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A Matematica Da Beleza PDF
A Matematica Da Beleza PDF
RESUMO
A fim de conhecer como a Matemática se manifesta em um grupo profissional específico, desenvolvemos o
presente estudo com o objetivo de destacar habilidades e conhecimentos matemáticos presentes na atividade
dos profissionais da beleza na realização de um corte de cabelo, ainda que usados intuitivamente. A
relevância deste trabalho reside na possibilidade de subsidiar os profissionais desta área, bem como os
professores de Matemática, para que possam se apropriar dele, utilizando-o em suas atividades – o
profissional da beleza aprimorando o seu trabalho e o professor contextualizando o ensino em sala de aula.
1. INTRODUÇÃO
De fato, encontramos a presença da Matemática, seja por meio de suas noções elementares
ou pela presença de seus elementos mais avançados, nas mais diferentes profissões, entre
elas, Administração, Arquitetura, Geologia, Odontologia, e observamos que o sucesso dos
profissionais destas áreas depende em parte de um bom domínio dos conteúdos
matemáticos. Todavia, diversas profissões, mesmo aquelas que não são desenvolvidas nas
universidades também exigem conhecimentos matemáticos, tais como a de cozinheiros,
pedreiros e de profissionais da beleza.
Esse interesse pode ser resultado da cultura do consumo, da moda e de tendências que o
mercado da beleza impõe, tanto aqui no Brasil como em qualquer lugar do mundo. Uma
1
Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Católica de Brasília, na
disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II, realizado sob a orientação do Prof. MSc. Cleyton Hércules
Gontijo.
das preocupações ligadas à estética refere-se ao tratamento dos cabelos e do uso de
diferentes tipos de cortes, que mudam ano a ano, obedecendo a padrões culturais e/ou de
consumo.
Em relação aos profissionais da beleza que lidam com tratamentos de cabelos, muitos não
tiveram a oportunidade de aprender todo o processo da “engenharia de corte” (ALVES,
2006), que é a área desta profissão que capacita para a realização de penteados e cortes de
cabelo, cujo aprendizado pode acontecer em centros especializados. Todavia, muitos
desses profissionais fazem usos dos processos da engenharia do corte de forma intuitiva,
explorando, entre outros conhecimentos, noções matemáticas. Essa Matemática foi
denominada por Posner (1982) como informal, pois sua transmissão e aprendizado
ocorrem fora do sistema de educação formal, todavia, conta com os mesmos processos
cognitivos.
Atualmente percebemos a importância que é dada aos saberes trazidos pelos alunos,
vivenciados em seu dia-a-dia. Estes saberes retratam a verdadeira realidade dos
educandos mostrada através de tarefa simples como andar de bicicleta ou subir uma
escada. Estes exemplos, explorados sob diversos pontos de vista, podem apresentar
significações matemáticas. Nesse sentido, cabe às instituições escolares aproveitarem
esses saberes do cotidiano para transformá-los em saberes científicos.
Ressalta-se que as escolas ainda não desenvolveram habilidades para aproveitar esses
saberes, e isso decorre dos modelos curriculares adotados para o ensino da Matemática.
Quanto a este aspecto, D’Ambrósio (1985) nos diz que a partir da década de 70, com o
“fracasso” das Matemáticas Modernas muitas correntes educacionais surgiram indicando
novas formas de apresentar a Matemática, tratando-a como um conhecimento universal e
construído a partir das experiências culturais dos povos. Com isso, passou-se a valorizar
o conhecimento que o aluno traz para a sala de aula, proveniente do seu social. Os
educadores matemáticos voltaram seus olhares para este outro tipo de conhecimento: o
do vendedor de rua, dos pedreiros, dos artesões, dos pescadores, das donas de casas na
suas cozinhas, etc. Todavia, essas práticas ainda não estão consolidadas e muitos
professores ainda tratam a Matemática como uma área estática, sem a possibilidade de
incorporar o conhecimento popular em suas atividades.
Para a realização deste estudo foram feitas visitas em três Centros de Educação
Profissional na área da beleza, nos quais entrevistamos professoras responsáveis por cada
um deles abordando a presença da Matemática na atividade do profissional da beleza,
especialmente dos cabeleireiros. A primeira entrevistada foi à professora Ana Alves, do
Fernando Alves Hair Academy, no Plano Piloto, em seguida a professora Maria
Auxiliadora, do Senac/Plano Piloto, e por último a professora Nilza Soares, também do
Senac, porém da unidade de Taguatinga. Além das entrevistas foram consultados materiais
impressos utilizados nos cursos de formação de cabeleireiro a fim de identificar as noções
matemáticas exploradas no processo de formação destes profissionais.
O trabalho está estruturado da seguinte forma: inicialmente apresentamos algumas
considerações acerca do que foi denominada engenharia do corte para em seguida explorar
os conhecimentos matemáticos presentes nesta área, especialmente as noções geométricas
envolvidas. Serão apresentadas ilustrações para indicar como a matemática se faz presente
na atividade do cabeleireiro e também trechos das entrevistas realizadas.
Apesar de Alves (2006) não apresentar uma definição para engenharia do corte, seu
trabalho evidencia que se refere a um conjunto de técnicas utilizadas pelo profissional
cabeleireiro para executar o seu trabalho, fundamentado em princípios matemáticos,
especialmente geométricos, envolvendo ângulos, simetria, proporção entre outros. As
ilustrações apresentadas em seu material descrevem como estes elementos matemáticos são
importantes para a execução de um trabalho com qualidade. Como dito inicialmente, o
material não faz uma apresentação formal da matemática presente na atividade profissional.
Todavia, noções de geometria são necessárias para a execução do trabalho do cabeleireiro.
O rosto torna-se uma das partes do corpo humano que mostra a existência de uma certa
simetria, porque ocupa espaço e tem peso; seus membros movem-se de acordo com certas
regras. Vale uma visita às medidas do rosto, sua geometria, relações entre essas medidas,
como por exemplo, nos cânones da beleza.
O homem não se satisfaz com impressões, desconfiando de sua própria intuição e, não
conseguindo explicar a beleza por critérios literários, procurou uma lei matemática que
regesse a beleza universal. Foi então que se orientou para as proporções. Se a harmonia não
se mede, o mesmo não sucede com a proporção, que é mensurável, servindo de medida aos
escultores, aos desenhadores, aos arquitetos, e que venha servir a beleza.
3. APLICAÇÕES MATEMÁTICAS
Nesta apostila, as técnicas são apresentadas por meio de vocabulário especifico relativo ao
trabalho do cabeleireiro, todavia, de fácil compreensão. A esse vocabulário estão
associados termos matemáticos de uso no campo da Geometria. A fim de harmonizar esses
dois campos, a apostila apresenta os conhecimentos preliminares para realização de um
corte de cabelo, inserindo a seguir figuras para ilustrar a representação geométrica da
“Engenharia de Corte”, destacando algumas partes destas figuras, desconectando-as em
pontos de referência, tais como verticais, diagonais superiores, diagonais inferiores e
horizontais.
Segundo Ana Alves, uma das entrevistadas deste estudo e responsável pelo curso de
cabeleireiro do Fernando Alves Hair Academy, “a engenharia de corte é um termo usado
para designar um conjunto de técnicas que servem de base para todos os tipos cortes”.
Nestas técnicas, as noções de desconexões fundamentais são importantes, pois indicam
linhas de corte que serão seguidas e que estas se apresentam sob formas geométricas.
Tendo essas linhas como referência, o profissional deve posicionar as mãos para segurar os
cabelos a partir de um ponto referencial, no alto da cabeça. Seguindo as linhas verticais,
procederá ao corte do cabelo que está à frente da cabeça. Observando as diagonais
superiores e inferiores, do centro para as laterais e a parte posterior da cabeça, ele irá cortar
o restante do cabelo. Ao final do corte, o profissional deverá ter uma visão precisa, como se
planificasse a forma do cabelo, de modo a verificar se o mesmo possui simetria em relação
à linha que divide a cabeça ao centro. Para realizar cortes em formas não padronizadas
(penteados especiais), estas mesmas orientações deverão ser seguidas, adaptando-as para
atender aos desejos dos clientes.
A Figura 1 nos mostra o traçado geométrico que o profissional deve fazer mentalmente para
executar o seu trabalho. Ele deve realizar um processo mental de divisão da cabeça, como
ilustrado, observando diferentes ângulos a partir dos quais procederá ao corte. Observamos
também, nesta figura, o destaque dado à simetria a partir de um ponto de referência,
destacada no formato do rosto. Ao observar os pontos destacados, o profissional associará
três elementos indispensáveis para o sucesso do seu trabalho: visão, precisão e arte.
A observação da Figura 1 nos permite dizer que o profissional da beleza deve possuir uma
boa habilidade espaço-visual, considerada fundamental para perceber padrões matemáticos
e regularidades. Essas habilidades podem se desenvolver naturalmente, todavia, o estímulo
recebido por meio da instrução formal poderá proporcionar avanços significativos no
desenvolvimento destas habilidades. Associado à percepção espaço-visual desenvolvem-se
competências para realizar estimativas e medidas, também fundamentais para o trabalho do
cabeleireiro. Ressalta-se que essas habilidades não necessariamente serão desenvolvidas
por mediação da escola, todavia esta pode potencializar esse desenvolvimento.
Quanto à questão da simetria, ressaltamos que do ponto de vista matemático, o seu estudo é
realizado por meio da observação das transformações dos objetos. Segundo Devlin (2002,
p. 152),
Para o matemático, uma transformação é um tipo especial de função. São
exemplos de transformações as rotações, as translações, as reflexões, os
alongamentos ou encolhimentos de um objecto. Numa figura, a simetria consiste
numa transformação que mantém a figura invariável na medida em que, depois de
submetida a essa transformação, mantém, globalmente, o seu aspecto inicial,
embora alguns de seus pontos possam ser deslocados em conseqüência da
mesma.
As Figuras 3.1 e 3.2, mostram etapas de corte de cabelo em estilo chanel com um
acabamento em base reta. A pretensão desta imagem é mostrar a divisão correta dos
cabelos das clientes, de modo, que execute o corte, de forma gradativa, a dar inicio por
onde foi pontilhado e que sigam as paralelas, mexa por mexa, para que ao final, consiga
total simetria.
A partir de sucessivas divisões dos cabelos em sessões do tipo visual parietal, em ambos os
lados da cabeça, chega-se ao corte perfeito, isto é, com simetria e proporção adequada à
cliente. Estas proporções estruturam o rosto, por exemplo, se a distância da base do queixo .
Do mesmo modo, se tomarmos como a distância desde a fenda bucal até a base do queixo,
deveríamos obter desde a base do nariz até a fenda bucal, e assim sucessivamente nas
diversas relações entre os vários segmentos.
Como podemos observar a Figura 3.2 que nos mostra com detalhe o corte já finalizado,
vista de perfil.
A Figura 5 nos mostra desenhos gráficos, um de perfil lateral e outro frontal, e em seguida,
um profissional, fazendo a aplicação de medidas na realização de um corte de cabelo,
medidas que são usadas de maneiras intuitivas, porém, consiste na necessidade de seguir
padrões.
Figura 6 – Degradada Interno (ALVES, 2006, p. 22).
Ana Alves que ministra o curso de cabeleireiro (Junior 6 e 8 meses), no Fernando Alves
Hair Academy, ressaltou a importância da Matemática na profissão do cabeleireiro,
especialmente para os profissionais que realizarão cortes de cabelo. Destacou também que
estes profissionais devem ter conhecimentos matemáticos para manipular produtos
químicos que serão utilizados na tintura e em outros tratamentos de cabelo, devendo esses
profissionais ter noções de proporção e leitura de medidas, especialmente relacionada a
capacidade e volume.
As outras entrevistadas, Maria Auxiliadora e Nilza Soares, que trabalham no SENAC, uma
no Plano Piloto e a outra em Taguatinga, e que ministram o curso Cabeleireiros 240 horas,
também tiveram o mesmo posicionamento, deram enorme relevância aos conteúdos
matemáticos, em especial a geometria. Elas informaram que um bom conhecimento e/ou
percepção espaço-visual é fundamental para aqueles que realizam coloração de cabelos,
especialmente quando fazem coloração de mexas, para que estas não fiquem
desproporcionais, acarretando na distribuição desigual das cores que comporão o penteado.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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