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Goiânia, 2018
Abstract:
Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas para o meio ambiente e
Desenvolvimento, era assinada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
do Clima (UNFCCC), que colocava na agenda internacional a questão das mudanças
climáticas, assunto cada vez mais preocupante no cenário internacional. Partindo desta
perspectiva, o Brasil buscou, desde a criação da nova Constituição em 1988, adotar uma
postura internacional ambientalmente responsável. Apesar de ser visível em todos os
governos, é no período Lula que o conflito entre desenvolvimento e preservação do meio
ambiente é mais claro. Nesse sentido, o presente artigo procura entender como o governo
se comportou internacionalmente e domesticamente em relação às questões ambientais.
Para tanto, foi analisada a inserção do Brasil no regime de mudanças climáticas,
elencando seus paralelos com as políticas domésticas, utilizando dados sobre o
desmatamento na Amazônia e ressaltando a influência direta que este possui em relação
às emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil. Desse modo, foi possível visualizar a
relação intrínseca entre a política doméstica e a política externa do Brasil nesse quesito e,
com isso, entender como as questões relacionadas às mudanças climáticas foram
incorporadas na agenda doméstica durante esse período, que vai de 2003 a 2011.
Com uma série de relatórios feitos pelo IPCC, diversos países preocupados com a
situação climática do planeta se dispuseram a criar a Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 1992, que divide os Estados signatários em dois
grupos: pertencentes ao Anexo I, composto por países desenvolvidos (membros da
OCDE) e não pertencentes ao Anexo I, composto pelos demais países (VIOLA, 2002).
Logo depois, em 1997, é assinado o Protocolo de Quioto, que dá maior visibilidade para
esse movimento.
Para tanto, será feito um breve histórico do Regime de Mudanças Climáticas até
o ano em que Lula é eleito (2002), bem como será revisitada a inserção brasileira nesse
contexto. Tendo feito isto, será feita uma análise do período em que Lula está no poder
no que tange sua preocupação com as questões globais de meio ambiente e mudanças
climáticas e com essa análise se buscará entender como esse contexto internacional afetou
as políticas domésticas dessa temática.
O meio ambiente tem ocupado cada vez mais a agenda internacional. Desde a
década de 1960, as principais potências econômicas mundiais como Estados Unidos e
União Europeia incluíram as questões ambientais em suas discussões internacionais. Tal
movimento levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a convocar uma grande
conferência para a discussão ampliada sobre o tema entre os países participes da
organização.
O tema avança quando, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, é apresentada
a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). A
Convenção-Quadro colocava no debate central a questão das mudanças climáticas, além
de trilhar o caminho para a elaboração de metas mais claras, através da Agenda 21, no
lugar de objetivos vagos e abrangentes. (LAGO, 2007)
A Agenda 21 foi assinada em junho de 1992 por 179 países, e pode ser definida
de maneira geral como um instrumento de planejamento participativo que visa o
desenvolvimento sustentável. É quando se consolida a ideia do “agir localmente para
impactar globalmente”. Através desse documento, a ONU e os países participes
“procuraram identificar os problemas prioritários, os recursos e meios para enfrenta-los e
as metas para as próximas décadas” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1995).
A divisão dos países nesses dois grupos gerou intenso debate, uma vez que os
países pertencentes ao Anexo I se viram presos aos compromissos obrigatórios de
emissões máximas a serem cumpridos até o ano de 2010, enquanto que os não
pertencentes ao Anexo I não eram obrigados a cumprir metas tão severas em um primeiro
momento. Era o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Com isso,
países importantes, como os Estados Unidos, travaram o acordo domesticamente
(VIOLA, 2002).
Tendo dito isso, é possível perceber que os primeiros anos do século XXI foram
marcados por muitos debates sobre a temática ambiental, em especial sobre mudanças
climáticas, reforçando o caráter permanente que este assunto assumiu na agenda global.
Mesmo assim, até então pouco fora efetivamente realizado, ou acordado em nível
internacional para que houvessem mudanças significativas.
Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito em 2002, para cumprir seu mandato de 2003
até o final de 2006, porém foi reeleito e permaneceu na presidência até o final de 2010.
De maneira geral, Lula é tido como um dos presidentes mais emblemáticos do Brasil.
Essa fama, resulta, segundo Ricupero (2010) de uma confluência de fatores internos e
externos favoráveis ao Brasil nesse período, como por exemplo, a estabilidade política e
econômica sem precedentes.
Fonte: PRODES/INPE
Gráfico 2-Evolução das emissões brutas de GEE no Brasil entre 1990 e 2015 (Mt CO2 e)
Fonte: SEEG
Na primeira fase do Plano, que foi de 2004 a 2008, foram criados mais de 25
milhões de hectares de Unidades de Conservação federais, além do reconhecimento de
10 milhões de hectares de Terras Indígenas. (MMA, 2018). Os resultados podem ser
vistos no Gráfico 1 (acima), em que o desmatamento na região sai de 27,8 mil km² em
2004 para 19 mil km² em 2005. Fato que proporcionalmente diminuiu as emissões de
GEE do país no mesmo período.
Quadro 1-Emissões brutas do Brasil, por setor, de 1970 a 2015 (em MtCO2e)
Fonte: SEEG
Conclusão
Tendo dito isso, é possível concluir que o Brasil no período que compreende o
Governo Lula (2003-2011), conseguiu adotar medidas eficazes no sentido de reduzir as
emissões de CO2e. Desde o começo de seu governo até o final, houve uma redução no
desmatamento da Amazônia, uma vez que esta prática era a maior responsável pelas
emissões desses gases pelo Brasil.
O marco dessa mudança no que tange à atenção dada pelo governo ao meio
ambiente e em especial à região amazônica é ilustrada pela criação da Política Nacional
de Mudanças Climáticas, que busca não só institucionalizar as mudanças e resultado
alcançados até aquele momento, mas também criar um legado para a temática no país.
Essa mudança na postura brasileira fica ainda mais clara quando observados os
marcos apontados no trabalho. A Constituição de 1988, apesar de expressar a boa vontade
em lidar com as questões ambientais, não se mostra tão eficaz, uma vez que os dados de
emissões apontam o aumento gradual dessas no período que sucede o documento. A
questão passa a apresentar resultados positivos significativos apenas quando é colocado
em caráter prioritário pelo presidente Lula.
Com isso, é possível constatar que houve em certa medida coerência entre a
postura internacional exercida pelo Brasil e as ações tomadas em ambiente doméstico,
demonstrada pela sua atuação na Conferência das Partes de Copenhague em 2009, na qual
o país se voluntaria a reduzir suas emissões ao mesmo tempo em que era aprovado no
Congresso Nacional a Política Nacional de Mudanças Climáticas.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Cássia. Média de expansão do PIB no governo Lula foi de 4%: taxa ficou
abaixo do padrão histórico dos ... . O Globo, 04 set. 2010. Economia, p. 1. Disponível
em: <https://oglobo.globo.com/economia/media-de-expansao-do-pib-no-governo-lula-
foi-de-4-taxa-ficou-abaixo-do-padrao-historico-dos-2956712>. Acesso em: 04 maio
2018.
LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo: o Brasil e as três
conferências ambientais das Nações Unidas. Brasília: FUNAG, 2007.