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Beberde

ARTIGO B et al.
revisão

Metacognição como processo


da aprendizagem
Bernadétte Beber; Eduardo da Silva; Simoni Urnau Bonfiglio

RESUMO – A teoria da metacognição e autorregulação como facilitadora


do processo de aprendizagem proposta neste artigo tem por objetivo
compreender os componentes cognitivos que envolvem a aprendizagem.
A pesquisa de cunho bibliográfico destaca o papel do mediador na busca
de alternativas e soluções para dirimir as dificuldades presentes no ato da
aprendizagem. A autorregulação torna-se presente a partir do momento
que o aprendiz estabelece uma relação de mediação entre a motivação, a
necessidade de aprender e a superação do desafio. Esse processo propõe
mecanismos e estratégias às necessidades de aprendizagem do aprendente
em forma de andaimes, visando ultrapassar obstáculos e administrar seus
erros.

UNITERMOS: Aprendiz. Aprendizagem. Autorregulação. Mediador.


Metacognição.

Bernadétte Beber – PhD em Engenharia e Gestão do Correspondência


Co­nhecimento, Faculdade AVANTIS, Balneário Cam­ Eduardo da Silva
boriú, SC, Brasil. Rua Onix, 25 – Cordeiros – Itajaí, SC, Brasil – CEP 88310-270
Eduardo da Silva – Mestre em Ciências da Educação, E-mail: edumikael@hotmail.com
Faculdade AVANTIS, Balneário Camboriú, SC, Brasil.
Simoni Urnau Bonfiglio – Mestre em Ciências da Edu­­
cação, Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE,
Brus­que, SC, Brasil.

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Metacognição como processo da aprendizagem

INTRODUÇÃO parte integrante do procedimento que pode ou


Aprender é diferente de compreender, pois não interferir na qualidade e estado emocional
provoca mudanças de comportamento, propor- do aprendiz.
ciona reflexão sobre o próprio fazer pedagógico Quando o sujeito compreende a forma pela
e faz do aprender um prazer. As situações de qual aprende, amplia sua capacidade de cons-
apren­­dizagem demandam diversas estratégias truir o saber, porém, em determinados contextos
para que seja viabilizado o aprender. O ensino se faz necessária a interferência de um mediador
aprendizagem é uma organização de procedi- que proporcione mecanismos de interação e su­­­­­­­
mentos, com função clara que suscita o sujeito peração para ultrapassar as barreiras arraiga­
à realização de tarefas. das do insucesso. A interação pode incitar ao
A busca do saber fornece a compreensão de aprendiz reflexão a respeito das possibilidades
como obter motivação para a aprendizagem. A e obstáculos a serem transponíveis para a busca
metacognição é a consciência de si próprio, co- do conhecimento.
nhecendo seu processo de aprender. Os aspectos
conativos (de cognição) estimulam a confiança, PROCESSO DE METACOGNIÇÃO - AUTOR­
a autoestima e o afeto. “A metacognição é um REGULAÇÃO
processo de interação, em que os elementos Aprender nada mais é do que mobilizar sis-
prin­­cipais são seus próprios processos de apren- temas cognitivos que proporcionam mudanças
dizagem que basta o contato com a informação dos conhecimentos independe dos fatores e/ou
sem necessidade de interagir com ela”1. do contexto. Quando o sujeito produz aprendiza­
Desde 1970, os processos cognitivos são es- gem efetiva, esta se torna duradoura e, por con­
tudados de forma mais aprofundada, oferecendo seguinte, modifica o comportamento. Quando
alternativas para o entendimento e melhoria da essa mudança ocorre, demanda alta dose de
aprendizagem escolar. A teoria da metacognição mo­­tivação, isto é, para aprender precisa-se de
contribui de forma efetiva para que educadores um “motivo”. Aprender não pode ser confundido
e educandos desenvolvam suas capacidades com o compreender, pois a aprendizagem é de­
motivacionais, criando condições para ampliar o fi­nida a partir do comportamento do aprendente
desenvolvimento das competências intrínsecas, e de suas estruturas de pensamento.
potencializando o processo ensino aprendizagem. O aprender não se refere apenas ao cam-
Compreender os determinantes da apren- po edu­­cacional. Ele se insere em diferentes
dizagem e da metacognição leva o sujeito à au­ contex­tos, seja profissional, social, político, dentre
toaprendizagem, onde a autoconsciência e a outros, necessitando a utilização de técnicas e
busca da superação das limitações devem estar recursos mentais. O compreender pressupõe a
presentes no ato de aprender. Ao aprendente consciência do que envolve a aprendizagem na
cabe desenvolver a auto-observação para des- resolução de um problema. Essa tarefa requer
pertar suas competências até então adormecidas, comprometimento, tempo e autoestima, sendo
superando seus receios e obstáculos, assim, “a relacionada à motivação, pois, “[...] motivar é
metacognição é a capacidade de um indivíduo mudar as prioridades de uma pessoa, gerando
refletir e considerar cuidadosamente os seus pro- motivos onde estes não existiam”3.
cessos de pensamento, especialmente quanto à O motivo da aprendizagem não é o que se
tentativa de reforçar as capacidades cognitivas”2. aprende, mas as consequências de tê-lo apren-
Este artigo busca compreender os componen- dido. A aprendizagem é regada de valores, como
tes cognitivos que envolvem a aprendizagem, es- um sistema de recompensas e sanções onde as
clarecendo que a metacognição não é sinônimo experiências originam-se de estímulos extrín-
de eficácia e que a motivação não faz parte da secos ao sujeito. O intuito da criação de uma
anatomia do processo metacognitivo, é apenas cul­­­tura de aprendizagem é de promover ações

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onde o sujeito sinta-se aceito e recompensado. motivar e sustentar as áreas que apresentam
Aprender é muito mais que um processo mecâ­ ne­­cessidade de atenção.
nico de aquisição de conhecimento; é um cami­ A metacognição como processo da aprendi-
nho permeado de prazer e trabalho, em que a zagem é o conhecimento dos próprios produ­­­tos
superação dos obstáculos deve acontecer de cognitivos, isto é, o conhecimento que o sujeito
for­­­­­ma a proporcionar crescimento intelectual e tem sobre seu conhecimento. O aprendiz, na
emocional4. busca de regular os processos cognitivos, se
O ser humano tem como condição essencial de­­­para com atividades que o desafiam, levando-
seu desenvolvimento pleno, e dentre suas ex- -o à aprendizagem conforme demonstrado na
pectativas está a cognição, como um ideal de Figura 1.
desenvolvimento. Muitas vezes, ‘os resultados’ Para Figueira7, metacognição é um modelo de
relacionados à cognição e ao desenvolvimento processamento de informação das novas teorias
não apresentam a eficácia desejada, por esse mo- de desenvolvimento cognitivo. A esse respeito
tivo o sujeito fica à deriva, ou à margem do ‘ideal’. enfatiza que:
Por vezes, o indivíduo se depara com sinais de “A metacognição é composta por dois
atraso no desenvolvimento cognitivo de forma componentes, um de sensibilidade e ou­
tão marcante que se desequilibra, afetando todas tro de crenças. A sensibilidade diz res­
as possibilidades de ter uma relação positiva com peito à necessidade de se utilizar estra­
a aprendizagem. As exigências são muitas e é
tégias em tarefas específicas, em que o
o mediador (motivador ou obstaculizador) que
sujeito precisa saber o que fazer com ela
tem um papel significativo na solução desses
em função de seus objetivos. A crença é
possíveis problemas.
o conhecimento que a pessoa tem do seu
A respeito, Fonseca1 corrobora afirmando que:
potencial enquanto ser cognitivo, atuan­
[...] aprender a aprender envolve focar a do como agente de seu conhecimento
atenção para captar informações, formu-
e os resultados que consegue alcançar
lar, estabelecer e planificar estratégias
com este”.
para lidar com a tarefa, monitorizar a
performance cognitiva, examinar as in­ A interação entre esses processos é complexa,
formações disponíveis e aplicar procedi­ pois compreende o conhecimento metacognitivo,
mentos para resolver problemas e sua as tarefas de aprendizagem, as variáveis, as pes-
adequabilidade. soas, as estratégias e as interações entre estas,
buscando unificá-las e torná-las significativas.
Os estudos advindos após 1970 rompem os
paradigmas do saber e do não saber, trazendo
à tona a metacognição como alvo de reflexão,
onde, “[...] a ação regulatória prevê e estimula
a construção da aprendizagem desenvolvendo
a capacidade para direcionar estratégias, forta-
lecer o enfrentamento das tarefas mais difíceis
e ultrapassar os obstáculos”5.
A metacognição proporcionará ao aprendiz
não apenas a assimilação de conhecimento, mas
o desenvolvimento de competências, de planifi-
cação e comunicação, de informação sistêmica e
estruturada, buscando a compreensão do estilo
e perfil cognitivo, a fim de fortalecer áreas já de- Figura 1 – A espiral da evolução do conhecimento. Adapta­
senvolvidas e estruturadas, assim como alicerçar, do de Beber6.

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O sujeito precisa estar côncio da capacidade desenvolvimento motivacional do sujeito. Este


intraindividual de adquirir conhecimento, na proporciona o vínculo e o despertar da motivação
qual a ‘noção de si’ proporcionará o desenvolvi- e a autonomia, que de certa forma significa a
mento de suas habilidades, competências, pos- faculdade de “reger suas próprias leis”.
sibilidades e limitações enquanto ser cognitivo. A aprendizagem acontece por meio de ‘ações
Quando o sujeito possui conhecimento de distintas’. Para aprender é necessário ‘aprender
suas especialidades, eficácias e limitações con- a aprendê-las’, dessa forma, é importante saber
segue ter mais clara a estratégia adequada para quando e como se deve utilizar as estratégias
a realização de determinada tarefa e, por conse- de aprendizagem. Essas estratégias permitirão
quência, domina as ações que serão necessárias controlar as informações que o mediador utili-
para serem colocadas em prática. za. Embora haja diferentes formas de mediar,
O controle e a regulação dos processos de cog- com maior ou menor êxito, o compartilhar da
nição tornam o sujeito ativo no desenvol­vimento aprendizagem costuma ser mais eficaz quando
das atividades, independente das ex­pe­­­riências, se promove uma discussão a respeito das apren-
recursos e estratégias utilizadas para aprender. O dizagens. O mediador exerce tarefas diferentes,
conhecimento metacognitivo coor­dena e controla assumindo vários papeis, para atingir os diferen-
de forma efetiva e eficaz as ten­­tativas de apren­
tes aprendizes.
dizagem, levando à resolução dos problemas.
Geralmente se aprende melhor quando os
Quando isto não ocorre, o mesmo sujeito ex-
elementos de aprendizagem são colocados num
perimenta sentimentos de ansiedade diante da
nível hierárquico superior, isto é, de uma memó-
tarefa não realizada. A existência de feedback
ria simples para a mais complexa, em relação ao
interno proporciona um movimento de mudança,
desafio na superação dos obstáculos. A melhora
permitindo ao sujeito agir sobre as sensações
da aprendizagem frente os desafios acontece
para modificar o seu comportamento.
mais especificamente, quando o mediador aper-
Os processos cognitivos possibilitam a com-
preensão e a conscientização do sujeito por feiçoa sua forma de ensinar3.
meio dos processos mentais que compreende O referido autor elenca ações inerentes ao
ter a consciência, quer das atividades cognitivas, papel do mediador que torna o aprendiz ator de
quer de seus produtos, ou do autoajustamento sua aprendizagem:
que o sujeito toma quanto ao julgamento e suas a. atender para o motivo;
de­­cisões. Para Fialho8, “o fato real é um só, o b. partir do conhecimento prévio;
significado dado pelo observador muda este fato, c. dosar com qualidade adequada;
o qual para ser a síntese do objeto em si com o d. condensar os conhecimentos básicos;
olho da mente do observador”. e. diversificar as tarefas;
O sujeito que se encontra em sintonia com f. planejar situações para recuperação;
suas habilidades e potencialidades de autorre­ g. organizar e ligar uma aprendizagem a
gulação e metacognição tem condições de de­­ outra;
senvolver habilidades múltiplas, dando sentido h. promover reflexão sobre conhecimento;
para seu fazer e, principalmente, adquire força i. proporcionar tarefas cooperativas;
intrapsíquica para sustentar as pressões, geran­ j. instruir planejamento e coorperação.
do confiança na própria capacidade para ultra- Esse conjunto de ações proposto por Pozo3 faz
passar qualquer obstáculo. com que o aprendiz passe a compreeder os pro-
cessos que envolvem a aprendizagem, na busca
O papel do mediador no processo de meta- de recursos e tarefas que o motivem a aprender.
cognição Na intermediação entre o mediador e o apren­
O mediador da aprendizagem tem papel re- diz, Frison9 define que “[...] o educador inicia o
levante na promoção de um clima favorável ao processo de auxiliar o sujeito a aprender melhor,

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fazendo articulações e estabelecendo relações mento de aprender recíproco, construindo


entre os saberes [...]”. estratégias pessoais para a aprendizagem;
Ao mediador cabe a função de favorecer e d. levar o sujeito a formular hipóteses, ex­
construir estratégias que direcionem o aprendiz peri­mentar e confrontar resultados numa
à sua tarefa, independente dos obstáculos que atitude in­vestigativa na solução de pro-
possa encontrar, trabalhando numa perspectiva blemas;
de superação, que é inerente ao processo de e. analisar os procedimentos e reconhecimen-
construção do conhecimento. Nessa perspectiva, to da tarefa, valorizando o que foi realizado;
deve direcionar estratégias que levem o aprendiz f. apresentar registro do plano de trabalho,
à construção de seu próprio conhecimento, numa de forma a “controlar” o que foi realizado
atitude ativa e coerente centrada na necessidade servindo como um plano individual de
e na oportunidade de reflexão sobre o porquê e tra­balho;
sobre a forma de fazer cada tarefa. Quando isso g. produzir material portfólio como registro
ocorre, a reflexão proporciona a construção da do desenvolvimento das ações realizadas
autorregulação, gerando a assimilação do pro­ mostrando o que foi produzido.
cesso pelo sujeito, muitas vezes, de forma des­ Para aprender, o mediador deve levar o apren-
percebida. diz a compreender e experienciar a relação entre
A construção da autorregulação depende do ‘o que fazer’, para alcançar o ‘como fazer’. A Fi-
desenvolvimento de competências que permitem gura 2 demonstra as atitudes do mediador frente
ao aprendiz saber de forma realista o que neces- às ações de aprendizagem, para evitar erros que
sita aprender, organizar, planejar e desenvolver, os aprendizes enfrentam na aprendizagem.
determinando objetivos e selecionando estraté- A partir das ações supracitadas o mediador
gias para a realização da atividade. promove ações cognitivas-comportamentais que
A autorregulação é um sistema auto-organi- levam à construção do conhecimento. Para Fri-
zado que necessita cognição, emoção, motiva- son9, “as regulações são inerentes à construção
ção, objetivo e motivo para a ação. Sendo assim, do conhecimento e a passagem da regulação
o mediador deve implementar estratégias para para a autorregulação se dá através de um pro-
estimular o aprender constante de formas dife- cesso ativo que envolve uma ação dinâmica,
renciadas, onde o aprendiz encontre a melhor temporal, intencional, planejada e complexa”.
forma ‘de fazer’ para superar os obstáculos. “De Quando o mediador identifica as dificuldades
fato, poderíamos afirmar que ensinar é ajudar do aprendente passa a compreendê-las, neces-
os alunos a identificar as diferenças entre suas sitando modificar suas estratégias pedagógicas
formas de fazer, de pensar, de falar, de sentir e
de valorizar [...]”10.
Para Veiga Simão11, a autorregulação ocorre por
meio de processos considerados como ‘andaimes
facilitadores da aprendizagem’, constituindo-os
em:
a. acentuar passo a passo a realização da ta-
refa – o que fazer e sua contextualização,
objetivando auxiliar o sujeito a construir
a reflexão e seus guias pessoais;
b. questionar, estimulando o sujeito à autorre­
flexão e ao diálogo, num movimento de
ar­­gumen­tação e análise;
c. levar o aprendiz à cooperação, através do Figura 2 – Atitudes do mediador frente às ações de apren­
par­­tilhar com o outro as ações num movi- dizagem. Adaptado de Sanmartí10.

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para que o processo de aprendizagem ocorra, “Convém considerar que somente quem come-
criando uma cultura que promova e valorize o teu os erros pode corrigi-los, pois a função do
“apren­der a aprender”. Essa construção pode professor é propor ações que ajudem os alunos
ocorrer de forma conjunta, num grupo, ou na a se autorregularem”10.
relação entre o mediador e o aprendiz, num mo- Autorregular e autoavaliar leva o aprendiz a
vimento de internalização progressiva, gerando um contato direto com sua dificuldade na busca
a construção do conhecimento. da superação, sua autonomia. Ao mediador cabe
O sujeito somente pode ser considerado au­ proporcionar esse momento, pois o aprendiz
torregulado se conseguir desenvolver critérios nem sempre consegue autoavaliar-se de forma
internos que o ajudem a elaborar, executar ati­­ competente.
vidades autodirigidas e independentes e que A autonomia na metacognição e autorregu-
possibilite verificar seus avanços com base na lação está vinculada ao desejo pessoal de inte-
ação e na realização. grar e organizar os próprios comportamentos,
proporcionando um autogoverno sobre suas
O aprendiz em processo de autorregulação habilidades e competências para aprender.
A construção do conhecimento surge da capa­ A aprendizagem não ocorre de forma descon­
cidade de usar as informações que facilitam o textualizada, pois o aprendiz caminha ao encon-
aprender e a capacidade de se desenvolver na tro do seu processo de crescimento. Para Frison9,
relação com o grupo através de interações para “ela ocorre quando se consegue exercer alguma
alcançar a construção cognitiva. Nessa relação
espécie de controle sobre a própria ação, sobre a
de troca, a aprendizagem não ocorre somente na
busca de opções para conseguir metas em função
relação aprendiz-aprendiz, mas na relação me-
de seus interesses e valores [...]”.
diador-aprendiz e aprendiz-mediador-aprendiz,
Quando o sujeito é autônomo torna-se capaz
onde o mediador tem o papel de apontar o cami-
de refletir conscientemente, resolve problemas e
nho, a fim de se chegar ao ideal para aprender.
consegue fazer um diálogo consigo mesmo em
Desenvolver a habilidade de autorregulação
relação a sua aprendizagem. Essa capacidade
depende do planejamento do tempo, onde o me­­
é uma competência que se constrói ao longo do
diador e o aprendiz organizam e determinam um
processo, não é inata e nem se constitui sem ter
espaço na rotina para a realização de tarefas, in-
dependentemente da complexidade da atividade, uma intenção clara para que isso ocorra.
a fim de promover a superação dos obstáculos. Nesse contexto, o educador e o aprendiz assu­­­­
Outra forma de aprender se caracteriza na mem um papel extremamente ativo onde ambos
in­­­­teração com outro aprendiz que tenha mais têm o compromisso e a responsabilidade no
experiência e se proponha selecionar, elaborar, pro­­­­cesso da autorregulação da aprendizagem.
discutir, pesquisar, organizar, sistematizar in- Quando ocorre o fracasso é necessário diagnos-
formações e tomar decisão do que o como vai ticar onde se encontra o problema, se no aluno
aprender. Essa capacidade de analisar e escolher ou no método utilizado pelo mediador. Se no
a melhor forma de aprender é resultado da ex- aluno, este deve verificar sua rotina e as tarefas
perimentação de diversas situações que ocorrem a serem realizadas na busca da superação das
no grupo, pois cada indivíduo tem uma forma dificuldades; se no professor, este deve reorgani-
própria para aprender. zar seu planejamento e suas estratégias de ação.
A condição para aprender está na mudança Para Bonfiglio5, “aprender um conteúdo é per­
da concepção do erro. É no desacerto que se ceber como ocorre a compreensão e o enten­
busca a superação da aprendizagem. O erro é di­­­­­mento dos fenômenos metacognitivos, [...]
um ponto de partida para aprender, cabendo con­­­­­siderando-se o conhecer sobre seu próprio
ao mediador mudar esse status, onde erro não co­­nhecimento, conhecimento dos próprios pro-
é sinônimo de fracasso, tão pouco insucesso. cessos cognitivos, e as formas de operação de

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autorregulação e automonitoramento”. O conhe- e aprendiz-mediador-aprendiz, muito embora o


cimento prévio é determinante para o processo aprendiz seja o protagonista do saber, indepen-
de aprendizagem, pois serve de alicerce para o dente dos desafios que se depara.
movimento de assimilação e compreensão de O desafio está em ter consciência dessas pos­­­
conteúdos mais complexos. sibilidades, promovendo a autonomia nas in­
terações, saindo da prática controladora da aqui­
CONSIDERAÇÕES FINAIS sição dos conhecimentos, afinal o aprendente
que se responsabiliza por seus processos de
O processo de compreender os mecanimos da
apren­­­­dizagem passa a ser seu próprio regulador,
aprendizagem envolve a metacognição e a au-
tirando do mediador a responsabilidade pelo
torregulação, pois estes possibilitam mudanças
sucesso ou insucesso do processo de aquisição
quanto à forma de aprender. O aprendiz não é
do conhecimento.
um simples receptor de informações, mas agente
Investir na promoção de estratégias de autor-
ativo no processo da construção do conhecimen-
regulação da aprendizagem valoriza e estimula o
to e o mediador é o facilitador do processo de desenvolvimento de habilidades e competências
aquisição do conhecimento. que promove o aprender e o reaprender. A apren-
Para que a autorregulação ocorra de forma dizagem ocorre pelo envolvimento de fatores
eficiente, o sujeito envolvido deve estar engajado cognitivos/metacognitivos, além das atividades
no processo, lidando com as variáveis contidas que dependem de propostas e alternativas dife-
no movimento de aprender, onde a necessidade renciadas para estimular a superação de etapas
de aprender deve estar inserida nas ações hu- já estabelecidas pelos processos de aprender.
manas, tanto na cognição quanto na motivação. Portanto, quando a metacognição está presen-
A motivação está no processo de aprendiza- te, o aprendiz reconhece suas potencialidades e/
gem, pois provoca mudanças de comportamento ou dificuldades, ultrapassando limites e obstácu-
em relação às possibilidades de aprender. A los. O avanço está na tomada de consciência do
aprendizagem nem sempre é solitária, envolve saber e do não saber, num processo cons­­tante de
a relação aprendiz-aprendiz, mediador-aprendiz autoavaliação para alcançar a au­torregulação.

SUMMARY
Metacognition as learning process

The theory of metacognition and self-regulation as a facilitator of the


learning process proposed in this paper aims to understand the cognitive
components that involve learning. The research literature highlights the
nature of the mediator role in the search for alternatives and solutions to
resolve the present difficulties in the act of learning. Self-regulation becomes
present from the moment the learner establishes a relationship between
mediation motivation, the need to learn and overcome the challenge. This
process proposes mechanisms and strategies to the learning needs of the
learner in the form of scaffolding, aiming to overcome obstacles and manage
their errors.

KEY WORDS: Apprentice. Learning. Autoregulation. Mediator. Me­ta­


cognition.

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Trabalho realizado na Faculdade AVANTIS, Balneário Artigo recebido: 15/5/2014


Camboriú, SC, Brasil. Aprovado: 21/6/2014

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