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2017 às 10h35
Bruno Molinero
“Pode-se dizer que foi a partir de ‘Reinações’ que Lobato se consolidou como
escritor”, afirma Marisa Lajolo. A professora, pesquisadora e atual
curadora do prêmio Jabuti é autora do livro “Monteiro Lobato – Um
Brasileiro sob Medida” (ed. Moderna) e coordenou atividades de pesquisa na
Unicamp relacionadas ao acervo do escritor.
Na entrevista abaixo, ela fala sobre Lobato, o prêmio Jabuti, a produção atual
de literatura para crianças e o cenário do livro digital no Brasil. Confira.
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NOME Marisa Lajolo // IDADE 72
// PROFISSÃO professora,
pesquisadora e curadora do prêmio
Jabuti (Foto: Bruno
Poletti/Folhapress)
Qual o segredo de Lobato? Por que seus livros são lidos até hoje?
Com isso, ele penetrou no Brasil –coisa que pouco aconteceu depois dele.
Lobato tinha uma visão mercadológica extremamente moderna, ao mesmo
tempo que mantinha uma capacidade imaginativa fantástica.
Tem um livro dele interessante nesse aspecto, chamado “O Picapau Amarelo”.
Todas essas histórias que fazem sucesso hoje, repletas de heróis misturados,
fanfics, filhas de princesas do “Ever After High”… Tudo isso está nesse livro.
Nele, personagens como Peter Pan, Chapeuzinho Vermelho e Dom Quixote se
mudam para o Sítio do Picapau Amarelo. É fantástico.
Mas claro que teve alguns problemas, sobretudo na linguagem. Ele escreve o
português coloquial dos anos 1930 e 1940. Mas nada que um adulto culto,
lendo com uma criança, não resolva. Ou um professor interessado.
Ele foi um pouco punido pela briga com os modernistas. Ele não entendia o
futurismo, brigou com a Anita Malfatti. Isso é uma coisa que, em certo
sentido, atrapalhou a figura dele nos meios mais intelectualizados, na
academia. Mas, por outro lado, pode tê-lo aproximado do gosto mais popular,
distante das vanguardas artísticas.
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É nesse livro que surgem Emília, Narizinho e todo o
Sítio do Picapau Amarelo. O novo Reinações de
Narizinho (R$ 49,90) resgata essas histórias e os
desenhos das primeiras edições da obra. Divulgação
Eu me pergunto para onde vão todos esses livros. Porque, além da variedade
de títulos, a tiragem é um pouco exagerada também.
Aí eu descobri uma coisa: quem produz livro digital hoje no Brasil não é a
grande editora, que tem uma relação com a CBL [Câmara Brasileira do Livro,
que promove o prêmio]. São microempresas, é o cara que montou uma start-
up no fundo do quintal da casa dele. Foi um erro de divulgação do Jabuti.
Neste ano, queremos investir no diálogo com esses grupos. É
importantíssimo que a gente valorize esse tipo de obra.
Porque ela traz ferramentas que o livro de papel não tem, como a
interatividade, a possibilidade de o leitor fazer parte da história. Por isso que
começamos premiando o infantil digital –ele é mais sofisticado que o adulto.
No mundo todo é assim. Os últimos premiados em Bolonha são primorosos.