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Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto -

CBC2005
Setembro / 2005 ISBN 85-98576-07-7
Volume XII - Projetos de Estruturas de Concreto
Trabalho 47CBC0059 - p. XII274-285
© 2005 IBRACON.

CARACTERÍSTICAS E PARÂMETROS ESTRUTURAIS DE EDIFÍCIOS DE


MÚLTIPLOS ANDARES EM CONCRETO ARMADO CONTRUÍDOS NA
CIDADE DO RECIFE
CHARACTERISTIC AND STRUCTURAL PARAMETERS OF REINFORCED CONCRETE
MULTISTORY BUILDINGS CONSTRUCTED IN RECIFE

Antonio Oscar Cavalcanti da Fonte ; Felipe Luna Freire da Fonte ; Arlen Angélica Hilda Espinosa
Castillo; André Victor Alves da Costa Pedrosa

(1) Professor Doutor, Departamento de Engenharia, Universidade Católica de Pernambuco


email:aocf@unicap.br
(2) Mestre em Engenharia Civil, Divisão de Arquitetura e Projetos Civis de Subestações, CHESF
email:felipef@chesf.gov.br
(3) Bolsista de Iniciação Científica, Departamento de Engenharia, UNICAP
(4) Bolsista de Iniciação Científica, Departamento de Engenharia, UNICAP
Universidade Católica de Pernambuco – Departamento de Engenharia
Rua do Príncipe, Boa Vista, Recife, PE

Resumo
A cidade de Recife, situada no nordeste do Brasil, tem apresentado nas três últimas décadas, um
expressivo aumento na construção de edifícios residenciais de múltiplos pavimentos. Neste período,
observou-sem, a evolução das alturas destas edificações que passaram de 20 pavimentos em 1970 para
50 pavimentos nos dias atuais. Estes edifícios, apresentando esbeltez sempre crescente, têm colocado os
projetistas em situações desafiadoras, para definição de sistemas estruturais que permitam compatibilizar
os requisitos de arquitetura com as condições necessárias à estabilidade. O objetivo deste trabalho é
apresentar um levantamento de características de 236 edifícios de múltiplos andares, em concreto armado,
projetados, e construídos na cidade do Recife, no período 1996 a 2003. Tal levantamento apresenta a
variação dos parâmetros altura, dimensões em planta, número de pavimentos e índice de esbeltez de corpo
rígido. Estes parâmetros são comparados com os de edifícios altos construídos em outros estados do Brasil
e em outros países. Como resultado conclui-se que, alguns dos edifícios modernos construídos na cidade
do Recife, estão incluídos entre os mais esbeltos do mundo.
Palavras-Chave:edifícios altos; edifícios em concreto armado; parâmetros estruturais.

Abstract
The city of Recife, situated in the northeast of Brazil, has presented in the last three decades a great
increase in construction of residential multistory buildings. In this period, the growth in height of these
constructions was also observed, passing from 20 floors in 1970 to 50 floors in the current days. These
buildings, presenting greater slenderness always, have placed the designers in challenging situations for
definition of structural systems to make compatible the requirements of architecture with the necessary
conditions to the stability. The objective of this work is to present some characteristics of 236 reinforced
concrete multistory buildings, designed and constructed in Recife from 1996 to 2003. The paper presents the
variation in parameters like height, plan dimensions, number of floors and slenderness. These parameters
are compared with the ones of tall buildings constructed in other states of Brazil and other countries.
Keywords: multistory buildings ; structural parameters ; reinforced concrete buildings.

Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005. © 2005 IBRACON. XII.274


1 Introdução

A construção de edifícios múltiplos de andares, no Nordeste do Brasil, teve início, na


cidade do Recife, na década de 40 do século passado. Como causa principal para esta
forma de urbanização, apontava-se a pouca oferta de terrenos nos bairros onde eram
desenvolvidas as atividades comerciais à época, associada à busca de empreendimentos
imobiliários economicamente mais atrativos. A difusão da tecnologia de aplicação do
concreto armado às edificações e o aparecimento do elevador, além da vocação da
cidade do Recife para a modernização, contribuíram para esta tendência. Como dado de
interesse, Câmara (1998) cita, no período 1940 a 1965, a construção de 11 edifícios com
alturas variando na faixa de oito a dezesseis andares, que à época eram considerados
como altos. Durante a década de 70, a construção de edificações em altura, foi bastante
impulsionada pela fase de crescimento econômico experimentada pelo país,
constatando--se, na cidade do Recife, o aparecimento de edifícios para uso comercial e
residencial até a altura correspondente a 20 pavimentos. Este panorama da construção
de edifícios de múltiplos andares, se bem que em ritmo bem menos acelerado que na
década de 70, continua até os dias atuais. Observou-se, entretanto, a partir de 1996 a
ocorrência de uma forte e permanente tendência de aumento da altura destes edifícios,
que chegaram a atingir, nos dias atuais, 50 pavimentos. Estes edifícios, apresentando
esbeltez sempre crescente, têm colocado os projetistas em situações desafiadoras, para
definição de sistemas estruturais que permitam compatibilizar os requisitos de arquitetura
com as condições necessárias à estabilidade.

2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é apresentar, características e parâmetros estruturais de


edifícios de múltiplos andares projetados e construídos na cidade do Recife, no período
1996 a 2003.

3 Metodologia

Foi procedido um levantamento de edifícios de múltiplos andares, projetados por três


escritórios de cálculo estrutural da cidade do Recife, no período 1996 a 2003. Tal
levantamento abrangeu 236 edifícios, admitindo-se como altura mínima a correspondente
a 15 pavimentos. Este levantamento considerou como parâmetros de interesse, o número
de pavimentos, a altura da edificação e as dimensões em planta. A partir dos dados acima
levantados, foi possível traçar gráficos e tabelas mostrando a variação da altura das
edificações, ao longo do período, o crescimento do número de pavimentos e a tendência
da variação da esbeltez de corpo rígido. Em seguida, estes resultados foram comparados
com os de algumas edificações de múltiplos andares construídas em outros estados do
Brasil e em outros países.

4 Resultados

4.1 Variação do número de pavimentos dos edifícios no período 1996 a 2003

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50
45

Número de pavimentos 40
35
30
25
20
15
10
5
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Figura 01 - Estudo dos edifícios altos do Recife - variação do número de pavimentos.

A figura 01 mostra o gráfico de variação do número de pavimentos ao longo do período


estudado. Observa-se claramente, uma tendência do aumento do número máximo de
pavimentos, que evoluiu de 35 em 1996 e atingiu 45 em 2001.Deve-se acrescentar que,
esta tendência de verticalização dos edifícios residenciais em Recife, vem ocorrendo
desde os anos 70, onde a altura máxima era de aproximadamente 20 pavimentos, tendo
entretanto, apresentado aumento na velocidade de crescimento a partir de 1996.

4.2 Gráfico freqüência versus número de pavimentos dos edifícios construídos no período
1996 a 2003
25

20
Quantidade de edifícios

15

10

0
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45
Número de pavimentos
Figura 02 - Estudo dos edifícios altos do Recife - Frequência versus número de pavimentos

A figura 02 mostra, correspondente aos 236 edifícios estudados, o gráfico freqüência


versus número de pavimentos. As maiores freqüências (faixa de variação de 15 a 20),
ocorreram para os edifícios de 16, 17, 18 e 20 pavimentos. À medida que o número de
pavimentos aumenta, ocorre uma tendência de diminuição da freqüência correspondente.
No universo estudado a quantidade de pavimentos variou de 15 a 45.

4.3 Parâmetro esbeltez de corpo rígido dos edifícios estudados

Outro parâmetro de grande interesse é a esbeltez de corpo rígido da edificação, segundo


as direções principais X e Y, definida como:

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λ x,y = H / l x,y ( Equação 01 )

sendo :

H – altura total da edificação ; l x,y = largura média segundo as direções X e Y

16
14
12
Esbeltez Máxima

10
8
6
4
2
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Ano
Figura 03 - Estudo dos edifícios altos do Recife - Esbeltez máxima em cada ano ao longo do
periodo 1996 a 2003

A figura 03 apresenta, os valores do parâmetro esbeltez máxima de corpo rígido dos


edifícios, em cada ano ao longo do período estudado. É possível observar a tendência de
crescimento da esbeltez que atinge o valor máximo 14,8 no ano 2000.

Com o objetivo de classificar os edifícios estudados por faixas de esbeltez, adotou-se o


seguinte critério :

λ x,y ≤ 4 -------- edifício de pequena esbeltez

4< λ x,y ≤ 6 ------------ edifício de média esbeltez

λ x,y > 6 ------------- edifício de alta esbeltez

Este parâmetro é um importante indicador estrutural, principalmente quanto às


dificuldades de estabilidade da estrutura, relativamente ao carregamento proveniente da
ação do vento segundo as direções principais X e Y.
Os gráficos da figura 04 mostram, para cada edifício, a esbeltez em função da altura, para
o período 1996 a 2003.
Estudo dos Edifícios Altos do Recife - ano 1996 - Estudo dos Edifícios Altos do Recife Ano 1997
esbeltez : pequena : 10 ; média : 9 ; alta : 05 esbeltez pequena :8 ; esbeltez média : 10 ; esbeltez alta :3
12,000 9,00

8,00
10,000
7,00

8,000 6,00
esbeltez
esbeltez

5,00
6,000
4,00

4,000 3,00

2,00
2,000
1,00

0,000 0,00
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00
altura (m) altura (m)

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Estudo dos Edifícios Altos do Recife Estudo dos Edifícios altos do Recife
esbeltez pequena : 11 - esbeltez média : 07 - esbeltez alta :06 esbeltez pequena : 12 - esbeltez média : 11 - esbeltez alta : 07
Ano : 1998 ANO 1999
14,000 12,000

12,000
10,000

10,000
8,000
esbeltez

esbeltez
8,000
6,000
6,000
4,000
4,000

2,000 2,000

0,000 0,000
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 160,00 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00
altura (m) altura (m)

Estudo dos Edifícios Altos do Recife


Estudo dos Edifícios Altos do Recife esbeltez pequena : 7 - esbeltez média : 7 - esbeltez alta : 16
esbeltez pequena : 9 - esbeltez média : 18 - esbeltez alta : 18
Ano 2000 Ano 2001
16,000 14,000

14,000 12,000

12,000
10,000
10,000 esbeltez
esbeltez

8,000
8,000
6,000
6,000
4,000
4,000

2,000 2,000

0,000 0,000
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00
altura (m) altura (m)

Estudo dos Edifícios Altos do Recife


esbeltez pequena :03 - esbeltez média : 06 - esbeltez alta : 16
Estudo dos Edifícios Altos do Recife
esbeltez pequena : 06 - esbeltez média : 15 - esbeltez alta :15 Ano 2003
14,000
Ano 2002
12,000
12,000

10,000 10,000

8,000
esbeltez

8,000
esbeltez

6,000 6,000

4,000 4,000

2,000 2,000

0,000 0,000
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00
altura (m) altura (m)
Figura 04 - Estudo dos edifícios altos do Recife – gráficos altura versus esbeltez máxima de
corpo rígido.

É possível observar, nos citados gráficos, a tendência de crescimento da esbeltez ao


longo do tempo. Os edifícios que vêm sendo construídos, além do aumento da altura, vêm
também apresentando maiores valores do parâmetro λ, o que significa maior desafio ao
projeto estrutural, pois com o aumento da altura o carregamento lateral do vento cresce.
Para contrabalançar este incremento de carregamento, seria desejável uma diminuição da
esbeltez de corpo rígido, através do aumento, em maior proporção, das dimensões em
planta, o que não vem ocorrendo.

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20
18
1996
16
1997
Quantidade de edifícios

14 1998
12 1999
10 2000
2001
8
2002
6
2003
4
2
0
esbeltez pequena esbeltez média esbeltez alta

Figura 05 – Edifícios construídos no período 1996 a 2003, distribuídos em classes de esbeltez

A figura 05 mostra a distribuição dos 236 edifícios estudados por classes de esbeltez,
segundo o critério estabelecido em 4.3. De acordo com este critério, tem-se: 67 edifícios
de pequena esbeltez, 82 edifícios de média esbeltez e 87 edifícios de alta esbeltez.
Conclui-se que, no período estudado, ocorreu uma forte tendência de construção de
edifícios com esbeltez crescente. A elevação do valor deste parâmetro conduz, sem
dúvida, a um maior desafio do projeto sob o ponto de vista estrutural. Estes edifícios
passam a exigir sistemas estruturais de maior capacidade resistente, principalmente em
relação aos carregamentos laterais provenientes da ação do vento. Uma forte interação,
do Arquiteto com o Engenheiro responsável pelo projeto estrutural, ainda na fase de
concepção do ante-projeto, é indispensável para a viabilidade da construção destes
modernos edifícios.

4.4 Esbeltez de corpo rígido de alguns edifícios construídos em outros estados do Brasil

Para efeito de comparação com os edifícios altos construídos no Recife, em termos de


altura e esbeltez, são apresentados, na tabela 01 e ilustrados nas figuras 06 e 07,dados
de sete edifícios altos construídos em outros estados do Brasil, sendo seis deles em São
Paulo e um no Rio de Janeiro.
Tabela 01 – Parâmetros de alguns edifícios construídos em São Paulo e no Rio de Janeiro
Edifício Local H (m) l (m) λmáx
CENU – Torre Norte São Paulo 180,0 45,0 4,0
E – Tower São Paulo 162,0 31,0 5,2
Citibank São Paulo 130,0 23,0 5,7
Torre Almirante Rio de Janeiro 128,0 21,0 6,1
Aché Faria Lima São Paulo 128,0 13,0 9,8
Garagem San Siro São Paulo 93,0 9,3 10,0
Porto Fino São Paulo 91,0 11,0 8,3

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12

10
CENU - Torre Norte

E - Tow er
8
Citibank
Esbeltez

6 Torre Almirante
Aché Faria Lima
4
Garagem San Siro

Porto Fino
2

0
CENU - E - Tow er Citibank Torre Aché Faria Garagem Porto Fino
Torre Norte Almirante Lima San Siro
Figura 06 - Estudo de alguns Edificios de São Paulo e Rio de Janeiro - Gráfico edifício versus esbeltez

12

10

Porto fino
8
Garagem San Siro
Esbeltez

Aché Farias Lima


6
Torre Almirante
Citibank
4
E - Tower
CENU - Torre Norte
2

0
91 93 128 128 130 162 180
Altura (m)

Figura 07 - Edifícios altos construídos em São Paulo e no Rio de Janeiro - Gráfico altura versus
esbeltez.

É interessante observar que embora com alturas maiores, variações de 91m a 180m, tais
edifícios apresentam tendência de diminuição da esbeltez com a altura, o que é desejável
do ponto de vista estrutural. Ou seja, nestes edifícios, à medida que as alturas são
maiores, tem ocorrido crescimento em maior proporção das dimensões em planta,
trazendo como conseqüência a diminuição do parâmetro esbeltez de corpo rígido. Isto
facilita substancialmente, a definição de sistemas estruturais com rigidez adequada à
estabilização frente à ação do vento.

4.5 Esbeltez de corpo rígido edifícios construídos em outros Países

Ainda para efeito de comparação com os edifícios altos construídos no Recife, em termos
de altura e esbeltez, são apresentados na tabela 02 e ilustrados nas figuras 08 e 09
dados de 12 edifícios altos construídos em diversos países.

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Tabela 02 - Parâmetros de alguns edifícios altos construídos em outros países
Edifício Local Ano H (m) l(m) λmáx.
Empire State Building New York 1931 381,0 56,9 6,7
World Trade Center New York 1973 415,0 63,0 6,6
Bank of China Tower Hong Kong 1990 369,0 51,8 5,9
Bank of America Plaza Dallas 1985 280,7 38,8 7,3
311 South Wacker Chicago 1990 293,0 41,1 7,1
Jin Mao Tower Shangai 1998 421,0 54,0 7,8
Petronas Tower Malasya 1998 452,0 46,0 9,8
Bank One Tower Indianapolis 1990 247,0 37,0 6,7
Tokio City Hall Tokio 1991 243,0 44,8 5,4
Hong Kong Central Plaza Hong Kong 1992 310,0 50,0 6,2
Fox Plaza Los Angels 1987 150,0 45,0 3,3
Bell Atlantic Tower Philadelphia 1991 225,3 46,0 4,9

12
Empire State Building

10 World Trade Center


Bank of China Tower

8 Bank of America Plaza


311 South Wacker
Esbeltez

6 Jin Mao Tower


Petronas Tower
4 Bank One Tower
Tokio City Hall
2 Hong Kong Central Plaza
Fox Plaza
0 Bell Atlantic Tower

Figura 08 - Estudo de alguns edifícios altos em outros países - Gráfico edifícios versus esbeltez
máxima de corpo rígido.
d í id

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12
Fox Plaza

10 Bell Atlantic Tower


Tokio City Hall

8 Bank One Tower


Bank of America Plaza
Esbeltez

6 311 South Wacker


Hong Kong Central Plaza
4 Bank of China Tower
Empire State Building
2 World Trade Center
Jin Mao Tower
0 Petronas Tower
150 225 243 247 281 293 310 369 381 415 421 452
Altura (m)

Figura 09 - Estudo de alguns edifícios altos em outros países - Gráfico esbeltez versus altura.

Nestes edifícios observa-se tendência de crescimento da esbeltez até a altura de 293 m.


A partir deste valor, ocorre tendência semelhante à apresentada nos edifícios construídos
em outros estados do Brasil, ou seja à medida que cresce a altura, ocorre crescimento em
maior proporção das dimensões em planta, com conseqüente diminuição da esbeltez.
Exceção ocorre com os edifícios Jim Mao Tower e Petronas Tower que estão incluídos
entre os mais altos e esbeltos do mundo.

5) Considerações sobre os edifícios altos projetados e construídos na


cidade do Recife.
Com base nos dados apresentados ao longo deste trabalho, é possível observar, a
tendência de construção de edifícios modernos em Recife, com altura e esbeltez
crescentes. A altura máxima que no período estudado variou de 35 a 45 pavimentos, ou
seja, aproximadamente 105m a 135 m, veio acompanhada do crescimento da esbeltez
de corpo rígido de 8,5 para 14,4. Comparando com dados de outros estados do Brasil e
de outros países, conclui-se, sem dúvida, que em Recife estão sendo construídos
edifícios que devem ser incluídos entre os mais esbeltos do mundo.
Este fato merece especial divulgação, pelo caráter pioneiro e desafiador da Engenharia
praticada no Recife e pelo espírito empreendedor do Empresariado de Pernambuco.
A constatação, todavia, da tendência de aumento da esbeltez de corpo rígido, como
conseqüência natural do crescimento da altura, em contraposição ao que ocorre em
outros estados brasileiros e, em parte, em outros países, merece uma reflexão e uma
análise mais aprofundada sobre a questão.
Em primeiro lugar, são citadas, diversas razões importantes, que estão tornando viáveis
projetos de edifícios com esbeltez tão elevada :

• a cidade do Recife apresenta como velocidade básica de vento 30 m/s, valor


este o menor considerado tanto pelas Normas Brasileiras como pelas Normas
Internacionais;
• no Rio de Janeiro este valor é de 35 m/s e em São Paulo esta velocidade é de
35 a 45 m/s, a depender da localidade considerada;

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• como as pressões do vento variam com o quadrado das velocidades básicas,
é possível a obtenção de carregamentos de vento para edifícios construídos em
Recife cerca de 36 % inferiores aos do Rio de Janeiro e 78% inferiores aos
projetados em São Paulo. Fato que pode ser extrapolado para a maioria dos
países, ou seja, é comum internacionalmente a consideração de velocidades
básicas de projeto em valores que variam de 35 a 55 m/s, portanto, muito
superiores à velocidade de 30 m/s considerada no Recife;
• as alturas das edificações apresentadas, em outros estados do Brasil e em
outros países, são ainda bem superiores às dos edifícios construídos em Recife;
• é comum, em muitos dos países citados, a consideração do efeito de
terremotos no projeto das edificações, fato que não ocorre em Recife;
• outro dado real que permite comparação entre Recife e outros estados do
Brasil, é o fato da utilização, na construção destes edifícios, de valores da
resistência característica do concreto de 35 MPa a 50 MPa, que são em média
superiores aos normalmente adotados no Brasil.

Por outro lado, do ponto de vista de projeto, considera-se que cabem recomendações
específicas para estes edifícios de elevada esbeltez, tais como :

• considerar tais edifícios como estruturas especiais onde, muitas das


hipóteses e recomendações normativas que se aplicam bem para estruturas
usuais, deixam de ter validade ;

• adoção de critérios de projeto que contemplem:

a) modelos realistas de discretização, que levem em conta o caráter


tridimensional da edificação, com elementos específicos para efeitos globais
e locais ;
b) realização das seguintes análises, além das tradicionais elásticas lineares
globais :

- análises não lineares geométricas P-Delta para as ações de serviço e


de cálculo;
- verificação quanto à instabilidade do equilíbrio global por métodos
‘exatos’;
- verificações dinâmicas quanto à amplificação do carregamento do
vento na direção das rajadas;
- verificação quanto ao conforto humano induzido pelas vibrações
provocadas pala ação do vento;
- verificação do efeito da seqüência de construção e aplicação
seqüencial do carregamento vertical;
- verificação do efeito da interação solo-estrutura;
- verificação do efeito da interação estrutura/alvenaria de vedação/
revestimento;
- ensaio da edificação em túnel de vento.

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6) Conclusão
O estudo dos edifícios altos projetados e construídos na cidade do Recife no período
1996 a 2003, permite as seguintes conclusões:

• a tendência de verticalização dos edifícios residenciais fez evoluir o número de


pavimentos de 20, na década de 70 do século passado, a cerca de 50 nos dias
atuais;

• a partir de 1996 houve forte aumento de altura destes edifícios;

• a maioria das edificações está compreendida na faixa de 16 a 21 pavimentos,


entretanto, ocorre significativa quantidade de edificações acima de 30 pavimentos;

• o aumento de altura destas edificações veio acompanhado de forte crescimento da


esbeltez;

• tendência contrária ocorre com os edifícios construídos em outros estados do Brasil


e, em parte, em outros países;

• dos edifícios levantados neste trabalho, o de maior esbeltez, entre os construídos


em outros países, foi o Petronas Tower com índice de esbeltez 9,8. Nos outros
estados do Brasil, o mais esbelto foi o Garagem San Siro com índice 10 e no Recife
um edifício que apresentou índice 14,4;

• os edifícios modernos construídos no Recife, estão pois classificados entre os mais


esbeltos do mundo, o que recomenda tecnologia de projeto e execução de alto
nível, que leve em conta as peculiaridades dos mesmos e o tratamento como
edificações especiais onde muitas das simplificações usuais e mesmo
recomendações normativas de caráter geral, deixam de ter validade;

• recomenda-se uma forte interação do Arquiteto responsável pelo projeto, com o


Engenheiro estrutural, ainda na fase de concepção do ante-projeto, para viabilizar a
construção destes modernos edifícios.

7 Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – Forças devidas ao vento em


edificações - NBR 6123, Brasil, 1987

CÂMARA, A. A malha como geratriz, Dissertação de Mestrado, MDU, Universidade


Federal de Pernambuco, 1998.

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TARANATH, B.S. Stell, Concrete, & Composite – Design of Tall Buildings – New York,
McGraw-Hill,1998.

VASCONCELOS, A.C. O Concreto no Brasil – Pré-fabicação, Monumentos, Fundações,


vol.III, São Paulo, Brasil, Studio Nobel, 2202.

VASCONCELOS, A.C. O Concreto no Brasil – Records, Realizações, História, vol.I, São


Paulo, Brasil, Editora PINI, 1992.

Agradecimentos
À Universidade Católica de Pernambuco pelo apoio à Pesquisa.

À Engedata Engenharia Estrutural Ltda, à Engest Engenharia Estrutural Ltda, à Nassar


Engenharia Estrutural e ao Escritório Técnico Júlio Kassoy e Mario Franco Engenharia
Civil Ltda, pelo fornecimento dos dados relativos aos edifícios estudados.

Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto - CBC2005. © 2005 IBRACON. XII.285

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