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O Modelo de Organizing de Karl Weick e sua Ênfase na Comunicação

Autoria: Ludmilla Meyer Montenegro, Adriana Machado Casali

RESUMO
O presente trabalho analisa o conceito de organizing de Karl Weick através da explicação do
seu modelo para posteriormente ressaltar a importância da comunicação neste processo. Em
primeiro lugar são apresentados os fundamentos conceituais do modelo de Weick, a saber: a
teoria da evolução sócio-cultural, a teoria da informação e a teoria geral dos sistemas. Na
seqüência é feito um breve relato de como Weick percebe as organizações e é apresentado o
seu modelo. Para elucidar o modelo alguns conceitos utilizados por Weick são destacados e
definidos neste trabalho. Também são discutidos alguns desdobramentos do modelo, mais
especificamente a relação entre organizing e sensemaking, além de suas limitações e
aplicações. No modelo de Weick constata-se que a comunicação é fundamental ao processo
de organizing. A importância da comunicação é reforçada por uma breve análise de como as
concepções teóricas de Weick repercutiram no campo de estudos da comunicação
organizacional.

INTRODUÇÃO

As organizações são entidades complexas que os estudos organizacionais tentam


compreender. Cada abordagem tem suas particularidades e procura enxergar as organizações
sob uma lente específica para que se possa entender o fenômeno organizacional da melhor
forma possível. Dentre os inúmeros estudiosos das organizações, Karl Weick se destaca por
oferecer uma nova perspectiva de análise organizacional.
Weick analisa o aspecto dinâmico das organizações, ou seja, mais como um processo e
menos como uma entidade objetiva. Um processo evolutivo, onde diferentes informações são
constantemente processadas, compondo as organizações em si. Sobretudo, um processo
desencadeado pelos comportamentos interligados das pessoas que compõem as organizações.
No modelo de Weick, a comunicação desenvolve um papel fundamental, pois é
através dela que as fases do processo de organizing (criação, seleção e retenção) acontecem.
Alguns estudiosos da área de comunicação inclusive consideram o modelo de Weick como
um modelo de comunicação.
O presente trabalho tem por objetivo apresentar o modelo de Weick e destacar a
importância da comunicação neste modo de pensar as organizações. Para tanto, antes da
descrição do modelo são identificados seus fundamentos conceituais. Na seqüência serão
apresentados o modelo e seus conceitosi específicos. Também são discutidos alguns
desdobramentos do modelo, mais especificamente a relação entre organizing e sensemaking,
bem como as limitações e aplicações do modelo. Por fim, há uma breve análise da
repercussão e utilização do conceito de organizing no âmbito da comunicação organizacional.

1. BASES TEÓRICAS DO MODELO DE WEICK

As proposições de Weick fundamentam-se em três teorias principais: Teoria da


Evolução Sócio-Cultural, Teoria da Informação e Teoria dos Sistemas (KREPS, 1990). O
autor utilizou conceitos de cada uma dessas teorias para embasar a seu modelo.

1.1 TEORIA DA EVOLUÇÃO SÓCIO-CULTURAL


Segundo Weick, o ato de organizar ocorre de maneira evolutiva. Para explicar esse
fato, o autor se baseou no trabalho de Donald T. Campbell de 1965 (BANTZ, 1990). Como a

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evolução é algo baseado na progressão, observa-se que algo se move de um estágio para outro
no decorrer do tempo. Porém, evolução não significa necessariamente que um grupo social se
evolui para um “nível mais alto” ou que por se desenvolver “dure mais tempo” (BANTZ,
1990).
A partir das evidências científicas propostas por Darwin de que todas as espécies vivas
evoluem com o tempo, o que caracteriza a seleção natural, tem-se que a evolução se refere a
três processos que se repetem com o tempo. De acordo com a Teoria da Evolução Biológica,
estes processos são: variação, seleção e retenção. Na Teoria da Evolução Sócio-Cultural a
variação está relacionada ao surgimento de um novo comportamento dentro de um grupo
sociocultural. Em seguida, acontece a seleção de alguns dos comportamentos variados e, por
fim, acontece a afirmação da seleção quando o grupo social retém o novo comportamento
como parte do processo grupal. Essa lógica pode ser observada na figura 1. Em outras
palavras, pode-se dizer que o processo de evolução sócio-cultural que acontece nas
organizações é um processo que envolve inovação, escolha e persistência (WEICK, 1990).
Weick utiliza a idéia da evolução em três estágios, com algumas modificações. No seu
modelo de organizing, ele definiu as três fases como: criação (enactment), seleção e retenção,
os quais serão abordados mais adiante na apresentação do modelo.

Variação Seleção Retenção


de desvios de desvios dos mais adaptativos
comportamentais potencialmente desvios
aleatórios vantajosos comportamentais

Figura 1 – O processo da Evolução Sócio-Cultural


Fonte: Kreps, 1990, p.105.

Bantz (1989) destaca o fato do modelo de Weick ser baseado em uma Teoria da
Evolução Sócio-Cultural e que essa teoria tem sido uma das grandes influências no
desenvolvimento dos estudos organizacionais modernos. Observa-se então o caráter de
processo contínuo das organizações e que estas podem ser influenciadas por relações passadas
retidas, as quais continuarão sendo aplicadas ou poderão ser ignoradas.

1.2 TEORIA DA INFORMAÇÃO


A Teoria da Informação está relacionada à eficiência na transmissão da mensagem.
Essa teoria concentra-se nas relações estruturais entre códigos e canais, sem considerar as
interpretações derivadas das mensagens ou seus efeitos comportamentais. Pode-se dizer que
seu maior objetivo é eliminar distorções entre a fonte e o receptor de mensagem, aumentando
a fidelidade no processo de transmissão (KREPS, 1990).
A importância que essa teoria tem para Weick está relacionada ao conceito de
incerteza. Segundo a Teoria da Informação, um dado constitui uma informação quando é
capaz de reduzir incertezas. Weick incorporou essa idéia ao seu modelo. Para o autor os
indivíduos associam-se em organizações para lidar com as incertezas ambientais. O processo
organizacional é uma tentativa dos membros de uma organização de reduzir a incerteza ao
gerar informação através do uso de regras e ciclos. Como será detalhado a seguir, na
discussão dos principais conceitos do modelo, as regras são guias que ajudam as pessoas a
responder apropriadamente a situações diferentes e ciclos são padrões de interação que
ajudam as pessoas a desenvolver regras. Esses dois conceitos serão explicados no item 4 deste
trabalho.
No modelo de Weick,
a informação ajuda a reduzir o número de decisões que um indivíduo tem que tomar,
aumentando a certeza com a qual aquele indivíduo pode direcionar comportamentos.

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Essa teoria também explica que canais diferentes têm capacidades diferenciadas para
lidar com a ambigüidade. Sabe-se que para reduzir a incerteza do receptor na
comunicação, códigos de mensagem apropriados devem ser alinhados com
capacidades dos canais específicos para que o receptor receba a informação
(KREPS, 1990 p.105).

1.3 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS


De acordo com a Teoria dos Sistemas, existem diferentes níveis hierárquicos de
complexidade: o sistema, o subsistema, e o supra-sistema. A abordagem dos sistemas tem
como princípio fundamental a interdependência das partes. Cada nível da organização é
composto por componentes interconectados e mutuamente influenciados, e cada qual
desempenha um processo funcional no nível do sistema do qual faz parte. A combinação de
todos esses processos funcionais permite a sobrevivência do sistema e sua adaptação ao
ambiente. O desempenho de um componente irá afetar todos os outros componentes. Por isso
a importância de se entender os sistemas como um todo de partes interdependentes.
Outro aspecto relevante da Teoria dos Sistemas, presente no modelo de Weick, é a
existência do feedback entre os componentes do sistema. A partir dos conceitos cibernéticos
de feedback positivo e negativo, pode-se entender a importância de um mecanismo
homeostático para monitorar atividades sistemáticas.
Como a Teoria Geral dos Sistemas, o modelo de organizing de Weick é abrangente e
pode ser aplicado a vários contextos organizacionais e a diferentes níveis hierárquicos. Além
disso, como mencionado anteriormente, a Teoria Geral dos Sistemas se faz presente no
modelo de Weick, quando o autor incorpora a noção de feedback.

2. O QUE É UMA ORGANIZAÇÃO PARA WEICK?

Weick não concentra seus estudos em definir exatamente o que é organização, pois
acredita que as organizações e seus ambientes estão em constante movimento, mudando a
todo instante. Logo, o autor não vê muito sentido em definir a organização em um momento
presente, tendo em vista que a mesma poderá ser diferente em um momento futuro.
Todavia, com a idéia de processo, maneira pela qual Weick pensa as organizações, é
possível se aproximar da idéia do que seria uma organização para o autor. Weick (1973)
sugere que é preciso considerar os processos que criam, conservam e dissolvem coletividades
sociais, salientando que são esses processos que constituem o ato de organizar. Para o autor,
as maneiras pelas quais tais processos são continuamente executados compõem a organização.
A análise organizacional está então relacionada à continuidade e ao movimento, e não à
observação da organização como um objeto estático ou fechado que simplesmente existe
dentro de um ambiente imutável com pessoas desenvolvendo funções fixas.
Por isso a preferência de Weick pelo termo organizing e não organization. A opção
pelo verbo e não pelo substantivo, sugere uma preocupação com o processo organizacional
enquanto ação contínua, tendo em vista que o verbo se encontra no gerúndio. Como Weick
sugere no seu primeiro livro: A Psicologia Social da Organização de 1969, organizing é uma
atividade na qual as pessoas se engajam. Para o autor, “considera-se a vida em instituições de
trabalho não como um conjunto de funções e relacionamentos (organização), mas como
processos interativos para criar e racionalizar a ação coletiva (organizing)” (WEICK, 1990,
p.142, tradução livre).

3. O MODELO DE ORGANIZING DE WEICK

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A partir do pressuposto que a organização pode ser compreendida pelos processos que
a constituem, e que qualquer organização é a maneira pela qual se desenvolvem esses
processos, observa-se então o aspecto fluido das organizações. Os processos que formam as
organizações têm por objetivo diminuir a ambigüidade num ambiente criado através de
comportamentos interligados e incluídos em processos condicionalmente relacionados.
Em resumo, para Weick, uma organização se traduz nas atividades de seus membros, e
tais atividades estão centradas na compreensão do ambiente. Uma organização pode ser
compreendida como um sistema interpretativo (DAFT; WEICK, 1984), um sistema de
processamento de informações que procura reduzir a ambigüidade de informações recebidas.
Segundo Weick, os indivíduos se organizam para reduzir as incertezas ambientais.
Lembrando que o ambiente é o ambiente percebido pelos membros da organização e
por isso criado em sua ação. O ambiente de informação em que os processos atuam é um
ambiente criado, baseado em interpretações retrospectivas de ações já completadas. Tais
ações estão, parcialmente, sob o controle do conhecimento passado, e parcialmente sob o
controle de acontecimentos externos. Através dos processos de atenção retrospectiva
destacam-se as partes do ambiente que são constituídas pelo indivíduo. Reagindo a alguns
aspectos específicos selecionados do ambiente os participantes de uma organização realmente
criam um ambiente ao qual se adaptam.
A redução da ambigüidade ambiental é um processo que ocorre em dois estágios:
inicialmente a ambigüidade é registrada e depois afastada. Esse processo pode ser
representado pelo modelo desenvolvido por Weick que serve como um guia para pessoas que
desejam observar as organizações. Segue abaixo o modelo de organizing de Weick.

(+,–)
(+,–)
Enactment / Criação Seleção Retenção
+

Mudança Equivocidade + Equivocidade + Equivocidade


Ecológica criada Percebida Percebida
– – – –
+
Ciclos de – Regras de Ciclos de – Regras de
comportamentos reunião comportamentos reunião

Figura 2: Adaptação Weick’s Model of Organizing


Fonte: Weick, 1979, p.133.

De acordo com Weick (1973), o modelo compreende três processos centrais:


enactment (criação), seleção e retenção. Cada um desses três processos contém um conjunto
de sub-processos: regras de reunião, ciclos de comportamento interligados e afastamento da
ambigüidade (BANTZ e SMITH, 1977).
Primeiramente, observa-se que o ambiente externo, sob a forma de mudança ecológica
(variações conceituais no ambiente), atinge o processo de criação, mais do que o processo de
seleção. Além disso, os processos são interligados de tal forma que a retenção influi na
seleção e na criação.
A organização entre seres humanos implica em dois pontos de escolha: a escolha
referente à maneira de agir (na fase de criação) e escolha referente ao que escolher (na fase de

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seleção). Ou seja, na fase de criação, os ciclos adequados para esse processo referem-se a
fazer, agir e realizar. Na seleção, os ciclos adequados referem-se a escolhas das ações
anteriores que devem ser repetidas, reconhecidas e consideradas como experiência benéfica.
Os ciclos se referem a algum aspecto de comportamento de escolha. As escolhas feitas no
processo de seleção atuam no ambiente que é sugerido pelo processo de criação. Vale destacar
que existem dois tipos de informação para o processo de criação a partir do qual se forma esse
ambiente: informações de dentro do sistema (a linha da retenção à criação) e informações de
fora do sistema (a linha da mudança ecológica à criação).
As linhas existentes entre mudança ecológica e criação; criação e seleção; e seleção e
retenção representam a transmissão de informação de um processo para o outro. Lembrando
que a informação que é transferida, é carregada de ambigüidade e que os processos visam
afastar parte dessa ambigüidade. Logo, essas linhas que partem de um processo a outro não se
referem apenas à informação, mas a uma informação que contém vários graus de
ambigüidade. Para que a ambigüidade de uma informação seja reduzida, um processo precisa
inicialmente registrar o grau de ambigüidade nela existente.
A ambigüidade é registrada pelo aumento ou redução no número de regras que são
“ativadas” para compor um processo. Se a organização dispõe de muitas regras para lidar com
determinado aspecto do ambiente isso significa que esta informação é pouco ambígua. Ao
contrário, se frente a uma mudança ambiental, a organização não sabe como agir é porque tem
poucas regras para processar aquela informação ambígua. O número de regras, por sua vez,
influi na maneira pela qual esse processo é reunido (isto é, a forma como se desencadeiam os
sub-processos) e aplicado, bem como na percepção do grau de ambigüidade da informação
depois que as três etapas do processo, e seus devidos sub-processos, são completados.
A quantidade de ambigüidade numa informação percebida determina o grau de
ambigüidade de um processo. Logo, se a informação é bastante ambígua, poucas regras serão
ativadas para reunir um processo, e os processos serão ambíguos. Já se a informação tem
pouca ambigüidade, muitas regras serão ativadas para reunir um processo, e este será não-
ambíguo. Portanto, há uma relação direta entre informações e processos. Então, quanto mais
ambígua a informação, mais ambíguo o processo e quanto menos ambígua a informação,
menos ambíguo o processo.
Como a evolução dos processos e o desenvolvimento dos sub-processos são
comportamentos interligados, a redução da ambigüidade é uma atividade coletiva realizada
por conjuntos de atores que interligam diferentes conjuntos de comportamentos. Pode-se
observar que cada ciclo de comportamento interligado é capaz de afastar certa ambigüidade,
mas apenas quando vários ciclos diferentes são aplicados à informação é que um grau
suficiente de certeza é conseguido para que seja possível uma ação não ambígua.
Esses ciclos comportamentais interligados estão presentes nos três processos básicos
(criação, seleção e retenção), os quais, por sua vez, constituem processos distintos. O processo
de criação gera a informação, a qual o sistema se adapta, e ao fazer isso afasta uma pequena
parte da ambigüidade. No entanto, a ambigüidade reduzida é consideravelmente menor do que
aquela afastada pelos processos seguintes – seleção e retenção. A maior parcela de
ambigüidade é afastada pelo processo de seleção. A partir de critérios estabelecidos por
experiências passadas, os quais constituem as regras de reunião, o processo de seleção separa
a diversidade presente na informação ambígua, admite as partes que satisfazem estas regras e
assim coloca a informação ambígua numa forma ordenada, ou seja, atribui um significado a
esta informação. O processo final é a retenção. Embora este seja basicamente um processo de
armazenamento, também reduz parte da ambigüidade, pois integra novas
informações/interpretações àquelas anteriormente acumuladas. Qualquer informação que
passe pelo processo de seleção tem o potencial de contradizer ou reafirmar o conteúdo pré-
existente no sistema, isto é, as informações e interpretações anteriormente retidas. A

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reorganização interna da informação dentro do sistema de retenção afasta a ambigüidade
criada por contradições.
Os três processos estão inter-relacionados e constituem um sistema. As relações
básicas entre os processos são relações de controle, pois os processos são determinados pelo
estado das informações recebidas. De maneira geral, tais relações são ligações causais diretas.
Isso significa que no processo será tratado o mesmo grau de ambigüidade existente na
informação recebida.
Resumindo, quando existe muita ambigüidade, as regras para composição do processo
tem número reduzido; quando existe pouca ambigüidade, aumenta o número de regras. As
regras, por sua vez, determinam o número de ciclos comportamentais interligados que serão
reunidos para o afastamento efetivo da ambigüidade. Quanto menor o número de regras,
maior o número de ciclos escolhidos.
Em relação aos feedback loops entre retenção e criação e retenção e seleção, observa-
se, primeiramente, que a fase de retenção, que contém a inteligência da organização pode ser
utilizada para guiar as atividades de criação e seleção. Então, como se pode observar no
modelo, os feedback loops entre retenção e criação permitem que a organização utilize a
informação armazenada em processos de retenção anteriores para guiar a avaliação de
mensagens ambientais futuras. Os feedback loops também permitem armazenar as
informações sobre as mensagens criadas para referências futuras. Na fase de seleção, os
feedback loops que partem da retenção são utilizados para guiar a organização na decisão de
como processar os inputs de informação ao se basear na inteligência organizacional e no
repertório de regras armazenadas na fase de retenção.
Os sinais (+, -) nos feedback loops, indicam que a relação causal pode ser direta ou
inversa. A relação é direta se o conteúdo retido for aceito e utilizado como guia indicador para
ações ou escolhas futuras. A relação será inversa se este conteúdo for negado. Se a
informação conservada for considerada, servirá como um guia direto para ativar regras de
reunião que dirigem os ciclos de comportamento ou escolhas posteriores. Essas regras de
reunião estão sob o controle direto da quantidade de ambigüidade encontrada no conteúdo
conservado. Se este é ambíguo, sua ativação posterior ao processo de seleção (escolha) ou
processo de criação (ato) será ambígua – ou seja, usará poucas regras para reunir o processo.
Se o conteúdo conservado não é ambíguo, sua ativação posterior do processo de seleção ou do
processo de criação será inequívoca – ou seja, usará muitas regras para reunir o processo.
Qualquer desses resultados é possível se o conteúdo conservado for tratado como indicação e
realizado em oportunidades posteriores.
Se, por exemplo, a relação causal entre retenção e criação for inversa, isso significa
que o item não-ambíguo conservado é considerado como se fosse ambíguo para ações futuras,
ou seja, esta informação é interpretada de maneira diversa das experiências passadas. Então
poucas regras de reunião são ativadas para lidar com o item; e muitos ciclos são escolhidos e
aplicados à informação. Assim, é afastada grande parte da ambigüidade. Porém, se a relação
causal entre retenção e seleção for direta, isso significa que a informação não-ambígua
conservada anteriormente é tratada como não-ambígua para futuras escolhas. Neste caso, são
ativadas muitas regras, reúnem-se poucos ciclos e afasta-se pouca ambigüidade, o que deixa a
informação praticamente da mesma forma como entrou no sistema.
Weick sugere que seu modelo não tem um conteúdo fixo e que as propriedades
singulares de qualquer organização podem ser inseridas no modelo na forma de ciclos ou
regras de reunião. O autor é consciente da complexidade inerente à tarefa de compreender as
organizações. A intenção dele é direcionar a atenção para algumas propriedades da
organização que comumente passam despercebidas. Nesse sentido, o modelo de Weick ajuda
a compreender porque alguns aspectos do ambiente são destacados enquanto outros são
ignorados. Percebendo as organizações como sistemas de processamento de informação para

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redução das incertezas ambientais, observa-se como as ações organizacionais traduzem-se em
processos de criação, seleção e retenção, bem como em suas respectivas regras e ciclos de
comportamento.
Após esta apresentação genérica do modelo de organizing de Weick, destacam-se a
seguir alguns conceitos relevantes.

4. CONCEITOS RELEVANTES

4.1 AMBIENTE
Para Weick, o ambiente não se refere a aspectos físicos (prédios, equipamentos,
pessoas etc.) que os membros de uma organização encontram, mas sim a um ambiente de
informações as quais os indivíduos reagem. Para o autor, o ambiente constitui um universo de
mensagens a serem processadas, os integrantes de uma organização percebem algumas delas e
criam significados para responder a elas.
A visão de ambiente de Weick é fenomenológica, pois foca nos ambientes de
informação e não nos ambientes estruturais. O autor afirma que como os seres humanos
ativamente criam o mundo ao seu redor através da percepção, os membros de uma
organização não simplesmente reagem a um ambiente físico objetivamente aceito, mas criam
seus ambientes através da informação e da criação de significado.
De acordo com Weick (1973):
Em vez de falar numa adaptação a um ambiente externo, pode ser mais correto
sustentar que a organização consiste em adaptação a um ambiente ordenado, um
ambiente que é constituído pelas ações de atores humanos interdependentes (p.28).

4.2 EQUIVOCIDADE
Equivocidade é o nível de entendimento de mensagens ao qual os membros
organizacionais respondem. A equivocidade está relacionada à certeza com a qual os
membros organizacionais decodificam as mensagens. A certeza é afetada pelos níveis de
ambigüidade, complexidade e obscuridade das mensagens. Para Weick (1995), uma
mensagem é ambígua quando possui muitas interpretações possíveis, já a incerteza refere-se
ao desconhecimento do significado da mensagem. Como o autor entende as organizações
como sistemas de produção de sentido; o conceito de equivocidade, para Weick, aproxima-se
do conceito de incerteza utilizado na Teoria da Informação. Segundo esta teoria um dado se
constitui enquanto informação quando é capaz de reduzir a incerteza. No modelo de Weick as
informações ambíguas são processadas pelos membros da organização para que eles possam
prever informações futuras e responder a inputs de informação com ações organizacionais
apropriadas.

4.3 CICLOS DE COMPORTAMENTO INTERLIGADOS


Uma definição abrangente de ciclos de comportamento interligados seria a seguinte:
“os elementos básicos que são combinados de diferentes formas para compor os processos
que permitem a organização” (WEICK, 1973, p.54).
Comportamentos interligados são formados por comportamentos repetitivos,
recíprocos e contingentes, que se desenvolvem e são mantidos entre dois ou mais atores. Cada
ator usa outra pessoa e é por ela usado para a realização de atividades que nenhum deles
poderia realizar sozinho. A redução de ambigüidade é uma atividade coletiva realizada por
grupos de atores que interligam diferentes conjuntos de comportamentos (WEICK, 1973).
Pode-se compreender os ciclos de comportamento interligados como padrões de
comunicação que a organização usa para reduzir a equivocidade de inputs complexos. O
aspecto interativo, ou seja, comunicacional, de um ciclo é percebido quando Weick descreve

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o ciclo como um interato duplo, uma troca de três partes de mensagens condicionalmente
relacionadas: ato, resposta, e ajuste.

4.4 REGRAS DE REUNIÃO


As regras prescrevem duas atividades relacionadas que os membros das organizações
desempenham em resposta aos inputs de informações. Primeiramente, as regras são utilizadas
para averiguar o nível de familiaridade ou equivocidade das mensagens que entram nas
organizações. Segundo, as regras são utilizadas para procurar as inúmeras respostas de
mensagens padronizadas disponíveis para a organização que são compatíveis com inputs
específicos de mensagem.
As regras permitem reunir o processo a partir do conjunto total de ciclos interligados
que estão disponíveis dentro da organização. Tais regras são critérios pelos quais algum
subconjunto – entre todos os ciclos de comportamentos interligados e importantes para o
processo – é escolhido para ser aplicado à informação recebida.
Um exemplo de regra de reunião determina o tempo relacionado à duração da tarefa.
Tem-se, por exemplo, o caso de uma oficina mecânica, onde um grupo de funcionários
desempenha atividades para o concerto de carros (KREPS, 1990). Quando um cliente chega à
oficina e descreve o tipo de serviço que deseja para o seu carro, a pessoa, com quem irá tratar,
provavelmente saberá qual o funcionário da oficina mais capacitado e disponível para
executar aquela tarefa e, para que a atividade seja executada em um menor tempo possível, irá
transferir o trabalho para essa pessoa. Observa-se, nesse caso, que já existem regras definidas
para cada tipo de serviço e os funcionários optam por aquelas que demandam ciclos que
podem ser completados em um menor período de tempo.

4.5 CRIAÇÃO (ENACTMENT)


A criação constitui o primeiro processo do modelo de Weick. Nesse primeiro estágio,
a organização recria (ou enacts) seu ambiente à medida que os membros da organização
atribuem significado aos eventos de informações através de seus processos de decodificação.
Durante essa fase, a organização é alertada sobre as mudanças no seu ambiente de
informações, o nível de equivocidade de inputs de informação é determinado, e regras e ciclos
apropriados são solicitados para processar esses inputs.

4.6 SELEÇÃO
A seleção é o segundo processo do modelo de Weick e é definida como o conjunto de
regras e ciclos considerados importantes para inclusão em cada processo.
Na fase de seleção, decisões são tomadas a respeito de como as regras e os ciclos
utilizados pela organização têm afetado a equivocidade de inputs de informação e quais ciclos
deveriam ser repetidos (escolhidos) pela organização para processar os inputs no futuro. Com
base nas decisões tomadas nesse estágio, regras e ciclos adicionais são escolhidos e repetidos
para continuar reduzindo o nível de equivocidade das mensagens importadas para a
organização, possibilitando que organização compreenda melhor os inputs e reaja a eles.

4.7 RETENÇÃO
A retenção é o processo final do modelo de Weick e está relacionada à quantidade de
ambigüidade presente nas informações típicas que o processo organizacional opera.
Nesse último estágio, a informação sobre as formas como a organização tem
respondido a diferentes inputs é reunida e armazenada. Os diversos ciclos desenvolvidos e
utilizados pela organização para processar informações de diferentes graus de equivocidade
são avaliados pela sua utilidade para a organização. Se estes ciclos são considerados

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estratégias bem sucedidas para lidar com situações de equivocidade, eles são transformados
em regras para responder a inputs similares no futuro.

4.8 FEEDBACK LOOPS


Feedback loops são sistemas de mensagens que conectam as três fases do processo,
permitindo que haja uma melhor coordenação entre as fases. Existem dois feedback loops no
modelo de Weick: um conectando retenção com criação e outro conectando retenção com
seleção.

5. DESDOBRAMENTOS DO MODELO DE WEICK

5.1 ORGANIZING E SENSEMAKINGii


Na 2ª edição de seu livro: A Psicologia Social da Organização de 1979, Weick define
organizing como um processo de sensemaking retrospectivo realizado por atividades coletivas
(WEICK, 1979). Weick sugere então, uma “receita” para o sensemaking: “How can I know
what I think until I see what I say?” (WEICK, 1995, p. 18). Ou seja: Como eu sei o que eu
penso até que eu veja o que eu disse? É a partir daí que o autor desenvolve o argumento que a
atividade organizacional é criação (dizer), seleção (ver o que eu disse) e retenção (pensar),
processos que compõem o modelo de Weick. Portanto, organizing é fundamentalmente o
processo de sensemaking coletivo, tendo em vista que os seres humanos agem em conjunto
para criar, selecionar e reter significados.
Weick diferencia sensemaking e interpretação, pois algumas pessoas costumam tratá-
los como sinônimos (WEICK, 1995). Para o autor, a interpretação faz parte - é um
componente - do processo de sensemaking. Uma outra distinção relevante é que a maioria das
descrições interpretativas foca em algum tipo de texto, enquanto que o sensemaking discute
como o texto é construído e também como ele é lido. Pode-se dizer que sensemaking está
relacionado às maneiras pelas quais as pessoas geram o que elas interpretam. A interpretação
refere-se ao “o que” está sendo interpretado e o sensemaking preocupa-se com o “como”.
Então, “o processo de sensemaking pretende relacionar a construção e repartição de um texto
que é interpretado, e também as revisões das interpretações baseadas nas ações e suas
conseqüências” (WEICK, 1995, p.8, tradução livre).

5.2 LIMITAÇÕES DO MODELO DE ORGANIZING DE WEICK


Por ser um modelo bastante abstrato, sua flexibilidade constitui uma limitação, pois
boa parte do trabalho é deixada para o observador. Além disso, como o modelo pode ser
aplicado a unidades de todos os tipos, ele não considera detalhes importantes que irão variar
dentro de cada unidade escolhida. Tendo em vista que o pesquisador pode associar qualquer
conteúdo ao modelo, nestas associações o conteúdo pode sofrer mudanças específicas durante
certo tempo, então é importante que se saiba onde procurar tais mudanças e como elas devem
ser analisadas.
Parece até um pouco paradoxal observar que as limitações desse modelo são
provenientes de sua amplitude (aparentemente é um modelo ilimitado), pois se trata de um
modelo da maneira como coisas se relacionam e das conseqüências dessa relação.

5.3 POSSÍVEIS APLICAÇÕES DO MODELO DE ORGANIZING DE WEICK


Dentro de alguns conceitos discutidos em teorias da organização, existem alguns que
poderiam ser analisados através da lógica do modelo de Weick, baseando-os em uma
reinterpretação do pensamento tradicional a respeito das organizações. Entre eles estão
(WEICK, 1973, p.98-103):

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• Estudos de redes de comunicação
- Envolvem: interação mediada, estrutura, corrente de ordem, relações de papéis entre
superior-subordinado;
- Contêm situações com comportamentos interligados;
- Apresentam a propriedade de inclusão parcial (os comportamentos escolhidos, e não
as pessoas globais, é que são decisivos na operação de uma rede);
- As redes constituem uma forma de critério de seleção.
• Produtividade e satisfação
- A satisfação pode ser ligada, estreitamente, à redução de ambigüidade. (quanto maior
o esclarecimento do conteúdo ambíguo, maior a satisfação).
• Decisão
- A decisão que ocorre no processo de seleção não é a decisão mais importante do
sistema;
- As decisões mais importantes são as que se referem à informação guardada no
processo de retenção;
- Para que haja decisão, é preciso que haja registro exato da ambigüidade existente na
informação a respeito da qual haverá decisão;
- A adequação de qualquer decisão é extremamente variável, e está sob o controle das
regras de reunião do processo e do número de premissas reunidas.
• Planejamento
- Um plano é eficiente porque pode ser relacionado com ações análogas anteriores, e
não porque antecipe exatamente as circunstâncias futuras (refere-se mais ao que foi
realizado do que ao que ainda deve ser realizado);
- O planejamento, na ausência da ação, é fundamentalmente ilimitado; as únicas ações
disponíveis para a atenção reflexiva são os atos de planejamento.

Convém salientar que o modelo de Weick está relacionado a uma forma de pensar as
organizações e os processos de sua formação, e não a problemas de ordem prática (maneira de
dirigir uma organização). Porém, o autor sugere algumas considerações práticas:
1. Não se apavore diante da desordem.
2. Você nunca faz uma coisa imediatamente.
3. A ação caótica é preferível à inação ordenada.
4. As decisões mais importantes são freqüentemente as menos aparentes.
5. Você deve coordenar processos e não grupos.
Weick enfatiza que se o modelo tem qualquer validade, se tem qualquer relação com a
vida diária, as pessoas já estão agindo de acordo com aquilo que o modelo sugere, ainda que
não o façam de maneira consciente (WEICK, 1973, p.106-108).

6. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO MODELO DE WEICK

Desde a publicação da primeira edição de A Psicologia Social da Organização em


1969, tem-se observado a importância das concepções teóricas de Weick nos estudos das
organizações. Principalmente na área de comunicação, com o desenvolvimento de vários
estudos utilizando a idéia de organizing de Weick (BANTZ, 1989). O conceito de organizing
tornou-se mais conhecido na área de comunicação quando foram publicados dois livros-texto
em 1977 com o termo organizing em seus títulos. Além disso, vários livros-texto da disciplina
de comunicação organizacional passaram discutir o modelo de Weick seja em capítulos
exclusivamente dedicados ao tema ou em conjunto com outras teorias organizacionais

10
(CONRAD, 1985; CORMAN et al., 1990; KREPS, 1990; EISENBERG; GOODALL JR.,
2001; CONRAD; POOLE, 2002; MODAFF; DEWINE, 2002; MILLER, 2003).
A comunicação está presente no modelo de Weick, desde aspectos da Teoria da
Informação que foram base para a formulação de suas concepções teóricas até o modo de
desenvolvimento dos processos de criação, seleção e retenção, ou seja, em todas as fases do
modelo. Da Teoria da Informação deriva a noção de que a informação reduz a incerteza. O
uso das regras e ciclos de comportamento no modelo de Weick (como foi apresentado na
descrição do modelo) constitui os processos de redução de incerteza. Além disso, a própria
definição de ciclo, por exemplo, caracteriza um processo de comunicação (ato, resposta,
ajuste).
A comunicação também está presente modelo de Weick, quando se considera a
equivocidade. Para Weick a redução da equivocidade é realizada coletivamente, mas esta
atividade não está restrita ao campo da cognição, pois sendo coletiva está relacionada à
interação social, o que associa esta perspectiva aos estudos em comunicação organizacional.
Um outro aspecto interessante, que enfatiza a importância da comunicação, é quando
Weick diz que as organizações não existem, mas estão em um processo de existência através
de um fluxo contínuo de atividades humanas organizadas. De acordo com Kreps (1990), a
comunicação é o processo crucial realizado pelos membros da organização para que a
organização se realize de modo contínuo. Weick especifica as atividades de comunicação nas
quais os indivíduos se engajam para realizar a organização e descrever as funções de
processamento de informação no organizing.
O conceito de ambiente definido por Weick também pode ser definido como um
construto da comunicação. Pode-se dizer que as interações humanas e as mensagens que
conectam aqueles que se comunicam tornam-se a principal unidade de análise ao se estudar as
organizações. Então, ao invés de focar suas análises nas estruturas físicas ou na tecnologia das
organizações, alguns analistas organizacionais, que seguem a lógica de Weick, focam nos
processos humanos de comunicação (KREPS, 1990).
Weick também sugere que uma das formas mais promissoras de tratar o ambiente é
através da utilização dos termos de informação. Isso pode ser descrito por Katz e Kahn apud
Weick (1973, p.29):
[A] comunicação, a troca de informações e a transmissão de sentido constituem a
essência de uma organização ou de um sistema social. A recepção de energia física
depende de informação a respeito dessa última, e a recepção de energia humana se
torna possível por atos de comunicação. De forma semelhante, a transformação de
energia (a realização do trabalho) depende da comunicação entre as pessoas de cada
subsistema da organização e de comunicação entre subsistemas. O produto
exportado tem sentido, na medida em que atende a necessidades e desejos, e seu uso
é ainda influenciado pelos anúncios ou por material de relações públicas a respeito.

O modelo de organizing de Weick destaca a comunicação entre os membros


organizacionais como crucial para a sobrevivência da organização. A comunicação é
reconhecida como essência da atividade organizacional e não com uma simples variável de
transmissão de mensagens que pode ser facilmente controlada.
Segundo Kreps (1990, p.121, tradução livre), “a teoria de organizing de Weick é, na
verdade, uma teoria da comunicação, representando interações de comunicação e processos de
informações coletivos como os elementos primordiais da organização”.
A maior contribuição de Weick para a área da comunicação, segundo Bantz (1989), é
que ele ajudou a explicar porque os estudiosos de comunicação começaram a interpretar a
comunicação não como algo feito nas organizações, mas como algo que constitui as
organizações. Então, o conceito de Weick integrado com outras abordagens interpretativas,
gerou uma visão das organizações como entidades comunicativas ou mais – uma visão de
organizing como communicating. De acordo com Bantz (1989, p.236, tradução livre),
11
“organizações podem ser vistas, não como sistemas ou redes, mas como realidades
socialmente construídas constituídas na comunicação”. Contudo, Bantz (1989), salienta que
ele não está querendo dizer que essa seja a “correta” interpretação do organizing de Weick e
da sua aplicação em estudos de comunicação organizacional.
Weick (1989) destaca que o organizing envolve construção social, interação e
interatos como blocos de construção básicos, e precisa ser ampliado ao ser reescrito em um
tom social mais consistente. Para o autor, o organizing também tem um forte traço de
comunicação intrapessoal, monólogos, auto-comunicação como sugere na receita de
sensemaking: “Como eu posso saber o que eu penso até que eu veja o que eu disse”. A
questão é que as pessoas escutam elas próprias da mesma forma que escutam os outros,
embora, como sugerem os ensinamentos de Mead “ao escutar a nós mesmos, ouvimos as
vozes dos outros” (apud Weick, 1989, p.13, tradução livre). Logo, Weick sugere que temos
que estar mais atentos à forma como o falar em si surte efeitos naquele que fala, efeitos estes
que podem passar por cima ou modificar efeitos que são mediados pelas reações de um
parceiro de conversação.
Em relação ao sensemaking, segundo Weick (1995), as pessoas que estudam
sensemaking estão bastante interessadas na conversa, na conversação e no discurso, pois é por
esses caminhos que boa parte do contato social é mediado. O sensemaking também está
diretamente relacionado à comunicação, à linguagem. De acordo com Weick (1995), a riqueza
da linguagem de uma pessoa é um recurso crucial em sensemaking. O autor enfatiza que uma
linguagem rica proporciona um pensamento reflexivo rico – as palavras que eu digo afetam os
pensamentos que eu formo quando eu vejo o que eu disse.
Observa-se que as idéias de Weick sobre o organizing ganharam grande repercussão e
são amplamente utilizadas, principalmente pelos teóricos de comunicação organizacional.
Contudo, as contribuições de Weick, à análise organizacional continuam em constante
desenvolvimento, ou melhor, aperfeiçoamento. Nota-se que o próprio Weick faz alguns
questionamentos pertinentes à sua formulação teórica, e em cada artigo ou livro que escreve,
acrescenta, explica ou aprofunda algumas definições para que os conceitos por ele discutidos
estejam cada vez mais claros e sua argumentação mais rica em detalhes.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Weick oferece uma perspectiva bastante inovadora e interessante para se analisar as


organizações. Apesar de seu caráter abstrato, o modelo de Weick estimula a reflexão sobre
aspectos pouco observados nas práticas organizacionais cotidianas. Estes aspectos, tais como
os processos de sensemaking talvez tenham se tornado imperceptíveis porque já estão
internalizados de tal modo que se tornam inconscientes. Tudo aquilo que se percebe como
dado e, conseqüentemente inquestionável, torna-se algo fixo e, aparentemente, impassível de
mudanças. Logo, a concepção do organizing e sensemaking de Weick, permite analisar
aspectos organizacionais pouco questionados (como as regras, ciclos de comportamento e
padrões de comunicação), mas fundamentais para a compreensão não apenas do
funcionamento das organizações, mas também dos seus processos de mudança.
Além disso, o modelo apresenta a lógica utilizada nas organizações para reduzir a
ambigüidade das informações selecionadas de seu ambiente de ação. Como o organizing
inicia com a entrada e posterior processamento de informações nas organizações, constata-se
o papel crucial da comunicação durante todo o processo. Cabe ressaltar que a comunicação,
enquanto constituinte da organização, é considerada como processo essencial do organizing.
A comunicação é um dos processos organizacionais naturais que se tornam inconscientes, e
que por isso não são questionados. O modelo de Weick destaca justamente a importância de

12
fatores como a comunicação que por vezes passam despercebidos nos processos de análise
organizacional e que requerem uma atenção cuidadosa quando se busca compreender as
organizações.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANTZ, C. R. Organizing and enactment: Karl Weick and the production of news. In:
Corman, S. R., et al. (Ed.). Foundations of organizational communication: a reader. New
York: Longman, 1990. p.151-159.
______. Organizing and The Social Psychology of Organizing. Communication Studies, 40,
4, pgs. 231-240, 1989.
BANTZ, C. R.; SMITH, D. H. A Critique and Experimental Test of Weick's Model of
Organizing. Communication Monographs, v.44, n.3, p.171-184, 1977.
CONRAD, C. Strategic organizational communication: cultures, situations, and
adaptation. New York ; Montreal: Holt Rinehart and Winston. 1985. xi, 339 p.
CONRAD, C.; POOLE, M. S. Strategic organizational communication in a global
economy. Fort Worth: Harcourt College Publishers. 2002. xiv, 459 p.
CORMAN, S. R., et al. Foundations of organizational communication: a reader. New
York: Longman. 1990. vi, 346 p.
DAFT, R. L; WEICK, K. E. Toward a model of organizations as Interpretation systems.
Academy of Management Review, v.9, n.2, p.284-295, 1984.
EISENBERG, E. M.; GOODALL JR, H. L. Organizational communication: balancing
creativity and constraint. Boston: Bedford/St. Martin's. 2001. xxv, 403 p.
KREPS, G. L. Weick's Model of Organizing. In: (Ed.). Organizational communication:
theory and practice. New York: Longman, 1990. p.Chapter 6 (103-121).
MILLER, K. Organizational communication : approaches and processes. Belmont, CA:
Wadsworth*Thomson. 2003. 335 p.
MODAFF, D. P.; DEWINE, S. Organizational communication: foundations, challenges,
and misunderstandings. Los Angeles, Calif.: Roxbury Park. 2002. xii, 265 p.
WEICK, K. E. A Psicologia Social da Organização. São Paulo: Edgar Blucher: EDUSP.
1973. 120 p.
______. An Introduction to Organizing. In: Corman, S. R., et al. (Ed.). Foundations of
organizational communication: a reader. New York: Longman, 1990. P.142-151.
______. Organized Improvisation: 20 Years of Organizing. Communication Studies, 40, 4,
pgs. 241-248, 1989.
______. Sensemaking in organizations. Thousand Oaks: Sage Publications. 1995. xii, 231 p.
______. The Social Psychology of Organizing. 2 ed.
Massachusetts: Addison-Wesley.1979. 292 p.

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i
Cabe ressaltar que no presente trabalho é utilizada a terminologia desenvolvida por Weick em seu primeiro
livro de 1969, mais precisamente da sua tradução de 1973. Principalmente no que se refere aos conceitos
utilizados no modelo.
ii
No presente trabalho, será utilizado o termo original em inglês sensemaking, pois inclui tanto a noção de
compreensão da realidade (o fazer sentido) como a idéia de atribuição de significado a uma mensagem, ação ou
evento organizacional.

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