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XII
I Prefácio I
XIII
são insuficientes para prstar contas de todas as sutilezas da
tiplicidade de Funçõesdo signo literário.
É de certa forma comovente acompanhar os esforços
tíficos" de Barthes. Ele tinha uma cabeça organizadora, com
tidão para o rigor e a exaustividade.Mas, exatamentepor isso.
percebia a todo instante queggigor dasiência dos signosnunca
era suficiente para constituir um verdadeiro método científico
foi-se instalan-
do nele uma inapetência(um taio) por ssa ciência que eleaju-
dava a construir desconstruindo.
n _____gçrigrg_e a teoria correspondente vieram tirá-
Io dsse impase. A literatura, para ele, torna-se um saber ao qual
só tem aceso pela produ#o de um novo texto: texto mentalda
leitura, texto concretizado numa nova obra literária. Texto ao
o sujeito_nãepreexiste como sujeito-que-sabe,mas na p__
do o su•eito se cria e se recria, numa significância infinita-
mente aberta.
Seu interese crscente Fla psicanálise lacaniana, nos anos 70,
veio arruinar definitivamente aquelas veleidades cientificistas dos
anos anterior—. O discurso científico aparece-lhe como o indese-
jável "discurso dá Lei", e a escritura, "discurso do desejo", será sua
última opção.
A parte V ("O amante de signos") é uma
homenagem aos ins-
e aos com de sua aventura serniológica: Jakobson,
Benveniste,Kristeva,Genette, Metz.
artigos são tstemunh os
de um momento particularmente animado
do debate tórico em Pa-
ris, quando as pesquisas de vários
studiosos dos signos comuni-
cavam e se fecundavam umas às outras
de maneira stimulante•
A parte ("Leituras") é muito desigual. Reunindo
introd u-
çóes, e conferênciasde Barthes,
essa seção contém
O sabor de Barthes é a sua qualidade de escritor, sua capaci-
dade de introduzir o estranhamento da fórmula artística (surpre-
sa e prazer) no género ensaístico que ele pratica e renova: o jogo
com os significantes, a polifonia de uma enunciação sutil que tran-
ça, em seu texto, várias faixas de onda: inteligência, erudição, ironia,
humor, provocação, afeto.
Sua sabedoriaé o que constitui propriamente sua lição,já
que o sabor do escritor pode ser desfrutado mas nunca ensinado.
A lição de Barthes não se apresenta de forma assertivaou progra-
mática. Ela se reduz a algumas propostas básicas que atravessanlto-
das as fases de sua obra, variando na formulação, mas mantendo-se
firmes como posição assumida diante e dentro da linguagem.
O essencialdessa lição poderia ser assim resumido:
A linguagem não.é mero instrumento do homem; é ela que
constitui o homem. As línguas carregam uma história, trazem ne-
Ias as marcasde usos anteriores, e essa carga de passado entrava a
renovação do homem e as mudanças em sua história. Não basta,
pois, usar a linguagem com o intuito de comunicar sentidosno-
vos; é preciso trabalhar suas formasvlibertá-la do que ela tem de
estereotipado,de velho. Nenhuma linguagem é transparente011
inocente, e as que assim se propõem são suspeitas: "toda lingua-
gem que se ignora é de má-fé" ("Da ciência à literatura"). A escri-
tura —ou escrita poética —é a prática que melhor permite o au-
toconhecimento e a autocrítica da linguagem, assim como sua aber-
tura ao ainda não dito.
A libertação da linguagem, na escritura, não se alcançanum
espontanefsmo.O espontâneo, contrariamente ao que acreditam
os defensoresda "criatividadesolta", é o domínio do estereótipo'
"o campo do já-dito" ("Jovens pesquisadores"). A liberdade supóe
escolhae crítica, sem o que o próprio conceito de liberdade
faz sentido. Essas considerações de Barthes, reiteradas no presen-
te NOIume,são oportunas porque justamente aqui no Brasil tem
havido uma interpretação abusiva de sua teoria da escritura, assimi-
lada indevidamente ao criativo oba-oba, ao subjeti\0, ao
prazernuma boa. Ora, não se trata disso: "Ao contestar o discur-
so do cientista, a escritura não dispensa em nada as regras do tra-
balho científico" c Jovens pesquisadores"). A pluralidade de códi-
gos que a escritura põe em jogo exige, do sujeito, um vasto saber.
A escritura é desconstrução desse saber, e só se desconstrói o que
se conhececomo construído. Aqui no
esiano desiprender sem nunca ter aprendido, e partepara
a desconstruçãode um discurso cultural ainda extremamente frá-
gil, no particular e no co etivo. Ora, o prazer da escritura barthe-
sianase sustenta de um saber (plural, disseminado) e se alcança
num trabalhode linguagem. A escritura pratica o imaginário .com
plenoconhecimento de causa" ("Da ciência à literatura").
ue se efetua na escritura tende
O trabalho de linouaggps____—————.—--
parauma utopia: a utopia da isenção do sentido, que levaria à per-
cepçãofeliz d+umor da língua" • "Em seu estado utópico, a língua
seriaampliadatãdhãÁQ-Dnaturada, até formar uma imensa
tramasonora em que o aparelho semântico se acharia irrealizado"
("O rumor da língua"). Esse rumor da língua seria um não-senti-
do que permitiria ouvir, ao longe, um sentido novo "liberto de to-
dasas agressõesde que o signo, formado na 'triste e selvagem his-
tóriados homens', é a caixa de Pandora" (idem).
A empresa utópica de libertação e renovação da linguagem
se_desenvolve entre dois pólos perigosos: a bobagem e o ilegível.
Barths se sentia constantemente à beira de um desses precipícios.
"Ilegível"era um qualificativo que muitos empregavam a seu res-
peito;"tolo" era o que ele mesmo freqüentemente pensava de seu
I O rumorda lingua I
XVIII
I Prf,icio I
LEYLA PERRONE-MOISÉS