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HISTÓRIA E TEORIA DO URBANISMO 1 2011/2

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
E A CIDADE

Professor:
Daniel Pereyron
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Avanços científicos e tecnológicos (moinho têxtil,


máquina a vapor, energia elétrica, motor de
combustão)
Imperialismo: luta na conquista do mercado
Urbanização desenfreada
Miséria
Disseminação das epidemias
Abundância material (industrialização)
Lazer para classe média
Estilo Neoclássico (monarcas imperialistas)
Esfera urbana: prioridade tráfego e higiene
Os progressos científicos e técnicos realizados a partir
da metade do século XVIII, iniciados na Europa ocidental
levam a um aumento da produtividade do trabalho,
acarretando a um aumento da produção global,
possibilitando o crescimento demográfico e a elevação do
nível de vida.

Paralelamente, a estrutura da população ativa se


transforma, 80% da população ativa encontrava-se no setor
primário e com as mudanças este número passa para 10%,
Como conseqüência, observa-se o êxodo rural, que
aumenta a população das cidades de forma desordenada,
gerando graves problemas de infra-estrutura, habitações,
higiene, entre outros.

Com o intuito de solucionar ou amenizar estas


situações, tornou-se necessário um planejamento e ações
que modificassem o crítico estado das aglomerações
urbanas.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: PROBLEMAS DAS CIDADES
CRONOLOGIA

Em meados do séc. XVIII, a Revolução Industrial muda o curso dos


acontecimentos, na Inglaterra e mais tarde em todo o resto do
mundo.

DESTAQUE DE ALGUNS FATORES:

1) Populacionais
Aumento da população devido à diminuição do índice de
mortalidade (na Inglaterra de 7 milhões em 1760 para 14 milhões em
1830);
Cresce a duração média de vida (de cerca de 35 anos para 50
anos);
Modifica-se a estrutura da população, porque aumenta o número de
jovens devido à queda da mortalidade infantil.
2) Econômicos

Capitalismo, maximização do lucro.

Aumento dos bens e dos serviços produzidos pela agricultura,


indústria e atividades terciárias, conseqüência do progresso
tecnológico e do desenvolvimento econômico.

O aumento da população e da produção formam um círculo


ascendente de ligação, ou seja, os habitantes mais numerosos
exigem mais bens e serviços.

Os bens e serviços, por sua vez, aumentam em quantidade e


qualidade de vida fazendo com que a população busque
outros bens mais abundantes e diversos.
Cidade Industrial – céu X terra (taxas – pagamento)
3) Sócio-cultural

A redistribuição dos habitantes no território, em conseqüência


do aumento demográfico e das transformações da produção.

Os camponeses cultivadores se tornam assalariados ou


operários das indústrias, transferindo-se para as cidades.

A transferência dos camponeses ocorre nos arredores das


cidades onde existem estabelecimentos industriais e jazidas
de carvão.

O crescimento das cidades é muito rápido, seja pelo


aumento natural da população e/ou pelo fluxo migratório dos
campos.

Exemplo: Londres, no final do séc. XVIII tem um milhão de


habitantes, em 1851 chega a dois milhões e meio, e no
começo do sec. XX atinge sete milhões.
4) Político
Tendências do pensamento político:

A desvalorização das formas tradicionais de controle público do


ambiente construído (os planos urbanísticos, os regulamentos,
etc.), que são considerados sobrevivência do antigo regime.

A recusa em aceitar as dificuldades do ambiente como fatos


inevitáveis.
A crença em corrigir os defeitos atuais com uma ação calculada.

Tomadas de decisões:

Os governos decidem vender os terrenos de propriedade pública


com a finalidade de pagar suas dívidas.

A classe dominante utiliza desta decisão do governo para investir


nestes terrenos dando início a uma valorização da iniciativa
privada.
5) Serviços urbanos e equipamentos
O desenvolvimento dos meios de comunicação:

As estradas de ferro, introduzidas em 1825 e difundidas


rapidamente na Inglaterra e em todos os outros países;
impulsiona o crescimento dos principais centros urbanos – mais
poderosa arma da economia;
Em 1825 foi construída a primeira estrada de ferro de Stockton
a Darligton, que promove mudanças fundamentais na
velocidade de deslocar pessoas, matérias primas e
mercadorias.

As estradas de pedágio;
Os canais navegáveis, construídos na Inglaterra de 1760 em
diante;
Os navios a vapor, que no mesmo período têm condições de
substituir os navios a vela.
 Estes meios permitem uma mobilidade incomparavelmente
maior, facilitando tanto o transporte de mercadorias (de
qualquer natureza ou valor), quanto da população em
realizar pequenas, médias ou longas viagens, independente
da classe social.

 A rapidez e o caráter aberto das transformações a partir


deste período modificam, também o ambiente construído.
Um edifício, por exemplo, não é mais considerado uma
modificação estável, incorporada no terreno, mas um
manufaturado provisório que poderá ser substituído por
outro manufaturado.
Ponte suspensa sobre estreito de
Conway – Thomas telford – 1826
Estrada de ferro - Londres – Birmingham – construção 1836
6) Problemas das cidades

Os problemas das cidades se agravam (congestionamento do


tráfego, insalubridade, “feiúra”, etc.) tornam insustentável a vida
das classes subalternas, invadindo, posteriormente, o ambiente de
todas as outras classes.

A partir deste contexto representantes das classes dominantes e


representantes das classes subalternas (radicais e os socialistas)
propõem alternativas de solução através de uma intervenção
pública, ou para corrigir separada e gradualmente os
inconvenientes individuais, ou para recomeçar desde o início,
contrapondo à cidade existente novos tipos de conjuntos
habitacionais ditados por teorias.

Constata-se, na primeira metade do séc. XIX, que os problemas da


cidade Industrial são tão numerosos e complexos que há um
“abismo” entre a realidade e o ideal a ser alcançado.
7) Características das cidades

O crescimento acelerado das cidades demarca dois setores:


núcleo e periferia.

1) A transformação do núcleo existente (estrutura originária da idade


média ou moderna) tornando-se o centro do novo organismo, apresenta as
seguintes características:
- Equipamentos urbanos: monumentos (igrejas, palácios, etc.) muitas vezes
dominando o ambiente da cidade.
- As ruas são extremamente estreitas para absorver o trânsito em contínuo
crescimento.
- As casas são muito pequenas para abrigar a população mais densa.
- As classes dominantes vão abandonando o centro e se estabelecendo na
periferia.
- As casas antigas ou casebres abandonados do centro vão sendo
ocupadas por pobres ou recém-imigrados.
- Os prédios monumentos da cidade histórica (palácios, conventos, etc.) são
abandonados por causa das revoluções sociais sendo divididos por
pequenas moradias improvisadas.
- As zonas verdes (jardins atrás das casas em fileira,
jardins maiores dos palácios, hortas comunitárias) são
ocupados por novas construções, casas e barracões
industriais.
OBS.: Os efeitos destas transformações se tornam maiores e mais graves
em meados do séc. XIX.

Formação ao redor deste núcleo de uma nova faixa


construída: a periferia com as seguintes características:

- Território livre para diferentes ocupações diferentemente


do núcleo (centro histórico da cidade), tais como: bairros
de luxo, bairros pobres, indústrias, depósitos, instalações
técnicas. No decorrer do tempo os tecidos urbanos se
integram formando um tecido compacto, porém, sem
nenhum tipo de planejamento.

- Na periferia industrial não há homogeneidade social e


arquitetônica com o núcleo (centro antigo da cidade).
Vista do centro de Londres
1851 – Firma Banks & Co
-As tipologias eram caracterizadas da seguinte maneira:

Ricos e médios burgueses: residência individual com


jardins reservada antigamente para os reis e os nobres se
torna acessível também aos ricos e aos médios burgueses,
porém, numa versão reduzida.

A característica mais marcante é o grau de independência


recíproca do nível social: os ricos e médios burgueses
possuem casas mais isoladas (vilas e vilazinhas,
respectivamente).

Pobres têm habitações menos isoladas: casa em fileira ou


moradas sobrepostas em edifícios de muitos andares.
Bairro elegante Paris – Rua Rivoli – metade séc. XIX – fachada
uniforme – imposição regulamento das construções
Observações

Grupos de especuladores investem em construções populares


marcadas por uma dimensão bem reduzida, utilização de
materiais e técnicas construtivas de qualidade inferior,
ocasionando baixo custo da construção e maximização do
lucro.

Mesmo estas casas possuindo uma qualidade melhor do que as


cabanas originárias dos campos provenientes da migração
destes povos, possuem uma área interna menor e não tem
espaços externos para atividades ao ar livre. Ambas moradias
apresentam serviços primitivos ou não existem. Para o operário,
o aluguel destas casas dificulta sua sobrevivência.

As ruas dos bairros pobres são marcadas por esgotos


descobertos, acumulando sujeiras e, no mesmo espaço,
circulam pessoas, veículos, animais vagueando e crianças
brincando.
h - Grupos casas
operárias –
Nottingham – 1845
l – latrinas externas
Cidade industrial inglesa por Gustave Doré. Conhecida
gravura mostrando habitações apinhadas de gente..
Rua bairro pobre de Londres
1872
Mortos de cólera –
distrito de Soho –
Londres - 1854
Estes bairros pobres se desenvolvem nos lugares mais
desfavoráveis, próximo das indústrias e das estradas de ferro e
longe das zonas verdes. As fábricas perturbam as casas com a
poluição e com o barulho, poluem os cursos de água e aumentam
o movimento do trânsito.

Este ambiente desordenado, caótico e inabitável é chamado de


cidade liberal, resultante de muitas iniciativas públicas e
particulares, não-reguladas e não-coordenadas. A liberdade
individual conseqüência do desenvolvimento da economia
industrial, mostrou-se insuficiente para regular as transformações
urbanísticas e arquitetônicas.

As classes pobres sofrem diretamente os efeitos da cidade


industrial, mas as classes ricas também foram atingidas. Em torno
de 1830 o cólera atinge a Europa, vindo da Ásia, desenvolvendo
epidemias nas grandes cidades, obrigando os governantes a
resolverem, pelo menos, os problemas higiênicos.
A partir de então, é promovido uma série de palestras e
publicações tratando dos problemas das cidades industriais sendo
apresentados à opinião pública, que reage e reclama por
intervenções urgentes.

Após anos de discussões (1842 a 1848) é votada a


primeira lei sanitária na Inglaterra.

Na França em 1850, na Itália em 1865 e, assim por diante, nos


demais países. Esta lei será usada para administrar a cidade pós-
liberal.

Alguns Teóricos

Robert Owen (1771-1858)

Charles Fourier (1772-1837)


Cidade industrial inglesa –Middlesborough
Cidade industrial inglesa –Colne Valley
Habitações operárias. Manchester.
Engels, em 1887, mostra três etapas
das vielas e pátios internos. Na cidade
antiga adensada até “ que não ficou
entre as casas nenhuma polegada a
construir”.

Exíguos pátios internos, imundícies


várias, sanitários com esgoto a céu
aberto e péssima ventilação, o
mesmo acontecendo nas casas fora
do centro antigo.

Alguma melhora ocorre no último


exemplo, nas casas voltadas para as
ruas com aluguel diferenciado,
permanecendo a baixa qualidade na
viela interna.
Bairros periféricos de Manchester – espaço entre 2 ruas –
divisão lotes em pátios regulares – problemas de ventilação –
nocivo à saúde dos operários
Casas – pagamento de aluguel
Bairros periféricos de Manchester – ventilação casas fileira 1
melhor que da fileira 3 – ventilação

200 casas – viviam 4.000 pessoas – poluição


Crises comerciais - desemprego
Regent Park, Londres.

Gravura mostrando a
ambiciosa operação
urbana do Príncipe de
Gales, projeto de Jonh
Nash com o
paisagista H. Repton.
Liga St. James Park e
Green Park ao
Regent´s Park, onde o
relacionamento entre
cada proprietário com
o parque torna,
segundo E. Bacon,
“cada homem um rei”
em sua propriedade
rural.
Reconstrução de Londres após incêndio. Plano proposto por
Christofher Wren, em 1666. Vias retilíneas cortando a antiga
configuração medieval da cidade .
Instalações
da cidade –
metade séc.
XIX
Infraestrutura
ruas Paris
Construção
esgoto
Londres
Estrada de Ferro Subterrânea de londres - 1867
Planta da
aldeia
operária de
Saltaire –
fundada em
1851
Aldeia operária –
construída pela Aristans -
londres
Casas
operárias –
exposição
Universal Paris
– 1878

Casas
operárias
modelo –
londres - 1848
Interior Palácio de Cristal – Londres – Joseph Paxton
Hyde Park– Exposição Universal de Londres - 1851
Interior Palácio de Cristal – Londres – Joseph Paxton
Hyde Park– Exposição Universal de Londres - 1851
REFERÊNCIAS:

BENEVOLO, Leonardo. HISTÓRIA DA CIDADE. Editora Perspectiva S.A. 2.A.


Edição, 1993.

JELLICOE, Geoffrey e Susan. EL PAISAGE DEL HOMBRE, Ed. Gustavo Gilli


S.A. Barcelona, 1995.

LAMAS, José M. R. MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE.


Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.

SOUZA, Célia F. CADERNOS DA EVOLUÇÃO URBANA – Disciplina de


evolução urbana – Fac. Arquitetura e Urbanismo UFRGS

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