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(Dr bate na porta. Gaia abre desconfiada.

Gaia - O que você tá fazendo aqui?


Dr – Eu preciso falar com você.
Gaia - Como você me achou?
Dr - Você disse que morava do lado da Patrícia. Eu já sei que você não se conhecem,
mas poderia ser verdade você morar ao lado dela. (divagando) Esta é a quinta porta
que eu bato e ...(Gaia tenta fechar a porta. Ele impede.)
Dr - Eu preciso mesmo conversar com você. Por favor. (Ele entra.) É muito difícil pra
mim vir até aqui. O que você disse no consultório vai contra tudo que eu já vivenciei e
estudei..
Gaia – Então a gente não tem nada pra falar...
Dr – ... mas eu pensei bastante e vim porque eu preciso saber. Saber como isso é
possível.
Gaia - Eu não sei. Simplesmente é assim.
Dr – O que mais você sabe? O que mais você viu?
Gaia – O que realmente você quer?
Dr – Eu quero saber o que vai acontecer comigo.
Gaia: (deixa escapar) Você tá querendo um milagre?
Dr – Como assim um milagre? (fica desnorteado. Senta. Respira) Então você tá
querendo dizer que não vai adiantar...
Gaia – (incomodada porque percebeu que falou mais do que devia) Eu fui até o seu
consultório só pra conseguir um remédio. Algo que pudesse me ajudar a dormir
melhor, parar isso que me atormenta. Eu não queria me envolver com os problemas
dos outros.
Dr – Não é sua culpa.
Gaia – (surta) Eu sei, mas é sempre assim (ela olha para ela. Ela senta na frente dele)
Eu tento ajudar e isso só me traz problema. (mudando o tom) Eu comecei a ser
medicada com 9 anos, sabia? Desde o que aconteceu com minha tia.
Dr: O que aconteceu?
Gaia: Um dia ela chegou e eu percebi que ela estava diferente. Alguma coisa estava
estranha. Eu não conseguia ficar perto dela, eu percebia que tinha algo na barriga
dela. Eu falei, obvio, e depois disso tudo desandou. Ela sempre acreditou em mim. Ela
procurou um médico... ele diagnosticou miomas em seu útero e insistiu que ela deveria
operar. Durante a operação houve um problema. Ela não saiu da sala de cirurgia.
Dr: Você não foi responsável pelo que aconteceu.
Gaia: Eu sei! (dúvida) Eu acho que sei ... mas ela não teria feito isso se eu não tivesse
falado o que eu vi!
Dr: Você acha que se ela tivesse descoberto em uma estágio mais avançado ela
estaria melhor? (ela não responde) Você tentou ajuda-la. Talvez seja isso que você
tenha que fazer. Talvez você esteja fugindo de algo muito maior do que você pensa.
(pensa) Eu nem acredito que eu estou falando isso.
Gaia: (levantando) Você sabe os problemas que isso me causa? Se você soubesse
não falaria isso.
Dr. Mas existem coisas piores (relacionando com a doença)
Gaia: Sinceramente a melhor coisa que você pode fazer é esquecer que eu algum dia
pisei no seu consultório.
Dr: Como? Não é o tipo de coisa que se esquece. E eu, pelo visto, não tenho muito
tempo. Mas eu posso te ajudar.
Gaia: (ela se anima) Você vai me dar os remédios?
Dr.: Não. (ela se afasta irritada) Eu não posso.
Gaia: Você é igual aos outros
Dr: (levanta) Eu não posso obriga-la a nada. Depende de você. (incomodado) Mas
perceba que tem algo errado com a sua atitude.
Gaia: (afirmativo) Tem algo errado comigo.
Dr.: Você esta afastando todos que podem te ajudar. Imagino que não deva ser fácil
quando você mas ...
Gaia: (com raiva) Ninguém acredita em mim
Dr: Eu acredito!
Gaia: (contrariada) Eu não quero
Dr: Você se acostumou a se afastar de tudo e de todos. Aguentar tudo isso sozinha.
Não deveria ter sido assim e não podemos mudar nada do que aconteceu. Mas você
deve procurar ajuda. De verdade. Não são só remédios que vão te ajudar. Você
precisa conversar com alguém. Ouvir as pessoas. Todos nós precisamos de apoio as
vezes. Alguém com quem possamos contar.
Gaia: (dúvida) Não sei
Dr: Tudo bem. Pense sobre isso. Você pode ir no meu consultório amanhã. Me liga.
Gaia: Você promete me curar?
Dr: Não. Você não precisa de um cura.

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