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DA MULHER ,

.....--- .! ~

·GRUPO DA MULHER DA AAC· PR Eça: 15.00


EDITORIAL

"CRIME DE OFENSA A. MORAL E INCITAMENTO mea -- há que preservá-la , pois então . E-


AO CRIME", e i s a acusação que colocou uma les exigem-no . Vinte e duas ace itam-no . Nós
Mulher / Maria Antónia Pa lla em Tribunal . não .
Os mesmos tribunais que são chamados a jul As duas facetas da mesma moeda : A de-
gar~ e começam , de facto , a fazê - lo , as mu= fesa da mulher mãe -- 6til para a procria-
l heres que abortam . ção , e a defesa da mulher objecto útil
Um filme fala / infor ma / (re)põeaver para o prazer macho .
dade dos factos . Afirma : Elas abortam . - Chamando à defesa do "pudor" para ata
Diz porquê e em que condições o fazem(os) . car uma mulher que ouso u romper as barrei=
Uma acusação que fala , não em nome das ras do "pudor deles" e falar de probl emas-
mulheres , mas em seu nome , em nome da " sua que nos interessam a t ndas , estes senho
mora l" • Abuso de pal a"ra que pretende co- res , arautos da " moralidade " aceitam -- i;
locar atrás de si a pop ulação , que esquece centi vam -- ap oiam -- organizam um fe sti= _
por ém que as mul heres que dela fazem par- val de carne para consumo , tratam a mulher
te , católicas talvez , não deixam de sentir como gado em feira . Mas esses , esses não
este problema , do "'bo,"tar , de sofrer na pe vão (evidentemente) a tribunal .
le , no cor po , graves problemas físicos , de Ao julgamento de Maria Antónia Palla ,
morrer mesmo . Acusação que fala por si . souberam -- saberão as mul heres responder
N::\' o por nós . Que fala da sua moral . Nã0 da com a sua mobilização e luta . Ao julgamen-
nossa . Moral que condena ma is de 2 . 000 f.m to não efectuado , o dos promotores da "ven
lheres à mort e anualmente , em nome do " sa= da do nosso corpo", saherão as mulheres res
grado d i re i to do fe t o à vida ", do " irreme - ponder com a sua r ecusa , por vezes o seu s i
diáve l destin o da mulher a se r mãe e só is lê nc io quotidiano , às exigê ncias de pa$~~ =
so", da inev i ta;:ilidade da maternidade e v i dade que nos exigem .
exclusão de qual quer direito da mulher à Fartas de ser objecto de consumo , a-
sua, sexual idade , seu praze r. firmamo - nos hoje e sempre como mul he res ,
A "moral " aue condena Antónia Pal l a tem finalmente , não vistas pelo vosso espel~o
2 car as . Uma é a rec usa de que a mulr1e r que só re produz barrigas grandes -- repro-
controle o s eu corpo , direi to considerad.o dutoras ou sexos apet it osos -- ao vos-r,> dis
como o-posto ao pudor e à moral ( a sua mo- pôr , mas que reflecte mulheres plenas ,
ral evi dentemente) . A outra é a defesa da nas da sua sexualidade e maternidade:-
mulher / objecto , da mu l her me r cadoria pa- Cada vez mais recusamos a mul her com
ra venda a qualquer homem que a de se je com 90 de mamas para morder , 60 de cinta para
prar -- Temos o exemplo do Concurso das"Mis apertar , 90 de coxas para violar e O de ca
ses". Ofensa ao pudor? evi dentemente que beça para decidir .
não ! O pudor destes senhores l imita- se a-
penas a tudo o que extravase , ultrapasse as
fro nt8iras da situaç ão de mulher mãe ou ob
jeeto' de prazer .
Ali , a mul her se expõe à morte , ao a-
borto clandestino , evita unia gravidez que
não deseja, faz uma tentativa (6ltima) de
contr ole do seu corpo que l he é negado --
-- há que c ondená- la .
Lá , a mul her se expõe , lhe/nos medem as
ancas , o pei t o , nos compram tal como carne
no talho -- tal como ela a mercadoria se
val oriza e velhos/velhos , novos/velho s , dis
putam o seu saber em matéria de mu l h~r/fê =

2
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mu/he r trabalhadora .'


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Saimo s para fazer uma entrev ista a duas po e , no fundo já não era só uma "entre-
empregadas de limpeza. Duas no me io de vista" .
muitas outr a s . Di sseram-nos: "até que en- Falámos ab~rtamente dos nossos proble-
fim . J á é tempo de se falar de nós. Sabe, mas, da situaçao da mul her tra balhador a em
é um trabalho muito duro !" geral , dos tempos livres (q ue não exist e m)
Começámos p or fazer al gumas perguntas , Um p o"co de tudo. O tempo - o eléctrico-
que foram desde problemas salR,riais a ho- - o trabaL~o - o eléctrico - a c asa ( o
rário f', de trabalho e tudo aquilo que sem- tra balho doméstico) - o dia seguinte - o
-ore se t em p or hábito per guntar . As respos mesmo despertador - o eléctrico ••. o fim
t as são quase sempre as mesmas. Por demais do dia, o cansaço, a rotina, a angústia .
conhecidas , mas muito duras de sentir . Uma vida em que não lhes sobra um mi-
Bom, ao fim e ao cabo falámos e fala- nuto para pensar em si próprias . O jantar
r a m-nos. A nossa conversa durou largo tem o almoço - a roupa su ja - o marido - os
:3
-
fi l hos -- o chao -- o t r apo -- somos máqu~ -- limpa •• •
nas ! -- "Qu'é do me u t r abalho !", e mais , mais.
--" Ai! a minha cabeça". Limpa -- suja- Uma pequena pa r te da nossa conversa :

G.M.- . O que pensam do vosso trabalho? avô morrer am a trabé".lh·, ~ . Só


quero é ter tempo ce chegar
Senhora~. - Re sp ondeu- nos imediatamente: -- a casa ant es de morrE
é um tra balho muito duro . Muito du
r o e sem compensações . E depois~ Senhora C -- Nout r o dia caí u-me um muro ao
se vê , quer dizer a gente l a va e pé de minha casa e fui eu quem
pouco depois já está sujo . teve de dar serventia de pe-
dre i r o. Tive a casa a arra~.
G.M.- ~lal é o vosso horário de trabalho? ~ um trabal hã o ! ·Quando chego
Há quantos ::lDOS é que vocês t raba- não tenho nada feito e nrnguém
lham? me a j uda . Tenho . que fazer tu-
, do . Uma pe ssoa habi tua- se a
Sp. nhora L -- Olhe ! eu cá tenho 57 ano s e trabal har e não nade estar pa
trabalho aqui Ja há 21 rada . Sinto- me muito cansa=
anos . O nosso horário é das 9 da da cabeça . Não tenho um bo
da manhã às 6 da tarde , men os cadinho para conversar com
às sextas - f e iras , que traba- as ami gas . Não me can so de an
lhamo s s ó até à s quatro e t r i n dar de trás para a frente .C an
ta . Mas eu ai nda saio da qui e so- me mais de ser eu a pensar
vo u traba lha r m6l..Í.s> 3 hora s nau em tudo . As mulher es é que têm
tro sítio . as resp onsabilidade s todas , a -
té a de ter filhos .
Se nhora C -- Te nho 35 anos , trabalho à qua
se 10 anos aqui , mas já t r a bã
lhei noutro s s ítios .

G. M.- E o vosso salário?


Sel".hora C -- ~ 6 800$00 f or a os des c onto s .

G.K .- Como é evidente o ordenad o não c he -


ga , pois não?

Senh ora L -- M3.o chega ! E t a nt o ass im é que


quando saio da qui vou traoa-
lhar noutro lado , pois sempr e
é uma ajuda , mas é muit o can-
sativo . Ando sempre mui to
nervosa , no tempo que estou em
casa e lá só eu. é que f aç o to
do o serviço . Vou no eléctrI
co e já vou a pensar no que
he i-de fazer primeiro . And o
no médico dos nervos a tratar
- me . Tenho mui t o trabalho em
capa e não te nho quem me aju-
de . O meu sogro é c ego ;~ 11
anos , está de cama com ave -
lhice , precisa que o lave e
l he dê de comer ~ boca , e não
posso deixá-lo sozinho e s e m
cui dados . Não paro um boca-
dinho , mas pr efiro trabalhar
fo r a , sempre ando mais distra G. M. - E quanto a distracções? Como são
í da , vejo outras pessoas , at e o s vossos tempos livres?
p or que sou uma pessoa muito
activa ! J á o meu pa i e o meu Se nhora L -- Tempos l ivr es? I sso é que e-

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~~ bom! Se eu em casa páro um sim , só exig6 V~:0as e Güisas,
bocadinho e vou ouvir mUS l ca é uma angústia muito grande.
clássica, sabe, eu gosto é des Nós somos escravas do homem.
ta música, fico mais calma ,rlú
penso em nada , mas o meu fi - A nossa conversa não acabou aqui, con-
lho põe- se logo a dizer que tinuou , muito , muito mais tempo . Saimoscan
sou perguiçosa e dorminhoca . tentes por um tempo maravilhoso que passá:
Quando penso que as vizinhas , mos juntas e por termos atirado cá para fo-
v ~ o ao cinema, e aqui e ali , ra muitos problemas que guardávamos cá den
e '~ sinto-me triste, nunca S3io tro o Por termos ouvido dos vossos. Impo:
para me distrai r . E é uma lu- tentes , por ém . Dois casos de entre milha-
ta COG i ~ o mesma, até porque~ res , duas mulheres entre milhões . Uma si-
fim do di a já não aguento mais, tuação que é preciso modificar . Precisa-
estou mui t o cansada e tenho de mos falar , nos reunir , unirmo- nos,para lu-
me levantar cedo no outro dia. tarmos todas juntas contra esta situação,
E rlepois é o marido que chega contra mui tas outras , que não nos perna "Gcm
a casa e diz que e st ou de trom assumir l ivremente aquilo que desejariamos
bas. Mas ele nem seque r per: ser .
gunta porque é que estou as- Limpa -- Suja -- Limpa . Até quando?

A divisão sexual do trabalho s ignifica ~ , por outro l ado , mão- de - obra barata
que homens e mulheres ocupam postos dife- por que existe em grande quant idade (a popu
rentes nas relações sociai s . As mulheres lação feminina é em Portugal cerca de 53,6%
entram na produção dos be ns de consumo en- e por se continuar a considerar o salário
quanto os homens produzem bens que circu- da mulher como suplemento do salário do ho-
Iam ; compartilham assim a exploração e a ex mem , o chefe de família . Actuando como ca-
periênc ia de alienação da força de traba: tal izador , a mão- de - obra feminina é chama-
lho dos traba lhadores homens dentro do ca- da à produção mediante propaganda e le gis-
pitalismo . Mas e porque, dentro da divi - lação adequada . A desigualdade das mulhe-
são social do trabalho do sistema capit~s res no trabalho é constituída dentro da es-
ta a tarefa de manut enção e reproduç ão dos trutura de pr odução capitalista e da divi-
produtor es de bens de consumo é largamente são cio trabalho na indústria e na família.
dada às mulhere s, as relaçõe s , exte:::-iore s Hoje , quand o há cada vez mai s mulhe-
são mantidas em parte pela separação dos res a procurar o mercado do trabalho,a for
papeis macho/fêmea, pelos valo~es de auto - mação profissional continua a ser feudo~
ridade e competição , e em par te pela famí - cul ino e as mulheres exercem as profissões
'a com~ideal -- depósito fant~smagórico, que p or insignificantes , mal r emuneradas ou
",-e emoçoes . maçad oras , o homem não quer .
Si gnifica também que as mulheres c ons- ~ inegáve l ainda agora que a mulher
tituem um contingente de reserva convenien é muito menos " profissional" que o homem,
te que trabalhará sujeito a meio ordenadõ c"onsti tuindo o empre go a sua segunda pro-
e que pode ser reabsorvido na famíl i a no fissão , absorvidas como estão pelos proble
caso de desemprego. Como mão-de-obra dis- mas da casa e dos filhos . Daí aceitarem
ponível é chamada a integrar- se na activi- qual quer trabal ho , cri ando uma ponte entre
dade económica , ou é repelida c onsoante as as tarefas que as mulheres "aceitam desem-
necessidades de momento , da situação polí - penhar" e as que os homens lhe reservam .
tica ou económica. Durante a última guer- A mulher entra no mercado do trabalho
ra, porque os homens se encontravam mobi- em condições desiguais e portanto concor-
lizados na frente de combate, surgiu a ne- renciais em relação ao homem ; este facto
ce s s i dade da cooperação das mulheres na "de ser ve para r eforçar a imagem tradi cionalda
fesa da pátria" . Então e las ocuparam os mulher , per petua r " o seu papel secundário,
"lugares dos homens" nas fábricas , oficinas contribuindo para o desajuste futuro , con-
etc .• Te rminada a guerra e com o aumento t i nuador do passado .
de mão-de-obra, volta de novo a servir o Hoje , cada vez mai s a mulher procura
i deal da mulher no lar , da indi spensabili- salt ar o mundo das " suas profissões "tradi-
dade da presença da mulher em casa, volta- c i onais" (ligadas à sua função social e co-
- se ao mito da "doc e fada do lar" . mo tal desvalorizadas) ! E gasta- se na pro

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cura, na l uta , pela conqulsta do seu lugar: po sujeito a uma opressão específica, são
o direito a escolher a sua profissão; bem reais: Coexi stência complementarizan-
o direito a salário igual; te da hierarquia de classes, e da hierar-
direito a condições materiais para o e- quia de sexos, a preservação do princlplo
xercício da sua profissão ; masc ulino dominante, e a realização dos in
direito a qualifi cação e dignificação teresses da classe pr-iv'il~giada.
profissional;
direito a iguais poss ib ilidades de pro-
moção .
. .. Para quando?
PARA QUANDO? •.. Quando todos os que estão realmen-
te vivos se convencerem que 40% das mulhe-
A consagração constitucional destes r es portuguesas são analfabetas e muitas
direitos não implica por si só a sua efec- outras são vítimas desse analfabeti smo que
tivação . Por outro lado , os blocos que e- nasce do não rec onhecime nto de si próprio
xistem contra nós , mulheres , enquanto gru- e dos outros , e que isto assim ••• não vai!

~ri~~~c&1jW~~
~xtl~aido do 3l.l2ajuridico da mulherJ
A especial consagração da igualdade de Encont ram-se em vigor normas que pro i
direitos entre ambos os sexos -'e l:lIlca-se bem o emprego de mulheres elE aG':.~vi' , --lO';;:
em parte na legislação p ortuguesa e deve
ser vista como um apelo à efectiva partici
pação da mulher La actividade económica e
não como uma !lIera conquista vazia de COrl-'
teúdo . Exemrlo disso é o consagrado tanto
no plano constitucional <oomo nos próprios
preceitos específicos do trabalho - lei ('O
contrato de trabalho e demais legislação ~
dinárió..

"C onsagrando a igualdade de oportunida-


des na escolha de profissão ou géne ro de
trabalho e cond l r:ão para que não seja veda
do ou limit ado , em funç~o do sexo , o aces=
so a quaisquer cargos, trabalho ou catego-
rias profissionais", a lei const i tucicnal,
estabelece que, "tod os têm o direito de
escolher livremente a profi s são ou s~nero
de tralialho ••• salvo as restrições legais
impostas pelo interesse colectivo ou ine-
rentes à sua própria capacidade ."
Por outro lado " o estado reconhece a
maternidade como valor social eminente,pro consideradas peri gos'1'" ou insalúbres. Ape-
tegeúdo a mãe nas exigências específicas dã sar de justificadas a t ravés do intuito de
. sua insubstituível acção quanto à educação protecção da integridade física e mora.l das
dos filhos e garantindo a sua ,: realização trabalhadoras, algumas dessas medidas tra-
profissional e a sua participação na vida duziam, de facto, restriçõe~ às suas pos-
cívica do país", ao mesmo tempo que lhe in- si bilidades de er.1prego e obstáculos à ele-
cumbe assegurar "a especial protecção do vação dos seus níveis de remuneração . AI~m
trabalho das mulheres durante a gravidez disso não se pode deixar de referir que mui
e apÓE o parto ••. " tos dos trabalh os apontados como perigosos
para a mulher são-no efectivame nte para to
Plano pró~rio do direito de trabalho dos os trabalhadores. A adopção de medi =
das tendentes a melhorar as condições de
trabalho bem como a vigilância m~dica acti
1. TRABAlBO: ACTIVIDADES VEDADAS va impõe-se para todos os trabalhadores em
geral. No caso específico d.a mul her tor- E dur ante a gravidez :
nou- se imEeriosa a ne cessidade de r eforçar
a prot ecçao à maternidade quando os riscos Os tTabalhos que exijam a sua permanên-
inerentes ao traba l ho a afectam na 5ua fun c i a a inda que por breve período de tem-
ção genética - esta limitação só pode ser' po em todos os l ocais em que se ut i li-
alvo de uma lei ou portaria de regulamenta
zem substâncias tóxicas~
ção de trabalho e não de contrato indi vidu=
O transporte manual de qualquer carga
alou de convenção colectiva .
Assim, são proíbidos às mulheres os que exceda os lO kg.
Os trabalhos que comportem o risco fre-
trabalhos que exigem a utilização de s1..1bs-
tâncias tóxica s (mercúrio , benzeno, sulfure quente de vi brações e 'trepidações
to de carbono , etc . ) (continuaremos no próximo número do bo-
Em atmosfera de ar comprimido letim com a legislação de trabalho. Fa-
Que exijam o transpor te manual de car- h.rF,:,mos je : Contrato I ndividual de Tra
gas cujo peso excede 15 Kg . balho 1 Tra'oa.lh8 Eventual e a prazo IDes
Que a exponham a radiações ionizantes . pedimentos ; Faltas e Sanções; H orári~
de Trabalho e Segurança Social) .

CNAC
AS MULHERES ACUSAI1 LEi DO
fJDORTO
Dia 24 ele J unho . Voz do Operário . Mu-
lheres vão re "ynir , testemunha r , exigir nova
legislação sobre o abort o .
Organizado pelo CNAC, advogadas , soció-
ogas , p s icólo gas , médicas vão f a l ar da l~
~ islação actual , das suas consequênci as s ~
ciais / psíquicas / f í sicas par a as mulhe-
res . E eles vão falar dos abortos que f ize
ram , dep~r dos risco s que correram dos pro
blemas que enfrentaram , dize r,- "~ que, os tribü
nais calam . Os tribunais vão julgar uma
mulher acusada de crime ab orto , em Lisboa,
no dia 5 de Julho. No dia 24 vai-se fa l ar
de outra forma/por outras palavras/ pelas
nossas palavras. Maria Antónia PalIa está
em Tribunal. Vamos defender no dia 24 o
direito a uma informaç~o que sirva de f ac -
t o os interesses 80S direitos das mul he-
reso A sessi'io pública de jul gamento de lei,
aprovará ainda os pontos gerai s de uma no-
va legislação a ser reivindicada por to-
das(os) nós .

SEDE NACIONAL DO CNAC -- Rua Rodri gues


o
Sampaio , n. 32-r/c-Esq . o , Li sboa .
o 31 D ~ t1~RÇO no mundo

No dia 31 de Março , convocado pelo ICAR como Dia lirte:rnacional de Ac~, tiveram lugar
em dezenas de paí ses mobilizaçõe s pela defesa do direito da mulher à contracepção, ao abor-
to livre , grat uito e ass i stido contra a este rili zação compulsiva .
~ a primeira vez que se organiza de f ~rma coordenada uma campanha internacional por es-
tes ob jectivos , se bem que em muitos países a ní vel nacional , estas exigênci as venham mobi-
lizando as mulheres de há vári os anos para cá. A importância desta camp anha está precisa-
mente nesta coo rdenaç~o a nível mundial d a luta pelos direitos da mu l her , daí a sua força e
o seu signif icado. A '"' la aderi r am já. cente nas de organizações de mais de vinte países ; a-
grupando desde grupos e movimentos de mul he res , organizações polític as , sindicatos , organis-
mos de planeamento familiar, etc •• O d i a 31 de Març o , fo i o primeir o dia mundial de acção
que será cont inuado co m o desenvo l ver da campanha de agora em d i ante . No momento em que es-
crevemos estas páginas a inda não há i nformaç ões completas sobre as re a l izaç ões que tiveram
lugar em todos os países participantes J!a campanha ~ as info rmações a seguir divulgadas são
assim as prime iras recolhidas . El as r evelam porém desde já , que a primeira J ornada Interna
cional , foi no geral um grande êxito .

H o 1 .a . n d a

A ornada começou com a man i festaç ~ o de bic i cleta , que fez a vol ta a todas as Gm~)aixa­
das , mas em que o obje ctivo era em particular a embaixada da Irlanda . Te o'minou com uma gra:2
de festa em Haye .
No norte do país , realizou- se uma mani festaç~o de 1 500 pessoas e no sul de 3 000 pes-
soas .

G r ã-B r e t a n h a

Londr es , 5 000 pessoas na manifestação , que percorr eu as' ruas desde o Hyde Park até Tra
falgar Squaer , l evando slogans internacionais e exigindo ma i s c línicas ~ aborto . A presen-
ça internaci onal foi muito importante , estiveram present es mulheres do movimento feminista
espanhol , dos Estados Unidos , Améric a Lat ina, I tália e Alemanha . Na c oncentração final to-
maram a inda a palavra represen t antes da U. N. E., da campanha nacional pe l o aborto , da comuni
dade Asiática , do Si nd icato Nacional dos Pr ofessores e da coor denação nacional do ICAR .

B é 1 g i c t...

Em Bruxelas , 8 000 pessoas manifestaram- se . A manifestaç ã o foi apoiada pelo P . S. (com


a presença de cartazes deste partido na mani festação ) , o P. S . U., J. S . e as J .C. ( o P oC. B.rfu
apoiou nem part i cipou nesta iniciativa) , e a L. R. T .• A manifestação mobilizou o movimento
de mulheres ~ escal a nacional , os comités pe l a de spenalização do aborto , os trahal'l aclo:ces
das clínicas e o movimento homossexual . As mul heres Lati no- Americanas estiveram presentes
em grande número, bem como a or ganiz ac ã o para o planeamento da família e s indicatos .

I t á 1 i a

Turim - Uma concentração convocada pela U. D. I. (Organização de Mulheres afectas ao PCr)


e pelos GCR ( Secção Italiana da Quarta I nternacional ) reagrup ou uma centenas de pessoas . Nos
ta iniciativa falou a i nda uma oradora sueca e outra uruguaia , e fo r am representados numero=
sos sketches acerca da s ituação do abort o em It ália .~< Em Roma , da parte da manhã , realiz ou-
- se uma conf erência de imprem;a do movimento de mulheres s obre a situação nacional. À tarde
reaJizou- se um Meet ing promovido pelo movimento de mulheres sobre a situação do aborto nos
dife r e,-·t e s países . Em Milão teve l ugar um Meet ing na Univer sidade .

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o 31 DE t1ARÇü no munc::lo

S u i ç a

300 pessoas est i veram pres 'ntes no Meeting em Berna , resp ondendo ao apelo do PS ,PC, ou-
tros part.idos da ex t r ema esquerda , dife r entes movimentos feministas e c omi t é s pe l o direi to
ao aborto . Daí sairam diferent es moç õe s sobre o Irão , a Holanda e África . Este mee ting~
mitiu l ançar as bases para uma futura campanha nacional .

L u x e _ b u r g o

Concentração de mu l he re s frente à Embaixada de Espanha .

aborto - an ticoncepción :
derecho de las ll1ujeres ( (lN RACEP T l or~
et . ·. ·· '·'R-
.. I, -."'"L,~
. ~ ~r. ' -l r"=_, .~.•. 'f, 1"
no alaesterilización forzosa ~

las Illujeres AVO ~ ~ c ~fo r-


deciden LI I ~

dia internacional
de acción
31 de marzo de 1979

Espanh a

1000 pesso as em Barcelona e em Madrid , conce ntr a r a m- se r espondendo a o apelo de Comités


locais , apo iado por um grande número de part idos e movimentos . Fni a primeira vez que em
~ spanha , mulheres que abo rtaram te stemunharam publica mente as condições que o fiz eram,as vi
agens ao est r angei ro , e t c •... Em Sevi lha , t eve lugar um mee t ing com 300 pessoas c onvocadõ
pel o movimento de mulhre s , onde estiveram pre se ntes t odos os partid os c 8nvidados e se efec-
tuou um aceso de bate .

li' r a n ç a

Em Loude ar ( Norte ) o Planeamento Famili a r organizou e m c onj unto com o ~, o PS , a LeR,


o PCML, a CEDT, CGT , FEN, FO, uma tarde de mulhe:re s. Em Pari s , a c oordena ção do s grup os
de mul he re s Nord 92, r ecolheu um abaixo assinado por centros de IVE (Inte rrupção Voluntária
da Gravidez) , animando numerosos gr upo s de discuss80 . Os grupos de mul heres do XVIII O,Xo e
IXo , or ganiz aram uma concentraç ão . Em Montpellier, f or a m d i s tribu í dos 18 000 exemp l a res de
um comun icado e laborado p or um co l e ctivo , r eagrupand o a FEN, CFDT, Grupos de Mulhere s , Pla-
neamento Fami li ar , CNSC, MAS , União Geral da Educ ação Nacional , PS, PSU , LeR, OCT,PCml,JCR-
-(a CGT r etirou no último momen t o o s eu apoio alegando a presença de partidos da ext r ema es
querda ) . No apelo c ol ectivo, exige- se : " o ab orto livre e levado a cabo pelos serviços de
saúde social" e propos- s e a prepar ar em Montpel lier centros de aborto livre, gr atuit o e as-

9
sist ido . Ainda se r eali zaram manifestaçõe s em Lyon e em Havre . Em França , onde a "lei
Veil" deverá se r r edi scutida brevemente no parl amento , a mobilização não foi tão grande qua~

Costa
Bica

Em San J osé r ealiz ou- se pela primeira vez uma c nncentração pelo abo r to e contracepçãono
gr ande parque centr a l da Cidade . A Televisão e a impre nsa nacional estiveram presentes .

V e n e z u e 1 a
Meet i ng no dia 30 de Março , em Caracas , que reagrupo u 1 000 pessoas .

U o S. A.

Manifestaç ões em 25 c idades entre as quais : Nova York , Hartfo r d , Bo ston , Dallas , Aus-
t i n , San António , S~n Francisco , Sacramento , Los Angels , Portl and , Eugene , Pittsbur gh , Phi-
ladelphia , Búffalo , Kansas Cyte , Cinic i natti , Columbos Chicago , Milwvaukee .

C a n a d á

Manifestações e m Vancouver , Montreal e Tor onto .

/ -- -------------------------- -- - -- -

~.I)
I

\
\
,Planeamento Jami!tar ?~"
'- ------------------------------------------------------------------------------------------~

Já não é a primeira vez que falamos em nã o é suficiente ( apesar de ser fundamen -


p l aneamento familiar . T ~mbém não é a pri - tal) a existência ou abertura de consul-
meira vez que reafi rmamos o dire i t o da mu- tas em hospitais e ce ntros de saúde . ~ pre -
lher a uma mate rn idade c ons ciente e deseja ciso ampliar cada vez mais o número de pes,---
da , a nece ss i dade de uma amp la d i vulga çãõ soas dispostas / capazes de um trabalho
10s mé t odos contraceptivos , a urgência da de tipo diferente , que po s sa ir de facto
legalizaç~o do abort o i nclu ído nos 5ervi- ao encontro da s populações , das mulheres ,
ços de a ssi stê ncia médica do paí s . Se é vel: e já nã.o tanto que se . limite a esperar que
dade que hoje uma percentagem razoável de as mu l heres venham até ele . ~ necessárioum
mul heres util iza já meios anti - concepcio- traba lho conju nto , coordenado entre_ pes-
nai s , também é verdade que a grande maio- soal técnico (m~dicos , enfermeiros , por e -
ria continua na mais completa i gnorânciano xemplo) e monitores de planeamento , ass ir~co
que respe ita à sua comp l eta existê ncia ou mo todo um sector de pessoas ( assistentes
ao modo como se deve m utilizar . Podemos soc i ais por exemplo) que se d i sponha a ir
me smo dizer que uma boa percentagem das " fa para a frente com este trabalho . ~ em tal
lhas" dos mét odos se de vem não aos métodos act i vidade que está empenhado o Grupo da
" e m s i", mas a erros e fal has que se come - Mu l her da AAC que , em conjunto com a APF de
tem na sua ap l icaç ã o . ~ então sempre e ca- Coimbra , rea l izou um curso para " mon ito-
da vez mai s importante avançar com este tra res de PJ aneamento Famili ar". Depois do cur
bal ho de esclarecimento / di vul rTação do Plã so passado , há mui to a fazer -- para já vaI
neamento Familiar , tornando- o cada vez mais - se passar ainda este ano um inquérito so=
aces~ ível à s mul heres que o pretendam , alar bre Pl aneamento F~miliar bem como real izar
gando cada vez ma i s o número das que a ele sessões de divulgação num bairro de Coim-
recorrem . E também é evidente que para t a l bra e na Universidade .

10
Associação para o planeamento da família ,

o CNAC l evou a cabo no Porto , no dia 27 oe Haio


nas I nstalaç ões da Coopera+, iva Árvore, em conjunto Lisboa - Rua Artilharia 1 ,
o
com o GAHP, a projecçã o do Filme " Aborto não é um 38- 2 . , DtQ - 1200
crime" (fi l me que motivou a acusaç ão a Maria Antó.,. . LISBOA-Tel . 653993
n.ia Pal I a) , seguido de decate , no qua}_ e s ti ve ram
pre sentes cerca de 150 ~essoas , e no qual ~ntrevie Co imbra - Av, Navarro(por ci
::êam , entre outras , I nê s Lour enço , Fina da Armada , ma do Pat acão)2 . Õ
médicos e jornalistas . B, permanê nc ias
das 15 às 19horas

Estão a funciona:>:' no di strito de Coimbra


as seguintes ccnsult as de p l aneam~nt o fami
liar :

Distrito de COIMBRA

Arganil Lousã
Centro de Saúde de Arganil Centro de Saúde da Lousã
Rua Condessa de Canas Praça Cândido dos Re is
Te!. 22475 Te!. 99138
• 5.0 I. das 10 as 12 h . • 3." f . e 5.0 I. das 16 às 17.30 h .

Cantanhede Mira
Centro de Saúde de Ca ntanhede Centro de Saú de de Mira
Edifício do Hospital Av . 25 de Abril
Te!. 42415 Te!. 45444
• segundas e últimas 6 .os I. de cada mês • 2.0 I. das 17 às 19 h .
das 14 as 17.30 h .
Miranda do Corvo
Coimbra Centro de Saúde de Miranda do Corvo
Centro de Saúde Distrital Cruz Branca
Rua Augusto Roc ha Te!. 52260
Te!. 22619 • 3.0 I. e 5.0 f. das 10 às 12 h .
• 2.0 1. , 4.0 f e 6.0 I. das 14 as 17 h .

Coimbra
Hospital da Universidade n Montemor-o-Velho
Largo da Un ive rsidade
Te!. 22133 Centro de Saúde de Montemor-o-Velho
• 3.0 I. e 4.0 I. as 8.30 h . Te l. 68225
• Informar-se no Centro
Coimbra
Maternidade Es co lar Santa Teresa (") Penacova
Trav. do Espirito Santo Centro de Saú de de Penaccva
Tel. 22065 / 8 Edi fício do Hospítal
• Informar-se na Maternidade Te!. 47134
• 4.0 f . e 6.0 f . das 16 às 18 h .
Coimbra
Cen tro Hosp italar Bissaya Barreto n Penela
Quinta da Rainha Centro de Saú de de Penela
Te!. 220 17 / 9, 29021 /2 Edifício do Hospita l
• 2.0 1. , 5." I. e 6.0 I. marcações das 8.30 Te!. 56160
às 10.30 h . seguindo-se as consultas. • 2.0 1. , 5.0 I. e 6.0 f. das 14 às 17.30 h .

ii
,
nos e...

flJiolô(ão
,
a dor d<1 gente .
Sa\ no Jornal
Quantas de nós não sent imos já meao nas Notícia do jornal
ruas?
Quantas de nós não evitamos andar de
" Foi hoje capturado por elementos da G
noite sózinhas?
N R,F ..• que há duas semanas tinha abusado
Quantas de nós não _foram já viol adas?
de F •.• de 7 anos , que teve que sofrer in-
g evi dente que dentro da nossa soc iedadeto ternamento hospitalar".
dos os dias os direit os mais essenciais ~
violados , com especial re l evo os direitos
Resposta de uma nossa colega vi ola{a qu
da mulher .
Um deles é a violentaç ~ o física da mu- ando lhe perguntámos se ao ler no jornalcã
sos de violação de raparigas , tinha algumã
lher . Porquê? .
Há várias teorias e cada urna à sua ma- vez pensado !}ue isso também l he poderia vir
neira tenta explicar o porquê da s viola- a acontecer : "Acontecia-me r i r, pelo insó
litD ou pela . nossa segurança dele.i tores ~
ções .
Uns baseiam- se na hereditariedade , ou "acon.t ecimento.s."-. em :relação aos .quais . nos
seja , um indivíduo que nasce já t r az em s i sentimos minimamente envolvidos. Como diz
o germen de violador . o Obico Buarque"a dor da gente não sai no
jornal" .
g a rapariga que provoca os homens , di-
rão outros . E mai s recente é talvez a da-
quela ""outora" australiana que descobriu ,
que , quando na mulher se dáa 0vulação emi-
te determinado cheiro que é captado pelo
violador e o subconsciente de s te impe l e~a
violar a mulher . E que dirá esta "doutora"
acerca da vio l aç ão de criança s? Que chei -
ros emit em?
Pa r a faze rmos urna anál i se do problema
da violaç ã o não nos podemos desli8ar de to
da urna moral , urna educaç ão , enf im , de t odã
a sociedade .
g o desemprego , é o anal fabe tismo , é a
fome que milhare·s de pessoas sofrem por dia
ge rando um clima de tensão do vic1ência .
~ a educaç ã o ; e toda a família sorri ao
ver o pequenito l evantar as saias para es-
preitar as pernas de, criada . Já nessa al-
tura ele é ensinado a ver na mulher um ob-
jecto c om pernas e mamas . São os fi lmes ,
é a te l evisão . 'Tudo c ontribui para que a
mulher se j a conside r ada um object o . Um ob-
jecto para quê? Para dar praze r ao homem .
~ o resumo da moral da história da nossa
sociedade . A mulher ou é vio l ada passiva-
ment e na cama pelo marido ou violentada à
. J,
f orça na rua . Sempre a mesma lmagem : e s o
abrir as pernas , a bem ou a mal •••
At é quando? ??

12
quando no s zangamos , cha mam- nos \p'-'s t éricas, • ,
Ent retant o e ent re ".,.a ún i ca suec a
com que ele p ode viver ••• " surge uma enor
me , gama de arti go s para "fac ilitar" o t r a:
balho d a mulher , A escrava do l ar é agora
a téc nica que prepar a r efei ções TIA ROSA ,
limpa o chão c om Glo- co , usa aspirador es
Nilfi sk e purif i ca o seu l a r com ar oma de
pinhe iro ,
A mulher sofr e da contr adição , que só
poderá r esol ver- se pela compr a de apareliLs
de uso domé stico : frigorí fico s , batedeiras,
etc . -- pois a obri gaç ã o de trabal har e ser
s imul taneame nte uma Raque l Welch , terá qiJe
se r esolver em benef í cio da indústria l i -
geir a .
A publicidade d i rigida à mul her tem vi n
do a i mpulsionar a c onver gência de dois i = ... reduza- se ao consumo !
deais : -- a mul he r bela e à moda depois ofereça- se e exiba- se !
"Mi nha Senhora f aça- se bela"
"Minha Senhora faça- se bela' Agora ,já não há a necessidade de criar
c ondi ç ões para a produção de mercadorias ,
Usando .•. " mas cr i ar condições par a a venda das mes-
~ Agr ade e seduza !
mas , A nrocura já não existe ," faz - se " (o
sabor de que se aprende a gost ar •• , )e pas-
e A DONA DE CAS A FI RMEMENTE AGARRADA À CO- sa a ser produto acabado de rádio , televi -
s ~ o , publ icidade .
ZINHA
g ass i m que , atravé s da elaboração de
OMO LAVA MAIS BRANCO.•. LI MPA TUDO CO- uma ideo l o ~ia de venda ~nseparável dos va-
MO UM TORNADO BRANCO .•. l or es dominante s da classe no poder , a cha-
mada sociedade de consumo , procura lev ar
"Cl Maria , lembra- te disto ••. Quero em a mul her a comprar , comprar , comprar , cada
c asa bom pet i s co" vez mais e a não produzi r •• ,
E já isto para não falar no aproveita-
A imagem que apre goam para preparar a mento da " fi gura mul her" na contraparte das
mulher para a competição sex ua l está pré- t éc ni cas Marketing' mulheres boazonas,
- estabelecida ( para os devidos efe i tos con mai s ou menos vestidas , alienadas •.• sempre
sulta r qualque r revista da actualidade) . - acompanhando um produto para você comprar.
As mulhe r es convertem- se em at r act ivas Como já disse Maria Antónia Firlde iro : " , • . g
mercadori as/ objectos paTét consumo de uma po por que você nã o sabe que só existe como ob
pulaç ão masculina ávida de novas experiê n= j ecto de de se j o alienado e que é por isso
cias . E a evitar que ela desperte , sur ge a que vem se mpre associada e ao lado de uma
~o ciedade de consumo ." mercadori a , de . um produto , uma embalagemru
Por outro lado , as revi stas mundana s ji i nvól ucro ••• "
estão a ter a " sua vers ~.o de l ibertaçioo s e Er a ass i m que nos que r iam : passivas e
xual" : como desp ir- se em f r ente do mar i dõ, obedi entes , i ns i gnificantes e esposas , idio
cuidad os a ter com o s eu corp o , r epr ovaç ão tas ••• mas ••• " boas" •.•
da E3.ssi v if:'. a ':le na cama , 100 maneiras de en-
gatar o marido , etc ., etc .,

Seja assim •.. sej a dele !


Enc ontrará dono !
Sorria , . sorria sempre !

Todos estes co nceitos de pre t ensa na-


tureza femi nina s ão elabor ado s em culturas
dominadas por homens , emb uídas de pr e t en-
ções , na generalidade vi ndãs da época manu
elina ( para uso naci onal : •. ) mas outra s ra:
cionalizando já a f orma que o patri a rcad o
assumiu no capital ismo .
A" feminil i dade " é o me i o conve nientep~
ra nos fazer acreditar que a submi ssã o , do-
çura , fraqueza , medo , etc ., etc . é qualquer
coisa de irremediavelmente natural ... E
13
í sexualidade
~~_ _ _ __ _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _
v __
. _ _ __ _
~

Então , o qUe e ser virgem? Pode-se fa


lar de um ponto de vista f í sico , mas sobr~
tudo , do ponto de vista soc~a l . Para aque -
las que tive ram uma educação religiosa a
perca da virginda,de antes dc casamento é
um "pecado" - Um adeus à castidade , à pur~
za branca e imaculada .

" .•. Como a maior parte das mulheres


. A Revolução sexual, depois de 1968 , e
nos aros 60 , eu ignora va tudo soure contr~
a utilização pro gressiva da p ílula veio
cepção , mesmo depois das minhas p~ci ::lejras
questionar esta atitude perante a virgin-
experi&ncias sexuais . Não ?usav~ falar _a
dade . Antes , se um horr.em nos ped ia para
um médico , por causa da leglslaçao entao
fazer âmor com ele podiamos sempre evo-
em vigor e do r.leu próprio sentimento de cul
car a nossa " virgi ndaje " ou dizer que ti-
pa - tinba vindo de uma família católica
nhamos medo de fic 2,r grávidas . Agora é di-
C o~tentei - me cor,1 " flirts " e a I greja Cató-
f íc il r ecusar: " ser virgem já não está na
lica considera que é pecado fazer amor an-
moda" e os métodos contraceptivos e stão bas
tes do casamento . Deixei a Igreja no dia
tante divul gados . E preciso saber dizer
em que , no confsssionário , me deparei com
não a um homem que não d esejamos . A perca
um padre que me disse que fazer a.mo r com o
da virgindade , da " pureza e da inoc&ncia",
meu noivo era r,ecado e que referi u que eu
é vista agora como um afastame!lto e pa c; sa-
não era séria , não seria uma espcsa fiel
gem da infância para a " ida~e adulta", mar-
se antes de casar tivesse uma experlencia
ca um ruptura , é cons ideradâ como" urr, pas-
sexua.l ; e le recusou-me a absolviç ão e eu so para a autonomia" ,
nao voltei mais lá",

" • . . A oposição entre a " ·virgem" e a


" puta" não é apenas uma noção abstra cta .E-
la transmite - se atravé s de obras literá-
ri as , ela f az igualmente parte de uma ex-
pe ri& ncia quotidiana de adolesc9ntes que
somos . Nos anos 60 , o grupo de j ovens c om
luem ia à escola sustentava esta dicotomia.
Virgem ou puta . Nós não empregavamos es-
ses termos , claro , mas era assim que jul-
gávamos as raparigas . Havia uma c l ara di-
ferença entre a " rapariga bem" que não te-
ria relações antes do casamento , e aque l a
que se "deitava" com um rapaz , c1enomina",:
de " fácil ", mas não havia um julgamento s~
milar para os rapazes que dormiam com as
" fácei s". Achavamos até que eles deviam
adquirir experiências para aprenderem a f~
zer amor com as jovens raparigas virgens
que desposariam ."

14
" Ej pur a ironia ver a minha mãe , que
t ambém foi r eprimida sexualmente a prote-
ge r a minha virgi.ndade para a ' ofe re cer " a
um ho me m que não c onhece ,"

" .•. Est a oposição entre a desvirgin-


dade e casamento, .obriga- me a casar mais
cedo do que gostaria , pois a únfca forma
de ter relações sexuais é casando- me " .

Faland c do tabu' da "d es fl oraçao


- " vemos
que os manuais matrimoniais consagram- lh e
cap í t~ l os inteiros , os manuais pornográfi-
c as também . As passag ens dos manuai s p .:)r -
no gráfi cos dão- nos uma ' sensação de náusea :·
os golpes do homem , as .suas (l ificul ·:: a(,~, es
em "penetr:ir" os gritos da mulher , a insis Os manuais matrimon~ais sugerem que o
t ênc i a do homem , o reconhecimento do pape l marido deve diminuir " sofrimento" através
de mulher " çue se entrega" . Eis o que , na de certas técnicas de contracção , mas não
f orma mais violenta , os homens esperam da mencionam esquecem- no propositadamente , a
S1OO. pri meira r elação com uma Jr. L:lher virgem . possibilidade de evitar qualquer dor .
E: a educação que lhe s impõe esta violência , Sim , .p orque a "dor" tem também o seu
e o mai s triste é que muitas de nós a acei papel na ma.nutença.o da desigualdade . E: pa ra
tarn . OhÍmen é uma memb:::-ana flexível , é pre uma mulher a coisa mais s imples do mundo
c i so d i zê- l o , que se rorr,pe sem , ou antes da romper c seu hímen introduzindo , um dedo
primeira r elação . Contrariamente ao que se na vagina e exer cendo per iodicamen'e, e pres-
pEn sa , and ar a cavalo ou trepar às arvor e s são sobre as paredes . E: de t al forma sim-
não tem p~ém nenhum efeito sobre o h{men. ples que a maioria de nós nem pensa ni sso .
Entr etanto , a introdução do dedo ( durante Se quizermos privar os homens da " sua gota
caríc ias) ou até de um tampão pode provo- de s angue '.' , não custa nada .
car urna ruptura . As primeiras rel aç ões não A virgi ndade e tudo o que a rod e ia con
provocam , então nenhuma dor f í s ica. ti nua a. pesar sobre as no ssas vidas . Nó';-
O homem não tem então necessidade de não conhecemos os nossos próprios corpos e
se comportar como um tanque e a mulher de de sejos . Mais uma vez os fazemos depender
gritar ou desmaiar . A ideologia e mitos d os outros e das inst itui ç~es o
que a ssimilámo s deformam a realidade , fazem (Extraído da EnCiclopédia " l'ilClTRE CORPS ,
aparecer as mul heres como seres "débe is " e
nous mêmes " - elabora9ão de um colectivo
os homens como sere s " agres;s ivos". Porque de mulheres francesas) .
devemos ou temos que sofrer essa dor? _

o J iJ
E , digamos , segundo um model o biológico que a dominaç ã o de sexo é repre sentada : as mu.-
l heres como únicos seres humanos com vagina são os únicos susceptíveis de serem"penetrados"
- esta ideia é aliás reforçada pela concepção br utal izante da relação sexual (que aliás t e:'li
a sua mais dramática expressão na violação) , e que vale , para o homem , como br utal afirmaçãc
de virilidade , corolária de uma frontal ignorância dos mecanismos de acesso ao prazer pela ::;
mulheres , e , conseque ntemente , do direito a es se acesso , que é negado . Como único orifíc io
com f unções espec i ficame nte sexuais , a vagina é sobreval orizada c omo instrumento de prazer
para o homem , ignorando- se o clitóri s como principal região erógena do corpo· da mulher . Para
homem o princípio do prazer , para a mulher o princípi ~ da reprodução( ' ~se és homem , afiTma~te
enquanto tal , é por i sso que v21es e te farás vale r ; se és mulher trata mas é de ~rran j&r
um homem que te saiba manter no teu lugar , que é a í que estás bem") - mas esquece - se que ' o
aces so ao prazer o~ é livre e plenamente empreendido pelos dois em igualdade de circunstân-
cias , ou nenhum conseguirá o máximo do seu corpo , bem supremo da natur eza . Mais ; a mul her
enquanto único ser humano possuidor de vagina , é propriedade em si mesma (e como tal negoci
ável pela pro st ituição e pelo casamento) , objecto de uso do macho . Este , sujeito desse u s~
é proprietário, o falo , seu ins t r umento de uso , é instr umento de poder e , segundo a ideol o-
gia patriarcal, prerrogativa que lhe assegura a sua condição dominante .

15
A mulher será assim o objecto sexual suje it o à " ofensi va" masculina , fálica:';: ,'Submissa,
pass i va , " aberta", poço fundo que se l imita a r eceber o sémen , num ventre em que gestar2:o os
seus filhos , que aliás há- de criar para uma sociedade feita bem ma is à medida dele que àsua,
ma s afinal não em função da re alizaç ã o humana de nen!'mm . Aqui , é o macho o " ofens()~ ", o" for
te ", E é aqui t ambém que radic a a interdição a~so l uta da penetração entre machos ,interdiçã)
mo:cal, cient ífica ( ou qUE'.: ;::;omo tal se mascara) , " clínica", jurí dica , e enfim , políticét , exac
tamente porque nos enc ontramo s já no ca.mpo cio poder -- o corpo é o l ocal como convergem õ
poder privado e o poder mais l atame n te público , que a ideologia dom::'nante postulá, come um
único que é verdadeiramente " político " . Qualquer home;n o sabe ; intimamente ele reconhece - o~
pesar de tudo sempre t enho um cu) , num mi sto de medo e de culto , ele reage agredind,o , ag!:'e =
dindo a mulhe :c (a r e lação sexual é tomada como uma vitória sobre a mulher) e agr9d i ndo , mas
já de outro l ado , qu a l quer " traidor" - o â nus é negado enquanto objecto de penetração . Vio-
lental1ente dessexualizado , porque a única " brecha" pela q ual o macho " dominador" poderia ser
dominado , ofendido submetido à últ ima das perversões da natureza , ou melhor da SUA nature za
de homem domi nador . Ser" dor.ünado " p or outro horaem seria sllbv·.> rter Lodas as relações esta-
belecidas ao n í vel do poder inter-pessoal, inter- individ ual , tào político ele como o nível
da dominação patrão-operário . E depois , qual 2 o homem que qu~r sentir- se domi~ado? Se a
relação sexual com outro homem lhe é dada como uma relação de dominação , como pode ele acei
tá- la,
Para o homem, ( e r eferimo- nos sobretudo ao homem embuído de valores maxistas e patriar-
cais) , é deste modo que é valorada a homossexualida.d.e masculina , Quanto à sua congé nere fe
mlnlna é já valorada de outro modo ó entre duas mulhe:t'es não se p õe já a quest ão de domi~a:
ção mútua , pois em termos de " sens:) comum", apenas o falo masculino é valorizado '; enquanto
instrumento de poder , o que não acontece co m qualque r dos orgão s sexuais da mul her . O inter
cürso sexual entre mulheres não assume , por isso , para muita gente , a gravidade que a mesmã
relação entr,:~ dois homens ( todos conhecemos um d o s máximos insultos da lingüagem machistaql..B
envolve em si a carga de poder da sociedade patria:ccal :" Vai- te foder !" ) - enquanto que pa-
ra o homem machista a, " f ufa " é a m'~lher que até tem fama de o saber satisfazer como nenhuma
mulher heterossexuaL o " paneleiro " é o home m que aceita ser dominado por outro ,
I sto não s~nifica que a homossexualidade feminina não constitua , cOl1t udo um desafio à
sociedade patriarcal e à sua ideologi a d ominante, assim como às práticas fa l ocráticas que J.h:;
corc:'8spondem - ao assumir uma mülher COlil::J seu objecto sexual preferencial , a _mu l~er lé sbi-
ca demonstc:'a por essa atitude a não necessidade de um homem para sua sat isfaçao , procuran -
do um ser do mesmo sexo para a:nar , Este desafio , aliás correspondido pe l a mulher não lé sbi-
ca qua~'ldi) assume o p r azer cli torid.ia.no como fo nte primordial .de todo o se'~ prazer , é um de-
sa:io que S2 desenrola no campo do poder , poder inter- pessoal que esta >e L;ce as relações <ln
tid ianas e que mantém uma conexão estreita com a OJ~ga,üzaç ã o do poder público , " político",-
pois tod os saber.los como é n ecessária a qualquer formaç ã o sócio- económica uma consentânea cii.s
posição das relações que os homens e as mulheres ma:lt êm com o 3e~~ próprio corpo , a maneirã
como o exploram e o aceitam o Na soc'cedade capitalista em que nos situamos , e é este o exem
pIo que nos i nteressa , a organização da economia s °'Xual é· fei ta seg~mdo um princ í pio da re:
produção ( co!:'respondente na economia política do sistema capitalista a um princ í pio de l u·- '- -
cc:'o) e não segundo um prin c{pio de prazer , o qual , a. ser rei vindicado e ass'J.mido ela prática
pol í tica no quotidiano , iria alte r a r r adicalmente as relações de poder e de propriedade que
atravessalil o interc urso ' sexual e afectivo entre os sexos o

16
cu/tuta/
'-------------------------------------------------------------- ~

':7J'11nu.de:fC .hRtXHl1

~~&
iZt

Porquê um filme sobre violação?


Porque a partir do crime individual va
mos descobrindo pouco a pouco um crime
de s ociedade que nos abrange a todos .
Porque é que apresenta os quatro "vio-
ladores " como pessoas normais?
Porque a grande maioria dos agressores
são homens normais . Todos os inquéri-
tos e testes o provam . Mas é , evidente
mente , mai s seguro deixar a creditar qt:E
as vi olações sejam cometidas por tara-
dos sexuais .
Como explica que indivíduos cuja vida
s oci a l e a fec t iva é normal , pos sam ter
tais procedimentos?
O seu comportamento é condic ionado pe-
los conceitos sociais e culturais. Na
escola , em família , na rua , na trop~ra
pazes são mentalizados da superiorida=
de do s exo mas culino . Uma mulher é fei
ta para ser conqui stada , dominada. Há:
então , uma con f usao entre agressivida-
de e virilidade . E quaY'n o as ví timas
se queixam e a soc iedade condena , sen-

tem- se confundidos : o que terão feito


de tão r epreensível se tal acto não pas
sa de exercer a sua superi oridade de
mac ho?

A sequência da violaç~o é apresentada Aparentemente o f ilme acaba com uma re-


em imagens muito realistas . Porquê? conc iliação . Poder- se- á falar de um
filme optimista?
Há uma enorme tendência em apresentar,
a vi olação como um acidente , mas nor- Não . A verdadei r a reconciliaç~o só se
malmente é pouco focado Q traumatismo poderá estabelec e r pouco a pouco ao fim
psicológico da vítima . Sómente ima- dum longo caminho que os homen s e ~s
[ens brutais podem dar uma icl eia do hor mulheres terão de percorre r juntos.Sal
r or de tal agressão . var o amor ? E porque não?

11
.t~
J~c)c~
o eeran trdns torm8do ... () ecran t,
d ru.a não II
..
Habituadas que estamos a um cenário cul o retrato exacto, quase perfeito da i-
tural e cinematográfico por excelência po: deolo gia que preside à violação e que não
bre e omisso no que respeito aos problemas ca"'e só nas ca~'eças rl~s " v: oradores '" - r~,a
da Mu1her , que tem primado até hoje peia ideologia que preside ao julgamento , dos
difusao de ~ma imagem de mulher / objecto , tribunais que nos / os julgam , que nos co-
o filme de ~annick Bellon " amor violado ",si l ocam no lugar de "rés" porque " não temes o
da "regra do Jogo ", numa tentativa de tra..., direito a ultrapassar os estreitos limites
zer (finalmente) para o ecran imagens reais que a sociedade nos concede , e que nos man
do nosso dia a dia , num convite a o pôr em têm seguras(?) - única forma denão "pro:
causa. vocarmo s " o homem - e se os ultrapassamos .. .
- .
A"violação" em foco, em filme
tao proxima de cada uma de nós, que ' a porém
sala
há que sofrer as consequênc i a s .

de cinema se alarga e sai dos muros restri


tos do espectácul o para a rua .
A desmistificação completa da ideia de
" violação consentida" , veiculada por mui-
to s (que atiDge o seu auge no filme porno-
gráf ico), para o acto de violência mascu-
lina sobre um corpo de mulher que se deba-
te, rec us a ; não cede/se es ~ ota; não acei-
ta; é violentado . Uma cena que se prolon-
ga por mais de 15 minutos , em que a viola-
ção é trazida ao écran assim mesmo , tal co
mo ela é , com toda a violência,agressão e
podridão que encerra . Ce na "demasiadamen-
te choc ante " nara quem não se choca com o
dia a dia , que> vive isolado de realidade ex
terior que é a nossa . Talvez "demasiadanen
te leve " se tivermos em - conta a agressãõ
mais vasta que é toªa a vida de uma Mlllhen
A desmistificaçao também da violaçãoen
quanto não cometido por um " punhado de mar Um manifesto actual , talvez demasiada-
gina is~ diferentes do homem normal , ao~ mente esquemático , de qual quer forma neces '
quais há que dar uma certa mar~ emde des- s ári o e belo , que coloca um problema que ho
culpa por que " são vítimas da sociedade ". Os . j e , j unto com mui tos outros , começam a S3ir
violadores são apresentados como homens d os " d i á r ios í ntimos " para se r fa l ados p or
"normais", com a sua profissão , a sua fam í t odos .
lia , que é o que se passa na maio r ia dos Uma pre oc upação nos ficou porém :
c asos . E precisamente pelo seu estatutode Yannick 3ellon retrata um caso "exem-
homem Dormal , com tudo o que ele impl ica(a pIar", suficientemente claro para =1ue o pró
ceitaçao de um determi nado tipo de moralpe prio tribunal o penalize .
valores) qL'e a viol ação é a (c orYsequênc:ia na Mas que dizer dos. milhares de viola~
tural. Uma imagem 'que quebra a dicotomiatD diárias, em circunstâncias diferente3, não
mem normal /violador , viaja até ao fundo do tão " ideai s "? Que di3er dos milhares de
problema e põe em causa mais do que "um pu casos mais isolados, despercebidos, daque-
nhado de homens", a cultura patriarcal as:::: les que não vão a tribunal? Do s que vão e
similada, presente em todos nós . p or lá ficam numa gaveta? Dos que cada uma
Do problema part icular privado , senti- de nós calou / cala? Dos que nunca chegam
do p or cada uma de nós , para o problema"co a ser notícia"?
lec ti vo" que a violação é . Do " eu" para õ Um fim dema siadamente "feliz" para uma
"nós" , da " minha violação " para as " nossas real i dade em que a mulher raras vezes sai
violações" - um amontoar de casos indivi- " vence d ora" , um II happy end " que nos faz fi-
duais que repentinamente se transfor ma em càr descansadas ou dizer "é assim mesmo !"
caso colectivo . ~ desprivatização d e um p orque a justiça se fez no écran. . . MA~
problema que de privado nada tem . E FORA DELE?

18
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Florbela Espanca , nasce a 8 deDezembr o Era urna mulher com um tipo de vida Qi·
de 1894 -- registada como filha de A~tónia ferente das da sua época . Urna mulher que
da Concei ção Lobo e pai incógnito . Só em nunc a se adapt ou a urna soc ie: ade sempre
1964 e der"~ C~. :':'.:::: morte , o pai , J oão E s
r ,
pronta a cal uniar e margina l izar tOQOS os
panca a vem 2.1~erfilhar .
r Florbela" não teve , aquilo a que se ch~
ma uma "vida em fam í lia". Criada p or mães
que saiem da"regra do jogo", aqueles que
não re spe i t am de a l gumas forma as sua smi~
co s tumes e moral. Fl orbela fu gia desta s ~
adoptivas e numa célula social mais ampla , ciedade que a limitava , e i sol a va- se , so -
desenvo lve- se l ivre Guma ' séri e ,de precon- nhava e refugiava- se nos seus versos . Neles
ce i tos e moral tradicionais . e la " vivia", " sent j,a", " amava" o que que -
Em 1905 matricu l a - se no Liceu de Evora ria ou não queria . A sua" fu ga" à realida-
que frequenta até 1912 . Casa pela primei- de , dif í cil de enfrentar por urna pessoafrà
ra vez em 1913 , mas continua os estudos l~ ca , impunha urna máscar a de s i à sociedade ~
ceai s que terminam em 1917 . Neste mesmo ~ Nela só encontra o prazer do luxo , da ele-
no Florbela vai viver para Lisboa e matri - gância , do vest ir bem . Depois foge dela a
cula- se na Faculdade de Direito onde estu- sete pé s como um bicho ferido que se escon
da até ao ter ceiro ano , em 1919 -- a l tura de dum mundo exterior q..l8 não a satisfaz
em que é pub licado o "Livro de Mágoas". que não faz parte do seu tão sonhado i deaL
A 30 de Abril de 1921 é decretad? ' em A segu ir, o vazio , um \'azio mui to grande
~vora o divór cio de Florbela , em J unho c a - que o seu lirismo , a sua melanc olia, li ga-
sa pela segunda vez e em 1923 é publicado dos com a neurose e o desespero , faziam de
o"l ivro de Soror Saudade " . Em 1924 seu ma la urna inadapt ada . Não sabe o que quer,por
ri do apresenta a acção de divórcio . Um ano is so idealiza e BOrma . Nã o enfrenta a rea
is tarde , Fl orbe la vo l ta a casar . lidade e isola- se num m~ndo seu , chei o de
Morre em 1930, a 7 de Dezembro e dia mágoas e s ofr i mentos em que o amor se t or-
8 é püblicado o l ivr o "Charneca em Flor" . na urna busca c onstante e nunca conseguida.
E desesper ada , des i ludida , cheia de con-
tradições é na poesia que se revia e se en
contrava . Flor be la suicidou- se precisamen
Florbela Espanca viveu numa época de te um dia antes do a ni ve rsário do s eu nas:
grande s agitações e mudanças sociais , mas cimento e da publicação do seu livro de poe
que nada l he diziam . Não se interessava p~ mas "'"'ha rneca em Flor" livro este chamadõ
los pro cernas sociais , não a preocupava as de " rec ordações". Tal vez . ~ um suicidio
mudanças e agitaç õe s e a pol ít ica , quer em ' premeditado pe la poetisa para um dia prec~
so , segundo transparece p or cartas escri-
Portugal , quer n~ Estrange iro. tas ao seu editor pouco antes da morte . Num
As suas preõcupações estavam voltadas mundo ainda desconhecido de Florbela , abri-
para os seus problemas pessoais e os de quem mos <l}.l'é uma pequeníssi ma porta , com estas
amava , pal avras / frases / poemas .

13
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T cu.J-o ~~ M-~ ~1I~ 7u...f.dcy:u.


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E bz.-Q o ro-e ~ ~ fcJYl-~ ~~&o...lIC<..1
J- ~J a-. ;tau-Lõ /..~ rf1 LU.. (YYl.4. ~ .I. _.
p~' a ui cJLa.... C<- ~CUL. 12 a. fl.. S ')/...L./l. CL..Jt '" [ ~ s G.. OMACIl ,!UP a..~ s.' (Y>'\-- ~ V'C<.Á

4. tuú, ..d...o so--f .d..u-UA.. c!...(a.. c;U-CZo a.. CI... CjUJl.CtU1. ~ f<..<-~'/Vl-c/LO

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ç ",,' ~J O<... ,ou..c;:.o ClAJI..<. Ci1.. ~ C/cu'

~~'M"lo/

~ Âti. - d-L /~cuiM. I ~ ....


~oI..o •••

21
S OLID~O

Meu corpo está seco


est éril
sem forças
J a' na- o consegue amar
Mui tas vezes já não sente o Sul
E a cor que lhe era própria
E a vida , a Alegria que dele
ima nava
Secara
Fugiram frias ,
assustadas
Da vida estéril que l he dão e
est ip ulam
Num país em que a vida
é proíbida
E amar é pecado ,
Da solidão a qU:'l foi vot a do

Dada

TO NORMA JEAN (Ma r ylin Monroe)

Não t em regre s so o rio que nos leva


ma s há nele um d i a pelo menos um pelo me nos único
em que a secura das l ágrimas se traduz
de todas as cor es do vento nos prados
verdes como m0nte s infi nitos
de todas as hollywoode scas califórni a s deste mundo de stars
e de fãs

Há perante os astros -- os verdadeiros -- uma máscara de par a í so


aqui mesmo onde o azu l do l ago te espelha o corpo
num l eito sinistro

( Será o par a í so algo mais que a s ~a máscara?)

Fa lamos ·J a úl tima estrela como d o úl tiJlo moicano : é s empre a sua doçu-


ra
Um frut o ácido o romance
e •a da ferida quando nada mais
nO'B r e sta senão faz ermo- nos ' sangrar
para nos sentirmo s ( nem seq~~e:r vi vos
mas apena s para no::: s entirmo s)
aqui
um outro aqui um céu californiano
f e ito tela de cenár io
te f a z fria a pele sobre um l ençol de erotismo prospecc i onado
em teu rosto de boneca uma toneca sem rosto di z
I lave you vende - se aos milhões tantos
c omo pode te r o núme r o da morte
tanta quantos os homens que só puderam possuir- t.e
e m fot ogr a fia de i xar correr o sémen
sobre o papel da tua peje de cale!1dário
quanto s ?

22
olho - te
gasta por quantos olhares,
boca$ dedos famintos sexos latejantes no suor dos sonhos

Um dia fÓ um dia

Pelo menos um pelo menos lín"i ('{")

de todas as frestas do desejo


quando soubermos distinguir o ar na morte respirada
nas sombras sorridentes da tela numa sala escura

Aproximem- se
é só um fClrmigueiro que nem se consegue pautar
uma voz aveludada dese~ha figuras etéreas

( não é nada calma senh ore s espectadores tudo


está bem) :
nenhum cadáver nú repousa em nenhuma nuven
em nenhuma praia povoa1a. de flores
pássaros conchas vermelhos caranguejos azuis

u~ Sol a ocidente das dunas urna


illeni~a
a mais feliz do mundo a fazer castelos de areia
sentada toda silênci o hirta toda à espera do sono
a'lêli
um outro oêltro aqui
este rio corre este rio mOTre
que te provam toda as tuas mãos publ ici tariamente so')re os seios
o sexo urna amé rica toda esvaída -no sorriso de ti
amar go o sol a peso de ouro
e tu ainda a correr nos teus esquis de brinquedo
até que o cordeiro morte possa ainda não morrer
q\\e para sempre o pôtro desconheça a aspereza do laço

um outro vento

A. C.

noticias

A contracepção ~lo Mund o Escassez de serviços para abortos nos EUA.

Cerca de 250 ~ilh5es de casais prati - Um e s tudo sobre aborto nos EUA , feito
caram a co~tracepçao em 1977 , enquanto que entre 1976 e 1977 , revela que mais de meio
em 1970 apenas 147 m'lh5es o haviam f eito milhões de mulheres não obtiveram os servi
de e,cordo com o estudo citado na revi sta ços para aborto que pretendiam .
"Population Reports " de Setembr o /78 , a di-
visão é a seguinte : Esterilização/80 rni-
lhõe~ , p ílula 55 milhões , perservativo J5 Campanha Nacional para o Abor to e Contra-
milhoes , Diu 15 milh5es , outros 65 milh5es . cepção - O CNAC tem a sua sede central , em
Lisboa , na Rua Rodrigues Sampaio , na Sede
do Movimento Cristãos pel o Socialismo.

23
Elas afir
mara m o s eu combate no momento onde , no Brã
s il ~ os f or tes da ditadura começar am a se
As mulh 2r e s r e unem- se no Bras il : l~C on
gre sso da Mul he r Brasi l e i :r:-a , abr l r um pouco . Os sind i catos e outros mo-
Pel a prime i r a vez , ma is de quinhentasmu vimentos mex em- se , reivindicam com força ,
lh (' r e s repr e se ntam os gr upos de Ba irro,Grü As mulhe r es também . E está aqui o segundo
pos de Mul here s , operári os sind i calizado s: ponto i mp ortante . Desde 6 princípio da a-
reuniram- ~ e em S . Pa ulo par a de bater os bertura as mulheres manifes+am a su~ pre-
pr obl e mas da mu l he r na sociedade br as ile i - sença em todo o lado , testemunham 'o traba-
r a , ' De 3 a 8 de Ma rç o a borda r am to dos os l ho , dur ante estes a "os , apoiando as lutas
probl emas r el at i vos ao traba lho da Mul he r, que visam instaurar um re gime democrático
ao sal ári.. o , .à s c o~d ições de t r abalho , à se- no Bras il, afirmando totalmente a sua au-
xualidade , à contrac epç ã o , à or gan iza ção so t onomia e a especificidade dos seus proble
c ial , etc •• A impor tância d 2ste a c onte ci': mas no ~nterior desta luta . Elas te~minã
me n t~_que t e ve lugar no di a 8 a 11 a ni ve l
r am este pr i meiro congresso nacio nal pe lã
naciona l , é dupl o : em pri mei r o l ugar a s mu cr i aç ã o duma frente da mulner , pelo voto
dum,man ~ festo " pelo voto de uma moção de
l he r es br as il eir as afi rmar am , c riar am a suã
s ~l ldarledade as mulhres irani anas e pe lo
pr esenç a e suas l utas de uma mane ira vi -
br ante , num entus i asmo e num extr a ord i náno por no l ugar os grupos que c omeçam imedia-
cli ma de festa e so lidariedade . tamente um trabalho efectivo so bre os pro-
bl ema das creches .

- Flor bela Espanca - A Vida O"br a de


Agostina Bessa Lui s .

- Um Quarto que seja se u


Virgi:lia \10 01f

- Os três gui néus


Vir!!i nia Woo l f

- Ser Mul he r na URSS e paj_ses de Leste


Ta mar a Volkova e D,Bor e' ou-
tros textos de L,Trotsky , A,
Kol l ontai , Al an Brossat ,

- ' Crór: ic 2. da ma i s velha profi ssão do ~1und o


Je ann8 Corde l ie r

- A P{l ul a , O Exame G nec ológico , A Menopausa .


Gruppo Fe mminista per l a sa-
l ute de lla donna - Roma ) ,

- Cri s á1ida
Ai cha Lemsine ,

- Guia J ur í dico da Mul he r ,


Saíu '0 núme ro 3 do Boletim da As-
sociação para o Pl aneamento da Fa-
Revistas : mí lia , onde podes ler entre outr as
coisas : - Mães adolescentes em Por
Sit uaç ã o Mul he r Bol etim do GAMP ( Gr upo Autó- tugal : das 20 mil em 1977 , quantas
nomo de Mul heres do Porto ) . ter~o querido sê - lo?

Revista M morada : Rua do Bonjard im , 299


- 3º, 4000- PORTOo A Cont r ac e pç ão pelo Diu
Re vi st a Mulh er es Ano Internac io nal da Criança - Co-
mo se nasce em Por tugal ,
Re vista Mulhere s de Abril
Obs t áculos à c ontracepção .
INTERNACIONAL

Às mulneres iranianas que combateram e


que l utam ainda, como as francesas em 1789,
as russas em 1917, as espanholas em 1936,
A Revoluç ão Iraniana trouxe consigo u- as chinesas da "longa marcha", as argeli-
ma das mais extraordinárias e combativas ITD nas em 1953 , que lugar lhes vai pertenc rr
bilizações de mulh eres dos últimos anos. - amanhã? Sómente o de boas esposas e de bc-
Muito para lá do Tchador foi todo o esta- as mães? Que direitos terão na nova cons-
t uto social da mulher que as iranianas,nas t ituição , perante a herança, o casamento,a
ruas, aos milhares, em manifestações , ques- contracepção, o aborto, o divórcio, os es-
tionaram . tudos , o trabalho, o acesso a todos os po~
tos sem distinção, os salários?
"Eles esqueceram um dos objectivos Os artigos que se seguem pretendem re-
da ~evoluçã o Iraniana -- a liber- flectir testemunhos recolhidos no próprio
taçao da mulher", Irão por mulheres que viveram, se empenha
ram ou simpl esmente presenciaram factos,pa
Subjugadas por séculos da mais terrí- lavras, mobilizações, e os transcreveramrã
vel opressão , vanguarda na luta contra o ra papel . -
re gime ditatorial do Shah , as mulheres ira
nianas não estão hoje d i spostas a aceitar
passivamente o desvirtuar da Revolução pe-
las forças r e li giosas , t ão pouco a recuar
na hi st ória e se encerrarem por detrás do
véu ou permanecerem enc l ausuradas nos ha-
rins .
-HlsrÓR/D OE UIIO REVOLUcAo~ !!

\.I .~ .--

Que uma direcção nacionalista burgue- Confrontado com o movime nto de massas
sa nunca pode dirigir consequentemente uma crescente (numa entrevista dada ao "Le Mon
Revolução, é uma realidade que toda a ex- de" r ecentemente , o primeiro ministro Ba=
periência histórica de revoluções em paí- zargan queixava-se do"irrealismo" das mas-
ses col oni ais e semi- coloni ais teill vindo a sas que constanteme nte punham em cheque o
confirmar sem excepções . E se alguma dúvi seu governo) que a todo o momento o põem
da restasse, o caso do Irão não poderia dei em causa, e que se iniciou com o 8 de Mar-
xar de a afastar de uma vez por todas. - ço e as manifestações de mulheres, o clero
Uma Revolução que sem dúvida ficarána xii ta parece e star também agora a jogar nas
h i stória como exempl ar, em que as massas mobilizações de massas .
derrubaram com as cuas próprias forças um Todo o pretexto é bom para pgr manifes
poderosíssimo exército e desmantelaram um tações em movimento contra o comunismo ,con
regime odioso e odiado por anos e anos,uma tra a esquerda em geral. O mais recente
Revolução assim, diziamos , acabou por dar foi o assassinato do Ayat ol hah , que um gru
o poder à única estrutura organizada que e po suspeito de se r composto por agentes da
xistia no I rão em oposição ao Shah: o cle= Savac cometeu há umas semanas . No fune-
ro xiita. ral, um milhão de pessoas bem manipuladas
Hoje, a l guns meses passados sobre o por uma perfeita organização dos xii tas,tes
go verno de Khomeiny e Bazargan , a situação temunhada pelo correspondente do "Le Mon=
pol í t ica está l onge de se encontrar escla- de", grito u insistentemente "morte ao comu
recida . Kh omeiny fez tudo o que pôde para nismo". O maior jornal de esquerda,o Ka=
conso l idar o seu regime ' sobre uma Revolu- yan, foi proibido e teve que passar à clan
ção inacabada e que ele pretendia a lodo destinidade. As sedes das organizações de
o custo travar. Lançou o anátema divino ~ esquerda encontram-se barricadas e armadas.
bre a greve dos operári o s petroleiros ; pre-=- prevendo a eventualidade dum ataque de sec-
tendeu impôr o uso do Tchador e toda a le- tores mais fanáticos.
gi slação reaccionária sobre as mulheres;ten Não há dúvida que muito se vai jogar
tou consolidar o seu governo através de um nos próximos meses. Para já, uma coisa é
plebiscito anti-democrático que dava como certa: a direcção de Khomeiny , apesar de
única a l ternativa o sim ou não à República um conjunto de ·medidas progressivas que to
Isl âmica; sem definir be'11 o que isso sig- mou, nomeadamente a nível de política ex-
nificava, até porque a Constituinte,insis- terna, não quer passar os marcos do capi-
tentemente prometida para contentar as mas talismo e de um regime burguês nacionalis-
sas,não se vê ainda sequer no horizonte. - ta ;do outro ladá , as massas organizadas ms
Mas nem o carisma que Khomeiny conse- comissões de fábrica,de universidade, nos
guiu granjear , nem o poder das suas milí- bairros, nas organizações de mulheres, nos
cias , nem sequer a protecção do seu Deus fo diversos partidos de esquerda, buscam ir
ram suficientes ao "Ayatolhah" para travar mais longe , Subsistituir Khomeiny por uma
a Revolução Iraniana . nova direcção revolucionária será o próxi-
O referendo não atingiu os .ob jectivos mo passo a . dar, sem o qual a Revolução Ira
esperados, pois é hoje perfeitamente claro niana irá ficar mais uma vez inacabada. -
que os números anunciados são absolutamen-
te fantasiosos, e a percentagem de absten- Contribuição do CEAI (Centro de Estudo s An
ções terá sido muito elevada. ti-Imperialistas da A A.C.)
Dz
J)S AnOS cho.'{e, _ _
A luta das mulheres no Irão não data
de hoje . Ela enco 'otra as suas raízes no sé
culo XIX , quando as mu l heres se levantaram
contra os ingleses que acabavam de obter o
monopól io do tabaco nesta região . No Ha-
rén do Shah , as mulheres queimaram todos os
cachimbos.
Depois desta época a l gumas datas cha-
ve contam a sua história:

1921 - As primeira s feministas iranianas


são originárias do Noroeste do Irão.
Ne sta região, as mul he re s de tinham u-
ma parte importante da economia : pe-
queno comércio ,pequenas propriedades
fundiárias . I nspiradas pela revolu-
ção soviét ic a que acabava de estalar
no outro lado do ma r cáspio, criaram 1941 - Os aliados obrigam Rez a Shah, sim-
grupos de mulheres e abriram as pri - patizante nazi a demitir- se . Sucede-
meiras esco l as de r apari gas o Celebra- -lhe o filho . En t r e 1941 e 51, temos
r am a jornada inte rnacional da mulher dez anos de um governo relativamente li
no 8 de Março e pub lic avam um jornal: beral. Os 7rupos de mulheres multipli=
"Mensageiras da Felicidade" cam- se . As mulheres revolucionáriasfa
zem campanha contra o véu e lutam por
1922 - Professoras e Professores primá- obter direitos iguais .
ri os agr upar am- se para lut ar contra o
porte do Tchador . O seu jornal - "O 1951-53 - Mossadegh é primeiro-ministro.
Mundo das Mul heres" viria a se r fe- Decide nacionalizar o petróleo. As Ira
chado , depois da publicaç ão de cinco niana s apoiam- no massivamente na lutã
n1).meros , em ligação c om os socialüta:; contra o imperialismo americano e in-
muçulmanos . glê s . Mas não conseguem obter o direi
to de voto .
1925 - Golpe de Estado de Reza Shah .Todas
mulheres que tivessem tiô.o actividade 1953 - O Shah retoma o poder. Absoluto.
polít ica f or am presas. Prende , tortura e deporta toda a mu-
lher com actividade política ou femi-
1935 - Reza Shah ordena às mulhe re s que a nista . As r euniões e os j ornais de mu-
bandonem o véu . Os soldados perc or- lheres s ã o proibidos .
rem o país e arrancam o Tc hador a to-
das as mulheres que enc ontram. Não se
tratava porém de uma medida para li- 1963 - Uma r eforma do Shah dá o direito de
bertar a mul her nem de luta c ontra a voto às m,) lheres. Mas as eleições"fan
reli giã o , mas anies destinava- se a fa- toches " serão largamente boic otadas. -
vor ecer a inse rç ao das iranianas na v~
da ec onómica. Ne ssa a ltur a , o Irão t~ 1978 - R evo l uç ~o. A l e i marcial é decre-
nha ne cess i ~ad e de uma mão-de-obra nu- tada em Setembro . As mulheres que co-
merosa e barata . Mas o Tchad.or, ves- meçam a vestir o Tchador são cada vez
timenta que envolvia todo o corpo da em maior núme ro, como símbolo de opo~
mulhe r e l he dificultava o moviment o sição ao r egime ocidental e preverti-
das mão s , impedia a actividade das tr~ do do Shah. Tchador que permite tam-
bém esconder as armas.
balhadoras. Donde , a necessidade de o
proibir. Imediatamente a seguir à pro
mulgaç ão deste decreto , o número de 0= 1979 - O Shah foge . Khomeiny regressa.As
perárias nasmadústrias Têxtei s aumen iranianas continuam a l uta p or uma ver
to u para o dobro . dade ira democracia.
ZRDI ."l/be~Jo/e'
. ,. .

ATE M,f L.LET
tC5t etf1L{l1h~
Imaginem , i maginem mul heres , cent enas
de mulheres iranianas escalando , trepando
as grades da uni versidad9 para se i rem ma-
nifestar nas rua s de Teerão . Tinham- nas fe
chado . Era 8 de Março, dia I nternacional
da Mul her . El as eram 5 . 000 . Nem um sójar b olizou o avanço do femiminismo no mundo in
nal ista , nem um só fot ógrafo , nem uma só c§. teiro . O que queriam est as mulheres?" Aza =
mara de televisão l á estiveram . Estas ima: di, Azad i! " Grit aram ao l ongo de dez quiló
ge ns históricas do primeir o movimento es- metros . Liberdade . Liberdade de esco lher
pontâneo de mulheres iranianas não as ver e t raz er ou não o véu , libe r dade para traba-
mos mais . P orque a Imprensa nã o se inte= lhar , liberdade para abortar. Direito a pra
res sava a i nda pelas suas l utas . ticar a contrac e pção , direito também a um
Era prec i so entâo mobilizar a oplnl - salário igual aos homens, direito à educa-
ã o internacional . Lembrem- se de Angela Da- ç ã o . As suas r eivindicações são as mes-
vis . Foi p orque mul heres e alguns homens mas d.e todas as mulheres . Rei vindicações
a apoiara m que e l a p ode escapar à câmara que não são plenamente sat isfeitas em ne -
de gás na Califórnia . Nós , mulheres , deve- nhuma parte do mundo . Neste momento , as
mo s lutar contra governos e naç ões , c ha- mulheres iranianas est ã o a correr perigo . E
mar a solidariedade I nte rnacional que é a l as t êm medo . Todas as fo r mas de p urita=
nossa úni ca arma . nismo vê m ao poder ao mesmo tempo que a re
Traídas por todas as Revol uções , ati- pressão se instala . Sob a capa da reli:
radas de novo para o lar quando o barulho gi~o tudo é censurado pelos fanáticos reli
das armas cessa , o mesmo d est ino espera as giosos. E apesar de tudo isto , a coragem
Iranianas . E~ tas mulheres, que me convi- destas mul heres é extraordinária . Cerca-
daram a ir ao seu país para festejar o 8 das de milic ianos armados de metralhadoras
de Março, fizeram a revol uç ã o ao l ado dos (sempre com o dedo no gati lho e c·om a cabe
homens , para derrubar o poder tirânico do ça cheia dos seus fantasmas de machos ) vi:
Shah . Nesse momento , o Tchador e o hedjab - as , a estas mulheres, r ealizarem tranqui-
eram o símbolo das resi st ê ncia ao r egime lamente as suas reuniões . P ol itizadas pela
Pahlavi . Khomeiny er a vene rad o pois sim- luta contra o regime abominável do Shah --
bolizava a resistência iraniana . Mrls o que -- milhares de mulheres encontravam-se pre
se passou depois? Kh ome iny vol tou . O Povo sas -- as iranianas aceitam hoje morre r pe
Iran iano que fez a Revo l uç ã o par a c onquis- l a igualdade de di r e i tos . -
tar uma democracia re a l , herdou um tirano Que faze r ? A nossa so li dariedade deve
teocrático . Profundamente , nada mudou . Uma ser extrema . E preciso manter informada a
sociedade repressi va instalou- se , diri g i da opinião internacional . E preciso manter em
pe l a força , (o exército , a po l ícia , u poder Tee rão a presença de mulheres que tenham au
re li gioso) • diência internacional . J ornali stas , fotó:
As aspirações das mulheres a direitos grafas, e l as poder~o testemunhar a l ut a
i guais ser ão esmagadas . Como será traí do das iranianas .
o desejo dos homens e das mulheres irani a- Expulsa do Irão pelo governo , ao fim
nos em l uta ,. de uma verdade ira democracia . de quinze dias , não p ude despedir- me das mi
Khomeiny governa do céu , atr avés de nhas irmãs iranianas . Mas quero que elas
le i s papai s . Er a como se o papa impusesse saibam que , sem descanso , fal arei delas Pas
os cânones da I gr eja a todas e todos hoje .E suas lutas . Esta é a mensagem que de s ejo
que , em nome da l ei sagrada , a I greja C at ~ que elas ouçam e que esc revi aquando da mi
l ica persegui sse as mulheres que abo r taram , nha detenção no aeroportot " Na véspera dã
impedi sse o d i vór cio ... E grotesco .E dra- mi nha partida prematur a e que me foi imp c's
mátic o . E r evol tante . E é preci samente con ta sem r a zão , exprimo- vo s todo o meu afe c
tra isto que as mul heres iranianas se l e= to , a minha so lida ri edade , a minha admira:
vantaram . ção pe l a vossa coragem e determinaç ã o . no
No 12 de Ma r ço , e l as e ram 20 . 000 a ma- c ombate pe la vossa liber dade . Liberdade ~
ni festar- se dosde a Universida de até à Pra r ~ vós próprias , liberdade e justiça para
ça da Li berdade em Teerão . A sua acção s~ o vosso povo " .
D4
·/e/ dB ppotecç8oda !ami!;a.
Vot ada em 1936 pelo parlamento do Shah
esta lei esteve vários anos .
Elaborada por mulberes juristas , sofreu
muitas modificações antes de ser submetida
aos deputados .
"Por mais insatisfatória que ela pudes
se ser, de qualquer modo esta lei l imitavã
consideravelmente o direito dos homens a po
ligamia e ao repúdio .
Um homem não pode ter mais que duas
esposas e somente duas nos seguintes
casos :
- se a primeira mulher fosse estéril
- se a primeira mulher dá o seu con-
sentimento a um segundo casamento •
• Uma mulher n~o pode se r rep udiada pe
la simples decisão verbal do marido ~
Este deve dirigir um pedido de divór
cio ao tribunal dos assuntos familiã
res .
• Uma esposa pode dirigir a este mesmo

r tribunal um pedido de divórcio


facto , parece que 10 mulheres
100 homens obtêm satisfação) .
( de
para

A modificação mais importante apresen-


tada no projecto lei inicial foi aquela qm
diz respeito aos direitos sobre as cria~ .
Esta va previsto que em caso de divórcio ,
a protecção não pertenceria de facto ao pai,
mas seria resolvido pe l o Presidente do Tri
bunal com aquele que dos dois conjuges pu:
desse melhor cuidar da existência e da edu
cação das crianças. -movimento de defesa dos d·...eitos das mu.1J.,eJ-es -
Este texto nunca saiu.
Os homens e apenas eles continuam a e-
"Libertação das mulheres e libertação
xercer autoridade paternal sobre os seusfi
da sociedade " é o título da brochura que
lhos.
foi edi tada e vendida por est e grupo. No
seu preâmbulo,as dez mulheres que o redi-
giram exprime m o seu apoio à actual Revo-
l ução, afirmando que a sua luta específica
é a continuação necessária desta Revoluç ão.
Os ob j ectivos da l uta foram resumidos
numa platafo rma r eivindicativa :
Casamento l ivr e e não por contrato.
Fim da venda e da compra das mulheres
através d o dote e de outras medidas fi'
nanceiras .
Fim d o direito de f l agelação.
Di vór c io r ecíproco .
De saparecimento das leis que dão todo
o p oder ao s homens .
Lei i gual em matéria de herança .
Acesso igual à ed uc ação para rapari-
gas e r apa ze s .
A mesma oportunidade de acesso ao em-
pr ego para ambos os sexos .
Trabalho, i gual, salário igual.
Ajuda económica temporária às mulheres
divorciadas a fim d e lhes f acilitar o
acesso a urna vida prcfissi onal.

Ds
· 11 CI/DR UHR II SlJRRC~OLIIÇRO~
m./chelle /,ert-ei"
"T odas as mulheres estão ligadas ao T~ mais connosco , mas sera assim? A pIlmeira
dor quer o tragam ou não". frase i ntere ssante que ouvi saiu de um gru-
po de rapari gas cobertas dos pés à cabe -
Tchador, Tchador , T":::hador, a palavra ça de azul vivo . Tinham talvez 16 anos , pa
aparece , obcessiva , desde que se fale do ! reci am freiras, po ss1.üdas de uma alegria an
rão , tanto em Teerão como em Paris . Não de gélica . Uma delas atira- nos : " julgas que
veria ser assim . O Tchador é uma peça de as mulheres ocidentais são mais livres que
vestuári o . Deveri a ser tomado c omo tal. nós? J ulgam que despir- se para se tornar
Mas será que existe um vestuário inocente? num objecto de prazer é a liberdade? O que
Dizer que o Tchador foi o s ímbolo da opo- nós queremos é que não se fale do nosso cor
siç2:o ao Shah , que é rei vindicado ainda ho po . Não queremos que ele chame a atençãõ
je- e ainda vestido , é suficiente? N::í o , de }l; ao no sso pensamento que é preciso diri-
• II
facto não é . Se se pretende que o Tchador glrmo- nos.
t6 um s ímbol o , tem- se razão , na condição de
nQo tomar a palavra símbolo levi anamente .
Símbolo é uma palavra forte e a questão do
Tch2.dor uma história p !mgente , :?orque ex-
prime , cobre , esconde , uma. verdade na qual
estão comprometidas , envolvidas as mulhe-
res.
Desta viagem a Teerão , trago imagens,
pala.\fras , trocas , mas também uma comp:ceen
são mais funda da noss3. cvmplexidade femi :
nina , c.a. n05sa di visão , paradoxalmente da
no:c;sa simiJ.i tude ar'.tagónic3. . A pa l av":ca Tena
dor evoca talvez as iranianas mas na realI
dade , :10 fundo , Gla cor;t.e m- :los a t.odas . To:::
das as mulheres estão ligadas ao Tchac; or
quer o +Jrac;am 0'.1 não . Todas se debatem de "
ba:xo dele . Por debaixo dele podem jUlgaE
- se inimigas ql.:a.:1do o não s ã o , umas e cu-
tras oprimi·- las .
A mi;1h~ primeira imagem violen ta. ao de
'~e mbarcar em Tee:r:-2:o é a Praç3. da Li herdade,
imensa e redond.a , em volta de um monumento
eri gido, vest~ g i os do Shah . Na rua , carros
parados . Na pr'aça mulheres em Tch a.do:-:- ne -
{!;To fdam . ~ esta actividade / act.:l.vismo
das mulhe r es que se demarc3: pri.rE~o ::'ro que
tudo . Tchadors pretos , .~l()rijos , ' pouco im
port.:;" as mulhere s co::qu5 staram o direi tõ
à palavr3. e servem- se dele .
No ce mi té:-:-io , em Toerão , octx"as mu:'..he -
res de negro , do:; que não 'vemos senão cs o-
lho s , o na:-:-j z , 2. bcca , descem de aut.ocarrcs
e dAp5em bandeira8 , c~ntando , fazendo o V
da vitória . Vieraí:! saudar os seus mét:tt.i -
re ";3 , Elas têl~l 50 éU1C[; , 12 anos , mas o que
as c~ract eriza, o que as une é terem feito
a Re vol ução .
Na Universi dade (mas na rua também)du-
as f ormas de vestido coexistein, Raparigas
novas com calç as de ganga , cabelos pen~ ea ­
dos , passeiam com as suas camaradas vesti -
das de áusteros e l nngos mantos , com man-
gas , mais práticos que o véu para transpor
tar os livros, a testa coberta até às so=
brance lhas . Quais as mais int eressantes?
As que se vestem à Europeia asseme l ham- se
~ f/aes tões ll./yel1tes
. Que exigem as div~rsas feministas de
Teerão acusadas pelos mais fanáticos reli-
giosos de serem manipuladas Quer pe l a Sa - cIepolel7Jentos
vak (antiga polícia do Shah) Quer de serem
comunistas? Elas são muçulmanas , também e -
las não se pronunciam nem contra nem a fa-
vor do Tchador, exigem o direito de esco~
lha a usá-lo ou não . Co locam Questões pre C. 28 anos, formada em Química, professora
cisas e concretas' sobre o direito à educa: desempregada .
ça~ o direito ao trabalho , aos salários i-
guais para i gual trabalho , ao divórcio , à Pa rtic ipa na grande manifestação de mulhe
herança , Questionam a compra de mulheres , res contra a obri gação de uso do Tchador~
Querem ppier aderir a partidos políticos .E Por acaso . E não está arrependida :
xigem uma sociedade sem classes mais justã. "Para lá do véu foi o nosso direito ao
Que re spondem as I s lâmicas? Elas comen trabalho , a no ssa participação nas activi-
tam o corão . Tudo está escrito , basta in- dades sociais e políticas , Que defendemos :"
te rpretar um presente . "O corão niR, proi -
be o divórcio, explicam , mas é preciso evi Quem as ameaça? A república Islâmica?
tá-lo p ~ r causa das criança.s ; o corao naõ Ninguém sabe ainda o Que ela reserva às mu
interdita a poligamia, mas tudo se e~pl~ l heres (nem tão pouco aos homens) no capí:
ca porQue no telT!po de Maomet havia mais tulo das l i b~rdades : Os mollahs, trazidos
mulheres Que homens . Para as crianças e pela revoluçao Que têm sobre a população um
melhor partilhar um homem do.Que não o te- poder moral e judicial? Ou os Ayatoliahs ,
rem. Aliás, este homeQ deve ser capaz de dond'e o mais célebre , Khomeiny , lançou apa
amar com jus+.iça ec ,-,nómic a e afectiva as lavra , atacando as " mulheres nuas" , ou seJ'ã
sua.s mu l heres , e a primeira esposa , tem Que sem veu?
lhe conceder o acordo . O corão é sobretu- EnQuanto se manifestaram em cortejo,as
do contra os órfãos , contra a i nfe lici dade mulheres foram batidas, lace radas , com es-
das crianç2.s". pingardas . Homens em gr upo , fazendo valer
~ claro Que , em sentido inverso , pode- o s eu sexo , gritaram às Que , das janelas
mos pôr o caso de uma mulher que ser i a su- observavam as manifestantes " se não Quise-
ficientemente jus-'-.a para amar " económica e rem o tchador, terão i sto !"
af ect ivamente " Quatro homens , mas i sso não Estas ameaç as não são tomadas levemen-
entra cm linha de conta , pois estarí amos a te . Se o poder religioso recuou peranteas
sair do princípio da realidade . A mulher mulheres ( " aconselhando-as " somente a usa-
é mãe , e isto é o fundamenta l, e a criança rem um fato decente , Quer dizer , tradicio-
não de'le ter mais Que um pai . Todo o co- nal) não parece nada disposto a recuar na
rão acenta sobre " a unidade cOEjugal com- aplicação da l e i islâmica em matéria de le
plementar" • gislação familiar ou social . A não ser pã
E Quanto aos homossexuais. ~ justo fIa ra o direito de voto, Que parece ter sidõ
ge lá-lo s , fuzilá- los? Não têm direitos nõ conseguido tanto para os homens com,) para
novo regime? as mulheres , a l e i do corão não foi modifi
O ~orã(; opõe- se aos homossexual s porQue cada . E esta l e i ancestral, Que , hoje , de
não é favorável senão à famíl ia. O homos:se facto, gOverna o Irão .
xua l cometeria assim um prime iro " crime cõn
tra a sociedade " e s colhendo o seu prazer
acima da procriação ; um s egundo crime sen D, 45 anos , advogada . Exp lica:
do hostil ao se xo oposto . O prazer pelõ
prazer é vivamente desaconselhado . ~ pre - "Depois do retorno de Khomeiny, a lei
cis o l utar contra o desejo, jejuando , por sobre a protecção f amiliar , instituída em
exemplo . 1975 ~ já ~ão est á em vigor. Esta lei ~ga
Entre estas mulheres acolhedoras, tão rantla a 19ualdade entre os sexos na famí=
Quentes , tão frias , tão próximas , tão lon- lia , mas oferecia às mulheres a possibili-
gínQuas , e nós , mais o díálogo avança, mais dade de divórcio, e também de contestar as
se impõe , realidade e fantasma , o Tchador, acções intentadas pelos maridos. Era ,ape-
como máscara à Qual se junta um chicote: o sar de tudo , uma mudança em relação à prá-
sexo castigado . A ordem moral mete medo. tica Islâmica".
Exemplos desta prática: de justiça, o testemunho de duas mulheres
é necessário para i gualar o de um homem~
A herança dos rapazes é o dobro da das A aplicação do corão não é uma novida-
raparigas; de no Irão. E as suas interpretações ao
O marido tem o d ireito de se opôr ao longo dos séculos, colocaram a mulher no lu
trabalho da mulher, às suas viagens ao es- gar que conhecemos. O que temem C. e D.~
trangeiro; o homem pode ter várias espo- entretanto, é que, a Revolução s e ja recu-
sas mesmo a título temporário, caso o de- perada pelo clero. Alimentavam para elas
seje; as mães não d i spõem de qualquer auto própri as e para o povo Iraniano, outras es
ridade em relação aos fi l hos ; em questões peranças.

Em meados do mês de Março , a Imprensa


de todo o Mundo , ocupou- se de um facto "i -
naudito". Milhare s de Mulheres Iranianas
desceram às ruas com a abs oluta convicção
cm ~. da sua justa luta. Enfrentar am ti ros,pan-
cadas, espancamentos e esp ingardas , paradi
zer N~O AO TCHADOR! -
O que em determinado momento foi símbo
lo da luta contr a o Shah , converteu- se agõ
ra num entrave para o avanço das suas con=
quistas . Antes , o Shah e o seu regime pro
ibiam o uso do T hador porque era uma de=
0

monstração de repúdio pelo regime . O Tcha


dor era usado por muitas mulheres como sím
bolo de apoio ao I slamismo e recusa da pe=
netração Imperiali sta . Mas posteriormente
converteu- se numa contradição insolúvel
pois o I s lamismo e o seu executor ,Kh omeiny,
pretenderam torná-lo obrigatório e atacar
assim o justo direito élO progresso ~ igual-
dade s ocial c om o homem em todos os campos.
Esta brutal contradição em que se en-
contravam as mulheres após se terem incor-
p orado massivamente no processo revolucio-
nário que derrubou o Shah , fez com que e -
las se enfrentassem com o próprio Khomeiny
pelo qual t inham antes empunhado armas . E
é esta a explicação de porque é que as mu-
lheres irromperam na cena política Irania-
na como uma multidão oposta ao novo gover-
no e às suas leis. Foram elas que inicia-
ram as exigências abrindo um novo processo
ao qual se juntaram logo amplos sectores da
popülação.D'3 sde os Kurdos a"Os próp'~ios tl?3:-
bal:hador;;; s .
~ assim que a mais profunda revolução
dos últimos tempos demonstrou como as mu-
lheres são um sector profundamente revolu-
cionário,quando se organizam e mobilizam.
Se não, escutemos organismos como "Bidarieh
Zanan", uma organização feminista Iraniana
qU€ diz: "é absurdo que se pretenda revo-
gar o divórcio e outras leis progressivas,
como por exemplo a igualdade de sálários
com os ho mens. Nós lutámos contra o Shah,

.D8·
mas agora não ret r ocedemo s ". Es ta úl t i ma dor". A d i nâmica da mob il izaçã o das mul he
frase é a que me l hor re fl e ct ~ a po sição da r es contra o tcha d or, l onge de se col ocar
maioria das mulheres I ranianis. de l ado do Shah e d o I mperial i s mo , soube
Ao mesmo tempo que a mobilização das mu diz e r NÃO à sua campanha demagógica .
l heres se massificava e or gan i zava , a im~ Ho je , tanto a c l a sse operár ia no s eu
prensa reacc i onária Mundia l t r at ou de ut i- c on junto , como a s mul fle r es Iran i a na s de vem
lizar o facto para demonstrar o "progres s i d i scut ir como actua r para avançar c om o
vo" da soc i edade oc i dental e c r istã s im: proce sso em c urso . As mulhe re s , s e bem que
bolizada pelo Shah . Mi l hares de tomada s de vam manter por um lado a s ua i ndependên-
de posi çao imperial istas , conver t e r am-se do cia , devem incorp or a r - se por out r o l ado ao
dia para a noite em "r'lefensor es da c a usa movi men t o ma i s ge r a l dos trabalhad or es , ú-
feminina", descebri r am a " f orça das mu ~ h e nic a fo rma de c onseguir a força sufi c i ente
res " , o seu " p oder de mobilização", a s ua para de rrotar o novo r egime . P or que não
"valentia e a'ttuácia" . Os jornalistas mai s s~ o só as l e i s I slâmi cas as que afogam e
destacados escreveram sol-re a sua capac ida oprime m. Sã o as próprias bases do sistema
de e che garam a dizer que "Elas podem dar capi talista que origi nam a opressã o da Mu-
a volta ao Mundo " , Esta campanha hipóc ri- lhe r , a s que há que derr ubar . As mesmas
ta e reaccionária não nos engana . Preten- que sustent am as crenças r e li giosas de to-
deu- se utilizar a justa mobi l ização das mu do o tipo . 0 <:;\ tra,ba lhador es Iranianos e
lheres Iranianas , para re ivindicar o Shah as f or ças d~ esquerda têm também uma obri -
e o seu re gime . Pr etend eu- se com tal c a~ gaç §o imediata : i nc l " i r no seu programa e
panha de monstrar as "b ondades" do imperia- acçaO de conjunto ; as r eivindi caç ões das m::
~ li smo e d os seus lac a ios , os mesmos que a- l he r es .
I tir?m as mul heres dos seus paí ses para as Nós , mul he r es soc i a l istas saudamos o
mais aberrantes e inj ustas desigualdades . ~ exemp l o das nossas irmãs I ranianas , com a
creditaram , enfim , poder utilizar a sua ac profunda convi cção da sua f or ça e c apac ida
ção , para desvi a r as mulheres.do cam i nhõ de não s ó para l utar pelos s e us object i vos
da Juta perm ~ nent e de todo o povo . N6s , so . espec í f ic os , mas também para consti tuir um
cialistas , estamos porém convenc i dos que motor f undamental que produza , em conjunto
no Irão se abriu uma nova et ap a de revo l u- com o s trabalhadores , a ª errota do r egime
ção , na qual as massas não s ó questionam o capital ista e a constr uç a o ~o social ismo .
novo gover no , como l utam para o derrubar . As mul he r es e os t rabalhado r es de todo
As mulheres , como parte importantíssi ma des o mundo , têm uma impor tante exp eriênci a a
te processo entenderam muito bem que tê m õ r eco l he r .
justo direito de exigir perante Khomeiny .
Ganharam esse di reito nas ru as e na l uta ( extractos de um ar tigo p ublicado no
contra o Shah . E, n0 r esta razao - que Kh o- jorna l Opc ión -- orgão do Part i do So-
meiny se viu obrigado a retroceder e a d i - c i a l ista dos trabal hador es da Argenti
zer ue " não era obri gató yj o o uso do Tcha na) •

r
"Libe:rdad !" Gritaram as mulheres Ira
d. nacionalidade, raça, religião, OU ~er­
e
nianas nas ruas
"Soud.arl-edade ! " Res~ onderam
cente-
todo tença ~olftica. ~rimeira
A acção deste C~
~róximo
nas de mulheres em mité, anuncia Simone de Beauvoir , será o en
o mundO . vio ao Irão de uma dele gação de mu
lher , encarregada de uma missão de soli:
"Venham até cá . Enviem-nos mulheres es
d ariedade e informação
Di scussão . Sala al guns ira-
acesa . Na
que testemunharão. O mundO tem que saber
niano s e iranianas , manife stam- se contra a
a ver dadeira razão das nossas lutas".
~artida da delegação . OutroS e outras a-
Alertadas ~or um tel efonema vindo do ~oiam-na.
res~onde ; ~af
Um homem diz ' " não é o momento !"
Irão um ~unhadO de j ornal istas ~ari siense s Simo Beauvoir " vi muitos
mobilizam- se . Vi ajar até Teerão ~ara ~ar­ ses e
re de
muitas revoluÇões . Cada vez que se
tilhar as horas históricas que vivem as Mi- as tratou de defender as mulheres disse-se~
ranianas e a~oia-Ias na sua luta? Sim. ' não era o momento o~ortuno '''.
. como , Ae ideia
em nome
de de ~uem? de um c omité In-
criação
ternacional de a~oio e de informaçã o ,nasce .
A~elos na Alemanha , em Es~anha , no Egi~to ,
Ja~ão , noS Estados UnidoS , na Suí ça , etc ••.
Três dias e três noites mais tarde
o c omité constitufdo conta já com mais de
100 membros ~ue chegam ~aradar o a~oio e
nomes . Uma pequena sala em~restada ~ela Li-
gadOS Direitos do Homem. E~a Im~rensa , a-
lertada à última hora , ~ortelef one. Câma-
ras de tüevisão ~ro"tas antes que tudo co-
mece . Uma faixa a~arece , enfim . A tem~o .

~elos
Lê- se em grand es letraS negras "Comité In-
ternacional Lireito s das Mulheres" (C
IDF) . Um c omité ~uetem a~enas al gumas ho

s Si mone ,~_e Beau voir , ~resicF;nte do Comi


ra mas que vai dar que falar . -
té , abre a sessão . Ela descreve a razão de

!;"'1'.'~;
ser e os objectivOs do CIDF : o seu objeC-
tivO ~rinci~al será o de inf ormar ~ermanen
t emente sobre os ac ontecimentos que ~ossam
modificar 0'--' afectar a condição da mulher
em qualquer

a~oiar
~arte do mundo , e de difund ir
ao máximo esta informaçãp . I gual mente , oe de r.l.'.I!;
todas as acções e lutas das ;TIul -
~elos
re s seuS direitos , sem discriminação
11

--
r~.da,

~,de
~bn?'z, oef

~~
~~J'

Ás QUE SE BATEM PELA SUA LIBERDADE E PELA mos o direito da mulher a ter um mari-
LIBERDADE DE TODOS OS HOMENS -- O QUE VAI do ~ a ser mã es com o seu direito prio
OFERECER A NOVA CONSTITUIÇÃO? ritário . Não podemos privar as mulhe=
res destes direitos e condená- l a a uma
vida de prostituta ou amante . Não é u-
ma obrigação ter várias mulheres.

p. As mulheres terão o direito a se divor


c iar?

R. Barri Sadr ( adjunto de Khomeiny)


A mulher tem o direito a divorciar-se,
Khome iny disse - o claramente , pode- seffiffi
mo escrevê-l o no contrato de casamentõ.
O homem n~o tem o direito de castigara
sua mul her : Só se se estiver perante
um caso de masoquismo , se a mulher gos
tar de uma violência do marido ... se e
l a não ace ita deitar- se com ele , ele
tem o direito de a castigar , é o único
caso que é permitido . ~ o médico que
dirá se houve ou não violê ncia .

p. Haverá igual dade absoluta entre os 2 se


xos?

R. Primeiro -- ministro Baza rgan -- A na


tureza não qu i s assim , não só p ara ã
espécie humana , mas igualmente no rei-
no vegetal e animal.

p. O ministério da just iç a prepara uma cir


cular interd itando as mulheres de se=
rem juizes , porque s~o demasiado sensí
ve i s ., .
p. A poligamia vai ser mantida?
R, Bazargan Muito emotivas , sim .,.
R. AYatollab Taleghani -- "Falei disso em
. Itáli a : No I slão não há poli gamia . O p. O que pensa das mulheres que se mani-
I slão diz que o homem tem direito a u- festaram pelas s uas liberdades?
ma mulher . Se é j usto pode tomar duas,
quer dizer, se pode respeitar o direi- R, Não foram mani fes tações naturais.Há aí
to das mulheres . ~ um fenómeno perma- intrigas por parte de personalidades e
nente na história humana : o número de grupos suspe itos , anti-revolucionários,
mulheres é excedentário . Nós respeita ant i-Islâmicos . .
D1.'2.

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