Américo Ribeiro Coelho e sua conversão ao Adventismo. Atuou em Vitória como advogado e esteve com Getúlio Vargas em comitiva que visitou o presidente da República para solicitar que a liberdade religiosa fosse preservada para os acatólicos.
Américo Ribeiro Coelho e sua conversão ao Adventismo. Atuou em Vitória como advogado e esteve com Getúlio Vargas em comitiva que visitou o presidente da República para solicitar que a liberdade religiosa fosse preservada para os acatólicos.
Américo Ribeiro Coelho e sua conversão ao Adventismo. Atuou em Vitória como advogado e esteve com Getúlio Vargas em comitiva que visitou o presidente da República para solicitar que a liberdade religiosa fosse preservada para os acatólicos.
No primeiro domingo de novembro de 1923, às 2 horas da tarde, mais ou menos, achava-me no gabinete de trabalho da minha residência, quando a minha atenção foi atraída pela presença de um homem na varanda da casa , entretendo rápida conversa com quem viera atendê-lo. Logo depois, eis que o avisto já na porta da minha residência, solicitam permissão para entrar. Travando conversa, pude que era membro de uma sociedade filantrópica, e estava angariando, donativos. Fácil me foi saber qual se tratava de uma seita religiosa, apesar da cautela com que evitam declina-lhe o nome, e não menos, fácil foi saber que se tratava de uma religião de que jamais ouvira falar, a dos adventistas do sétimo dia. Causou-me quasi indignação saber da existência de mais uma religião evangélica, aumentando-me a impressão da fraqueza do protestantismo desunido, em face dos elementos coesos que o combatem. A manifestação dêsses sentimento determinou novo retraimento do meu interlocutor. Interessei-me, porém, pelo conhecimento dos princípios básicos da religião desconhecida, principalmente porque, anos antes, alguém, julgando-me protestante, por ser advogado procurado por quasi todos os protestantes de Vitória acusou a incoerência do protestantismo ao adotar como única regra de fé a Bíblia, mas guardando o primeiro dia da semana, mandado observar pelo romanismo em vez do sábado bíblico. Como não me interessasse a defesa do protestantismo, repliquei apenas que tal a mudança do calendário tivesse deslocado a posição do dia. A presença de um observador sábado ofereceu-me então oportunidade para indagar melhor do assunto, e daí em diante se trava um movimentado diálogo entre o do representante da sociedade filantrópica e o exaltado advogado entre o tímido indagador de atos religiosos e o exaltado sabatista. A leitura da Bíblia enchia-me de admiração e espanto, porque eram que não estavam escritas, sem ser, entretanto, deturpado o sentido das frases. Onde estava escrito: “Um só i, ou um só til”, era lido “Um só jota, ou só til”. Atribuí o fato à deficiência de instrução, mas não o deixei calar. Quando os recursos da dialética do advogado determinaram um recuo para textos bíblicos mais claros e positivos ardorosamente defendidos, eu me arrependia de poder concorrer para abalar uma fé tão sólida, e colocava imediatamente esses mesmos recursos a procura da harmonia dos textos, o que rapidamente encontrávamos, com grande alegria para ele e para mim. Lembro-me ainda da discussão sobre a frase empregada por Jesus, quando acusavam de transgredir o sábado “Meu Pai trabalha até agora, Eu trabalho também”, com a qual procurei demostrar que Jesus, de modo expresso, estava autorizando qualquer trabalho no sábado. Habituado, como ficou, a ver-me ir imediatamente em auxílio da verdade, esperou a minha réplica a mim mesmo, e os seus olhos iluminaram-se com os fulgores de um belo triunfo quando, rematando a discussão afirmei que a obra de Deus, o trabalho de Jesus, devemos nós também fazer todos os dias e especialmente aos sábados. Não me havia esquecido da obra filantrópica, e entreguei o único dinheiro que possuía no momento, sem fazer como a viúva pobre, pois exigi troco da metade. Olhando a bolsa volumosa, indaguei si havia livros que expusessem a doutrina, adquirindo o que me foi apresentado sob o título Estudos Bíblicos. Eu estava naquela ocasião sentado em frente á secretária, de uma de cujas gavetas foi que tirei a Bíblia, versão de Figueiredo, a qual havia muitos anos eu usava principalmente em viagens. E, quentes vezes, após os bailes já alta madrugada cansado e abatido, busquei no sermão da montanha nas parábolas, um descanso muito mais excelente do que o que me poderiam proporcionar os lençóis. Jesus era para mim um orador eloquente, um maravilhoso filósofo, que falava coisas agradáveis à nossa inteligência e ao nossa coração. Mas nunca o pude compreender como o Filho de Deus, como Deus. Quando muito, Homem-Deus. Nunca, Deus-homem. A leitura dos Estudos Bíblicos naquela noite, à luz das profecias, convenceu-me de que Jesus era verdadeiramente o Filho de Deus, o Deus que, sem o saber, eu adorava. E quando, na manhã, seguinte, se me descerra os olhos para a luz do dia, o meu primeiro cuidado foi saber ande estaria aquele homem que só um mês depois, um longo e interminável mês, encontrei de volta de sua viagem ao interior do Estado. Queria indagar onde se situava a sua Igreja, como me seria permitido pertencer a ela, porque tôdas as minhas melhores aspirações se enquadravam maravilhosamente nessa mensagem. Integrara-me em mim mesma, e na verdade que, sem a conhecer, tanto me atraía. No sábado anterior à morte, ouviu o irmão Porto o meu comovido agradecimento a Deus, pelo anjo que me anunciou as boas novas da minha salvação, hino de amor que o meu corpo, minha alma e meu espírito, permita Deus, orquestrarão triunfalmente através de todos os séculos eternos. Américo R. Coelho, “Joaquim da Silva Porto.” Revista Adventista. maio 1941, pp. 10 e 11.