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A
O rg ã o da A sso L tação B r a s ile ira clc O rg aiiizav õ es N ão G ov ern ai a c niais Número 10 maio 1995
A Nova Conjuntura
Nesla edição:
A Cúpula de
Copenhague
páginas 10 e / /
Perfíl de ONG;
Geledés
página 12
Colaboraram neste
número:
Francisco de Oliveira
Eduardo Homem
Silvio Caccia Bava
Sonia Corréa
Amélia Cohn
Átila Roque
No t a s
Convênio com a
Editorial
Duas questões que tratamos neste
Fundação Getúlío Vargas
jornal estão na ordem do dia: I ) como
avaliar o programa "Com unidade No dia 22 dc março último, foi assinado destinam verbas a programas sociais. Em
Solidária" proposto pelo governo um protocolo dc cooperação entre a seu programa, por sugestão da ABONG,
Fernando H enrique e qual nossa A BO N G c o C entro dc Estudos do loram incluídos ílcns relativos às ONGs,
posição frente a ele; e 2) como avaliar T erceiro Setor da Fundação Getúlio ao caráter público dc sua intervenção, bem
os re su lta d o s da C ú p u la de Vargas, cm São Paulo, coordenado pelos como análises que contextualizam as
D esen vo lvim en to S o cia l c o que Professores Luis Carlos Merege e Ricardo atuais transfonnações da sociedade civil
fazemos com esses resultados. Neder. De um conjunto de reuniões, no Brasil. Há. ainda, outras propostas em
Com re la ç ã o ao "C om u nid ad e objetivando ações conjuntas, rcsullou o andamento, como seminários conjuntos
Solid ária", muitas ONGs tem n os documento que reproduzimos aqui. a respeito da relação Estado/Sociedade
pergu n tad o qual 6 a p o siçã o da Produto imediato do protocolo foi a e a participação do C ETS na elaboração
ABONG. A própria Ação da Cidadania criação de um curso piloto para técnicos de um c a d a s lr o in fo rm a tiz a d o da
também passa por esia discussão. 0 de Institutos. Fundações e Empresas que ABONG.
Conselho N acional de A ssistência
Social, onde temos assento, acaba dc
promover uma reunião ampliada que
O texto do protocolo
discutiu o significado deste programa
Com o objetivo de estabelecer parceria aprofundar o conhecimento das práticas
de g o v ern o . E n qu anto A B O N G ,
v isa n d o p ro m o v er a fo rm a çã o dc das entidades sociais sem fins lucrativos,
tomaremos uma posição neste mes dc
profissionais voltados para o "terceiro bem com o estim ular sua divulgação
maio, cm reunião do nosso Conselho
setor", a Escola dc Administração de através de publicações e outros meios;
Diretor, para a qual convidaremos
Empresas da Fundação Getúlio Vargas, e) apresentar conjuntamcnle pedidos de
também o Betinho, o Jorge Eduardo
doravante denominada E A E SP , com financiam ento a entidades públicas e
Durão e o Miguel Darcy. 0 artigo que
endereço à Avenida Nove de Julho, 2029, privadas que permitam a realização das
apresento é uma co n trib u ição ao
São Paulo - SP. e a Asstx:iação Brasileira iniciativas conjuntas.
debaie. A A B O N G espera outras
dc Organizações Não Governamentais,
contribuições para interpretar com a
doravante denominada ABO N G , com II - A ABONG se compromete a:
maior fidelidade a vontade das suas
endereço à Rua Renato Paes de Barros, a) facilitar o acesso às organizações não
associadas. Escreva!
684, São Paulo - SP, resolvem celebrar o governamentais filiadas;
Quanto aos resultados da Cúpula de
seguinte b) oferecer subsídios para montagem de
D esen v o lv im en to S o c ia l, m esm o
considerando que eles ficaram muito cursos voltados a administradores de
PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO entidades sociais sem fins lucrativos;
aquém do esperado, há uma questão
que gostaríamos de disculir: como é c) participar ativamente das inicialivas
I - A EAESP se compromete a: conjuntas que a E A E SP e a ABONG
que as ONGs no Brasil podem se
apropriar desses resultados e que uso a) colocar-se disponível para assessoria e venham a desenvolver;
podem fazer deles em seus trabalhos capacitação técnica em administração das d) sugerir e participar de projetos de
específicos. É claro que esta quCvStão é organizações não governamentais filiadas investigação científica com o objetivo de
e x te n siv a a Iod os esses ev en to s à ABONG; produzir conheciinentos a respeito das
mundiais que esião mobilizando nossa b) oferecer apoio técnico às iniciativas de entidades sociais sem fins lucrativos.
atenção. A tam os abrindo um debate colaboração e projetos conjuntos;
sobre este lema e contamos com a sua c) criar uma linha de ação voltada à III - Este protocolo de cooperação poderá
participação. fonnação de administradores dc entidades ser suspenso por qualquer das partes a
sociais sein fms lucrativos; qualquer tempo, mediante comunicação
Silvio Caccia Bava d) estimular a realização dc pesquisas, cscrita à outra parte cotn antecedência
de forma associada ou não, que visem mínima de trinta dias.
Jorn al da A fí ONG é uma puhlicttçâo bimestral Diretoria Executiva da ABONG: Silvio C acda da Moita (editoração eletrônica), fume Ta^a Ta-
du Associação Brasileira de Orf;anizaçôes Não Bava ( presidente), Maria Emilia Lisboa Pacheco moto (secretária).
Covernamemais (secretária), Sérj’io Haddad (tesoureiro), Benno
Assebur^, Mofinólia Said, Maria Irtmy Bezerra, Im pressão: G r á fica e E d ito ra P ere s Ltda.
Endereço: Rua Dr. Renato Paes de B urros. 6M, Sônia Correa. Vandevaldo Noyueira Tiragem: 3000 exemplares
itaim. São Paulo - SP . CEP: 04530-001 . Tel:
(OH) S29-9Í02 ; Telefax: (OH) R22-6604 . E. Equipe do Jo rn a l: J o s é Tadeu Arames (editor), É encorajada a reprodução total ou parcial dos
mail: ubonR @ ax. apc. or}>. Sérfiio Gonzales (projeto gráfico), Lucia Silveira anif^os desta publicação, desde gue citada a fonte.
Co n i u n t u r a e
O Governo FHC
e as políticas sociais
FRANCISCO DE OLIVEIRA
I
sentido oposto ao da constituição de sso coloca, para nós, um desatlo como
”não se preocupem mais, a gente pode ser
direitos. Não é à toa que o núcleo das não enfrentamos nos últimos 20 anos. É
de d ir e ita a g o ra , is so não é m ais
propostas do Govemo ataca os direitos precisamente nesse terreno que o combate
e s tig m a tiz a n te ". Já no cam po das
civis, sociais, trabalhistas e ate políticos. é sério. O que fazer? Essa é uma pergunta
organizações que lidam propriamente
O núcleo das propostas do Governo ataca, para a qual eu não lenho resposta. Tento
com a voz do social, a voz da sociedade
precisamente, os direitos da cidadania. fazer o melhor que posso, elevar o tom da
organizad a, a batalha é mais feroz.
São formas democráticas, não há dúvida indignação, mas isso só não basta. Talvez
Trala-se de um campo mais largo, onde,
nenhuma, mas que trabalham contra as seja preciso reinventar o nosso modo de
felizmente, existem mais opções, mais
organizações que a própria sociedade civil trabalhar: o como, o por onde, o quando.
atores. Mas, nem por isso, o desafio é
co n s tru iu , p ro cu ran d o c a p tu rá -la A própria entidade à qual eu pertenço - o
menor.
mediante processos meramente eleitorais, Cebrap - se parece cada vez menos com
e buscando essa captura através da noção uma organização da sociedade civil. Já
de carências e não da noção de direitos. foi. Mas, hoje, se parece cada vez menos.
Francisco de. Oliveira é sociólogo, profes.wr
Trata-se de um projeto hegemônico, com Tentamos manter uma voz plural, uma
limiar do Departamento de Sociologia da
força, que busca, para sua durabilidade, ca p a cid a d e de d is c u tir p ro je to s
Universidade de São Paulo e presidente do
soltar uma âncora firme no meio popular. alternativos, mas, sem dúvida nenhuma, CEBRAP. O texto acima é um resumo de
Pois, no meio da burguesia, sua âncora já eu acho que ela está menos sujeita a pale.ura que proferiu no dia 3 de março
está mais do que fimie. Não estou dizendo chu vas e vendavais do que outras último, na sede da ABONG. em São Paulo.
e Comunidade Solidária
uilos de nós nos perguntamos hoje Esses compromissos não são de hoje. Não elétrica, extensão de serviços de água e
c o n c ic io ate o n io n icn to . A liá s, o essenciais à população, a televisão passa Estado e orientar a aplicação desses
programa Comunidade Solidária vcin a dar destaque às iniciativas localizadas do recursos para p<ílíticas conscqucntcs de
reduzindo suas pretensões a cada dia. programa "Comunidade Solidária" e cria combate à pobreza.
Primeiro falou-se em atender os 500 a miragem dc um governo c(ímpromctido V á ria s p ro p o sta s têm su rgid o das
m unicípios mais pohrcs. depois esic com a questão S(x:ial. discussões que buscam avaliar o Governo
número baixou para 100 c hoje sc reduz a O mais grave c que este programa, embora Fernando Henrique c suas iniciativas. As
50. uma cxpericncia pilolo. não o diga. com bate a organização mais importantes são:
Nos últimos dias. tcin * avaliar a ação do Governo a partir do
sido v eicu lad o pelos conjunto dc suas políticas sociais c não
jornais um plano de. em ap en as do program a 'C om unidade
quatro anos. reduzir pela Solidária";
metade os números da * prcssionar o Governo para que os
mortalidade infantil no c o n s e lh o s n a c io n a l, esta d u a is c
país. a partir de ações na municipais do programa "Comunidade
área de saúde. Tambcm Solidária" tenham caráter deliberativo c ,sc
foi Lmunciada a idcia da abram à re p resen ta çã o dos setores
Cl íação dc um’ banco organizad<is da sociedade civil;
p op u lar para * co n v o ca r os setores populares
fin a n cia m e n to de organizados c a população dos municípios
m icro e m p re sa s e vizinhos aos escolhidos dentro de bolsões
a q u is iç ã o dc dc pobreza para reivindicarem tambcm
instrumentos dc trabalho. seu atendimento;
Mas, só o programa dc * propor mudanças no programa
saúde prevê gastos que "Comunidade Solidária" que permitam
co n su m iria m toda a enfrentar os pioblemas de emprego e
v erba d estin a d a às s a lá r io . sa n e a m e n to b á sic o ,
"Comunidade Solidária". abastecimento, saúde, educação, a partir
E ssa s p ro p o sta s, dc projetos de desenvolvimento local c
p o rta n to . não regional com participação popular;
ultrapassaram ainda o * criar um Fórum Nacional da socicdadc
estágio dos balões dc civil com o propósito de monitorar dc
ensaio. m a n e ira p e rm a n en te o p ro g ram a
orém, não devemos "Comunidade Solidária".
P m e n o sp rezar
importância do programa
a
Silvio Caccia Bava é sociólogo, membro do
"Comunidade Solidária", ínxfiiuto Pólis c preside.nU‘ da ABONG.
nem a fonna como clc
será tratad o p elo
Governo. São quase 3 bilhões dc reais à p o p u lar, não re c o n h e c e co m o
disposição deste programa este ano. As interlocutores legítimos os sindicatos, <is
movimentos populares, as organizações
inlbrmações que vários conselheiros têm
nos passado dizem que Governo Federal
da so cied a d e c iv il que lutam pela Seminário
democratizÁição do país. pela afirmação dc
propõe a organização dc con selh os
cstaduaise municipais, coordenados pelos
direitos de cidadania. Como ele faz isso? Estadual
D escon h ecen d o a c x is tc n c ia destes
governadores e prefeitos. Quem convoca
movimentos, destas entidades, destas T e n d o cm v is ta os o b je tiv o s
a participação de representantes da
associações, e tentando se relacionar apresentados neste artigo, várias
sociedade civil são essas autoridades.
diretamente c<ím a base desorganizada da entidades se dispuseram a organizíir
Estão dadas as co n d içõ es para uma
sociedade. Ou alguém acredita que os um Seminário Estadual dc avaliação
política dc clientclismo, que pode .servir
prefeitos e governadores convocarão do p ro g ra m a ’’C om u n id ad e
para arregimentar sustentação política
aqueles que exercem pressão sobre seus Solidária", que sc realizará dia 3 de
popular para o G overno, a parlir da
governos? Fernando Henrique, nos seus junho, na Câmara Municipal de São
distribuição de alimentos aos grupos dc
ú ltim o s p ro n u n cia m e n to s, tem Paulo, por iniciativa da C U T, da
base da sociedade que sc organizarem
identificado seus opositores com o a Central dc Movimentos Populares, da
para reivindicar.
"v an g u ard a do a tr a s o " , co m o os Ação da Cidadania, do Movimento
Um outro risco bastante presente é o da
perdedores inconformados das últimas d os S em T e rra e da A B O N G .
pnxlução da ilusão dc que o Govemo está
eleições. Esperamos, a partir desse seminário,
empenhado no combate à pobreza e à
E o que nos cabe fazer nesta situação? p ro je ta r esla d iscu ssã o a nível
cxclusão s(x:ial. Enquanto corta as verbas
Mobilizar a .sociedade para controlar o nacional.
das p o lític a s p ú b lica s de se rv iç o s
Luta pela C i d a d a n i a
políticos com os defensores do controle da
Uma agenda
natalidade.
Significativam ente estes desafios têm
correspondência com a agenda que vem sc
firmando no plano internacional a parlir
Cúpula, dc uma posição favorável à maior montante das verbas que os países ricos
O saldo da Cúpula coordenação entre a ONU e entidades como
o FMI e o Banco Mundial. E.ssas instituições
devem destinar.à ccxiperação internacional.
Os Estados Unidos conseguiram impedir,
"Pela primeira vez, no âmbito da Assembléia internacionais constituiram-se num poder em porém, que íbsse fixado qualquer prazo para
Geral da ONU,foram trazidos à tona temas si. claramente vinculado a uma orientação a efetivação dessa medida. Com relação a
que revelam os impa.sse.s e limitas do modelo política e ecíMiômica precisa - o uma das questões mais debatidas na Cúpula,
neoliberal" - a avaliação, relativa à Cúpula dc neoliberalismo - e fora dc qualquer controle a chamada ’’20 - 20”. a posição final foi que
Copcnhague, é do historiador Átila Roque, por pane de organismos mais pluralistas e devem ser destinados a objetivos sociais 20%
a.sse.s.sor de políticas insiiiucionais'do IBASE democráticos, como a Assembléia Geral da dos em préstim os e financiamentos
c um dos iiiembnís do grup<i formado pela ONU. A reivindicação expressa em fornecidos pelos países ricos aos pobre.s. bem
ABONG para- acompanhhr a Cúpula dc Copcnhague. no .sentido de maior cíxírdenação como 20% dos orçamentos domésticos destes
Desenvolvimento Social. Ele acredita que, entre os organismos, p<)de signitlcar o início dc últimos. Isso fica condicionado, porem, a um
independentemente do.s acordos e um que.siionamento da hegemonia neoliberal, acordo cntrc as partes envolvidas.
compromissos assumidos, só fato da Copcnhague Ibi mayro em termos dc "Devemos entender as limitações de um
temática social ter-se recolocitdo na agenda definições concretas. A sugestão de organismo como a ONU", explica Átilii. "Ela
internacional já c uni ganho e vale a pena ser cancclamento da dívida externa dos par^ses não tem condições dc impor suas decisixjs aos
destacado. "Retoma-se a discu.ssão da pííbres conio Ibrma de combate à pobreza fbi países membros. O que sc p<3de esperar dc
finalidade últinia do desenvolvimento, de aprovada apciías como proposta indicativa - uma reunião como a dc Copcnhague c a
quais os destinatários doj; frutos da atrvídade e assim mesmo circunscrita aos países mais geração dc certos influxos políticos que
econômica", enfatizai. Outro ponto positivo pobrc-s da África. Rcál1nnou-sé a tneta de sc favoreçam, cm cada par's, os movirnenlos da
destacado por Átila-foi o crescimento, na elevar para 0,7% dc seus respectivos PIBs o .sociedade civil organizada".
C ú p u l a de C o p e n h a g u e
De qualquer forma, os números absolutos são
Na língua iorubá, a palavra Geledés construiu num trabalho árduo c cotidiano, proi'issional, na área da informática, e
designa certas confrarias de mulheres como o desenvolvido no serviço SOS * o ficin as de saúde e sexualidade. Os
c o n g re g a ç õ e s r e lig io s a s s e c r e ta s , R A C IS M O , que o fe rece asse sso ria próprios rappers vinculados ao Projeto
a ss o cia d a s ao c u lio de p o d ero sa s ju r íd ic a g ra tu ita para v ítim a s de produzem uma revista, o Pode Crê !,
divindades femininas e dirigidas por discriminação racial. "Quando iniciamos primeira revista brasileira voltada para
sacerdotizas, nas quais a participação dos esse trabalho", diz Sueli, "fizemos uma jovens negros, com a proposta de ser um
homens era admitida, mas nunca em pesquisa em varas criminais da cidade de v e íc u lo de v a lo r iz a ç ã o e s té tic a ,
cargos de d ireção . Há reg istro s da São Paulo, e constatamos que, em 4 0 anos c o n s c ie n tiz a ç ã o e d is c u ss ã o dos
s o b re v iv ê n c ia d essa s fo rm as p ro b le m a s que a flig e m a
ancestrais de organização entre os com unidade negra. "As bandas
negros do Brasil ainda no início do chegaram aqui buscando socorro no
s é c u lo . Num n o vo c o n te x to S O S - ra c ism o , em função da
histórico, de ações públicas em violência^ policial de que os jovens
defesa dos direitos dos negros e das negros são vítimas - especialmente
mulheres, a palavra G eledés foi os rappers, que desenvolvem uma
resgatada por um grupo de militantes música muito crítica", conta
negras, com longa trajetória de luta Sueli Carneiro. Fizemos então um
co n tra o racism o e o sex ism o sem inário para discutir em que
existentes na sociedade brasileira. medida a gente poderia construir
No dia 30 de abril de 1988, era uma parceria. Foi daí que nasceu um
fundado, na cidade de São Paulo, o p ro jeto com a p a rticip ação de
Geledés - Instituto da Mulher Negra. re p re s e n ta n te s de bandas de
"Ele surgiu da constatação de que d ife r e n te s re g iõ e s da cid a d e.
nós, mulheres negras, temos uma Inicialmente a proposta era modesta:
temática específica, que não estava construir um espaço de discussão
sendo contemplada, na época, nem sobre a situação do jovem negro. E
peio movimento feminista nem pelo a cab o u v ira n d o um c o lo s s o ,
m o v im en to n e g ro ", d iz S u e li in clu siv e com uma articulação
Carneiro, uma das fundadoras e in te rn a c io n a l com bandas
co o rd en ad o ra do P ro gram a de americanas. O projeto nos permitiu
Direitos Humanos do Geledés. equacionar uma questão que sempre
Recentemente, o Geledés ganhou as de existência da Lei Afonso Arinos (que foi muito difícil para nós: como lidar
páginas da grande imprensa, a partir da define o racismo como crime), havia politicamente com a questão cultural. O
notificação feita à Rede Globo devido à apenas dois processos m ovidos por rap nos possibilitou fazer essa articulação,
atitude passiva com que o personagem motivo de discriminação racial. Isso nos de forma a utilizar politicamente a cultura
negro Kennedy recebia uma ofensa de deu uma medida do descaso com que a negra - não de maneira manipulatória, inas
cunho racista na novela "Pátria minha". A Justiça tratava essa questão. A partir da respeitando a autonomia da expressão
Globo se retratatou, incluindo na própria a ção do S O S - R A C IS M O , tem os cultural".
novela uma cena em que a madrinha de tramitando hoje na Justiça cerca de 60 O SO S - racismo e o Projeto Rappers
Kennedy, também negra, faz um longo processos. E estamos recebendo em média fazem parte do Programa de Direitos
discurso, despertando nele a auto-estima e quase 200 queixas por ano". Humanos do Geledés, que engloba ainda
o orgulho por sua condição racial. O caso Mas a menina dos olhos do Geledés é o outras atividades. Além deste, o Geledés
teve tanta repercussão que, na novela Projeto Rappers, que reúne atualmente 13 possui ainda um Programa de Saúde -
seguinte, "A próxima vítima", toda uma bandas de rapdaperifWiadacidadede São voltado principalmente para mulheres e
família negra de classe média passou a ser Paulo. O Projeto utiliza a música num adolescentes, com ênfase em questões de
retratada de maneira digna - algo raro na trabalho de denúncia e conscientização saúde reprodutiva - e um Programa de
teledramaturgia brasileira, em que o negro sobre a violência racial, integrando ainda Comunicação, que busca dar suporte às
quase sempre aparece como personagem temas como a aids, as drogas e outras outras atividades da Organização, através
isoladole ocupando cargos subalternos. questões presentes no universo dos jovens da elaboração de folhetos, cartilhas,
Não é só de ações espetaculares como negros. Entre outras coisas, o Projeto vídeos e outros veículos de comunicação,
essa, porém, que vive o Geledés. Ao oferece cursos de capacitação política, da realização de eventos e da intervenção
con trário, sua representatividade se capacitação musical das bandas, formação na mídia.