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Exegese Ef3.9 PDF Blog PDF
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1. Introdução
Alguns têm considerado um grande desafio entender o que de fato os autores neo-
Embora haja tentativas de se reconstruir o pensamento cristão primitivo sem dar atenção
devida ao estudo acurado da língua grega durante o primeiro século e também sem possuir
conhecimento do significado e uso dos termos gregos pelos cristãos primitivos, não foi possível
alcançar bom êxito. Pois, mesmo sendo possível se fazer uma exposição bíblica na língua
vernacular, é impossível uma interpretação segura em sua autenticidade sem pelo menos uma
noção básica da língua original. E essa interpretação sem os devidos cuidados lingüísticos tem
O fato de não estarmos lendo o texto na língua original deixa-nos em desvantagem quanto
da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é basicamente
uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem
tê-la ouvido; descobrir qual era a intencionalidade original das palavras do autor.
O objetivo proposto nessa exegese, na carta aos Efésios, capítulo três, versículo nove, é o
de definir o significado do mistério revelado a que o apóstolo Paulo se refere, e, sua função
ministerial em relação ao mesmo, tal como a extensão desta função ministerial relacionada à
igreja.
mesma. Seu cumprimento iniciado no próprio Paulo e o legado deixado aos primeiros cristãos e
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toda igreja cristã que surgiria posteriormente até aos dias atuais com a proclamação do Evangelho
e do sacrifício de Cristo.
pesquisa bibliográfica. Faremos uso de diversas literaturas, a fim de termos elementos suficientes
para efetuarmos a nossa tarefa. A Bíblia Sagrada é a nossa principal fonte bibliográfica,
utilizaremos o texto majoritário como objeto da análise, por considerá-lo ser coerente com os
2.1 Autoria
Até o início do séc. XIX, a autoria paulina de Efésios era universalmente aceita desde o
sua autoria paulina. Ceticismo este que permanece até os dias de hoje.
A maioria dos comentaristas, que nega a autoria paulina, chama atenção ao vocabulário e
estilo singulares da carta. Contam o número de palavras em Efésios que não ocorrem nas demais
cartas de Paulo, e o número das suas palavras prediletas que não se acham em Efésios.
Dois argumentos mais substanciais são propostos, no entanto, para lançar dúvidas sobre a
diz respeito a uma discrepância entre o relato em Atos, do longo e íntimo conhecimento que
Paulo tinha da igreja de Éfeso, e o relacionamento inteiramente impessoal, em segunda mão, que
a carta expressa. Embora sua primeira visita tenha sido breve (At18.19-21), a sua segunda visita
Esse caráter impessoal da carta, como não conter saudações pessoais, não fazer
Quanto a isto, os comentaristas apontam uma grande variedade de aspectos diferentes. Enfatiza-
se, por exemplo, que em Efésios, em contraste com as cartas de Paulo de autoria incontroversa, o
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papel de Cristo assume a dimensão cósmica; que a esfera de interesse está nos “lugares celestiais”
(uma expressão inédita que ocorre cinco vezes), em que operam as potestades e os poderes; que o
foco do interesse é a igreja; que a justificação não é mencionada; que a reconciliação fica mais
entre os judeus e os gentios do que entre o pecador e Deus; que a salvação é retratada não como
um morrer com Cristo, mas, sim, somente como um ressuscitar com ele; e que não há referência à
segunda vinda de nosso Senhor. No entanto, nenhum destes detalhes é mais do que uma pequena
mudança de ênfase.
Depois deste breve panorama sobre alguns pontos de vista modernos, podemos constatar a
autoria paulina voltando ao propósito texto: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de
Deus”. Paulo reivindica para si o mesmo título que Jesus dera aos doze; Efésios possui todas as
da igreja primitiva está em consonância com a conclusão de que é difícil acreditar que existisse
em algum lugar da igreja primitiva um gênio falsificador que refundisse os escritos genuínos de
Paulo numa obra com um estilo tão excelente, tão lógico em seu desenvolvimento, e tão elevado
em seu conteúdo, que deve pelo menos ter estado a par da habilidade intelectual e discernimento
avançado desenvolvimento, e então não deixar para trás nenhum rastro de sua identidade.
Os próprios pais da igreja, como de Eusébio a Orígenes (em torno de 210 – 250), citam
exemplo, Orígenes em sua obra Dos Princípios. Por esse mesmo tempo Tertuliano (em torno de
193 – 216), em sua obra Contra Marcião, declara: “temos na verdadeira tradição da igreja que
esta epístola foi enviada aos Efésios, e não aos Laudicenses. Porém, que importância têm os
Uns poucos anos antes, Irineu, que foi por muito tempo contemporâneo de Clemente de
Alexandria e de Tertuliano, afirma em sua obra Contra as Heresias: “Isto também declara Paulo
Portanto, tão logo a igreja começou a atribuir os escritos do Novo Testamento a autores
Duas fontes indispensáveis que nos trazem dados sobre o apóstolo Paulo são o livro de
Atos dos Apóstolos e as suas Epístolas. Há raras informações a respeito de Paulo do período que
abrange o seu nascimento até o aparecimento em Jerusalém como perseguidor dos cristãos.
Em Romanos1.1 Paulo se identifica como “servo de Jesus Cristo, chamado para ser
(1.14-15; 15.19-20).
Observamos também que Paulo era alguém que sofria e sentia tristeza por causa da
incredulidade dos seus irmãos judeus (9.2); era um varão marcado pela virtude do amor para com
os seus compatriotas (9.3); e também um indivíduo que desejava a salvação dos israelitas e orava
para que isso ocorresse (10.1). Paulo é o apóstolo aos gentios (11.13) e “ministro de Cristo Jesus
entre os gentios”, cujo encargo é “anunciar o Evangelho” (15.16). Paulo também se apresenta
como uma pessoa que se alegra com a obediência da igreja ao Senhor (16.19).
Segundo Atos 21.39, o apóstolo Paulo nasceu em Tarso. A data do seu nascimento é uma
d.C.), o texto escriturístico refere-se a Saulo como um jovem. Por conseguinte, podemos dizer
Tarso era um centro cultural e a cidade mais importante da Cilícia, e, como que sua região
sintetizava o Oriente e o Ocidente, isto é, as culturas grega e oriental, incluindo, por igual modo,
Era centro da filosofia estóica da variedade romana, onde os filósofos pregavam as suas
doutrinas nos mercados e nas praças públicas. Naquela época Tarso foi incorporada à província
da Síria e tivera história importante durante um período de muitos séculos. Era o terceiro centro
universitário do mundo, sendo superado em importância, naquela época, apenas por Atenas a
Alexandria.
ascendência judaica (Rm9.3; 11.1). Ele declara ter vivido como fariseu em obediência estrita à lei
(Fl3.6; 2Co11.22), e que foi além de muitos de seus contemporâneos no zelo pelas tradições orais
Os pais de Paulo eram judeus extremamente religiosos, pertencentes à seita dos fariseus,
ou, no mínimo fortemente influenciados por esse grupo; e eram da tribo de Benjamim. Paulo
tinha uma irmã que vivia em Jerusalém (At23.16). Ele era fabricante de tendas (At18.3). Tendo
em vista que era algo usual entre os judeus ensinar aos seus filhos alguma profissão, isso pode ter
Sua conversão é narrada em três textos no livro de Atos (9.3-19; 22.6-21 e 26.12-18).
Esse acontecimento talvez tenha ocorrido por volta de 35 d.C. O apóstolo Paulo se tornou um
instrumento de Deus para a salvação e transformação de muitas vidas. E tudo isso depois de ter
sido um intenso perseguidor dos cristãos antes da sua experiência salvífica (At8.3), chegando a
O apóstolo aos gentios encontrava-se preso em Roma, mas estava livre para ensinar. E,
talvez mais importante ainda, podia meditar e colocar no papel suas meditações (At28.30-31).
Durante o período de dois anos de reclusão, o apóstolo escreveu as importantíssimas cartas aos
A carta aos Efésios foi escrita provavelmente em 61 a.D., trinta anos, mais ou menos,
2.4 Destinatário
Defrontamo-nos com uma dificuldade real, porquanto Ef1.1, que na maioria das versões
menciona àqueles a quem a carta foi destinada, não tem este mesmo conteúdo em todos os
manuscritos gregos. As palavras iniciais: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus,
aos santos e crentes em Cristo Jesus que estão”, não constituem problema textual sério. A
dificuldade emana da frase adicional “em Éfeso” (evn VEfe,sw||). Esta frase não é encontrada nos
manuscritos mais antigos existentes: está ausente em p, que data do segundo século; no Sinaítico
não revisado e no Vaticano do quarto século (foi também deixado de lado pelo corretor de 424,
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cujas correções estavam baseadas em um manuscrito muito antigo, e por 1739). Segundo vê a
maioria dos eruditos, há um comentário de Orígenes (do início ao terceiro século) que dá a
entender que não estava no texto que ele usou. Uma observação de Basílio (cerca de 370 a.D.)
leva à mesma conclusão com respeito ao texto sobre o qual ele comentou.
Por outro lado, desde os meados do segundo século, com uma única exceção, o título que
encabeça a epístola tem sido sempre “Aos Efésios”. A única exceção foi a cópia de Marcião, na
qual o título exibido na epístola era “Aos Ladicenses”. Comumente se mantém, com boa razão,
que esta exceção à regra foi devido à má interpretação de Cl4.16. Também, de forma quase
unânime, os manuscritos subseqüentes incluem “em Éfeso” no texto de 1.1. As versões também,
Para o problema de como explicar a ausência da frase “em Éfeso” nos manuscritos mais
a. A carta não foi destinada a qualquer localidade específica, fosse grande ou pequena,
De acordo com esse ponto de vista, o que fosse que o título pudesse dizer, jamais foi a
intenção de Paulo que as palavras “em Éfeso” fossem inseridas. Esta teoria tem duas formas
principais. A primeira é que Paulo dirige sua mensagem aos santos “que são”, ou seja, os únicos
que possuem verdadeira existência, já que Cristo, em quem eles vivem, é o único que
verdadeiramente É. A segunda, é que Paulo está simplesmente escrevendo “aos santos, que são
b. A carta, ainda que enviada a crentes que viviam numa região definida e limitada, de
Segundo Abbott, Efésios foi escrita para os gentios convertidos de Laodicéia, Hierópolis,
Colossos, etc. Scott escreve: “... nada é definido, exceto que a carta não foi escrita aos Efésios”.
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Motivos: “em Éfeso” está ausente nos melhores manuscritos; não há detalhes pessoais; a
c. A carta foi dirigida aos crentes que residiam na província da qual Éfeso era a principal
cidade. Era uma carta circular, destinada não só à igreja local, mas também às congregações da
Ásia Proconsular.
Das duas primeiras propostas diz-se respectivamente que: em todo lugar, nas epístolas de
Paulo, onde aparecem as palavras “que estão” ou (a igreja) “que está”, quando presentes no
original, são invariavelmente seguidas do nome de um lugar (Rm1.7; ICo1.2; IICo11; Fp1.1). Em
conseqüência, não há razão plausível para admitir-se que a ocorrência das palavras “que estão”,
em Efésios, é uma exceção à regra; e que é dificilmente concebível que Paulo, que gastara tanto
tempo e energia em Éfeso, tivesse escrito uma carta às igrejas da Ásia Proconsular, e excluísse a
própria Éfeso.
Quanto a terceira, é o ponto de vista amplamente aceito hoje. Concluindo-se que o destino
2.5 Propósito
Paulo escreveu esta carta com o fim de expressar aos destinatários sua íntima satisfação
pela fé deles, que estava centrada em Cristo, e por seu amor para com todos os santos (1.15).
Também para descrever a gloriosa graça redentiva de Deus para a igreja, derramada sobre ela a
fim de que pudesse ser uma bênção para o mundo, e pudesse permanecer unida contra todas as
O ponto central da carta é que Deus fez por meio da obra histórica de Jesus Cristo, e
continua fazendo através do seu Espírito hoje, a fim de edificar a sua nova sociedade no meio da
d. Os novos relacionamentos para os quais Deus nos trouxe: a harmonia no lar e a luta
A – Saudação, 1-2;
C – Saudações, 6.23-24.
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avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi dia. VIhsou/ Cristou/ \.(The Greek New
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo. (Bíblia maná – versão Almeida
4 Análise Manuscritológica
a. Majoritária
avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi dia. VIhsou/ Cristou/ \.
b. UBS3
avpokekrumme,nou avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi
c. Nestle Aland
avpokekrumme,nou avpo. tw/n aivwn, wn evn tw/| qew/| tw/| ta. pa,nta kti,santi
Vários importantes testemunhos dizem apenas (* A 424 (c) 1739. 1881
Orígenes Ambrosiastro ½ Hilário Jerônimo al). É difícil decidir se foi omitida, ou por
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acidente ou intencionalmente (como algo não congruente com , vs. 8), ou se foi
inserida porque o verbo parece requerer um acusativo expresso (o que é usual no resto
do NT). Porém, já que não há outras variantes (tal como et sim.) como seria de esperar, se
não fosse a forma original, a maioria da comissão preferiu reter a palavra, com base na
autoridade de p46 c B C D G K P 33. 81. 614 By2 Lect it vg sir (p,h) cop (sa,bo) gót ara al, mas
deixá-la entre colchetes, indicando certa dúvida quanto a seu direito de permanecer no texto.
na AV). A verdadeira forma é apoiada por P(46), por todos os manuscritos unciais conhecidos,
por quase todos os minúsculos, por todas as versões conhecidas e pelas citações patrísticas.
O Texto Receptus, seguindo D (c) K L P muitos minúsculos sir (h) com * al, adiciona
dia. . Já que não há razão por que, se as palavras fossem originais, teriam sido
D* F G P 33. 1319. 1611. 2127 maioria das versões e citações patrísticas antigas.
aparece nos mss D(3) E K L, sendo seguidas pela tradução inglesa KJ (dentre as catorze
Como é colocado por Russell Norman Champlin em seu O Novo Testamento Interpretado
versículo por versículo, alguns manuscritos dizem “e manifestar”, sem o objeto, “todos” (os
homens). Assim dizem os mss Aleph, A e 1739, além dos latinos posteriores e as versões siríacas,
além dos escritos de Máciom, pai da igreja, contém a adição “todos”. Isso serve de prova
suficiente em favor dessa inclusão, embora usualmente a forma mais abreviada seja a correta.
Todavia, “ ” poderia ser uma glosa explicativa. Seja como for, a iluminação visa os
vocábulo grego “ ” bem o indica. Assim, pois, com ou sem a adição dessa palavra, o
variante. Mas a grande massa de manuscritos gregos e de versões diz “ ”, que é uma
variedade de traduções como “plano”, “arranjo”, “ordem”. Provavelmente essa variante surgiu
como explicação escribal, sabendo ele que uma “comunhão” determinada está envolvida na
antigos, como P(46), Aleph, A B C D (1) F G P e pelos escritos de Márcion, pai da igreja. Muitos
lugares confirmam que Cristo Jesus é o Criador, onde tal declaração é autêntica.
O contexto no qual o versículo nove está incluído não favorece as opções pela omissão de
claramente que não há, da parte de Deus, nova revelação da verdade e nem novos pensamentos
em divergência do seu plano original, imposto por novos acontecimentos. Mas que simplesmente
Paulo, calmamente, lembra a seus leitores gentios de que sua prisão, instigada por
inimigos judaicos, resultava de ter advogado plenos direitos de liberdade para os gentios na Igreja
Cristã. O mistério, que dizia ele estar oculto desde a eternidade e não inexistente, era justamente a
verdade de que os gentios não só podiam ter parte simplesmente na salvação comum, mas, mais
da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. Os gentios não seriam salvos por uma
salvação própria a eles, com bênçãos inferiores, apropriadas ao seu estado de parias (casta), como
que excluídos dessa sociedade; ao contrário, eles participavam igualmente, da salvação que os
judeus gozavam. E que o instrumento especial para a instrução desses seres de natureza diferentes
é a igreja, aquela unidade dos crentes de todas as nações e de todas as eras da qual Cristo é o
Cabeça.
Por isso “todos” ( ) estariam sendo iluminados acerca desta verdade, deste
mistério.
Pode-se sem problema algum admitir que a revelação deste mistério traria a comunhão
( ), no entanto, a ênfase não era para a conseqüência da revelação do mistério e sim para
o seu conteúdo. E este, era o plano de salvar também os gentios desde antes da fundação do
conforme o mesmo é plenamente revelado, com tudo quanto está implícito nesse ensino,
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relativamente à redenção humana, algo que foi totalmente oculto dos profetas antigos. O
evangelho, pois, revela certas verdades, que falam sobre uma redenção e uma glorificação
Que o mero homem pudesse estar para um alvo tão elevado e celestial era algo
desconhecido nos tempos do AT, mas que nos foi revelado em Cristo, através do apóstolo Paulo,
encontra em conformidade com o contexto de Ef1.10; 2.10, assim como com outros textos do NT
a exemplo de Jo1.3, 10 ou Hb1.2. Não sendo diferente com o próprio contexto do parágrafo no
Vê-se no primeiro capítulo da epístola aos Efésios que Cristo é o mais elevado poder
cosmológico, acima de ser angelical. Mas, os gnósticos, em contraste com isso, ensinavam que
apesar de Cristo ter sido uma exaltada figura, certamente mais do que humana, provavelmente da
ordem angelical, não pertencia, entretanto, à ordem mais elevada de todas, isto é, a ordem divina;
e que apesar dele ter sido o criador; não era o criador de “todos os mundos”, mas tão somente
A epístola aos Efésios contradiz essa tese gnóstica, mostrando que o Senhor Jesus é o
Cabeça de toda a criação. Nos versículos 10 e 11, a mesma idéia do versículo nove é passada, de
que a criação inteira, portanto, está relacionada a Cristo, e, de uma maneira ou de outra, encontra
nEle o seu alvo e o seu propósito de ser. Não sabemos como tudo isso se concretizará, mas o
segundo capítulo da epístola aos Filipenses dá-nos a entender a mesma verdade. E para mostrar a
superioridade de Cristo sobre ordem angelical, o apóstolo Paulo afirma que a igreja, portanto, não
existe para si mesma. Ela existe para Deus, e para sua glória. E que, quando os anjos nos céus
a quem adora, se amplia, então se regozijam e o glorificam. E tudo isso “através de Jesus Cristo”
efeitos universais de Sua missão, a qual, apesar de não ser dito claramente esse tanto, dá-nos a
entender que Cristo estabeleceu uma diferença em toda a parte, para melhor, afetando não só a
igreja cristã, mas até os perdidos no estado eterno, embora isso não queira dizer, sob hipótese
Concluí-se esta análise manuscritológica afirmando que a melhor leitura de Efésios 3:9 é
5 Análise Literária
A carta aos Efésios é um resumo, muito bem elaborado, das boas novas do cristianismo e
de suas implicações. Nenhuma outra epístola de Paulo se tem mostrado dotada de maior
influência sobre a história subseqüente da igreja cristã do que esta epístola. Somente as epístolas
aos Romanos e aos Gálatas têm sido mais largamente usadas. E a projeção da epístola aos Efésios
é resultado natural das idéias elevadas e das expressões eloqüentes que nela existe.
A epístola aos Efésios, como sucede em Romanos e Colossenses, divide-se, de forma bem
delineada, entre Exposição e Exortação, entre verdade declarada e verdade aplicada. O estilo,
especialmente o da primeira divisão, e, não obstante, tão sublime que Adoração expressa o
conteúdo mais precisamente que Exposição. A alma do apóstolo transborda de humilde gratidão a
Depois da saudação inicial de abertura (1.1-2), o corpo da carta começou, no original com
a palavra EULOGETOS (= bendito!). Como auxílio à memória, pode-se formar um acróstico das
primeiras seis letras desta palavra inicial, lidas verticalmente. Na verdade, acróstico é uma
composição poética em que as letras iniciais dos versos formam, lidas verticalmente, palavra (s)
ou frase.
lugar evangelização.
encontra também o estilo literário, estrutura e alguns vocábulos como não sendo comuns a Paulo.
6 Análise Morfológica
“dispensação”.
“mistério”.
tempos antigos”.
26
(crio) – “criando”.
(vs. 8), e ambos estão como resultado do ter recebido a graça ( - vs. 8),
atributiva Sendo perfeito expressa uma ação completada no passado com efeitos permanente
(perma feita); sua voz passiva mostra que o seu modificado ( ) está recebendo a ação
indicando o ponto de partida temporal ( w/n w/n ) da ação verbal. O fato de o verbo ser
quanto a ponto de partida temporal (o mistério se encontrava escondido desde as épocas antigas).
usada no caso dativo locativo, está respondendo a pergunta: Onde está, ou estava, oculto o
mistério? Em Deus (evn w| w). Esta é a função da preposição neste caso, expressar uma
especifica qual é o Deus em vista, ou seja, o mistério não estava escondido em um Deus
qualquer, mas no Deus criador de todas as coisas. Sendo aoristo expressa uma ação sem projeção
nem dimensão, visto como simples evento, mero ponto (pontilear); sua voz ativa mostra que o
(vs. 8), e agora ele define como resultado de ter recebido essa graça, a
2) O apóstolo especifica que este Deus no qual o mistério estava oculto, não era
3:8
3:9
(Objeto Direto)
(Adjunto Adnominal)
ū (Adjunto Adnominal)
ū (Particípio Adjetival)
a ò (Adjunto Adnominal)
w| w (Adjunto Adnominal)
w| (Particípio Adjetival)
30
ả (Adjunto Adnominal)
ả (Adjunto Adnominal)
7.1 Traduções
- Literal
E iluminar todos qual a dispensação do mistério tendo sido escondido de os dos tempos
- Idiomático
E iluminar a todos qual a dispensação do mistério que esteve escondido em Deus desde os
B.L.H.
E também me deu o privilégio de fazer que todos vejam como funciona o plano secreto de
Deus. Porque ele, que criou tudo, guardou o seu segredo em todos os tempos.
NT Vivo – Paráfrase
E para explicar a todos que Deus é o salvador dos gentios também, tal como aquele que
NT – Ortografia Simplificada
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério que desde os séculos esteve
Humberto Rohden
Revista e Atualizada
E manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que
Bíblia de Jerusalém
todas as coisas.
Bíblia Viva
E para explicar a todos que Deus é o salvador dos gentios também, tal como Aquele que
Edição Contemporânea
E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
E iluminar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os tempos esteve oculto
Bíblia Ave-Maria
9 Análise Lexicográfica
- CL
escritores trágicos, à sua forma Ática, phōs. Seu significado básico de “luz”, “brilho”, também
abrange os seguintes matizes, entre outros: “luz solar”, “luz do dia”, “tocha”, “fogo”, “luz do
fogo”, “vista”. Figuradamente, phōs significa a “luz da vida”, isto é, a própria “vida”, que é
altamente estimada como coisa „brilhante”, e como coisa comparável com a salvação, a felicidade
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ou o triunfo militar. Aquele que traz semelhante salvação também pode ser referido como sendo
phōs.
O verbo phōtizō (desde Aristóteles), formado da mesma raiz, é quase sempre transitivo,
com o significado de “iluminar”, “lançar luz sobre”, “trazer à luz”, “tornar visível”. Seu
“fulgoroso”.
Relativamente cedo no uso grego, phōs (em contraste com skatos, “escuridão”, ou nyx
“noite”) veio a significar a esfera do “bem” ético, enquanto se diz que as más ações se praticam
na escuridão. Daí ser tarefa de, e.g. um juiz, “trazer à luz” as coisas ocultas.
- LXX
Há no AT, referências freqüentes à luz e aos seus efeitos. Depois de citar B. Jacob e A.
Dillmann, que, respectivamente, descrevem luz como sendo “o elemento mais sublime”, e “o
mais excelente de todas as forças elementares”, G. Von Rad acrescenta seu próprio epíteto: “o
primogênito da criação” (Gênesis, 1963², 49; cf. Gn1.3 ss). Indica que esta luz primeva tem a
primazia sobre todas as demais luzes: até as estrelas “não são de modo algum criadoras de luz,
mas apenas portadoras intermediárias de uma luz que existia sem elas e antes delas”.
Há no AT, referências freqüentes à luz como tipo de atributo de Deus: a luz é seu manto
Para o homem a luz de Javé significa salvação, idéia que se expressa com clareza no
Sl 27.1.
Mesmo durante a sua vida terrestre, no entanto, o homem piedoso desfruta da luz dos
viventes (Sl112.4). É somente quando Deus ilumina o homem que a natureza da realidade se lhe
Uma antítese, achada mormente na Literatura Sapiencial do AT, da luz e das trevas como
respectivas esferas dos que temem a Deus e dos ímpios (e.g. Pv4.18-19), recebe tratamento
radical nos textos de Cunrã. Um dualismo da luz e das trevas. Conflito entre os filhos da luz (os
Filo pregava phōs mormente com referência a questões de conhecimento. Logo, Sophia,
- NT
No NT, phōs ocorre 72 vezes, das quais 33 nos escritos de João, 14 nos Evangelhos
Sinóticos, 13 em Paulo e 10 em Atos. Phōtizō ocorre 11 vezes; phōtismos duas vezes (2Co4.4, 6);
phōteinos ocorre 4 vezes; phōstēr duas vezes (Fp2.15; Ap21.11); e phōsphoros uma só vez
(2Pe1.19).
O significado original e literal é visto com referência à luz do sol (Ap22.5), que está
ausente à noite (Jo11.10), à luz das lâmpadas (Lc8.16; 11.33; 15.8; At16.29; Ap18.23; 22.5) e ao
A nuvem brilhante que Deus empregou na transfiguração do Seu Filho (Mt17.5) aponta
além de si mesma para Deus, cuja manifestação vem inevitavelmente acompanhada pela
efulgência. O Filho, também é cercado por radiância: “o seu rosto resplandecia como o sol, e as
suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mt17.2). Aqui, a luz é uma manifestação da
presença de Deus; nalgumas outras passagens, indica a manifestação do Cristo exaltado (At9.3;
22.6, 9, 11; 26.13), e, noutras ainda, a vinda de anjos como mensageiros da parte do próprio Deus
Os discípulos também recebem a discrição de “luz” ou luzeiros (Mt14, 16; Lc12.35; cf.
Ef5.8; Fp2.15), sendo que a tarefa deles é passar adiante a luz divina que receberam.
Paulo, embora empregue estas palavras menos freqüentemente do que João dá-lhes um
conteúdo teológico semelhante. A luz e as trevas são incompatíveis quanto à justiça e iniqüidade
(literalmente “trazedor da luz”) como sendo o sol. No termo era empregado no grego clássico
para a “estrela da alva”, o planeta Vênus que precede a aurora. Quanto às estrelas como símbolos
- Conclusão
37
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do verbo
sentido explicativo.
afirmativa.
A afirmação feita acima tem por base o significado do termo supracitado, no grego
No AT, o sentido pende para o próprio Deus (atributos, presença, salvação e outros) e
para o dualismo da luz e das trevas (Comunidade de Cunrã). Apenas em Filo é que vamos
conhecimento” (2Co4.6) e trazer à luz aquilo que está oculto (1Co4.5; Tg1.7).
Portanto, com base no que já foi apresentado, reafirmamos que o significado do verbo
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do verbo
O verbo ocorre no Novo Testamento 11 vezes, sendo que não possui sentido
Candeia quando te ilumina em plena luz”, tem o significado de “espalhar luz”; em Ap21.23 “... a
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glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a ...”, e Ap22.5 “... porque o Senhor Deus brilhará
- CL
um lar, mas logo se estendeu à administração de estado (o título de um dos livros de Xen.), e
finalmente se empregava para todo o tipo de atividade que resulta da detenção de um cargo.
dentro do lar: e.g., o porteiro, o gerente das terras, o cozinheiro-mór, o contador, sendo todos
- LXX
39
A ocorrência das palavras na LXX não oferece muita ajuda para a compreensão do
conceito do NT Oikonomia ocorre apenas em Is22.19, 21, e mesmo ali, no significado original de
palácio real.
- NT
No NT, este grupo de palavras não aparece com freqüência. oikonomia ocorre 9 vezes,
oikonomos 10 vezes, e oikomomeō uma vez (Lc16.2). Mesmo assim, foi estabelecido algum tipo
administrador da casa e das propriedades, bem como suas tarefas (Lc12.42; 16.1ss). Gl4.2
também pertence a essa categoria. Aqui, oikonomos se emprega para descrever a minoridade do
homem antes do Criador ser enviado, mas também serve, dentro da metáfora, como designação
de uma ocupação, a fim de esclarecer um conceito jurídico: “Mas está sob tutores (epitropous) e
curadores (oikonomous) até ao tempo predeterminado pelo pai”. Em Lucas, o único Evangelho
“escravo” (Lc12.42ss).
metaforicamente para descrever a tarefa apostólica e, assim como nos evangelhos, lado a lado
com doulos.
Deus, é Sua casa, que Ele edifica mediante a obra daqueles que vocacionou à tarefa, aos quais
confia a administração da casa. Não devem considerar estas questões da casa como sendo
assuntos particulares deles; são meramente mordomos dos dons que eles foram confiados, e
devem prestar contas da sua mordomia (Lc16.2). Em 1Co4.1, Paulo se apresenta, juntamente com
(oikonomia) do qual não se pode retirar. Cl1.25 e Ef3.2 talvez pertençam a esta categoria,
também. Nestas passagens, o encargo divino entregue ao apóstolo está em discussão. Reconhece-
se que poderia haver alguma dúvida em ambos os casos se o significado aqui não é “plano de
salvação”.
“plano de salvação” da parte de Deus. Este significado, que se relaciona com a história da
salvação, talvez veio a existir na base da largura de sentido da palavra grega, que pode denotar os
planos e as disposições das autoridades, bem como as medidas mediante as quais se pode obter a
ajuda de poderes celestiais. Em Efésios, emprega-se para o plano divino da salvação, que foi
oculto em Deus desde a eternidade (Ef3.9), e agora, na plenitude do tempo, foi levado a efeito de
Cristo (Ef1.10).
independentes entre si. Sendo que Deus permite que seu plano de salvação seja proclamado
através dos homens (1Co4.1), a obra do oikonomos se arraiga na oikonomia divina. Assim como
o tempo tem sua função no plano de Deus, um período de tempo determinado é concedido ao
mordomo, embora talvez nem ele saiba por quanto tempo há de durar sua mordomia (Lc12.46).
No fim, do prazo, deve prestar contas. Assim, na base do plano de Deus para a salvação, o
41
próprio tempo é uma dádiva confiada aos homens, e deve ser bem empregada (Cl4.5; Ef5.15-16)
- Conclusão
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do substantivo
, utilizado no texto, por Paulo em Efésios 3.9, é “plano de salvação”, tendo assim,
afirmativa.
Como foi dito acima o conceito do termo supracitado refere-se às suas raízes no conceito
da casa. Sendo o povo de Deus Sua casa, Ele os confia a administração da mesma. São
meramente mordomos dos dons que lhes foram confiados, dentre eles a responsabilidade da
Portanto, com base no que já foi apresentado reafirmamos que o significado do adjetivo
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do adjetivo
, dentre estes podemos citar alguns, tais como: Ef3.2; 1.10; Cl1.25.
As outras 5 vezes variam das seguintes formas: Lc16.2, 3, 4, o termo tem o significado de
- CL
boca), e significa aquilo que não deve e nem pode ser dito. O plural é quase exclusivamente um
termo técnico para festivais tais como aqueles que eram realizados em Elêusis desde o século
XVIII a C., e que eram generalizados durante o período helenista e especialmente nos tempos
cristão como os mistérios associados com Ísis, Átis, Mitras, etc. A celebração do mistério fazia
uma representação cerimonial e dramática da divindade que padecia a morte e a ela vencia, e os
iniciados atingiam a salvação (sōtēria; Redenção, art. sōzō) e a deificação mediante a participação
nos fortéinios da deidade por meio de atos sacramentais tais como o batismo, as festas rituais e
cerimoniais da morte e da ressurreição (Batismo, art. baptizō NT). Os atos e símbolos culturais
mistérios), e depois (como no gr. do NT) assumiu o significado de “instruir”, “ensinar”. 3- Já nos
tempos de Platão, idéias e termos dos cultos de mistério estavam sendo transferidos para a
filosofia: Platão descreve o caminho do conhecimento para a existência imutável como sendo o
μυστήριο é aquilo que pela sua própria natureza não pode ser reduzido a palavras. No
gnosticismo (conhecimento) os mystēria ficam sendo revelações secretas outorgadas somente aos
- LXX
Mystērion ocorre somente nos escritos posteriores, isto é, aqueles que pertencem ao
período helenístico; a mesma coisa é verdade no caso de apokalypsis, “revelação”, no seu sentido
palavras e atos de Deus na história são manifestos no sentido de serem realizados diante dos olhos
do mundo inteiro. Numerosas passagens demonstram este fato. Deus fala em segredo (Is45.19;
(Heb. sôd).
aos cultos pagãos. Mysterion sempre traduz o Heb. sôd, “fala confidencial”, “segredo”, a não ser
em Daniel, onde ocorre mais freqüentemente, e corresponde ao Aram. rāz. Daniel emprega a
palavra num sentido teológico muito definido, o do “segredo escatológico” a visão daquilo que
Deus decretou que acontecerá no futuro (Dn2.28). Desta maneira, Daniel serve como transição
para o uso do termo na apocalíptica judaica posterior, onde os mystérios são usados no sentido
único dos eventos escatológicos: o juízo e o castigo dos pecadores (Et38.3), o galardão dos justos
(Et83.7), e outros.
interpretação da tradição escrita e oral. Os segredos da Torah procuram revelar a operação interna
da mente do Legislador, e, sendo que também é “o segredo da criação”, lançar luz sobre seus
Dentro da verdadeira tradição apocalíptica, os textos de Cunrã falam dos segredos que
“maravilha”, “milagre”, “maravilhoso”, “milagroso”), sendo que não é feita nenhuma distinção
os filhos da justiça, para o caminho da luz (1Qs3.20), e a outra seção, os filhos do mal, para os
caminhos das trevas (1Qs3.21). Os segredos dão informações a cerca dos propósitos de Deus para
- NT
que é achado mais freqüentemente (20 vezes) em Paulo (5 vezes em 1Co; 6 vezes em Ef; 4 vezes
em Cl; 2 vezes em Rm e 1Tm, e uma vez em 2Ts), visto que é aqui que os cultos de mistério e o
gnosticismo são diretamente enfrentados. A palavra ocorre uma vez cada em Mt, Mc e Lc, e,
conforme seria de esperar é achada também no Ap. (4 vezes). Sua total ausência no Evangelho
segundo João é notável. Mc4.11 (par. Mt13.11; Lc8.10) com figura da ceifa, isto é, o
O mistério com que Paulo firmemente confronta seus oponentes em 1Co é o da Cruz de
Praticamente onde quer que ocorra no NT Mystérion acha-se com verbos que denotam
não algum fato isolado, vindo do passado, que meramente precisa ser notado, mas, sim, uma
cumpre (Cl1.26) “o mistério de Cristo” (4.3), isto é, ao carregar no seu próprio corpo o que ainda
resta das aflições de Cristo (2.24), dá expressão prática ao “mistério” e o sendo Cristhos em
hymim, “Cristo em vós”, isto é, a igreja ao alcance mundial, tendo Cristo como Seu Cabeça,
(1. 18,20). Este fato foi oculto das gerações anteriores (1.26), mas agora homens especialmente
consagrados têm confiado a eles a tarefa de proclamá-lo a todos (1.28), a fim de que, como
homens perfeitos (teleioi) todos possam participar do poder do primogênito dentre os mortos
Cristo, os gentios receberam acesso ao Pai de toda a criação (Ef3.15; 2.18). São membros da
igreja mundial de judeus e gentios, descrita figuradamente em Ef2.20-21 como edifício cuja
pedra-chave ou pedra angular é o fundamento de toda a criação (Rocha). Esta foi à vontade de
Deus antes de começar o tempo (3.9; 1.19) e tudo isto fazia parte do seu grande propósito (3.6).
Foi conservado oculto dos homens no passado, mas agora, já que o tempo se cumpriu (1.10),
Deus fez conhecida sua vontade a aqueles que proclamam o evangelho (3.8), a fim de que através
A única outra passagem cristológica é Tm3.9, 16, onde o mystérion tés pistéos (“mistério
da fé”) e o tés eusebias mystérion (“o mistério da [nossa] religião”) referem-se a confissão de
Cristo e da Sua obra redentora, isto é, mystérion aqui é uma paráfrase para confissão de fé
1Co15.51 diz respeito a parousia de Cristo. Paulo conta aos Coríntios o mistério
apocalíptico de que raiará o dia iminente da ressurreição, quando serão transformados todos
que Gn2.24 é interpretado como sendo uma referência ao relacionamento entre Cristo e Sua
Igreja. A frase do apóstolo egō de legō eis (“Entendo que significa”RSV) visa excluir qualquer
2Ts2.7 tem a marca apocalíptica; sendo que o contexto trata dos eventos que devem
preceder a parousia.
pedido sigilo por várias vezes, e após sua morte ordenado a proclamação. Alguns estudiosos
fazem distinção entre o Jesus histórico e o Jesus teológico, para justificarem este fato. Seria a
Igreja Primitiva.
- Conclusão
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do substantivo
utilizado por Paulo em Efésios 3.3, é “o decreto redentor de Deus para o mundo”,
têm o mesmo significado encontrado em Efésios 3.9 “decreto redentor de Deus para o mundo”.
Lc8.10 significa “decretos de Deus acerca de Cristo e sua igreja”; em 1Co13.12; Ap1.20 significa
47
“eventos que antecedem a vinda de Cristo”; em Ef5.32 significa “relacionamento entre Cristo e
sua igreja”; em 2Ts2.7 significa “eventos que antecipam a vinda de Cristo”; em 1Tm3.9 significa
9.4 ò
(kryphios), “escondido”.
- CL
a partir de Homero. Do aoristo hel. Ekryben (comum na LXX, e.g. Gn3.8) deriva-se o verbo
krybō, que tem o mesmo significado (acha-se no NT apenas na forma periekryben, “conservou-se
oculto” _ Lc1.24). O derivado apokryptō (Homero) tem o mesmo significado. O grupo também
inclui o advérbio kryphē, “secretamente”, (no NT, apenas em Ef5.12), e o adjetivo kryphaios,
“escondido”, que somente se acha no uso bíblico (Jr23.23; Lm3.10; no NT, somente em Mt6.18,
par, en tō kryptō, “secretamente”, vv. 4, 6). O substantivo kryptē, “casa mortuária”, “adega”,
“canto escondido” (atestado a partir do séc. III a.C.), se acha no NT somente em Lc11.33.
48
- LXX
Na LXX kryptō se acha no sentido literal de “esconder” (e.g. Gn3.8, 10) bem como no
sentido figurado de “conservar secreto” (e.g. Gn18.17; 1Sm3.17, 18). Representa várias raízes
hebraicas com o mesmo sentido básico, e.g. hābā‟, “esconder”, “ocultar” (Gn3.8, 10; 1Sm14.11),
khd (piel), “esconder”, usualmente tem o mesmo significado figurado (Is40.27; Sab6.22). O
adjetivo kryptos se emprega tanto no sentido literal quanto no figurativo (2Mac1.23 e Dn29.29).
história da vocação de Moisés. Este não tem licença de se aproximar do Deus que se revelou a
Ele na sarça ardente. Deus se oculta aos homens, mas os homens não podem se esconder de
Deus.
natureza oculta de Deus e sua revelação. Deus também se revela nos seus julgamentos, como
justo Juiz que traz à luz aquilo que é oculto (Ec12.14; 2Mac12.41). Desta forma, revela a Abraão
o julgamento que está a vir sobre Sodoma. Aqui há uma indicação, sem declaração explícita, de
que Ele é o Deus gracioso cuja ira perdura para sempre (Gn18.23-33).
de Daniel se ocupa em grande parte com as coisas ocultas, especialmente na medida em que
dizem respeito ao futuro. Mesmo no judaísmo rabínico, não desaparece totalmente a consciência
do fato de que Deus se oculta juntamente com seus mistérios, embora fique contrabalançada pela
convicção do judeu piedoso de que a revelação plena e válida de Deus já lhe foi dada na lei. O
49
verdade” (Rm2.20), o que capacita o ser “guia dos cegos”, luz dos que se encontram em “trevas”
(Rm2.17-20).
- NT
são de significância teológica. A revelação que Deus dá as criancinhas mediante Jesus permanece
oculta aos sábios e prudentes (Mt11.25; Lc10.21). A natureza oculta da revelação corresponde à
natureza oculta do reino do céu. A declaração em Mt10.26 dá origem, no v. 27, à comissão aos
discípulos no sentido de espalharem a mensagem: é assim que aquilo que era oculto será tornado
conhecido. A mensagem não deve ser espalhada somente pela palavra, como também pelas obras
dos discípulos.
Paulo declara que a mensagem apostólica é a sabedoria oculta de Deus, que Deus ordenou
desde toda a eternidade para a nossa glória (1Co2.7, apokekrymmenem). Tem sua origem na
revelação divina (Rm16.25; 1Co2.10; Gl1.12). Seu conteúdo é Cristo, a quem Deus fez sabedoria
para nós (1Co1.30); a mensagem inspirada pelo Espírito nos traz conhecimento de Deus
(1Co2.10-11).
A Epístola aos Efésios e Colossenses levam esta idéia ainda mais longe. A mensagem é o
segredo, oculto desde o inicio do mundo às gerações anteriores, mas agora é revelada aos santos
(Cl1.25ss) e aos santos apóstolos e profetas (Ef3.5ss). Desta forma, a linguagem do NT a respeito
Ap2.17 fala do “maná escondido”, a dádiva do mundo celestial. O maná era o alimento
secreto que Deus providenciou, e que Israel recebeu do céu durante sua viagem pelo deserto
(Êx16.4). Na expectativa judaica seria dado de novo a Israel no fim das eras. Esta dádiva será
recebida pelo “que vence”, que mantém, em meio a todas as provações, sua lealdade a Deus. Em
última análise, esta dádiva é o próprio Cristo. Ele é o pão de Deus que desce do céu (Jo6.33ss).
Fica claro, com tudo isso, que a linguagem acerca do aspecto oculto de Deus e das coisas
divinas se vincula ao olhar no NT para o futuro. Deus é o juiz que trará ao julgamento os
segredos dos homens (Rm2.16), e trará a luz as coisas ocultas das trevas e revelará os propósitos
do coração (1Co4.5), assim como o Espírito de Deus já operante nos cristãos, revela os segredos
do coração (1Co14.25).
A palavra “apócrifo” entrou no uso comum por causa da literatura chamada apócrifa.
Consiste em escritos secretos e escondidos, que não se liam diante da igreja. O caminho foi
preparado para o aparecimento desta leitura pelo fato de que, no período do NT, a autoridade da
Escritura, ou das Escrituras, já tinha sido estabelecida, enquanto a questão quanto aos escritos que
Além dos apócrifos do AT há um corpo apócrifo no NT, que consiste nos escritos que se
relacionam com o NT, ou por meio da forma literária ou pela data de origem.
- Conclusão
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do verbo
ò , utilizado por Paulo em Efésios 3:9, é “conservar secreto”, tendo assim, pois,
um sentido de segredo.
51
afirmativa.
Como foi dito acima, o próprio AT (LXX) ao utilizar o termo supracitado, o faz no
Como exemplo temos Gênesis 18.17 onde, “Disse o Senhor: ocultarei a Abraão o que
estou para fazer, visto que abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação...?” Não
haveria problema algum se fosse trocado o termo “ocultarei” por “conservarei em secreto”, visto
que se tratava de algo já declarado e resolvido da parte de Deus, e que relado ou não viria a
Também em 1Samuel 3.17, 18, onde Eli pede a Samuel que não conserve em secreto o
Paulo declara que a mensagem apostólica é a sabedoria oculta de Deus, que Deus ordenou
Nas Epistolas aos Efésios e aos Colossenses leva sua idéia ainda mais longe quando
afirma que a mensagem é o segredo, oculto desde o inicio do mundo às gerações anteriores, mas
Portanto, com base no que já foi apresentado reafirmamos que o significado do verbo
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do verbo
- CL
(Daí o particípio substantival, hoi ktisantes, “os habitantes originais”). O substantivo derivado, hē
ktisis (híndaro) significa: “o ato da criação”; “a coisa criada”, o resultado deste ato; mais
coisa criada” pode-se comparar com to ktisma (políbio). To ktisma não ocorre antes da LXX
- LXX
A LXX tem dois termos para “criar” dēmiourgein, “trabalhar com matéria; “manufaturar”;
e ktizcin que expressa o ato decisivo e básico que subjaz o trazer à existência, guardar ou instituir
No hebraico bārā‟ (traduzida ktizō 16 vezes) é um termo teológico, cujo sujeito sempre é
Deus. É a palavra que se emprega para transmitir a fé explicita na criação, que se expressa nos
atividade criadora incomparável de Deus, na qual a palavra e o ato são a mesma coisa. Refere-se
não somente à atividade de Deus em chamar à existência o mundo e as criaturas individuais como
também às suas ações na historia que subjazem a eleição, o destino temporal o comportamento
As versões gregas posteriores do AT, Teodósio (séc. I d.C.), Áquila (séc. II d.C.) e Sínaco
(séc. III d.C.), consistentemente empregam ktizein ao invés das palavras mais gerais que a LXX
empregou para traduzir bārā‟ em passagens que consideram importantes em Gn, Dt., Is. e Jr.
Estas incluem Gn1.1, céus e terra; 1.27, o homem na imagem de Deus; Is4.26, as hostes
celestiais; 41.20, nova vida as plantas do deserto, com a figura do poder histórico de Javé para
salvar; 43.7, nações estrangeiras dos confins da terra; 65.17-18, os novos céus, a nova terra, a
Qānâh (traduzido 3 vezes por ktizō) significa “criar”, “produzir”. Gn14.19, 22 fala de
Deus Altíssimo, com bênção e oração respectivamente, como Aquele que fez o céu e a terra.
Yāsar (duas vezes traduzido por ktizō) significa “formar”, “plasmar” (como um oleiro),
ou “planejar”. Ás vezes se emprega a respeito da ação espontânea de Deus na historia. Ele dirige
Kûn (duas vezes traduzido por ktizō) se emprega tanto da criação como da operação de
Deus na história.
Ktizō se emprega uma vez para yāsad (niph. “ser fundado”; emprega-se do Egito em
Êx9.18); uma vez para „ānad, literalmente “ficar em pé” mediante a palavra criadora de Deus
54
(Sl33 [32].9). Também se emprega uma vez para šākan, “ser situado”, “estabelecido” (part.), do
“tabernáculo”, a tenda da reunião (Lv16.16) edificada de acordo com o padrão revelado (Êx25.9).
criação sobre a doutrina da redenção. Especialmente neste último tipo de literatura, a confissão, o
Jud13.18; Bel5; 3Mac2.3, 9). Com exceção de Ag2.9 (um acréscimo da LXX ao TM), 1Ed5.53,
onde ktizen descreve atos humanos de fundação, o termo se reserva em todos os lugares para a
atividade divina.
O substantivo ktisis tem apenas 2 equivalentes hebraicos no TM, hôn e qinyān, sendo que
cada um destes ocorre duas vezes, com o significado de “posses”, “bens”, “riquezas”,
“pertences”. Em três passagens (Sl105 [104].21; Pv1.13; 10.15) devemos, portanto (e também
com fundamento na critica textual) ler, em preferência, ktēsis, “posses”. É somente no salmo da
hebraico no sentido alistado em CL, supra (6 vezes, das quais 2 se acham em orações). Em Sab.
9.2, prefere-se uma oração em prol da sabedoria, e considera-se que a sabedoria é o instrumento
da criação, tendo algo a ver com o comissionamento do homem para ter domínio.
(onde o TM tem “rocha”, e somente a LXX traduz “criador”), e Is43.15 (onde Sínaco tem
“criador” para a forma participal “em que criei” (Ec12.1), enquanto a LXX tem “em que te
antropológico. Deus criou os espíritos da luz e das trevas, e baseou neles todas as suas obras (1
Qs3.25).
- NT
sentido “a coisa criada” pode ser subdivido ainda mais em “criação total” e “criatura”. Ktisma, “a
coisa criada”, ocorre apenas 4 vezes; ktistēs, “criador”, uma só vez em 1Pe4.19. Este último
conceito, no entanto, se expressa 8 vezes por uma cláusula relativa ou um particípio, como na
divina se dividem da seguinte maneira entre os escritores do NT: Mt., uma vez; Mc., 4 vezes; as
Epístolas de Paulo, 22 vezes (Rm., 8 vezes; Ef. e Cl., 4 ou 5 vezes; 1 Tm., uma vez); Hb., 2
vezes; Tg., uma vez; 1 Pe., duas vezes; 2 Pe., uma vez; Ap., 5 vezes.
igreja cristã segue as narrativas históricas antigas do AT Além disto, porém, o NT ganha um
novo impulso de poder histórico na sua fé no Deus da criação, mediante sua proclamação da
Mediante a pregação e as ações do Jesus histórico, os homens são levados a uma posição
de confiança completa, ininterrupta e curadora no Criador. Jesus demonstra seu poder criador nos
Nazaré foi que a confissão de fé após a ressurreição incluísse a adoração do Ascendido, que agora
se assenta à destra de Deus, como mediador original da criação (1Co8.6; Cl1.16; Hb1.2, 10;
Jo1.1ss).
As referências à doutrina da criação nas Epístolas de Paulo podem ser agrupadas como
segue: aquelas que dizem respeito à natureza da primeira criação, e aquelas que têm como tema a
nova criação, kainē ktisis, que teve em Cristo o seu inicio. Estas últimas predominam, e há muitas
que devamos nos submeter a “toda criatura humana” (que seria o equivalente de dar valor divino
a seres criados), tem sido sugerido que a tradução deva ser “toda instituição humana”, ou que, no
ensinamento de que ela não é para a criatura, nem para nós, e, sim, por amor ao Senhor.
2Pe3.4 defende a esperança cristã da volta de Cristo contra aqueles que argumentam que
há uma continuidade perpétua “desde o inicio da criação”, e que lançam mão desta idéia para
Aquele que se assenta sobre o trono é digno de receber glória, honra e poder, porque Ele criou
todas as coisas e elas devem à vontade dEle a sua própria existência (4.11). Esta adoração da
parte de toda criatura (ktisma) pertence (5.13) não somente a Ele, como também ao Cordeiro
- Conclusão
57
Diante de tudo quanto já foi colocado, podemos afirmar que o sentido do verbo ,
utilizado por Paulo em Efésios 3.9, é “através de sua palavra e dos seus atos, fez todas as coisas,
nos céus e na terra, as espirituais e as não espirituais”, tendo assim, pois, um sentido de atividade
afirmativa.
Como foi dito acima, o próprio AT (LXX) ao utilizar o termo supracitado, o faz no
sentido de “através de sua palavra e de seus atos, fez todas as coisas, nos céus e na terra, as
Como exemplo temos Gn 1 (bārā‟) que exprime atividade criadora incomparável de Deus,
no qual a palavra e o ato são a mesma coisa. Refere-se não somente à atividade de Deus em
chamar à existência o mundo e as criaturas individuais, como também às suas ações na história
Com exceção de Ag2.9 e 1Ed5.53, todas as outras referências que empregam o termo se
Em Paulo a doutrina da criação diz respeito à natureza da primeira criação, e as que têm
como tema a nova criação, que teve em Cristo seu inicio. Sendo que a segunda relaciona-se com
Portanto, com base no que já foi apresentado reafirmamos que o significado do verbo
em Efésios 3.9 é “através de sua palavra e dos seus atos, fez todas as coisas, nos céus e
Em outros textos paulinos podemos constatar a mesma idéia através do uso do verbo
Nas 3 ocorrências restantes, que são 1Co11.9; Ef2.15; 4.24, o significado é “instituir”,
“chamar à existência”.
10 Paráfrase
E esclarecer a judeus e gentios, que no seu decreto redentor para o mundo, Deus é
salvador dos gentios também; tal como planejou e conservou em secreto desde o principio, o qual
fez todas as coisas, tanto as espirituais quanto as não-espirituais através de Jesus Cristo.
59
11 Comentário Teológico
nossa exegese apresentamos dados informativos sobre diversos aspectos relacionados à Epístola
aos Efésios. Agora faremos uma breve exposição do contexto imediato no qual está incluído a
Para se entender o presente parágrafo é preciso ter em mente que o apóstolo conhecia por
experiência pessoal quão difícil era unir judeus e gentios numa unidade orgânica, numa unidade
gentílico que os pagãos levavam na carne, pelo fato de não serem circundados. Qualificados
dessa forma por judeus não convertidos a Cristo, que se gabavam de sua circuncisão, sem se
darem conta de que possuíam apenas o sinal, não a realidade significada pelo sinal.
Paulo traçou um paralelo entre aquele tempo em que os gentios eram, e ainda agora
continuavam sendo, considerados em tão baixa estima, vivendo imensa miséria, visto que viviam
sem Cristo, sem cidadania, sem amigos, sem esperança e sem Deus, com o “porém agora” do
v.13.
Sem Cristo, porque antes de sua conversão esta aproximação “em Cristo” ainda não fora
experimentada por eles em sentido algum; sem cidadania, pois estavam excluídos das bênçãos
Jeová” (Sl25.14); sem esperança, porquanto a esperança cristã tem por base a promessa divina; e
sem Deus, não significando que viviam “completamente abandonados por Deus”, pois sabemos
que isto não é verdade, porquanto desde a eternidade já estavam incluídos nos decretos eletivos
de Deus. Mas, sem Deus no mundo pelo fato de seus deuses serem uma mera ilusão.
“naquele tempo” (v.12). Anteriormente, “longe”, agora, “perto”. Estas expressões têm seu fundo
templo. Aquele templo ficava em Jerusalém. Israel, portanto, estava “perto”. Em outras terras os
gentios estavam “longe”. Isso era verdadeiro não só de uma maneira literal, mas, sobretudo num
sentido espiritual: geralmente, eles careciam do verdadeiro conhecimento de Deus. Isaías escreve
umas palavras que lançam luzes aqui em Ef2.17: “como fruto dos seus lábios criei a paz, paz para
os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor, e eu os sararei” (Is57.19; // At2.39).
61
Quando Jesus aboliu em sua carne a lei de mandamentos com suas exigências, a barreira entre
judeus e gentios deixou de existir. Agora já não mais importava o sinal externo ou a ausência do
mesmo, ambos seriam aproximados via Evangelho e via Cristo. Aproximados tanto de Deus,
como de si mesmos, entre si. No tocante a estes dois grupos, fez de ambos um, mesclando-os em
uma unidade orgânica, ou seja, a Igreja. Que a seqüência aqui é à reconciliação entre gentios e
judeus, é óbvio do fato de que estes são os dois grupos mencionados no contexto imediato (vs.11
e 12).
É a este mistério, resumido por Paulo anteriormente no capítulo 2.11ss, como ele próprio
afirma ter feito (3.3), que o apóstolo estará se referindo em todo capítulo 3. O próprio inicio do
presente capítulo, ou seja, as palavras “por esta razão”, indica por si mesmo sua íntima conexão
material com o capítulo precedente. Não obstante, existe progresso no que concerne ao
pensamento. O capítulo 2 mostrou o que Deus fez. O capítulo 3, portanto, indicará o que a igreja
Depois de explicar o mistério, de forma breve e resumida, ao qual lhe foi revelado, Paulo
segue reivindicando para si a autoridade apostólica como veículo de revelação desse mistério
(vs.2, 3, 4). Paulo também esclarece que este mistério não havia sido ainda revelado como agora,
o que significa dizer que os profetas do AT tiveram uma revelação embrionária acerca do
mistério. Dessa forma, a missão da igreja encontra as suas raízes mais profundas na missão de
Israel; esta, por sua vez, as baseia intimamente no plano redentor de Deus para toda a
Um resumo pode ser visto a partir do fato de que, a humanidade não compreendeu sua
Deus. O resultado alcançou proporções catastróficas não apenas para a raça humana, como
também para toda a criação (Gn4-6). O julgamento inevitavelmente e necessário veio através do
dilúvio (Gn7-8); contudo, depois e através dele, Deus permaneceu fiel à sua criação e à
humanidade pelo fato de ter poupado alguns, simbolizando uma nova criação (Gn8-9). Apesar
disto, gerações posteriores novamente manifestaram a sua natureza caída no episódio da torre de
Babel. De novo, o julgamento de Deus se estendeu a toda a humanidade, mas essa vez não com
um dilúvio, e sim com a dispersão da humanidade sobre a terra em alienação mútua (Gn11).
A esta altura, Deus se relacionava com todos os povos do mundo. Mas, no capítulo 12
Deus com o mundo das nações em Gn1-11 se torna o pano de fundo para a história de Israel, que
entre Deus e a humanidade. Neste sentido, Gn12.3 se torna fundamental para a história da
serão benditas todas as famílias da terra”. Assim, como a desobediência de um homem determina
Isaías expõe com mais clareza esta relação entre a criação e a redenção. É a convicção de
que Iahweh subjugou o caos na criação que gera a confiança de que ele socorrera redentivamente
criação não como uma obra separada por si mesma, adicional aos atos históricos de Iahweh, mas
como o primeiro dos milagrosos atos históricos de Iahweh tanto como criador do mundo como,
ao mesmo tempo, o criador de Israel (4.1, 7, 15; 44.2, 21). Ele é o criador no sentido duplo, pois
não somente causou a existência física do seu povo, mas mais especificamente, “escolheu” e
63
“redimiu” Israel. Em Isaías 44.1ss, a criação de Israel é coordenada com a sua eleição. De fato,
nesta passagem, criar (bâra‟) e redimir (gâ‟al) podem ser usados sinônimamente (42.5; 43.1).
Os relatos da criação do Gênesis e Isaías não são os únicos que ligam intimamente a
(hasdtêy Yhvâh) (v.1). Mesmo assim, uma porção considerável no meio do Salmo trata de vários
atos da criação, que devem ser considerados junto com outros atos salvíficos de Iahweh, aludidos
no Salmo.
O Sl 74 começa com um apelo a Iahweh, “que opera feitos salvadores” (pô‟êl yshû‟ôth) e
então, relata, as obras de Iahweh na criação (vs. 12-17). Outros salmos anunciam louvores à
Certamente esta verdade estabelece a base no NT que vincula a obra redentora de Jesus a seu
Iahweh. “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.
Assim, por todo AT, são encontradas profecias a respeito da inclusão dos povos
gentílicos, dentro do sistema divino. “... Pois toda a terra é minha” (Êx19.4-6); “Que todos os
povos da terra conheçam o seu nome...” (1Rs8.43); “Para que todos os povos da terra saibam que
Ao que parece, a inclusão dos povos gentílicos dentro do sistema divino, não foi surpresa
para os israelitas, mas sim, que os gentios ficariam em pé de igualdade com eles. A igreja, como
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entidade distinta e muito mais elevada que a comunidade de Israel, não foi antecipada pelos
judeus.
Agora, através da graça que Paulo recebeu de pregar aos gentios (vs.7, 8), o apóstolo
defende até ao fim o principio da liberdade quanto à lei em seus aspectos salvíficos e cerimoniais,
o principio da salvação para “todos os homens sem qualquer distinção quanto à origem nacional e
racial e sem exigência para alguém fazer parte da igreja por meio de um desvio (1Tm2.3-7; 2
Tm4.1-8; Tt2.11).
No v.9, Paulo enfatiza sua função ministerial em relação ao mistério revelado, que é, não
apenas anunciá-lo (v.8), mas, esclarecê-lo, explicá-lo com clareza, o que antes estava oculto em
Deus, conservado em segredo dos homens desde a eternidade até a hora certa, a saber, que tanto
de esclarecer e por se encontrar no 1º aoristo possui uma qualidade de ação punctiliar, marcando
o aoristo ingressivo que acentua o aspecto inicial, o principio ou começo da ação. Trazendo o
entendimento de que o mistério começou a ser esclarecido em Paulo, continuou a ser esclarecido
através da igreja formada por judeus e gentios (v.10), devendo até aos dias de hoje, continuar
Ou seja, o Deus que conservara em secreto o seu decreto de redenção para o mundo, era o mesmo
Deus que criou todas as coisas. O Deus, que em virtude do fato de ter criado todas as coisas,
também demonstra ser ele aquele que dispõe soberanamente de seus destinos. Aquele que criou o
universo agora começou uma nova criação, e um dia a completará. Na verdade, o mistério inclui
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a grande promessa de que finalmente Deus unirá todas as coisas em Cristo e debaixo de Cristo.
Dessa forma, Paulo junta a criação e a redenção. O Deus que criou todas as coisas no principio,
E como desde o principio da carta, Deus ao edificar sua nova sociedade, demarca a esfera
não só das bênçãos outorgadas e recebidas, mas também o espaço onde os padrões desta nova
sociedade seriam vividos pelos seus cidadãos, ou seja, “em Cristo”. Paulo enfatiza que o Deus
que fez todas essas coisas “em Cristo”, também criou todas as coisas “através de Jesus Cristo”.
12 Comentário Homilético
Introdução
É interessante observamos como ainda hoje muitos cristãos parecem não entender a
inferioridade acerca da obra de Cristo em suas vidas. Frases como: “o que teria sido nós se o
Meu questionamento é: “será que realmente, nunca havia feito parte do plano de Deus,
Elucidação
A carta aos Efésios, escrita pelo apóstolo Paulo por volta de 61 a.D., trinta anos, mais ou
menos, depois da sua conversão, tem seu ponto central no que Deus fez por meio da obra
histórica de Jesus Cristo, e continua fazendo através do seu Espírito hoje, a fim de edificar a sua
nova sociedade no meio da velha. Trata-se da unidade de todos os crentes, “A Igreja Gloriosa”.
claramente que não há, da parte de Deus, nova revelação da verdade e nem novos pensamentos
em divergência do seu plano original, imposto por novos acontecimentos. Mas que simplesmente
esta verdade, a qual Paulo chama de mistério, estava oculta em Deus, ou seja, conservada em
Proposição
Mas, o que este mistério tem haver com o plano de salvação de Deus?
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Sentenças
O mistério significa o decreto redentor de Deus para o mundo, a saber, que os gentios são
co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio
Paulo, calmamente, lembra a seus leitores gentios de que sua prisão, instigada por
inimigos judaicos, resultava de ter advogado plenos direitos de liberdade para os gentios na Igreja
Cristã.
Este mistério começou a ser esclarecido em Paulo, continuou a ser esclarecido através da
igreja formada por judeus e gentios (v.10), e deve até aos dias de hoje, continuar sendo
Conclusão
Levando-se em consideração que nos tempos antigos, o mundo religioso era dividido em
dois povos, a saber, judeus e gentios. Ao qual o apóstolo Paulo se referia por “nós” e “vós”
respectivamente, concluímos que desde antes da fundação do mundo, já fazia parte do plano de
Deus a inclusão de povos não judeus nos decretos divinos. Não teríamos parte simplesmente na
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salvação comum, mas, mais especificamente, seríamos co-herdeiros e membros do mesmo corpo
e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho. Não seríamos salvos por
uma salvação própria a nós, com bênçãos inferiores, como que excluídos da sociedade; ao
13 Conclusão
pudemos ver claramente a verdade bíblica a respeito da definição do mistério revelado a Paulo,
da sua função ministerial em relação ao mesmo, e da extensão desta função ministerial confiada à
igreja; ainda que, não de modo abrangente e erudito, mas, com ênfase em alguns aspectos que são
Deus revelado aos homens, e de sua função ministerial em relação a esse ministério revelado, ela
eclesiologia cristã. Se, contudo, ela possuir uma interpretação que corresponda a verdade bíblica,
poderá desenvolve-se no estudo de outros elementos da teologia prática, já tendo uma base sólida
em que se apoiar, possuindo, assim alimentos norteadores, para que, com o auxilio do Espírito
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Santo, possa ter posicionamentos verdadeiros concernentes às doutrinas que estão situados no
ficaram bastante claras. E desejamos aproveitar essa oportunidade para apresentarmos em caráter
retrospectivo algumas realidades escriturísticas que foram por nós enforcadas no decorrer dessa
exegese, que se fundamentou na epístola de Paulo aos Efésios, capitulo três, versículo nove.
Vimos que o mistério significa o decreto redentor de Deus para o mundo, a saber, que os
Constatamos que esse mistério fora agora revelado a Paulo, a quem Deus constituíra
apóstolo aos gentios, e que descreve o mistério como aquilo “que pelas eras estivera oculto em
Esse mistério ao ser revelado por Paulo a todos (judeus e gentios, igualmente) fecha o seu
conteúdo em verdade eterna, porém, inaugura o conteúdo a estar sendo revelado tanto pela
pregação mundial do evangelho, como pela cristalização de suas preciosas verdades na vida e na
Paulo fecha seu raciocínio mostrando que, o mesmo Deus que cria todas as coisas,
Por conseguinte, o principio da salvação para “todos os homens” baseado na lei em seus
para “todos os homens” sem qualquer distinção quanto à origem nacional e racial e sem
Com a exposição deste trabalho pudemos concluir também, que este mistério revelado a
Paulo, teve em seu esclarecimento, apenas o início, visto que até aos dias de hoje é proclamado
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