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O conceito de família

A família é a unidade básica da sociedade. As famílias são necessárias na vida pessoal e


social

• Dicionário: Grupo de pessoas com a mesma ascendência, linhagem, clã.


• Reformulação: "Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente
compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si uma relação solidária".
• OMS: é o grupo cujas relações sejam baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino
comum.
• Bíblia: Foi criada/instituída por Deus. Isso faz da família a mais antiga das instituições
humanas. Essa instituição é formada sob a base do matrimônio que se estende ao nascimento
dos filhos como fruto da união dos cônjuges. O conceito de família de nossa sociedade pós-
moderna caminha na contramão do ensinamento bíblico.
Um modelo bíblico de família

A Bíblia reconhece que todas as culturas necessitam da família. A família


repõe a população (Gn 1.28). Ela estabelece controle sobre instintos sexuais
(1Ts 4.3-6; Hb 13.4). Ela dá identidade a seus membros (Sl 127-3-4). Ela
prove treinamento básico para a vida social (Pv 4.1-27).

Deus atribui algumas responsabilidades. Entre elas estão a provisão de


necessidades básicas (1Tm 5.8), a criação de filhos (1Tm 3.12), a proteção
(Mt 12.25) e a promoção da qualidade de vida para pais e filhos (“edificar a
casa”, Pv 24.3). A Bíblia pressupõe que essas tarefas exigem certa ordem
estrutural dentro da família e ordem estrutural também no que diz respeito à
família na sociedade.
O início - etapas na construção de família
Qual família estamos falando? De que época? Local? Que casal? Quais crenças individuais? Quais planos
de vida? O casal viveu as etapas? Pulou alguma? Quantos anos tem? Tem rede de apoio?
A construção da família – filhos
Quando esperamos um filho, imaginamos várias coisas
Filhos
Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos Como sabê-lo? [...]
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

(Vinícius de Moraes)
Filhos – responsabilidades dos pais
• Bíblia - Os pais são responsáveis perante o Senhor pelo modo como educam e orientam seus filhos, pois
“Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão de um
homem valoroso, assim são os filhos da mocidade. Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava;
não serão confundidos (…)” (Salmos 127:3–5)
• Legislação – As crianças foram reconhecidas como sujeitos de direitos e, a legislação impôs prioridade aos
interesses dos filhos em detrimento dos interesses dos pais.
• Constituição – O ordenamento jurídico brasileiro atribui aos pais certos deveres, em virtude do exercício do
poder familiar. A Constituição Federal, em seu art. 227, atribui à família o dever de educar, bem como o
dever de convivência e o respeito à dignidade dos filhos, devendo esta, sempre primar pelo
desenvolvimento saudável do menor. No mesmo sentido, o art. 229 da CF/88 atribui aos pais o dever de
assistir, criar e educar os filhos.
• Estatuto da Criança – Ademais, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil brasileiro
evidenciam a existência de deveres intrínsecos aos poder familiar, conferindo aos pais, obrigações não
somente do ponto de vista material, mas especialmente, afetivas, morais e psíquicas. Nesse sentido o artigo
3º do ECA preceitua que toda criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade
• Código Civil – No mesmo sentido O Código Civil, em seu artigo 1.634, impõe como deveres conjugais, o
sustento, criação, guarda, companhia e educação dos filhos (1.566, IV). Já os artigos 1.583 a 1.590
discorrem sobre a proteção dos filhos em caso de rompimento da sociedade conjugal.
Filhos
Os pais precisam está preparados emocionalmente para gerar, receber e criar seus
filhos com capacidade para reconhecer e identificar as próprias emoções e
sentimentos, pois desde a gestação todas as experiências vividas pela criança, farão
para sempre parte dela, conforme Donald W. Winnicott. O cuidado e o carinho dos
pais para com os filhos são de fundamental importância e devem acontecer desde a
concepção, durante o parto e no nascimento, bem como, crescer gradativamente
durante a infância e adolescência, estreitando os laços entre pais e filhos.
A falta de afeto de um dos pais pode deixar sequelas na personalidade de uma
criança que está em pleno desenvolvimento

Amor + limites
A base
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos,
e não tivesse amor,
seria como metal que soa ou como sino que tine.
E ainda eu tivesse o dom da profecia, e toda a ciência,
e ainda tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes,
e não tivesse amor nada seria ...
O amor é sofredor, é benigno;
o amor não é invejoso;
o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece ...
Agora, pois permanecem a fé, a esperança e o amor,
estes três, mas o maior destes
é o amor".

Corintios - cap. 13 Paulo


Filhos

Como ele vai ser, cor da pele, textura do cabelo, cor dos olhos, profissão, o que vai ou não fazer?
“Meu filho é normal, doutor?” Menino ou menina?
Se a enfermeira não dá logo a notícia, o pai trata de perguntar à primeira
pessoa que vê sair de branco da sala de parto, ansioso para confirmar
uma expectativa de nove meses. Sempre há alguma torcida (às vezes, o
machismo exigindo um filho homem; às vezes, a família inteira
querendo uma mulher para fazer companhia ao irmãozinho).
A construção da família – filhos
Coloque aqui o que você idealizou:
As expectativas
Muitos pais projetam nos filhos o que não conseguiram
realizar em suas própria vidas. A pressão pela perfeição
pode prejudicar crianças e jovens. Muitos desenvolvem
o medo de fracassar, baixa autoestima, depressão, ficam
ansiosos, tristes e começam a cobrar esta perfeição de si
próprios
As expectativas
Filho ideal
Imaginamos que ganharemos um livro em branco e poderemos
escrever nele o que bem entender. Isso é uma ilusão! Essa
fantasia de que os filhos são nossos faz com que percamos a
perspectiva e deixe de enxergar que eles são seres únicos que
nunca ouve e nem haverá outro igual.

O FILHO QUE VOCÊ IDEALIZOU NÃO NASCEU


• Esse sim que você educa, é real.
• Nossa função não é transformar nosso filho em outra coisa. É aceitá-lo, amá-lo,
protegê-lo, caminhar junto, ajudar a lidar com quem ele é, incentivar o melhor dele
sabendo que o melhor dele pode não ser o melhor que imaginei.
• As expectativas que temos sobre nossos filhos muitas vezes nos impedem de
enxergá-los e conhecê-los.
• Precisa trocar as suas lentes. Parar de olhar para o que você quer e olhar para o que a
criança é..
• Todas as palavras que são utilizadas para definir uma pessoa são só a sua opinião de
alguém, não são um fato em si. Fato é o que acontece. Opinião é o que você diz
sobre o que acontece.
• Mas a criança ainda não sabe disso, e começa a acreditar na opinião dos pais como se
fossem verdades absolutas. O problema é que dependendo de quais rótulos você usar,
podem levar a criança a não desenvolver um senso de pertencimento/aceitação e
importância. Ela acaba acreditando que é assim e começa a se comportar de
Refletindo...
• Pense na sua infância e tente se lembrar dos rótulos que recebeu:

• ________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
__________________O quanto isso te afetou? Gerou algum sentimento?

• ________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
__________________

• Agora pense no seu filho, você tem dado rótulos a ele? Quais?

• ________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
__________________

• O que acha que ele esteja sentindo ou venha sentir quando entender o que significa o que você está falando?

• ________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Lidando com o real
• É entrar no processo de luto: da morte do filho idealizado

É preciso matar o filho idealizado

Assim você consegue chegar no real, mas isso envolve lidar com um
processo de dor, tristeza, medo, ansiedade, raiva, angústia, frustração,
decepção, desespero, vergonha...
O filho está lá! É outro, completamente diferente do que foi desejado, mas
está lá, e o casal (muitas vezes somente a mãe) não tem autorização para
chorar e ficar de luto pelo filho que morreu.
Lidando com o real
Matar o filho idealizado é buscar a
ACEITAÇÃO do real como fase final de
elaboração deste luto
1. Ele não tem nada!
2. Por que comigo? Isso não é justo!
3. Deus... Eu prometo que servirei, darei aos pobres
4. Eu não vou suportar, pior coisa que me aconteceu...
5. Isso é real, vou me adaptar, farei o meu melhor...

Se o casal já não vive bem, marido e mulher


começam a culpar-se um ao outro. E logo vem a
rejeição.. Em outra fase, essa rejeição pode-se
transformar em superproteção
A morte do filho idealizado
Pode acontecer a qualquer momento:
Ao nascer, caso tenha algum tipo de deficiência física, sensorial e/ou mental imediatamente percebida;
“Seu filho é mongolóide” “Olhe, é um anãozinho!” “Essa criança é defeituosa”. A notícia cai como uma bomba
e a sensação que todos têm é de que você está desabando e o chão está fugindo debaixo dos pés. “Essa menina
não é minha filha”, reage a mãe ao ver a carinha do bebê que – só mais tarde ela vai saber – nasceu com a
síndrome de Down. A tempestade começa na maternidade, quando o problema é evidente e permite chegar a um
diagnóstico imediato. Mas, na grande maioria dos casos, é somente meses e até anos depois que surge ou se
identifica a excepcionalidade – grave ou leve – de uma criança que até aí tinha um desenvolvimento
aparentemente normal.
Durante o desenvolvimento, quando as deficiências física, sensorial e/ou mental tornam-se evidentes;
Ao surgirem doenças crônicas, graves e/ou estigmatizadas, tais como: diabetes, cardiopatias, HIV/aids,
psiquiátricas entre outras;
Ao longo da vida, em casos de acidentes/violência em que o filho se torna deficiente físico, mental e/ou
sensorial;
Ao longo da vida, caso se torne dependente de álcool ou outro tipo de droga.
Família e Sociedade
Cobrança: As pessoas ao redor cobram ações e atitudes, indiferentes ao
conflito de sentimentos dos pais. A cobrança mais comum é de que,
imediatamente, os pais aceitem, amem e cuidem desse filho que não era
esperado, idealizado e, muito menos, desejado.
Julgamento: Junto com a cobrança vem o julgamento, os pais não
amam/aceitam esse filho; ou não estavam preparados para serem pais;
ou as duas coisas. Além da cobrança e do julgamento, em geral, não há
mais nada. Aqueles pais tristes, assustados, angustiados e com medo, na
maioria das vezes, estão sozinhos.

DÊ LIMITES AS PESSOAS QUE NÃO VIVEM SUA REALIDADE SE PERCEBER


QUE SÓ QUEREM COBRAR OU JULGAR E SE APROXIME DE QUEM DESEJA
AJUDAR
Após um diagnóstico
Filho x família
A família não deve abrir mão de seu lazer, de seu bem estar e de
seus limites. A criança precisa ser tratada como um membro da
família e não como um soberano, a quem é tudo permitido.
Ninguém é culpado por ter uma criança especial na família.
Ninguém, portanto, precisa ser penalizado. Claro que existe o
stress que o convívio ocasiona, mas que pode ser atenuado, na
medida em que a família consegue canalizar suas expectativas.
Após um diagnóstico
O PAPEL DE PAIS é muito difícil, pois o SEU filho, não se desenvolveu
como o filho dos seus amigos, de seus vizinhos.
É uma realidade que pode ficar na sua cabeça com tom de comparação.

Tiveram que reescrever o projeto de vida a partir de uma realidade da


qual nada conheciam.

Muitos acertos, muitos erros. E é preciso ter coragem e perseverança


para mudar daquilo que sonhamos para o que conhecemos.
Após um diagnóstico
No Brasil, ainda se escondem os filhos excepcionais, é vergonha ter um
filho deficiente. O que existe não é preconceito, é uma dura realidade: o
homem não tolera quem é diferente. Os jesuítas que chegaram com os
descobridores portugueses não diziam que se podia matar os índios, porque
não tinham alma?” A chegada de uma criança excepcional, seja qual for a
deficiência, muda a vida dos pais. Muitos não suportam o peso e
sucumbem.
Um filho com deficiência mental obriga à convivência com o estigma,
discriminação, preconceito e desrespeito

“Uma vez, sem querer, bati o carrinho do mercado em uma mulher grávida e me desculpei.
Ao ver minha filha, a mulher começou a gritar que me distraí com minha filha e
acrescentou: “retardado não tem que vir no supermercado e grávida não tem que ver gente
assim”.
Ações
• Seja presente e atento aos sinais de desenvolvimento de seu filho.
• Procurem ajuda para esclarecimento, pois quanto mais cedo se instituir
um tratamento adequado, melhor o prognóstico.
• No início a família está diante de uma realidade que ainda lhe é
desconhecida, e que só deixará de sê-la quando esta for capaz de entrar
em contato consigo própria; o que significa a aceitação das situações
já estabelecidas. É nesse momento que a família se depara com seus
próprios preconceitos, que poderão caminhar para a rejeição ou para a
aceitação do diagnóstico.
Ações
• À família cabe buscar estar sempre informada. Seja conhecedor do
diagnóstico de seu filho. Seja curioso, busque leituras, vídeos, cursos...
• Não podemos ficar escondidos em nossas casas, achando que a vida é assim
mesmo. A vida será fruto de nossa capacidade de enfrentar as dificuldades,
buscando soluções que possam proporcionar uma existência com dignidade.
• Algumas vezes, a família acredita que faz a sua parte, sobrecarregando a
agenda de tratamentos de reabilitação, ou seja, centrando toda sua energia,
tempo e dinheiro numa parte específica daquele ser humano, tentando
enquadrá-la no padrão normal conhecido. Mas é importante perceber que a
criança como um ser completo, com necessidades que vão além das
dificuldades, intrínsecas a essa sua condição.
Trechos de um relato
Lembro-me de dizer a ela: “eu amo você, mas não aceito que você não
ande e não fale”. À noite, quando me deitava, rezava pedindo para que,
quando eu acordasse, a Beatriz fosse como as outras crianças da idade
dela. No dia seguinte, nada tinha mudado.
O segundo e o terceiro anos dela eu praticamente não vi passar, pois
estava muito ocupada correndo contra o tempo e acreditando que se eu
me esforçasse bastante e fizesse com ela todos os tratamentos disponíveis,
eu recuperaria o tempo perdido.
Fiz praticamente tudo o que diziam: “e se for verdade e eu não fiz?”, então
lá ia eu, literalmente em busca do milagre: orações de todas as religiões,
benzedeiras, curandeiros; tomar água no sino da vaca, benta, da primeira
chuva do ano, com casca de cigarra, de concha; gordura de carneiro nas
pernas; boneca para a menina milagreira da cidade tal; padre Donizetti, em
Tambaú, e por aí vai.
Trechos de um relato
Eu me perguntava o quê poderia ter feito. Os profissionais de
saúde perguntavam se eu tinha feito ou tomado alguma coisa, se
eu não estava esquecendo de nada. Minha mãe também queria
saber o que eu poderia ter feito e, a maioria das pessoas,
conhecidas ou não, também questionavam se tinha acontecido
“algo” durante a gravidez. Ou seja: a culpa era minha!
Mas, talvez para me consolar, diziam que a culpa também
poderia ser de outra pessoa: alguém invejoso, ou que me desejou
o mal; de um “trabalho” ou “macumba”, que certamente fizeram
contra mim. Também diziam que poderia ser culpa de alguma
coisa que eu fiz no passado ou em vidas passadas. Ou seja: eu
merecia!
Trecho de um relato
Eu queria falar sobre o que acontecia e desejava que as pessoas ouvissem,
validassem a dor que eu sentia e me dessem colo, mas geralmente diziam coisas do
tipo:
“Deus não dá nada que você não pode carregar”;
“essas crianças só vêm para pessoas muito especiais”;
“a lã não pesa para o carneiro”;
“Deus escolheu você”;
“é sua cruz”;
“você escolheu isso antes de nascer!
Sensação era de total solidão. Havia cansaço também, mas eu não podia parar, não
podia perder tempo. Por outro lado, tinha vontade de ficar deitada no escuro com
olhos fechados, quietinha; mas isso não estava no script.”.
Sobre a perfeição
O mito de Procusto
Uma antiga lenda grega nos conta sobre um homem rico, poderoso, cortês e
educado, de nome Procusto, que tinha por hábito convidar estranhos para seu
palácio. O hóspede era recebido com requinte: túnicas primorosamente
cortadas, vinhos muito especiais, iguarias inesquecíveis e... um leito
majestoso. Ao visitante porém um único problema se apresentava: encaixar-se
perfeitamente no leito. Se houvesse qualquer discrepância, entre os
tamanhos da cama e do convidado, este era cortado ou esticado para que se
adequasse às proporções devidas. A morte era quase certa! Só poucos e raros
convidados, absolutamente adequados à dimensão pré-estabelecida,
alcançavam a velhice.
Reflexão final
A dor de termos filhos diferentes, aprenderemos que não
conseguiremos extingui-la. De vez em quando, ainda
ficaremos tristes. Mas poderemos construir uma vida
significativa se nos dispusermos a entrar em contato com
nosso filho, porque aprenderemos que todo e qualquer
relacionamento se baseia no respeito às diferenças, e não
na transformação do outro naquilo que ele nunca poderá
ser. Aprenderemos a amar a criança pelo fato dele ter sido
escolhido a vir e a permanecer nesse mundo, ao seu lado.

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