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A brinquedoteca e suas

diferentes dimensões
A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Luciene Diniz e
Profa. Ms. Maria Helena Aita Kerbej

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Unidade A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento
e Aprendizagem

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Thinkstock/Getty Images
• Introdução
• Um Pouco de História
• O Desenvolvimento e a Aprendizagem na
Brinquedoteca

Discutiremos a importância da brinquedoteca no desenvolvimento integral da


criança e nos processos de aprendizagem em diferentes faixas etárias.

Nesta Unidade abordaremos a importância da contribuição da brinquedoteca para o


desenvolvimento e aprendizagem infantil.
Não se esqueça de acessar as sugestões de links e materiais complementares para enriquecer
seu conhecimento. Fique também atento(a) às atividades propostas e aos respectivos prazos.

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Contextualização

Para iniciarmos esta Unidade, reflita sobre a brinquedoteca como um espaço de


desenvolvimento e aprendizagem a partir do vídeo disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=PGrQh7A18Gk
Com o tema brinquedoteca: a importância do cantinho lúdico e entenda a
importância desse ambiente.

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Introdução

A brincadeira é uma necessidade do ser humano em qualquer idade. Porém na infância


deve ser vista não apenas como diversão, mas também como a possibilidade de desenvolver
as potencialidades infantis. Por meio do brincar espontâneo, a criança está experimentando o
mundo, os movimentos e as reações, adquirindo elementos para desenvolver atividades mais
elaboradas no futuro.
Historicamente o homem sempre brincou, mas a finalidade dessa brincadeira pode ser
observada por diferentes perspectivas. A imagem a seguir relata uma cena onde crianças,
adultos e animais brincam. A gravura O parque infantil é de 1823.

Figura 1 – Gravura O parque infantil, de 1823, autoria do alemão Johann Michael Voltz
(1784-1858).

Fonte: escolaoficinaludica.com.br

O brincar e o jogar são formas de expressão e comunicação que os seres humanos possuem
desde o nascimento. É uma atividade humana social com contexto cultural, em que o homem
utiliza a imaginação e a fantasia para interagir com a realidade que o cerca e para a produção
de novas possibilidades.
Em sua obra Homo ludens: o jogo como elemento da cultura, o escritor Johan Huizinga
toma o jogo como um fenômeno cultural. Esse livro se estrutura sob uma extensa perspectiva
histórica, recorrendo a estudos etimológicos e etnográficos de sociedades distantes temporal e
culturalmente, inclusive. O autor reconhece o jogo como algo inato ao homem e mesmo aos
animais, considerando-o uma categoria absolutamente primária da vida, ou seja, anterior à
cultura, tendo essa sido evoluída no jogo.

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Quando pensamos em uma criança na sua fase de desenvolvimento e nos seus processos de
aprendizagem a primeira coisa que associamos é a brincadeira, o ato de brincar. Para a criança, a
brincadeira não é apenas um “passatempo”, e sim uma linguagem de expressão e de comunicação.
Em suas diversas formas as brincadeiras vão além: auxiliam a criança no processo de ensino-
aprendizagem, tanto no desenvolvimento da fala quanto psicomotor e cognitivo. Ao brincar e
jogar, a criança desenvolve a imaginação; a interpretação; a tomada de decisão; a criatividade;
o levantamento de hipóteses; a obtenção e organização de dados; além da aplicação dos fatos e
dos princípios a novas situações. É possível ainda afirmar que o jogo favorece o desenvolvimento
da lógica, estimula a aceitação de hierarquias e o trabalho em equipe, isso entre outros aspectos
que pretendemos discutir no decorrer das unidades desta Disciplina.
Diante da importância do brincar e do jogar, a brinquedoteca passa a ser um espaço de suma
importância ao desenvolvimento infantil, onde, de uma forma organizada ou livre, o ato de
brincar torna-se significativo.
Assim, a proposta desta Unidade é apresentar a brinquedoteca como um espaço de
contribuição no desenvolvimento e aprendizagem à criança. Sob um olhar pedagógico a
brinquedoteca oferece possibilidades de aprendizagem infantil, para que essa possa aprender
de forma lúdica e interdisciplinar.

Que alguns jogos e brincadeiras, nas diferentes regiões do País, têm influência de
outras culturas. Por exemplo, os colonizadores portugueses trouxeram seus contos,
lendas, estórias, jogos, festas e valores. A pipa foi introduzida pelos portugueses
no século XVI, advinda do Oriente, especificamente do Japão e da China. Essa
possui diversos nomes pelo Brasil: estrela; raia; arraia; papagaio; bacalhau;
gaivotão; curica; cafila; pandorga; quadrado. Outras brincadeiras introduzidas
pelos portugueses são: mula sem cabeça; cuca ou papão; cantigas; amarelinha;
jogo do saquinho; pião; jogo de botão; bolinha de gude.

As brincadeiras são ferramentas indispensáveis quando nos referimos ao lúdico, pois trazem à
criança a possibilidade de construção de sua visão do mundo. A brincadeira permite a construção
de papéis e de ações que são possibilidades que contribuem para o desenvolvimento infantil.
Essa contribuição também pode ser vista em objetos manipulados na brincadeira, especialmente
quando são usados de modo simbólico. A brincadeira para a criança é coisa séria, dado que
essa aprende brincando.
Assim, a brincadeira, o brinquedo e o jogo, tornam-se importantes instrumentos para o
ensino, auxiliando no desenvolvimento tanto pessoal quanto social do ser humano.
De tão importante que o brincar, o brinquedo e o jogo são na vida escolar das crianças,
que pensar em um lugar próprio para sua manutenção, que é a brinquedoteca, torna-se uma
discussão fundamental no âmbito pedagógico.

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Brincadeira é coisa séria! É garantido por Lei. O Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) diz que é dever da sociedade garantir que todas as crianças
tenham lazer, esporte e educação.

Um Pouco de História
Antes de pensar na brinquedoteca como espaço de desenvolvimento e aprendizagem,
precisamos saber como essa surgiu.
Sua criação se deu por volta de 1934, na cidade de Los Angeles. A ideia era criar um projeto
em que brinquedos fossem emprestados como um recurso comunitário, cujo serviço foi chamado
de Los Angeles Toy Loan. Em 1963, em Estocolmo, na Suécia, essa ideia começou a ser estrutura
e ampliada a partir de duas professoras e mães de crianças excepcionais, ao abrirem a primeira
lekotek (ludoteca) com o intuito de emprestar brinquedos. A filosofia básica das lekoteks era que
a aprendizagem ocorresse com o manuseio de brinquedos, daí a necessidade de oferecê-los à
criança de acordo com a sua idade.
No Brasil, em 1971, por ocasião da inauguração do Centro de Habilitação da Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo, houve uma exposição de brinquedos
pedagógicos, objetivando divulgar aos profissionais e pais as novidades e os trabalhos
voltados às funções desses objetos. Na sequência, criou-se o Setor de Recursos Pedagógicos
dentro da APAE, que implantou o sistema de rodízio de brinquedos e materiais pedagógicos,
denominado Ludoteca.
Em 1979, a pedido do Ministério da Educação (MEC) e da Fundação Nacional de Material
Escolar (FENAME) foi elaborado o livro Material pedagógico: manual de utilização, que em
suas edições posteriores apresentaram os brinquedos como instrumentos no processo de
aprendizagem.
A precursora da brinquedoteca no Brasil foi a escola de Indianópolis, na Cidade de São
Paulo, com os objetivos voltados às necessidades reais das crianças brasileiras.
Desse momento em diante diversas pesquisas começaram a explorar a importância do
brinquedo e da brincadeira e como esses contribuem no desenvolvimento cognitivo infantil.
Assim, surgiu a ideia da brinquedoteca, que se tornou realidade em inúmeras escolas e outros
espaços, como hospitais e associações para atendimentos às crianças excepcionais.
Com a criação das brinquedotecas também fez-se necessário lapidar os profissionais para
atuarem nesse tipo de espaço, dando origem aos brinquedistas, profissionais que devem
ser educadores com uma formação alicerçada em conhecimentos humanos, a fim de se
especializarem em brinquedos, brincadeiras e jogos.

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Nesse contexto, a brinquedoteca passou a ser vista como um local reservado e equipado
com diversos tipos de brinquedos, comprados prontos ou construídos a partir das mais diversas
inspirações, proporcionando à criança um desenvolvimento integral.
Observe pelas seguintes figuras as diferentes possibilidades de espaço para uma
brinquedoteca, assim como as maneiras pelas quais esse tipo de ambiente pode atender
espaços escolares e de saúde.

Figura 2 – Brinquedoteca da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Jackson de


Figueiredo, Diretoria Regional de Educação (DRE) Penha.

Fonte: inclusaoeducar.blogspot.com.br

Figura 3 – Brinquedoteca Pé de Pilão, Biblioteca Lucília Minssen.

Fonte: oficinadeartesapatoflorido.blogspot.com.br

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Figura 4 – Brinquedoteca do Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP).

Fonte: Cecília Bastos, Jornal da USP/www.imagens.usp.br

A especialista em Educação Infantil Angel Cristina Munhoz Maluf, escreve a respeito


do lúdico e da brinquedoteca. Para entender um pouco mais sobre esse espaço
explore um de seus textos, intitulado Brinquedoteca: um espaço estruturado para
brincar, disponível em:
http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=276

O Desenvolvimento e a Aprendizagem na Brinquedoteca


Agora que você já conhece um pouco da brinquedoteca, conversaremos sobre a contribuição
desse espaço para o desenvolvimento e aprendizagem do ser humano.
O caráter lúdico nas brincadeiras, jogos e atividades infantis são essenciais ao desenvolvimento
das crianças e ao processo de ensino e aprendizagem.
Durante esta Unidade argumentamos a importância infantil do brincar e jogar, para o
desenvolvimento integral da criança nas esferas motora, cognitiva e afetiva.
A utilização de jogos e brincadeiras no ambiente escolar traz diversas vantagens ao processo
de ensino e aprendizagem, considerada como a mais importante a noção de que a brincadeira
se torna algo natural à criança, servindo como grande fator motivador para seu envolvimento.

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Outro fator positivo é que, por meio do jogo, a criança obtém prazer e realiza um esforço
espontâneo e voluntário para atingir os objetivos propostos nesse processo, seja ao mobilizar
esquemas mentais, estimular o pensamento, ordenar tempo e espaço, entre outras capacidades.
O brincar e jogar integra diversas dimensões ao desenvolvimento humano (motor, afetivo,
social, cognitivo etc.) e favorece a aquisição de condutas cognitivas, além do desenvolvimento
de habilidades como coordenação, destreza, rapidez, força, concentração etc.
Entenda melhor esse desenvolvimento e aprendizagem da seguinte maneira: na infância a
brincadeira, os brinquedos e materiais concretos ou pedagógicos podem estimular conversas,
trocas de ideias, contatos com parceiros, com o imaginário infantil, exploração e descoberta
de relações. Ou seja, é brincando que a criança organiza seu mundo, o espaço a sua volta,
assimilando experiências e informações.
O pesquisador Lev Vygotsky acreditava que o jogo traz oportunidades para preencher
necessidades irrealizáveis, assim como possibilita o exercício no domínio do simbolismo, sendo
esse um aspecto importante no desenvolvimento e na aprendizagem de uma criança.
Para compreender a importância que Vygotsky atribuiu ao jogo em relação à criança, precisamos
entender um pouco as suas ideias. O propósito de sua teoria é que o desenvolvimento cognitivo
resulta na interação entre a criança e as pessoas com as quais essa mantém contatos regulares. O
pesquisador acreditava na interação com o meio para o desenvolvimento e aprendizagem infantil.
Dizia que a adaptação da criança é mais ativa e menos determinista. Assim, Vygotsky deu maior
ênfase à cultura do que à herança biológica para o desenvolvimento cognitivo.
Isso quer dizer que no processo de socialização para seu desenvolvimento, as crianças
aprendem coisas que constituem as características comuns de sua cultura, por exemplo:
brincadeiras, contos, canções e histórias. São com essas ferramentas que a criança vai criando
seus símbolos, que vai construindo suas relações, seus papeis, esses que serão importantes por
toda a sua vida.
Pensando na teoria de Vygotsky e em circunstâncias de ensino e aprendizagem, o jogo e
a brincadeira apresentam situações ou cenários imaginários, com a presença de regras de
comportamento que podem auxiliar a criança em seu desenvolvimento. É nas relações com
outras pessoas e espaços que a criança vai construindo quem é, e para isso usa o seu maior
meio de expressão e comunicação, que é brincar, jogar, manipular brinquedos.
Durante o jogo e a brincadeira a criança pode exercitar no plano imaginativo ou concreto
capacidades de planejar, imaginar circunstâncias, representar papéis e situações cotidianas.

Você já conseguiu responder qual a importância da brincadeira e do jogo para o


desenvolvimento de uma criança?

Ao criar momentos ou espaços lúdicos, oferecemos à criança a oportunidade dessa criar situações
ilusórias e imaginárias, como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. A criança brinca pela
necessidade de agir em relação ao mundo, e assim vai se desenvolvendo de forma integral.

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A brinquedoteca como um espaço de ensino que utiliza meios lúdicos cria um ambiente
gratificante, atraente e, ao mesmo tempo, serve de estímulo para esse desenvolvimento
integral infantil.

A contribuição de alguns autores para o estudo do desenvolvimento infantil é um


conhecimento importante à sua formação. Assim, conheça alguns autores que
discutem este tema:
• Lev Vygotsky, psicólogo russo que reconheceu a importância da introdução da
criança na cultura por parceiros mais experientes e dessa interação observou
o desenvolvimento infantil;
• Henri Wallon, neuropsiquiatria francês, segundo o qual o desenvolvimento
intelectual envolve mais do que um simples cérebro. Foi o primeiro a levar não
apenas o corpo infantil, mas também suas emoções para dentro da sala de aula;
• Jean Piaget, biólogo suíço, estudioso da evolução do pensamento até a
adolescência. Procurou entender os mecanismos mentais que o indivíduo
utiliza para captar o mundo.

Mas para entender a brinquedoteca auxiliando no desenvolvimento e na aprendizagem da


criança, é preciso compreender como os brinquedos, a brincadeira e o jogo funcionam na
aprendizagem, de acordo com o desenvolvimento em cada idade e como estimular as crianças
da melhor forma possível, levando em consideração suas características.
Inúmeros autores se dedicaram ao estudo do jogo, entretanto, os trabalhos de Jean Piaget
contribuíram significativamente para a definição da educação lúdica. Esse pesquisador elaborou
uma classificação genética baseada na evolução das estruturas, onde se caracteriza a natureza
do jogo ou da brincadeira em cada fase de desenvolvimento humano.
No decorrer desta Disciplina estabeleceremos as diferenças básicas entre o brinquedo, a brincadeira
e o jogo. Neste momento, porém, podemos apenas considerar as características das fases de
desenvolvimento infantil e o que é despertado em sua aprendizagem no espaço da brinquedoteca.
Para Piaget a criança de um a dois anos se encontra na fase sensório-motora e deve ser estimulada
para desenvolver seus sentidos, movimentos, músculos, percepção e cérebro. Olhando, pegando,
ouvindo, apalpando. Em sua origem sensório-motora, o jogo para lhe é pura assimilação do real,
do “eu’’ e caracteriza as manifestações de seus desenvolvimentos físico e cognitivo. Os estímulos,
tanto dos aspectos cognitivo quanto emocional, são cruciais nessa fase. A criança desse período
necessita do adulto, pois desse dependerá seu crescimento e sua relação social.
Nessa faixa etária começa a fase de controle, tanto dos instintos como das atividades motoras,
isso fará com que a criança consiga explorar mais e comece a brincar em espaços mais amplos.
Piaget caracteriza de dois a quatro anos como a fase simbólica. É o momento do “faz de
conta’’ e da imitação. O jogo simbólico se explica pela assimilação do “eu’’. Nesse período
ocorrem manifestações psicomotoras que são expressões de puro simbolismo representado
na mente, como, por exemplo, brincar de casinha, escolinha etc. Essa também é a fase do
“egocentrismo’’, na qual a criança é o centro de tudo e tudo se volta para o seu “eu’’.

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

A empresa Unilever, por meio da marca OMO, desde 2001 investiga a importância que
o brincar e a liberdade para se sujar têm ao desenvolvimento infantil. Com o objetivo de
colaborar para o conhecimento, a reflexão e a sensibilização sobre esse importante tema,
foi realizada a pesquisa A descoberta do brincar.
Esse estudo traz a visão de pedagogos, educadores, psicólogos, médicos, representantes
de Organizações Não Governamentais (ONG), pais e crianças sobre o brincar e sua
relação com o desenvolvimento infantil. Inclui também um mapeamento estatístico inédito
do brincar da criança brasileira, mostrando, entre outras informações, as brincadeiras
praticadas, o grau de participação dos pais, a prioridade que esses dão ao tema e a relação
do brincar com a escola.
A pesquisa foi realizada pela Ipsos Public Affairs com o apoio de uma equipe multidisciplinar
que incluiu profissionais de marketing, pesquisa, Pedagogia e Psicologia, todos voltados a
esse tema.
O universo explorado apresenta, em primeiro lugar, um apanhado do brincar no contexto
histórico. A partir daí, inicia-se uma reflexão sobre a importância da relação do brincar com
as diversas áreas do desenvolvimento das crianças, tais como a saúde física, a sociabilidade,
o desenvolvimento motor, além das dimensões sociais, emocionais e do aprendizado.
Tendo como base teórica para suas fundamentações os quatro pilares da educação
concebidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco) no Fórum Mundial de Educação para Todos, a equipe responsável aponta que o
brincar contribui para todos os saberes: aprender a conhecer, conviver, fazer e ser.
A metodologia dessa pesquisa envolveu três fases: levantamento de bibliografia
especializada; qualitativa; e quantitativa. Foram realizadas 1.014 entrevistas entre pais e
crianças de seis e doze anos.
Os resultados foram apresentados segundo quatro diferentes enfoques, os quais:
• Conceito – o que é brincar;
• Brincadeiras – do que as crianças brincam;
• Espaço – onde as crianças brincam;
• Companhia – com quem as crianças brincam.

Como destaque das conclusões finais está a importância de se aumentar o conhecimento


coletivo sobre o potencial do brincar para o desenvolvimento social, cognitivo e psicomotor
das crianças.
Os objetivos, a metodologia e os resultados dessa pesquisa estão disponíveis em:
http://www.omo.com.br/brincar/pesquisa.

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Na brinquedoteca essa fase permite iniciar a criança nas técnicas básicas de teatro,
principalmente de fantoches. Essa atividade é rica porque, além de estimular a coordenação
motora e a criatividade na confecção e manuseio dos bonecos, ainda permite que a criança
invente uma estória com os personagens.
Dos quatro aos sete anos Piaget apresenta a fase intuitiva. É o período em que, sob a forma
de exercícios psicomotores e simbolismo, a criança transforma o real em função das múltiplas
necessidades do “eu’’. Os jogos e as brincadeiras aqui passam a ter seriedade absoluta na vida
infantil, além de um sentido funcional e utilitário. É também é considerada a fase do “por quê?’’
Nesse momento as crianças aprendem brincando por meio de jogos educativos e brincadeiras.
A fase da operação concreta se inicia por volta dos oito anos e segue até os doze, é período
escolar em que a criança incorpora os conhecimentos sistematizados durante as fases anteriores.
Nessa idade a criança começa a pensar de forma mais lógica. Os jogos transformam-se em
construções adaptadas, exigindo sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de
aprendizagem, que começa a sistematizar o conhecimento existente.
Na adolescência os jogos caracterizam-se como atividades mais importantes. Os jogos de
regras; a prática da discussão; o exercício da expressão corporal e da linguagem; o discernimento
de valores; e os trabalhos em grupos são importantes nesse momento.
Entender as características de desenvolvimento é algo pertinente para pensarmos nos
trabalhos desenvolvidos no espaço da brinquedoteca. Por exemplo, com crianças de um a dois
anos devemos pensar em brinquedos que sugerem repetições; às crianças de cinco ou seis anos
podemos nos apropriar do “faz de conta”; já a partir dos sete e oito anos aparecem os jogos com
regras e de construção, esses que permanecem no decorrer dos anos.
Além dos brinquedos e brincadeiras de acordo com a faixa etária, há outra forma de
classificação que podemos considerar para o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano.
Um estudo realizado, a princípio, por Howard Gardner (psicólogo cognitivo e educacional
ligado ao Departamento de Educação da Universidade de Harvard (EUA), conhecido em
especial pela sua teoria das inteligências múltiplas, teve como principal publicação o livro Frames
of mind, em que desenvolve a teoria dividindo a inteligência em fases e definindo as respectivas
e melhores formas de estímulo, as quais: inteligência linguística; inteligência lógico-matemática;
inteligência corporal-cenestésica; inteligência musical; inteligência visual-espacial; inteligência
naturalista; interpessoal e inteligência intrapessoal.
Gardner defende que essas inteligências têm suas origens e limites genéticos próprios e
substratos neuroanatômicos específicos e apresentam processos cognitivos distintos, com
variados graus. Contudo, apesar de funcionarem de forma independente umas das outras,
raramente funcionam isoladamente. Quer dizer que o funcionamento de uma inteligência tem
suas próprias características, mas durante uma tarefa usamos mais de uma inteligência. Um
artista plástico, por exemplo, precisa das inteligências corporal/cenestésica e a espacial para criar
suas esculturas e/ou telas.
O pesquisador acredita no princípio de que todas as pessoas possuem habilidades para
acionar todas as inteligências, porém a linha de inteligência, a forma como lidar com essa
e a maneira de expressá-la ao mundo dependerá de diversos fatores, tais como: ambientas,
culturais, genéticos, neurobiológicos, entre outros. Defende também que cada inteligência
demonstra uma forma própria de pensar, ou processar as informações.

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Gardner argumenta ainda que alguns talentos apenas se desenvolvem porque são valorizados
pelo ambiente. Portanto, partindo-se desse raciocínio, é possível constatar que todas as
inteligências podem ser desenvolvidas se forem estimuladas da forma correta.
O espaço da brinquedoteca pode ser esse ambiente, onde todas as inteligências podem ser
estimuladas.

A teoria das inteligências múltiplas traz informações importantes para serem


trabalhadas na educação. Pesquise as características de cada inteligência para
ampliar seu conhecimento.

Na brinquedoteca podemos desenvolver cada inteligência. Por exemplo, a inteligência


lógico-matemática pode ser lapidada usando o quebra-cabeça, trabalhando com resoluções
de problemas, formas geométricas etc. Para inteligência linguística, que envolve as palavras
e a comunicação, utilizamos as histórias e incentivamos que as crianças também narrem suas
histórias, de modo que sejam utilizados até brinquedos ou objetos que possam enriquecer a
dinâmica.
A inteligência corporal-cenestésica envolve o corpo, assim, o teatro e a mímica são perfeitos
como instrumentos para desenvolve-la.
A inteligência musical se refere à capacidade de reconhecer e entender os tons, ritmos,
sensibilidade a sons, considerando a voz como instrumento sonoro e aprendendo a usá-la para
melhor se comunicar. Na brinquedoteca existem diversas formas de desenvolver essa capacidade,
desde bandinhas onde cada criança recebe um instrumento e, após a fase de experimentação,
começa a aprender a tocá-lo; como trabalhos com percussão corporal, e é claro, podemos usar
músicas e cantos de diferentes estilos e regiões.
Na inteligência espacial-visual o principal objetivo é desenvolver a lateralidade. Essa é
entendida como a habilidade/capacidade de reconhecer e usar os dois lados do corpo juntos
(movimentos bilaterais) ou separadamente, sabendo diferenciar esquerda e direita. Seu
desenvolvimento pode ser promovido com a apreensão de objetos ou dinâmicas elaboradas
para utilizar a bilateralidade. A lateralidade também envolve a habilidade em subir/descer e
noções desenvolvidas de acima e abaixo.
Brincadeiras ou jogos que promovam o reconhecimento de sentimentos, a intercomunicação
e os relacionamentos estão relacionados às inteligências inter e intrapessoal.
Na verdade, uma inteligência está acoplada à outra e somente desenvolvendo todas de
forma geral será possível ampliar bem cada habilidade de cada aluno. Cada criança deve ser
vista como única, com necessidades e características próprias, de modo que cada uma mostrará
mais habilidades para uma inteligência ou um conjunto dessas.
Esses são apenas alguns exemplos, cabendo a cada educador aplicar e aprimorar brincadeiras
e jogos coordenados de acordo com a turma, mas fica claro que para isso é importante conhecer
as características da faixa etária e seus potenciais de inteligência.

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Com suas diferentes dimensões, a brinquedoteca pode ser o ambiente ideal para despertar
todas essas inteligências, bem como desenvolver as características pertinentes a cada faixa etária.
No decorrer desta Disciplina construiremos um conhecimento que lhe proporcionará
ferramentas para uma educação lúdica na brinquedoteca.

Entre as principais funções da brinquedoteca estão o incentivo ao próprio ato de


brincar, algo fundamental ao desenvolvimento infantil. Nesse espaço as crianças
também podem desenvolver a integração em grupos, a concentração e solucionar
problemas para a construção de própria aprendizagem.

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Material Complementar

Brinquedoteca: lugar de brincar, aprender e criar.


Este artigo foi desenvolvido após as experiências vivenciadas na Brinquedoteca do
Núcleo de Educação Especial (NEDESP/CE) e tem como objetivo confirmar a importância
desse espaço lúdico, onde as crianças tenham o direito e oportunidade de brincar e a partir
de atividades e brinquedos, exercitando suas potencialidades, adquirindo conhecimento,
aprimorando a sociabilidade e, dessa forma, gerando o desenvolvimento intelectual, social e
emocional. Para uma melhor compreensão sobre esse tema as autoras utilizaram textos de
teóricos que enfatizam a relevância do lúdico e da brinquedoteca, tais como Santos, Maluf,
Lopes, Almeida e outros. Acesse: http://www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/extensao/documentos/
anais/2.CULTURA/2CENEDESPPEX01.pdf e leia na íntegra o texto e amplie seu conhecimento.

Que a seção Folhinha do jornal Folha de S.Paulo em maio de 2009 lançou o


projeto Mapa do Brincar. A empresa convidou crianças de todo o País para contar
quais são suas atuais brincadeiras. Um dos objetivos era descobrir as semelhanças
e diferenças entre o brincar das diferentes regiões do Brasil.
A Folhinha recebeu 10.204 inscrições de crianças, das cinco regiões brasileiras,
que enviaram suas brincadeiras. O site é muito interessante, pois lá você conhecerá
esse universo da brincadeira. Acesse:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/mapadobrincar

Para um modelo de brinquedoteca à América Latina leia o artigo da pesquisadora Tânia


Ramos Fortuna, que a partir de suas experiências comenta sobre a orientação à criação
e manutenção de brinquedotecas. No acompanhamento de inúmeros espaços lúdicos e na
formação da universidade de educadores capazes de brincar e de valorizar esse brincar, a autora
discute um modelo de brinquedoteca ao nosso continente latino. Acesse:
http://www.abrinquedoteca.com.br/integra/hacia_modelo_ludotecas_para_AL.pdf.

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A canção Era uma vez, de autoria do compositor Toquinho aborda a imaginação e a criação
infantil. Leia e reflita a respeito da importância dessa linguagem na infância, algo fundamental
no espaço da brinquedoteca:

Era uma vez Prá gente ser feliz


Um lugarzinho no meio do nada Tem que cultivar
Com sabor de chocolate As nossas amizades
E cheiro de terra molhada... Os amigos de verdade
Era uma vez Prá gente ser feliz
A riqueza contra Tem que mergulhar
A simplicidade Na própria fantasia
Uma mostrando prá outra Na nossa liberdade...
Quem dava mais felicidade... Uma história de amor
Prá gente ser feliz
De aventura e de magia
Tem que cultivar
Só tem haver
As nossas amizades
Quem já foi criança um dia...
Os amigos de verdade
Era uma vez
Prá gente ser feliz
A riqueza contra
Tem que mergulhar
A simplicidade
Na própria fantasia
Uma mostrando prá outra
Na nossa liberdade...
Quem dava mais felicidade...
Uma história de amor
Prá gente ser feliz
De aventura e de magia
Tem que cultivar
Só tem haver
As nossas amizades
Quem já foi criança um dia... (2x)
Era uma vez Os amigos de verdade

Um lugarzinho no meio do nada Prá gente ser feliz

Com sabor de chocolate Tem que mergulhar


E cheiro de terra molhada... Na própria fantasia
Era uma vez Na nossa liberdade...
A riqueza contra Uma história de amor
A simplicidade De aventura e de magia
Uma mostrando prá outra Só tem haver
Quem dava mais felicidade... Quem já foi criança um dia... (4x)

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Unidade: A Brinquedoteca: Um Espaço de Desenvolvimento e Aprendizagem

Referências

CUNHA, Nylse Helena Silva, Brinquedos: desafios e descobertas, Petrópolis, RJ, Ed Vozes,
2005.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5edição. São Paulo:
Perspectiva, 2007.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São


Paulo. Cortez, 2000.

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Anotações

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