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O Rei Demônio Foca Em Sua Carreira Por Questões

Monetárias Parte 4

Ashiya, logo após chegar de viagem da decepcionante exibição


especial do Museu Nacional de Arte Ocidental, largou o panfleto do
museu no porta-cartas. Depois de quebrar ao meio um bloco de
udon com risco de validade, começou a cozinhar o macarrão
enquanto esperava pelo retorno de Maou.
Não tinha como os dois conseguirem sobreviver com apenas a
comida que havia na geladeira. Ashiya também economizou seu
próprio dinheiro, uma parte servia para juntar fundos para suas
investigações em museus, por isso ainda conseguia fazer uma
quantia limitada de compras. Ele mantinha essa economia em
segredo do seu soberano.
— Ugh. Tenho certeza que ele trará mais daquelas batatas fritas
com pimenta preta, eu sei disso... — Expulsando os insetos que
entraram voando pela janela aberta, olhou para o relógio. — Hmm...
Vossa Majestade Demoníaca está atrasada.

— Então você se chama Sadao Maou, e você é Emi Yusa? Tudo


bem. Então poderiam me dizer por que estavam brigando naquele
cruzamento?

— Eu estava lá para acabar com esse homem!

O Rei Demônio e a Emília estavam sentados em cadeiras


dobráveis na subestação de polícia de Hatagaya; um oficial enrugado
estava sentado diante dos dois.

— Ouça, senhorita, não sei o que seu amigo aqui fez para
merecer isso, mas não há desculpa para andar por aí apontando uma
faca para ele. Você só precisa se acalmar e conversar sobre isso, tudo
bem? — O conselho do oficial foi o suficiente para fazer com que Emi
Yusa, também conhecida como Heroína Emília, ficasse furiosa.
— Eu... O que você acha que ele é para mim...?!

— Neste exato momento — interveio Maou, com um uma


carranca irritada. —, acredito que ele está achando que estávamos
tendo uma briga de casal.
— Bem, se estou enganado, peço perdão. Hoje em dia você vê
muito esse tipo de coisa, entende? Ouçam, só conversem sobre
isso...., se vão terminar, tentem ser um pouco mais discretos, pode
ser?

— Eu já te disse, não temos esse tipo de relação!

Um morador nas proximidades chamou a polícia quando viu a


briga. Agora, o Rei Demônio e sua eterna rival, a Heroína, estavam
na estação de polícia, sendo reprimidos.

Precisou de quase uma hora para os dois serem repreendidos


sobre os perigos da violência doméstica antes que fossem liberados.
Emília saiu com desânimo. Parecia que a provação lhe causou uma
certa dor emocional.

— Vou deixá-lo ir hoje. Mas, na próxima vez, você não me


escapará.
— Ó, o quê, você está planejando trazer o rolo de massa na
próxima?

Emília preferiu ignorar.

— Hmph. Espero que esteja feliz por ter ganhado mais tempo
de vida. E esta noite não foi um desperdício. Quero que saiba que eu
decorei seu endereço. Acho que agora você não terá uma noite de
sono tranquila pelo resto de sua vida.

— Você está soando mais como um chefão secundário do que


uma Heroína. — Enquanto Maou sentia um certo medo de sua
ameaça descarada, uma dúvida brotou em sua mente. — Ah, a
propósito, e o meu guarda-chuva?

Por um momento, o rosto de Emília revelou sua incapacidade


de compreender a pergunta. Então, ela deu uma risada arrogante.
— Você disse que eu poderia jogar fora depois de usar. Então o
fiz! Também tive a certeza de destruí-lo por completo antes disso.

— Ei, isso foi maldade!

A angústia que vinha do fundo de seu coração era verdadeira.


Graças a todo o esforço da vizinhança na limpeza do bairro Shibuya,
estava ficando difícil encontrar guarda-chuvas abandonados.

— E por que uma Heroína como eu aceitaria alegremente um


guarda-chuva do próprio Rei Demônio? Minha família poderia ser
amaldiçoada por gerações por causa disso! Eu jamais manteria um
câncer tão contaminado e podre perto de mim nem por um segundo!
— Para mostrar sua sinceridade, Emília pegou um lenço, de cor rosa
e bonitinho, e começou a limpar as mãos. — Sou a inimiga jurada da
raça dos demônios e de tudo o que vem deles. A partir de amanhã, é
melhor se cuidar quando estiver na rua durante a noite!
Com essa fala final e nada heroica, desapareceu na noite de
Hatagaya, com seus passos um pouco instáveis ainda.

— Bem, era tudo o que eu precisava! — A Heroína perseguiu o


Rei Demônio através de vários mundos. Mas por quê? Nem mesmo
parecia que algo importante havia acontecido. E ele ainda tinha que
trabalhar amanhã.
O dia já estava começando a amanhecer enquanto ele
murmurava a si mesmo durante o caminho de volta.
— Cara, o Ashiya vai ficar doido quando saber que aquela
garota está aqui. Talvez eu deva manter isso em segredo por um
tempo.

Ele descobriu na manhã seguinte.

Já que o turno de Maou começava à tarde, isso significava que


o segredo foi revelado enquanto comiam simples omeletes — sem
recheio, sem ketchup, sem nada; feitos com os ovos de tamanho
médio que Ashiya comprou durante o desconto da última noite.

Os dois trocaram olhares quando a campainha tocou. A MHK


havia acabado de visitá-los ontem. O vendedor de jornais há muito
desistira do local. O aluguel e a conta de telefone eram descontados
direto da conta deles. Isso significava que devia ser alguém novo de
porta em porta. Sequer se incomodaram em pensar que fosse
alguma encomenda para eles. Esta era uma realidade que não existia
nem em seus sonhos.

— Sim? Quem é? — gritou Ashiya, de trás da porta. Eles não


poderiam fingir que não estavam em casa; a ventilação da cozinha
estava funcionando.

— “Quem é?” Bem, muito obrigada pela grande recepção


educada! Te encontrei, Alciel! O último dos Quatro Grandes
Demônios Generais!

Em resposta, Maou engasgou. Ovos mexidos desceram pela


sua traqueia, fazendo-o tossir e expelir pedaços de ovos pelo nariz.
Foi tanto uma resposta agonizante quanto nada ameaçadora.

— Q-quem é você!?

Em um instante, Ashiya afastou-se da porta com um pulo,


preparado para a batalha.
— Quem? Lembro que na última vez que me perguntou isso,
estávamos batalhando no Castelo Demoníaco. Ainda se lembra, não
é? O nome da Heroína, Emília Justina?

— Heroína Emília! — Em pânico, Ashiya virou-se para Maou,


que lacrimejava enquanto tentava limpar os pedaços de ovos de suas
narinas.

— Vamos! Abra a porta e prepare-se para enfrentar seu


destino!

Era difícil acreditar, mas não havia ninguém no Japão além de


Maou que conhecia o nome Alciel. Ele temia que possíveis assassinos
os perseguiriam, mas quem imaginaria que a própria Heroína fosse a
primeira?

A realidade da situação o abateu logo de cara, mas, mesmo


assim, Alciel era o mais dotado dentre todos os estrategistas das
legiões demoníacas, e ele já havia compreendido a fraqueza do
inimigo.

Ao checar a tranca da porta, colocou a corrente no lugar,


fechou todas as janelas que davam para o corredor e desligou a
ventilação.
— Vossa Majestade Demoníaca! É a Heroína! A Heroína está
aqui!

— Ah...! Espere! Alciel, espere! Estou te mandando, abra! —


Havia um tom de pânico na voz da Heroína quando percebeu qual
era o plano dele.

— Sim, já estou sabendo, Ashiya. Ei, me alcance um


guardanapo.

— Rei Demônio! Você também está aí, não está? Desista e abra
essa porta!

A campainha tocava sem parar com um ritmo constante.


Ashiya não deu bola.

— O que devemos fazer, Vossa Majestade Demoníaca?! A


Heroína está à nossa porta!

— Ugh, não consigo tirar isso do meu nariz. Pois é, nos


encontramos ontem. Foi mal não ter contado.

— C-Como assim?!

O comentário calmo de Maou, enquanto enfiava um dedo no


nariz, foi o suficiente para silenciar Ashiya.

— Ela me atacou quando eu voltava do trabalho. Então alguém


nos denunciou, e fomos levados pelos policiais. Por isso que eu me
atrasei.

— O momento mais humilhante da minha vida! Eles... eles...


pensaram que eu era a namorada do Rei Demônio!

Eles conseguiam sentir as ondas de raiva irradiando de trás da


porta. Os olhos de Ashiya foram em sua direção por um momento,
mas rapidamente voltaram a Maou conforme gritava baixo sua
resposta:

— Mas por quê, meu soberano?! Por que não me contou


antes?!

— Olha, quero dizer... tipo assim, ninguém foi ferido, então....


Além disso, ela meio que está no mesmo barco que a gente.

— No mesmo barco...? Como assim?


Maou enfiou um dedo no nariz para retirar os restos do ovo.

— Ela me reconheceu como sendo o Rei Demônio Satan ontem,


mas não pôde usar sua espada. Aquilo lá é feito de Prata Sagrada,
né? O metal do paraíso que foi imbuído em poder sagrado. Ela não
conseguiu invocá-la. Sabe o que isso significa?

— ... quer dizer que ela não pode desperdiçar seu poder
sagrado? Então ela também perdeu a capacidade de recarregar seus
próprios poderes!

— Aham. Só que não é como se ela se importasse em usar todo


o seu poder sagrado para derrotar o Rei Demônio. Entretanto, temos
uma vantagem decisiva ao nosso lado.

— Seu... tempo de vida, isso?

A bola de raiva do outro lado da porta começou a bater o pé


com aversão. Era alto o bastante para criar sérias preocupações com
o velho assoalho de madeira cedendo sob ela
— Mesmo que ela mate nós dois, não há garantia de que vá
recuperar poder sagrado o suficiente para voltar ao seu mundo antes
de sua morte. Os humanos em Ente Isla são considerados sortudos
se chegarem aos cinquenta anos. Claro, a média das mulheres
japonesas é muito mais alta, então, talvez, pode ser que consiga
quando tiver oitenta. Mas estará muito velha e debilitada quando
isso acontecer.
— Então a Heroína também não teria força para controlar o
Portal.

— Basicamente, sim. Então, se importa em deixá-la entrar? Ela


está começando a chorar lá fora.

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