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Para não entrar em choque com a natureza: O Paulo Degani, responsável pelo

Museu Histórico Municipal "Padre Francisco de Paula Lima", nos contou sobre dois
costumes interessantes, especialmente úteis para quem gosta de caminhar por locais
cheios de mato, no meio de florestas, bosques, trilhas.
Conta-se que, para não pegar carrapato quando se entra na mata, é preciso quebrar um
galhinho da primeira árvore que se encontrar e guardar no bolso.
Outra simpatia: existe uma árvore chamada Aroeira, fácil de encontrar nos sítios aqui da
cidade. Algumas pessoas já tiveram experiências ruins com a dita cuja: foi passar por
baixo da árvore e começar a espirrar, ou sentir a pele ficar vermelha e coberta de
calombos! Dizem que, para evitar a "raiva" da aroeira e de outras formas de vida, é bom
pedir licença para "Dona Aroeira" antes de entrar na mata, mesmo que não haja
nenhuma aroeira por perto. É só chegar, dizer em alto e bom som: "Dá licença para eu
entrar, Dona Aroeira!", e caminhar sossegado.
Mas, por via das dúvidas, antes de entrar na mata, é bom colocar botas ou calçados de
cano longo para evitar picadas de insetos, um bom repelente e, caso você já tenha
tendências alérgicas, é bom ficar longe das aroeiras, mesmo não tendo certeza se elas
estão bravas ou apenas chateadas...
Sem silicone e sem casamento: Pessoas que vieram de Arealva (interior paulista) para
morar em Itatiba contam que naquela cidade existia uma simpatia que as meninas que
acabavam de entrar na adolescência costumavam fazer: tomar água na concha para que
os seios crescessem. Em Arealva também existia uma crendice de que se alguém
passasse com a vassoura sobre os pés de uma pessoa, aquela que teve os pés "varridos"
não se casaria mais. Essa superstição era conhecida também em Itatiba e até hoje
algumas pessoas desviam do caminho quando avistam alguém fazendo faxina, de medo
de ter os pés varridos.
Simpatia de Ano Novo para prosperidade: Cada família tem uma simpatia especial
para assegurar que o Ano Novo seja realmente bom. Algumas pessoas colocam a maior
nota de dinheiro que possuem dentro do sapato, durante a festa de Reveillon, para que a
cédula chame suas companheiras de igual valor durante o ano que começa.
Existe uma simpatia interessante que veio de São Lourenço, Sul de Minas, para cá: a
troca de folha de louro. À meia noite do dia 31 de dezembro, coloca-se num pratinho ou
outro recipiente, algumas folhas secas de louro, dessas utilizadas para tempero. O louro
representa vitória, glória. Quando bate meia-noite, pega-se uma folhinha e troca-se com
a de outra pessoa. A folha que foi trocada é guardada na carteira, junto com o dinheiro,
para assegurar segurança financeira. No final do ano, a folhinha usada é trocada pela de
outra pessoa novamente. Se estiver muito gasta, joga-se fora e toma-se uma nova
folhinha para troca.
Limpeza da Casa Depois do Velório: Ainda hoje nós verificamos o costume de
algumas famílias de velar o morto na residência. Diz a tradição que, após a retirada do
caixão e a saída do cortejo rumo ao cemitério, deve-se varrer a casa toda, em direção à
porta da frente da casa, varrendo tudo para a rua, ou seja, mandando embora todo
resquício da Dona Morte... (Contribuição da Sra. Ivone Igarashi, da AEPTI)
Simpatia perigosa para violeiro: A senhora Inês Simões Barbosa, presidente da
AEPTI, contou que o povo acreditava na eficácia do guizo de cascavel para melhorar o
som do violão. Antigamente, o pessoal topava com muitas cobras nos pastos... até
cascavel! Gente com mais sorte não encontrava a cobra, mas o guizo dela. Se a pessoa
tocava violão, colocava o guizo dentro do instrumento, que passava a ter um som mais
suave e melódico.
Simpatia perigosa para passar de ano: As crianças que viviam pelos pastos e pelos
quintais cheios de árvores da Itatiba antiga, quando encontravam a casca de uma cobra,
ficavam felizes! É que se acreditava que a pele que as cobras trocam no decorrer de suas
vidas dá sorte para os estudantes: eles colocavam aquela pele, que mais parece plástico,
dentro do caderno, bem na parte onde estava a matéria mais difícil, que eles não
conseguiam aprender. De acordo com a crença, o aluno passava de ano. (contribuição da
Sra. Maria Inês Simões Barbosa).
Benzimento para "Ramo de Ar": Os antigos falavam muito nesse tal "Ramo de Ar",
que era um reflexo de sol ou de luz que pegava em cheio no rosto de alguém, causando
uma sensação de mal estar que, geralmente, terminava numa enxaqueca que poderia
durar dias.
Ainda hoje se usa o termo, principalmente quando algum raiozinho de sol bate em
espelhos retrovisores ou vidros traseiros e faz alguma vítima - que fica vendo bolinhas
coloridas desfilando diante dos olhos durante horas.
Mas o povo tem remédio para tudo e bom benzedor sabe tirar "ramo de ar". O
benzimento pode ser de várias formas, mas sempre envolve água, arruda e muita fé. Um
dos mais simples e que o próprio "doente" pode fazer é o seguinte: pega-se um copo de
água, cobre-se a boca do copo com uma toalhinha limpa e, com um pouquinho de jeito,
abaixa-se a cabeça até que a testa possa tocar na toalhinha bem esticada que cobre a
boca do copo.
Quando a boca do copo estiver bem junto à testa, ergue-se a cabeça, não deixando
escorrer a água. O "doente" tem que ficar sentado em algum lugar de frente para o sol,
de olhos fechados. O copo fica equilibrado sobre a testa e a água apenas umedece a
toalhinha e a pele. A pessoa deve rezar para que o "ramo de ar" se vá, pedindo a Deus,
Jesus, aos santos anjos da guarda, ou ao santo de sua devoção, que leve o mal embora.
Geralmente é nesse momento que a água dentro do copo começa a movimentar-se,
como se fervesse. Segundo os benzedores, é porque o "ramo de ar" está indo embora.
Quem quiser, pode até colocar folhas ou um galhinho de arruda dentro de um copo,
desde que não se sinta mal com o cheiro exalado pela planta. (Contribuição da família
Fattori)
Benzer Susto: Antigamente, as mães e avós tinham um instrumento poderoso não só
para cuidar da nutrição da família, mas também para proteger seus entes queridos contra
o mal: o fogão de lenha. Quando uma criança levava um susto ou não conseguia dormir
à noite, era levada para junto do fogão e devidamente benzida com brasa. A fórmula
podia variar, mas geralmente era esta: falava-se o nome da criança assustada e, em
seguida, dizia-se "eu vou te benzer", com bastante confiança. Pegava-se uma brasa do
fogão, com o auxílio de algum instrumento para não queimar as mãos, e jogava-se a
brasa dentro de um copo com água. Se a brasa subisse era porque a criança não estava
assustada e a manha dela era de birra mesmo.
Se a brasa descesse, a criança precisava de ajuda. Aí era preciso colocar um pouco da
água do copo com brasa em um outro copo com água, que seria dada para a criança
beber. O que sobrou da água com a brasa devia ser usada para borrifar três cantos do
cômodo (geralmente a cozinha). Não se borrifa o canto por onde se sai. O restinho,
junto com a brasa, seria jogado no fogo do fogão de lenha. (Contribuição da família
Polessi)
Benzimento contra a Dor de Barriga: Esta fórmula era usada principalmente com
crianças. A benzedeira fazia o seguinte: Colocava uma das mãos na altura da boca do
estômago do doente dizendo "São Martim deitado". Colocava então a mão na cintura do
doente continuando a recitar: "Sur la somente, benza teu male". E, finalmente, a
benzedeira dizia: "Cura esse ventre", descendo a mão ao ventre do doente.
(Contribuição da família Polessi - Bairro da Ponte).
Benzimento contra a Dor de Cabeça: A benzedeira e a pessoa com dor-de-cabeça
deveriam rezar um pai-nosso e uma ave-maria, em seguida, a benzedeira colocava três
galhinhos de arruda dentro de um copo de água, que era colocado no topo da cabeça do
doente. A benzedeira então dizia: "Com que eu tiro o sol? Com água da fonte, ramo
verde do monte." E retirava os galhinhos de arruda de dentro do copo, batendo
levemente com elas na testa e na cabeça da pessoa. (Contribuição da família Polessi -
Bairro da Ponte)
Para curar susto de criança - Esta é outra versão do benzimento com brasas.
Contribuição da senhora Maria Inês Simões Barbosa, da Associação dos Escritores,
Pintores, Poetas e Trovadores de Itatiba. Quando uma criança estava assustada, pegava-
se uma caneca de ágata. Podia até ser de outro material, mas as benzedeiras preferiam as
de ágata. Colocava-se água (temperatura ambiente) dentro dela e jogava-se 3 brasas na
água. Logo em seguida colocava-se um prato sobre a boca da caneca e era preciso virá-
la de uma vez, como quando queremos desenformar um bolo. A caneca ficava de cabeça
para baixo dentro do prato. E a água da caneca não podia ser derramada. Então, para
finalizar a simpatia, era preciso fazer uma pequena cruz com palha. A cruz era colocada
sobre o fundo da caneca e todo o material era deixado no mesmo lugar por 7 dias.
Quando o período terminava, jogava-se a água fora (podia ser no quintal), com brasas
encharcadas e tudo.
Para as mães de recém-nascidos não pegarem friagem - Novamente lembramos que
todas essas receitas caseiras eram adotadas numa época em que era difícil conseguir um
médico. Estamos publicando esses relatos pelo seu valor como folclore, não para que
ele seja utilizado para fins medicinais, o que pode acarretar até problemas ainda mais
sérios, porque não estamos publicando aqui as dosagens que eram utilizadas, nem temos
provas de que realmente funcionavam. E também não sabemos se ocorriam efeitos
colaterais.
Segundo a tradição, mulheres que haviam dado à luz deviam manter uma dieta por mais
ou menos 40 dias. Os antigos temiam que as mulheres "pegassem friagem" durante o
período e ficassem doentes. Na época, muitas casas não tinham forro e o piso era de
terra batida. Havia umidade dentro das casas de fazenda e o perigo era real. Para
prevenir alguma doença causada pela umidade e pelo frio, as mulheres queimavam
arruda com açúcar numa caneca de alumínio. Daí jogavam pinga sobre o xarope que se
formava e em seguida tomavam a beberagem ainda quente. Isso se repetia pelos 40 dias.
(Contribuição da Sra. Ivone Igarashi, membro da diretoria da Associação dos Poetas,
Pintores e Trovadores de Itatiba).
Simpatia para fazer a criança andar: Dona Josefina Maria de Jesus Almeida, Dona
Zefina, morava no bairro do Corintinha e era procurada por muitas mães que levavam
seus bebês para que ela aplicasse uma simpatia que, segundo se dizia, ajudava a
criancinha a perder o medo de andar. Funcionava da seguinte forma: Dona Zefina
pegava a criança nos braços e suspendia o bebê sobre um pilão, um pilão grande e
simples, dos que se usava para socar café e grãos. Com cuidado, ela baixava e erguia a
criança sobre o pilão três vezes, como se a criança fosse o socador, mas com
movimentos mais lentos. A simpatia era repetida por três sextas-feiras. Depois do
benzimento, dona Zefina colocava a criança no chão e vinha caminhando atrás dela,
passando a vassoura pelo piso com o intuito de "cortar" as influências negativas,
dizendo: "-O que eu corto?" e a mãe da criança deveria responder: "- O medo". Isso era
feito mais três vezes. Dona Zefina era conhecida também como "Vozica" pelos
familiares. Muita gente do bairro certamente se lembra dela. Atualmente, o pilão se
encontra na casa de parentes de Dona Zefina, no Harmonia. A história é contribuição
das famílias Crivelari e Almeida.
Reza contra os problemas dos olhos: Esta oração é dirigida à Santa Luzia (ou Santa
Lúcia). A jovem viveu por volta do século III d.C. e, segundo a lenda, era filha de uma
família italiana abastada, que lhe deu uma sólida formação cristã. Era tanta a sua
vocação a Deus que queria dedicar sua vida a Ele. No entanto, o pai da jovem faleceu e
a mãe queria vê-la casada com um rapaz de outra família também influente, mas pagã.
Há versões diferentes para a história. Algumas contam que quando descobriu que a
moça seguia a doutrina de Cristo, o rapaz que era apaixonado por ela a denunciou. Ela
foi presa e martirizada. Seus olhos foram arrancados pelos algozes. Outras versões
contam que Luzia, apesar de se negar a casar com o pretendente, continuava sendo
perseguida pelo rapaz. Numa ocasião, o moço teria dito que o olhar de Luzia o havia
enfeitiçado. A própria Luzia teria, então, arrancado os olhos e enviado para o rapaz,
mandando dizer que preferia viver cega a quebrar os votos feitos a Deus e que, se eram
os olhos que o haviam feito perder, que ficasse com eles.
A oração de Santa Luzia deve ser rezada pelo próprio doente, fazendo o sinal da cruz
sobre os olhos, com o polegar da mão direita. Depois de feita a oração, reza-se um Pai-
Nosso e uma Ave-Maria:

Vem Santa Luzia,


de noite e de dia,
trazer-me esta luz
dos braços da cruz.

(Fazer o sinal da cruz 3 vezes sobre os olhos)

Se é nuvem de sangue
e de água formada
Pelo Cristo exangue
Será derramada.

(Fazer o sinal da cruz 3 vezes sobre os olhos)

Por Santa Luzia,


Vais ver que esta luz
No céu se produz

(Fazer o sinal da cruz 3 vezes sobre os olhos)

Para proteção do lar, eu recomendo a reza ou benzimento de todas as portas da casa pelo
lado de dentro. Este benzimento deve ser feito com três varetas de incenso, com elas
acesas em mãos, fazer o sinal da cruz por sete vezes repetindo esta reza:

"Aqui eu cruzo e fecho a entrada do mal.


Aqui eu cruzo e abro a entrada da prosperidade.
Pela Santíssima Cruz e a Misericórdia Divina".

Como proteção pessoal, podemos benzer uma moeda para carregar no bolso, na carteira,
ou na bolsa com este procedimento: segurar a moeda na palma da mão e cruzá-la com a
ponta do dedo rezando estes dizeres:

"Aqui eu cruzo o meu caminho,


E abro o meu caminho em proteção.
Aqui eu cruzo o meu destino,
E abro o meu caminho em proteção.
Aqui eu cruzo a minha vida material,
E abro o meu caminho em prosperidade".

Feito isso é só carregar a sua moeda benzida e protegida!


Benzimento para vento virado
Faz-se quatro montículos de cinza no primeiro buraco do fogão e reza-se o credo
fazendo cruzes com a criança. Depois, deixa-se o rastro da criança na cinza.

Provas e sintomas
Prova para ver se a criança tem mesmo vento virado: Põe-se a criança deitada de borco
e procura-se encontrar o pé direito com a mão esquerda. Caso não consiga fazê-lo, é
prova de que a criança tem mesmo vento virado.
Os sintomas de vento virado são: dores na perna direita, dores na barriga, dor de cabeça,
etc.
Para ver se uma criança tem quebranto, prova-se a testa com a ponta da língua; se
estiver salgada, é sinal de quebranto.
Os sintomas são: dormideira, indisposição, etc.
Os sintomas de espinhela caída são os mesmos de uma indisposição de estômago.

Espinhela caída — benzimento


Sintomas: vômitos, dores de estômago, etc. As negras não dizem vômito, mas "gumito"
ou "lanço".
— Estava São Pedro deitado na sua capela com a espinhela caída.
Nosso Senhor passou girando seu mundo dele, encontrou São Pedro, Nosso Senhor
perguntou:
— Que tem, Pedro?
— Espinhela caída, Senhor.
— Com que benze, Pedro?
— Água da fonte e raminho de monte.
Isso mesmo, Pedro, com isso que eu curo. A minha caridade é vossa. Aqui estão as três
pessoas da Santíssima Trindade. Aqui está a caridade e a virtude, este filho da Virgem
Maria, F... há de ir melhorando de hora em hora, de minuto em minuto, de dia em dia.

Este benzimento é feito em três raminhos de fedegoso. É importantíssimo a observação


da dieta, sem o que não se garante a cura. A dieta é de duração de oito dias, e é a
seguinte: não comer gorduras, frutas ácidas, coisas cruas, carne mal assada, enfim, nada
que seja de difícil digestão. (Se o benzimento não curar, o regime, por certo, que cura).

Reza para fechar o corpo


(Deve ser escrita em forma de cruz e costurada num patuá, para ser trazido no pescoço
ou no bolso).
Deus te salve cruz preciosa
Por ti me salve quem por ti me remiu
Diz a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo que F... (o nome de quem vai usar). Tornou-se
mais feliz e sem perseguição.
Eu creio porque nela está a verdade, nela está o poder, nela está a fé, a esperança, nela
está a caridade, nela está a vida, nela está a salvação. Assim seja.
5 Padres Nossos — 5 Ave Marias — 5 Glórias ao Pai — Oferecida pela sagrada paixão
e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Benzimento contra hemorragia


(Reza-se mentalmente, fazendo cruzes sobre o local)
— Sangue, tenha-se em si, como Jesus Cristo esteve em si.
— Sangue, tenha-se na veia, assim como Jesus esteve-se na ceia.
— Sangue, tenha-se vivo e forte, assim como Jesus se teve na morte.

Benzimento de carne quebrada


(Benze-se, cosendo um novelo de linha fiada em casa)
O benzedor pergunta ao doente:
— Que é que eu benzo?
O doente responde:
— Carne quebrada.
Vai costurando e dizendo: "Carne quebrada, nervo rendido, osso partido. Isso mesmo é
que eu benzo". Dá sete pontos. Pergunta novamente:
— F... que é que eu benzo?
— Carne quebrada...
O benzedor repete a oração e dá mais sete pontos.
Repete as costuras e a oração três vezes, em três dias consecutivos.

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