Você está na página 1de 32

GUIMARÃES 1975-2000

C
Ciiddaaddee ee D
Deem
mooccrraacciiaa,, 2255 A
Annooss D
Deeppooiiss

Relatório Final no âmbito do


Programa “Cidade e Democracia, 25 Anos Depois” de
N
NUUN
NOOH
HEEN
NRRIIQ
QUUE
ESSD
DEEC
CAAR
RVVA
ALLH
HOOD
DAAS
SIILLV
VAA LLE
EAALL
A
Abbrriill 22000011
2
DEDICADO...

...aos meus Pais, que sempre me apoiaram e graças aos quais hoje posso fazer este
trabalho.

...à Sara, que me tem incentivado na procura de um futuro melhor.

AGRADECIMENTOS

...Ao Arq. Paulo Costa (e à "ENGE - Engenharia & Arquitectura, L.da"), pela “cedência” de
algumas manhãs e tardes para a realização deste trabalho.

...Ao Dr. António Magalhães, Presidente da Câmara Municipal, pela amabilidade com que
me disponibilizou todo o apoio da Autarquia para a prossecução deste trabalho e pelo
depoimento prestado.

...Ao Sr. António Xavier, pela prontidão com que me disponibilizou o depoimento que lhe
solicitei.

...Aos técnicos e funcionários da Câmara Municipal de Guimarães, pela colaboração


prestada.

...Ao “Noticias de Guimarães”, e nomeadamente à Jornalista Teresa Ferreira, pelo apoio


concedido permitindo a consulta aos arquivos daquele nobre jornal.

...Ao Ricardo Sampaio, pela “mãozinha” que me deu na finalização do trabalho.

3
4
ÍNIDICE

3...Dedicatórias e Agradecimentos

5...Índice

7...Introdução e Caracterização de Guimarães

11...A Alvorada da Democracia

14...O Despertar de um Gigante Adormecido

17...Viragem para a Modernidade

20...Conclusões para uma Antevisão do Futuro

23...Depoimento do Sr. António Xavier

25...Depoimento do Dr. António Magalhães

28...Breve Cronologia do Planeamento Urbano

31...Bibliografia

ANEXOS

Painel 1...Apresentação

Painel 2...Planta da Cidade, escala 1/10.000

Painel 3...Síntese

5
6
INTRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE GUIMARÃES

“As Cidades de hoje assustam. Não só pela sua dimensão, pelo número de
pessoas que acolhem, criteriosamente escondidas na impessoalidade da sua
presença, pelo movimento que imprimem ao dia-a-dia, pela agitação que
desencadeiam, pela pequenez e insegurança a que nos remetem em cada
momento. Dá mesmo para pensar, se estas cidades foram feitas, concebidas e
construídas por nós e para nós ou se, pelo contrário, apenas somos intrusos
não adaptados a este meio que nos é estranho e nos oprime.”
Eduardo Vilaça, Sociólogo
In “Expresso” em 2 de Fevereiro de 2000

O concelho de Guimarães fica situado no Norte de Portugal, na região do Minho, distrito de


Braga, na bacia do Vale do Ave (ou "Médio Ave"). Está encastrado num sistema
montanhoso, sendo pródigo em pequenos vales e veigas, muito férteis e irrigados por
diversos ribeiros e rios, todos eles afluentes do Rio Ave que atravessa o concelho
diametralmente, de Nordeste para Sudoeste.

Fica rodeado a Norte e Noroeste


pelos concelhos da Póvoa de
Lanhoso e Braga, a Nascente
pelo concelho de Fafe, a Sudeste
pelo concelho de Vizela, a
Sudoeste pelo concelho de Santo
Tirso e a poente por Famalicão.
É atravessado por diversas
estradas nacionais (101, 105,
106, 206, 309 e 310), bem como
pela A7 e pelo IP9 e pelos
Caminhos de Ferro.

É composto, desde 1998, por 68 freguesias, após a "desanexação" de Vizela (pois antes
2
tinha 73) e tem uma área de cerca de 250 Km . Em 1975 para além da Cidade existiam no
concelho ainda mais duas Vilas: Vizela e Taipas. Hoje, passados estes anos de
crescimento económico (e urbano, em consequência), a Vila de Vizela é Cidade e Concelho
independente; para além da Vila das Taipas, foram ainda elevadas a vilas as localidades de
Pevidém, S. Torcato, Serzedelo, Guardizela, Lordelo, Moreira de Cónegos, Ponte, Ronfe e
está prevista a elevação de Brito no dia 11 de Abril de 2001.

7
São conhecidos povoados no concelho de Guimarães ainda anteriores à ocupação romana
(ressaltando a povoação castreja da Citânia de Briteiros) que ocupavam os topos dos
montes, embora os primeiros povoados com dimensão e massa critica se tenham
estabelecido nas planícies, junto aos rios e a zonas termais (Taipas e Vizela), ligados com
vias que incluíam pontes e lajedos que ainda hoje se mantêm de pé (em Vizela, nas Taipas
ou em Creixomil). A Cidade de Guimarães desenvolve-se sobretudo em duas fases: uma
primeira que se iniciou na época medieval, a partir do século IX/X e até ao século XVI e
uma segunda que se iniciou na época Pombalina e se prolongou até às primeiras décadas
do século XX.

Do ponto de vista demográfico, a população, com grande incidência de jovens, teve um


comportamento diverso ao longo dos últimos 30 anos. Se na década 70-81, segundo os

População Residente
censos, houve um enorme
crescimento (21,31%), já na
década seguinte (81-91) houve
1999

um claro abrandamento do
crescimento para 7,23%,
1991

tendência essa que se parece


Ano

manter, a avaliar pelos dados


1981

provisórios do ano de 1999 para


o concelho, que apresenta um
1970

crescimento de apenas 5,58%


0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000 160000 180000

Em todas as Vilas Na Cidade Total Concelho


para o espaço de tempo 1991-99.
Assim, segundo esses mesmos dados provisórios de 1999 o concelho tinha uma população
residente de 166.390 habitantes. Destes, cerca de 43000 serão habitantes das freguesias
da cidade (S. Sebastião, S. Paio, Oliveira, Urgeses, Creixomil, Fermentões, Azurém, Mesão
Frio e Costa), correspondente a cerca de 25% da população concelhia. No entanto, se a
esta franja populacional se juntar ainda a população residente nas restantes vilas do
concelho, podemos concluir que cerca de 50% da população concelhia reside em áreas
urbanas, pois perfazem cerca de
População activa empregada por sector de actividade 80 mil habitantes dos mais de
em 19991 160 mil a habitarem na Cidade e
principais vilas. Esta
2,70%
característica de “urbanidade
23,50%
rural” é confirmada pelos estudos
do INE que definem três níveis
de tipologias de áreas urbanas –
Áreas Predominantemente
73,80%
Urbanas, Áreas Mediamente
Urbanas e Áreas
Sector Primário Sector Secundário Sector Terciário
Predominantemente Rurais – e

8
esses “Indicadores Urbanos do Continente” atribuem ao Concelho de Guimarães cerca de
2/3 de freguesias predominantemente urbanas, distribuídas por quatro núcleos urbanos
(Guimarães, Taipas, Vizela e Aves) e às restantes foi atribuída a classificação de áreas
mediamente urbanas. A nenhuma das freguesias foi atribuída a classificação de área
predominantemente rural.

A estrutura produtiva é caracterizada por uma grande actividade quer do sector secundário,
quer do sector terciário, comprovado pelo facto de apresentarem a quase totalidade dos
trabalhadores empregados. Aliás, as estatísticas não enganam: a população activa
empregada, em 1999, no sector primário é quase residual (1,1%) e a maioria está afecta a
actividades comerciais (55,2%), em prejuízo do sector secundário (com apenas 43,5%) que
em 1991 tinha quase 3/4 da população activa empregada.
As principais actividades no
População activa empregada por sector de actividade
concelho distribuem-se assim
em 1999
pelo sector industrial, implantado
no concelho desde os primórdios
1,10%
da industrialização em Portugal e
baseia-se sobretudo nas
43,50%
unidades têxteis, de calçado e de
55,20%
produtos metálicos. As indústrias
encontram-se dispersas um
pouco por todo o concelho.
Sector Primário Sector Secundário Sector Terciário Devido à antiguidade de muitas
unidades industriais, muitas
ainda estão implantadas em pleno centro histórico da cidade ou nos centros das vilas.
Nesta altura, procura-se ainda melhorar o impacto ambiental das industrias, quer
deslocando-as para zonas periféricas dotadas de todas as condições para o seu
funcionamento, quer melhorando as acessibilidades e instalando infra-estruturas de
saneamento básico e de tratamento dos efluentes industriais produzidos.
As actividades terciárias têm hoje valores mais altos que aqueles apresentados em 1991,
pois duplicaram e ultrapassaram o sector secundário, mas ainda baixos quando o termo de
comparação são concelhos próximos, em especial as cidades do Porto e Braga, onde há
uma forte tradição neste sector.
O sector agrário é baseado no minifúndio e praticado em regime de tempo parcial, enquanto
subsistência ou complemento de outras actividades. Este tipo de actividade não consegue
dar relevo algum ao sector primário, pelo que este deixou de constituir-se como motor do
desenvolvimento sócio-económico, como quando permitia às famílias prevenirem-se contra
as crises que afectam o mercado de trabalho regularmente, nomeadamente no sector dos
têxteis e calçado, como ainda em 1991 acontecia.

9
A pressão construtiva, segundo estudos do INE com base em valores maioritariamente dos
Censos-91, tem-se feito sentir sobretudo nas freguesias onde se localizava a maior
densidade de fogos, bem como em freguesias contíguas com estes pólos de maior
densidade de fogos. No entanto, merece relevo em Guimarães a percentagem de licenças
concedidas para reconstruções, com maior incidência nas freguesias que compõem o
Centro Histórico, que era então de 6%.
O parque habitacional revelava uma baixa percentagem de alojamentos precários,
confirmado pelo “stock” de habitação que era caracterizado por edifícios acima da média
quanto às divisões por fogo e por valores semelhantes à média no que respeita a fogos por
pavimento e altura média dos edifícios.
No que respeita aos
Licenças concedidas pela Câmara Municipal licenciamentos, a Câmara
Municipal tem vindo a aumentar
2500
progressivamente, desde 1975, o
2000
número de Licenças concedidas,
1500
tendo subido das cerca de 800
1000
até às cerca de 2000 licenças
500
anuais. Destes valores, por
0
norma, só uma parte se refere
1977
1980
1983

1986

1989

1992

1995

directamente a construção de
1998

edifícios (em média cerca de


Para Habitação Licenças de Construção Total de Licenças metade das licenças passadas) e
apenas uma parte destas
licenças de construção têm como finalidade a construção de habitações (um valor na casa
dos 80 a 90%). Assim, em 1998 e 1999, o Município licenciou 1799 construções, sendo que
apenas 1635 tinham como finalidade a habitação. Estes valores apontam assim para um
crescimento continuo em que somente alguma crise económica ou conjuntural consegue
inverter a tendência.

10
A ALVORADA DA DEMOCRACIA

No seu global, a habitação em Guimarães sempre foi, tradicionalmente, dispersa, como é


possível depreender duma breve análise às cartas do concelho. Tal deve-se
fundamentalmente à execução da habitação através do divisionamento da propriedade, à
qual mantinha fortes ligações enquanto complemento de subsistência, como foi já atrás
referido. Outro factor não menosprezável é a fraca terciarização do concelho, o que por
norma se traduz numa menor concentração das populações em centros urbanos e numa
maior dispersão, normalmente perto dos locais de trabalho, neste caso, perto das
industrias. Esta dispersão traz com ela uma desordenação que é difícil de combater e que o
hiato de tempo em que Guimarães se absteve de planear o seu crescimento urbano veio
consolidar ainda mais – relembre-se que entre o Plano de Crescimento (parcelar) de 1949 e
o Plano Geral de Urbanização de 1982 não existiram documentos que permitissem uma
correcta orientação e gestão urbanística tanto do concelho, como da cidade.

"Após a Revolução de Abril e com a progressiva consolidação do regime


democrático, pode verificar-se no quadro urbano vimaranense, e graças à
implementação de um significativo conjunto de iniciativas, uma profunda
alteração do anterior e deformado enfoque sobre a problemática suscitada
pela identificação e salvaguarda do património arquitectónico e urbano da
cidade."
Bernardo Ferrão, Prof. Arq. docente na Faculdade de Arquitectura do Porto
In "Guimarães, Cidade Património Mundial, Um Objectivo Estratégico", Edição
C. M. Guimarães, 1998

Há 25 anos atrás, na alvorada da


democracia, a cidade de
Guimarães, quanto ao seu
perímetro urbano, resumia-se
praticamente às três freguesias
que compõe o seu centro
tradicional e histórico – S. Paio,
S. Sebastião e Oliveira – e ainda
a pequenas franjas nas fronteiras
de algumas outras (então)
periféricas – Costa, Urgeses,
Creixomil e Azurém. A sua
população residente urbana
deveria rondar então os 12 mil
habitantes (estimativa em função

11
das populações residentes das freguesias citadas). Podiam ainda ser consideradas partes
urbanas no concelho, para além da cidade, as Vilas de Vizela e das Taipas – embora
qualquer uma delas com uma população de cerca de 5 mil habitantes.

Como tal, a cidade, urbanisticamente, achava-se dividida em duas partes perfeitamente


distintas:
 O Centro Histórico, maioritariamente medieval, que estava em vias de se perder
definitivamente;
 A cidade antiga, envolvente do Centro Histórico, que se expandiu desde o século XIX até
aos princípios do século XX.

O Centro Histórico, que estava bem delimitado e já então reconhecidamente portador de


características únicas e excepcionais, encontrava-se bastante degradado e sem qualquer
solução à vista. Tal era fundamentalmente devido à degradação acentuada em que se
encontravam inúmeras construções, à exiguidade e mau estado das vias de circulação e
também devido à falta de infra-estruturas básicas (problema extensível ao resto do
concelho) nomeadamente do saneamento, o que diminuía drasticamente a qualidade de
vida das populações e em consequência as forçou a procurar novos locais para habitar,
como se comprovou estatisticamente nos censos de 1991, em que o decréscimo de
população residente variou entre os quase –10% de S. Sebastião e os quase –25% de S.
Paio e Oliveira.
Essa fuga, que ajudou a acentuar ainda mais a desertificação do centro, foi em parte o que
possibilitou o desenvolvimento do processo de recuperação e, mais importante, de
requalificação do casco medieval. Isto porque seria praticamente impensável (e impossível)
proceder a obras de fundo como as que se têm vindo a suceder ao longo destes vinte anos
num centro urbano muito denso (demográfica e urbanisticamente), para além de que se as
condições fossem já então propicias à sua utilização regular, a especulação e os interesses
imobiliários teriam, com toda a certeza, tomado conta do velho casario de madeira e
edificado em sua substituição os cinzentos prédios de betão, sem qualidade nem
enquadramento para o sitio em questão, como aliás ainda chegou a acontecer muito
pontualmente.

Exteriormente ao Centro Histórico, e desde os fins do


século XIX, quando surgiu o primeiro Plano de
Melhoramentos (em 1867), a cidade teve um
crescimento quase sempre caracterizado por artérias
estreitas que se desenvolveram sobre as antigas vias
de acesso à cidade. O crescimento era então muito
mais orgânico (acontecia de uma forma natural,
consequência da falta de espaço do interior do miolo
Rua St. António (foto antiga)
urbano) do que planeado (pensado e infraestruturado

12
para se desenvolver construções em determinado ponto local).
Posteriormente, e já no século XX, são pontos marcantes a aplicação do Plano de
Alargamento da Cidade (1923/25) que desenvolveu uma das áreas da cidade que ainda
hoje é mais agradável (a parte Nascente da cidade, desde o Tribunal até ao Liceu) e que
tem um pendor castrense, numa organização ortogonal assente na criação de uma grande
praça a partir da qual se desenvolviam diversas artérias que se sobrepunham ao terreno
independentemente da cota deste e apesar de ser maioritariamente plano. Mais tarde, com
a implementação do Plano de Crescimento (1949) desenvolveram-se algumas novas (e
grandes, para os moldes do até então edificado) avenidas, nomeadamente nas partes Sul e
Poente da cidade, onde se desenvolveram diversos edifícios multifamiliares, muitos ainda
hoje habitados e muito valorizados.

Esta era então a cidade que a I República legou e que uma nova geração de políticos e
autarcas teve que trabalhar e desenvolver de um atraso e uma paralisia de muitos anos.
Este “não progresso” de Guimarães é tanto mais acentuado quando se compara com a
vizinha (e saudavelmente “rival” do ponto de vista bairristico) cidade de Braga, que mercê
de um Presidente de Câmara invulgarmente capaz ainda no período anterior à Revolução
do 25 de Abril (Santos da Cunha), desenvolveu a cidade de uma forma como Guimarães só
nos anos 90 o começou a fazer.

Entrada da Cidade vista do Hospital (anos 80)

13
O DESPERTAR DE UM GIGANTE ADORMECIDO

“O evidente atraso em que se encontrava o Concelho na sua generalidade,


quer quanto às infra-estruturas (acessibilidade através de vias de terra batida
ou maquedame, que ligavam a sede do município muitas das suas 73
freguesias), a quase inexistência de saneamento básico (água potável e
esgotos), a cobertura de apenas 40% do Concelho de equipamento escolar
primário, a saturação dos espaços dos cemitérios, quer quanto à inexistência
de planeamento ordenador de território, urbano e rural, forneciam um vasto
leque de opções para se poder realizar muitas e variadas obras, se, para tal,
existissem os meios necessários (projectos, dinheiro e pessoas).”
António Xavier, Presidente da Câmara Municipal de Guimarães entre 1980-82
e 1986-89

Guimarães era um concelho que estava adormecido, e porque o seu tamanho o posiciona
como o maior concelho do distrito de Braga, o seu acordar foi lento e vagaroso, mas
começou na década de oitenta a dar as primeiras passadas, ainda que lentas, e impor-se
como ponto fulcral e central de todo o Vale do Ave. Para tal, serviu-se de uma nova geração
de políticos e autarcas (que ainda hoje se encontram, vinte anos depois, em grande parte,
no poder...) e que vieram refrescar e trazer novas ideias e projectos para Guimarães.

A cidade dos anos 80 foi claramente marcada pela execução dos Plano Geral de
Urbanização de Guimarães, Taipas e Vizela. Estes planos não só condicionaram o seu
crescimento mais imediato, como acabou por influenciar até ao dias de hoje, já que o Plano
Director Municipal foi realizado tendo em conta este primeiro PGU, o que permite concluir
que “se não se tem feito aquele trabalho, Guimarães, que hoje tantos apreciam e
enaltecem, não seria certamente o mesmo.” (António
Xavier, Presidente da Câmara Municipal de Guimarães
entre 1980-82 e 1986-89) Neste PGU da cidade, que
incluía já aquela que futuramente viria a ser mais uma
vila do concelho (Pevidém), foi previsto não só o
crescimento dos aglomerados urbanos como ainda a
manutenção do Centro Histórico (nos moldes em que

Azurém (Igreja e Rua 24 de Junho) hoje o encontramos), para além de que o facto de ter
sido executado integralmente na própria Câmara sob
supervisão (e autoria, portanto) do Arq. Fernando Távora, obrigou “à criação de serviços e
quadros técnicos que hoje são o garante da autonomia técnica da Câmara para a
implementação no terreno daquilo que foi projectado no papel”. (António Xavier, Presidente
da Câmara Municipal de Guimarães entre 1980-82 e 1986-89)

14
Paralelamente, foram ainda desenvolvidos Planos para as duas Vilas existentes então no
concelho, Vizela e Taipas, desenvolvidos nos mesmos moldes que o PGU de Guimarães
(trabalho realizado pela Câmara Municipal e autoria do Arq. Carlos Prata em Vizela e Arq.
Manuel Fernandes de Sá e Eng. António Babo nas Taipas).

Assim, começou a formar-se aquela que se poderá considerar como uma terceira parte da
cidade, uma parte que se apresenta espaços mais amplos e com edifícios mais modernos e
que ainda hoje se encontra em desenvolvimento. A cidade que então começou a (re)nascer
seria a partir de agora constituída por artérias mais largas, novas alamedas e praças, pela
absorção das EN’s pelos núcleos urbanos, pela «explosão» das Vilas em redor da cidade
(Pevidém, S. Torcato, Lordelo, Moreira de Cónegos e Ronfe) ou pela aproximação física da
cidade a essas vilas através de novas (ou melhores) vias de comunicação. Outra
característica desta época foi o surgimento das primeiras urbanizações planeadas com
cabeça, tronco e membros, segundo metodologias mais modernas, como a Urbanização
das Quintãs, a Urbanização do Salgueiral ou a Rua 24 de Junho (em Azurém). A introdução
do saneamento na cidade foi mais um marco decisivo porque veio trazer a possibilidade de
se começar a despoluir não só o Rio Ave como também todos os rios (como o Selho ou
Vizela) e ribeiras (como a de Couros, Aveleira ou Nespereira) onde, quer os esgotos
domésticos quer os esgotos industriais, eram despejados directamente sem qualquer tipo
de tratamento prévio e que desaguavam posteriormente no Rio Ave, o que permite
actualmente procurar com cada vez mais interesse os espaços junto a estes cursos de
água, quer para a instalação de equipamentos, quer para a execução de habitação de
qualidade.
Importante, porque já com
tratamento especifico no
planeamento efectuado na
década de oitenta e porque hoje
se apresenta como o seu
principal cartão de visita, não
apenas turístico mas também
quanto a uma metodologia
diferente de se encarar a
reabilitação de zonas históricas
degradadas, foi a assinatura do
Contrato Programa Para a
Recuperação do Centro
Histórico. Tal facto permitiu
desenvolver plenamente o
Vista aérea do Centro Histórico Gabinete Técnico Local (GTL)
que é, talvez, a entidade que mais responsabilidades tem pelo excelente trabalho realizado
e que, como consequência natural, recebeu já diversos e importantes prémios nacionais e

15
internacionais, embora aguarde ainda aquele que será, sem margens para dúvidas, o
prémio mais desejado de todos - a consagração do Centro Histórico como Património
Mundial da Humanidade pela UNESCO, até porque o seu valor cultural global e o
tratamento crítico que lhe foi conferido ao longo destes anos assim o alcandoraram, por
direito próprio, a ostentar esse galardão com inteira justiça!

16
VIRAGEM PARA A MODERNIDADE

“Acontece ainda que esse período 1980-2001 coincidiu com o espaço temporal
imediatamente posterior à Revolução de Abril, à criação de um Poder local
autónomo e à melhor fase de desenvolvimento do Municipalismo em Portugal,
à chegada ao Poder de toda uma nova geração apaixonada por realizar
projectos que ela e as anteriores gerações estiveram impedidas durante
décadas.
É natural por isso, que nesse espaço de 22 anos se produzissem maiores
alterações urbanas em todos os Municípios do País e, também, em Guimarães
que, por exemplo, no mesmo espaço temporal imediatamente anterior, 1958-
1979.”
António Magalhães, Presidente da Câmara Municipal de Guimarães desde
1989

A entrada na última década do século XX traduziu-se pela viragem definitiva do concelho


para a modernidade e desenvolvimento da cidade de Guimarães. O advento do pólo de
Guimarães da Universidade do Minho e a chegada de grandes superfícies comerciais,
juntamente com as novas vias rápidas, deram um novo e renovado fulgor que poderá dar o
impulso final para um crescimento que se consubstancie numa ainda "mais forte
centralidade e atracção supramunicipal da Cidade". (António Magalhães, Presidente da
Câmara Municipal de Guimarães desde 1989)
Novas vilas surgiram (Serzedelo,
Ronfe e a 11 de Abril de 2001
será, ao que tudo indica,
aprovada na Assembleia da
República a Vila de Brito)
elevando assim o número de
Vilas para nove (!) e confirmando
que “Guimarães sempre foi um
Município caracterizado por uma
profunda dispersão urbana em
que a Cidade é o centro do
Concelho, mas com ela existem
subcentralidades (...)”. (António
Magalhães, Presidente da
Câmara Municipal de Guimarães

Uma das novas vilas, Moreira de Cónegos desde 1989)


O crescimento da cidade
continuou de forma imparável em direcção a novas freguesias que agora são parte

17
integrante do perímetro urbano da cidade: Fermentões, Mesão Frio, Costa, Azurém e
Urgeses surgem agora claramente como parte integrantes do núcleo urbano central. A
população integrante do núcleo urbano da cidade deverá constituir-se em cerca de 41 mil
habitantes (estimativa em função do crescimento da população do concelho entre 1991-99),
tendo, portanto, quase quadruplicado num breve espaço de 25/30 anos.
A reabilitação do Centro Histórico, constituído por cerca de 500 edifícios, está já cerca de
50% concluída (segundo dados de 1997, cerca de 250 edifícios tinham sido já reabilitados,
ou seja, cerca de metade dos edifícios do perímetro do Centro Histórico), tendo os espaços
públicos requalificados também uma excelente taxa de cobertura. Nesta altura, procede-se
já à requalificação de outros espaços de elevado valor como a Zona de Couros (que irá ser
"dedicada" à juventude através de equipamentos como centros multimédia e uma Pousada
da Juventude, para além de Museus e outras infra-estruturas similares) e adoptou-se a nível
municipal o RICUH (regulamento que gere as intervenções a efectuar no Centro Histórico
quanto aos materiais, cores e formas construtivas) para todos as construções com idade
estimada superior a 50 anos.
Importante também foi a introdução e
requalificação dos equipamentos existentes na
cidade. Havia uma clara falta de equipamentos
destinados ao desporto e lazer, que começam a
ser agora colmatados com a construção de uma
“Cidade Desportiva” na Veiga de Creixomil,
composta por um pavilhão multiusos para 3 mil
pessoas, piscinas cobertas, pista de atletismo,
"courts" de ténis, campo de futebol amador, parque
radical e edifícios de apoio – tendo como inovação
a tentativa de manter actividades agrícolas dentro
da área de cerca de 200 hectares que vai ocupar,
Veiga de Creixomil, futura “Cidade Desportiva”
que inclui ainda um parque de merendas junto à
Foto: Câmara Municipal de Guimarães área florestada e um lago semi-natural em zona já
afectada por pequenas cheias, para além da
remodelação do antigo Estádio Municipal, hoje
Estádio D. Afonso Henriques, cuja conclusão vai
coincidir com a realização do Euro-2004 nesta
cidade. O reforço do Pólo de Guimarães da
Universidade do Minho, que ainda se encontra em
fase de expansão com a construção de novas
Escolas, trouxe à cidade uma monumentalidade
construtiva que havia desaparecido desde as
Casas Nobres do século XVIII ou os Solares do
Aspecto da futura “Cidade Desportiva” século XIX, salvo raras excepções. Outro tipo de
equipamento que tem vindo a crescer são aqueles que de algum modo estão relacionados

18
com actividades turísticas. Guimarães, não só pelo seu Centro Histórico, mas também
devido a prestigiados museus (Martins Sarmento, da autoria do Arq. Marques da Silva, e
Alberto Sampaio) sempre teve uma forte oferta cultural, que se tem vindo a reforçar com
iniciativas de promoção às festas tradicionais (Festas Gualterianas) ou a formas de turismo
alternativo, como o Turismo de Habitação. Assim, o crescimento do número de hotéis e o
aparecimento do Teleférico da Penha vieram marcar, neste campo, a Cidade.
Surgiram novas urbanizações, tendo maior impacto a Urbanização de Quinta de Margaride,
situada na encosta da Penha, por dar uma escala de cidade (edifícios em altura) como não
era normal na Cidade, apesar de outras zonas, normalmente perto das novas vias de
comunicação (circular urbana, em particular) terem também sido palco de crescimento
acentuado, como na Rua Arqueólogo Mário Cardoso, no Lugar de Selho de Fora em
Creixomil ou em vários lugares de Mascotelos, como Bogalhós.
Assim, se o crescimento horizontal da cidade foi também acompanhado por um crescimento
vertical dos edifícios que o compõem, por uma massificação da habitação colectiva, nas
Vilas, embora também já surjam blocos habitacionais colectivos, a maior parte das
habitações estão inseridas em loteamentos constituídos por 3 a 10 lotes, variando a
ocupação por tipologias entre construções isoladas e construções geminadas em pequenas
bandas. As chamadas “Casas de Emigrante”, assim chamadas por importarem para a
região minhota características de zonas especificas francesas, alemãs ou suíças, começam
a deixar de ter tanta preponderância perdendo fulgor para uma arquitectura mais sóbria,
com granito a rematar as molduras dos vãos e com telhados de telha lusa à cor natural e
por vezes assumindo-se de construção complicada devido ao número de águas que têm.
Na cidade, os prédios perderam o enquadramento com a história da cidade e poucos
elementos os caracterizam com esta zona, podendo tanto estar localizados em Guimarães
como Porto, Lisboa ou Madrid.

Numa entrada da Cidade, a Alameda Mariano Felgueiras, um


hipermercado confronta um Hospital!

19
CONCLUSÕES PARA UMA ANTEVISÃO DO FUTURO

“O tipo das novas construções deve ser o mais individualizado possível, tem
que ter um certo sentido de escala humana, onde predominem os espaços
verdes, numa interpretação saudável e bem de acordo com a índole do nosso
povo que gosta da sua privacidade e adora a natureza. As soluções
concentradas com a edificação de grandes blocos de habitação colectiva,
contrariam o carácter da casa portuguesa e em nada contribuem para a
autêntica felicidade dos povos. Bairros como o da Nossa Senhora da
Conceição surgiram e justificam-se como necessidade de imperiosa de um
momento difícil. Fazer mais e em condições idênticas não é solução que
convenha a Guimarães, como aliás se demonstra não convir em parte
nenhuma, como agora se está a ver lá fora em que colmeias de gente
começando a compreender o logro em que caíram, estão a dar preferência à
habitação mais individualizada, com espaços anexos, relvados e arborizados.
E não se diga que isso é impossível na nossa Terra, porque espaço não falta
se soubermos alargar a cidade no sentido que convém.”
José Maria Gomes Alves, Engenheiro, Presidente da Sociedade Martins
Sarmento em 1982
In “Noticias de Guimarães” de 6 de Agosto de 1982

Já em 1982 a polémica sobre o crescimento das cidades estava instalada neste concelho.
Hoje, como ontem, ainda se diverge sobre qual o caminho a seguir: se por vezes existem
obstáculos de vária ordem (como a existência de zonas verdes, de conjuntos
arquitectónicos protegidos, estradas ou até obstáculos naturais como rios e montanhas), a
maior parte das vezes tudo se
resume à opção, política, de
quem faz a gestão do território.
Quando o território é um
Município, tal significa que essa
mesma gestão pertence à
Câmara Municipal, salvo raras
excepções.
Em Guimarães, as gerações que
nestes últimos 25 anos lideraram
os destinos da Município, foram-
se debatendo com diversos
problemas a que foram dando
respostas, não só na real medida
das suas possibilidades mas

20
também em função de uma visão e de uma forma de gestão características de um
determinado pensamento político.
Assim, se nos primeiros anos houve que combater o atraso geral em que a cidade se
encontrava, dotando-a de estruturas que lhe permitissem futuramente crescer de uma forma
“saudável”, nos últimos anos a cidade tinha já concluídas (ou pelo menos projectadas)
essas estruturas, o que lhe dava a oportunidade de concretizar um crescimento sustentado.
Agora, tudo depende, como se percebe, das opções políticas.

E quais têm sido as opções políticas?

Daquilo que pude concluir, poderia dividi-las em três fases bem distintas:
 na primeira fase, as primeiras opções tomadas foram no sentido de dotar a cidade de novas
vias de comunicação (circular urbana e ligações às freguesias), começar a quase
inexistente rede de saneamento básico e melhorar e aumentar os equipamentos sociais
existentes, ao mesmo tempo que se foram preparando os instrumentos necessários para
uma correcta política de ordenamento dos solos e do urbanismo;
 a segunda fase coincide com a implementação dos instrumentos de planeamento que
permitiram iniciar o crescimento da cidade para novas zonas até então destinadas
maioritariamente à agricultura, sem deixar ainda de renovar e melhorar as infra-estruturas,
como redes de electricidade e telecomunicações, o parque escolar ou as unidades de
saúde;
 a terceira (e última) fase, que estará a esgotar-se, é marcada pela consolidação de um
crescimento urbano assente nas principais vias de comunicação, pelo regular e
regularizador funcionamento do planeamento urbano, e pelo pensar sobre o futuro da
cidade e sobre a cidade do futuro, que são coisas diferentes.

As conclusões que podem ser retiradas destes 25 anos que passaram são de naturezas
diversas. Conforme o Eng. Gomes Alves já dizia em 1982, Guimarães tinha espaço para
realizar um crescimento diferente do que aconteceu. Poderia ter crescido menos em altura
e mais em comprimento. Podia ser mais verde e menos “cinzenta”, apesar de o objectivo e
a intenção ser construir “uma cidade verde, com uma grande qualidade de vida”, o que
“nem sempre conseguimos, mas no urbanismo temos a preocupação de promover os
espaços verdes e a qualidade de vida”. (Vítor Fernandes, Arquitecto, chefe de divisão do
PDM da C.M. Guimarães em entrevista ao “Semanário de Guimarães em 28 de Julho de
2000)
Apesar de nem sempre positivo, nomeadamente por se ter “devassado” o sopé da
montanha da Penha e por se ter permitido um elevado índice de construção na zona de
Margaride, pode-se concluir que mesmo assim a cidade ainda é equilibrada, especialmente
tendo como comparação algumas outras da região do Vale do Ave, como Braga ou Trofa.
No presente momento estão a ser executadas obras, como a “Cidade Desportiva” que são
polémicas por diversas causas: a sua natureza, a sua dimensão espacial e a sua

21
localização. Se a sua natureza já começa a ser consensual e verifica-se que necessária, de
forma a poder criar alternativas para tempos livres e dotar o concelho com equipamentos
excelentes para a prática de modalidades de alta competição, já quanto à sua dimensão e
localização o assunto não é tão claro, isto porque ao construir estes equipamentos em
locais que estavam preservados e onde a maioria dos terrenos são afectos à REN (apesar
dos terrenos das construções da “Cidade Desportiva” não o serem), vai aumentar a
apetência e especulação sobre uma zona que era ainda “virgem”. Depois, porque no âmbito
do Euro-2004, ao ser remodelado o Estádio D. Afonso Henriques, que fica quase no centro
da cidade, questionou-se (com propriedade) se este não deveria ser deslocado para a
“Cidade Desportiva” que goza de excelentes acessos, libertando e devolvendo toda a área
do actual estádio para a cidade.
A execução da circular Sul-
Nascente veio também gerar
mais polémica, pois sobre esse
eixo, e juntamente com mais
alguns pólos como a
Universidade do Minho, a
Estação de Caminhos de Ferro e
as Hortas, vão ser executadas
cerca de 5000 habitações nos
próximos 5 anos, numa
estratégia que, segundo o
Vereador António Castro, aponta
para um “crescimento em pêra (...) que visa construir uma Cidade com massa critica mas
que privilegie ligações fáceis às Vilas que por sua vez terão de ter um centro cívico bem
definido”, sendo que a dita “massa critica” deverá atirar a cidade para uma população de
100.000 pessoas (!) - número considerado politicamente imprescindível para reivindicar
infra-estruturas cuja rentabilidade deva ser assegurada por 10% da população. Estas
afirmações têm vindo a ser debatidas pois não é certo que Guimarães possa, nesta fase,
comportar tamanha densidade populacional sem perder um pouco das suas características
congénitas. Se só o tempo poderá esclarecer se esta opção será a correcta, os alertas que
no passado já se fizeram continuam hoje tão válidos quanto ontem...

Qual será, então, a cidade de Guimarães de amanhã?


Não sei, julgo até que ninguém o poderá saber com certeza absoluta, mas penso que já
hoje estamos a participar na construção da cidade de amanhã com a liberdade de
pensamento e com a liberdade criativa que a Revolução de Abril veio permitir a todas as
gerações subsequentes.

Talvez esta tenha sido a maior vitória que a Revolução alcançou: a liberdade de criar
cidades!

22
DEPOIMENTO DO SR. ANTÓNIO XAVIER
Presidente da Câmara Municipal entre 1980-82 e 1986-89

Solicita-me (...) a minha participação (...) relembrando as duas principais obras concluídas
da Câmara Municipal, nos mandatos a que tive a honra de presidir.
(...) Foram dois os mandatos a que tive a honra de presidir à Câmara de Guimarães,
mandatos estes intervalados por um período de 3 anos, que por tal facto se me apresentam
com realidades já um pouco diferentes.
No primeiro mandato (1980/1982) estava-se no inicio da assunção plena da autonomia do
poder local, onde tudo era dúvida quanto às competências afectas, os seus Planos e
respectivos Orçamentos ainda muito condicionados às escassas transferências financeiras
do Orçamento Geral do Estado e por tal uma real incapacidade de a propalada autonomia o
ser de facto.
O evidente atraso em que se encontrava o Concelho na sua generalidade, quer quanto às
infra-estruturas (acessibilidade através de vias de terra batida ou maquedame, que ligavam
a sede do município muitas das suas 73 freguesias), a quase inexistência de saneamento
básico (água potável e esgotos), a cobertura de apenas 40% do Concelho de equipamento
escolar primário, a saturação dos espaços dos cemitérios, quer quanto à inexistência de
planeamento ordenador de território, urbano e rural, forneciam um vasto leque de opções
para se poder realizar muitas e variadas obras, se, para tal, existissem os meios
necessários (projectos, dinheiro e pessoas).
Foi pois neste cenário de mil e uma dificuldades, que eu irei citar o que para mim
representam as duas principais obras, tendo uma sido iniciada e acabada nesse mandato e
a outra continuada até aos dias de hoje.
A primeira foi sem dúvida aquela que eu considero a mais importante para o presente e
para o futuro da nossa cidade e principais aglomerados urbanos do Concelho. Trata-se pois
do Plano Geral de Urbanização da cidade, Vizela, Pevidém e Taipas. Este documento, cuja
autoria é, como todos sabem, do Arq. Fernando Távora, é o responsável por tudo o que
hoje se está a fazer em toda a cidade (incluindo o Centro Histórico) e já referidos
aglomerados urbanos.
A elaboração deste trabalho, todo realizado na Câmara de Guimarães, obrigou à criação de
serviços e quadros técnicos que hoje são garante da autonomia técnica da Câmara para a
implantação no terreno daquilo que foi projectado no papel. Estou certo de que se não se
tem feito aquele trabalho, Guimarães, que hoje tantos apreciam e enaltecem não seria
certamente o mesmo.
A segunda obra que elejo como mais importante, foi sem dúvida, o investimento quase total
do orçamento da Câmara na construção de muitos quilómetros de vias, que vieram
definitivamente permitir ligar a cidade a todas as freguesias do Concelho, através de
qualquer tipo de transporte rodoviário.

23
Embora fugindo do principio estabelecido, não posso ainda deixar de referir como relevante,
a construção de mais de 20 novos edifícios escolares, que por sinergia se prolongou nos
mandatos seguintes, permitindo ao actual Presidente da Câmara afirmar ter actualmente
Guimarães o melhor parque de equipamento escolar do Distrito.
O segundo mandato (1986/89), evidenciou-se fundamentalmente pela óptima conjugação
de esforços de investimentos integrados que envolveram a Câmara Municipal, a
Administração Central (o Governo) e Empresas Públicas a operar em Guimarães. Esta
conjugação de esforços originou um vasto programa de intervenção nas infra-estruturas
viárias, na saúde (Hospital e Centros de Saúde), no ensino (instalações da Universidade do
Minho e Escolas Secundárias de Creixomil, Urgeses, Taipas e Pevidém), na renovação total
das redes de telecomunicação e nas de abastecimento de energia eléctrica, na primeira
fase da circular urbana com a consequente alteração das entradas na cidade, no Contrato
Programa para a Segunda fase da circular urbana e no Contrato Programa para a
recuperação do Centro Histórico. A realização deste importante programa marcou
definitivamente o inicio da viragem para a modernidade e desenvolvimento da cidade de
Guimarães.
Ao referir estas realizações desenvolvidas por entidades que não a Câmara, pode parecer
que me estou a desviar do tema, mas na realidade se me é pedido que refira uma obra, que
eu classifique como importante, e que a tenha realizado, terei fatalmente que citar esta, pelo
papel preponderante que a Câmara teve na condução de todo este processo.
Como segunda obra do também segundo mandato elegerei a intervenção da Câmara na
modernização de equipamentos desportivos, nomeadamente a construção das bancadas
do então Estádio Municipal e a comparticipação técnica e financeira no Complexo
Desportivo (na altura) de Guimarães, no Pavilhão Francisco de Holanda e nos Bombeiros
Voluntários de Guimarães, das Taipas e de Vizela e ainda das Escolas de Creixomil, S.
Torcato, etc.
Porém, e por que não há duas sem três, vou referir como intervenção mais importante não
só para Guimarães mas também para os Concelhos de Famalicão, Santo Tirso e Fafe, a
fundação da Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE), na qual a Câmara de
Guimarães teve uma acção liderante na sua formação assim como no seu desenvolvimento
que conduziu à modernização de todo o Vale do Ave.

António Xavier, 3 de Março de 1998

24
DEPOIMENTO DO DR. ANTÓNIO MAGALHÃES
Presidente da Câmara Municipal desde 1989

Há vinte e dois anos, quando iniciei em Janeiro de 1980, funções na Vereação da Câmara
Municipal de Guimarães, a Cidade e o Município eram claramente diferentes da sua
realidade de hoje, como notoriamente teria de ser passado um tão significativo período de
tempo.

Acontece ainda que esse período 1980-2001 coincidiu com o espaço temporal
imediatamente posterior à Revolução de Abril, à criação de um Poder local autónomo e à
melhor fase de desenvolvimento do Municipalismo em Portugal, à chegada ao Poder de
toda uma nova geração apaixonada por realizar projectos que ela e as anteriores gerações
estiveram impedidas durante décadas.

É natural por isso, que nesse espaço de 22 anos se produzissem maiores alterações
urbanas em todos os Municípios do País e, também, em Guimarães que, por exemplo, no
mesmo espaço temporal imediatamente anterior, 1958-1979.

E quais foram no que respeita ao Município de Guimarães, essas tão marcantes alterações
urbanas?

Guimarães foi sempre um Município caracterizado por uma profunda dispersão urbana em
que a Cidade é o centro do Concelho, mas com ela coexistem subcentralidades,
historicamente localizadas no Sul na, hoje, Cidade de Vizela, no Noroeste na Vila das
Taipas, no Nordeste na actual Vila de S. Torcato e a Leste no centro industrial de Pevidém.
Mas para além destas, todas as freguesias atraíram sempre a fixação das Populações, a
construção de casa própria, o bairrismo afirmativo de cada uma.

No inicio dos anos 80, a Cidade ainda era muito limitada às freguesias centrais da Oliveira,
S. Paio e S. Sebastião, embora começassem a nascer as Urbanizações das freguesias
periféricas, as Quintãs e a Rua 24 de Junho (Azurém) e o Salgueiral (Creixomil).

Mas se o centro tradicional era a Cidade propriamente dita, o centro histórico, hoje, o
principal eixo da frequência e convivência urbana era uma área extremamente degradada
em que o património que os nossos antepassados nos legaram estava lá, mas sujo e
desaproveitado.
A Cidade era mais velha do que é hoje. Não havia a Universidade que fixou mais tarde toda
uma nova geração, o que aliado à expansão muito elevada da frequência do superior
nestas duas últimas décadas, alterou radicalmente a composição etária e a qualificação
académica da população urbana.

25
Considero, por isso, no que respeita à Cidade as seguintes alterações fundamentais:
- A recuperação qualificada de todo o Centro histórico que lhe transmitiu uma função urbana
central, completamente nova.
- A urbanização da periferia do centro tradicional, criando novos espaços de Cidade e
expandindo fortemente a sua dimensão. Há indiscutivelmente exemplos marcantes de
qualidade como a Av. Londres e a Praça de Igualada e haverá certamente outros em que a
realidade construída não corresponde tão exactamente ao cuidado colocado nos processos
de aprovação dos projectos, mas reconheça-se que nestes vinte e dois anos a esmagadora
maioria dos Vimaranenses mudou de casa, melhorou as suas condições de habitabilidade e
usufrui de uma Cidade para viver com qualidade.
- A nova vivência cultural e de qualificação urbana da nossa População urbana (bastaria
comparar os índices dos censos-81 e do corrente censos-2001) que ganhou mais
exigência, mais solicitações, mais consumo.
- A mais forte centralidade e atracção supramunicipal da Cidade. Guimarães já tinha sido no
passado pelo facto de aqui se localizar o ensino secundário que servia uma ampla região,
uma Cidade com frequência para além dos limites do nosso Município. Mas nestes últimos
vinte anos com a criação da Associação dos Municípios do Vale do Ave, desenvolvemos
uma relação com Famalicão, S. Tirso e Fafe particularmente que muito reforçou a nossa
centralidade.

No que respeita ao Município no seu todo, penso que se verificaram também alterações
profundas:
- Verificou-se uma expansão urbana forte que obrigou a um reforço de equipamentos sociais
nas freguesias mais populosas, pelo que adquiriram o estatuto de Vilas: S. Torcato,
Pevidém, Moreira de Cónegos, Lordelo, Serzedelo, Ronfe e Brito.
- Criou-se uma rede de estradas municipais com muitas centenas de quilómetros,
melhorando fortemente as acessibilidades, permitindo o alargamento das redes de
Transportes urbanos e interurbanos. Para avaliar bem as diferenças, basta recordar que
nos finais dos anos 70, a População do Salgueiral nos limites da Cidade desenvolveu um
processo de luta para ter e passou a ter Transportes urbanos. Hoje todo o Concelho está
servido pelas diversas redes, tendo no corrente ano sido alargada a frequência de modo a
que todas as Vilas sejam servidas com um serviço de Transportes tipo urbano.
- Construíram-se e remodelaram-se Escolas EB1 (antigas primárias), passando a usufruir de
espaços educativos de qualidade as mais remotas freguesias rurais. Na última década,
desde que presido o Município, foi desenvolvida a rede de refeitórios escolares, de forma a
garantir as melhores condições a todas as crianças que frequentam a rede escolar. A Vila
das Caldas das Taipas passou a ter ensino secundário até ao 12º ano e há novas escolas
EB23 em quase todas as restantes Vilas.
- Criaram-se redes de distribuição de água e saneamento com uma cobertura em toda a área
concelhia mais populosa, partindo-se de uma realidade muito deficitária, já que não havia

26
distribuição domiciliária de água com os problemas de salubridade inerentes na grande
maioria das Vilas e freguesias.
- Edificaram-se novas Sedes de Juntas de Freguesia e Centros Sociais, espaços de convívio
e dinamização associativa, e equipamentos desportivos em quase todas as freguesias de
forma a desenvolver a participação cívica das populações, garantindo igualdade de
condições de cidadania a todos.

O mundo rural ficou radicalmente diferente. As novas gerações, neste inicio de milénio,
nestas freguesias incluem já muitos jovens licenciados, possuem uma qualificação
profissional completamente diferente da geração dos seus Pais que construiu o poder local
ao nível das pequenas autarquias.

António Magalhães, 23 de Março de 2001

27
BREVE CRONOLOGIA DO PLANEAMENTO URBANO

1867 - Plano de "Melhoramentos" para a Cidade de Guimarães - Eng. Manuel de Almeida


Ribeiro

1923/25 - Plano de "Alargamento" da Cidade de Guimarães - Capitão Luís de Pina


Previa uma grande praça (hoje a Praça da Mumadona), articulando a partir desta três novas
artérias orientadas a Sul/Nascente em forma de "pata de ganso". Com base na artéria
situada mais a Nascente, desenvolvem-se diversos quarteirões ortogonais, de formato
rectangular. O alargamento previsto neste plano traduzia-se, como aliás se pode verificar
hoje em dia, numa área superior à cidade então existente. Como se depreende, este plano
foi cumprido em grande parte, se nem sempre à risca pelo menos no espírito da ideia, sendo
hoje a zona da Mumadona (Tribunal), do antigo Liceu (hoje Escola Secundária Martins
Sarmento) e das Piscinas.

1949 - Plano de Crescimento (Parcelar) da Cidade de Guimarães - Arq. Moreira da Silva e


Arq. Arménio Losa
Prevê um crescimento da cidade alicerçado nas grandes vias de comunicação com as
cidades/vilas limítrofes, nomeadamente as estradas para Braga/Taipas, Santo Tirso/Vizela e
São Torcato/Fafe.

1982 - Plano Geral de Urbanização da Cidade - Arq. Fernando Távora


Este plano inclui pela primeira vez áreas até então completamente exteriores à cidade,
como Pevidém. Pela primeira vez, são previstos zonamentos para construção. Para além da
circular urbana, previa novos arruamentos, incluindo um em túnel sob a colina do Castelo.
As principais zonas de crescimento então previstas eram a Poente do cemitério (na zona
hoje conhecida por Alto da Bandeira) e a Nascente do "Liceu", incluindo a zona das Hortas e
a área de Margaride, na encosta da Penha. Apesar de ser o 1º plano em Guimarães
realizado segundo os métodos urbanísticos modernos, foi na época amplamente criticado,
nomeadamente pelo presidente da mais prestigiada instituição cultural da cidade, Sociedade
Martins Sarmento (Eng. J. M. Gomes Alves).

1985/92 - Plano Geral de Urbanização Revisto das Taipas - Arq. Manuel Fernandes de Sá e
Eng. António Babo
1988/92 - Plano Geral de Urbanização Revisto de Vizela - Arq. Carlos Prata
Nestes dois planos para as Vilas das Taipas e Vizela, previa-se e tentava-se ordenar o
crescimento futuro destas.

28
1993 - Plano Director Municipal - Arq. Miguel Frazão
Este plano, até por imperativos legais, não faz tanto uma previsão à escala de cidade, antes
trabalha o concelho num todo e apenas referencia as grandes vias de comunicação e os
zonamentos construtivos, deixando para posteriores planos de pormenor a execução mais
localizada, o tratamento a uma escala mais humana e próxima dos planos anteriores.
Apesar de por decisão camarária este plano ter sido executado pelos técnicos da própria
autarquia, teve a colaboração exterior de diversos técnicos, nomeadamente daqueles que
na década anterior realizaram os diversos planos de urbanização das áreas urbanas e
daquele que executou as normas preventivas que serviram de base do PDM, o Arq. Nuno
Portas.

29
30
BIBLIOGRAFIA

Brochura do PDM de Guimarães


Edição da Câmara Municipal de Guimarães, 1993

Programa Operacional Económico (POE)

Plano Estratégico Vale do Ave 2000-2006


Edição AMAVE
II Plano Estratégico Vale do Ave - Projectos para o Período 2000-2007
Edição AMAVE

Jornal EXPRESSO
Jornal PÚBLICO
Jornal NOTÍCIAS DE GUIMARÃES
Jornal O COMÉRCIO DE GUIMARÃES
Jornal SEMANÁRIO DE GUIMARÃES

Indicadores Urbanos do Continente 1999


Série Estudos n.º 80
Edição INE
Pressão Construtiva nos Concelhos com Cidades Médias - 2000
Edição INE
Informação à Comunicação Social
"Estatísticas da Construção de Edifícios
Licenciamento e Habitação - 1999"
8 de Setembro de 2000
Edição INE
Informação à Comunicação Social
"Indicadores de Desenvolvimento Económico e Social
Comarcas/Concelhos da Galiza e do Norte de Portugal"
23 de Novembro de 2000
Edição INE
Censos 1970, 1981 e 1991 e Dados Provisórios de 1998 e 1999
Edição INE
Página on-line da Câmara Municipal de Guimarães
Página on-line do Instituto de Nacional de Estatísticas
Página on-line da Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE)

31
32

Você também pode gostar