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Acionamento de Condicionadores de Ar por


meio de Inversores de Frequência sob a Ótica da
Qualidade da Energia: Uma Avaliação Teórica e
Experimental
F. N. Lima, Dr.; A. B. Vasconcellos, Dr.; B. C. Castillo, Dr.; N. R. Pereira, Acad.; J. C. Zan, Acad.
Universidade Federal de Mato Grosso, 78060-900, Cuiabá-MT, Brasil

também, que as tensões e frequência do sistema fossem


Resumo– Este trabalho apresenta uma análise comparativa das mantidas dentro do que era considerado aceitável até então.
medições das potências: ativa, reativa e aparente, assim como do Nessa época, as cargas residenciais predominantes eram de
fator de potência em uma situação comumente encontrada nos natureza resistiva e o número de equipamentos eletrônicos
sistemas elétricos. Os resultados são alcançados com auxílio de resumia-se, na maioria das vezes, a apenas um aparelho
um software desenvolvido no ambiente MATLAB®, televisor. Essas características representavam um sistema de
empregando-se, para tanto, diferentes formulações matemáticas. cargas lineares, assim, uma vez que as tensões de
No estudo foi utilizado um medidor de energia comercial para
alimentações eram senoidais, as correntes elétricas solicitadas
eram também preponderantemente senoidais e de mesma
aferir a influência de harmônicos presentes no processo de
frequência oscilante, podendo tão somente encontrar-se
automação de um sistema de condicionadores de ar em um
defasadas relativamente à tensão.
prédio do Instituto nacional de Pesquisas Espaciais – INPE/MT,
Os paradigmas em relação à qualidade da energia elétrica
dotado de inversor de frequência. Esse tipo de equipamento atuais são completamente diferentes daqueles do passado,
utiliza sistemas microprocessados, que, dentre outras vantagens, sendo que, com a difusão da eletrônica nas diversas áreas de
contribuem para a redução do consumo de energia elétrica. atuação humana, um novo perfil de carga surgiu. Esses
Todavia, muito embora sejam mais eficientes do ponto de vista equipamentos de natureza eletrônica possuem uma
energético, apresentam problemas no tocante à distorção da característica intrínseca que é a não linearidade, não
forma de onda da corrente e os inconvenientes decorrentes com o requerendo, portanto, a corrente elétrica constantemente, ou
surgimento dos harmônicos. Por meio do software foi possível seja, solicitam apenas “picos” de energia em determinados
identificar o comportamento do Fator de Potência em função da momentos e como consequência dão origem a formas de
variação no nível de distorção harmônica presente na carga, ondas de tensão e corrente com a presença de harmônicos.
tendo por referência o fator de poluição harmônica. Sinais de tensão ou de corrente distorcidos apresentam
comportamento periódico, contudo, além da frequência dita
Palavras-chave–Qualidade de energia elétrica, cargas não fundamental também possuem frequências múltiplas, por isso
lineares, medição de energia elétrica, fator de potência. o sinal resultante apresenta-se distorcido em relação a um
sinal puramente senoidal.
I. INTRODUÇÃO Entre os mais diversos efeitos prejudiciais da distorção das
É inquestionável o fato de a energia elétrica ser hoje um formas de onda das tensões e correntes podem-se citar as
bem indispensável para a sobrevivência e perfeito perdas relacionadas com transporte e distribuição de energia
funcionamento da sociedade moderna, tanto do ponto de vista elétrica, interferência em sistemas de telecomunicações,
da garantia do conforto doméstico-residencial quanto da comprometimento da precisão de medidores de energia,
prosperidade econômica local. ressonâncias paralelas entre capacitores de potência e
Sendo assim, como qualquer bem comercial, existe também indutância do sistema elétrico equivalente. Além disso, é
uma preocupação natural, por parte de seus consumidores, em possível que ocorra funcionamento indevido de relés micro
relação à qualidade da energia elétrica. No entanto, até o final processados e de relés que dependem de valores de pico ou
da década de 70, quando se falava em qualidade da energia passagem por zero das ondas de tensão ou corrente, sobretudo
elétrica remetia-se notadamente à perfeita continuidade dos naqueles que são mais sensíveis por incluírem sistemas de
serviços de fornecimento. Desta maneira, a real preocupação controle microeletrônico que operam com baixos níveis de
dizia respeito a não interrupção no fornecimento de energia e, tensão.
A avaliação das distorções harmônicas por meio de
medições é uma tarefa muito importante para a operação dos
F. N. Lima, fernandn@ufmt.br; A. B. Vasconcellos, arnulfo@ufmt.br; B. C.
sistemas elétricos. Pode, inclusive, contribuir para melhorar a
Castillo, bcc@ufmt.br; N. R. Pereira, engineer.tael@hotmail.com; J. C. Zan,
jullian_cezar@hotmail.com. precisão do registro da energia consumida, favorecendo o
relacionamento entre clientes e concessionária. Ressalta-se
que as dificuldades na medição dessas ondas estão
2

relacionadas com o fato de que as cargas geradoras de Sendo que, V e I são respectivamente os valores rms da tensão
harmônicos são de natureza dinâmica, que produzem e da corrente, w o valor da frequência angular e j o ângulo de
harmônicos com amplitudes variantes no tempo. defasamento relativo entre a tensão e a corrente.
Observa-se, então, uma crescente preocupação com relação Como consequência, a potência instantânea é oriunda do
ao assunto por parte dos mais importantes grupos de trabalho produto entre a tensão e a corrente instantâneas, conforme (3).
internacionais, haja vista que, recomendações relativas ao
consumo de energia elétrica tais como IEEE 519, EN 50160 e p ( t ) = v ( t ) i (t ) = VI cos j - VI sin ( 2wt -j ) (3)
IEC 61000 já estabelecem limites para os níveis de distorção
harmônica das tensões com os quais os sistemas elétricos
podem operar e impõem que novos equipamentos não Essa equação apresenta em sua composição um termo que
“contaminem” as redes elétricas com harmônicos de corrente oscila em torno do valor médio, dado por VI cosj, com o
com amplitude superior a determinados valores [1], [2], [3]. dobro da frequência da fonte de alimentação. Efetuando-se
No Brasil, os órgãos reguladores do setor de energia algumas modificações trigonométricas em (3) é possível
elétrica (ANEEL, ONS) e concessionárias vêm tratando esta expressar a potência ativa instantânea por meio de (4).
questão com rigor. A ANEEL, através dos procedimentos de
distribuição (PRODIST), publicado em Dezembro de 2008, p ( t ) = VI cos j éë1-cos( 2wt )ùû - VI sin j sin ( 2wt ) (4)
em seu módulo 8 (oito) trata da qualidade de energia no que
tange ao serviço e produto em âmbito nacional [4]. I II
Portanto, torna-se evidente a necessidade de equacionar os
problemas relacionados com as distorções da forma de onda, Tendo por referência as componentes I e II da equação (4) é
tanto para novos equipamentos quanto para os equipamentos possível inferir as definições convencionais de potência ativa,
já instalados. Nesse contexto, sobressai a importância dos reativa e aparente. A potência ativa é o valor médio da
estudos com vistas à medição de grandezas elétricas na componente I, expressa por (5).
presença de harmônicos. Nessa perspectiva, o presente artigo
está focado no desenvolvimento de um software que, a partir P = VI cos j (5)
dos valores instantâneos de tensão e corrente medidos em uma
situação prática, determina, por meios de diferentes
formulações matemáticas, as grandezas obtidas por um Fisicamente, esta parcela representa a parte da potência
medidor comercial. Além disso, o software possibilita, instantânea que efetivamente realiza trabalho, e, como é
adicionalmente, avaliar o comportamento da variação do Fator sabido, se expressa em watt (W). Por sua vez, a potência
de Potência em função do nível de distorção harmônica. reativa é o valor de pico da componente II, expressa por (6).

Q = VI sin j (6)
II. CARACTERÍSTICAS DO MEDIDOR UTILIZADO
Para as medições no sistema de condicionamento de ar foi
Analogamente, a potência reativa, expressa em volt-ampère
utilizado um equipamento analisador de energia que, a reativo (var), é a parcela da potência instantânea que não
exemplo de outros aparelhos desse tipo, possibilita a gravação realiza trabalho, isto é, trata-se de uma energia oscilante com
de grandezas em tempo real para sistemas monofásico,
valor médio nulo.
bifásico e trifásico. A partir dos sinais de entrada de tensão, o Dentro deste contexto, a potência aparente é determinada
equipamento determina e disponibiliza o valor das tensões de por (7), cuja unidade de medida é o volt-ampère (VA).
fase e linha, correntes, fator de potência por fase e total,
potências, energias, Distorção harmônica total de tensão e
S = VI (7)
corrente, potência reativa total necessária para correção do
fator de potência, sequência de fases, as demandas na ponta e
fora da ponta por fase e totais, fator de deslocamento, etc. Outra importante grandeza é o fator de potência que,
conceitualmente, é dado pela razão entre a potência ativa e a
III. CONCEITUAÇÃO DE POTÊNCIA CONVENCIONAL potência aparente, como apresentado em (8).

Em um circuito linear onde a fonte de alimentação P


apresenta a forma de onda da tensão em estado puramente FP = = cos j (8)
S
senoidal, isto é, sem diagnóstico de distorções provocadas
pela presença de harmônicos, a corrente drenada deste sistema No caso em que toda a potência disponível realiza trabalho,
também terá o formato puramente senoidal, podendo apenas o fator de potência atinge o valor unitário. Essa situação
estar defasada em relação à onda da tensão. Desta forma, em significa que toda a energia fornecida pela fonte é consumida
um circuito monofásico ideal, a tensão e a corrente podem ser pela carga.
equacionadas algebricamente por (1) e (2). Ressalta-se que as três potências abordadas anteriormente
podem ser perfeitamente representadas graficamente através
v ( t ) = 2V sin (wt ) (1) de um triângulo pitagórico bidimensional, conforme ilustrado
i ( t ) = 2I sin (wt -j ) (2) na Fig.1, apresentada a seguir.
3

E outra parcela denominada de potência aparente não


fundamental, que pode ser obtida por meio de (12).

S
N
=S
1 ( DTI )2 +( DTT )2 (12)
Fig. 1. Triângulo de potências convencional
Em situações reais, a distorção harmônica total de tensão é
menor que a correspondente de corrente (DTT<DTI).
IV. CONCEITUAÇÃO DE POTÊNCIA PARA SISTEMAS NÃO Ressalta-se que quando DTT≤5% e DTI≤200% a expressão
LINEARES
anterior conduz a erros inferiores a 0,15% [7].
Para o caso tratado neste trabalho, uma boa aproximação
A não linearidade dos sinais elétricos já era objeto de para a potência aparente total, na presença de harmônicos,
estudo de grandes pensadores desde o final da década de 20. pode ser encontrada por meio de (13).
Contudo, a partir das últimas três décadas é que novos grupos
de pesquisadores tem se preocupado com o assunto devido à 2 2 2
difusão em grande escala do novo perfil de cargas e suas S =S +S (13)
1 N
consequências adversas. Destacam-se dentre os pesquisadores
deste empolgante assunto, Budeanu (1927), Fryze (1932), C) PROCEDIMENTO 3: VALOR EFICAZ VERDADEIRO
Czarnecki (1988), Depenbrock (1962/1992), Akagi e Nabae Tendo em vista que a presença de harmônicos contribui
(1983/1993), IEEE 1459 (2000), Tenti e Mattavelli (2004). para o incremento dos valores eficazes de tensão e de corrente
Uma descrição de cinco dos mais importantes métodos e considerando uma extensão de (10), a potência aparente
desenvolvidos nesta área de estudo pode ser encontrada na também pode também ser obtida por (14).
referência [5].
Apesar de amplamente difundido, salienta-se que ainda não S =V .I (14)
há um consenso quando se trata de estabelecer a natureza da ef True ef True
potência não ativa, particularmente quanto ao seu significado
físico. Para a determinação da potência ativa, considerou-se a
A seguir serão apresentadas as formulações matemáticas formulação proposta por Budeanu [6], apresentada em (15).
utilizadas no software desenvolvido para efetuar o cálculo das
potências elétricas, particularmente no que diz respeito à P = å Vn I n cos jn (15)
potência aparente, com vistas a comparar os resultados das n
simulações com as medições realizadas no caso investigado.
A potência reativa, por sua vez, foi calculada por meio do
POTÊNCIA APARENTE triângulo de potências, conforme (16).

A) PROCEDIMENTO 1: BUDEANU [6]


Q= S 2 -P2 (16)
A definição proposta por Budeanu, 1927, é realizada no
domínio da frequência e válida para formas de ondas
genéricas de tensão e corrente. Segundo essa formulação a Uma limitação desse equacionamento diz respeito ao fato
potência aparente é definida por (9). de que sempre apresenta valores positivos para a potência
reativa, isto é, não permite determinar se a natureza da carga é
capacitiva ou indutiva, exigindo, no caso de medidores
2
S = å Vn2 . å I n2 (9) digitais, rotinas extras que possibilitem verificar se o sinal de
n n tensão está adiantado ou atrasado do sinal de corrente. Tal
procedimento exige um esforço computacional adicional.
Destaca-se que essa definição é válida tanto para sinais
puramente senoidais, situação em que reflete a potência V. RESULTADOS E DISCUSSÃO
aparente convencional, assim como para situações que
apresentem contribuição harmônica de tensão ou de corrente. Por meio do software, considerando-se até o trigésimo
primeiro harmônico, incluindo tanto os de ordem par quanto
B) PROCEDIMENTO 2: IEEE1459-2000 [7] os de ordem impar foi possível reproduzir com exatidão os
Neste caso, a potência aparente apresenta duas espectrogramas de módulo e de fase dos sinais de corrente e
contribuições. Uma delas referente à frequência nominal ou de tensão. Esta afirmação encontra sustentação nos valores
fundamental de operação, dada por (10) ou (11). obtidos a partir dos espectrogramas decorrentes da simulação,
comparativamente àqueles obtidos nas medições, conforme
pode ser constatado na tabela 1, que mostra os valores
S = V .I (10)
1 1 1 referentes à fase A. Salienta-se que para o valor eficaz
verdadeiro de corrente o erro foi de 0,02% na fase A e de
2 2
S = P +Q
2
(11) 0,016% na fase B. No que se refere às demais grandezas e
1 1 1 indicadores o erro, em todas as fases, foi de 0%.
4

TABELA 1. GRANDEZAS ELÉTRICAS E INDICADORES TABELA 5. POTÊNCIA APARENTE POR FASE E TOTAL
Grandeza Medidor Software Erro
kVA Medição Proc. 1 Proc. 2 Proc. 3
Vef_true (V) 220,49 220,49 (%)
Ief_true (A) 43,07 43,06 St_a 9,321 9,494 9,494 9,494 -1,82
FASE A St_b 8,037 8,140 8,140 8,140 -1,27
DTT (%) 1,85 1,85
DTI (%) 41,38 41,38 St_c 8,561 8,542 8,542 8,542 0,22
S_total 25,880 26,136 26,136 26,137 -0,98
Visto que o medidor não disponibiliza simultaneamente o
Fator de Deslocamento (FD) e o Fator de Potência (FP), foi Destaca-se que os valores medidos levam em consideração
preciso utilizar medições obtidas em tempos diferentes. Esta as grandezas fundamentais calculadas provavelmente por
estratégia teve por finalidade identificar as potências circuitos eletrônicos e não por meio dos espectrogramas,
fundamentais e em consequência, os erros encontrados entre acarretando, comparativamente aos valores simulados, os
medição e simulação. erros indicados nas tabelas 4 e 5.
As tabelas 2 e 3 apresentam as grandezas elétricas O fator de potência, por fase, foi calculado por (17), que
fundamentais medidas e simuladas. Registra-se que os erros corresponde à relação entre a potência ativa na frequência de
encontrados se devem, possivelmente, ao procedimento operação do sistema e a potência aparente considerando os
utilizado pelo medidor para as potências elétricas na harmônicos, ou seja, em conformidade com a proposição feita
frequência fundamental e que não são de conhecimento dos por Budeanu (9).
autores.
P1
Os valores obtidos para as potencias reativas parciais e FP = (17)
trifásica apresentam valores pequenos, comparativamente aos S
das potências ativas. Assim sendo, embora os erros relativos
desta parcela sejam elevados, os valores absolutos têm pouca Para determinar o fator de potência trifásico, foram
significância, portanto, pequena influência na determinação da consideradas as proposições indicadas em (18) e (19),
potência aparente. correspondentes às metodologias aritmética e vetorial,
respectivamente, para a potência aparente [7].
TABELA 2. POTÊNCIA ATIVA E REATIVA FUNDAMENTAL
Medição Software Erro(%) Pa + Pb + Pc
FP _ A = (18)
P1_a (kW) 4,703 4,474 5,12 Sa + Sb + Sc
P1_b (kW) 3,518 3,303 6,51
P1_c (kW) 3,793 3,560 6,54
Pa + Pb+ Pc
P1_total (kW) 12,010 11,336 5,95 FP _ V = (19)
Q1_a (kvar) 0,242 0,170 42,35 ( Pa + Pb+ Pc )+ j (Qa +Qb +Qc )
Q1_b (kvar) 0,088 0,058 51,72
Q1_c (kvar) 0,103 0,061 67,21 A interpretação geométrica dessas duas formulações está
Q1_total (kvar) 0,434 0,289 50,17 identificada na Fig. 2. Destaca-se, que no caso de sistemas
equilibrados, a potência aparente vetorial será igual à
aritmética. Dessa forma, para sistemas desequilibrados o fator
TABELA 3. POTÊNCIA APARENTE FUNDAMENTAL
de potência será maior quando calculado com base na
Medição Software Erro (%) potência aparente vetorial.
S1_a (kVA) 4,709 4,477 5,18
S1_b (kVA) 3,519 3,303 6,54
S1_c (kVA) 3,795 3,560 6,60
S1_total (kVA) 12,020 11,341 5,99

As tabelas 4 e 5 apresentam os valores das potências


elétricas por fase e total, considerando a influência das
distorções harmônicas de tensão e de corrente.

TABELA 4. POTÊNCIA ATIVA E REATIVA POR FASE E TOTAL


Fig. 2. Potência aparente: vetorial e aritmética [7]
Medição Software Erro (%)
Pt_a (kW) 8,578 8,760 -2,08
A tabela 6 apresenta os valores obtidos para o Fator de
Pt_b (kW) 6,919 7,020 -1,44
Pt_c (kW) 7,564 7,529 0,46
Potência por fase e total, utilizando as expressões (18) e (19).
P_total (kW) 23,060 23,309 -1,07 Constata-se que o software desenvolvido reproduziu com
Qt_a (kvar) 3,647 3,666 -0,52 excelente aproximação os resultados obtidos via medição.
Qt_b (kvar) 4,089 4,114 -0,61 Também, nota-se que o sistema apresenta discreto
Qt_c (kvar) 4,010 4,044 -0,84 desequilíbrio, todavia apresentando diferença desprezível
Q_total (kvar) 11,750 11,823 -0,62 entre os resultados obtidos para o fator de potência total,
vetorial e aritmético.
5

TABELA 6. FATOR DE POTÊNCIA POR FASE E TOTAL Com a utilização dessa nova equação, a divergência
Medição Software Erro (%) crescente mencionada, para a recuperação dos sinais medidos,
FP_a 0,920 0,922 -0,22 foi eliminada, como pode ser constatado na Fig. 5 para as
FP_b 0,861 0,863 -0,23 formas de ondas de tensão e na Fig. 6 para as formas de ondas
FP_c 0,884 0,881 0,34 das correntes. No entanto, em consequência disso, não se
FP_total_A 0,891 0,890 0,11
verifica concordância plena entre os indicadores e grandezas
FP_total_V 0,891 0,892 -0,11
determinadas, via medição e via simulação.
Salienta-se que, na decomposição dos sinais de corrente e 400

de tensão em series trigonométricas de Fourier, utilizou-se um 300


passo de integração dado por (20). 200

100

Tensão (V)
Per
dt = (20) 0
Np
-100

Sendo, -200
Per = período do sinal
-300 Simulação
Np = Número de pontos amostrados Medição
-400
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018
Todavia, de posse dos espectrogramas, efetuou-se o Tempo (s)
procedimento inverso, qual seja o de recuperar, a partir destes, Fig. 5. Formas de ondas das tensões: medição e simulação
os respectivos sinais de tensão e corrente medidos. Neste 80

ponto, constatou-se uma diferença crescente, ao longo do 60


tempo, nas formas de ondas de tensão e de corrente em
40
relação ao sinal medido, como mostram a Fig. 3 e a Fig. 4.
20
Tensão (V)

400
0
300
-20
200

100
-40
Tensão (V)

0 -60 Simulação
Medição
-100 -80
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018
-200
Tempo (s)
Fig. 6. Formas de ondas das correntes: medição e simulação
-300 Simulação
Medição
-400 A tabela 7 apresenta os resultados obtidos, utilizando as
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018
Tempo (s) formulações apresentadas em (20) e (21).

Fig. 3. Formas de ondas das tensões: medição e simulação TABELA 7. GRANDEZAS ELÉTRICAS E INDICADORES
80 Grandezas Método 1 Método 2
E Per Per Erro
60
Indicadores dt = dt = (%)
Np Np -1
40
Vef_true(V) 220,49 221,84 -0,61
20
Tensão (V)

FASE Ief_true (A) 43,06 43,39 -0,76


0 A DTT (%) 1,85 3,25 -43,08
-20 DTI (%) 41,38 40,81 1,40
-40
Vef_true(V) 220,52 218,93 0,73
FASE Ief_true (A) 36,91 36,51 1,10
-60 Simulação
Medição
B DTT (%) 1,87 3,20 -41,56
-80 DTI (%) 57,84 58,84 -1,70
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016 0.018
Tempo (s) Vef_true(V) 219,54 219,96 -0,19
Fig. 4. Formas de ondas das correntes: medição e simulação
FASE Ief_true (A) 38,91 38,65 0,67
Na busca de solução para a divergência mencionada, C DTT (%) 1,75 3,23 -45,82
utilizou-se outra forma para determinar o passo de integração, DTI (%) 53,29 54,12 -1,53
dado pela equação (21).
Observa-se que, para as correntes, os erros entre os dois
Per procedimentos são desprezíveis para os indicadores e
dt = (21) grandezas calculadas, em todas as fases. Todavia, quando se
Np -1
trata dos sinais de tensão, ocorrem erros significativos no
6

cálculo da distorção harmônica, atingindo 43,08% para a fase Constata-se, ao analisar a variação do fator de potência em
A, 41,56% para a fase B e 45,8% para a fase C. Apesar disso, relação ao fator de poluição harmônica que, uma carga com
para o caso em estudo, os resultados referentes ao método 2 fator de deslocamento unitário, submetida a um fator de
ainda permanecem dentro dos limites recomendados pelo poluição de até 0,41 apresentará um fator de potência total
ONS – Operador Nacional do Sistema, para a distorção no dentro de limites aceitáveis, estabelecidos em norma.
sinal de tensão. Acrescenta-se que para as demais grandezas e Evidentemente, para cargas que tenham fator de deslocamento
indicadores calculados o erro máximo encontrado é de 1,70%. não unitário esse limite do fator de poluição harmônica será
No que tange às potências elétricas, assim como para o menor.
fator de potência trifásico, observa-se que a diferença nos
resultados é desprezível para as duas formulações adotadas VII. CONCLUSÕES
conforme retratado nas tabelas 8 e 9. O presente artigo apresentou uma proposta de metodologia
TABELA 8. POTÊNCIAS ELÉTRICAS DO SISTEMA
para a determinação de indicadores de qualidade e grandezas
Grandeza Método 1 Método 2 Erro (%) elétricas, obtidos por meio de um software desenvolvido no
P_total (kW) 23,309 23,231 0,34 MATLAB®, tendo por variáveis de entrada os valores
Q_total (kvar) 11,823 11,839 -0,14 instantâneos de tensão e corrente. A eficiência da rotina
S_total (kVA) 26,136 26,074 0,24 computacional foi validada através da comparação dos valores
simulados com medições advindas de um medidor comercial.
TABELA 9. FATOR DE POTÊNCIA DO SISTEMA Os resultados da simulação reproduziram com excelente
Grandeza Método 1 Método 2 Erro (%) precisão as medições disponibilizadas pelo medidor. O
FP_A 0,890 0,889 0,11 software permitiu avaliar a influência do integrador
FP_V 0,892 0,891 0,11 infinitesimal utilizado na decomposição dos sinais em series
de Fourier, na determinação dos espectrogramas de tensão e
VI. ANÁLISE COMPORTAMENTAL DO FATOR DE POTÊNCIA EM de corrente e, consequentemente, nos resultados de
RELAÇÃO AO FATOR DE POLUIÇÃO HARMÔNICA. indicadores e grandezas elétricas objeto deste estudo.
Adicionalmente, foi possível, variando-se a contribuição
A potência aparente (S) na presença de harmônicos pode
harmônica, apresentar o comportamento da variação do fator
ser decomposta em dois termos, sendo um deles a potência
de potência em função do nível de poluição harmônica, para
aparente fundamental (S1) e o outro a potência aparente não
uma carga de fator unitário. Pretende-se, na continuidade
fundamental (SN). A partir destes conceitos, o fator de
deste estudo desenvolver um sistema de aquisição de dados
poluição harmônica é definido por (22) [7]
para realizar essas medições de forma remota.

SN S 2 - S12 VIII. REFERÊNCIAS


= (22)
S1 S1
[1] IEEE Standard 519-1992, “Recommended Practices and
Com vistas a verificar a influência dos harmônicos no fator Requirements for harmonic Control in Electric Power
de potência, procedeu-se, com o auxílio do programa Systems”,1992.
desenvolvido, a uma série de simulações considerando
distintos graus de contribuição harmônica. No estudo definido [2] EN 50160, Voltage characteristics of electric supplied by
como Caso 1, variaram-se as contribuições harmônicas na public distribution systems, 1999.
mesma proporção, tendo por referência a distribuição
[3] M. McGranaghan, G. Beaulieu, “Update on IEC 61000-
harmônica da situação objeto deste estudo. No Caso 2, por sua 3-6, Harmonic Emission limits for customers connected
vez, variaram-se as contribuições harmônicas de forma to MV, HV and EHV”, Transmission and Distribution
aleatória, mudando completamente a característica do Conference and Exhibition , 2005/2006, IEEE PES, May
espectrograma harmônico original. Os resultados alcançados 2006, Dallas, TX, 7803-9193-4-/06/$20.00©2006 IEEE.
encontram-se retratados na Fig. 7.
[4] Resolução 345/2008 da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL)

[5] C. Cepisca, H. Andrei, S. Ganatsios, M. Veyssiere,


“Energy measurement techniques for non-sinusoidal
situations”, International Conference on Metrology &
Measurement Systems, June 27-28, 2002, Politehnica
University, Bucharest, Romania, Vol. 44, Nº. 2, 2003.

[6] C. I. Budeanu, “Puissances reactives et fictives”, Instytut


Romain de LÉnergie. Pub. Nº. 2. Bucharest, 1927.

[7] IEEE, “Trial-Use Standard Definitions for the


Measurement of Electric power Quantities Under
Sinusoidal, Nonsinusoidal, balanced or Unbalanced
Fig. 7. Fator de potência em função do fator de poluição harmônica
Conditions, IEEE Std 1459-2000, March, 2010.

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