Você está na página 1de 50

LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 1

PRÁTICAS ONLINE
Modelagem de Linhas PRÉVIAS
de Transmissão

MODELAGEM DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

Linhas de Transmissão e Redes de Distribuição de Energia Elétrica


MBA Energia Elétrica: Geração, Transmissão e Distribuição

Prof. Dr. Vilson Luiz Coelho


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 2
Modelagem de Linhas de Transmissão

IPOG – INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E GRADUAÇÃO


Todos os direitos quanto ao conteúdo desse material didático são reservados ao(s)
autor(es).
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 3
Modelagem de Linhas de Transmissão

/// PRÁTICAS ONLINE PRÉVIAS


Antes das aulas remotas da disciplina, sugerimos a leitura dessa apostila e a realização
da atividade prévia.
Nesse documento apresenta-se a parte inicial da disciplina que trata dos conceitos
básicos e a modelagem matemática das linhas de transmissão.
A atividade prévia foi desenvolvida com o objetivo de exercitar e fixar esse conteúdo.

/// PROFESSOR
Vilson Luiz Coelho, possui graduação em Engenharia Elétrica (1979), mestrado em
Engenharia Elétrica (2005) e doutorado em Engenharia Elétrica (2010) pela Universidade
Federal de Santa Catarina. Realizou um trabalho de pós-doutorado no Instituto de
Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo em 2014. Entre 1980 e 2003 atuou
como engenheiro e gerente da área de normas e estudos de distribuição da Centrais
Elétricas de Santa Catarina, CELESC. Atualmente é professor do Centro Universitário
UNISATC e do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG). Tem experiência na área
de Engenharia Elétrica, com ênfase em Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica,
atuando principalmente nos seguintes temas: proteção, aterramento, descargas
atmosféricas e sistemas de potência.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 4
Modelagem de Linhas de Transmissão

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 6
2 CONCEITOS BÁSICOS 8

2.1 Revisão de Cálculo Vetorial 8


2.1.1 Notações Básicas 8
2.1.2 O Operador Nabla () 9
2.1.3 Gradiente 9
2.1.4 Divergente 9
2.1.5 Rotacional 11
2.1.6 Laplaciano Escalar 12
2.1.7 Laplaciano Vetorial 13

2.2 Grandezas Físicas do Eletromagnetismo 14


2.2.1 Campo Elétrico E 14
2.2.2 Campo Magnético H 14
2.2.3 A Indução Magnética B, e a Permeabilidade Magnética µ 15
2.2.4 A Indução Elétrica D e a Permissividade Elétrica  15
2.2.5 Densidade Superficial de Corrente J e a Condutividade  16
2.2.6 Densidade Volumétrica de Carga v 17
2.2.7 Fluxo Magnético  17

2.3 As Equações de Maxwell 17


2.3.1 As Equações de Maxwell sob a Forma Diferencial 18
2.3.2 As Equações de Maxwell na Forma Integral 21
2.3.3 As Equações de Maxwell para o Regime Permanente Harmônico (RPH) 24

2.4 Potência e Vetor de Poynting 29


2.5 O Potencial Escalar Elétrico 29

3 EQUAÇÕES DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO 31

3.1 Modelo a Parâmetros Distribuídos 31


3.1.1 Campos Eletromagnéticos em uma Linha de Transmissão 32
3.1.2 Determinação das Equações. 34
3.1.3 Solução das Equações Diferenciais 38
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 5
Modelagem de Linhas de Transmissão

3.1.4 Forma Hiperbólica das Equações 40


3.1.5 Impedância de Entrada 41
3.1.6 Linhas sem Perdas 41

3.2 Modelos a Parâmetros Concentrados 42


3.2.1 Circuito π de Linhas de Transmissão 42
3.2.2 Circuito π de Linhas de Transmissão Médias e Curtas 44
3.2.3 Comprimento Limite de uma Linha de Transmissão 45

3.3 Considerações Sobre Sistemas Trifásicos. 45


3.4 Exemplo de Cálculo 47

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 50
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 6
Modelagem de Linhas de Transmissão

1 INTRODUÇÃO
A propagação de ondas eletromagnéticas é um meio de transportar energia e
informação e pode ser feita de forma não guiada, em meios ilimitados, ou utilizando-se
estruturas de guiamento, conforme resume o mapa conceitual da Figura 1.1.

Figura 1.1 – Mapa Conceitual da Transmissão de Energia Eletromagnética

A propagação de ondas, definida como propagação não guiada, é aquela em que a onda
ocupa todo o espaço e nesse caso, a energia eletromagnética (EM) associada à onda se
espalha por uma grande área. Esse tipo de propagação é usado pelos meios de
comunicação tais como rádio e TV, onde a informação é transmitida para quem possa
estar interessado.
A outra maneira de transmitir potência ou informação é através de estruturas de
guiamento. As estruturas de guiamento servem para guiar a propagação da energia de
sua fonte até a carga. Exemplos típicos destas estruturas são as linhas de transmissão e
os guias de onda [1] .
Os guias de ondas são usados em transmissão de sinais com altas frequências onde as
Linhas de transmissão não são eficientes devido principalmente às perdas por efeito
pelicular que são importantes em frequências elevadas.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 7
Modelagem de Linhas de Transmissão

As linhas de transmissão são utilizadas no transporte de potência em baixas e altas


frequências, normalmente até algumas centenas de MHz, e consistem basicamente em
dois ou mais condutores paralelos usados para conectar uma fonte a uma carga. A fonte
pode ser um gerador hidrelétrico, um transmissor ou uma antena (representada pelo
seu equivalente de Thévenin) enquanto a carga pode ser uma fábrica, uma antena ou
uma TV etc.
No contexto do sistema elétrico de potência (SEP) as linhas de transmissão podem ser
as linhas de transmissão de alta tensão, propriamente ditas, que conectam as usinas de
geração aos centros consumidores, assim como as linhas de sub transmissão e as redes
de distribuição que são usadas para a distribuição local da energia (vide Figura 1.2).
Também são linhas de transmissão o cabeamento de instalações elétricas de baixa
tensão. No Brasil a frequência de operação do SEP é 60 Hz.
Os problemas de linhas de transmissão são usualmente resolvidos utilizando-se a Teoria
de Campos EM e a Teoria de Circuitos Elétricos. as duas principais teorias nas quais está
baseada a Engenharia Elétrica.

Figura 1.2 – Sistema Elétrico de Potência (SEP) [2]


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 8
Modelagem de Linhas de Transmissão

2 CONCEITOS BÁSICOS
Para o perfeito entendimento da teoria de linhas de transmissão é importante o
conhecimento dos fundamentos do eletromagnetismo. Assim neste capítulo serão
apresentados os principais conceitos da teoria eletromagnética que serão utilizados no
desenvolvimento da modelagem matemática de linhas de transmissão.

2.1 Revisão de Cálculo Vetorial


Como será visto a seguir, muitas grandezas físicas do eletromagnetismo são vetoriais e,
portanto, há a necessidade de se fazer uma pequena revisão destes conceitos.
Serão vistos com maior interesse os operadores divergente, gradiente, rotacional e
laplaciano, assim como os teoremas da divergência e de Stokes. Estes operadores e
teoremas são de fundamental importância para a compreensão do Eletromagnetismo
interpretado a partir das equações de Maxwell.
Considera-se, no entanto, que o aluno esteja familiarizado com as operações com
vetores e sistemas de coordenadas. Sugere-se uma breve revisada destes conceitos que
estão muito bem explicados em [1].

2.1.1 Notações Básicas

Normalmente são utilizadas as seguintes convenções:

• As grandezas escalares são representadas por letras em itálico, como por


exemplo t (tempo) e I (corrente);
• Grandezas vetoriais são representadas por letras em negrito, como por exemplo
o campo magnético H. Muitas vezes também serão encontradas notações com
⃗⃗ .
letras em negrito e uma seta acima: 𝐇
• O produto escalar é representado por um ponto “  ”, como por exemplo: A  B ;
• O produto vetorial é expresso por meio de um “  ”, por exemplo: A  B .
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 9
Modelagem de Linhas de Transmissão

2.1.2 O Operador Nabla ()

O Nabla é um operador matemático ao qual, isolado, não é possível associar nenhum


sentido geométrico. É na sua interação com outras grandezas que ele passará a
apresentar algum sentido geométrico.
Em coordenadas cartesianas o operador Nabla é:
𝜕 𝜕 𝜕
⃗𝒙+ 𝒂
𝛁 = 𝜕𝑥 𝒂 ⃗ + 𝒂⃗ (2.1)
𝜕𝑦 𝑦 𝜕𝑧 𝑧

2.1.3 Gradiente

Considerando uma função escalar U(x,y,z), define-se gradiente de U como sendo:

𝝏𝑼 𝝏𝑼 𝝏𝑼
grad 𝑼 = 𝛁𝑼 = ⃗
𝒂 ⃗𝒚+ 𝒂
+ 𝝏𝒚 𝒂 ⃗ (2.2)
𝝏𝒙 𝒙 𝝏𝒛 𝒛

O gradiente de um campo escalar é uma grandeza vetorial que representa a magnitude


e a orientação da máxima taxa de variação espacial deste escalar.

• Exemplo de aplicação:

Determine o gradiente do seguinte campo escalar: 𝑉 = 𝑒 −2𝑧 sin 2𝑥 𝑐𝑜𝑠ℎ 𝑦


Solução:

2.1.4 Divergente

Considerando um determinado vetor A, define-se divergente de A em coordenadas


cartesianas como sendo:

⃗ = 𝝏𝑨𝒙 + 𝝏𝑨𝒚 + 𝝏𝑨𝒛 (2.3)


𝒅𝒊𝒗⃗⃗⃗𝐀 = 𝛁 ⋅ 𝐀 𝝏𝒙 𝝏𝒚 𝝏𝒛
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 10
Modelagem de Linhas de Transmissão

O divergente de um campo vetor é uma quantidade escalar que representa o fluxo


líquido que sai de uma superfície fechada, por unidade de volume encerrado por esta
superfície. Entende-se por superfície fechada aquela que envolve um volume.
Importante observar que:
• O divergente resulta num escalar;
• O divergente de um escalar não tem sentido.
Na Figura 2.1 apresenta-se três possíveis resultados de divergente.

Figura 2.1 – Divergência de um Campo Vetorial D: a) Divergência positiva; b) Divergência negativa; c)


Divergência no ponto P igual a zero.

Associado ao divergente tem-se o Teorema da Divergência:


Teorema da Divergência:
O teorema da divergência mostra que o fluxo de um vetor através de uma superfície
fechada é igual a integral volumétrica do divergente deste vetor sobre o volume
envolvido por aquela superfície:

∮𝑺(𝑽𝒐𝒍) 𝐅 ⋅ ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐝 𝐒 = ∫𝑽𝒐𝒍(𝛁 ⋅ 𝐅) ⋅ 𝒅 𝑽 (2.4)

• Exemplo de aplicação

⃗ = 𝑥 2 𝑦𝑧 𝒂
Determine o divergente do campo vetorial: 𝐏 ⃗ 𝑥 + 𝑥𝑧 𝒂
⃗𝑧
Solução:
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 11
Modelagem de Linhas de Transmissão

2.1.5 Rotacional

Considerando um determinado vetor F, define-se rotacional de F em coordenadas


cartesianas como sendo o determinante de uma matriz formada pelos vetores unitários
direcionais as derivadas parciais e as componentes em cada um dos eixos:

⃗𝒙
𝒂 ⃗𝒚
𝒂 ⃗𝒛
𝒂
𝝏 𝝏 𝝏
𝐫𝐨𝐭𝐅 = 𝛁 × 𝐅 = | 𝝏𝒙 | (2.5)
𝝏𝒚 𝝏𝒛
𝑭𝒙 𝑭𝒚 𝑭𝒛

O rotacional de um campo vetor é uma quantidade vetorial que representa a circulação


deste vetor nos três planos ortogonais. Em outras palavras o rotacional representa o
quanto o vetor gira em torno de um determinado ponto.
Associado ao rotacional tem-se o teorema de Stokes
Teorema de Stokes:
O teorema de Stokes define que a “circulação” de um campo vetorial (A) em torno de
um caminho fechado (L) é igual à integral de superfície do rotacional do vetor sobre a
superfície aberta (S) delimitada por esse caminho, desde que A e A sejam contínuos
na área da superfície.

⃗ ⋅ ⃗⃗⃗⃗
∮𝑳(𝑺) 𝐀 ⃗ ) ⋅ ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐝 𝐥 = ∫𝑺(𝛁 × 𝐀 𝐝 𝐒 (2.6)

Na Figura 2.2 apresenta-se dois resultados possíveis para o rotacional de um campo


vetorial.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 12
Modelagem de Linhas de Transmissão

P P

(a) (b)

Figura 2.2 – Rotacional de um Campo Vetorial em um ponto P: a) Rotacional aponta para fora do
plano da apresentação b) Rotacional zero.

• Exemplo de aplicação:

⃗ = 𝑥 2 𝑦𝑧 𝒂
Determine o rotacional do campo vetorial: 𝐏 ⃗ 𝑥 + 𝑥𝑧 𝒂
⃗𝑧
Solução:
⃗𝑥
𝒂 ⃗𝑦
𝒂 ⃗𝑧
𝒂 ⃗𝑥
𝒂 ⃗𝑦
𝒂 ⃗𝑧
𝒂
𝜕| | 𝜕 𝜕 𝜕|
⃗ = || 𝜕 𝜕
𝛻×𝐏 |=|
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧|
𝑃𝑥 𝑃𝑦 𝑃𝑧 𝑥 2 𝑦𝑧 0 𝑥𝑧

𝜕(𝑥 𝑦𝑧) 2 𝜕(𝑥 𝑦𝑧) 2


⃗ = (𝜕(𝑥𝑧) − 𝜕0) 𝒂
𝛻×𝐏 ⃗ 𝒙+(
𝜕(𝑥𝑧) 𝜕0
⃗ 𝑦+( −
− 𝜕𝑥 ) 𝒂 ⃗𝑧
)𝒂
𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦

2.1.6 Laplaciano Escalar

O laplaciano de um determinado campo escalar é o divergente do gradiente deste


campo.
Dado um campo escalar V:
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 13
Modelagem de Linhas de Transmissão

𝝏𝟐 𝑽 𝝏𝟐 𝑽 𝝏𝟐 𝑽
𝛁𝟐𝑽 = 𝟐
+ 𝟐
+ (2.7)
𝝏𝒙 𝝏𝒚 𝝏𝒛𝟐

Importante observar:
a) O laplaciano de um escalar resulta num escalar.
b) A equação 2V = 0 é conhecida como equação de Laplace.
c) Um campo escalar harmônico (função de seno ou cosseno) tem o laplaciano
nulo.

• Exemplo de aplicação:

Determine o Laplaciano escalar do seguinte campo escalar: 𝑉 = 𝑒 −𝑧 𝑠𝑖𝑛 2 𝑥 𝑐𝑜𝑠ℎ 𝑦


Solução:
Derivada primeira: Derivada segunda:

2.1.7 Laplaciano Vetorial

O laplaciano de um determinado campo vetorial (A) é definido como sendo:

⃗ = 𝛁(𝛁 ⋅ 𝐀
𝛁𝟐 𝐀 ⃗ ) − 𝛁 × 𝛁 × 𝐀 (2.8)

Importante observar que outros operadores de segunda ordem como o rotacional do


gradiente e o divergente do rotacional resultam em valores nulos.
Os operadores “laplaciano” (tanto escalar como vetorial), são muito importantes na
matemática e na física. Definidos de forma adequada, descrevem fenômenos de
distribuição de campos, tanto eletromagnéticos como mecânicos.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 14
Modelagem de Linhas de Transmissão

Na maioria dos problemas reais estas equações são de difícil solução analítica. Assim,
muitos problemas de engenharia são resolvidos utilizando-se métodos numéricos que
permitem soluções com alto nível de precisão.

2.2 Grandezas Físicas do Eletromagnetismo


As grandezas físicas do eletromagnetismo são grandezas naturalmente existem, são
fenômenos naturais, como por exemplo, a massa de um corpo ou o tempo. Portanto,
não há meios de explicá-las ou apresentar justificativas para as suas existências [3]. Essas
grandezas podem existir em todos os pontos do universo e são na sua maioria campos
vetoriais e não simplesmente vetores isolados.

2.2.1 Campo Elétrico E

Uma carga ou conjunto de cargas elétricas Q, tem a propriedade de criar, no volume que
a envolve, um campo vetorial chamado de campo elétrico. Percebe-se na Figura 2.3 que
o campo elétrico é um vetor divergente em relação à carga que o produz. A unidade de
campo elétrico é Volt por metro.
E

E +Q E
E

Figura 2.3 – Vetor Campo Elétrico E (V/m)

2.2.2 Campo Magnético H

Um conjunto de cargas elétricas em movimento representa uma corrente elétrica que,


por sua vez, tem a propriedade de criar uma grandeza chamada campo magnético.
Como pode ser visto na Figura 2.4, o vetor campo magnético é rotacional em relação à
corrente.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 15
Modelagem de Linhas de Transmissão

Ímãs permanentes e variações de campos elétricos podem também gerar campos


magnéticos. A unidade de campo magnético é Ampère por metro.

Figura 2.4 – Vetor Campo Magnético H (A/m)

Obs.: Na figura acima, para fins de simplificação do desenho, o campo magnético está
representado apenas por algumas linhas. Porém, deve-se entender que o campo
magnético ocorre no entorno e ao longo de todo o comprimento do fio (cilindro
condutor).

2.2.3 A Indução Magnética B, e a Permeabilidade Magnética µ

O vetor campo indução magnética tem o mesmo sentido e direção do vetor campo
magnético e módulo igual ao produto da intensidade de campo magnético pela
característica magnética do meio onde ocorre ou a permeabilidade magnética do meio.
Também é conhecido como “Densidade de Fluxo Magnético” e a unidade é Tesla (T). A
unidade da permeabilidade magnética é Henry por metro.

⃗ = 𝝁𝐇
𝐁 ⃗⃗ (2.9)

Importante observar que um mesmo campo magnético em meios com diferentes


permeabilidades magnéticas resulta em diferentes valores de indução magnética.
Para o vácuo e muitas vezes aproximado para o ar: µ = µo = 4π x10-7 [H/m].

2.2.4 A Indução Elétrica D e a Permissividade Elétrica 

Em geral, na análise de problemas de campos elétricos consideram-se dois tipos de


meios onde se propagam: os meios dielétricos (isolantes) e os meios condutores. Os
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 16
Modelagem de Linhas de Transmissão

meios dielétricos são caracterizados pela permissividade elétrica () e os meios


condutores pela sua condutividade elétrica ().

⃗ = 𝜺𝐄
𝐃 ⃗ (2.10)

A indução elétrica, também conhecida como “Densidade de Fluxo Elétrico” e expressa


em C/m2, tem o mesmo sentido e direção do campo elétrico e módulo igual ao produto
do módulo do campo elétrico pela permissividade elétrica do meio. A unidade da
permissividade elétrica do meio é F/m.
Obs.: F = Farad e C = Coulomb.
Para o vácuo e muitas vezes aproximado para o ar: o = 10-9/36 [F/m].

2.2.5 Densidade Superficial de Corrente J e a Condutividade 

A densidade superficial de corrente depende do campo elétrico e da condutividade do


meio/material. Importante salientar que a densidade superficial de corrente é um vetor
enquanto a corrente elétrica é uma grandeza escalar.

⃗ (2.11)
𝐉 = 𝝈𝐄

Obs.: Para uma densidade de corrente uniforme:

𝐼 = 𝑱 ⋅ ⃗𝑺 (A); 𝜎 (S/m), onde S = Siemens.


Importante salientar que a densidade superficial de corrente é um vetor enquanto a
corrente elétrica é uma grandeza escalar.
Na Figura 2.5 procura-se ilustrar a ocorrência de uma densidade superficial de corrente
em um fio/cilindro condutor.

Sf

Figura 2.5 – Fluxo do Vetor Densidade Superficial de Corrente por um Condutor


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 17
Modelagem de Linhas de Transmissão

2.2.6 Densidade Volumétrica de Carga v

Supondo uma quantidade de cargas Q, ocupando um volume V, temos que a densidade


volumétrica média de cargas é:

𝐐
𝝆𝒗 = 𝑽 (C/m𝟑 ) e portanto 𝑸 = ∫𝒗 𝝆𝒗 𝒅𝒗 (𝐂) (2.12)

2.2.7 Fluxo Magnético 

Sendo B um campo vetorial, é concebível que se possa calcular o seu fluxo através de
uma superfície aberta S. Então:

⃗ ⋅ ⃗⃗⃗⃗⃗
∫𝒔𝐁 𝐝 𝑺 = 𝝓 (Wb) (2.13)

onde Wb = Weber.
Entende-se como uma superfície aberta aquela formada por um caminho fechado. Uma
superfície fechada é aquela que envolve um determinado volume.

2.3 As Equações de Maxwell


Uma grande contribuição para o desenvolvimento da teoria eletromagnética foi dada
por James Clerk Maxwell (1831–1879). Maxwell, físico e matemático britânico, se
baseou no conhecimento existente até aquele momento para desenvolver as suas
quatro equações que permitem a interpretação e resolução de inúmeros problemas
eletromagnéticos. As quatro equações de Maxwell englobam a lei de Ampère (André
Marie Ampère, 1775–1836), a lei de Gauss (Carl Gauss, 1777–1855), a lei de Faraday
(Michael Faraday, 1791–1867) e a lei de Lenz (Emil Lenz, 1804–1865) [3].
Inicialmente, as equações de Maxwell não foram apresentadas com a forma atual. O
matemático e engenheiro Oliver Heaviside (1850–1925), precursor da análise vetorial e
interessado no trabalho de Maxwell, adaptou e apresentou as quatro equações sob a
forma como são conhecidas hoje.
Os fenômenos físicos descritos pelas equações de Maxwell são essencialmente simples,
ou seja, as leis são de fácil compreensão. No entanto, a aplicação destas equações em
situações físicas de geometrias complexas e diferentes características de materiais
podem gerar problemas de difícil solução. As equações apresentadas a seguir podem
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 18
Modelagem de Linhas de Transmissão

incialmente parecer complexas e gerar dúvidas, porém, tornam-se compreensíveis a


partir da particularização das suas aplicações.

2.3.1 As Equações de Maxwell sob a Forma Diferencial

A ordem como as equações são apresentadas é arbitrária e pode variar segundo cada
autor. As equações de Maxwell podem ser aplicadas a diversas situações particulares.
Em função das características do problema, simplificações podem ser adotadas de forma
a se obter a solução esperada.

2.3.1.1 Equação do Rotacional do Campo Magnético

O rotacional do campo magnético é igual a densidade superficial de corrente mais a


derivada da indução elétrica em relação ao tempo:

⃗⃗
𝝏𝐃
⃗⃗ = 𝐉 +
𝛁×𝐇 (2.14)
𝝏𝒕

A primeira análise desta equação mostra que densidades de corrente, assim como,
variações temporais de campo elétrico geram campos magnéticos rotacionais, já que:
⃗ = 𝜀𝐄
𝐃 ⃗ e 𝐉 = 𝜎𝐄

O primeiro termo do lado direito da equação é conhecido como densidade de corrente


de condução (Jc) e o segundo como densidade de corrente de deslocamento (Jd).
Considerando-se uma situação em que não há indução elétrica ou no caso de sua
variação temporal ser nula a equação 2.14 se resume em:

⃗⃗ = 𝐉 (2.15)
𝛁×𝐇

Na Figura 2.6 pode-se observar esquematicamente o campo magnético produzido por


densidade de corrente de condução. Para fins de simplificação do desenho, o campo
magnético está representado apenas por algumas linhas. Porém, deve-se entender que
o campo magnético ocorre no entorno e ao longo de todo o comprimento do fio (cilindro
condutor).
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 19
Modelagem de Linhas de Transmissão

Sf

J
H

Figura 2.6 – Campo Magnético Rotacional Gerado por Densidade Superficial de Corrente de Condução

2.3.1.2 Equação do Divergente da Indução Magnética

O divergente da indução magnética é igual a zero:

𝛁 ⋅ ⃗𝐁 = 𝟎 (2.16)

Significa que o fluxo magnético é conservativo. Pode-se entender então que o fluxo
magnético que entra em um volume é idêntico ao que sai do mesmo. Esta equação
corresponde a uma condição que deve ser conhecida, e serve, em vários casos, como
apoio para a determinação do campo magnético.

2.3.1.3 Equação do Rotacional do Campo Elétrico

O rotacional do campo elétrico é igual a derivada negativa da indução magnética em


relação ao tempo:

⃗⃗
𝝏𝐁
⃗ =−
𝛁×𝐄 (2.17)
𝝏𝒕

De forma similar a equação 2.6, esta equação indica que a variação temporal do campo
magnético gera um do campo elétrico rotacional, porém, de sentido contrário.
Na Figura 2.7 procura-se mostrar esquematicamente o campo elétrico produzido pela
variação temporal da indução magnética. De forma similar ao campo magnético, para
fins de simplificação do desenho, o campo elétrico está representado apenas por
algumas linhas. Porém, deve-se entender que o campo elétrico ocorre no entorno e ao
longo de toda a região em que atua a indução magnética variante no tempo.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 20
Modelagem de Linhas de Transmissão

B(t)
E(t)

Figura 2.7 – Campo Elétrico Rotacional Produzido pelo Vetor Campo Indução Magnética Variante no
Tempo

2.3.1.4 Equação do Divergente da Indução Elétrica

O divergente do vetor campo indução elétrica é igual a densidade volumétrica de carga:

⃗ = 𝝆𝒗 (2.18)
𝛁⋅𝐃

Esta situação pode ser exemplificada na Figura 2.8, onde uma carga elétrica está
centrada numa esfera que representa o volume através do qual há uma criação de fluxo
da indução elétrica.
D

D +
Q

Volume
D

Figura 2.8 – Campo Vetorial Indução Elétrica Divergente Produzido por uma Carga Elétrica Pontual

O vetor D é divergente e seu fluxo não é conservativo. Consequentemente, pode-se


conceber volumes no espaço onde há uma diferença entre os fluxos elétricos que
entram e saem destes.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 21
Modelagem de Linhas de Transmissão

2.3.1.5 Equação da Continuidade Elétrica

A equação da continuidade elétrica não é uma equação de Maxwell, porém, é obtida a


partir dessas equações e possui grande utilidade na resolução de problemas.
Aplicando o teorema da divergência na equação 2.14, chega-se à chamada equação da
continuidade elétrica:

∂𝐃
⃗⃗ ) = ∇ ⋅ 𝐉 + ∇ ⋅
∇ ⋅ (∇ × 𝐇
∂𝑡
∂∇ ⋅ ⃗𝐃
0=∇⋅𝐉+
∂𝑡

𝝏𝝆𝒗
∴ 𝛁⋅𝐉= − (2.19)
𝝏𝒕

2.3.2 As Equações de Maxwell na Forma Integral

As equações de Maxwell sob a forma diferencial são extremamente convenientes para


as manipulações matemáticas, pois elas são compactas, e as operações envolvendo
gradiente, divergente e rotacional são bem conhecidas. Pode-se, por exemplo, sem
dificuldades, obter as equações diferenciais de segunda ordem envolvendo as grandezas
eletromagnéticas.
No entanto, para a resolução analítica de problemas, onde por exemplo, deseja-se
conhecer H criado por J é mais conveniente utilizar as equações de Maxwell sob a forma
integral [3]. Neste caso, é necessário que estas equações estejam relacionadas com
volumes ou seções nos quais é possível integrá-las e neste caso a utilização dos teoremas
da divergência e de Stokes são fundamentais para simplificar as resoluções.

2.3.2.1 Forma Integral da Equação 2.14

Aplicando-se a integral de superfície dos dois lados da equação tem-se:



𝜕𝐃
⃗⃗ ) ⋅ 𝐝𝐬 = ∫ 𝐉 ⋅ 𝐝𝐬 + ∫
∫𝒔(∇ × 𝐇 ⋅ 𝐝𝐬
𝑆 𝑆 𝜕𝑡

Considerando o teorema de Stokes:

𝑰𝒄 𝑰𝒅
⏞ 𝛛𝐃
⃗⃗ ⋅ 𝒅𝐥 = ⏞
⃗⃗
∮𝑪(𝑺) 𝐇 ∫𝑺 𝐉 ⋅ 𝐝𝐬 + ∫𝑺 𝛛𝒕 ⋅ 𝐝𝐬 (2.20)

Nesta equação temos do lado esquerdo a circulação de H ao longo de um comprimento


fechado C que contorna uma superfície S.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 22
Modelagem de Linhas de Transmissão

No lado direito da equação temos dois termos, a corrente de condução (Ic) e a corrente
de deslocamento (Id).
Corrente de Condução:
A corrente de condução Ic, representa as correntes atravessando uma seção S, em geral,
através de condutores.

𝑰𝒄 = ∫𝑺 𝐉 ⋅ 𝐝𝐬 (𝐀) (2.21)

Em um caso estático no tempo, ou em condições de baixa frequência tem-se uma


condição particular para a equação 2.12:

⃗⃗ ⋅ 𝐝𝐥 = 𝐼𝑐 (2.22)
∮𝑪 𝐇

Escrita sob esta forma, esta equação é conhecida como “Lei de Ampère”.
Corrente de Deslocamento:
O segundo termo do lado direito é chamado de "corrente de deslocamento” Id :

⃗⃗
𝝏𝐃 𝝏
⃗ ⋅ 𝐝𝐬(𝐀) (2.23)
𝑰𝒅 = ∫𝑺 𝝏𝒕 ⋅ 𝐝𝐬 ou 𝑰𝒅 = 𝝏𝒕 ∫𝑺 𝐃

Este termo pode ter duas conotações. A primeira é relativa a ondas eletromagnéticas e
representa a variação do campo elétrico (D=E) que cria o campo magnético. A segunda
é relativa a fenômenos capacitivos, o que será visto na sequência da disciplina.

2.3.2.2 Forma Integral da Equação 2.16

A esta equação pode-se associar um volume dentro do qual B é definido. Chamando S(V)
a superfície que envolve o volume V e utilizando o teorema da divergência tem-se que:

∫𝑽(𝛁 ⋅ ⃗𝐁) 𝒅𝒗 = ∫𝑺(𝑽) ⃗𝐁 ⋅ 𝒅𝐬 = 𝟎 (2.24)

O que significa que o somatório do fluxo de B através de uma superfície fechada é nulo,
ou seja, o fluxo magnético é conservativo. Em outras palavras, o fluxo que penetra num
volume é idêntico ao que sai do mesmo (Vide Figura 2.9).
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 23
Modelagem de Linhas de Transmissão

an3
B3
S1 B2
an2
an1
B1 S3 S2

Figura 2.9 – Fluxo do Vetor Indução Magnética Através de uma Superfície Fechada

⃗⃗ 1 𝑑𝒔
𝜙 = ∫𝑆 𝑩 ⃗⃗ 2 𝑑𝒔
⃗ 𝟏 − ∫𝑆 𝑩 ⃗⃗ 3 𝑑𝒔
⃗ 2 − ∫𝑆 𝑩 ⃗3 = 0
1 2 3

2.3.2.3 Forma Integral da Equação 2.17

Considerando-se uma superfície onde E e B existem e aplicando-se a integração tem-se:



𝜕𝐁
⃗ ) ⋅ ⃗⃗⃗⃗⃗
∫𝑆(∇ × 𝐄 𝐝 𝐬 = − ∫𝑆 𝜕𝑡 ⋅ ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐝𝐬

Aplicando-se o teorema de Stokes:

𝒅
⃗ ⋅ ⃗⃗⃗⃗
∮𝑪(𝑺) 𝐄 ⃗⃗⃗⃗⃗𝐬 = − 𝒅𝝓 (2.25)
𝐝 𝐥 = − ∫𝑺 ⃗𝐁 ⋅ 𝐝
𝒅𝒕 𝒅𝒕

Esta equação de Maxwell representa a lei de Faraday que indica que a força eletromotriz
criada em torno de um contorno fechado C é igual à variação temporal contrária do fluxo
magnético total através da superfície aberta S criada por aquele contorno.

2.3.2.4 Forma Integral da Equação 2.18

À esta equação associa-se um volume V formado por uma superfície fechada que
envolve este volume S(V).
Supondo o vetor D existindo no volume e integrando:

∫𝑉(∇ ⋅ ⃗𝐃)𝑑𝑣 = ∫𝑉 𝜌𝑣 𝑑𝑣
Utilizando o teorema da divergência:

∮𝑺(𝑽) ⃗𝐃 ⋅ 𝐝𝐬 = ∫𝑽 𝝆𝒗 𝒅𝒗 (2.26)

Para o caso da Figura 2.8 tem-se:


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 24
Modelagem de Linhas de Transmissão

∮ ⃗ ⋅ 𝐝𝐬 = 𝑸 (2. 27)
𝐃
𝐒(𝐕)

D=E
z

+
Q

x y

Figura 2.10 – Vetor Campo Indução Elétrica Produzido por Carga Pontual

Esta expressão significa que o fluxo do vetor D através de uma superfície “S” que envolve
um volume “V” é igual à carga contida neste volume.
A equação 2.27 é conhecida como o "teorema de Gauss".

2.3.2.5 Forma Integral da Equação da Continuidade Elétrica

Considerando sua importância em aplicações futuras, apresenta-se também a forma


integral da equação da continuidade elétrica. Assim, Integrando-se a equação 2.19 num
volume e utilizando-se o teorema da divergência chega-se a seguinte equação:

𝒅𝑸
∮𝑺(𝑽) 𝐉 ⋅ 𝐝𝐬 = − 𝒅𝒕 (2.28)

Isto significa que o somatório das correntes que entram e saem de um volume são iguais
a menos a derivada em relação ao tempo da carga total do volume.

2.3.3 As Equações de Maxwell para o Regime Permanente Harmônico (RPH)

O interesse deste texto está relacionado aos campos variáveis no tempo de forma
sinusoidal. Assume-se também que os campos existam por um tempo suficiente de
forma que os transientes sejam insignificantes, ou seja, existe um sistema sinusoidal em
regime permanente. Analisar estes campos supondo estas variações no tempo não é
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 25
Modelagem de Linhas de Transmissão

uma tarefa fácil e para simplificar matematicamente os problemas usa-se o domínio da


frequência e a notação fasorial.

2.3.3.1 Representação Fasorial

Um fasor z é um número complexo do tipo:


Forma Retangular Forma Polar
𝑧= 𝑥⏞+ 𝑗𝑦 = ⏞
𝑟∠𝜙
𝑧 = 𝑟𝑒 𝑗𝜙 = 𝑟(𝑐𝑜𝑠 𝜙 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝜙)
onde: 𝑗 = √−1 e 𝑟 = |𝑧| = √𝑥 2 + 𝑦 2
x é a parte real, y é a parte imaginária, r é a magnitude de z (vide Figura 2.9).
Para relacionar a frequência com o tempo, define-se: ∅ = 𝜔 ⋅ 𝑡 + 𝜃
onde
 é um ângulo que pode ser uma função do tempo ou espaço ou ainda uma constante;
𝜔 = 2𝜋𝑓 é a velocidade angular (rad/s);
f é a frequência (Hz).
Na Figura 2.11 apresenta-se graficamente o fasor z
Então: 𝑟𝑒 𝑗𝜑 = 𝑟𝑒 𝑗𝜃 ⋅ 𝑒 𝑗𝜔⋅𝑡
Onde a parte real é: 𝑅𝑒(𝑟𝑒 𝑗𝜑 ) = 𝑟 ⋅ 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜃)
E a parte imaginária: 𝐼𝑚(𝑟𝑒 𝑗𝜑 ) = 𝑟 ⋅ 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 𝜃)
Importante saber que um fasor pode ser tanto um escalar como um vetor.

Y, Im w
(ra
d/
s )
r

X, Re
Figura 2.11 – Representação Gráfica do Fasor Z

Então, se um vetor A(x,y,z,t) é uma função harmônica no tempo, tal como:


⃗ = 𝐴0 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 𝛽𝑧) 𝒂
𝐀 ⃗𝑦
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 26
Modelagem de Linhas de Transmissão

este pode ser escrito como:

⃗ = 𝑅𝑒 ( 𝐴
𝐀 ⏟0 𝑒 −𝑗𝛽𝑧 𝒂 ⃗ S 𝑒 𝑗𝜔𝑡 )
⃗ 𝑦 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ) = 𝑅𝑒(𝐀
𝐴𝑆

𝜕𝐀 𝜕 𝜕𝐀
⏟0 𝑒 −𝑗𝛽𝑧 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ) = 𝑅𝑒 (𝑗𝜔 ⏟
= 𝑅𝑒 (𝐴 𝐴0 𝑒 −𝑗𝛽𝑧 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ) ∴ = 𝑗𝜔𝐴
𝜕𝑡 𝜕𝑡 𝜕𝑡
𝐴𝑆 𝐴𝑆

Portanto conclui-se que a derivada em relação ao tempo de um fasor é o próprio fasor

multiplicado por “jw”.

• Exemplo:
⃗ = 10 𝑐𝑜𝑠(108 𝑡 − 10𝑧 + 60°) 𝒂
Considerando o vetor campo: 𝐀 ⃗𝑦
a) Calcule a derivada;
b) Expresse-o na forma fasorial;
c) Calcule a derivada a partir da forma fasorial.
d) Expresse a derivada na forma instantânea (domínio do tempo)
Solução:

a) Derivada:

b) Forma Fasorial:

c) Derivada da Forma Fasorial


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 27
Modelagem de Linhas de Transmissão

d) Derivada na forma instantânea:

Se: 𝑟 ⋅ 𝑒 𝑗𝜙 = 𝑟 ⋅ (𝑐𝑜𝑠 𝜙 + 𝑗𝑠𝑒𝑛𝜙)


𝜙
9 𝑗(60−𝛽𝑧) 𝑗108 𝑡 9 ⏞ 8 𝑡+60−𝛽𝑧)
𝑗(10
então: 𝑗10 × 𝑒 ×𝑒 = 𝑗10 × 𝑒
ou: 𝑗109 × (𝑐𝑜𝑠 𝜙 + 𝑗 𝑠𝑖𝑛 𝜙) = −109 𝑠𝑖𝑛 𝜙 + 𝑗109 𝑐𝑜𝑠 𝜙

𝜕𝐀
∴ = 𝑅𝑒(−109 𝑠𝑖𝑛 𝜙 + 𝑗109 𝑐𝑜𝑠 𝜙) 𝒂
⃗𝑦
𝜕𝑡

𝜕𝐀
ou finalmente: = −109 𝑠𝑖𝑛(108 𝑡 − 𝛽𝑧 + 60°) 𝒂
⃗𝑦
𝜕𝑡

Como previsto, este valor é exatamente igual aquele obtido em “a”.

2.3.3.2 Equações de Maxwell para o RPH

Considerando-se o exposto em 2.2.3.1, pode-se então obter as equações de Maxwell na


forma fasorial:
⃗⃗ 𝐒 = 𝐉𝐒 + 𝑗𝜔𝐃
𝛁×𝐇 ⃗⃗ 𝐒 (2.29)

⃗⃗ 𝐒 = 𝟎
𝛁⋅𝐁 (2.30)

⃗ 𝐒 = −𝒋𝝎𝐁
𝛁×𝐄 ⃗⃗ 𝐒 (2.31)

𝛁 ⋅ ⃗𝐃
⃗ 𝐒 = 𝝆𝒗𝑺 (2.32)

Neste caso a permissividade, permeabilidade e condutividade podem ser função da


frequência, como usualmente o são em meios materiais.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 28
Modelagem de Linhas de Transmissão

• Exemplo:
Com o objetivo de observar se, em função da frequência, um meio se comporta
predominantemente como isolante ou condutor, compare os módulos da densidade de
corrente de condução e densidade de corrente de deslocamento, para as frequências e
materiais presentados na tabela.
Comente os resultados.

Solução:

Esta relação é também conhecida como tangente de perdas (Tan). Na prática


considera-se:
𝜎
Material dielétrico se: 𝜔𝜀 ≤ 0,01
𝜎
Material quase condutor se: 0,01 ≤ 𝜔𝜀 < 100
𝜎
Material condutor se: 𝜔𝜀 ≥ 100

Fazendo os cálculos para o cobre, tem-se os resultados conforme abaixo.

Percebe-se que o cobre é um bom condutor, mesmo para uma frequência de 1GHz.
Repita os cálculos para os demais materiais (meios) indicados na tabela e tire as
conclusões.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 29
Modelagem de Linhas de Transmissão

2.4 Potência e Vetor de Poynting


Conforme mencionado anteriormente, a energia pode ser transportada por meio de
ondas eletromagnéticas (entre um transmissor e um receptor). Assim, a taxa de
transporte de energia pode ser obtida através das equações de Maxwell.
Se considerarmos um certo volume, uma onda incidente tem a propriedade de
transportar energia para dentro deste volume. Por outro lado, quando a fonte de
irradiação da onda estiver contida no volume, a onda criada transporta energia para o
seu exterior.
Define-se Vetor de Poynting (p) como sendo o produto vetorial do campo elétrico pelo
campo magnético:

⃗ ×𝐇
⃗ =𝐄
𝐩 ⃗⃗ (W/m𝟐 ) (2.33)

Considerando que as unidades de E e H são V/m e A/m, respectivamente, o produto


dessas grandezas possui a dimensão de W/m2, o que identifica o vetor de Poynting como
uma densidade superficial de potência instantânea, que tem o mesmo sentido e direção
da propagação da onda, ou seja, a 90° do plano formado pelos vetores campo elétrico e
magnético.
A equação 2.33 representa a densidade de potência instantânea. Porém, quando se
trata de potência, o mais importante é conhecer a potência média. Por meio da equação
2.34 pode-se calcular a densidade média de potência a partir dos fasores campo elétrico
e magnético.

𝟏
𝒑𝒔 (𝒛)𝒎é𝒅𝒊𝒐 = 𝟐 ⋅ 𝐑𝐞(𝑬𝑺 × 𝑯∗𝑺 ) (2.34)

onde Hs* é o conjugado de Hs.

2.5 O Potencial Escalar Elétrico


Conhecendo-se o conceito de forças produzidas por cargas elétricas (lei de Coulomb)
define-se o potencial escalar elétrico V como sendo o trabalho por unidade de carga:

⃗ ⋅ 𝐝𝐥 (2.35)
𝒅𝑽 = −𝐄
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 30
Modelagem de Linhas de Transmissão

O sinal negativo deve-se ao fato de o campo elétrico se desenvolver do potencial maior


para o menor.
Considerando a equação 2.35 pode-se afirmar então que o campo elétrico E deriva de
um potencial escalar V, conforme demonstrado a seguir:
𝑑𝑉
⃗ ⋅ d𝐥 ∴ 𝐄
𝑑𝑉 = −𝐄 ⃗ =−
𝑑𝒍
ou:
⃗ = −∇𝑉 (2. 36)
𝐄
O campo elétrico é igual ao valor negativo do gradiente do potencial escalar elétrico
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 31
Modelagem de Linhas de Transmissão

3 EQUAÇÕES DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO


Para que seja possível o dimensionamento de uma linha de transmissão é necessário um
equacionamento matemático. Neste capítulo será então apresentado o
desenvolvimento das equações utilizadas em linhas de transmissão a partir das
equações de Maxwell. Com isto, é possível em melhor entendimento do fenômeno da
transmissão de energia através de uma estrutura de guiamento.

3.1 Modelo a Parâmetros Distribuídos


Para fins de desenvolvimento das equações considerar-se-á um segmento infinitesimal
de uma linha bifilar, conforme desenho da Figura 3.1. Além disso, será considerado
como premissa para os cálculos que o comprimento da linha (l), localizado no eixo z, é
muito maior que a distância entre condutores (d), que por sua vez, é muito maior que o
raio do condutor (a), ou seja, l>>d>>a. O material da linha e o meio físico onde está
localizada são caracterizados pelas suas condutividades elétricas (), permissividades
elétricas () e permeabilidades magnéticas (µ).

El

H
V ( z, t ) ED Meio: , μ,  V ( z , t )
V ( z, t ) + Dz
z

El

Condutor: , μ,  Dz

z
Figura 3.1 – Segmento Infinitesimal de Linha de Transmissão Bifilar

Considerando-se que, na extremidade esquerda, o segmento está submetido a uma


tensão (potencial escalar) variável no tempo (t) e no espaço (z), é esperado que na
extremidade direita ocorra uma alteração desta tensão. Então na extremidade direita
do segmento considera-se uma tensão igual àquela imposta mais a variação desta
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 32
Modelagem de Linhas de Transmissão

tensão ao longo do segmento, ou seja, soma-se à tensão aplicada na extremidade


esquerda do segmento o produto da sua derivada parcial em relação ao espaço (z) pelo
comprimento do segmento (Dz).

3.1.1 Campos Eletromagnéticos em uma Linha de Transmissão

Considerando então que existe diferença de potencial entre as extremidades do


segmento e entre os dois elementos da linha, pela equação 2.36, conclui-se que ocorrem
no segmento, um campo elétrico divergente ED no meio físico que envolve os elementos
condutores e um campo elétrico longitudinal El nos elementos condutores, conforme
indicado na Figura 3.1.
Quanto ao campo elétrico longitudinal, sabe-se que 𝐽 = 𝜎𝐸, ou seja, existe então uma
densidade superficial de corrente no mesmo sentido e direção do campo. O produto
dessa densidade de corrente pela área da secção do condutor resulta em uma corrente
elétrica: 𝐼 = 𝜎𝐸𝑆 e, pela lei de Ampère, uma corrente elétrica em um condutor cria no
seu entorno um campo magnético rotacional H.
Assim, conforme indicado na Figura 3.1, uma linha de transmissão excitada em tensão
possui no seu entorno um campo elétrico divergente e um campo magnético rotacional.
Sabendo-se que o produto vetorial do campo elétrico pelo campo magnético é o vetor
de Poynting, ou, uma densidade superficial de potência, pode-se então concluir que a
linha de transmissão serve de guia para a transmissão de potência.
Na Figura 3.2 procura-se mostrar graficamente como ocorrem os campos elétrico e
magnético em um plano imaginário.
Percebe-se que os campos elétrico e magnético estão sempre a 90° um do outro e o
vetor de Poynting a 90° do plano formado pelos campos. Isto representa uma
propagação do tipo TEM, ou transverso eletromagnética, que significa dizer que ambos
os campos, não possuem componente no sentido de propagação da onda. Se a tensão
de excitação for variante no tempo, os campos elétrico e magnético também o serão.
Uma constatação importante é que a energia é transmitida somente no entorno dos
condutores da linha, já que o campo elétrico divergente é nulo no interior do condutor.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 33
Modelagem de Linhas de Transmissão

Figura 3.2 – Distribuição dos Campos Elétrico e Magnético no Entorno de uma Linha de Transmissão

O campo magnético de uma linha de transmissão é calculado utilizando-se a lei de


Ampère, enquanto para o cálculo do campo elétrico utiliza-se a lei de Gauss. Na Figura
3.3 apresenta-se a distribuição de campos, em escala de cores, no entorno de uma linha
bifilar, resultantes de cálculos efetuados em uma planilha de cálculo.
V (V) 13.000 I (A) 10 R (mm) 10,0 D (m) 1,0 D  20R Dmín. (m) 0,2 Emáx (V/m) 141.145,7 Hmáx (A/m) 159,2
-X 0 +X -X 0 +X
2R
EF 0,80 0,75 0,70 0,65 0,60 0,55 0,50 0,45 0,40 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80
MF 0,80 0,75 0,70 0,65 0,60 0,55 0,50 0,45 0,40 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80

1,50 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,50 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Y
1,45 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,45 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1,40 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,40 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1,35 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,35 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

A
1,30 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,30 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1,25 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1,25 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1
1,20 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1,20 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1
1,15 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 5 5 6 5 5 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1,15 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 5 5 6 5 5 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
1,10 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 9 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1,10 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 9 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
D

1,05 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 13 19 13 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1,05 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 13 19 13 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1
1,00 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 10 20 19 20 10 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1,00 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 10 20 19 20 10 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1
0,95 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 9 15 21 15 9 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 0,95 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 9 15 21 15 9 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1
0,90 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 10 11 10 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,90 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 10 11 10 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,85 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 5 6 7 8 7 6 5 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,85 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 5 6 7 8 7 6 5 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,80 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 5 6 6 6 6 6 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 0,80 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 5 6 6 6 6 6 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1
B

0,75 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 4 4 5 5 5 5 5 4 4 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,75 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 4 4 5 5 5 5 5 4 4 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,70 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,70 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,65 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,65 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,60 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,60 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,55 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,55 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,50 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,50 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,45 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,45 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,40 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,40 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,35 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,35 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,30 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,30 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,25 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 4 4 5 5 5 5 5 4 4 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,25 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 4 4 5 5 5 5 5 4 4 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,20 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 5 6 6 6 6 6 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 0,20 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 5 6 6 6 6 6 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1
0,15 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 5 6 7 8 7 6 5 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,15 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 5 6 7 8 7 6 5 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,10 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 10 11 10 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0,10 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 10 11 10 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1
0,05 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 9 15 21 15 9 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 0,05 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 9 15 21 15 9 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1
0,00 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 10 20 21 20 10 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 0,00 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 7 10 20 21 20 10 7 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1
-0,05 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 13 19 13 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 -0,05 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 13 19 13 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1
-0,10 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 9 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 -0,10 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 4 5 6 8 9 8 6 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
-0,15 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 5 5 6 5 5 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 -0,15 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 5 5 6 5 5 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
-0,20 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 -0,20 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1
-0,25 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 -0,25 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1
-0,30 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -0,30 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 3 3 3 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1
-0,35 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -0,35 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
-0,40 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -0,40 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
-0,45 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -0,45 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
-0,50 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -0,50 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Figura 3.3 – Distribuição de Campos em LT Bifilar. Direita Campo Magnético, Esquerda Campo Elétrico

Percebe-se claramente a região onde os campos ocorrem mais intensamente.


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 34
Modelagem de Linhas de Transmissão

3.1.2 Determinação das Equações.

Uma primeira análise do segmento pode ser feita pela Aplicação da lei de Faraday,
equação 2.25, ao longo do caminho fechado formado pelos elementos do próprio
segmento.
𝜕∅
⃗ ⋅ d𝐥 = −
Lei de Faraday: ∮𝐜𝐄 𝜕𝑡

O uso dessa equação pode ser interpretado como sendo: “o somatório das tensões ao
longo de um caminho fechado deve ser igual ao valor negativo da derivada do fluxo
magnético em relação ao tempo”.
Portanto, iniciando-se o caminho pela tensão aplicada na extremidade esquerda do
segmento chega-se à equação apresentada a seguir:
𝜕𝑉(𝑧,𝑡) 𝜕∅
−𝑉(𝑧,𝑡) + 𝐸𝑙 (𝑧,𝑡) ⋅ 𝛥𝑧 + 𝑉(𝑧,𝑡) + 𝛥𝑧 + 𝐸𝑙 (𝑧,𝑡) ⋅ 𝛥𝑧 = −
𝜕𝑧 𝜕𝑡
Percebe-se que as tensões em cada um dos segmentos é obtida pelo produto do campo
elétrico longitudinal (El) pelo comprimento do segmento (Dz) e, em seguida, que os
valores de V(z,t) se eliminam, chegando-se a equação:

𝝏𝑽(𝒛,𝒕) 𝝏∅
𝟐 ⋅ 𝑬𝒍 (𝒛,𝒕) ⋅ 𝜟𝒛 + 𝜟𝒛 = − 𝝏𝒕 (3.1)
𝝏𝒛

Quanto ao primeiro elemento da equação pode-se fazer as seguintes considerações:


𝐽 𝐼
sabe-se que 𝐸 = =
𝜎 𝜎𝑆
Δ𝑧
então: 𝐸 ⋅ Δ𝑧 = 𝐼 𝜎𝑆 ⟹ 𝑉 = 𝑅 ⋅ 𝐼 (lei de Ohm)
Δ𝑧
onde 𝑅 = 𝜎𝑆 que é a resistência do elemento condutor.

Considerando-se o segmento inteiro (dois elementos: ida e volta) pode-se dizer então
que:
2 ⋅ 𝐸𝑙 (𝑧,𝑡) ⋅ 𝛥𝑧 = 𝑅∆𝑍 ⋅ 𝐼(𝑧,𝑡)

Onde RDz é resistência total do segmento de linha.


Conforme visto em 3.1.1, os elementos condutores são percorridos por uma corrente
elétrica e consequentemente existe no seu entorno um campo magnético rotacional H.
Considerando-se que essa corrente elétrica é variante no tempo, a derivada do fluxo
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 35
Modelagem de Linhas de Transmissão

magnético  em relação ao tempo, no lado direito da equação, não é nula e necessita


ser considerada.
Neste momento torna-se conveniente a introdução do conceito de indutância (L).
Define-se como indutância a característica de um determinado circuito que relaciona o
fluxo magnético produzido em função da corrente que circula no circuito. A indutância
é uma constante e depende exclusivamente das dimensões e materiais que compõem o
circuito e o meio físico onde está inserido.
Assim:
𝜙
𝐿= 𝑜𝑢 𝜙 = 𝐿 ⋅ 𝐼
𝐼

Sabendo-se que, para um determinado circuito, L é constante pode-se concluir que:


𝑑𝜙 𝑑𝐼
= 𝐿 ⋅ 𝑑𝑡
𝑑𝑡

Então, a equação 3.1 pode ser escrita conforme a seguir:

𝝏𝑽(𝒛,𝒕) 𝝏𝑰(𝒛,𝒕)
𝑹∆𝒁 𝑰(𝒛,𝒕) + 𝜟𝒛 = −𝑳∆𝒁 (3.2)
𝝏𝒛 𝝏𝒕

Dividindo-se toda a equação por Dz e agrupando os termos em função da corrente tem-


se:

𝝏𝑽(𝒛,𝒕) 𝝏𝑰(𝒛,𝒕)
− = 𝑹 ⋅ 𝑰(𝒛,𝒕) + 𝑳 ⋅ (3.3)
𝝏𝒛 𝝏𝒕

onde:
R (/m): Resistência série por unidade de comprimento;
L (H/m): Indutância série por unidade de comprimento.
Porém, neste caso tem-se uma única equação com duas incógnitas, o que não permite
a solução do problema. Então, para se obter uma segunda equação, parte-se da equação
da continuidade elétrica e, para uma melhor compreensão do desenvolvimento dos
cálculos, utiliza-se o desenho da Figura 3.4.

Dz I ( z ,t )
I ( z ,t ) I ( z ,t ) + Dz
z

I D ( z ,t )
Figura 3.4 – Distribuição de Correntes no Segmento Superior do Elemento Infinitesimal da Linha
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 36
Modelagem de Linhas de Transmissão

Da mesma forma que na análise anterior, considera-se um aumento da corrente ao final


do segmento, devido à variação dessa em função do espaço (z). Considera-se também,
uma possível corrente de fuga (ID(z,t)) pelo meio físico (possivelmente dielétrico) devido
ao campo elétrico (ED) divergente em relação ao elemento condutor conforme indicado
na Figura 3.1.
Simplificadamente a equação da continuidade elétrica estabelece que o somatório das
correntes que entram e saem de um determinado volume de ser igual ao valor negativo
da derivada da carga elétrica em relação ao tempo:
𝑑𝑄 𝜕𝐼(𝑧,𝑡) 𝜕𝑄(𝑧,𝑡)
∮𝑺(𝑽) 𝐉 ⋅ 𝐝𝐬 = − 𝑑𝑡 ∴ −𝐼(𝑧,𝑡) + 𝐼𝐷 (𝑧,𝑡) + 𝐼(𝑧,𝑡) + 𝜕𝑧
𝛥𝑧 = − 𝜕𝑡

ou:

𝝏𝑰(𝒛,𝒕) 𝝏𝑸(𝒛,𝒕)
𝑰𝑫 (𝒛,𝒕) + 𝜟𝒛 = − (3.4)
𝝏𝒛 𝝏𝒕

De forma simplificada pode-se dizer que:


𝑉 𝐽 𝐼𝐷
𝐸𝐷 = −∇V ou 𝐸𝐷 = 𝑑 = 𝜎𝐷 = 𝑆
𝐷 𝐷 𝜎𝐷

onde d é a distância entre os elementos condutores da linha D a condutividade do meio


físico e SD a secção por onde passa a corrente de fuga.
Colocando-se então a corrente ID em evidência tem-se que:
1
𝐺𝐷 =
𝑅𝐷
⏞𝑆𝐷 𝜎𝐷
𝐼𝐷 = ( )∙𝑉
𝑑
onde GD é o inverso da resistência do meio físico/dielétrico e é chama de condutância,
cuja unidade é Siemens (S).
Então a corrente de fuga em uma linha de transmissão pode ser calculada pela equação
3.5.

𝑰𝑫(𝒛,𝒕) = 𝑮𝜟𝒛 𝑽(𝒛,𝒕) (3.5)

Quanto à análise do termo do lado direito da equação, torna-se importante introduzir


o conceito de capacitância. De forma similar ao conceito de indutância, a capacitância é
uma característica de um determinado circuito que relaciona à carga do circuito com à
tensão ao qual está submetido. A capacitância é também uma constante para
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 37
Modelagem de Linhas de Transmissão

determinado circuito e depende apenas das dimensões e características físicas do


circuito e do ambiente onde está inserido.
Considerando então que Q = CV e que C é constante tem-se:

𝜕𝑄(𝑧,𝑡) 𝜕𝑉(𝑧,𝑡)
= 𝐶∆𝑧 (3.6)
𝜕𝑡 𝜕𝑡

Substituindo-se as equações 3.5 e 3.6 em 3.4 e dividindo-se toda a equação por Dz


obtém-se a equação 3.7.

𝜕𝐼(𝑧,𝑡) 𝜕𝑉(𝑧,𝑡)
− = 𝐺 ⋅ 𝑉(𝑧,𝑡) + 𝐶 ⋅ (3.7)
𝜕𝑧 𝜕𝑡

onde:
C (F/m): Capacitância em paralelo por unidade de comprimento.
G (S/m): Condutância em paralelo por unidade de comprimento.
Supondo variação harmônica no tempo, onde:
𝑉(𝑧, 𝑡) = 𝑅𝑒(𝑉𝑆 (𝑧) ⋅ 𝑒 𝑗𝜔𝑡 ) e 𝐼(𝑧, 𝑡) = 𝑅𝑒(𝐼𝑆 (𝑧) ⋅ 𝑒 𝑗𝜔𝑡 )
As equações 3.3 e 3.7 podem ser escritas conforme 3.8 e 3.9.

𝑑𝑉𝑆
− = (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿)𝐼𝑆 (3.8)
𝑑𝑧

𝑑𝐼𝑆
− = (𝐺 + 𝑗𝜔𝐶)𝑉𝑆 (3.9)
𝑑𝑧

Neste caso IS e VS estão acoplados e ambos são função de z.


Na Figura 3.4 apresenta-se esquematicamente o modelo de linhas de transmissão à
parâmetros distribuídos, também conhecido como modelo L.

R
Zg
L Zc
G C
CA

Figura 3.5 – Modelo de Linhas de Transmissão a Parâmetros Distribuídos


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 38
Modelagem de Linhas de Transmissão

Neste modelo:
R (/m): Resistência série por unidade de comprimento, representativa das perdas nos
condutores da linha.
L (H/m): Indutância série por unidade de comprimento, representativa da energia na
linha.
C (F/m): Capacitância em paralelo por unidade de comprimento, representativa da
energia na linha.
G (S/m): Condutância em paralelo por unidade de comprimento, representativa das
perdas no dielétrico da linha.

3.1.3 Solução das Equações Diferenciais

As equações 3.8 e 3.9 são dependentes de duas variáveis, a tensão e a corrente. Então,
obtendo-se a derivada destas equações é possível obter equações diferenciais em
função de apenas uma variável. Então derivando-se a equação 3.8 em função do espaço
(z) tem-se:
𝑑2 𝑉𝑆 𝑑𝐼𝑆
− = (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿)
𝑑𝑧 2 𝑑𝑧
𝑑𝐼𝑆
porém, substituindo-se pela equação 3.9 obtém-se:
𝑑𝑧

𝑑2 𝑉𝑆
= (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) ⋅ (𝐺 + 𝑗𝜔𝐶) ⋅ 𝑉𝑆
𝑑𝑧 2
Esta equação também pode ser escrita conforme equação 3.10

𝑑2 𝑉𝑆
− 𝛾 2 𝑉𝑆 = 0 (3.10)
𝑑𝑧 2

onde 𝛾 2 = (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) ⋅ (𝐺 + 𝑗𝜔𝐶)


Repetindo-se o procedimento partindo da equação 3.9 obtém-se, de forma similar a
equação 3.11.

𝑑 2 𝐼𝑆
− 𝛾 2 𝐼𝑆 = 0 (3.11)
𝑑𝑧 2

As equações 3.10 e 3.11 são equações diferenciais, homogêneas e lineares, conhecidas


como equações de onda de Helmholtz e possuem solução matemática conhecida. Essas
equações são idênticas aquelas obtidas para a propagação de onda em meio ilimitado,
porém, as variáveis são os campos elétrico e magnético.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 39
Modelagem de Linhas de Transmissão

A solução das equações 3.10 e 3.11 são:

𝑉𝑆 (𝑧) = 𝑉0+ ⋅ 𝑒 −𝛾⋅𝑧 + 𝑉0− ⋅ 𝑒 +𝛾⋅𝑧 (3.12)

𝐼𝑆 (𝑧) = 𝐼0+ ⋅ 𝑒 −𝛾⋅𝑧 + 𝐼0− ⋅ 𝑒 +𝛾⋅𝑧 (3.13)

onde:
V0+, V0−, I0+ e I0− são constantes a ser determinadas;
 é a constante de propagação da onda (rad/m) obtida pela equação 3.14.

𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽 = √(𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) ⋅ (𝐺 + 𝑗𝜔𝐶) (3.14)

onde:
 é a constante de atenuação (Np/m);
 é a constante de fase (rad/m).
O comprimento de onda  (m) e a velocidade de fase ou de propagação da onda v (m/s)
podem ser obtidos a partir da constante de fase e da frequência do sinal:

2𝜋
𝜆= (3.15)
𝛽

𝜔
𝑣= = 𝑓𝜆 (3.16)
𝛽

O primeiro termo do lado direito das equações 3.12 e 3.13 representa uma propagação
no sentido de +z, enquanto o segundo termo representa uma propagação no sentido
contrário ou -z.
Para a determinação das constantes, primeiro se considera uma condição inicial onde z
= 0 (na fonte):

𝑉𝑆(𝑧=0) = 𝑉0 = 𝑉0+ + 𝑉0− (3.17)


𝐼𝑆(𝑧=0) = 𝐼0 = 𝐼0+ + 𝐼0− (3.18)

Em seguida: se aplica a equação 3.12 na equação 3.8, o que permite relacionar tensão e
corrente:
𝑑𝑉𝑆
= −𝛾𝑉0+ ⋅ 𝑒 −𝛾⋅𝑧 + 𝛾𝑉0− ⋅ 𝑒 +𝛾⋅𝑧 = −(𝑅 + 𝑗𝜔𝐿)(𝐼0+ ⋅ 𝑒 −𝛾⋅𝑧 + 𝐼0− ⋅ 𝑒 +𝛾⋅𝑧 )
𝑑𝑧

Separando-se os termos em 𝑒 −𝛾⋅𝑧 𝑒 𝑒 +𝛾⋅𝑧 e igualando-os tem-se:


(𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) + −𝛾⋅𝑧 (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) − +𝛾⋅𝑧
𝑉0+ ⋅ 𝑒 −𝛾⋅𝑧 = 𝐼0 ⋅ 𝑒 e − 𝑉0− ⋅ 𝑒 +𝛾⋅𝑧 = 𝐼0 ⋅ 𝑒
𝛾 𝛾
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 40
Modelagem de Linhas de Transmissão

ou seja:
𝑉0+ 𝑉− (𝑅+𝑗𝜔𝐿)
= − 𝐼0− = = 𝑍0
𝐼0+ 0 𝛾

Esta relação entre tensão e corrente em qualquer ponto da linha é chamada de


Impedância característica da linha e sua unidade é ohm:

𝑅+𝑗𝜔𝐿
𝑍0 = √𝐺+𝑗𝜔𝐶 (3.19)

Assim conhecendo-se o conceito Z0, I0 e V0 e fazendo-se os devidos desenvolvimentos


matemáticos, obtém-se as equações para as quatro constantes:

1
𝑉0+ = 2 (𝑉0 + 𝑍0 𝐼0 ) (3.20)
1
𝑉0− = 2 (𝑉0 − 𝑍0 𝐼0 ) (3.21)

1 𝑉
𝐼0+ = 2 (𝐼0 + 𝑍0 ) (3.22)
0

1 𝑉
𝐼0− = 2 (𝐼0 − 𝑍0 ) (3.23)
0

3.1.4 Forma Hiperbólica das Equações

Para utilização em cálculos de linhas de transmissão de potência são mais convenientes


as equações que utilizam senos e cossenos hiperbólicos ao invés das equações expressas
por meio de exponenciais.
Para essa conversão as exponenciais são substituídas por equações em função de seno
e cosseno hiperbólico:

𝑒 𝛾⋅𝑧 = cosh 𝛾𝑧 + sinh 𝛾𝑧 (3.24)

𝑒 −𝛾⋅𝑧 = cosh 𝛾𝑧 − sinh 𝛾𝑧 (3.25)

Substituindo-se 3.24 e 3.25 em 3.12 e 3.13 chega-se as seguintes equações:


𝑉𝑆(𝑧) = (𝑉0− + 𝑉0+ ) cosh 𝛾𝑧 + (𝑉0− − 𝑉0+ ) sinh 𝛾𝑧
𝐼𝑆(𝑧) = (𝐼0− + 𝐼0+ ) cosh 𝛾𝑧 + (𝐼0− − 𝐼0+ ) sinh 𝛾𝑧
Finalmente, colocando-se as constantes em função de Z0, I0 e V0 obtém-se as equações
de linhas de transmissão na forma hiperbólica.
Por meio destas equações consegue-se determinar a tensão e a corrente em qualquer
ponto da linha.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 41
Modelagem de Linhas de Transmissão

𝑉𝑆(𝑧) = 𝑉0 cosh 𝛾𝑧 − 𝐼0 𝑍0 sinh 𝛾𝑧 (3.26)


𝑉0
𝐼𝑆(𝑧) = − sinh 𝛾𝑧 + 𝐼0 cosh 𝛾𝑧 (3.27)
𝑍0

Fazendo-se z = l, onde l é o comprimento da linha, tem-se que 𝑉𝑆(𝑧) = 𝑉𝐶 e 𝐼𝑆(𝑧) = 𝐼𝐶 ,


onde VC e IC são a tensão e a corrente na carga respectivamente.
A equação 3.28 expressa na forma matricial a tensão e a corrente na carga em função
dos tensão e a corrente na fonte e dos parâmetros da linha de transmissão.

𝑉𝐶 cosh 𝛾𝑙 −𝑍0 sinh 𝛾𝑙 𝑉0


| |=| 1 | | | (3.28)
− 𝑍 sinh 𝛾𝑙 cosh 𝛾𝑙
𝐼𝐶 0 𝐼0

Na equação 3.28, isolando-se V0 e I0 obtém-se então a tensão e a corrente na carga em


função dos parâmetros da linha e da tensão e corrente na carga.

𝑉0 cosh 𝛾𝑙 𝑍0 sinh 𝛾𝑙 𝑉𝐶
| | = |1 | | | 3.29
sinh 𝛾𝑙 cosh 𝛾𝑙
𝐼0 𝑍0 𝐼𝐶

3.1.5 Impedância de Entrada

Entende-se como impedância de entrada da linha a razão entre a tensão e a corrente na


fonte. Então, relacionando-se as equações que definem V0 e I0 e fazendo-se os devidos
ajustes chega-se à equação 3.33, onde Zin é a impedância de entrada da linha e ZC é a
impedância da carga.

𝑍 +𝑍 tanh𝛾𝑙
𝑍𝑖𝑛 = 𝑍0 ⋅ 𝑍𝐶+𝑍 0 tanh𝛾𝑙 (3.30)
0 𝐶

É importante o monitoramento da impedância de entrada de uma linha. Qualquer


alteração significativa de seu valor indica a ocorrência de um possível defeito, seja um
curto-circuito ou uma condição de circuito aberto.

3.1.6 Linhas sem Perdas

De uma maneira geral, em linhas de transmissão de potência considera-se G = 0 [4].


Porém em determinadas condições em que wL >> R pode-se considerar também que R
+ jwL  jwL. Nesses casos algumas equações podem ser simplificadas:

𝛾 = 𝑗𝛽 = 𝑗𝜔√𝐿𝐶 (3.31)
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 42
Modelagem de Linhas de Transmissão

1
𝑣= (3.32)
√𝐿𝐶

𝐿
𝑍0 = 𝑍𝑆 = √𝐶 (3.33)

onde ZS é a chamada de impedância de surto. Alguns autores usam a notação R0, já que
este é um parâmetro real.

3.2 Modelos a Parâmetros Concentrados


Quando se requer alto nível de precisão a análise de linhas de transmissão deve ser
efetuada utilizando-se a modelagem por parâmetros distribuídos [5], porém, em
algumas aplicações pode ser necessário utilizar o circuito completo da linha, e nesse
caso a solução é a utilização de modelos a parâmetros concentrados.
Basicamente existem 3 modelos de linhas de transmissão: o modelo L, que é o modelo
com parâmetros distribuídos, cujas equações foram apresentadas em 3.1, e dois
modelos com parâmetros concentrados, o T e o π (pi). No modelo T, tem-se uma
admitância paralela no centro do circuito enquanto a impedância série é separada em
duas partes, uma para cada lado da admitância formando um T. No entanto, o modelo
amplamente utilizado é o modelo , o qual será detalhado a seguir.

3.2.1 Circuito π de Linhas de Transmissão

O modelo  de linha de transmissão consiste em uma impedância série (ZS) no centro do


circuito e duas admitâncias em paralelo (YP) nas extremidades, formando um ,
conforme pode ser visto na Figura 3.6.

V0 I0 IC VC
Zs

Yp Yp

Figura 3.6 – Circuito  de Linhas de Transmissão


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 43
Modelagem de Linhas de Transmissão

Resolvendo-se o circuito da Figura 3.6, pode-se chegar às equações de tensão (VC) e


corrente (IC) na carga da linha em função dos parâmetros da linha e da tensão (V0) e
corrente (I0) na fonte.

𝑉𝐶 = 𝑉0 − 𝑍𝑆 (𝐼0 − 𝑉0 𝑌𝑝 )

∴ 𝑉𝐶 = 𝑉0 + 𝑉0 𝑌𝑝 𝑍𝑆 − 𝑍𝑆 𝐼0 (3.34)

𝐼𝐶 = 𝐼0 − 𝑌𝑝 (𝑉𝐶 + 𝑉0 ) (3.35)

Substituindo-se 3.34 em 3.35:

𝑉𝐶 = 𝑉0 (1 + 𝑌𝑝 𝑍𝑆 ) − 𝑍𝑆 𝐼0 (3.36)

𝐼𝐶 = 𝑉0 (−2𝑌𝑝 − 𝑍𝑆 𝑌𝑝2 ) + (1 + 𝑌𝑝 𝑍𝑆 )𝐼0 (3.37)

Na forma matricial:

𝑉𝐶 1 + 𝑌𝑝 𝑍𝑆 −𝑍𝑆 𝑉
| |=| | | 0 | (3.38)
𝐼𝐶 −2𝑌𝑝 − 𝑍𝑆 𝑌𝑝2 1 + 𝑌𝑝 𝑍𝑆 𝐼0

Considerando-se a correlação entre tensão e corrente na forma matricial conforme 3.39,


onde A, B, C e D são fatores que dependem dos parâmetros da linha, é possível obter a
impedância e as admitâncias do circuito .
𝑉 𝐴 𝐵 𝑉0
| 𝐶| = | | | | (3.39)
𝐼𝐶 𝐶 𝐷 𝐼0
Comparando-se os Fatores A e B das equações 3.28 e 3.38 pode-se então obter Zs e Yp:
𝐵 = −𝑍𝑆 = −𝑍0 sinh 𝛾𝑙

∴ 𝑍𝑆 = 𝑍0 sinh 𝛾𝑙 (3.40)

𝐴 = 1 + 𝑌𝑝 𝑍𝑆 = cosh 𝛾𝑙
Substituindo-se Zs pelo resultado da equação 3.40, conclui-se:
1 cosh 𝛾𝑙−1
𝑌𝑝 = 𝑍 ( )
0 sinh 𝛾𝑙

porém:
cosh 𝛾𝑙−1 𝛾𝑙
( ) = tanh ( 2 )
sinh 𝛾𝑙

1 𝛾𝑙
∴ 𝑌𝑝 = 𝑍 tanh ( 2 ) (3.41)
0
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 44
Modelagem de Linhas de Transmissão

Então, o circuito  equivalente de uma linha de transmissão pode ser representado


conforme Figura 3.7.
I0 IC
V0 Z S = Z 0 sinh  l VC

1 l  1 l 
Yp = tanh   Yp = tanh  
Z0 2 Z0 2

Figura 3.7 – Circuito  Equivalente de Linha de Transmissão

3.2.2 Circuito π de Linhas de Transmissão Médias e Curtas

No caso de linhas cujo comprimento é muito menor que o seu comprimento de onda
tem-se que sinh 𝛾𝑙 ≅ 𝛾𝑙 e tanh 𝛾𝑙 ≅ 𝛾𝑙. Nestes casos as equações para o circuito 
passam a ser:

𝑅+𝑗𝜔𝐿
𝑍𝑆 = 𝑍0 sinh 𝛾𝑙 = 𝑍0 𝛾𝑙 = √ × 𝐽𝜔𝐶(𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) × 𝑙
𝐽𝜔𝐶

∴ 𝑍𝑆 = (𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) × 𝑙 (3.42)

e:

1 𝛾𝑙 𝛾𝑙 𝐽𝜔𝐶(𝑅+𝑗𝜔𝐿) 𝑙
𝑌𝑝 = 𝑍 tanh ( 2 ) = 2𝑍 = √ 𝑅+𝑗𝜔𝐿 ×2
0 0
𝐽𝜔𝐶

𝑗𝜔𝐶𝑙
∴ 𝑌𝑝 = (3.43)
2

Então, linhas curtas e médias podem ser representadas pelo circuito da Figura 3.8.
I0 IC
V0 Zs = (R+jwL)l VC

Yp = jwCl/2 Yp = jwCl/2

Figura 3.8 – Circuito  para Linhas Curtas e Médias


LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 45
Modelagem de Linhas de Transmissão

De uma forma geral consideram-se linhas médias aquelas com comprimento entre 160
e 80 km. Linhas com menos de 80 km são consideradas linhas curtas e podem ser
representadas apenas pela sua impedância série Zs [4].

3.2.3 Comprimento Limite de uma Linha de Transmissão

Para esta análise parte-se das equações que consideram linhas sem perdas ou as
equações 3.31 3.33. Então:
𝐿 1 2𝜋
𝛾 ≅ 𝑗𝛽(rad/m), 𝑍0 = 𝑅0 = √𝐶 , 𝑣 = (m/s)e𝛽 = .
√𝐿𝐶 𝜆

Consequentemente:
𝑧 𝑧
cosh γz = cos 𝛽z = cos 2 𝜋 e sinh 𝛾𝑧 = j sin 𝛽𝑧 = j sin 2 𝜋
𝜆 𝜆

Assim para que:


𝑧 𝑧
sin 2 𝜋 𝜆 > 0 ou tan 𝜋 𝜆 > 0
𝜆
é necessário que 𝑧 < 2 .

Ou seja, quando o comprimento da linha excede /2 invertem-se as reatâncias o que é


um grande problema.
De uma forma geral   4.800 km e no Brasil as LT de 60Hz apresentam comprimento
sempre inferior 1.200 km o que significa /4.

3.3 Considerações Sobre Sistemas Trifásicos.


Os modelos de linhas de transmissão apresentados até agora são modelos monofásicos,
porém, os sistemas de corrente alternada são, em sua grande maioria, trifásicos. No
entanto, os modelos de linha monofásicos podem ser adaptados com precisão aceitável
para linhas trifásicas. Primeiro as linhas de transmissão normalmente operam com
cargas equilibradas. De acordo com as normas as linhas podem ter um fator de
desequilíbrio máximo de 2%. Outro problema das linhas trifásicas está relacionado às
distâncias entre fases diferentes. Ou seja, o espaçamento não é equilátero e em
consequência se tem diferentes valores de capacitância e indutância nas diferentes
fases. Este problema se resolve com a transposição de fases, procedimento este que
será visto à frente. Segundo [5], mesmo em linhas não transpostas as diferenças entre
os parâmetros de cada fase são pequenas.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 46
Modelagem de Linhas de Transmissão

Na Figura 3.9 mostra-se em sistema elétrico trifásico com geração e carga ligados em
estrela, com um detalhe do que é o modelo monofásico pelo qual se representa a linha
de transmissão.

Geração Linha de Transmissão Carga


IA

IN
LT Modelo Monofásico
Zg
VB ZC
IB

IC

Figura 3.9 – Sistema Elétrico Trifásico de Detalhe do Modelo Monofásico de Linha de Transmissão

Independentemente de a carga estar ligada em estrela ou delta, no modelo monofásico


da linha considera-se sempre a tensão de fase (VF) e a corrente de linha (IL), ou corrente
circulando por cada uma das fases.
Então para o sistema trifásico tem-se:
𝑉𝐴 = 𝑉𝑒𝑓 ∠0𝑜 (V)
𝑉𝐵 = 𝑉𝑒𝑓 ∠120𝑜 (V)
𝑉𝐶 = 𝑉𝑒𝑓 ∠240𝑜 (𝑉)
onde Vef é a tensão eficaz entre fase e neutro, também denominada tensão de fase VF.
A tensão de linha VL ou a tensão entre as fases VAB, VBC ou VCA é:

𝑽𝑳 = √3𝑉𝐹 (3.44)

A potência aparente do sistema é:

𝐒 = √3𝑉𝐿 ∙ 𝐼𝐿∗ (VA) = 𝑃 + 𝑗𝑄 (3.45)

𝐒 = |𝐒|∠ 𝑜𝑢 𝐒 = 𝑆∠
e:

𝑆 = √𝑃2 + 𝑄 2 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 47
Modelagem de Linhas de Transmissão

Onde I* é o conjugado da corrente e o ângulo  é o ângulo entre a tensão e a corrente.


Ângulo negativo representa um sistema indutivo enquanto um ângulo negativo
representa um sistema capacitivo. O cosseno do ângulo  é denominado Fator de
Potência.
As potências, ativa P e reativa Q, do sistema são:
𝑃 = 𝑆 cos  (3.46)
𝑄 = 𝑆 sin  (3.47)
ou:

𝑃 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 cos  = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿 cos  (3.48)

𝑄 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹 sin  = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿 sin  (3.49)

3.4 Exemplo de Cálculo


Uma linha de transmissão de potência, com tensão de fornecimento de 230 kV e
frequência de 60 Hz, possui 300 km de extensão. Uma carga de 125 MW com fator de
potência 1(um) é atendida ao final desta linha. Considerando os parâmetros da linha
como sendo: G=0, R=0,107/km, L=1,35mH/km e C=8,46nF/km, calcule:
a) A constante de propagação da linha;
b) A impedância característica da linha;
c) O comprimento de onda;
d) A velocidade de fase ou propagação nesta linha.
e) A tensão na entrada da Linha.

Solução:

a) A constante de propagação é calculada pela equação 3.14:

𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽 = √(𝑅 + 𝑗𝜔𝐿) ⋅ (𝑗𝜔𝐶)(rad/m)


𝜔 = 2𝜋𝑓 = 2𝜋 ∙ 60 = 377(rad/s)

ou: 𝛾 = √(0,107 + 𝑗377 × 1,35 × 10−3 ) ⋅ (𝑗377 × 8,46 × 10−9 )


então:
𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽 = 1,33 × 10−4 + 𝑗1,28 × 10−3
𝛼 = 1,33 × 10−4 (𝑁𝑝/𝑘𝑚)𝑒𝛽 = 1,28 × 10−3 (𝑟𝑎𝑑/𝑘𝑚)
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 48
Modelagem de Linhas de Transmissão

b) A impedância característica é obtida pela equação 3.19:

𝑅 + 𝑗𝜔𝐿 0,107 + 𝑗377 × 1,35 × 10−3


𝑍𝑜 = √ ou: 𝑍𝑜 = √
𝑗𝜔𝐶 𝑗377 × 8,46 × 10−9

∴ 𝑍𝑜 = 403,8∠ − 5,94𝑜 (Ω)


c) O comprimento de onda pode ser obtido pela equação 3.15:
2𝜋 2𝜋(rad)
𝜆= = ∴ 𝜆 ≅ 4.905 km
𝛽 1,28 × 10−3 (rad/km)
d) A velocidade de fase pode então ser obtida pelo produto do comprimento de onda
pela frequência:
377(rad/s)
𝑣 = 𝑓𝜆 ∴ 𝑣 = = 294.297,9 km/s∴𝑣 ≅ 98,1% 𝑐
1,28 × 10−3 (rad/km)
onde c é a velocidade de propagação da onda eletromagnética no vácuo: 3108 m/s.
e) Conhecidos todos os parâmetros da linha pode se obter a tensão na entrada da linha,
necessária para manter a tensão nominal na carga, utilizando-se a linha superior da
matriz 3.29.
𝑉0 = 𝑉𝐶 cosh 𝛾𝑙 + 𝐼𝐶 𝑍0 sinh 𝛾𝑙
No entanto, necessita-se ainda conhecer VC e IC
Como visto em 3.3 a tensão a ser considerada é a tensão entre fase neutro ou VCF.
A tensão no ponto de entrega é VCL = 230.000 Volts, então:
𝑉𝐶𝐿 230.000
𝑉𝐶 = 𝑉𝐶𝐹 = = = 132.790,6 (V)
√3 √3

A corrente na carga ICL pode ser obtida utilizando-se a equação 3.48:


125 × 106
𝑃𝐶 = 125 × 106 = √3𝑉𝐶𝐿 𝐼𝐶𝐿 cos 𝜃 ∴ 𝐼𝐶𝐿 = = 313,8(𝐴)
√3 × 230.000 × 1
Também será necessário utilizar o produto l:
𝛾𝑙 = (𝛼 + 𝑗𝛽) × 𝑙 = (1,33 × 10−4 + 𝑗1,28 × 10−3 ) × 300 = 0,04 + 𝑗0,384(𝑟𝑎𝑑/𝑘𝑚)
Substituindo-se então todas as grandezas na equação 3.29 tem-se:
𝑉0𝐹 = 132.790,6 cosh(0,04 + 𝑗0,384) + 313,8 × 403,8∠ − 5,94𝑜 sinh(0,04 + 𝑗0,384)
∴ 𝑉0𝐹 = 141.470,2∠20,17𝑜 (V)
No entanto a resposta correta é a tensão de linha:
𝑉0𝐿 = √3 × 𝑉0𝐹 = √3 × 141.470,24∠20,17𝑜 = 245.033,65∠20,17𝑜 (V)
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 49
Modelagem de Linhas de Transmissão

Percebe-se que a tensão na entrada da linha é muito superior à tensão na carga,


porém, deve-se atentar para a condição de carga. Neste caso temos uma condição
de carga plena, o que representa elevados valores de corrente nas fases e
consequentemente perdas e quedas de tensão significativas.
LINHAS DE TRANSMISSÃO E REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 50
Modelagem de Linhas de Transmissão

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] SADIKU, Matthew N. O.; LISBOA, Jorge Amoretti; LODER, Liane Ludwing
(Tradutor). Elementos de eletromagnetismo. 3. ed., reimp. Porto alegre: Bookman, 2008. 687 p.
[2] COELHO, Vilson Luiz; RAIZER, Adroaldo. Sobretensões em Sistemas de Distribuição
de Energia Elétrica. Editora CRV, 2021.
[3] BASTOS, João P. A. Eletromagnetismo para engenharia: estática e quase-estática. 3.
ed., rev. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2012. 396 p. (Didática).
[4] MONTICELLI, Alcir; GARCIA, Ariovaldo. Introdução a Sistemas de Energia Elétrica.
2ª reimpressão. Campinas – SP 2015.
[5] STEVENSON Jr, W.D.., Elementos de Análise de Sistemas de Potência. São Paulo - SP:
McGraw-Hill do Brasil Ltda,1978.

Você também pode gostar