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Trabalho temporário volta a crescer na Europa, mesmo após reformas. Na América Latina,
recuperação econômica terá efeito modesto na geração de emprego
“Depois de se estabilizar entre 2014 e 2016, a incidência do trabalho temporário volta a crescer
de na Europa”, informa o relatório. “A percentagem de trabalhadores temporários sobre o total
está aumentando especialmente na Espanha, onde em 2017 alcançou 26,8%, percentual mais
alto desde 2008”. A Espanha fez uma reforma trabalhista em 2012que mudou as relações de
trabalho no país e serviu de inspiração para a reforma proposta pelo Governo Michel Temer.
A agência da ONU que reúne Governos, empregadores e trabalhadores de 187 países aborda
assim um fenômeno já conhecido: a recuperação do emprego na Espanha dos últimos anos
ocorreu, como já havia sido visto antes durante a febre da construção civil, com prioridade para
os contratos de pior qualidade.
Do total de contratos temporários de trabalho na Espanha em 2017, em torno de 60% tinham uma
duração de até seis meses. Esse percentual está à frente, por exemplo, dos da Croácia, Itália,
Bélgica e Finlândia, todos eles com mais de 50% de contratos muito curtos sobre o total dos
temporários. No extremo oposto ficam Alemanha, Holanda, Dinamarca e Áustria, onde o peso dos
contratos de até seis meses é inferior a 25% do total de temporários. Na Alemanha e Dinamarca,
os empregos com mais de um ano de duração representam mais da metade dos temporários,
enquanto na Espanha rondam os 10%.
“Não é surpreendente que os países onde a duração média dos contratos é relativamente curta
sejam mais propensos a registrar percentuais altos de emprego temporário involuntário”, aponta o
relatório. Como exemplo negativo volta a aparecer a Espanha, onde 85% dos empregados
temporários estão nessa situação por não terem encontrado um trabalho por definitivo. Países
como a Bélgica, Grécia e Itália registraram uma percentagem também alta, acima de 75%. Pelo
contrário, mais de 90% dos trabalhadores temporários austríacos o são por vontade própria, um
índice que na Alemanha fica em 85%.
A OIT também considera que parte do emprego em tempo parcial se explica por decisões
pessoais – seja porque o trabalhador deseja passar mais tempo em família, ou porque estuda, ou
está num período de experiência numa empresa – ou então por circunstâncias trabalhistas de seu
país, incapaz de oferecer ao trabalhador uma jornada completa.
Mulher e temporalidade
A variável geográfica não foi a única analisada pela OIT. A disparidade de gênerofica clara ao
quantificar os diferentes motivos apresentados por homens e mulheres para optar por um contrato
em tempo parcial. No caso das mulheres, 34% têm contratos de poucas horas para poderem
dedicar mais tempo a responsabilidades familiares, como o cuidado dos filhos, enquanto entre os
homens esse percentual cai para 16%. “Uma vez mais, estes resultados salientam a importância
de políticas públicas voltadas para atenuar a carga das responsabilidades familiares que
frequentemente impedem as mulheres de participarem 100% do mercado de trabalho”, diz
o relatório da OIT.
A agência da ONU volta sua atenção também para a evolução dos salários. E conclui que as
remunerações em 52 países ricos estão desde 2000 sofrendo crescimentos reais muito
reduzidos, sempre abaixo de 2%. Em 2016 cresceram 1,2%, e em 2017, 0,8%. Essa expansão
anêmica pode ser atribuída à baixa inflação na França e na Alemanha e “à queda dos salários
reais” na Espanha, Itália e Japão. “Apesar disso, dados publicados recentemente sugerem que o
crescimento nominal dos salários pode estar ganhando força em alguns países”, acrescenta o
texto. Como contraponto, a OIT cita três países da UE onde a queda do desemprego em 2018 foi
especialmente importante: Grécia, com uma redução de 2.3 pontos percentuais, Portugal (2.0) e
Espanha (1.7).
A OIT tem boas perspectivas para o crescimento econômico da América Latina e Caribe em 2018
– alta de 2,0% no PIB da região em 2019 e 2,6% em 2020, acima de um modesto 1% em 2018 -,
puxado especialmente pelas melhorias esperadas para Brasil – alta de 0,7% do PIB em 2018 e
expectativa de 2,4% para 2019. No entanto, o impacto desse crescimento na geração de
emprego será modesto. O número de pessoas empregadas terá uma alta de 1,4% até 2020, com
a taxa de desemprego caindo de 8% em 2018 para 7,8% em 2020. No Brasil, a expectativa é uma
redução da taxa de desemprego de 12,5%, em 2018, para 12,2%, em 2020. Em número
absolutos, isso representa 200.000 trabalhadores de volta ao mercado. Em números absolutos, o
país ainda deve fechar o ano com 13,1 milhões de desempregados.
A OIT destaca que ter uma emprego não é garantia de boas condições de vida em vários países
na região. "A incidência da informalidade na América Latina e no Caribe continua sendo uma das
mais altas globalmente, embora na última década quase todos os países da sub-região tenham
políticas públicas", informa o relatório. Estima-se que mais de 53% da população ocupada na
região permaneça no emprego informal. No Brasil, esse índice chega a 46%.