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Universidade Federal de São Paulo

Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


Programa de Pós-Graduação em Educação

Atividade de Avaliação

Seminário: Modernidade, pós-modernidade: estudos comparativos sobre


sociedade, cultura, educação e trabalho.
Docente: Tania Maria Rechia Schroeder
Nome: Cristiane Flores dos Santos – RA: 121038

As sociedades são mutáveis e dinâmicas, e ao longo dos anos essas


transformações influenciaram significativamente nas relações culturais,
educacionais e de trabalho. Um dos períodos mais marcantes de todas essas
mutações foi durante a Modernidade e a Pós-Modernidade, uma vez que, os
acontecimentos advindos desses períodos ainda permeiam fortemente as
discussões e o comportamento de nossa sociedade contemporânea.
A modernidade surge a partir do rompimento com o pensamento
medieval, no que Maffesoli (2011) nos dizer ser uma “pós-medievalidade”,
assim como ocorre com a pós-modernidade ao suceder a modernidade. A
modernidade foi permeada pelos discursos de racionalidade ou razão
instrumental, impulsionada pelos pensadores iluministas como Descartes e
Kant, objetivou organizar uma sociedade pautada pelo saber e pela razão,
superando toda a sensibilidade, crenças e o senso comum. Maciel (2008) no
diz que, a modernidade veio para superar a religião e quebrar seus vínculos
metafísicos, e a ciência como seu substituto, seria o saber legitimo para
explicar os fenômenos e resolver os problemas, conduzindo a sociedade àa
emancipação humana e ao progresso.
Para que esse progresso, do qual tanto ansiava a sociedade moderna,
fosse possível,, ocorreu uma das transformações mais expressivas desse
período, que foi o advento da industrialização e, consequentemente, as
relações capitalistas de trabalho. Segundo Hans (2017) apud Arendt, a
sociedade moderna, enquanto sociedade do trabalho, anula toda a
possibilidade de agir, rebaixando o homem a um animal laborans (animal
trabalhador). A sociedade industrial foi marcada pela negatividade e por uma
sociedade disciplinar, a qual as pessoas não tinham o direito, onde havia as
proibições, e que levavam essas pessoas a tornarem-se o, ao que Foucault
(2000) nos diz ser sujeitos de obediência, ou seja, docilizar e treinar os corpos
para voltá-los ao trabalho. Essa estrutura mecânica voltada para a produção,
torna a modernidade fechada e sistematizada, com um tempo e uma história
linear e continuo. (MAFFESOLI, 1998)
Outra característica relevante do período moderno foi com relação ao
conhecimento. Sendo este pautado por uma concepção racionalista de mundo,
o saber se tornou instrumental, se distanciou da realidade da vida, do mundo
tal como ele é e de toda subjetividade que permeia as relações, uma vez que,
seu objetivo era do de formular grandes sistemas universais, em que a verdade
era tomada como única, geral e aplicável em qualquer tempo e lugar. Com
issto, buscava-se a superação de toda e qualquer sensibilidade, negando a
exaltação do sentimento de vida.

A ciência, para o filosofo moderno, herdeiro do Iluminismo, era vista


como algo auto-referente, ou seja, existia e se renovava
incessantemente com base em si mesma. Em outras palavras, era
vista como atividade “nobre”, “desinteressada”, sem finalidade
preestabelecida, sendo que sua função primordial era romper com o
mundo das “trevas”, mundo do senso comum e das crenças
tradicionais, contribuindo assim para o desenvolvimento moral e
espirito da nação. (prefacio, BARBOSA, 1985, p. ix) (LYOTARD,
2008)

De acordo com Maffesoli (1998), esse excesso de racionalismo acabou


por esgotar a si mesmo e limitar-se, por ter sido instrumento de análise da vida
individual e social, não conseguiu ser capaz de compreender o
desenvolvimento de uma nova vida que surgia em meio a contradições, uma
vez que “é preciso compreender que o racionalismo, em sua pretensão
cientifica, é particularmente inapto para perceber, ainda mais apreender, o
aspecto denso, imagético, simbólico da experiência vivida.” (p.26)
Essa visão mecanicista de racionalidade, utilitarismo, individualismo,
marcada por identidades intangíveis, verticalidade nas relações que prevaleceu
na modernidade, já não tem mais eficácia quando novas mudanças
socioculturais surgem, durante a transição dos séculos XIX e XX, pois esse
sistema fechado em que mergulhou a modernidade já não era capaz de
acompanhar a mutação social emergente que, exigia uma nova formatação.
De acordo com Maffesoli, para que ocorresse essa “metamorfose” foi
necessário, o que ele chama de saturação, a destruição de paradigmas, até
então ditos como verdades universais, para em seguida, ser reconstruído com
os mesmos elementos daquele que foi descontruído.
A partir da proposição sobre a saturação, dá-se início ao pensamento
pós-moderno. Sendo ele um paradigma de pensamento e uma crítica àa
falência da modernidade, não há uma marcação temporal para determinar seu
começo. No entanto, há alguns autores como Habermas (1990) e Bauman Commented [Cds1]: Ver a referencia no texto bernadete

(ano), que consideram que a modernidade não foi superada, ou seja, que
existe não uma pós-modernidade, que apenas avançamos de uma
modernidade com características sólidas para uma modernidade liquida, em
que é possível utilizar a razão de forma dialógica. Commented [MS2]: Mesmo? Não seria dialética? É que
Dialogia é um termo bem Bakhtiniano. kkkkkkk
De acordo com Coelho (2011) a palavra pós-modernidade tem seu
sinônimo no termo pós-industrial, devido a sociedade pós-industrial ser
resultado de todo o processo de industrialização e das relações sociais
produzidas nesse período do século XIX. Ainda de acordo com o autor, a pós-
modernidade pode ser dividida em duas fases: A Primeira Idade e Segunda
Idade, sendo esta caraterizada pela sociedade de produção em massa e pela
revolução das máquinas e meios de produção, e aquela, pela sociedade da
televisão, dos meios de comunicação e da tecnologia. Por isso Maffesoli (2011)
irá definir a pós-modernidade como “a sinergia de fenômenos arcaicos com o
desenvolvimento tecnológico”. (p.21), devido a retomada de conceitos - já
considerados ultrapassados àa modernidade – como forma de ultrapassar os
limites do racionalismo moderno.
Essa junção de conceitos, faz da pós-modernidade uma conjunção de
opostos, em que existe a união de elementos totalmente distintos, mas que ao
mesmo tempo possuem uma certa harmonia. A exemplo disso, podemos
observar o estilo barroco, em que diferentes elementos resultam, no que
Maffesoli (1998) diz ser uma “singular organicidade”, “[...] espécie de
aglutinação, ao mesmo tempo díspar, e totalmente unida dos mais diversos
elementos”. (p. 69). Com efeito, a pós-modernidade trouxe toda essa eclosão
de junções, devido a dicotomia que havia na modernidade, uma vez que, só
era permitido optar por uma preferência ou por um lado. Todavia, a realidade
se apresenta de forma muito mais complexa do que se manter dentro de uma
classificação fechada.
Outro aspecto importante do período pós-moderno diz respeito àas
mudanças na relação com o saber. Na modernidade o conhecimento é
baseado num sistema de hierarquização, na qual determinadas ciências têm
maior valoração sobre outras. Há também a figura de legitimação desse saber,
pois sendo este vertical, apenas admite que determinadas pessoas o
transmitam e sejam detentores desse saber, como por exemplo, a figura do
professor, médico, engenheiro, entre outros. Dessa maneira, o único
conhecimento tido como verdadeiro era aquele ligado àas ideias da razão
intrínseca e empirista, não reconhecendo a sabedoria popular e o senso
comum. Maffesoli (1998) faz uma análise sobre, apontando para a exclusão
que a modernidade faz em relação a este senso comum, justamente por estar
em um sistema fechado e racional.

Enquanto que para o nacionalismo “o terceiro é excluído”, o


conhecimento tradicional, a sabedoria popular, ou simplesmente a
experiência empírica nos ensinam que “o terceiro é sempre dado”
(tertium datum), que é impossível fazer repousar todas as coisas
sobre uma discriminação estrita, e que, em seus diversos aspectos, a
vida é um movimento perpétuo onde se exprime a união dos
contrários. (p.29)

Em contrapartida, a pós-modernidade permite que o conhecimento


possde ser dado de forma compartilhada, sendo possível fazer uma construção
coletiva e horizontal, quebrando com a lógica de hierarquização. Podemos citar
a respeito, o conhecimento difundido através das tecnologias da informação,
como por exemplo, o site Wikipédia, onde as informações são fornecidas por
diversas pessoas, que não são necessariamente uma autoridade cientifica,
mas que transmitem o conhecimento através de uma construção coletiva.
A relação do saber já não se encontra tão fechada como nos tempos
modernos, pelo fato da pós-modernidade admitir um saber que seja capaz de
aceitar o caos, as incertezas, um saber que Maffesoli (1998) nos diz ser um
“saber dionisíaco”, em que há uma fragmentação do indivíduo.
Um saber que saiba, por mais paradoxal que isso possa parecer,
estabelecer a topografia da incerteza e do imprevisível, da desordem
e da efervescência, do trágico e do não-racional. Coisas
incontroláveis, imprevisíveis, mas não menos humanas. Coisas que,
em graus diversos, atravessam as histórias individuais e coletivas.
Coisas, portanto, que constituem a via crucis do ato de conhecimento.
(p.10)

Desse modo, podemos concluir que as contraposições entre


modernidade e pós-modernidade são de fato acentuadas, visto que os
acontecimentos decorrentes desses períodos foram marcados por diferentes
momentos na história e em seu processo sociocultural. Enquanto um esta
carregado de razão, o outro procura com urgência estar permeado pela
emoção.
Podemos pensar que pós-modernidade procurou superar a modernidade
e todo o pensamento racionalista, principalmente no campo cientifico,
permitindo que o conhecimento popular também fosse considerado váalido,
para, dessa forma, proporcionar acesso a vários tipos de conhecimento ao
alcance de todos, e não somente o0 conhecimento cientifico e racional que
estava acessível somente àaqueles que eram legitimados a obtê-lo. Nas
palavras de Maffesoli (1998) “[...] o racionalismo abstrato – já não convém, num
momento em que a aparência, o senso comum ou a vivencia retomam uma
importância que a modernidade lhes havia negado.” (p. 15)
É fato que as transformações impostas pelas sociedades pós-industriais
mudaram o estatuto do saber científico, exigindo uma nova postura frente as
mudanças. Todavia, devemos ter a consciência que, por vezes, ainda temos
na contemporaneidade indícios de pensamentos da modernidade, com normas
e hábitos institucionalizados, principalmente em instituições que necessitam
livrar-se dessas amarras, como, por exemplo, a escola, local que sofre
constantemente com os conflitos desses dois paradigmas.

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