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África Ásia e Pacífico Europa América Latina e Caribe América do Norte Ásia Ocidental Mundo
Atualmente, quase metade da população mundial vive em áreas urbanas. A África e a Embora todas as regiões ainda estejam se urbanizando, o ritmo desse processo, de
Ásia e Pacífico são as regiões menos urbanizadas do mundo, ao passo que América do forma geral, está decrescendo, apesar de na África as taxas estarem mudando pouco
Norte, Europa e América Latina e Caribe são as mais urbanizadas. e na América do Norte, por outro lado, estarem aumentando.
Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001b Fonte: compilado de United Nations Population Division, 2001b
262 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
Imagem de satéli- Vínculos com a economia mundial Como resultado desse fenômeno, houve uma cres-
te das luzes das
cidades do mundo A globalização vem avançando há décadas, mas o cente competição por investimentos externos dire-
composta a partir
de uma série de impacto das novas tecnologias de informação fez tos e a possibilidade dos empregadores de mudarem
imagens noturnas
da Terra tomadas
com que a sua velocidade e alcance aumentassem com mais facilidade os locais de produção, o que
durante um longo significativamente. Essas tecnologias reforçam a im- tornou piores as condições de segurança de empre-
tempo. O leste
dos Estados Uni- portância do conhecimento e da informação na trans- go e de renda em algumas áreas urbanas, mas bene-
dos, a Europa e o
Japão brilham, formação econômica, ao mesmo tempo em que redu- ficiou outras.
iluminados por
suas cidades, en- zem a importância relativa da indústria de transfor- Entre a década de 1970 e meados da de 1990,
quanto os interio-
res da África, da
mação e do desenvolvimento industrial baseados alguns países asiáticos se beneficiaram claramente
Ásia, da Austrália em matérias-primas. Nas áreas urbanas, esse fenô- desse desenvolvimento e registraram um espetacular
e da América do
Sul permanecem meno tem se manifestado no crescimento do setor crescimento nos campos econômico e social. No en-
na escuridão,
sendo áreas pre- de serviços, em termos tanto absolutos quanto rela- tanto, a crise econômica asiática de 1997 e 1998 afe-
dominantemente
rurais. tivos. A tecnologia aumentou a importância e o pa- tou não somente essas economias, como também as
Fonte: Mayhew e pel econômico das áreas urbanas, não só nas eco- de outras regiões. Os impactos humanos da crise fo-
Simmon, 2000
nomias mais desenvolvidas, mas em todo o mundo ram contundentes: a pobreza na Ásia cresceu, e hou-
(Economist, 2000; World Bank, 2000). Na Índia, o ve demissões em massa, particularmente entre mu-
desenvolvimento de softwares e de serviços afins lheres, jovens e os sem qualificação profissional.
de informação e comunicação constitui o setor pre- A crise asiática mostrou que as áreas urbanas
ponderante para o crescimento econômico. Esse são extremamente vulneráveis aos impactos da eco-
novo setor de crescimento – que apresentou um cres- nomia mundial. Ao mesmo tempo em que a globa-
cimento mais acelerado e se tornou mais competiti- lização aumentou com freqüência as oportunidades
vo no mercado internacional que qualquer um dos de empregos e de acesso ao conhecimento, fez cres-
outros setores industriais tradicionais – está concen- cerem também as desigualdades sociais e os índices
trado em grandes áreas urbanas devido à melhor in- de pobreza. Os benefícios advindos da globalização
fra-estrutura e ao melhor nível de educação dos re- não são compartilhados eqüitativamente, o que re-
cursos humanos oferecidos pelas cidades. sulta em um grande número de pessoas que vivem em
Teve início na década de 1970 uma nova fase favelas, sem acesso a serviços de saneamento e a
da globalização, com a desregulamentação dos mer- água encanada, além de gerar desemprego, proble-
cados de trabalho, a liberalização dos mercados fi- mas de saúde e exclusão social nos países desenvol-
nanceiros e a privatização das funções do Estado. vidos (UNCHS, 2001b).
ÁREAS URBANAS
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no contribui para a poluição atmosférica, e a grande adversos em corpos d’água, o que deixou muitas ci-
concentração de carros e indústrias nas cidades cau- dades sem um abastecimento seguro.
sa a maior parte das emissões urbanas de gases de Embora alguns problemas ambientais locais
efeito estufa em todo o mundo. tendam a diminuir com o crescimento dos níveis de
As cidades freqüentemente estão localizadas renda, outros problemas ambientais tendem a piorar
em solos de alta aptidão agrícola. Se essa terra é des- (McGranahan e outros, 2001). Os mais evidentes são
tinada a usos urbanos, é exercida uma pressão adici- os altos níveis de uso de energia e os crescentes
onal nas áreas adjacentes, que podem ser menos índices de consumo e de produção de resíduos. Os
População de algumas das principais cidades do mundo, por região (em milhões)
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Los Angeles
Chicago
Toronto
Nova York
Filadélfia
Guadalajara
Cidade do México
Bogotá
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Santiago Belo
Horizonte
Rio de Janeiro
São Paulo
Porto Alegre
Buenos Aires
Londres
Paris
Essen
Milão
Katowice
Varsóvia
Budapeste
São Petesburgo
Minsk
Kiev
Baku
Bucareste
Istambul
Moscou
Aleppo
Beirute
Bagdá
Damasco
Riyadh
Arbil
Alexandria
Casablanca
Cairo
Khartoum
Addis Abeba
Abidjan
Lagos
Kinshasa
Nairóbi
Luanda
Dar es Salaam
Maputo
Johannesburgo
Cidade do Cabo
Délhi
Karachi
Bombaim
Dhaka
Calcutá
Jakarta
Metro Manila
Xangai
Beijing
Seul
Tóquio
adequadas à agricultura. A urbanização em zonas habitantes das áreas urbanas são extremamente de-
Dez das
megalópoles do costeiras muitas vezes causa a destruição de pendentes dos combustíveis fósseis e da eletricida-
mundo estão na
Ásia e Pacífico – ecossistemas sensíveis, podendo, também, alterar a de, e as cidades mais abastadas tendem a utilizar mais
Tóquio, com mais
de 26 milhões de
hidrologia costeira e as suas características natu- energia e a produzir mais resíduos.
habitantes, é, rais, como manguezais, recifes e praias que servem Particularmente nas cidades dos países em de-
atualmente, a
maior a cidade do como barreiras contra a erosão e formam importan- senvolvimento, a coleta inadequada de resíduos e
mundo.
tes habitats para diversas espécies. seus ineficientes sistemas de manejo são as causas
Fonte: United
Nations Population Áreas residenciais com densidade de baixa a da séria poluição urbana e dos riscos para a saúde
Division, 2001
média ao redor de centros urbanos (espraiamento pública. Atualmente, as cidades dos países industria-
urbano) são comuns no mundo desenvolvido. Uma lizados deparam-se com as conseqüências das técni-
infra-estrutura bem desenvolvida e o crescente uso cas de produção ambientalmente nocivas do passa-
do automóvel facilitaram essa tendência. Associa- do, bem como com a disposição inadequada de resí-
do ao crescimento no uso do transporte motorizado duos. Isso resultou em diferentes formas de poluição
particular, o espraiamento urbano produz um efeito e, em particular, no surgimento de terrenos contami-
especialmente destrutivo sobre o meio ambiente. nados em antigas áreas industriais, atualmente aban-
Além disso, o desenvolvimento de baixa densidade donadas, vazias ou subutilizadas, onde a retomada
ocupa, proporcionalmente, áreas mais extensas de do desenvolvimento é impedida devido a problemas
terra per capita. de ordem ambiental e à falta de informação adequada
A água é uma questão essencial no meio urba- sobre o manejo de terras contaminadas (Butler, 1996).
no. A intensidade da demanda nas cidades pode rapi- Outro problema que surge nos países desenvolvi-
damente exceder a capacidade de abastecimento lo- dos é a falta de aterros sanitários para satisfazer à
cal. O preço da água é normalmente inferior ao custo crescente demanda por áreas para disposição de re-
real de obtenção, tratamento e distribuição, em parte síduos sólidos.
devido aos subsídios governamentais. Como resul- O agravamento das condições ambientais
tado, os domicílios consumidores e a indústria têm pode ter sérios efeitos sobre a saúde e o bem-estar
pouco incentivo para preservar os recursos hídricos humanos, especialmente na população carente
(UNEP, 2000). A poluição decorrente do escoamento (Hardoy, Mitlin e Satterthwaite, 1992). Serviços de
e infiltração de contaminantes urbanos, de esgotos e saneamento deficientes acarretam riscos ao meio am-
descargas não tratadas de indústrias causou efeitos biente e à saúde, principalmente devido à exposição
ÁREAS URBANAS
265
locais, com maior autonomia financeira e legislativa, lo, a gestão ambiental urbana parece concentrar-se mais
e a reorganização de instituições com pouca capaci- na mudança de culturas, tanto empresarial como eco-
dade de resposta e de estruturas burocráticas. nômica e política (Elkington, 1999).
Também envolvem a cooperação entre cida-
des e o intercâmbio de experiências e conhecimentos Conclusão
adquiridos. O Conselho Internacional para Iniciati- Dada a esperada dimensão do crescimento da popu-
vas Ambientais Locais trabalha com 286 governos lação urbana nas décadas futuras, um crescimento
locais em 43 países para melhorar a gestão local de contínuo da população urbana carente irá se apre-
energia e reduzir as emissões de gases de efeito estu- sentar como um desafio fundamental para a sustenta-
fa (Skinner, 2000). Entre outras iniciativas, foi desen- bilidade mundial (Environment and Urbanization,
volvida a Pareceria de Estocolmo para Cidades Sus- 1995a e 1995b; Pearce e Warford, 1993). A principal
tentáveis, cujo objetivo é introduzir o conceito de preocupação se refere ao desenvolvimento de megaló-
sustentabilidade no planejamento de cidades, por poles e de extensas áreas urbanas no mundo em de-
meio de parcerias entre cidades e empresas. As inici- senvolvimento, devido à rapidez e à escala da urbani-
ativas da Agenda 21 Local para o Habitat demonstra- zação e à incapacidade dessas cidades de prover ha-
ram ser eficazes na implementação de políticas de bitação suficiente e serviços urbanos básicos.
desenvolvimento sustentável que contam com a par- Uma melhor gestão ambiental urbana poderá
ticipação de membros da comunidade e do governo ajudar a evitar efeitos negativos para o meio ambien-
(Tuts e Cody, 2000). te, particularmente se os governos instituem políti-
Em vista da importância das circunstâncias es- cas urbanas claras como parte integral de suas políti-
pecíficas de cada lugar e das diferentes realidades po- cas econômicas. No entanto, o crescimento urbano
líticas, não há uma abordagem viável para solucionar ainda não é bem administrado na maioria das áreas
problemas ambientais urbanos que possa ser aplicada com rápida urbanização, o que causa severos proble-
a todas as cidades. Um primeiro passo é desenvolver mas ambientais e de saúde, associados principalmen-
uma agenda ambiental local para avaliar a situação te à pobreza.
particular do lugar no tocante a assuntos ambientais, A urbanização continuará a desempenhar um
de forma que essa informação possa ser utilizada no papel importante na economia, no meio ambiente e
planejamento de cidades. Embora em 1970 a ênfase vida das pessoas. O desafio é aprender como convi-
fosse dada principalmente a políticas públicas e regu- ver com ela e, paralelamente, aproveitar suas vanta-
lamentação, no início da década de 1990 o foco era nos gens e conduzir os seus impactos indesejáveis e ne-
mercados e nas soluções técnicas. Na virada do sécu- gativos em uma direção possível de administrar.
População urbana (em milhões) por sub-região: África Nível de urbanização (%): África
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Oceano Índico Ocidental
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ÁREAS URBANAS
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O uso de
combustíveis
tradicionais em
densos assenta-
mentos irre-
gulares está
causando níveis
de poluição
atmosférica
prejudiciais,
especialmente
para as crianças.
como as motocicletas e os táxis de três rodas, repre- Esse problema agravou-se nos últimos trinta anos.
Nível de urbanização (%): Ásia e Pacífico População urbana (em milhões) por sub-região: Ásia e Pacífico
1.400
Pacífico Sul Ásia Central
Sul da Ásia
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Noroeste do Pacífico e Leste Asiático
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entanto, em termos absolutos, a China e a Índia pos- tralização é limitado pela falta de capacidade insti-
suem o maior número de habitantes urbanos (mais de tucional dos governos locais, pela mobilização limita-
20 milhões de em cada país) sem acesso a abasteci- da dos recursos em âmbito local e pelo acesso restri-
mento d’água seguro (WHO e UNICEF, 2000). to ao financiamento de longo prazo para os progra-
Os serviços de saneamento são menos desen- mas de investimento (World Bank, 1998). Embora a
volvidos que o abastecimento d’água: 23% dos habi- descentralização e a autonomia local estejam ganhan-
tantes urbanos ainda carecem de saneamento ade- do mais força, os níveis mais altos de governo exer-
quado (em contraste com apenas 7% daqueles que cem um controle excessivo, o que causa uma dispa-
não têm acesso a água tratada). Esses dados foram ridade entre as responsabilidades dos governos lo-
compilados a partir de uma amostragem de 38 países cais e seus recursos (UNCHS, 2001).
da Ásia e do Pacífico para os quais há estatísticas Além das ações nacionais, desenvolveram-
disponíveis referentes ao ano 2000 (OMS e UNICEF, se programas internacionais e regionais para apoiar
2000). Mais de 50% da população urbana do Afega- a gestão ambiental urbana na região, entre os quais
nistão e da Mongólia ainda não tem acesso a servi- se destacam o Plano de Ação Regional para Urba-
ços de saneamento básico. nização, a Iniciativa Ásia-Pacífico 2000, o Progra-
As inundações e a subsidência do solo cons- ma de Gestão Territorial, o Programa Local de Li-
tituem outro grande problema do meio ambiente ur- derança e Capacitação em Gestão e o Plano de Ação
bano. Em Bangkok, por exemplo, as enxurradas para o Desenvolvimento Urbano Sustentável (Agen-
provocadas pelas monções freqüentemente ultrapas- da 21 Local).
sam a capacidade de escoamento do Rio Chao Phraya, A urbanização é um dos problemas mais signi-
problema exacerbado pelo progressivo assoreamento ficativos que a região da Ásia e Pacífico enfrenta. O
dos “khlongs” (canais) à medida que as áreas urba- crescimento desordenado, as práticas inadequadas
nas se expandem. Ademais, a extração excessiva de de disposição de resíduos, a falta de abastecimento
águas subterrâneas foi causa de notáveis casos de adequado de água potável e de infra-estrutura de sa-
subsidência do solo em Bangkok, fenômeno que au- neamento, as inundações e a subsidência do solo
menta a probabilidade de inundações e agrava seus são questões cruciais enfrentadas atualmente pelas
efeitos. Condições similares foram relatadas em ou- áreas urbanas. Como resposta, o investimento em sis-
tras bacias hidrográficas (ADB, 2001). temas domésticos de águas residuais e em esquemas
de manejo de resíduos sólidos e de abastecimento
Iniciativas dirigidas aos problemas ambientais d’água acelerou-se em muitos países. As áreas urba-
urbanos nas oferecem oportunidades de emprego, melhor edu-
Vários governos estão promovendo um desenvolvi- cação e infra-estrutura de atendimento médico, po-
mento descentralizado e participativo com a finalida- rém é cada vez mais difícil fornecer a infra-estrutura
de de ajudar a mobilizar recursos para melhorar a infra- material requerida pelos serviços que promovem a
estrutura urbana. Contudo, o processo de descen- saúde e o bem-estar humanos.
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274 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
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Europa Central Leste Europeu Europa Ocidental região as de lazer se tornaram maiores. Essas distâncias vêm
aumentando porque as origens e os destinos (áreas
Atualmente, que a região se estabilize em um nível de urbanização residenciais, industriais, comerciais e outras) estão se
76% da
população da de aproximadamente 82%. Atualmente, metade de sua estabelecendo em lugares cada vez mais separados e
Europa é
urbana, o que se população vive em pequenas cidades com mil a 50 mil com freqüência interligados principalmente por estra-
espera que se
estabilize em habitantes, 25% em cidades médias com 50 mil a 250 das. Além disso, como resultado da globalização, uma
82%.
mil habitantes e os outros 25% em cidades com mais maior concorrência obriga as pessoas trabalharem em
Fonte: United de 250 mil habitantes (UNCHS, 2001b). Uma futura diferentes lugares, empregos e horários. De modo ge-
Nations Population
Division, 2001 urbanização da Europa não deverá alterar esse pa- ral, as alternativas ao automóvel, tais como transporte
drão de forma significativa. coletivo ou pistas específicas para bicicletas ou pe-
Os problemas referentes ao desenvolvimento destres, foram deficientemente desenvolvidas ou pouco
urbano e seu impacto sobre o meio ambiente têm sido adaptadas aos padrões urbanos recentes (EEA, 2001).
um grande desafio para os formuladores de política eu- As principais exceções são a Dinamarca e os Países
ropeus. O problema tem se agravado nos países da Eu- Baixos, onde a infra-estrutura para as alternativas ao
ropa Central e do Leste Europeu, bem como nos Esta- automóvel se encontra bem desenvolvida.
dos recém-independentes, pelo fato de que na última O aumento no trânsito de veículos tem implica-
década os governos nacionais delegaram uma ampla ções significativas para a qualidade do ar urbano, em-
gama de responsabilidades urbanas (ambientais) às au- bora isso tenha sido parcialmente compensado por uma
toridades locais ou regionais, mas não forneceram os redução nas emissões dos poluentes atmosféricos mais
ÁREAS URBANAS
275
Os mapas
mostram a
expansão urbana
ao longo da faixa
de 10 quilômetros
da costa
mediterrânea
francesa, entre
1975 e 1990. Os
dois mapas à
Indicadores esquerda
identificam áreas
Superfícies artificiais agrícolas e
Tecido urbano contínuo florestais que
Tecido urbano descontínuo foram urbanizadas
Unidades comerciais ou industriais entre 1975 e
Outras superfícies artificiais 1990. O mapa
detalhado mostra
Áreas agrícolas o resultado dessa
expansão – cerca
de 35% da faixa
Florestas e zonas semi-áridas
está construída.
importantes provenientes do transporte nos países da to, os novos padrões veiculares terão um efeito notá-
Europa Ocidental. No entanto, um considerável núme- vel nos níveis de ruído somente quando a renovação
ro de habitantes de áreas urbanas ainda está exposto a da frota de veículos estiver bastante avançada, o que
elevados níveis de poluição, o que acarreta problemas pode demorar até quinze anos (EEA, 1999).
de saúde. As projeções para 2010 mostram que 70% da O crescimento dramático nas viagens aéreas
população urbana provavelmente estará exposta a ní- desde 1970 provocou um significativo aumento de
veis de matéria particulada que ultrapassem o limiar ruído nas proximidades dos aeroportos. No entanto,
dessas substâncias, que é de 20% de excesso de NO2 desde meados da década de 1990, a poluição sonora
e 15% de excesso de benzeno (EEA, 2001). pelo ruído dos aviões reduziu-se nove vezes em rela-
O número de dias de exposição excessiva a NO2 ção à década de 1970. A poluição sonora nas áreas
nas cidades da Europa Central e do Leste Europeu é próximas a alguns aeroportos europeus é limitada pela
muito inferior ao das cidades da União Européia e tam- legislação que proíbe tráfego noturno, enquanto nos
bém muito abaixo do permitido pelas diretrizes da UE. países da Europa Central e do Leste Europeu uma
No entanto, com o crescimento dos níveis de afluência medida restritiva efetiva foi a aplicação de instrumen-
e do número de veículos, surgiu, recentemente, o pro- tos econômicos na forma de multas por poluição so-
blema da neblina fotoquímica associada ao aumento nora gerada pelos aviões (REC, 1999). Antecipa-se
de NOX, hidrocarbonos e monóxido de carbono. A que o crescimento projetado para o tráfego aéreo para
mudança para o uso da gasolina sem chumbo e 2010 poderá ser repartido entre os aeroportos mais
catalisadores obrigatórios nos veículos particulares importantes sem aumentos significativos na exposi-
está ajudando a melhorar a qualidade do ar urbano ção ao ruído (EEA, 1999).
nesses países. Até hoje, a política contra a poluição sonora
concentrou-se principalmente em estabelecer os ní-
Poluição sonora veis máximos de ruído para veículos, aeronaves, má-
De 75% dos cidadãos europeus que vivem em comu- quinas e fábricas (por exemplo EC, 1996). Uma nova
nidades urbanas, mais de 30% residem em habitações diretriz relativa ao ruído ambiental harmonizará as
com uma significativa exposição ao ruído relaciona- medições e o controle de ruído na União Européia e
do ao transporte. Isso acontece apesar das importan- exigirá que os países elaborem mapas de ruídos pu-
tes reduções nos limites de ruído originados de fon- blicamente acessíveis como uma base para a elabora-
tes individuais, como carros e caminhões. No entan- ção de planos de ação. Nas principais cidades da Eu-
276 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
ropa Central e do Leste Europeu, as medidas para aceitação a “responsabilidade do produtor” pela eli-
combater o ruído estão se tornando parte integral dos minação ambientalmente saudável dos produtos e em-
novos planos de desenvolvimento urbano. balagens (UNEP, 1996).
Cada país adotou uma abordagem diferente
Resíduos sólidos nesse sentido. A Alemanha está passando a respon-
Há uma forte correlação entre o desenvolvimento eco- sabilidade pelo manejo de resíduos de embalagens à
nômico e a geração de resíduos, especialmente os indústria, com caráter obrigatório, ao passo que na
derivados do consumo urbano. Na União Européia, França os acordos são quase sempre voluntários,
a geração de resíduos per capita originada pelas embora a elaboração de relatórios seja exigida de for-
atividades domésticas e comerciais, que apenas ma rigorosa (UNEP, 1996). Na França, os municípios
constituem apenas uma parte da quantidade total continuam sendo responsáveis pela coleta de resídu-
de resíduos municipais, já ultrapassa em 100 quilos os, e à indústria coube a responsabilidade de reciclar
a meta de 300 quilos per capita anuais estabeleci- apenas certos materiais. No Reino Unido, todas as
dos no quinto plano de ação ambiental da União companhias que fazem parte da cadeia de embalagem
Européia (EEA, 2001). A maioria dos países euro- devem dividir responsabilidades: 47% para o setor de
peus tem programas de reciclagem, especialmente varejo, 36% para o de empacotadores e engarrafa-
para papel e vidro, embora o êxito desse avanço seja dores, 11% para o industrial e 6% para o de fabrican-
parcial, porque a geração de resíduos de tais materi- tes de matérias-primas (PPIC, 1998).
ais também aumentou. A qualidade do ar, a poluição sonora e a produ-
Estima-se que a lama das usinas de tratamen- ção de resíduos não são os únicos problemas ambi-
to de águas residuais tenha aumentado, na União Eu- entais da Europa. Outras questões incluem o conges-
ropéia, de 5,2 milhões para 7,2 milhões de toneladas tionamento do trânsito, a utilização de áreas verdes,
de sólidos secos no período de 1992 a 1998, o que a gestão de recursos hídricos e, particularmente na
ainda deve aumentar (EEA, 2001). Tais volumes são Europa Central e no Leste Europeu, a obsolescência
difíceis de absorver por meio de incineração, disposi- da infra-estrutura urbana, que se traduz na deteriora-
ção em aterros sanitários e reciclagem na agricultura. ção dos edifícios residenciais e em redes de distribui-
O problema agrava-se pelo fato de que a lama residu- ção de água com manutenção inadequada. Para solu-
al freqüentemente está contaminada por metais pesa- cionar essas dificuldades freqüentemente inter-rela-
dos e outros produtos químicos tóxicos que até em cionadas, as abordagens utilizadas estão sendo am-
concentrações mínimas podem afetar a saúde huma- pliadas, tornando-se modelos mais integrados de de-
na (Hall e Dalimier, 1994). senvolvimento urbano sustentável. A legislação ain-
Na maioria dos países europeus, a disposição da é um dos principais instrumentos de implementação
em aterros sanitários continua sendo a rota mais co- para melhorar o meio ambiente urbano. No entanto,
mum para o tratamento de resíduos, apesar de que para tratar os problemas ambientais também estão
cada vez há menos lugares disponíveis. Isso ocorre sendo utilizados outros instrumentos, tais como me-
porque, tanto na Europa Ocidental como no Leste canismos de incentivos econômicos, conscientização
Europeu, a reciclagem raramente é viável do ponto de por meio de campanhas informativas e investimentos
vista econômico. Contudo, está tendo cada vez mais estratégicos (UNCHS, 2001c).
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92. Brussels, European Commission
ÁREAS URBANAS
277
Áreas urbanas: América Latina e Caribe População urbana (porcentagem do total): América
Latina e Caribe
100
A região da América Latina e Caribe é a mais urba-
nizada do mundo em desenvolvimento. Entre 1972 e 90
2000, a população urbana cresceu de 176,4 milhões
para 390,8 milhões, fenômeno induzido pelos melho- 80
72
74
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19
19
19
19
19
20
entre a população urbana e rural é similar à dos países região Caribe América Central América do Sul
altamente industrializados.
À exceção do Brasil, os padrões de urbaniza- O gráfico mostra
ção típicos consistem na existência de uma única ci- um papel importante, e a geração de resíduos é signi- os altos níveis de
urbanização na
dade muito grande por país. Além de uma expansão ficativamente mais alta nas áreas mais ricas das cida- região,
particularmente
das áreas urbanas existentes, a urbanização também des. O problema com os resíduos urbanos não é ape- na América do Sul.
chegou a alguns distritos rurais – 61% dos habitan- nas a quantidade, mas também a composição: o lixo Fonte: compilado de
United Nations
tes da região amazônica agora vivem em áreas urba- passou de denso e quase completamente orgânico a Population Division,
2001
nas. Na maioria dos países da região, prevalece uma volumoso e cada vez menos biodegradável. Os domi-
profunda desigualdade, e uma parcela considerável cílios e as indústrias descartam quantidades cada vez
da pobreza concentra-se nas áreas urbanas. Por exem- maiores de plástico, alumínio, papel e papelão. Os
plo, um terço da população de São Paulo e 40% da resíduos perigosos, como o lixo hospitalar, medica-
população da Cidade do México vivem na linha da mentos fora do prazo de validade, produtos quími-
pobreza ou abaixo desta. Entre 1970 e 2000, o número cos, baterias e lodos residuais contaminados, repre-
de habitantes pobres nas cidades da região cresceu sentam um risco potencial à saúde humana e ao meio
de 44 milhões para 220 milhões (UNCHS, 2001a). ambiente quando são manuseados de maneira inade-
Embora os problemas ambientais não se limi- quada. Embora alguns países contem com uma estru-
tem às grandes cidades, é nelas onde seus efeitos se tura legal para o controle de resíduos, quase todos
tornam mais evidentes. Esses problemas incluem a con-
centração de resíduos sólidos domésticos e industriais, Eliminação de resíduos em cidades selecionadas
a falta de saneamento básico e poluição atmosférica. (toneladas/ano/pessoa)
1,50
coletado
Resíduos sólidos não coletado
1,25
Há três décadas, a produção de resíduos sólidos era
de 0,2-0,5 kg/dia per capita, ao passo que atualmente 1,00
é de aproximadamente 0,92 kg/dia per capita. Em 1995,
a população urbana da região gerou 330 mil tonela- 0,75 1,28 0,96
mente 51 mil toneladas de lixo por dia (ver gráfico à 0,22 0,24 0,18 0,18 0,21
0,00 0,08 0,07 0,10
direita). Embora a coleta de resíduos sólidos tenha
95 o
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94
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(PAHO, 1998). Resíduos coletados e não coletados em cidades selecionadas da América Latina e Caribe. No
O aumento do volume de resíduos sólidos não entanto, grande parte do resíduo coletado é eliminada de forma inadequada. O ano do estudo
aparece entre parênteses.
pode ser justificado apenas pelo crescimento urba-
no. As mudanças nos padrões de estilo de vida têm Fonte: PAHO e IADB, 1997
278 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
carecem de infra-estrutura física e recursos humanos vou a uma maior participação do setor privado desde
necessários para aplicá-la (UNEP, 2000). a década de 1980 e à descentralização da responsabi-
lidade dos governos locais com relação ao forneci-
Abastecimento de água e saneamento mento de serviços (Pirez, 2000; CEPAL, 1998). No en-
Embora nos últimos trinta anos a proporção da popu- tanto, a América Latina ainda carece de um modelo
lação urbana com acesso a água potável e sistema de administrativo que assegure eqüidade e sustentabili-
redes de esgoto tenha aumentado, muitos ainda são dade ambiental no fornecimento desses serviços (Pirez,
afetados pela falta de serviços básicos. No ano 2000, 2000; Idelovitch e Ringskog, 1995).
93% dos domicílios urbanos tinham acesso a água
tratada e 87% a saneamento básico, porcentagem que Qualidade do ar urbano
varia de 50% no Haiti a 100% nas Ilhas Virgens Britâ- Durante os últimos trinta anos, a qualidade do ar se
nicas, Montserrat e Suriname (WHO e UNICEF, 2000). deteriorou seriamente em muitos centros urbanos e
A poluição das águas subterrâneas, decorrente do expõe milhões de pessoas a níveis de poluição acima
tratamento inadequado dos esgotos, põe em risco à dos limites recomendados pela Organização Mundial
saúde pública (PAHO 1998) e representa um grande de Saúde (CEPAL, 2000). A poluição atmosférica afe-
desafio para os responsáveis pela formulação de po- ta a saúde de mais de 80 milhões de habitantes na
líticas da região. Atualmente, menos de 5% das águas região e tem como resultado uma perda anual de 65
residuais municipais da região são tratadas (UNEP, milhões de dias trabalhados. É a principal causa de
2000). Há uma clara demanda por sistemas de trata- quase 2,3 milhões de casos anuais de doenças respi-
mento de águas residuais para reduzir a poluição da ratórias em crianças e de mais de 100 mil casos de
água. A contaminação das águas superficiais e sub- bronquite crônica em adultos (CEPAL, 2000).
terrâneas faz com que a água das áreas urbanas seja Dois fatores contribuíram para o aumento da
uma questão cada vez mais polêmica (Dourejeanni e poluição atmosférica urbana: o crescimento no nú-
Jouravlev, 1999; PAHO, 1998; CEPAL, 1994). mero de veículos e o tempo dos percursos devido ao
congestionamento viário (CEPAL, 2000). Os veículos
Um modelo para os sistemas de transporte coletivo produzem entre 80% e 90% do chumbo existente no
meio ambiente, embora a gasolina sem chumbo já es-
O prefeito de Curitiba, Brasil, descreve sua cidade como um
“modelo tanto para países desenvolvidos como para os em teja disponível em muitos países da região há algum
desenvolvimento”. Seu sistema de transporte urbano, elaborado tempo (World Bank, 2001). O transporte coletivo defi-
na década de 1970, estimulou o desenvolvimento residencial
e comercial e ao mesmo tempo o harmonizou com o ciente e a distância entre domicílios e locais de traba-
planejamento da cidade. Em 1973, o Instituto de Pesquisa e lho nas cidades, que resulta em percursos mais fre-
Planejamento Urbano de Curitiba desenvolveu ônibus
especialmente projetados para o trânsito coletivo. O sistema,
qüentes e longos, também contribuíram para o au-
adaptado e ampliado posteriormente para responder às mento das emissões (CEPAL, 2000). A longa distân-
necessidades da crescente população nas décadas de 1980 e cia entre domicílio e local de trabalho deriva da au-
1990, transporta atualmente 2 milhões de pessoas por dia. A
rede de trânsito integrada oferece quatro alternativas de sência de políticas urbanas nacionais que combinem
transporte, interligando os 12 municípios da região objetivos econômicos, ambientais e sociais. No en-
metropolitana. O uso em massa do sistema de transporte
coletivo de Curitiba diminuiu o número de veículos nas vias, o
tanto, a região também tem alguns bons exemplos de
que reduziu a poluição atmosférica, baixou a incidência de planejamento urbano desde a década de 1970 (ver
fumaça e minimizou a ameaça de doenças respiratórias. box). O índice de poluição também é influenciado por
Curitiba tornou-se a primeira cidade no Brasil a usar um
tipo especial de combustível composto de diesel (89,4%), álcool uma combinação de fatores físicos e meteorológicos
anidro (8%) e aditivo de óleo de soja (2,6%). Esse combustível associados à localização das grandes cidades (CEPAL,
é menos poluente e reduz a emissão de partículas em 43%.
Ademais, a combinação de álcool com aditivo de óleo de soja 2000). Por exemplo, a área metropolitana da Cidade do
tem vantagens sociais e econômicas, ao manter o emprego México localiza-se em um vale que capta poluentes
nas áreas rurais: cada bilhão de litros de álcool utilizados geram que geram a neblina urbana.
aproximadamente 50 mil novos postos de trabalho.
Nos últimos dez anos houve um importante
Fonte: Taniguchi, 2001 progresso na gestão da qualidade do ar em várias ci-
dades. A poluição atmosférica em grandes cidades
O setor público não tem capacidade para ope- como Buenos Aires, Cidade do México, Rio de Janei-
rar e manter os sistemas de água e esgoto existentes ro, São Paulo e Santiago foi reduzida por meio de
e muito menos tem como investir na construção de estratégias que incluem controle de emissões, melho-
novos – especialmente nas áreas mais pobres onde a rias nos combustíveis e controle da frota de veículos.
urbanização ocorreu recentemente. Essa situação le- Contudo, esses programas ainda não se expandiram
ÁREAS URBANAS
279
às cidades de porte médio, cuja maioria ainda não dis- várias mudanças positivas, entre as quais uma maior
põe de informação necessária para implementar tais participação dos cidadãos e o estabelecimento de re-
medidas (ECLAC e UNEP, 2001). des de cooperação pública e privada que defendem o
meio ambiente e promovem a educação ambiental.
Efeitos das políticas Essas mudanças contrariam as catastróficas previ-
As políticas econômicas que predominaram na re- sões sobre o estado do meio ambiente da década de
gião durante a década de 1980 dificultaram a intro- 1970 (CEPAL, 1995; Villa e Rodríguez, 1994; CEPAL,
dução de medidas ambientais, já que impuseram um 2000). Contudo, é premente uma evolução substanci-
limite ao gasto social em serviços básicos e de sane- al que, partindo de uma gestão setorial e fragmentada
amento. Embora a década de 1990 estivesse marcada das cidades, chegue a um esquema de políticas e es-
pela continuidade ou persistência dos problemas tratégias urbanas abrangentes e multissetoriais (na-
ambientais típicos da pobreza e da formação de gran- cionais), na qual as questões ambientais se integrem
des cidades, ela também presenciou a introdução de em todas as dimensões da gestão urbana.
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280 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
Espraiamento urbano
Áreas urbanas: América do Norte O espraiamento urbano é definido como um desen-
volvimento residencial de baixa densidade que de-
A América do Norte é uma região altamente urbani- pende do uso do automóvel (Dowling, 2000). Equiva-
zada. Entre 1972 e 2000, a porcentagem da população le ao avanço de terras rurais ou subdesenvolvidas
urbana aumentou de 73,8% para 77,2% (United na periferia de uma cidade, além das zonas de servi-
Nations Population Division, 2001). A urbanização ços e emprego (Chen, 2000). As subdivisões do es-
relaciona-se a muitos dos temas ambientais destaca- praiamento urbano na América do Norte do pós-guerra
dos neste relatório, tais como a conversão do uso de foram promovidas pelo crescimento econômico e en-
terras agrícolas, a degradação do habitat e perda da corajadas pelos incentivos para a obtenção da casa
biodiversidade, a poluição atmosférica regional, a própria, zoneamento para fim específico, subsídios
mudança climática mundial, a degradação dos lito- governamentais e investimentos em estradas e infra-
rais, uma maior interação entre a vida urbana e a fauna estrutura suburbana (ULI, 1999; Sierra Club, 2000a).
e flora silvestres e a poluição da água. À medida que grande número de famílias contribuin-
Na década de 1970, o êxodo pós-guerra das tes fiscais de classe média partia dos centros urba-
cidades mais importantes originou um modelo de as- nos, muitas cidades se tornaram núcleos empobreci-
sentamento caracterizado por subúrbios de baixa den- dos, rodeados de subúrbios dependentes de carros e
sidade em torno dos centros urbanos, fenômeno atendidos por centros comerciais.
comumente referido como “espraiamento urbano”. Durante a década de 1970 e 1980, verificou-se,
Muitas municipalidades na América do Norte têm nos Estados Unidos, um ciclo de redução do uso de
como prioridade a solução dos múltiplos problemas transporte coletivo e aumento no uso do automóvel e
decorrentes desse espraiamento. A população urba- dos percursos entre o trabalho e o lar; o mesmo fenô-
na utiliza níveis altos de energia e outros recursos, meno observou-se no Canadá durante a década de
além de produzir grandes quantidades de resíduos. 1990. Entre 1981 e 1991, o número de quilômetros-
Em vista de sua significativa contribuição para a po- automóvel percorridos por canadenses e estadu-
luição regional e mundial e para a diminuição dos re- nidenses cresceu 23% e 33,7%, respectivamente. (EC,
cursos naturais da Terra, as cidades da América do 1998; Raad e Kenworthy, 1998). No gráfico abaixo à
Norte têm “pegadas ecológicas” desproporcional- esquerda, ilustra-se a tendência de aumento no uso
mente grandes. do automóvel nas cidades e da estagnação ou redu-
ção no uso do transporte coletivo.
Encorajada, na década de 1990, pela constru-
ção de novas estradas e pela redução dos preços dos
combustíveis, a população suburbana dos Estados
Uso do transporte coletivo e particular (passageiros- Unidos aumentou 11,9% entre 1990 e 1998, em con-
km/ano per capita): Canadá e Estados Unidos traste com o crescimento de 4,7% das cidades cen-
15.000 trais (Pope, 1999; Baker, 2000; HUD, 2000). Atualmen-
Transporte particular nos EUA Transporte particular no Canadá
Transporte coletivo nos EUA Transporte coletivo no Canadá
te, metade do espraiamento urbano da expansão ur-
bana parece estar relacionada com o aumento da po-
pulação e a outra metade pode-se atribuir a escolhas
10.000 de uso da terra e de consumo que aumentam a quantida-
de de terra urbana ocupada por residente (Kolankiewicz
e Beck, 2001).
Os complexos habitacionais suburbanos da
América do Norte foram construídos sobre vastas áre-
5.000
as de florestas e áreas úmidas, áreas naturais de lazer e
400 terras agrícolas. À medida que se perdem as caracterís-
300 ticas dessas paisagens, também se perdem os servi-
200
100
ços que elas fornecem, como habitat para a vida silves-
0 tre, controle de inundações e escoamento, bem como a
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O uso per capita de veículos particulares em áreas urbanas cresceu nos Estados Unidos e no 5.670 quilômetros quadrados anuais, em média, de ter-
Canadá, enquanto o uso do transporte coletivo estagnou ou decresceu.
ra de cultivo de primeira qualidade nos Estados Uni-
Fonte: compilado de EC, 1998; Wendell Cox, 2000 e United Nations Population Division, 2001
dos foram destinados a usos urbanos (NRCS, 2000).
ÁREAS URBANAS
281
Atualmente, converte-se uma média de 9.320 quilôme- Desenvolvimento urbano compacto e crescimento ordenado
tros quadrados de terra a cada ano, dos quais uma
parcela significativa é usada para a construção de ha- Durante os últimos dez anos, surgiu na América do Norte um
movimento chamado “crescimento ordenado”, cujo propósito era
bitações suburbanas em lotes de 0,5 hectare (HUD, combater o espraiamento urbano. O crescimento ordenado
2000). No Canadá, as áreas urbanas que ocupam terras caracteriza-se por uma combinação de usos do solo para fins
residenciais, comerciais e de escritórios junto aos prédios cívicos
que poderiam ser aproveitadas para a produção agrí- agrupados no centro da cidade. A idéia é dar ênfase ao
cola aumentaram de aproximadamente 9 mil quilôme- crescimento “ordenado” e não ao crescimento “nulo”, e busca-se
reformar códigos e regulamentos de modo a propiciar as
tros quadrados em 1971 a 14 mil quilômetros quadra- características do crescimento ordenado e estabelecer limites ao
dos em 1996 (Statistics Canada, 2000). crescimento urbano (ULI 1999). O conceito de crescimento
ordenado é promovido por uma ampla coligação que inclui ONGs
O espraiamento urbano tem repercussões am- ambientais, ativistas de justiça social, funcionários dos governos
bientais, sociais e econômicas, dentre as quais se locais, planejadores urbanos e defensores das habitações de
baixo custo. O movimento desenvolve unidades de vizinhança
destacam o congestionamento do trânsito, a dete- de alta densidade que reduzem o uso de carros.
rioração dos centros das cidades, que freqüentemente As técnicas de desenvolvimento compacto propostas pelo
crescimento ordenado e as iniciativas para uma cidade sustentável
se dividem por classes sociais e raciais, e os proble- incluem a construção em áreas já urbanizadas, recuperação e
mas suburbanos de isolamento e falta de sentido de limpeza de antigos terrenos industriais contaminados e o
desenvolvimento por agrupamentos em lotes de tamanho
comunidade (Raad e Kenworthy, 1998; Dowling, reduzido. Esse tipo de desenvolvimento usa menos área de terra,
2000). As cidades canadenses foram muito menos ajuda a reduzir as distâncias percorridas, incentiva a caminhada
e o ciclismo, estimula o transporte coletivo, preserva áreas verdes
afetadas pelo espraiamento urbano que suas con- a céu aberto, o habitat da fauna e flora silvestres e as terras
trapartes estadunidenses (Parfrey, 1999; Baker, 2000; agrícolas, e reduz as superfícies de solo impermeabilizado,
melhorando a drenagem e a qualidade da água (US EPA, 2001).
Sierra Club, 2000b).
Os governos estaduais e locais estão imple-
mentando cada vez mais planos de desenvolvimento (Raad e Kenworthy, 1998); para alguns, o crescimento
para um crescimento ordenado e sustentável (ver box). ordenado envolve a perda de liberdade individual e
Estudos mostram que, quando a densidade urbana é de direitos de propriedade, o que desencadeou um
mais alta, o uso do automóvel per capita é mais baixo lobby contra o crescimento ordenado (Stoel Jr, 1999);
(Raad e Kenworthy, 1998). Projetos de reocupação o capital investido pela indústria automobilística é
bem-sucedidos, nos quais propriedades em decadên- expressivo, e o espraiamento suburbano já está tão
cia ou lotes desocupados passam por um desenvol- arraigado na paisagem e na mente da América do A disposição total de
resíduos sólidos nos
vimento para ajudar as cidades a se recuperarem, hoje Norte que reverter essa tendência é um desafio de Estados Unidos está
são mais comuns. Por outro lado, em muitos lugares grandes proporções. crescendo a um ritmo
menor que no
ainda é menos oneroso para os desenvolvedores imo- passado; a disposição
biliários, a curto prazo, comprar e construir em terras Pegada ecológica em aterros sanitários
está decrescendo e a
fora da área das cidades (Chen, 2000). À medida que os subúrbios cresceram, muitas das reciclagem está
Na esfera federal, entre as iniciativas para aju- cidades compactas e centralizadas que havia na Amé- aumentando.
dar a solucionar os problemas decorrentes do espraia- rica do Norte foram substituídas por uma combina- Fonte: Franklin
mento urbano nos Estados Unidos, figuram a Lei de ção de centros comerciais, complexos habitacionais e Associates, 1999
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282 ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002
estradas amplamente dispersos (Miller, 1985). Esse A Agenda 21 identificou o consumo e a pro-
padrão de urbanização é uma das principais forças que dução insustentáveis, principalmente entre os paí-
impulsionam o aumento global da demanda energética ses industrializados, como a principal causa da de-
(UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1996). As cidades terioração ambiental mundial (UN, 2001). Desde 1993,
da América do Norte consomem grandes quantidades a questão de padrões sustentáveis de consumo e
de energia e matéria-prima e geram grandes quantida- produção vem se tornando parte do debate de polí-
des de resíduos e poluição. E, com apenas 5% da po- ticas. Ambos os governos federais promovem a eco-
pulação mundial, a América do Norte é um importante eficiência por meio de vários programas. O Conse-
consumidor dos recursos naturais do mundo e um dos lho Presidencial de Desenvolvimento Sustentável
principais produtores de resíduos. Como conseqüên- dos Estados Unidos recomendou metas nacionais
cia, seus impactos sobre o meio ambiente mundial são para a gestão de recursos renováveis, planejamento
maiores que os de qualquer outra região. populacional e consumo sustentável (PCSD, 1996a, b).
A América do Norte também produz mais resí- A indústria está cada vez mais reestruturando seus
duos sólidos por município que qualquer outra re- processos e reutilizando a matéria-prima com o in-
gião. Os resíduos sólidos municipais gerados nos tuito de reduzir os efeitos ambientais; há também
Estados Unidos continuam crescendo, embora a um um aumento perceptível do número de consumido-
ritmo muito menor que o de antes de 1970; ao mesmo res “verdes”, social e ambientalmente conscientes
tempo, a recuperação de resíduos está aumentando, (Co-op America, 2000).
enquanto a disposição em aterros sanitários diminui A sociedade industrial urbana da América do
(ver gráfico na página anterior). Os materiais leves, Norte é ao mesmo tempo a detentora da qualidade de
porém volumosos, como o papel e o plástico, estão vida cobiçada por muitos nos países em desenvolvi-
substituindo os materiais pesados na cadeia de resí- mento do todo o mundo e, dada sua expressiva pega-
duos, o que faz aumentar o volume de resíduos (PCSD, da ecológica, uma região com desproporcionais im-
1996a). O fato de que as tecnologias antigas continu- pactos ambientais para o planeta. As cidades plane-
am sendo usadas, somado a um estilo de vida do jadas para serem compactas são mais eficientes e sus-
consumidor baseado no interesse por mobilidade, tentáveis. O crescimento ordenado da América do
conveniência e descartabilidade dos produtos, têm Norte e os programas das cidades sustentáveis po-
limitado ainda mais um progresso na eficiência de re- deriam reduzir a pegada ecológica da região, mas es-
cursos e na redução de resíduos (UN, 2001). tão apenas no início, e o progresso é lento.
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ÁREAS URBANAS
283
Nível de urbanização (%): Ásia Ocidental População urbana (em milhões) por sub-região: Ásia Ocidental
70
Mashreq
60 Península Arábica
50
40
30
0 - 50%
20
>50 - 60%
>60 - 70%
10
>70 - 80%
>80 - 90% 0
72
74
76
78
80
82
84
86
88
90
92
94
96
98
00
>90%
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
A rápida
urbanização na
Existe um intrincado vínculo entre a urbaniza- Conversão da terra
Ásia Ocidental ção e a transição econômica que está acontecendo À medida que as áreas urbanas se expandem, as terras
está ocorrendo à
custa do estilo de na região, de sociedades agrárias e nômades para outra de alta aptidão agrícola, os habitats costeiros e as flo-
vida tanto rural
quanto dos baseada em manufatura e serviços. O desenvolvimen- restas são convertidos em terra para habitação, estra-
assentamentos
em vilas de
to econômico acarretou uma notável melhoria no bem- das e indústria. Os ecossistemas costeiros, incluindo
menor escala, estar dos povos da Ásia Ocidental, incluindo uma as áreas úmidas, planícies oceânicas, marismas e
como essa no
Irã. maior expectativa de vida, níveis de renda maiores e manguezais, são particularmente ameaçados pela con-
Fonte: UNEP, uma queda nos índices de mortalidade infantil (United versão da terra em áreas urbanas. As atividades de
Mohammad R. L.
Mofrad, Topham Nations Population Division, 2001b). No entanto, ape- conversão da terra vão desde a drenagem e o aterro de
Picturepoint
sar desses impactos positivos, muitas cidades estão marismas e áreas úmidas até projetos de recuperação
passando por um processo de transição pautado por de grande escala, que estendem as linhas costeiras
algumas influências negativas. Em algumas partes da mar adentro. No Líbano e na maioria dos países do
região (Mashreq), o ritmo e a escala de mudança não CCG, essas atividades foram realizadas durante déca-
raras vezes restringem as capacidades dos governos das. Entre 1970 e 1985, a Cidade de Dubai aumentou
locais e nacional para oferecer serviços adequados em tamanho de 18 quilômetros quadrados para 110
para a população urbana pobre. Em tais situações, a quilômetros quadrados (Doxiadis Associates, 1985),
saúde e o bem-estar humanos estão sob risco (UNDP, em grande parte mediante a recuperação costeira. A
UNEP, World Bank e WRI, 1998). O crescimento das contínua recuperação ao longo das áreas costeiras de
populações urbanas também é sinônimo de aumento Bahrein para o desenvolvimento urbano resultou em
na pobreza urbana. A maioria das cidades grandes uma mudança contínua no formato da ilha. A área de
está superpovoada e tem altos níveis de poluição at- Bahrein aumentou de 661,9 quilômetros quadrados em
mosférica devido ao trânsito, ao consumo energético 1975 para 709,2 quilômetros quadrados em 1998 (um
e à produção industrial cada vez maiores. crescimento de 7,15%); a terra foi destinada principal-
ÁREAS URBANAS
285
mente a habitações e para fins industriais e de lazer zonas costeiras alastraram-se devido a uma industri-
(CSO, 1999). O impasse entre preservar as marismas, alização rápida e fora de controle. Na maioria dos pa-
as zonas úmidas e os litorais existentes, de um lado, e íses da Península Arábica, o crescimento industrial
converter essas áreas em terras adequadas para fins envolve a transformação de matéria-prima (petróleo)
urbanos, por outro lado, é freqüentemente decidido em produtos industriais. Essas indústrias, de gera-
mediante considerações baseadas nos impactos posi- ção de energia elétrica, mineração, gráfica, química e
tivos da urbanização para o desenvolvimento humano de refinamento de petróleo, não somente têm uma
e a necessidade de satisfazer as crescentes demandas demanda intensiva de recursos, como também pro-
de crescimento urbano. duzem uma grande quantidade de resíduos perigo-
sos e tóxicos, que podem ser nocivos à saúde (Hardoy,
Resíduos sólidos Mitlin e Satterthwaite, 2001). Alguns países da região
Estima-se que a geração de resíduos nos municípios não têm instalações adequadas para o manejo de re-
da região aumentou de 4,5 milhões de toneladas anu- síduos perigosos, o que acarreta sua eliminação em
ais, em 1970, para 25 milhões, em 1995 (Kanbour, 1997). terras públicas ou em pousio, rios, águas costeiras
Os índices de geração de resíduos per capita por ou em redes de esgoto projetadas somente para os
país foram de 430, 750, 511, 551 e 510 quilos por ano resíduos municipais.
em Bahrein, Dubai, Kuwait, Omã e Catar, respectiva-
mente (Kanbour, 1997) – mais do dobro dos índices As demandas das cidades
anuais de geração de resíduos no Iraque e na Síria, Nas áreas urbanas da região, a conjunção de pessoas
países do Mashreq cujas taxas respectivas são de e atividades econômicas (incluindo manufatura, servi-
285 e 185 quilos. O manejo de resíduos municipais ços e comércio) requer recursos que excedem em muito
varia entre países, mas nos países do CCG os siste- os que a própria área pode proporcionar. As cidades
mas de coleta e eliminação de resíduos são muito mais devem buscar suas provisões de alimentos, com-
eficientes em comparação com os do Mashreq. Em bustível e água em lugares distantes. Até 2003, 142,6
vários países se estabeleceram usinas para produzir milhões de pessoas estarão vivendo nas áreas urba-
compostos a partir dos resíduos sólidos e lamas resi- nas da Ásia Ocidental, requerendo terra, energia,
duais dos municípios, e o número desse tipo de usi- água e alimentos. À medida que sua renda aumentar,
nas está crescendo (Kanbour, 1997). consumirão quantidades maiores de mercadorias e,
Por causa da disponibilidade de abundante no processo, gerarão quantidades maiores de resí-
energia e investimento de capital, o crescimento in- duos. A escala de consumo urbano e geração de resí-
dustrial ocorreu de forma rápida, especialmente nos duos, bem como os impactos negativos relaci-
países do CCG. Nos países do Mashreq, a transição, onados, varia de uma cidade para outra, dependendo
em boa parte desordenada, de uma sociedade agrária em grande medida da riqueza e da dimensão de uma
para uma industrial teve como resultado amplos trans- cidade (UNDP, UNEP, World Bank e WRI, 1996). Não
tornos sociais e econômicos, desemprego, poluição é por acaso que os mais altos níveis de uso de recur-
e uma maior exposição a riscos para a saúde. A degra- sos e geração de resíduos ocorrem nas cidades ricas
dação das terras e a poluição dos sistemas fluviais e dos países do CCG.
ambientes em diferentes épocas do ano, de forma a diações das cidades. Os criadores recomendaram resta-
minimizar a possibilidade de que um determinado re- belecer uma rede de locais de comercialização (existiam
curso possa ser explorado à exaustão. Dessa forma, o vários em meados da década de 1930) equipados com
uso da terra pelos povos autóctones no Ártico en- matadouros modernos, em localidades da tundra cen-
globa a maior parte do espaço entre as áreas urbanas trais (Golovnev e outros, 1998).
isoladas (Anderson, 1995).
Por outro lado, o desenvolvimento de algu- A interação entre as populações urbanas e rurais
mas atividades industriais, como a mineração, requer No Ártico, há um contato e um intercâmbio constantes entre as
uma estratégia de uso intensivo da terra, criando anéis populações rurais e urbanas. Embora as fronteiras físicas sejam claras,
as sociais e econômicas são porosas. Os caçadores e pastores
de poluentes em expansão, tais como metais pesados freqüentam os povoados (e, no Ártico russo, são até mesmo listados
e dióxido de enxofre. Esse fenômeno despovoou o nos censos dos povoados), e os habitantes destes visitam ou mandam
seus filhos à tundra ou a acampamentos de pesca durante as férias.
meio ambiente de tundra e taiga, anteriormente usa- Esse intercâmbio, essa interdependência econômica e esse constante
das por pastores e caçadores, e interrompeu as dinâ- deslocamento das pessoas são notórios no Ártico da Rússia e da
América do Norte, bem como na Groenlândia. A noção de que os
micas de população e as rotas de migração das renas grupos urbanos de minorias autóctones não vivem de forma tradicional
selvagens. O desenvolvimento intensivo de recur- é, sem dúvida, questionável e, em alguns casos, equivocada
(Bogoyavlenskiy 2001).
sos também impulsionou a formação de redes de es-
tradas e de serviços públicos.
A fragmentação do habitat que surge como Saneamento e resíduos
conseqüência de tais empreendimentos tem efeitos A eliminação segura de resíduos representa um desa-
tanto sociais como ecológicos. Os veados selvagens fio no Ártico, já que o clima frio impede a decomposi-
migram de forma imprevisível, misturando-se aos re- ção normal. Muitas comunidades incineram seus re-
banhos domésticos e fazendo com que as renas do- síduos, o que só vem a contribuir para a poluição e
mésticas fujam com rebanhos selvagens. Assim, quan- comprometer a estética do lugar.
do os pastores perdem a rena de que dependem para Embora as maiores cidades disponham de sis-
se transportar e não podem caçar renas selvagens, temas de esgoto, muitas comunidades menores ainda
têm de recorrer ao seguro social. A privatização da têm de prover todos os seus cidadãos de sistemas
terra exacerba os problemas da região, já que o aces- sépticos ou de tratamento de esgoto. Em 1994, a me-
so dos povos autóctones aos recursos fica restringi- tade dos domicílios rurais no Alasca só contava com
do ou impedido (Anderson, 2000). “urinóis” para a eliminação de dejetos humanos; já
Uma única espécie (Rangifer terandus), que in- em 2001, 70% dos domicílios rurais dispunham de água
clui o caribu e a rena, é fonte primária de recursos para tratada e rede de esgoto. A meta do Estado é mandar
muitos povos autóctones. Nesse sentido, sugeriu-se os urinóis para o museu até 2005 (Knowles, 2001). Em
que as áreas urbanas industriais fossem isoladas das todo o norte da Rússia e em pequenas comunidades
principais áreas de pastagem das renas no Ártico, bem do Alasca, existe um grave problema relacionado a
como das principais rotas de migração e áreas de parição deficiências no setor de habitação, na qualidade da
do caribu na América do Norte. As principais áreas de água e nas instalações de saneamento. Muitos assen-
pastagem das renas deveriam ser reservadas para tal e tamentos pequenos e partes de grandes cidades do
para a proteção do ecossistema (Konstantinov, 1999). Ártico russo não têm encanamento interno. O finan-
Os criadores devem conduzir as renas domésticas por ciamento proveniente dos governos federal e regio-
longas distâncias para alcançar os matadouros localiza- nal apenas começa a cobrir lentamente as necessida-
dos nas cidades, o que reduz a qualidade e a quantidade des de atendimento médico, saneamento e bens e
de carne produzida, além de degradar as terras nas ime- serviços de consumo no norte.
O sul da Flóri-
1973, norte 2000, norte
da, a ponta ao
sudeste dos
Estados Uni-
dos, já foi um
pântano vir-
gem de 23 mil
quilômetros quadrados, co-
berto de ciperáceas e ilhas de
pequenas árvores. A região
Kissimmee-Okeechobee-
Everglades formava um siste-
ma de rios, lagos e zonas úmi-
das que controlava o fluxo
hídrico, mitigava as inunda-
ções sazonais, filtrava sedi-
mentos e constituía o hábitat
de centenas de espécies.
Em 1948, o governo fe-
deral começou a drenar os
Everglades e a construir barra-
gens e canais agrícolas. Isso
teve como conseqüência uma
importante perda de biodiver-
sidade, como a morte de apro-
ximadamente 10 milhões de
crocodilos entre 1960 e 1965. 1973, sul 2000, sul
Em 1979, as populações de gar-
ças, garças-brancas, cegonhas
e colhereiros tinham decresci-
do em 90%. Em 1998, 68 espé-
cies estavam em perigo ou
ameaçadas de extinção.
A intensificação da
agricultura produziu cana-de-
açúcar, frutas tropicais e vege-
tais de inverno. Entretanto,
esse benefício vê-se ameaça-
do agora pela invasão de áre-
as urbanas. Desde 1998 o Cor-
po de Engenheiros do Exército
dos Estados Unidos tenta res-
taurar a função natural dos
Everglades. O custo, calcula-
do em US$ 7,8 bilhões, cobrirá
apenas a primeira etapa da obra
de restauração, que deverá
durar mais de três décadas.
Datos Landsat: USGS/EROS Data Center
Compilação: UNEP GRID Sioux Falls
ÁREAS URBANAS
289
2000