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MESTRADO EM ESTUDOS SOBRE A EUROPA

Direito e Politica Internacional

A NATO e a União Europeia


uma parceria estratégica com futuro?

- E-trabalho Final –
2017/2018

“A day will come when all nations on our continent will form a European brotherhood ... A
day will come when we shall see ... the United States of America and the United States of
Europe face to face, reaching out for each other across the seas.”

- Victor Hugo, International Peace Congress, 1849

Paulo Sousa - nr. 1001020


Fevereiro 2018
Mestrado de Estudos sobre a Europa
Direito e Politica Internacional

Resumo

Um olhar sobre as características muito próprias da União Europeia e da NATO, com


incidência nos capítulos da Segurança e Defesa, os conceitos e evolução.
O nosso objetivo com este ensaio é analisar superficialmente alguns pontos da associação
estratégica entre estas duas organizações, que partilham entre si mais de duas dezenas de
Estados-Membros e que aparentemente pretendem defender os mesmos valores
civilizacionais e combater os mesmos tipos de ameaças. Atentaremos para entender se os seus
caminhos se cruzam ou caminham paralelos, se nas suas intervenções, a forma de operar tem
sido a mais coordenada e/ou adequada e se têm sido eficiente, quais os prolemas já
enfrentados, os que estão a enfrentar e os desafios futuros.
Pretende-se fazer uma caracterização, não exaustiva, de cada uma das organizações fazendo
um tipo de retrospetiva desde as suas origens para tentar entender os seus conceitos, como
estes evoluíram e qual seu o enquadramento na atualidade politica, económica e social, para
no final tentar alcançar algumas conclusões.

Palavras chave:
NATO, União Europeia, Segurança e Defesa, Conceito Estratégico, Relações Transatlânticas.

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ÍNDICE

1. Introdução ............................................................................................................................ 4

2. A NATO................................................................................................................................. 6

2.1 As Origens................................................................................................................................ 6

2.2 O que é? .................................................................................................................................. 7

2.3 Súmula ..................................................................................................................................... 8

3. A União Europeia .................................................................................................................10

3.1 As Origens.............................................................................................................................. 10

3.2 O que é? ................................................................................................................................ 14

3.3 Os Tratados: da CECA à UE .................................................................................................... 15

3.4 Quem toma as decisões? ...................................................................................................... 15

3.5 Súmula ................................................................................................................................... 16

4. A Relação NATO/UE e os Desafios ........................................................................................18

4.1 Vista da “Bancada” ................................................................................................................ 18

4.2 Formação e Evolução do relacionamento ............................................................................. 19

4.3 Brexit, quais os efeitos na segurança e defesa da UE? ......................................................... 23

4.4 Súmula ................................................................................................................................... 23

5. Portugal, NATO e a União Europeia ......................................................................................25

6. Conclusão ............................................................................................................................27

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Abreviaturas

CECA Comunidade Europeia do Carvão e Aço


CEE Comunidade Económica Europeia
CJTF Combined Joint Task Forces
CMUE Comité Militar
COPS Comité Politico e de Segurança
EMUE Estado-Maior Militar
ESDI European Security ans Defense Identity
EUA Estados Unidos da América
EUROATOM Comunidade Europeia de Energia Atómica
IESD Identidade Europeia de Segurança e Defesa
NATO North Atlantic Treaty Organization
OCDE Organização Desenvolvimento Cooperação Económica
OTAN Organização Tratado Atlântico Norte
PCSD Política Comum de Segurança e Defesa
PESD Política Europeia de Segurança e Defesa
RFA Républica Federal da Alemanha
SACEUR Supreme Allied Commander Europe
UE União Europeia
UEM União Económica e Monetária
UEO União da Europa Ocidental

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1. INTRODUÇÃO
O Dia 31 de dezembro de 1999 veio por termo ao segundo milénio. Fazendo uma rápida
diagonal pela historia da civilização vamos aperceber que na reta final do milénio, o século
XX, foi o século que não olhou a meios para chegar aos fins, ou seja, a humanidade viveu
uma grande parte do último século do milénio a tocar nos extremos, do melhor e do pior
daquilo que o ser humano tem para oferecer à humanidade. Será um dos séculos mais
sangrentos registados pela história, mas, também um dos que registou maior avanço
tecnológico, é com certeza o período de tempo que mais alterou a face do planeta e da
humanidade.
O século XIX iniciou o caminho para a evolução na melhoria das condições humanas, desde a
abolição da escravatura, uma segunda revolução industrial e a massificação das condições de
habitabilidade, isto é, a generalização do conceito de urbanização, foram dados passos largos
na medicina e aprofundado o conhecimento da anatomia. O novo século nasce sob o
prenuncio do que seriam os próximos 100 anos, envolto de revoluções e guerras espalhadas
um pouco por tudo o mundo. Um ato isolado praticado na Europa, em Sarajevo (1914) 1, daria
origem à I Guerra Mundial, (esta mesma cidade, oitenta anos depois seria palco duma guerra
étnica sem precedentes 2). Esta tendência da destruição manteve-se, originando a II Guerra
Mundial ainda antes de chegar a metade do século, seguiram-se outras como a Guerra Fria,
Guerra da Coreia, do Vietnam, Guerra Colonial Portuguesa, Iraque, Afeganistão, entre muitas
outras.
A par de tudo isto as sociedades aprendiam a viver com estas novas realidades, vão
avançando nos tempos através das revoluções sociais, politicas, culturais e económicas que se
estende até final da década de 80, com a queda do Muro de Berlim (9/11/1989). O
Capitalismo foi-se instalando, provocando uma aparente estabilização global, sobrepondo-se a
tudo, devido ao declínio dos ideais socialistas/comunistas, seria responsável pela
extraordinária expansão económica e de profundas transformações sociais.
Com o inicio de um novo milénio e do século XXI, muitas coisas se transformaram, a era da
informação estava instalada, o conceito da globalização “reduziu” o tamanho do planeta a um
teclado que pode caber na palma da mão, um equipamento usado no nosso dia-a-dia e o qual
já é praticamente indispensável, o telemóvel/smartphone. Este fenómeno trouxe consigo a
ameaça à segurança e estabilidade global, duma forma à qual se tornou muito difícil de
combater e/ou detetar. Esta explosão tecnológica arrastou também o que não é bom,
continuam a haver guerras, mas, os inimigos agora são outros, o ódio, xenofobia, racismo, a
internet, os ataques cibernéticos, em nome duma fé fundamentalista e através do terrorismo
provocaram atentados como às Torres Gémeas de Nova Iorque, em Londres, em Paris, as
potencias nucleares.
Um texto talvez algo pesado para uma introdução, contudo pareceu-me ser o que é a realidade
hodierno, não sou pessimista, é por isso que consigo ver que neste mundo ainda há muita
coisa boa, bonita e muitas pessoas boas também. É neste pensamento que caminho para a

1
1914: Assassinato do arquiduque Franz Ferdinand da Áustria por Gavrilo Princip, em Sarajevo, desencadeando a Primeira Guerra
Mundial
2
A Guerra da Bósnia foi um conflito armado que ocorreu entre abril de 1992 e dezembro de 1995 na região da Bósnia e Herzegovina. .
[consultado em 16-02-2018] [Disponível na URL]: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_da_B%C3%B3snia
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razão deste ensaio, para abordar o tema proposto uma pareceria transatlântica, acerca de duas
instituições que se formaram para “combater” as injustiças de forma a prevenir que os
acontecimento trágicos referido atrás voltem a acontecer, tentando dar esperança e qualidade
de vida aqueles que não se podem defender.
Neste ensaio tentaremos caracterizar de uma forma sumária alguns dos elementos que compõe
os pilares da NATO e da União Europeia, e o que ambas, em conjunto ou separadamente,
podem oferecer à humanidade.

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2. A NATO
2.1 AS ORIGENS

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, e a assinatura da Carta da Nações Unidas em 1945 por 50
Estados, foi a tentativa de criar uma paz duradoura, consagrando o famoso artigo 51º: “(…)
Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou
colectiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro das Nações Unidas (…)”.
Apesar de todos os esforços em criar condições para manter a paz, a Europa de leste
continuava a sofrer dos avanços Soviéticos, não se sabendo quais as consequências desta
politica nem havendo qualquer tipo de previsões do seu desfecho. O Tratado de Dunquerque,
assinado pelo Reino Unido e a França em 1947, é uma consequência, do medo e tentativa da
história não se repetir, aliando-se contra um eventual ataque da Alemanha. Isto não viria a
acontecer porque os acontecimentos evoluiriam em sentido diferente, causa principal foi
golpe de estado em Praga, em 1948. A Rússia já “pairava” sobre a maior parte dos estados da
Europa de leste e este acontecimento forçou naturalmente os Aliados a tomar uma posição
defensiva e a repensar a sua estratégia, principalmente a militar.
Cinco países uniram-se numa tentativa de dar resposta à politica de força soviética, mostrando
algum poder militar pela quantidade. Além do domínio militar neste acordo que formava um
sistema defensivo contra qualquer tentativa de agressão externa, previa também a participação
e a cooperação socioeconómica e cultural entre os seus membros. O acordo entre estes países
foi o Tratado de Bruxelas, originando a Organização do Tratado de Bruxelas ou União
Ocidental, assinado em 1948 pela França, Reino Unido, Bélgica, Países Baixos e
Luxemburgo. Foi um acordo muito importante, contudo, para se afirmar precisava do apoio
de uma força militar como a dos Estados Unidos da América, idêntica ao apoio económico
que estava já em ação, desde 1947, através do Plano Marshall.
O apoio económico foi fundamental para o reerguer da Europa, exceto para os países do leste
europeu, já sobe a pressão soviética e, a própria URSS que rejeitaram esta ajuda. A divisão
Leste Oeste era cada vez mais uma realidade e o “epicentro” era Berlim, cidade dividida a
meio e ocupada pela União Soviética de um lado e os Aliados do outro. Neste frente a frente a
URSS bloqueou todos os acessos a Berlim ocidental, dando origem à ponte aérea 3 mais
famosa de sempre proporcionada pelos Aliados. As consequências deste bloqueio levaram à
decisão dos EUA permanecer na europa, sine die, e a reavaliação dos problemas de segurança
pelos aliados.
O resultado da reavaliação foi uma espécie de “atualização” do Tratado de Bruxelas, isto é, o
alargamento a mais países como o Canadá e alguns outros europeus, os quais eram
geograficamente estratégicos, sendo estes Portugal, Itália, Islândia, Noruega e Dinamarca.
Esta aliança e, após a assinatura de um novo tratado em Washington a 4 de abril de 1949, deu
origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 4. A NATO, foi a organização
criada pela necessidade de haver uma maior força militar para fazer frente à ameaça Soviética
e, com o inicio da guerra fria, surgiu como uma aliança de defesa coletiva.

3
Durou cerca de 11 meses, de 24-JUN-1948 a 12-MAI-1949
4
Em inglês: North Atlantic Treaty Organization (NATO): [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]: https://www.nato.int/
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2.2 O QUE É?

A NATO é uma aliança de 29 países, da América do Norte e na Europa, empenhada em


cumprir os objetivos do Tratado do Atlântico Norte, a função fundamental da NATO é
salvaguardar a liberdade e a segurança dos seus países membros por meios políticos e
militares, valores comuns da democracia, da liberdade individual, o estado de direito e da
resolução pacífica dos diferendos e empenha-se em promover esses valores em toda a área
euro-atlântica. Relações entre americanos e europeus, membros da aliança, são o seu alicerce,
compartilham os mesmos valores e interesses essenciais e estão comprometidos com a
manutenção dos princípios democráticos, tornando a segurança da Europa e da América do
Norte indissociável. O seu empenho está em defender os seus Estados-Membros contra a
agressão ou ameaça de agressão e o princípio de que um ataque contra um ou vários membros
seria considerado como um ataque contra todos 5. A Aliança é uma organização
intergovernamental, em que cada país membro conserva a sua soberania. Todas as decisões
são tomadas conjuntamente pelos países membros sobre a base do consenso, pelo órgão mais
importante, o Conselho do Atlântico Norte, composto por representantes de todos os membros
a nível de embaixadores, ministros e chefes de Estado e de governo, cada país membro
participa plenamente no processo de tomada de decisões numa base de igualdade,
independentemente da sua dimensão ou política, militar e económico, isto é, mantem a
possibilidade de ação independente com respeito a decisões e ações conjuntas e, uma vez
tomadas as decisões, permite uma ação concertada, reforçadas ainda por solidariedade
política. Um exemplo destas ações foi nas decisões tomadas para dar assistência aos Estados
Unidos após os atentados de 11 de Setembro de 2001. Pela primeira vez na sua história, a
NATO invocou o artigo 5 do Tratado de Washington, que estipula que um ataque armado
contra um ou mais membros da Aliança é considerado como um ataque armado contra todos.
A NATO não tem forças operacionais próprias além daqueles atribuídas pelos países
membros ou por países parceiros para a realização das missões, possui apenas mecanismos
para o efeito como para o processo de planeamento da defesa e de recursos que formam a base
da cooperação no seio da Aliança, a implementação dos compromissos políticos de
capacidades melhoradas, e uma estrutura militar que combina as funções de uma força
multinacional de planeamento, com um sistema de comando e controlo das forças armadas da
Aliança a ela atribuídas, ou seja, sob o seu comando a organização prevê a planificação
conjunta e implementação operacional de forças fornecidas pelos países membros, de comum
acordo. Uma parte importante da NATO será o de agir como catalisador de forma a gerar as
forças necessárias para atender aos requisitos, permitindo aos países-membros participar em
operações de gestão de crises nas quais nunca o poderiam realizar individualmente.
O diálogo e a cooperação com países não membros da NATO permitiu ultrapassar as divisões
criadas durante da Guerra Fria ampliando a segurança e a estabilidade muito além das
5
Tratado do Atlântico Norte, Washington D.C., 4 de Abril de 1949: Artigo 5º - As Partes concordam em que um ataque armado contra uma
ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um
tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou colectiva, reconhecido pelo artigo 51.° da
Carta das Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com
as restantes Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança na região
do Atlântico Norte. Qualquer ataque armado desta natureza e todas as providências tomadas em consequência desse ataque serão
imediatamente comunicados ao Conselho de Segurança. Essas providências terminarão logo que o Conselho de Segurança tiver tomado as
medidas necessárias para restaurar e manter a paz e a segurança internacionais. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]:
https://www.nato.int/cps/in/natohq/official_texts_17120.htm?selectedLocale=pt
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fronteiras da NATO. A Aliança continua a aprofundar e alargar a sua cooperação com a


países como a Rússia, Ucrânia e com outros países parceiros, alguns dos quais já se tornaram
membros, bem como com os países do programa Mediterranean Dialogue 6 e no Médio
Oriente, está também em fase de reforçar a cooperação com outras organizações
internacionais e, em particular, com a União Europeia, com a qual está a desenvolver uma
parceria estratégica.

2.3 SÚMULA

A NATO como qualquer outra organização, não é estática, procurando adaptar-se à realidade
quotidiana. Desde a sua fundação com 12 membros (1949), ampliou para 14 7, 15 8 e 169
membros até 1982, mantendo-se inalterada até à dissolução do Pacto de Varsóvia 10 em
dezembro de 1991, aceitando a adesão de alguns destes países 11 alcançando o número de
membros atualmente de 29.
A função inicialmente adotada era principalmente de carácter defensivo, isto é,
prevenir/controlar a ameaça soviética, no entanto, com a queda do Muro de Berlim o seu
propósito principal parecia ter terminado, não havia qualquer necessidade para a sua
existência. Seria fundamental encontrar formas e meios para se adaptar à nova realidade, ou
passaria a ser uma instituição obsoleta pertencente a uma era ultrapassada. Conseguiu
encontrar o caminho para a modernização, absorvendo os países do extinto Pacto de Varsóvia,
aligeirando os seus meios, isto é, uma reestruturação dos meios humanos e de materiais,
tornando-os mais eficazes, com a capacidade de deslocamento mais rápido e efetuar
intervenções em diferentes continentes. Alterando a politica de integrar novos membros,
passou a ter parceiros, o que alargou substancialmente o perímetros da sua intervenção, bem
como uma maior diversificação e adaptabilidade às ameaças encontradas.
A Aliança teve de passar por mais uma prova de fogo no dia em que o mundo mudou, 11 de
setembro de 2001, obrigada a sair da sua área de conforto “saltando” para fora da zona euro-
atlântica, deslocando-se mais para sul onde teve de intervir em missões humanitárias e/ou
militarmente em missões de patrulha e em operações de combate, em zonas como: na costa da
Somália (pirataria marítima), Afeganistão, Mediterrâneo, Darfur, Líbia, e também auxiliou os
EUA quando do furação Katrina, entre muitas outras missões.
Hoje podemos considerar que a NATO transformou-se de uma Aliança criada com um
“único” objetivo para um instrumento indispensável para assegurar a segurança de forma
cooperativa porque é detentora de características fundamentais e únicas. A sua influência
atinge um nível politico que lhe proporciona capacidade de tomada de decisões coletivas,
mantendo uma boa ligação transatlântica que sustenta a sua capacidade de responder a novos

6
Mediterranean Dialogue iniciou em 1994 pelo Conselho Atlântico Norte. Envolve presentemente sete países nõ membros da NATO na
região do mediterrâneo: Algeria, Egypt, Israel, Jordan, Mauritania, Morocco and Tunisia. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na
URL]:https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_60021.htm
7
Aderiram a Grécia e Turquia em 18/02/1952
8
Aderiu a Alemanha (RFA) em 6/05/1955, a RDA fez parte do Pacto de Varsóvia até 1990, depois da unificação apenas existe Alemanha.
9
Aderiu a Espanha em 30/05/1982.
10
O Pacto de Varsóvia ou Tratado de Varsóvia foi uma aliança militar formada em 14 de maio de 1955pelos países socialistas do Leste
Europeu e pela União Soviética, países estes que também ficaram conhecidos como bloco do leste. [consultado em 08-02-2018]
[Disponível na URL]: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pacto_de_Vars%C3%B3via
11
República Checa; Hungria; Polónia; Bulgária; Estónia; Letónia; Lituánia; Roménia; Eslováquia
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desafios, no entanto, não sendo auto suficiente, por diversos motivos como uma reduzida
capacidade civil que não permite ter uma segurança cooperativa autónoma e, talvez o seu
ponto mais fraco, seja a diferença do esforço militar efetivo de cada dos seus membros o que
poderá sempre criar alguma falta de harmonia nas relações euro-atlânticas.
Muitos são os desafios que este século XXI já trouxe e vai continuar a trazer, pondo à prova
cada vez mais as capacidades de adaptabilidade desta organização e da relação transatlântica.

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3. A UNIÃO EUROPEIA
3.1 AS ORIGENS

União Europeia, um espaço sem fronteiras entre muitos países, mantendo cada um a sua
soberania, e com uma moeda única, é o resultado de um longo e sinuoso caminho, percorrido
ao longo de muitas etapas, as quais foram sucessivamente ultrapassadas pelo entendimento e
pelo compromisso de todas as partes. As etapas que a seguir descrevemos são o testemunho
desse caminho percorrido e de que é possível uma vida de entendimento, sem guerras, de
povos com hábitos e culturas muito diversas.
Uma Europa unida, sem fronteiras, com o formato em que vivemos hoje não é um desejo
recente. Ao percorrer os caminhos do passado, da historia, encontramos imensas referências à
ideia de haver a união de todos os estados europeus, uma nação, um povo. Desde Carlos
Magno o primeiro imperador dos Romanos, ainda o Pierre Dubois, um conselheiro do duque
da Borgonha, que falava numa federação europeia em 1306. William Penn, o fundador da
Pensilvânia, e um dos primeiros defensores de um parlamento europeu, num texto de 169312,
Immanuel Kant, filósofo alemão que fez um célebre apelo à "paz perpétua", a ligação entre a
ideia de Kant para uma federação cosmopolita e a formulação da União Europeia. Victor
Hugo, o romancista francês do século XIX que proferiu no seu discurso de abertura do Peace
Congress, que decorreu em Paris, em 1849: “Um dia virá quando tu, França, tu, Rússia, tu,
Itália, tu, Alemanha, vós todas as nações do continente, sem perder suas qualidades
distintivas e a gloriosa individualidade, será fundida dentro de uma unidade superior” (nossa
tradução). Ainda outros autores como Leibniz, Emeric Crucé ou o abade de Saint-Pierre
descreviam seus projetos para uma Europa unida e em paz, ou ainda um dos mais ambiciosos
projetos criado do inicio de séc. XX, a União Pan-Europeia 13, liderado pelo conde de
Coudenhove-Kalergi 14. Poderíamos até incluir déspotas como Napoleão e Hitler, que tinham
o objetivo de unir a europa, mas duma forma que por certo traria muita miséria e destruição.
O sonho de uma união europeia ainda não tinha sido possível até meados do séc. XX sendo a
razão principal a luta entre os estados de impedir a hegemonia de algum país, Mark Leonard
(2005) retrata bem esse quadro, “Europe’s invention of small nation-states - and a system to
stop any one of them overpowering the others to create an empire - was a mixed blessing. The
fierce competition between them spurred (…) the logic of the balance of power was also
perpetual war: the Thirty Years War, the Franco-German War, the First World War, the
Second World War, and the Cold War were all fought to stop any one country rising to
hegemony.”
Com o fim da II Guerra Mundial a europa entrou num ciclo de acordos dos mais diversos
tipos na tentativa de encontrar principalmente soluções de defesa e, outras ajudas socio
económicas. Já referimos atrás o exemplo do Tratado de Bruxelas que daria origem à NATO,

12
Ensaio de William Penn. “An Essay towards the present and future Peace of Europe by the establishment of
an EuropeanDyet, Parliament or Estates.”[consultado em 30-01-2018] [Disponível na URL]:
http://www.fredsakademiet.dk/library/penn.pdf
13
União Pan-Europeia. in: Wikipédia, a enciclopédia livre. [consultado em 30-01-2018] [Disponível na URL]:
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Uni%C3%A3o_Pan-Europeia&oldid=48114981
14
Richard Nikolaus Graf Coudenhove-Kalergi. in: Wikipédia, a enciclopédia livre. [consultado em 30-01-2018] [Disponível na URL]:
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Richard_Nikolaus_Graf_Coudenhove-Kalergi&oldid=51046030
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agora as prioridades inclinavam para outras necessidades, os aspetos económicos, sociais e


culturais.
Os três países que deram o mote para estes acordos foram Bélgica, Holanda e Luxemburgo
(Benelux 15), com um tratado de cooperação de união aduaneira. Em 5 de outubro de 1944, os
representantes exilados dos três países assinaram a Convenção Aduaneira de Londres, o
tratado que estabeleceu a União Aduaneira do Benelux, entrando em vigor a 1 de janeiro de
1948. Em março do mesmo ano é assinado o Tratado de Bruxelas entre os países do Benelux,
França e Reino Unido, um tratado de colaboração económica, sociocultural e autodefesa
coletiva, entrou em vigor em 25 de agosto de 1948. Foi substituído pela União Económica do
Benelux em 3 de fevereiro de 1958 e entrou em vigor em 1 de novembro de 1960, para
promover a livre circulação de trabalhadores, capital, serviços e bens na região.
Fundada em 16/4/1948 – Organização Europeia para a Cooperação Económica (OECE), o seu
principal objetivo foi coordenar a distribuição dos fundos pelos países europeus aderentes ao
Plano Marshall. Esta organização teve um papel fundamental na integração económica da
europa e com o fim da ajuda económica Americana através do Plano Marshall, manteve-se
viva, evoluindo e ampliando o seu espaço de atuação. Fundada em 1961 através da “reforma”
da OECE passaria a designar-se Organização para a Cooperação e
16
Desenvolvimento Económico (OCDE), tendo atualmente 35 países membros .
Em 9 de maio de 1950 17 Robert Schuman, num texto inspirado por Jean Monnet, propôs uma
aliança Franco-Alemã para a produção de carvão e aço, ficou gravada na história como a
Declaração Schuman. O aliciante desta proposta para os franceses tinha dois fatores, o
primeiro seria o de conseguir controlar as duas matérias primas mais importantes da industria
da época, o carvão e o aço, o segundo o de controlar a Alemanha de um modo indireto. Para
os alemães, era a forma de conseguir libertarem-se da humilhação da derrota da II Grande
Guerra e voltarem a estar na frente da politica e economia europeia numa posição dominante.
O Reino Unido desagradado por não ter sido informado previamente da intensão dos
franceses chegarem a acordo com os alemães, bem como algumas das condições de ser
membro não aceitou e colocou-se de fora do acordo. Os franceses lideraram a realização do
acordo pelo seu ministro dos negócios estrangeiros Robert Schuman, em 18 de abril de 1951,
foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e Aço (CECA) 18, organização que seria o
embrião para a União Europeia, mas um longo caminho ainda faltava percorrer.
O sector da defesa também estava alinhavado, tendo sido efetivamente assinado um Tratado
para criação da Comunidade Europeia de Defesa, em Paris (1952) que incluía a RFA e todos
os membros da CECA. O tratado previa ser de caráter supranacional e em comum haver
instituições, forças armadas e orçamento. Devido ao chumbo na assembleia francesa, não foi
ratificado não entrou em vigor, mas, devido à contínua preocupação da segurança no
pensamento do pós guerra, foi modificado o Tratado de Bruxelas de 1948 fundamentalmente
para manter o a cláusula de defesa coletiva, convidada a RFA e Itália e nasceu União da

15
Trata-se de uma união aduaneira que compreende a Bélgica, os Países Baixos e o Luxemburgo, iniciada em 1 de janeiro de 1948.
BENELUX é formado pelas iniciais dos nomes dos três países: Belgique, Nederland e Luxembourg.
16
Países membros [consultado em 31-01-2018] [Disponível na URL]: http://www.oecd.org/about/membersandpartners/
17
Esta data é hoje marcada e comemorada como o Dia da Europa. [consultado em 31-01-2018] [Disponível na URL]:
https://europa.eu/european-union/about-eu/symbols/europe-day_pt
18
Instituído pelo Tratado de Paris, assinado em 18-04-1951, pela França, Republica Federal da Alemanha, Holanda, Luxemburgo, Bélgica e
Itália.
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Europa Ocidental em 23/10/1954. Esta organização não viria a ter qualquer relevância pois
assentava no princípio da estreita colaboração com a NATO, a não duplicação dos Estados-
Maiores e entregava a responsabilidade dos assuntos militares.
A CECA foi um sucesso maior do que alguma vez seus fundadores visionassem, em menos de
uma década as necessidades de ampliarem o âmbito de atuação já estavam na mesa de
negociações. Jean Monnet foi o escolhido para liderar mais uma vez as negociações. Os
caminhos a percorrer seriam divididos em dois, em 25 de março de 1957 foi assinado o
Tratado de Roma, dando origem a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade
Europeia de Energia Atómica (EURATOM). A Europa estava agora no caminho certo para
uma integração e união como nunca antes fora possível e, liderado por três organizações
CECA, CEE e EURATOM, ainda apenas entre os seis países fundadores da CECA e
dominado fortemente pelo conjunto Franco-Alemão contudo não de forma equitativa. Tony
Judt (2007, 360) considera acerca deste domínio franco-alemão como “a CEE era um
condomínio franco-germânico em que Bona pagava as finanças da comunidade e Paris ditava
as suas políticas".
O Reino Unido receando perda de soberania ao “ceder” às iniciativas do seu vizinho francês e
temendo pelas consequências da hegemonia Franco-Alemã, criou um caminho paralelo
unindo-se a outras seis países europeus, Dinamarca, Noruega, Suécia, Áustria, Suíça e
Portugal, e a 20 de Novembro de 1959 nasceu a Associação Europeia do Comércio Livre ou
European Free Trade Association (EFTA ).
CECA, CEE e EUROATOM, tinham atingido o auge e o caminho encontrado para continuar
a evoluir foi o da unificação, ou seja, fundir numa só organização. Em 8 de abril de 1965 esta
união concretizou-se através da assinatura do Tratado de Bruxelas ou Tratado da Fusão, funde
os executivos das três comunidades numa só "Comissão das Comunidades Europeias" 19 e
instaura um Conselho único que substitui os Conselhos das três comunidades. 20
Devido à pressão contrária francesa , principalmente devido ao seu presidente De Gaulle, o
alargamento da comunidade a outros países foi-se atrasando. Apenas após a sua morte(1970)
é que as negociações foram reiniciadas e em 1973 entraram o Reino Unido, Irlanda e
Dinamarca.
Na década de 1970 a foi visionada, pelo Relatório Werner a implementação faseada da União
Económica e Monetária (UEM), contudo por diversos acontecimentos internacionais este
projeto ficou suspenso, mas entra em vigor o Sistema Monetário Europeu (SME) em 1979. A
revisão ao Tratado de Roma é feita pela assinatura do Acto Único Europeu (AUE) em 1986,
documento importante e de muito sucesso na vida político-jurídica da Europa. Foi o passo
para o inicio da integração europeia, conforme refere Adriano Moreira (1986-87, 217) “O
Acto Único não é a bandeira erguida no topo da montanha, é um ferro cravado na encosta
pelo escalador que não desiste.”
Na sequencia dos acontecimentos marcantes para a europa, da queda do muro de Berlim (9-
11-1989) e consequente reunificação da Alemanha, é assinado o Tratado da União Europeia
(TUE), mais conhecido como Tratado de Maastricht em 1992. Com este tratado a UEM

19
Ver em: http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=LEGISSUM%3Axy0025
20
Não foi pacifico, De Gaulle não queria abdicar da soberania dos franceses, não assinou e criou um incidente politico grave conhecido até
hoje como “crise da cadeira vazia”, que se prolongou cerca de seis meses, resolvido pela assinatura do “Compromisso de Luxemburgo” em
29-01-1966. Foi revogado em 1986 devido ás muitas dificuldades criadas pelos bloqueios nas decisões.(Soares 2005, 185-88)
E-trabalho Final – A NATO e a UE P á g i n a | 12
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voltou a estar na agenda do dia e a arquitetura da União Europeia foi delineada em três
pilares. 21
O segundo pilar, politica externa e de segurança comum, era fundamental para todos os
estados membros e estes deveriam convergir seus interesses individuais para o bem de todos,
o documento refere que “A política externa e de segurança comum abrange todas as questões
relativas à segurança da União Europeia, incluindo a definição, a prazo, de uma política de
defesa comum que poderá conduzir, no momento próprio, a uma defesa comum” (União
Europeia 1992a, Titulo V, Artigo J.4, § 1) 22.
Com o fim do Bloco de Leste, é tomada a decisão pelo Conselho Europeu, 1993, de aceitar
candidaturas dos países do leste europeu, mas, definiu condições de adesão, estas condições
são conhecidas como “Critérios de Copenhaga”, levaria cerca de uma décadas até alguns
destes países conseguirem cumprir as condições de adesão.
Através do Tratado de Amesterdão, foi possível melhorar bastante alguns dos assunto que
ficaram por esclarecer no Tratado de Maastricht, como o tema da segurança (PESC) que
sofreria alterações de melhoramento conforme nos cinco aspetos seguintes: 1º - o Secretário-
Geral do Conselho passou a desempenhar as funções de Alto Representante para a PESC; 2º -
explicitados os tipos de missões que a União deveria desempenhar no futuro; 3º - modificadas
as regras de tomada de decisões; 4º - regras de financiamento das despesas com as operações
da PESC foram alteradas, ou seja, despesas administrativas e operacionais ficavam a cargo
das Comunidades Europeias, as despesas nos domínios militares ou da defesa seriam pagas
pelos Estados Membros.
No decorrer dos anos 1990 a guerra na ex-Jugoslávia, na Bósnia e Herzegovina e no Kosovo,
trouxeram à superfície a total incapacidade da intervenção europeia para a resolução destes
assuntos, não tinha meios nem legislação capaz, continuava de mão atadas. Diversas reuniões
ao mais alto nível aconteceram para tentar colmatar o mais breve possível estas lacunas. Em
1998, Cimeira de Saint-Malo, concluíram que se deveria criar forças militares autónomas e
com capacidade de intervenção em crises internacionais. No ano seguinte, 1999 em Colónia,
durante o Conselho Europeu, aprovaram o relatório com as diretivas de Saint-Malo, mas seria
necessário esperar pela Cimeira de Helsínquia, em dezembro do mesmo ano, para que fossem
aprovados os princípios orientadores da segurança e defesa europeia, como por exemplo:
órgãos com capacidade de decisão estratégica, política e militar; criar e/ou desenvolver
instrumentos não militares para gestão de crises (União Europeia 1999b, Art. 27°). O HLG
2003 (Headline Goal) 23 veio implementar diversas medidas como a força de reação rápida que
previa ter um efetivo de 50 a 60 mil para o cumprimento de missões Petersberg 24, criados
orgãos políticos, Comité Politico e de Segurança (COPS), Comité Militar (CMUE) e o
Estado-Maior Militar (EMUE), iniciaram a atividade em 2000. Foram implementados outros
recursos não militares para a gestão de crises e coordenação dentro da União. Afim de agilizar
e autonomizar os processos de decisão foi criado o Comité Civil para a Gestão de Crises

21
Os três pilares são: 1º - a Comunidade Europeia, englobando as políticas económicas e monetárias; 2º - a Política Externa e de Segurança
Comum (PESC), que no futuro poderia conduzir a uma defesa comum; 3º - a cooperação nos domínios da Justiça e dos Assuntos Internos.
22
Tratado da União Europeia (TUE), pagina 126: https://europa.eu/european-union/sites/europaeu/files/docs/body/treaty_on_
european_union_pt.pdf
23
HLG 2003 (Headline Goal), [consultado em 03-02-2018] [Disponível na URL]: https://en.wikipedia.org/wiki/Helsinki_Headline_Goal
24
As missões Petersberg, [consultado em 03-02-2018] [Disponível na URL]: http://eurlex.europa.eu/summary/glossary/petersberg
_tasks.html
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(CIVCOM) que em conjunto com o CMUE e COPS fariam esse trabalho. No Conselho
Europeu de Santa Maria da Feira, tido 6 meses após Helsínquia, foram tomadas decisões
novamente sobre as questões militares da União, como qual o formato de participação dos
países que são membros da NATO e não da EU, outras decisões de aspectos da vida civil
onde era mais crítico a U.E. atuar como o sistema de justiça, administração e proteção civil e
ainda as capacidades policiais.
Em dezembro de 2000 no decorrer do Conselho Europeu de Nice, que serviu para cimentar as
decisões tomadas nos Conselhos e Cimeiras anteriores, de beneficiar a UE com a capacidade,
que ainda não tinha, de gerir autonomamente as crises internacionais através de seus próprios
recursos militares e civis, nesta cimeira alteraram a designação de Politica Europeia Comum
de Segurança e Defesa, para Política Europeia de Segurança e Defesa (PESD) 25.

3.2 O QUE É?

A União Europeia é uma união política e económica, no seu núcleo estão os 28 Estados
membros (-1 quando o Reino Unido sair), e uma população estimada em mais de 510 milhões
de habitantes. A característica única da UE é que, embora estes sejam países soberanos e
independentes, abdicaram parte de sua "soberania" para ganhar força no conjunto, na união. A
UE conseguiu o que outros tentaram, mas, não tiveram sucesso, foi criar um mercado único
interno, com uma moeda única, inserido num espaço de circulação livre para os seus cidadãos
(espaço Schengen), através de um sistema de leis aplicado por cada um dos Estados membros.
As políticas da UE visam assegurar a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais,
promulgar legislação em matéria de justiça e assuntos internos e manter políticas comuns
sobre comércio, agricultura, pesca, e desenvolvimento regional. Dentro do espaço Schengen,
os controles de passaportes foram abolidos. Uma união monetária foi criada em 1999 e entrou
em vigor em 2002 e é composta por 19 Estados membros da UE que utilizam a moeda do
euro. A UE traça suas origens da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e da
Comunidade Económica Europeia (CEE), estabelecida, respetivamente, pelo Tratado de Paris
de 1951 e pelo Tratado de Roma de 1957. Os seis membros originais do que veio a ser
conhecido como Comunidades Europeias, eram os “Inner Six” (Bélgica, França, Itália,
Luxemburgo, Holanda e Alemanha (RFA)) foi crida em paralelo uma comunidade (EFTA),
com objetivos ligeiramente diferentes por iniciativa do Reino Unido, eram os “Outer Seven”
(Áustria, Dinamarca, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça, Rino Unido), contudo cinco destes
membros mais tarde integrariam a UE. A UE foi aumentando sucessivamente de tamanho té
aos 28 Estados, até Junho 2016 quando Reino Unido em resultado de um referendo, invocou o
Artigo 50, isto é, notificou formalmente o Conselho Europeu, e atualmente está negociar a
sua saída. O Tratado de Maastricht estabeleceu a União Europeia em 1993 e introduziu a
cidadania europeia. A última alteração importante à base constitucional da UE, o Tratado de
Lisboa, entrou em vigor em 2009.

25
missões Petersberg, [consultado em 03-02-2018] [Disponível na URL]: http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=
LEGISSUM%3Aai0026
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3.3 OS TRATADOS: DA CECA À UE

Desde que Robert Schuman, propôs a integração das indústrias do carvão e do aço da Europa
Ocidental em 1950, a UE tem vindo a atualizar e adicionar regularmente os tratados para
assegurar políticas e decisões cada vez mais eficazes, adaptadas aos tempos.
• O Tratado de Paris, que cria a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, foi assinado em
Paris em 18 de abril de 1951 e entrou em vigor em 1952. Expirou em 2002.
• Os Tratados de Roma, que institui a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a
Comunidade Europeia da Energia Atómica (Euratom), foram assinados em Roma em 25 de
março de 1957 e entraram em vigor em 1958.
• O Acto Único Europeu (AUE), foi assinado em Fevereiro de 1986 e entrou em vigor em
1987. Alterou o Tratado CEE e preparou o caminho para a realização do mercado único.
• O Tratado da União Europeia (TUE) - O Tratado de Maastricht - foi assinado em Maastricht
em 7 de Fevereiro de 1992 e entrou em vigor em 1993. Estabeleceu a União Europeia, deu
ao Parlamento mais uma palavra na tomada de decisões e acrescentou novas áreas políticas
de cooperação.
• O Tratado de Amesterdão foi assinado em 2 de Outubro de 1997 e entrou em vigor em 1999.
Alterou os tratados anteriores.
• O Tratado de Nice foi assinado em 26 de Fevereiro de 2001 e entrou em vigor em 2003.
Estabilizou o sistema institucional da UE para que pudesse continuar a funcionar
eficazmente após a nova onda de Estados-Membros se juntaram em 2004.
• O Tratado de Lisboa foi assinado em 13 de Dezembro de 2007 e entrou em vigor em 2009.
Simplificou os métodos de trabalho e as regras de votação, criou um Presidente do Conselho
Europeu e introduziu novas estruturas com vista a tornar a UE um actor mais forte no
mundo etapa.

3.4 QUEM TOMA AS DECISÕES?

A tomada de decisões a nível da UE envolve mais de uma dúzia de instituições europeias, a


seguir apenas se refere algumas:
• Parlamento Europeu, que representa os cidadãos da UE e é eleito diretamente por eles,
com responsabilidade legislativa, orçamental e de supervisão.
• Comissão Europeia, órgão executivo das decisões do Conselho da UE e do Parlamento
Europeu.
• Conselho da UE, composto pelos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-
Membros, Define as orientações e prioridades políticas gerais da UE.
• Tribunal de Justiça Europeu, garante que a legislação é interpretada e aplicada da
mesma forma, e que as instituições e os Estados-membros respeitam a legislação da União.
• Banco Central Europeu, condução da política económica e monetária da UE
• Tribunal de Contas Europeu , controlar a cobrança e a utilização dos fundos da UE e
ajudar a melhorar a gestão financeira da UE.
O Conselho Europeu define a direção política geral e as prioridades da UE, mas não exerce
funções legislativas. Geralmente, é a Comissão Europeia que propõe novas leis e é o
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Parlamento Europeu e o Conselho que as adota, os Estados-Membros e a Comissão


implementam-nas.

3.5 SÚMULA

Já se passaram mais de sessenta anos desde que o projeto Europeu, um sonho, se concretizou.
Jean Monnet e Robert Schuman são os nomes que sobressaem, mas muitos outros fizeram
possível este projeto. É sem dúvida um projeto se sucesso, pelas suas particularidades em
geral mas, essencialmente por ter conseguido juntar um continente retalhado de países
soberanos num só propósito. Seria utópico pensar que a viagem ia ser um mar de rosas, no
entanto, a paz e prosperidade está instalada na Europa, apesar dos altos e baixos inerentes a
uma relação entre muitos Estados-Membro, com diferentes hábitos, culturas, economias, não
deixou de haver uma integração justa para todos. Esta integração, essencialmente económica,
em sintonia com o projeto original, resultou no que seria um feito espetacular, o Mercado
Único europeu, e o Euro como sua única moeda. Não há em continente nenhum espaço igual.
Um espaço onde permite que pessoas, bens, serviços e capitais circulem livremente por toda a
Europa, tendo ainda múltiplos benefícios para empresas e para pessoas, e também não
deixaram de existir barreiras jurídicas e técnicas. Há ainda muito para fazer.
Ao longo destes anos o caminho original teve de ser adaptado, houve necessidade de
encontrar caminhos alternativos porque as diferenças entre Estados a isso obriga, nem todos
querem o mesmo e essa diferença por vezes é saudável, dando origem a melhorias
beneficiando todos, como o chumbo em referendo pelos franceses e holandeses ao Tratado
Constitucional. Resultou num ligeiro abrandamento mas, criou uma dinâmica positiva que
levaria a União a “esticar-se” para leste europeu originando o seu maior alargamento. Foram
diversas as batalhas politicas internas, como o braço de ferro provocado por General De
Gaulle, conhecido como “crise da cadeira vazia”, entre muitas outras. Estas crises provocaram
os debates e o aprofundar dos laços e a soluções mais abrangentes entre Estados-Membros
afim de conseguirem o que cada um precisava.
Não tendo como se defender da crise económica que “explodiu” em 2008, a Europa e alguns
Estados-Membro sentiriam fortemente o abalo, mergulhando em crises internas durante quase
uma década. Talvez todas as instituições europeias durante este período mostraram as suas
vulnerabilidades e o quanto ninguém estava preparado para enfrentar algo semelhante. A
União está dependente de três Estados, Reino Unido, França e Alemanha, caminhamos para
ter apenas dois, com o Brexit tudo mudará, mas, ainda ninguém sabe com certeza quais as
consequências deste ato iniciado pelo Reino Unido. A vertente militar europeia e, a sua
autonomia, tem vindo a ter cada vez mais importância no seio da União devido aos fatores e
acontecimentos internacionais, das guerras em alguns países africanos e médio oriente,
criando um fluxo anormal de refugiados com destino à Europa. A realidade europeia é muito
apelativa a outros povos, porque promove a esperança de alcançar uma vida digna e de bem-
estar.
A Europa, como instituição, sofre de uma brutal complexidade inerente à quantidade de povos
que tem de servir, que por sua vez nem sempre remam no mesmo sentido. Este será um dos
seus grandes desafios para futuro, a para da crise económica e do Brexit, mas também no

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plano politico as relações com a Turquia estão sempre na mesa, os possíveis alargamentos, e a
velhinha relação com a NATO.

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4. A RELAÇÃO NATO/UE E OS DESAFIOS


4.1 VISTA DA “BANCADA”

Qual a melhor forma de analisar estas duas organizações? Será que se podem comparar?
Porque as suas formas de funcionar e características são bastante diversas, uma militar a outra
económica, também reparamos desde logo que tem em comum a maioria dos seus membros.
A composição dos seus membros, europeus e americanos, à partida é uma mistura pouco
provável com muitas diferenças nos modos de vida, mentalidades, passados históricos e
políticos, isto é, realidades muito diferentes, o que influenciará as formas de ver o mundo e as
capacidades de tomada de decisões. Os EUA são apenas um país e um regime (federal), a
Europa é uma “rede” de países, diversos regimes, todos soberanos (apesar de alguma dessa
soberania agora seja partilhada dentro da UE, ainda não por todos). Javier Solana resumiu
bem estas diferenças: (…) The history of the United States is a history of construction: that of
the European Union a history of reconstruction. (…) The architects of the United States
looked to the future. The vision of the European Union has been reconstructed on the ashes of
the past. (…)” 26. (Solana, FPA Annual Dinner speech, 2003).
A situação geográfica é outro fator de ponderação relativamente à visão e perceção dos
acontecimentos. Quando algo se passa à nossa porta, sente-se de forma bem diferente de
quando esse mesmo acontecimento se passa a milhares de quilómetros. José Cutileiro (2009),
refere que apenas a América é que tem aspirações para liderar o mundo, porque tem
capacidade e sentido de missão e até se sacrificar por isso. Esta diferença entre os EUA e a
Europa é semelhante a uma metáfora, o Avô (UE) e o Neto (EUA), o neto está na idade de
querer conquistar o mundo, e não compreende a aparente “estagnação” do avô, porque não
sabe que o Avô já conquistou o mundo e até o quase destruiu por duas vezes. Por essa razão a
“estagnação” aparente, é a prudência da vontade de criar condições viáveis para todos, em vez
de voltar a criar as condições de quase, ou desta vez, destruir mesmo o mundo.
Os laços que os unem, tanto civis como militares, não são muito diferentes, os direitos
fundamentais, liberdade, democracia, foram os princípios que levaram à criação da NATO no
final da 2ª Guerra Mundial. Também já criamos novos laços bem recentes, é a união contra
novos inimigos, são os frutos de evolução da humanidade, da tecnologia, da globalização. Os
novos inimigos são o terrorismo, cyber-terrorismo, alterações climáticas e energéticas,
doenças pandémicas, instabilidades económicas, muitos desafios se apresentam e existe em
ambos vontade de os resolver, mas nem sempre os caminhas se cruzam nesta vontade.
Como em qualquer relacionamento de muitas décadas as condições alteram-se e, as
necessidade no século XXI, em particular da segurança da Europa em nada são iguais às do
século passado, já não há ameaça da Guerra Fria, ou do Bloco Soviético, a situação dos
Balcãs também já está ultrapassada. As novas situações surgidas e devido às suas localizações
geográficas, trazem alguma diferenças de opinião e visão na forma de atuação, conforme já
referido atrás, ou seja, as prioridades de cada organização nem sempre são coincidentes.

26
Solana, Javier. FPA Annual Dinner speech, 2003. p 2. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]: discurso completo
em: http://www.fpa.org/ckfinder/userfiles/files/2003_05_07_Annual%20Dinner_Solana.pdf
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“That is why on major strategic and international questions today, Americans are from Mars
and Europeans are from Venus: They agree on little and understand one another less and
less.” (Kagan, 2004, p3).

4.2 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO RELACIONAMENTO

O século XX foi tremendamente rico em acontecimentos bons e horrendos, em todos os


sectores sociais, políticos, económicos e culturais, os quais marcarão sem dúvida a história da
humanidade para sempre. Os dois maiores e piores acontecimentos ocorreram na Europa, as
duas Guerras Mundiais e em ambas os europeus tiveram a ajuda do vizinho transatlântico, os
Estados Unidos da América, esta relação perdurará até aos nossos dias, influenciando também
as relações entre as instituições europeias e internacionais.
O fim da União Soviética, acelerada por certo em consequência da queda do Muro de
Berlim 27, os seus efeitos provocaram uma reorganização profunda do mapa geopolítico
europeu, que libertou os países do leste europeu da subjugação soviética. Pelas politicas da
Perestroika e Glasnost de Mikhail Gorbachev 28, presidente do URSS, conduziram ao fim da
Guerra Fria. Durante este período a Europa ficava apreensiva pois não sabia qual a direção do
passo que o seu aliado de longa data tomaria, os EUA, talvez a saída da NATO e com isto o
fim do apoio militar à Europa? Esses medos não passariam disso mesmo, porque saiu mais
reforçada a relação EUA e Comunidade Europeia, pois a separação seria prejudicial para
ambos, tendo sido assinadas duas Declarações das Relações Transatlânticas 29, em 1990 30 e
1995 31, serviram para cimentar uma cooperação estratégica que abrangeria os mais variado
sectores da sociedade, desde a luta para a preservação da democracia, dos direitos humanos e
dos Estados de Direito, economia, cultura, ciência e educação entre outras.
Durante alguns anos da década de 1990 muitos jogos de poder foram evidenciados, não ao
público em geral, mas entres instituições NATO/UE, provocados essencialmente por França,
Alemanha e Reino Unido. A NATO era sem dúvida a coluna mais forte relativamente à
Segurança e Defesa e, a Comunidade Europeia necessitava de ter uma instituição que
assumisse a sua parte neste âmbito. Desde a iniciativa de criar a Identidade Europeia de
Segurança e Defesa (IESD) 32 ou em inglês ESDI. Mantinha o “ping-pong” entre a UEO, UE e
NATO, em que por um lado o Reino Unido propunha que o elo entre a NATO e UE fosse a
UEO, mas, a aliança Franco-Alemã não estavam alinhados com esta ideia ao ponto de

27
9 de novembro de 1989.
28
Mikhail Sergueievitch Gorbachev ou Gorbachev foi um político e estadista russo, mais conhecido por ter sido o último líder da União
Soviética, entre 1985 e 1991. Glasnost ("transparência") foi uma política implantada, juntamente com a Perestroika("reestruturação"),
na União Soviética, durante o seu governo.
29
U.S. Relations with the European Union. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]: https://useu.usmission.gov/our-
relationship/policy-history/io/?_ga=2.56636271.453465478.1518283149-567759547.1518283149
30
“Declaration on U.S.-EC Relations”. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]: https://useu.usmission.gov/declaration-u-s-ec-
relations/
31
“The New Transatlantic Agenda”. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]: https://useu.usmission.gov/our-relationship/policy-
history/io/?_ga=2.56636271.453465478.1518283149-567759547.1518283149
32
Na reunião ministerial da NATO de 1996 em Berlim, ficou acordado o desenvolvimento de uma identidade europeia de segurança e de
defesa (IESD). O elemento essencial do desenvolvimento desta IESD é a preparação das operações da União da Europa Ocidental (UEO),
com a participação da UEO e da NATO, com base na identificação, na Aliança, de capacidades separáveis mas não separadas e de ativos e
ativos de apoio e na elaboração do comando europeu multinacional apropriado no seio da NATO a fim de preparar, apoiar, comandar e
conduzir operações lideradas pela UEO. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]:
http://eur-lex.europa.eu/summary/glossary/european_security_defence_identity.html?locale=pt
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apresentarem em maio de 1992 um exercito o Eurocorps 33 que seria independente da NATO e


acessível a qualquer outro país da UEO. Estabelecido um acordo, foram elaboradas
regulamentações entre a NATO e o Eurocorps para que este pudesse operar debaixo do
comando do SACEUR 34 (Almeida 1995, 681-708). Com os atritos a diminuir e as relações a
entrarem num caminho de evolução favorável iniciou-se, no Adriático, a primeira operação
conjunta NATO-UEO 35 que duraria mais de 3 anos e seria um enorme sucesso, de tal forma
que foi possível terminar a guerra da Bósnia, reestabelecendo a paz nos Balcãs, através da
assinatura dos Acordos de Dayton ou Protocolo de Paris 36.
A União Europeia relacionava-se institucionalmente coma NATO através da UEO, apesar
desta nuca ter sido integrada na UE, mas era considerada o seu “braço armado” até à criação
do PESD , assumindo esta os comandos da relação UE/NATO. Foi a partir de 1994, Cimeira
da NATO em Bruxelas, e pelo Tratado de Maastricht que a UE iniciou o caminho para criar
as condições necessárias para assumir as suas responsabilidade relativamente à Segurança e
Defesa da Europa. Conforme foi referido na Declaração dos Chefes de Estado, no final da
cimeira: “(…) The emergence of a European Security and Defence Identity will strengthen the
European pillar of the Alliance while reinforcing the transatlantic link and will enable
European Allies to take greater responsibility for their common security and defence. (…)” 37.
Além do ESDI um novo conceito foi anunciado que tinha como missão facilitar as operações
nos casos envolvendo vários países, o conceito designava-se de Combined Joint Task Forces
(CJTF).
Talvez pela instabilidade prolongada nos Balcãs, veio de alguma forma ajudar à mudança de
atitude britânica em mostrar-se favorável à existência de uma força militar europeia
autónoma. Uma reunião para discutir este assunto, entre França e Reino Unido, ocorrido em
1998 na cidade francesa de Saint-Malo, faria correr muita tinta. O documento final saído da
reunião expressava a continuidade em assumir as responsabilidades de cada um no seio da
NATO, contudo os EUA deram de imediato resposta através de um celebre artigo de
Madeleine Albright intitulado 3Ds 38, publicado no Financial Times, e que refere “Decoupling,
Duplication e Discrimination”. Não sendo um artigo a contrariar a vontade Europeia,

33
Em outubro de 1991, o presidente francês François Mitterrand e o chanceler alemão Helmut Kohl estavam ansiosos para aumentar os
sinais visíveis da reconciliação entre a França e a Alemanha, ao mesmo tempo que promovem simultaneamente uma ideia de defesa
europeia. Alguns meses depois, em maio de 1992, ambos os governos decidiram criar em Estrasburgo uma sede do Corpo francês-alemão,
onde ambas as nações compartilhariam igualmente o comando, mas também o fardo. O assim nasceu o Eurocorps. [consultado em 08-02-
2018] [Disponível na URL]: https://www.eurocorps.org/
34
The Supreme Allied Commander Europe (SACEUR) é um dos dois comandantes estratégicos da NATO e é o chefe das Operações do
Comando Aliado (ACO). Ele é responsável pela maior autoridade militar da NATO, o Comitê Militar (MC), pela condução de todas as
operações militares da NATO. https://www.nato.int/cps/ic/natohq/topics_50110.htm
35
A Operação Sharp Guard, de junho de 1993 a junho de 1996, liderada conjuntamente pela União Europeia Ocidental (UEO) e pela
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), resulta na inspeção de milhares de navios no Adriático para monitorar o embargo
imposto pela Nações Unidas contra a República Federativa da Jugoslávia. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]:
https://www.nato.int/ifor/general/shrp-grd.htm
36
Dayton Peace Agreement :O Quadro Geral para a Paz na Bósnia e Herzegovina, também conhecido como Acordo de
Dayton ou Protocolo de Paris é o acordo a que se chegou na Base Aérea Wright-Patterson, perto de Dayton, no estado norte-
americano do Ohio, em Novembro de 1995 e formalmente assinado em Paris a 14 de Dezembro desse mesmo ano. Este acordo pôs fim ao
conflito de três anos e meio na Bósnia e Herzegovina. [consultado em 08-02-2018] [Disponível na URL]: http://www.osce.org/bih/126173
37
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acedido 30 Dezembro 2010. [consultado em 10-02-2018] [Disponível na URL]: https://www.nato.int/docu/comm/49-95/c940111a.htm.
38
Os Estados Unidos queriam evitar a dissociação (decuopling) e, assim, manter a tomada de decisão dentro do quadro mais amplo da
tomada de decisões da Aliança; eles queriam evitar a duplicação (duplication); e, finalmente, a discriminação (dicrimination) contra aliados,
como a Turquia. Os 3Ds. Ver discurso completo em: Hunter, Robert E.. The European Security and Defense Policy: NATO's Companion-or
Competitor?, Chapter 6. Santa Monica, CA: RAND Corporation, 2002. [consultado em 10-02-2018] [Disponível na URL]:
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E-trabalho Final – A NATO e a UE P á g i n a | 20
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mostrava sim algum receio do EUA em criar divisões na NATO e descriminação aos Estados
que não pertencessem à UE como a Turquia. Em jeito de resposta e de forma a refrear os
receios dos EUA, George Robertson, Secretário Geral da NATO proferiu o discurso que
ficaria conhecido como o dos 3Is “Improvement, Inclusiveness e Indivisibility” 39.
Ao entrar o novo milénio a relação NATO/UE deixaria de ter a UEO como intercessor, esta
organização sairia do palco, abrindo definitivamente o espaço para a atuação da PESC, Javier
Solana era o Secretário Geral e seu Alto Representante, o qual já estava em funções.
O CE de Nice em dezembro de 2000 foi muito importante, pelas decisões tomadas como pela
aproximação criada entre NATO e UE. A iniciativa de transparência por parte da UE
traduziu-se em declarar que a titulo de convidados às reuniões Magnas da UE o Secretário-
geral, o Chairman do Comité Militar da NATO e o Deputy SACEUR. Durante o CE, foi
ainda assinado um acordo, Berlin Plus Agreement 40, de segurança permanente entre
NATO/UE com base nos acordo de 1996 em Berlim.
O dia 11 de setembro de 2001 alterou consideravelmente o mapa geopolítico internacional, o
ataque às Torres Gémeas em Nova Iorque, o foco dos EUA transportaram-se para outras
paragens e a sua intervenção militar não iria estar dependente de qualquer instituição. Neste
sentido a PESD “ganhou pontos” ficando operacional logo no final de 2001, bem como o
desejo da autonomia europeia foi reforçada. Em 16 de dezembro de 2002 é assinada uma
declaração entre NATO/UE que formalizou a operacionalidade da PESD, foi o inicio oficial
da parceria estratégica entre as duas instituições. Com o Berlim Plus já na sua versão final e a
PESD reconhecida, a UE poderia utilizar os meios da NATO como planeamento, apoio
logístico, informações, etc., isto é, já tinha condições para realizar missões. A primeira foi a
Operação Concordia na Macedónia 41 em 2003, ao abrigo do Berlim Plus.
A invasão do Iraque (2003) pelos EUA em coligação, provocou algum mal estar nas relações
transatlânticas, porque havia alguns Estados contra, isto provocaria “feridas” nas relações
entre as diversas instituições da cada organização, as quais durariam alguns anos a curar.
A segunda e última operação militar ao abrigo do Berlim Plus, foi EUFOR Althea 42. Iniciou
em 2 de dezembro 2004 43 e continua até ao dia de hoje, a missão é, de acompanhar e orientar
a Bósnia e Herzegovina em realizar novos progressos de integração europeia. Apesar do
sucesso desta operação a relação NATO/UE passou a estar quase estagnada até 2007, época
em que estavam no poder Sarkozy (França) e Obama (EUA), reatando e até reforçando

39
“(…) “IMPROVEMENT in European defence capabilities; INCLUSIVENESS and transparency for all Allies; and the INDIVISIBILITY of Trans-
Atlantic security, based on our shared values” (…). Lord Robertson, Speech in the Annual Session of the NATO Parliamentary Assembly,
Amsterdam, 15 November 1999, em Maartje Rutten, comp., From St-Malo to Nice - European Defence: Core Documents, Chaillot Papers,
nº47 (Paris: WEU Institute for Security Studies, 2001), 8, p60-65. [consultado em 10-02-2018] [Disponível na URL]:
https://www.iss.europa.eu/sites/default/files/EUISSFiles/cp047e.pdf
40
O acordo Berlim Plus é o título abreviado de um conjunto abrangente de acordos celebrados entre a NATOe a UE em 16 de Dezembro de
2002. Estes acordos basearam-se nas conclusões da cimeira de 1999 da NATO em Washington, às vezes referida como o mecanismo CJTF, e
permitiu à UE aproveitar alguns dos recursos militares da NATO em suas próprias operações de manutenção da paz. [consultado em 10-02-
2018] [Disponível na URL]: https://www.nato.int/docu/comm/2004/06-istanbul/press-kit/006.pdf
41
In Público online: “Força Militar europeia substitui a NATO na Macedónia: Quase que totalmente ofuscado devido à actual guerra
desencadeada contra o Iraque, a União Europeia (UE) protagonizou ontem um momento histórico, ao assumir pela primeira vez a
responsabilidade por uma operação militar de manutenção da paz.(…)”. [consultado em 10-02-2018] [Disponível na URL]:
https://www.publico.pt/2003/04/01/mundo/noticia/forca-militar-europeia-substitui-nato-na-macedonia-289696
42
A EUFOR Althea, é uma implantação militar na Bósnia e Herzegovina para supervisionar a implementação militar do Acordo de Dayton. É
o sucessor da SFOR e IFOR da NATO. A transição da SFOR para a EUFOR foi em grande parte uma mudança de nome e comandantes: 80%
das tropas permaneceram no local. Substituiu a SFOR em 2 de Dezembro de 2004. http://www.emgfa.pt/pt/operacoes/missoes/fnd-bosnia
43
Operation EUFOR ALTHEA. [consultado em 10-02-2018] [Disponível na URL]: http://eeas.europa.eu/archives/csdp/missions-and-
operations/althea-bih/pdf/factsheet_eufor_althea_en.pdf
E-trabalho Final – A NATO e a UE P á g i n a | 21
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através de operações conjuntas como na Somália no combate à pirataria marítima, no Kosovo


e Afeganistão. Uma aparente saída duma relação estagnada parecia estar a acontecer, contudo
mantinha-se por resolver alguns problemas que se arrastavam tão vagarosamente quanto a
evolução positiva da relação NATO/UE, referimo-nos à Turquia e Chipre, e a ausência nas
operações EUFOR, de Malta e Chipre. Em 2008, Malta assinou o acordo de segurança,
passando a partir daí a estar “apta” a participar nas operações conjuntas.
Até agora temos uma relação NATO/UE com evolução intermitente. Apercebemo-nos de que
a foram da Aliança olhar para a UE dependa da forma que os EUA olham para a Europa,
quase como havendo uma proporcionalidade direta. O bloqueio institucional existente é o
mesmo de há algumas décadas, referimo-nos aos problemas das politicas que não resolvem o
diferendo Turquia/Chipre. Passados são os anos e é visível a existência apenas de alguma
cooperação ao nível operacional, mas politicamente não tem tido o mesmo rumo positivo, a
ligação institucional não tem conseguido mostrar todo o potencial que uma pareceria
estratégica como esta tem para dar.
O dia 9 de novembro de 1989 marcaria o mundo mas principalmente a europa, dia em que
caiu o muro de Berlim. As alterações geopolíticas também obrigariam a repensar a forma e os
temos existentes de segurança e defesa na europa até aquele momento. Um organismos
europeu para este efeito começou a ser uma necessidade real, desta forma não haveria uma
dependência quase total na força militar Americana. De uma teoria para a prática da
existência duma “força armada” europeia não seria um caminho fácil e, enquanto era a UEO
que assumia a função de “braço armado” da UE, contudo era a NATO que comanda em todas
as operações evitando duplicação de meios. Apenas depois do virar do milénio esta intenção
da UE se concretizou. Contribuiu para fazer entender esta necessidade de haver uma maior
autonomia europeia no âmbito da segurança e defesa a guerra nos Balcãs, mas a defesa
coletiva mantinha-se na NATO. Ambas as partes foram convivendo de forma algo deficiente
e desconfiada, mas conscientes que era necessário a UE ter este pilar de segurança e com
autonomia. O dia que mudou o mundo 44 foi também a forma da Europa assumir a sua
responsabilidade no âmbito militar perante o mundo através da PESD, contudo nas suas
operações civis e militares não estaria desvinculada por completo do apoio da Aliança nem da
ajuda Americana. Foi um período muito conturbado no relacionamento transatlântico porque
a Guerra no Iraque e nos Balcãs, trouxeram ao mesmo tempo um afastamento e aproximação
que se traduziria na assinatura do acordo Berlim Plus 45. Outros momentos marcantes para a
UE foram a operação Althea na Bósnia e Herzegovina, o maior alargamento da UE 46, no qual
o Chipre. A decisão de incluir o Chipre não veio sem contestação devido à situação politica
na qual este Estado estava mergulhado e pela não aceitação da Turquia, candidato de longa
data, mais algumas razões para a relação transatlântica não melhorar, pelo contrário. Sentiu-se
um ligeiro solavanco na relação e parecia que a aproximação iria acontecer com a entrada da
França, a sua estrutura militar, na Aliança, e pela vontade mostrada por Sarkozy47. A
desconfiança vinda do outro lado do atlântico manter-se-ia por muitos anos, traduzida na

44
11 de setembro de 2001 – ataque às Torres Gémeas em Nova Iorque.
45
Assinatura em 16 de dezembro de 2002
46
5º alargamento, 1 maio de 2004, entraram 10 países: Chipre; Eslováquia; Eslovénia; Estónia; Hungria; Letónia; Lituânia; Malta; Polónia;
República Checa.
47
Nicolas Paul Stéphane Sarközy de Nagy-Bocsa, 23º presidente da França entre 2007 e 2012
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politica do “yes, but”, contudo as alterações das politicas externas provocadas pelos diversos
desenvolvimentos internacionais como a guerra do Iraque e Líbia, levaram a uma alteração na
atitude por um lado e exigindo maior responsabilização europeia por outro.

4.3 BREXIT, QUAIS OS EFEITOS NA SEGURANÇA E DEFESA DA UE?

O Reino Unido votou em deixar a União Europeia no dia 23 de junho de 2016, uma decisão
conhecida como Brexit 48. Seguiram-se muitos meses de debates e negociações as quais na sua
esmagadora maioria concentraram-se em temas como comércio, soberania e imigração. No
entanto, o Brexit levanta questões importantes para a segurança e defesa no Reino Unido, na
Europa e no mundo, não esquecendo dos EUA e a aliança transatlântica da NATO. Fica em
aberto uma vasta lista de assuntos e questões sobre defesa e segurança pela mudança a que
serão sujeitas. Questões como o impacto nas despesas de defesa, indústria e investigação e
desenvolvimento, como ficam os lugares que o Reino Unido ocupava nos diversos órgão da
UE? as futuras capacidades de defesa da Europa, os papéis estratégicos globais, inclusive em
outras instituições multinacionais como na ONU e a NATO, também os efeitos domésticos do
Reino Unido, como a independência escocesa e do processo de paz da Irlanda do Norte. Não
foi a melhor altura para o Brexit, talvez nunca seria, provocaram uma profunda incerteza e
especulação num momento em que o Reino Unido, a Europa e os aliados já se encontravam
numa posição desafiadora ao nível de defesa e segurança, devido à ameaça de uma Rússia
emergente, o terrorismo, a crise dos migrantes, o conflito no Médio Oriente, ainda os efeitos
nocivos das novas tecnologias. A saída do Reino Unido, sendo uma voz quase sempre “do
contra”, isto é, a sua tendência sempre mais inclinada para a opinião do outro lado do
atlântico, poderá servir de catalisador para uma integração de defesa mais ambiciosa da UE,
no entanto, também implica uma diminuição considerável da capacidade coletiva de defesa da
UE, que algumas estimativas indicam que serão reduzidas em um quarto. São criados também
desafios políticos e estratégicos mais amplos para a UE e a NATO. Terão de ser encontradas
soluções sustentáveis no pós-Brexit nas diversas áreas de defesa e segurança, uma
colaboração contínua entre o Reino Unido e a UE, em particular em matéria de segurança,
uma vez que ambos beneficiam atualmente do intercâmbio de informações, do trabalho de
organismos comuns, como a Europol, e o mandado de detenção europeu 49.
Não será tudo negativo, mas até estar o ato consumado tudo não passará de especulações.

4.4 SÚMULA

A relação da Europa/EUA confunde-se com os instrumentos que ainda a mantem viva, a


NATO e UE. Como qualquer relação, o percurso é feito de avanços e recuos, altos e baixos e
face à conjuntura internacional vivida há uma década provocada pela crise económica, quase
global, a paixão vivida no inicio, agora parecia que a chama estava quase a apagar.
A culpa será apenas de um? numa relação é sempre 50-50. Os EUA dizem que a Europa é
importante, mas, o seu sentido de segurança nacional mantém-se em comandar o mundo e,
48
Brexit é a fusão das palavras "Grã-Bretanha" (Britain) e "saída" (exit).
49
Procedimentos de extradição mais eficazes: mandado de detenção europeu [consultado em 12-02-2018] [Disponível na URL]: http://eur-
lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/HTML/?uri=LEGISSUM:l33167&from=EN
E-trabalho Final – A NATO e a UE P á g i n a | 23
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aproximar-se de outros potenciais “amigos”, o que aos olhos dos observadores indica uma
certo afastamento da Europa.
A Europa, por seu torno, tem andado muito “entretida” a tentar por ordem na sua casa,
esquecendo um pouco a outra face da relação. Tem dado pouca importância à segurança e
defesa, essa fatura já foi apresentada para pagamento e o preço apresentado é muito elevado.
O tempo gasto em tentar resolver os problemas económico-sociais tem desviado a atenção e
recursos que deveriam estar empenhados em resolver ou encontrar soluções para as crises de
segurança e defesa já vividas, referimo-nos por exemplo à crise dos refugiados que entram
todos os dias aos milhares na europa. A UE não tem conseguido agilizar processos existentes
ou criar novos com a rapidez necessária, e é este defeito apontado para o deteriorar da relação
transatlântica. O temas da Rússia e Turquia, em planos diferentes, mas com consequências
idênticas, pela passividade de atuação das instituições da UE causando impasse e o arrastar
destes assunto que tem causado bastantes atritos no seio da UE como nas parcerias externas.
É uma altura muito má para haver problemas numa relação, contudo é a realidade na relação
transatlântica. O mundo gira a alta velocidade com tendência a aumentar, e cada problema
passa a ser um problema global, o terrorismo, o ambiente, armas nucleares, a economia. Que
outras instituições estarão dispostas ou tem as condições para atuar contra todos estas
ameaças, a UE e a NATO individualmente nada conseguem , haja vontade politica para fazer
com que os caminhos se voltem a unir.

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5. PORTUGAL, NATO E A UNIÃO EUROPEIA


As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, Canto Primeiro, 1ª Estrofe.

Quando esta epopeia foi escrita Portugal era o dono do mundo, alargou os horizontes quando
ninguém acreditava que haviam mais horizonte, inovou, descobriu, transformou o mundo.
Este pequeno país banhado pelo atlântico já deu muito à humanidade, hoje necessita de estar
inserido nas organizações intergovernamentais para conseguir “sobreviver”.
Portugal, apesar do seu tamanho, torna-se um grande aliado, como refere Nuno Severiano
Teixeira (2009) “Portugal é, simultaneamente, um país europeu e um país atlântico. (…)”. É
esta importante posição geoestratégica e geopolítica que levou uma organização, que ainda
hoje defende a democracia, a liberdade e o estado de direito, a convidar um país com um
regime de ditadura (naquela época), a integrar o grupo fundador da NATO. As necessidades e
os inimigos já não são os mesmo daquele tempo, da Guerra Fria, contudo a base das Lajes nos
Açores, a nossa joia da coroa para a assinatura dos acordos inseridos na segurança coletiva,
hoje já não mantem esse nível de importância, no entanto não deixou de ser um espaço
estratégico da Aliança.
Foi de grande importância para a politica externa de Portugal a entrada na Aliança, pois
ganhou influência desde logo ao nível peninsular e também para lá das fronteiras
peninsulares. Como membro fundador da NATO veio influenciar também a politica interna e
externa do Estado Novo e consolidaria mais tarde a democracia portuguesa, foi de grande
mais valia para a instituição militar e para a politica de defesa nacional, que através desta
adesão serviu de alavanca à transformação e modernização das Forças Armadas. Com o
objetivo de uma maior cooperação entre os membro da aliança efetuaram-se renovações ao
nível das doutrinas, capacidades e métodos no sentido de uma harmonização.
Portugal foi e é um membro com uma presença constante na vida da NATO e foi também
devido a esta organização que a tradição da não participação portuguesa foi quebrada. Tem
havido uma constante participação numa grande parte das missões da NATO, sejam terrestres,
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aéreas ou navais, por todo o globo. Já participamos em 15 missões empenhando mais de 20


mil homens, como nos Balcãs, inseridos nas forças IFOR/SFOR e KFOR, missões na Bósnia
e Kosovo respetivamente.
Não somo um dos países fundadores da União Europeia, apenas entramos em 1986, no
entanto, foi um momento muito importante para o país, podendo mesmo considerar como um
ponto de viragem. Portugal afirmou-se internacionalmente e internamente sentimos bem as
alterações quase diárias a acontecer, crescimento económico fenomenal, estruturas básicas
renovadas, uma dinâmica de modernização e crescimento da economia e da sociedade como
nunca existiu em Portugal, em suma, um desenvolvimento sustentado. Pouco depois da
entrada para a Comunidade Europeia, cai o muro de Berlim em 1989, precipita-se o fim da
Guerra Fria e diversos acordos são criados instituindo a União Europeia pelo Tratado de
Maastricht, criação da moeda única – o Euro – e ainda a Política Externa e de Segurança
Comum (PESC). Portugal mantém-se na linha da frente quanto às mudanças na europa, e tem
de saber o ocupar o seu lugar, tanto na UE como na NATO pois é membro integrante destas
instituições que em conjunto definem as características civil e militar da relação transatlântica.

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6. CONCLUSÃO

Os dois “instrumentos” que tem proporcionado esta forma de vida ocidental são a NATO e a
União Europeia, que desde o fim da II Grande Guerra se foram aproximando para criar uma
forma de defesa coletiva. Já se passaram mais de seis décadas desde o nascimento de cada
uma destas organizações, que em conjunto formam uma grande força, porque são muito
diferentes entre si. A NATO foi criada no pensamento de defesa contra o inimigo Soviético,
um sentido militar por excelência, o qual perdeu após a queda do Muro de Berlim e
consequente fim da Guerra Fria, enquanto que a União Europeia foi pensada apenas para uma
cooperação económica e comercial, mas, que pelas alterações das características e
necessidades de atuações e intervenções no âmbito internacional mais alargado tem sentido a
necessidade de também ter uma capacidade militar autónoma. Estas vertentes civil-militar são
a base da cooperação entre estas organizações.
As necessidades militares sentidas pela UE sentiram-se na consequência dos conflitos dos
Balcãs, na Bósnia e Herzegovina e no Kosovo, porque a incapacidade da UE ficou
demonstrada e a intervenção da NATO foi fundamental. Foram feitas as primeiras diligências
pelos franceses e britânicos apresentando aos outros EM da UE o que seria uma Politica
Europeia de Segurança e Defesa, que já havia sido incluída em Maastricht referenciado ao
pilar da Politica Externa e de Segurança Comum da UE.
Os acontecimentos ocorridos no outro lado do atlântico, em 11 de setembro de 2001, trouxe
novamente à luz a necessidade urgente duma cooperação transatlântica reforçada para
enfrentar ameaças até agora desconhecidas e ter de intervir fora das zonas a que estavam
habituados. Aumentar a cooperação interorganizacional, foi neste contexto que a NATO e a
UE sofreram profundas transformações ao longo destes anos para tentar adequarem os seus
instrumentos aos desafios que foram e vão sendo confrontados.
A existência desta cooperação parece óbvia e são diversas as razões que levariam a pensar
desta forma, sendo duas organizações preocupadas em defender os mesmo valores, a
aproximação da cultura, história, entreajuda em guerras passadas, bem como terem em
comum 22 Estados-Membros. As novas forma de ameaças, como as Armas de Destruição
Massiva, ataques cibernéticos e terroristas, alterações climáticas, pirataria marítima, são
preocupações de ambas as organizações, que implementaram formas de combate duma forma
paralela sem duplicação de forma não coincidentes mas complementares. No entanto, por
diversas razões, sejam elas falta de vontade politica ou apenas por diferenças de interpretação
da conjuntura internacional, talvez devido ao peso de cada EM tem perante os restantes, ou
porque os EUA terem sido sempre o elemento mais forte da NATO e sempre contestarem que
a Europa deveria fazer mais e ser mais participativa no orçamento militar, ainda não existe
efetivamente um sólido relacionamento.
Existem no entanto dois assunto que prevalecem para ambas as organizações resolver, a
Turquia e a Rússia. A Rússia e o ocidente tem vindo a aproximarem-se, mas a NATO ainda
faz parte da sua “lista de suas ameaças”, fazendo a UE de moderador entre ambos. Causando
algum deste atrito estará a politica da NATO relativamente à BMD (Ballistic Missile

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Defence) 50, no qual a Rússia tem aproveitada para desviar alguma da atenção interna duma
crise económica que atravessa. Um acordo entre as partes acerca deste assunto seria uma
promissora notícia e por certo provocaria melhoria nas relações transatlânticas.
No que respeita a Turquia, tem mais a haver com a UE, porque a aceitação de Chipre (mesmo
por “vias travessas”, através da Grécia), como membro não abonou em nada favorável às
relações Turco-Europeias. É uma situação de muita gravidade pois pode provocar o
afastamento definitivo da Turquia na tentativa de pertencer à UE, este impasse da UE tem
provocado tenções na relação transatlântica, o crescendo da Turquia como potência regional
muçulmana e independente e a situação no médio oriente trás muitas preocupações
relativamente ao futuro.
Por tudo o que foi dita atrás e pela maior parte do que não foi dito, é fácil compreender que
vivemos um estado de uma aparente paz e relativa prosperidade económica. A situação na
europa estará algo tensa, mas felizmente não no sentido de “pré guerra”, será nos planos
politico, económico e social, resultantes da “invasão pacifica” dos milhões de refugiados
vindos maioritariamente do continente africano. Outra das grandes dores de cabeça para os
líderes europeus foi a súbita mudança dos ventos vindos do outro lado do atlântico, pela nova
administração Trump, porque já passou mais de um ano e ainda não há noção certa de qual o
sentido que esta administração tem para com as relações transatlânticas.
Internamente, a União Europa também está a passar por uma das suas piores crises, com o
Brexit a decorrer e com a Comissão Europeia a ter de acionar, em finais de 2017, o Artigo
7º 51 do Tratado de Lisboa contra a Polónia, um Estado-Membro. Esta situação veio por em
causa algumas democracias “frágeis” existentes na europa como ainda a da Hungria e até a
crise constitucional da Catalunha, bom como o crescendo dos movimentos nacionalistas por
toda a europa.
O ambiente de segurança internacional está imprevisível cada vez mais complexo, contudo ao
longo da história estas duas organizações tem conseguido encontrar soluções e mecanismos
para manter e garantir de alguma forma os valores defendidos, democracia, liberdade, Estado
de direito, entre outros. No entanto, forma de agir das suas instituições face à realidade da
globalização e da velocidade a que a informação é transmitida, terão de repensar o sistema
podendo estar em risco, pela complexidade de morosidade na aplicações das decisões, ou seja,
correndo o risco de não passar das palavras aos atos, o que exporia toda a fragilidade e/ou
impotência. Mesmos assim considero que existindo uma cooperação estratégica
imprescindível e estreita entre a NATO e a União Europeia, a relação é viável e crucial para
continuar a haver uma estabilidade garantindo a paz.

50
NATO Ballistic Missile Defence (BMD). [consultado em 24-02-2018] [Disponível na URL]: https://www.nato.int/cps/ic/natohq/
topics_49635.htm. BMD Fact Sheet. https://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/pdf_2016_07/20160630_1607-factsheet-bmd-
en.pdf.
51
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lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-01aa75ed71a1.0019.01/DOC_2&format=PDF
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