de radicalismo, mas sim a avaliação e a discussão das
propostas, desde que devidamente fundamentadas e enquadradas na lei. Para si,
Monsanto constituía um espaço verde de utilização pública, pelo que a existência de
qualquer proposta que condicionasse a sua utilização, por exemplo, através de regimes
de concessão que poderiam alcançar periodos de quase 50 anos exigiam uma
ponderação e uma avaliação técnicas que não pactuassem com usos de solo em moda.
Finalmente, considerou fundamental que se aprofundasse o condicionamento ao
atravessamento daquele santuário natural por parte de viaturas particulares,
fiscalizando-se a velocidade máxima de circulação, que em caso algum deveria exceder
os 50 Kms por hora.

O sr. DM Vasco Santos (MPT), agora no uso da palavra, recordou os contributos


do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, fundador e presidente honorário do MPT, para o
PFM, Parque que possuía um vasto conjunto de equipamentos para diferentes tipos de
utilização e públicos-alvo. No entanto, como muito daquele património havia estado,
nos últimos anos, sujeito a vários atentados que contrariavam a sua preservação e
protecção, o MPT havia manifestado a sua posição através da submissão de três
recomendações na AML, que gostaria fossem tidas em conta no relatório final do
presente debate, a saber, a nº 1/42 “Pela salvaguarda e reestruturação do Parque
Recreativo do Alvito”, a nº 3/43 “Pela devolução dos terrenos do Aquaparque” e a nº
13/57, na qual o MPT lamentava a forma como havia sido feita a “Concessão a privados

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de espaços no Parque Florestal do Monsanto”. Nesse sentido, o MPT defendia que a
autarquia deveria investir mais na protecção e valorização do PFM através da sua
possível integração na Rede Natura 2000, melhorando as acessibilidades, a sinalética, a
segurança e o conforto, de forma que o PFM continuasse a servir a cidade e não a
cidade a servir-se dele.

O sr. DM Miguel Santos (PAN), agora no uso da palavra, detectou alguma


esquizofrenia latente entre quem queria ver a floresta preservada a 100% e as pessoas
que viam em Monsanto um parque urbano com características especiais. Perante aquela
dicotomia, teria que haver limitações ao que se pensava fazer. Por exemplo, não poderia
haver redução da biodiversidade, nem da mancha verde de Monsanto. Também não era
aceitável que fossem construídos equipamentos que reduzissem aquela mancha verde.
Monsanto teria que servir como zona de fruição colectiva para pessoas e animais.
Haveria que se pensar como é que as pessoas lá poderiam chegar, para que Monsanto
pudesse ser um bocadinho de biodiversidade que permitisse avançar pelos corredores
verdes previstos, de modo a crescer e não a diminuir, não sendo solução as pessoas
levarem o seu veículo particular para o meio de Monsanto e de seguida organizarem
congregações ou festivais de Verão, representando Monsanto uma mera capital do
automóvel. Haveria também que se pensar em meios de transporte que permitissem que
números mais apreciáveis de famílias pudessem chegar e usufruir de Monsanto,
nomeadamente, pela utilização de bicicletas dentro do Parque. Como a CML previa
programas para criar parques de bicicletas, Monsanto seria um dos locais mais evidentes
para se proporcionar bicicletas aos cidadãos. Finalmente, quanto à questão dos
equipamentos, desde que não se reduzisse a mancha verde, nem a biodiversidade, não
haveria razão para que eles não existissem, limitando-se, contudo, a especulação
imobiliária e outras questões negativas com ela relacionadas.

O sr. DM Diogo Moura (CDS-PP), agora no uso da palavra, começou por se


congratular com a certificação recebida pelo PFM no âmbito do Forest Stewardship
Council. Recordou que o Plano de Gestão Florestal do PFM fora aprovado pela CML e
pela AML em 2012, definindo os vários usos do Parque e as medidas e as intervenções
a efectuar, constituindo um instrumento básico de ordenamento florestal, que regulava
as intervenções de natureza cultural e de exploração, visando a produção sustentada dos
bens e serviços originados nesse espaço florestal. Deparava-se, porém, com alguns
constrangimentos que exigiam soluções, tais como equipamentos abandonados ou

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desactivados, como o Panorâmico de Monsanto e o Aquaparque, áreas de lazer e recreio
que necessitavam de revitalização e manutenção, bem como espaços utilizados, quer
pelo Estado, quer por privados, que importava reverter para uso público do Município.
Para o efeito, listou uma série de concessões que decorriam mal no PFM, como o
Restaurante O Papagaio da Serafina (há mais de 20 anos sem pagar renda), o Parque de
Insufláveis - Viva a Brincadeira (no Parque Recreativo do Alto da Serafina), o
Restaurante Luneta dos Quartéis (vandalizado e roubado em 2008), o Clube de
Radiomodelismo Automóvel de Portugal (na Cruz das Oliveiras, Alto da Vinha) e o
Clube Português de Tiro a Chumbo, para além das últimas concessões que a CML vinha
deferindo. Nesta reflexão, relembrou que o PFM se encontrava protegido pelo Regime
Florestal Total e que era não apenas o pulmão da capital, como também da própria Área
Metropolitana de Lisboa. Todavia, assistira-se à cedência de espaços e ao corte das
manchas verdes, tanto pela CRIL como pela A5, pelo que seria essencial que o
executivo optasse entre Monsanto ser um parque florestal com algumas valências e
equipamentos que servissem a cidade ou torná-lo num parque urbano. Acrecentou ser
importante não se ceder às pressões urbanísticas, parando-se de vez com as sucessivas
desafectações do regime florestal total. Para o CDS era claro que Monsanto deveria
continuar a ser predominantemente um parque florestal respeitando, assim, o seu regime
florestal, criando-se e mantendo-se espaços de lazer e recreio de serviço à população.
Recomendavam sistemas de circulação pedonal e viária sustentáveis, como ciclovias,
em detrimento de parques automóveis que albergassem demasiadas viaturas, pelo que
aplaudia a aposta nos transportes públicos e na proposta do ECOBUS. Pretendiam
estruturas de lazer, de recreio lúdico-desportivas de média dimensão que troussessem
pessoas ao Parque, atendendo à sua capacidade máxima, de modo a evitar a sua
degradação, como a que se assistira com a Semana Académica de Lisboa, em 2013.
Porque queriam um parque vivido, mas não invadido, pugnavam por um plano efectivo
de biodiversidade, lutando para que a área de recreio não ultrapasasse 1/3 da ocupada
pelas áreas verdes, protejendo-se as espécies arbóreas e os animais existentes,
implementando-se acções de sensibilização e melhor conhecimento do Parque e das
suas valências. Por fim, deveria ser garantido um sistema de vigilância e segurança
eficaz para que as pessoas escolhessem Monsanto como uma opção segura e viável, sem
se cair na tentação de querer levar o PFM para um patamar de parque urbano.

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O sr. DM Ricardo Robles (BE), agora no uso da palavra, retirou como primeira
conclusão que seria fundamental ouvir-se quem tinha participado, utilizado e dado o seu
melhor contributo para o PFM, desde as várias associações às pessoas que diariamente
se envolviam na preservação de Monsanto, e que por isso deveriam ser auscultadas
aquando da tomada de decisões, o que não vinha acontecendo. Reconhecendo que havia
muita coisa bem feita em Monsanto, sublinhava dois exemplos recentes que considerava
gravosos. O primeiro, o campo de tiro, que continuava a ser um problema muito grave
pela contaminação de solos com a presença de chumbo, e que requeria respostas por
parte da vereação. Em segundo lugar, os planos de concessões, pois não se podia olhar
para Monsanto como um espaço de rentabilização de activos, numa perspectiva de
negócio, sobre um património tão valioso para a cidade de Lisboa. Como exemplos
apontava a Casa do Presidente, a Quinta da Pimenteira, as Casas de Função e o Moinho
do Penedo, mesmo que o rotulassem como de ecoturismo. Para si, constituía uma
perspectiva errada argumentar-se ser apenas possível recuperar aqueles espaços através
do investimento privado, ideia que deveria ser abandonada. Percebera na intervenção do
sr. vereador que existia um novo recuo que saudava, o primeiro sobre os campos de
basquetebol, um segundo sobre a denominada Estufa Hostel, porque violava o PDM, e
agora nas Casas de Função que se previa concessionar. Como não considerava esses
recuos um demérito ou qualquer derrota política, apelava para que também a ideia da
concessão da Casa do Presidente e de outros equipamentos fosse completamente
abandonada, e para que o PFM deixasse de ser visto como um negócio.

A srª DM Ana Páscoa (PCP), agora no uso da palavra, disse que retirara das
várias intervenções a absoluta necessidade da preservação de Monsanto, como o
verdadeiro pulmão da cidade de Lisboa, tanto na produção de oxigénio, como no
combate às emissões poluentes e às mudanças climáticas. Naquele património natural,
de riqueza botânica, e de espaço de lazer e prática desportiva, existiam numerosos
equipamentos à disposição dos lisboetas e visitantes, como miradouros, parques
recreativos e de merendas, Centro de Interpretação, o Espaço Biodiversidade, viveiros e
circuitos de manutenção, entre outros. Porém, Monsanto não podia ser disponibilizado
para a prossecução de negócios especulativos, com fragmentações de terrenos, que
afectariam o seu equilíbrio, sem o correspondente investimento e resolução de
problemas que Monsanto apresentava. Lembrou que, em 2015, a maioria PS na CML
aprovara, com os votos contra dos vereadores do PCP, um concurso onde se adjudicava

21
a uma empresa privada a exploração da Quinta da Pimenteira, da Residência Oficial da
CML, do Moinho do Penedo e outras casas de função, numa clara delapidação do
património da cidade, e que isso iria, na práctica, impedir o acesso dos lisboetas a
equipamentos, como os campos de basquete do Moinho do Penedo. Ouvira, com
agrado, a referência da Lei de Bases do Parque Florestal em se “promover e garantir o
acesso à utilização social da floresta” ou o sr. vereador Sá Fernandes referir que um dos
objectivos seria ”recuperar o património e aproximar o parque da cidade”. Defendeu
que as intervenções a realizar naquele espaço deveriam passar apenas pela melhoria das
condições das estradas, da iluminação, da recuperação do edificado, da sinalética, dos
equipamentos desportivos e de lazer e dos parques recreativos, entre outros. Asseverava
que essa não vinha sendo a política seguida pela CML, que optara por desconfigurar o
PFM, através de concessões e privatizações de vários espaços que deixariam de ser de
fruição pública, permitindo aos privados converter essas áreas em unidades hoteleiras
que aumentariam a carga e a intensidade de utilização, contrariando, assim, o Plano de
Ordenamento e Requalificação do Parque de Monsanto. Apesar disso, acreditava que,
com o contributo de todos, seria possível alcançar-se um rumo diferente, para que
Monsanto continuasse a ser um espaço de fruição pública.

O sr. DM Magalhães Pereira (PSD), agora no uso da palavra, afirmou vir a


assistir-se a uma sequência ininterrupta de atentados ecológicos contra o PFM, com a
redução do espaço útil em mais de 20%, temendo que o Parque não resistisse a mais
ablações, caso fossem prosseguidos os anunciados planos municipais. Tratando-se de
um espaço vital, era por este pulmão que a cidade respirava, encontrando o seu
equilíbrio. Mas, sucedendo-se privatizações dos componentes essenciais do Parque,
erguendo-se hotéis e restaurantes que resultavam em novas impermeabilizações, e com
o uso para eventos de massas, estes deixariam cicatrizes indeléveis, como a destruição
do coberto vegetal, a alteração das condições de subsistência da avifauna e da flora, ou
os abates indiscriminados de arvoredo autóctone. Recordou que a AML já antes
declarara, por unanimidade, o estado de “Tolerância Zero” a novas depredações, embora
lhe parecesse que nada conseguia afastar a CML de considerar Monsanto como um
depósito de terrenos para construção e especulação imobiliárias. Sustentou que se
distorcia o conceito de ecoturismo para justificar renovadas edificações, prometiam-se
acalmias de tráfego e de atravessamento, mas nada via concretizar-se, pelo que seria
preciso devolver ao Parque, por todos os meios efectivos, formais e legais, todas as

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áreas que, por anteriores incúrias, lhe haviam sido retiradas e ainda não devolvidas,
fosse no Pólo Universitário, na Av. dos Bombeiros Voluntários, no antigo Aquaparque,
nas Pimenteiras, no Restaurante Panorâmico ou no Campo de Tiro. Por isso, seria
preciso proibir a celebração de eventos de massas e que, de uma vez para sempre, os
responsáveis municipais assegurassem e fizessem respeitar a Tolerância Zero para
novas depredações em Monsanto.

A srª DM Sofia Cordeiro (PS), agora no uso da palavra, reconhecendo a


qualidade das intervenções, tanto das associações, como dos cidadãos particulares,
assinalou que, apesar de já não ser fiel ao projecto original, Monsanto mantinha a
finalidade para que fora concebido como Parque Florestal, ou seja, uma zona arborizada
com recintos para a prática desportiva e para o lazer, como lagos, miradouros e zonas de
estadia. Lembrou que, por ser um Parque Florestal, não se tratava de uma reserva
natural, mas antes de uma zona destinada ao usufruto público, que servia a cidade de
Lisboa como seu pulmão, como zona de recreio e lazer para os munícipes, e até como
um ponto de atracção turística, criando e educando novos públicos e permitindo a
diversificação da oferta turística da cidade. Como Parque Florestal, deveria ser
protegido, criando-se condições para a sua fruição, as quais passavam pela manutenção,
recuperação e reabilitação de muitas das infraestruturas existentes, mesmo que não
tivessem utilização pública e não pudessem ser usufruídas. Nessa medida, o PS entendia
serem importantes os passos dados pelo actual executivo municipal, no sentido de
dinamizar economicamente o Parque e garantir que a cidade ganhasse com a
recuperação e colocação daquele património à disposição da população, facto que lhe
permitira ser agraciado com o galardão do Forest Stewardship Council para a gestão
florestal. Admitia que a dinamização da economia do Parque, a par duma equilibrada
política de gestão florestal, permitiria ao Município garantir a sua potenciação. Ouvira
dizer durante o debate que a área de construção dentro do PFM não iria ser aumentada,
que se iria proceder à reabilitação de estruturas que se encontravam inacessíveis à
população, bem como que a área arborizada iria ser preservada de forma equilibrada e
sustentável, plantando-se 28 mil novas árvores, substituindo-se mais de 15 mil
exemplares e controlando-se as espécies invasoras. Recomendou uma aposta renovada
no espaço Monsanto, salientando o Centro de Recuperação de Animais Silvestres, a
educação ambiental e a disponibilização de informação sobre toda a oferta de
património cultural e ambiental do PFM aos visitantes, bem como fosse melhorada a

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estratégia apresentada e a oferta deste polo de atracção, tanto pela sua estrutura verde e
corredor ecológico, como pelo seu lado de responsabilidade ambiental.

A última oradora, a srª DM Cláudia Madeira (PEV), agora no uso da palavra,


sintetizou que o objectivo do GM “Os Verdes”, em propor o presente debate, fora o de
sensibilizar para a necessidade de valorizar e preservar o PFM, alertando para a
urgência em se travar a venda a retalho do espaço, dando à população e às associações a
oportunidade de se poderem pronunciar, em vez de as decisões resultarem apenas de
negociações entre o executivo e as entidades privadas. Lembrou também que o PFM
constituía um verdadeiro pulmão da cidade que era essencial para o equilíbrio da densa
malha urbana metropolitana e para o combate às alterações climáticas, e que possuía um
património insubstituível, pela sua riqueza a nível de fauna e de flora e das condições
privilegiadas para o lazer e para as actividades de sensibilização e educação ambientais.
Argumentou que o Parque não poderia estar sujeito a ocupações susceptíveis de afectar
o seu equilíbrio global, embora se viesse a assistr, ao longo dos últimos anos, a
verdadeiros atentados e pressões sobre aquela estrutura ecológica. Relembrou a intenção
de ali se ter pretendido construir a Feira Popular e o Hipódromo, mais a proposta de um
novo campo de rugby, o Campo de Tiro a Chumbo, com o grave problema da
contaminação dos solos que tardava em ser resolvido, a subestação da REN e, mais
recentemente, projectos para unidades hoteleiras e de restauração. Constatava uma
progressiva desconfiguração de Monsanto, através da concessão e da privatização de
vários espaços que deixavam de ser de fruição pública. Apontou áreas significativas do
Parque que já se encontravam alienadas e construídas, e que tal acontecera muitas vezes
através de meros despachos ou da própria suspensão do PDM. Insistiu que não sendo
Monsanto um banco de terrenos, não poderia continuar a ser retalhado e vendido. Para
si, era inaceitável que o executivo dissesse que já haveria soluções para o Campo de
Tiro e para o Aquaparque, mas, simultaneamente, cedesse terrenos a privados para
projectos nada compatíveis com um espaço florestal, o que contrariava e desrespeitava
as inúmeras propostas aprovadas pela AML. Dos aspectos a merecerem resolução
destacava a sinalética, os transportes, a vigilância e a própria gestão dos espaços verdes,
mas durante o debate constatara que o pelouro dos Espaços Verdes apresentara
propostas avulsas e contrárias às deliberações já aprovadas na AML. Em alternativa,
recomendava que se fosse ao encontro das inúmeras propostas de valorização, respeito e
preservação do PFM entretanto aprovadas na AML. Para o GM do PEV seria

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fundamental existir um Parque dedicado às pessoas, com o aumento da área florestal,
sem novas construções, e que a CML defendesse Monsanto como espaço verde,
centrando-se no reforço da ideia original, que esteve na base da sua formação como
Parque Florestal por excelência, sem o utilizar como reserva de terrenos urbanizáveis.
Para concluir, anunciou que “Os Verdes”, no mesmo dia do debate em curso, haviam
entregue na Assembleia da República um Projecto de Resolução, no qual se propunha a
classificação do PFM como área protegida, pela necessidade de salvaguardar um espaço
sobre o qual vinha incidindo um nível de insensatez que poderia levar à sua destruição.
Mais informou que já entregara na Mesa um documento específico, com contributos e
recomendações para serem considerados no âmbito do debate sobre o PFM.

V - Encerramento do debate temático

A srª Presidente da AML, depois de agradecer todos os contributos, congratulou-


se, em particular, com a presença do sr. vereador dos Espaços Verdes, na expectativa de
que este responsável municipal tivesse tomado notas pertinentes para poder melhorar os
planos da CML. A sessão terminou cerca das vinte horas e cinquenta minutos.

VI - Opinião dos relatores e das forças políticas

Os relatores, bem assim como as forças políticas representadas na 4.ª Comissão


reservam, as suas opiniões e o seu sentido de voto para o Plenário da Assembleia
Municipal, onde seja debatido e votado o presente Relatório.

VII - Conclusões e Recomendações

A partir das diversas intervenções no debate temático sobre o Parque Florestal


de Monsanto, sintetizam-se as seguintes recomendações:

1 - Na sequência da aprovação pelo presente executivo da CML do aumento da


área de proteção no novo Plano Diretor Municipal, associada ao Plano de Gestão
Florestal e à certificação do Forest Stewardship Council obtida pelo Parque Florestal de
Monsanto, bem como à inclusão do PFM no Plano de Ação Local para a
Biodiversidade, a CML prossiga uma política de gestão que reconheça e valorize as
valências sociais, culturais e ambientais;

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2 - Que a CML proceda à audição e recepção de contributos tendentes a
parcerias e protocolos com o Governo, as Juntas de Freguesia e as associações que vêm
participando na salvaguarda do PFM;

3 – Sejam reforçados e promovidos novos programas e medidas de protecção


activas de manutenção, preservação e sustentabilidade do PFM;

4 - Que a CML elabore e apresente aos órgãos municipais um Plano Estratégico


actualizado para o PFM;

5 – Que a CML diligencie junto do Governo, no sentido da adopção das medidas


necessárias à revalidação da legislação apropriada que permita atribuir uma
classificação como Área Protegida de Interesse Regional ao PFM e eventual
alargamento do seu espaço de influência;

6 - Que a gestão do espaço florestal, ainda que permitindo a fruição de Monsanto


pelos cidadãos, tal como apontam os Planos de Gestão Florestal e o Plano de Ação
Local para a Biodiversidade, não tenha implicações na redução da mancha verde ou da
biodiversidade;

7 – Seja ampliada a área do PFM, nomeadamente analisando a criação, entre


outros, de um corredor verde que ligue a Tapada das Necessidades e o Cemitério dos
Prazeres à Tapada da Ajuda, complementando as ações em curso, como é exemplo a
renaturalização dos terrenos do ex-Aquaparque que aumenta a mancha verde do PFM, a
extensão para Sul, através do Vale de Alcântara ou do corredor do Rio Seco, ou a
ampliação em curso até à Calçada da Tapada e Instituto Superior de Agronomia;

8 - Não sejam autorizadas políticas de delapidação do PFM, como as que


viabilizaram no passado a construção do Polo da Ajuda, da Radial de Benfica, da CRIL
ou do Hospital S. F. Xavier ou da subestação da REN, garantindo sempre a ampliação
da área do PFM;

9 – Que os investimentos realizados no parque sejam alvo de discussão e


apreciação públicas, tendo como premissa base o interesse público, a recuperação de
património municipal e beneficiem o acesso e usufruto públicos ao PFM;

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10 - Que as soluções de reabilitação de edifícios devolutos sejam publicamente
apresentadas, procurando ir ao encontro do projeto original e viabilizando a sua
preservação, no respeito da legislação existente;

11 - Que, apesar de fora do âmbito da gestão do PFM, sejam adequadamente


estudados e resolvidos pela CML os problemas de degradação existentes nos Bairros da
Liberdade e da Serafina;

12 - Que seja assegurada a periódica vigilância e segurança do Parque Florestal


de Monsanto, e dos seus utilizadores, através do reforço de meios humanos e técnicos;

13 – Que, no contexto do Mapa de Pessoal do Município, sejam reforçados os


recursos humanos afectos à gestão de espaços verdes do PFM;

14- Sejam urgentemente resolvidos problemas detetados, nomeadamente


melhorando a sinalética, dando execução às acalmias de tráfego anunciadas e alargando
essas medidas, aumentando o sistema de trilhos existente, melhorando os transportes
com o anunciado Ecobus, dando prioridade à circulação de bicicletas ou outros meios de
mobilidade suave;

15 – Seja garantida a não promoção de eventos que comprometam o equilíbrio


ecológico do PFM, afectando a fauna e a flora;

16 – Sejam requalificados os Parques Recreativos, nomeadamente o do Alvito;

17 – Sejam instalados mais bebedouros e comedouros públicos.

O presente relatório foi Aprovado por Unanimidade.

Lisboa, Assembleia Municipal, 1 de fevereiro de 2017,

A Deputada Relatora e Presidente da 4.ª O Deputado Relatora


Comissão

Sobreda Antunes
Sofia Cordeiro

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VIII - Anexos

Anexo I - Proposta nº 1/PEV/2016 “Debate sobre o Parque Florestal de Monsanto”:

www.am-lisboa.pt/301000/1/004188,000257/index.htm

Anexo II - Apresentação do sr. vereador José Sá Fernandes “Estratégia para o Parque


Florestal de Monsanto”:

http://debaterlisboa.am-lisboa.pt/documentos/1460656101T6hTM1fo9Vp89WD6.pdf

Anexo III - Apresentação do sr. João Pinho, vice-presidente do Instituto da Conservação


da Natureza e das Florestas “O Parque Florestal de Monsanto e as Políticas Florestais
em Portugal”:

www.am-lisboa.pt/documentos/1469662614N3nDW4dx8Eo90SC7.pdf

Anexo IV - Recomendações anteriormente apresentadas pelos GMs e aprovadas no


plenário da AML.

Anexo V - Projecto de Resolução na AR, para classificação do PFM como área


protegida.

Anexo VI – Intervenções do público na sessão de apresentação do relatório em


14.2.2017.

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