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educação e tecnologia educacion y tecnologia
Profa. Dra. Sonia Maria Macedo Allegretti; Profa. Dra. Ana Maria Di
Grado Hessel; Profa. Dra. Cláudia Coelho Hardagh; Prof. Me. José
Erigleidson da Silva
acesso
sumário
Ana Maria Di Grado Hessel Alguns teóricos nos auxiliam a interpretar esses cenários
digrado@uol.com.br educacionais no âmbito das redes sociais na internet, tais como
Vygotyski [1] representante do socioconstrutivismo e Siemens
Cláudia Coelho Hardagh [2] liderando as discussões sobre conectivismo.
Claudia.chardagh@sp.senac.br
1. Sites de rede social
José Erigleidson da Silva
erionline@gmail.com Boyd e Ellison [3] definem sites de rede social como serviços
baseados na Web 2.0 que permitem aos indivíduos construir
Grupo de pesquisa: EdViRt perfis públicos ou semipúblicos dentro de um sistema fechado,
Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da elencar outros usuários com os quais pode compartilhar
Inteligência e Design Digital conexões, ver e pesquisar as listas de conexões destes, bem
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP como aquelas feitas por outros usuários dentro do sistema.
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial- Senac-SP
Bozarth [4] entende o Facebook como um site que permite a
interação entre amigos, o agenciamento e o compartilhamento
RESUMO de muitas formas de mídias sociais (mensagens, fotos, vídeos,
links) e a discussão em grupo ou acompanhamento de
O texto trata do potencial para a aprendizagem nos ambientes informações por meio de assinatura de páginas especializadas
de rede social, mais especificamente no Facebook. Neste em temas específicos (fan pages).
espaço, a conectividade é uma característica fundamental para
o fluxo e a convergência de pessoas e de materiais digitais. O Algumas vantagens do serviço podem favorecer o uso
estudo apresenta dois relatos de experiência com a formação educacional do Facebook, a saber: facilidade de conversação,
continuada e com a formação universitária. Além de auxílio na diminuição das relações hierárquicas de poder entre
apresentarem o contexto, colocam em relevo os depoimentos professor e alunos, melhora do nível de relacionamento,
dos participantes dos cursos, coletados sob vários formatos. As suporte à interação entre alunos, rompendo com o discurso
opiniões revelam que a plataforma favorece as conexões, que limitado tipo aluno-professor; possibilidade de substituir
se estabelecem com facilidade; permite que os conteúdos sistemas de gerenciamento de aprendizagem (Learning
sejam organizados em nós da rede para acesso rápido. A Management System) formais como o Moodle e Blackboard,
dinâmica do ambiente pode propiciar, portanto, o entre outros. Além dessas características comunicacionais e de
compartilhamento de conhecimento, bem como futuras interatividade, temos a possibilidade de pensar numa
experiências de aprendizagem interativa e colaborativa. aprendizagem com currículo flexível, transgredir o tempo e
espaço formal, bem como oferecer novas formas de tratar o
Palavras-chave: Facebook, Redes Sociais, Aprendizagem, conhecimento no âmbito escolar. Hardagh [5] chama este
Conectivismo, Educação a Distância modelo de escola expandida.
Este estudo procura compreender como as redes sociais de No lugar de uma representação em escalas
internet podem favorecer o processo de ensino-aprendizagem, lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas
pois segundo as tendências educacionais da cultura atual, o em “níveis”, organizadas pela noção de pré-
ciberespaço é reconhecido como locus privilegiado para os requisitos e convergindo para saberes
processos de aquisição e construção do conhecimento. No “superiores”, a partir de agora devemos
ciberespaço, o processo comunicativo se intensifica e permite a preferir a imagem de espaços de
vivência de um currículo aberto e flexível, em oposição à conhecimentos emergentes, abertos,
concepção de um currículo mais tradicional. contínuos, em fluxo, não lineares, se
reorganizando de acordo com os objetivos ou
Os sites de rede social, tal como o Facebook, têm sido os contextos, nos quais cada um ocupa uma
utilizados como espaço de aprendizagem em diferentes posição singular e evolutiva (p.158).
contextos de formação, por facilitar a convergência e o
compartilhamento de materiais de diferentes mídias. Em nosso entendimento, o uso educacional do Facebook
justifica-se, também, pela coerência com as tendências
educacionais na cibercultura: noção do conhecimento como • Aprendizagem e conhecimento apoiam-se na diversidade de
uma construção individual e coletiva, a aprendizagem opiniões;
participativa, a autoria e coautoria, o compartilhamento, a • Aprendizagem é um processo de conectar nós especializados
integração das tecnologias digitais ao currículo, a comunicação ou fontes de informação;
e aprendizagem interativas e a possibilidade de transgressão • Aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos;
do currículo escolar tradicional. • A capacidade de saber mais é mais crítica do que aquilo que é
conhecido atualmente;
2. Sociocontrutivismo e o conectivismo • É necessário cultivar e manter conexões para facilitar a
aprendizagem contínua;
O Facebook favorece o fluxo comunicacional por meio do • A habilidade de enxergar conexões entre áreas, ideias e
compartilhamento das mídias sociais, ou seja, o que está em conceitos é uma habilidade fundamental;
jogo é mesmo o fluxo de signos, a interação e a conectividade • Atualização (“currency” – conhecimento acurado e em dia) é
entre pessoas e conteúdos, dessa forma, em consonância com a intenção de todas as atividades de aprendizagem
o socioconstrutivismo de Vygotsky [1] e com o Conectivismo conectivistas;
proposto por Siemens [2]. Vale notar que no • A tomada de decisão é, por si só, um processo de
socioconstrutivismo a incorporação de signos pelo indivíduo é aprendizagem. Escolher o que aprender e o significado das
condição fundamental para o seu desenvolvimento cognitivo. informações que chegam é enxergar através das lentes de uma
realidade em mudança. Apesar de haver uma resposta certa
O interesse de Vygotsky [1] é pelos processos mentais agora, ela pode não ser adequada amanhã, devido a mudanças
superiores ou funções psicológicas superiores como, por nas condições que cercam a informação e que afetam a
exemplo, a linguagem e o pensamento, que se desenvolvem a decisão.
partir da relação do sujeito com a cultura. O pesquisador
enfatiza a importância dos signos como parte da construção do 3. Redes, conectivismo e ubiquidade
conhecimento: “(...) Aprender a direcionar os próprios
processos mentais com a ajuda de palavras ou signos é uma Tratamos das redes sociais na internet (RSI) como espaço
parte integrante do processo na formação de conceitos” ( coletivo e colaborativo para a comunicação, troca de
p.51). O desenvolvimento cognitivo ocorre pela internalização informação, aprofundamento de um determinado tema,
de instrumentos e signos via interação social, ou seja, pela pesquisa, ou seja, nosso foco como educadores é a
linguagem que se estabelece nas redes virtuais. Para reforçar o aprendizagem.
conceito de linguagem e conhecimento de Vygotsky[1]
encontramos em Maturana e Varela [7] o entendimento sobre Trazemos, para somar às teorias e propostas, a tecnologia
o ato cognitivo como uma ação efetiva no domínio do qual se móvel e ubíqua que tem reconfigurado as novas formas de
espera uma resposta. Para estes pesquisadores, o relação do homem com o mundo do trabalho, as relações dos
conhecimento é uma construção da linguagem. A noção de agentes da educação e, consequentemente do aluno e
linguagem trabalhada pelos autores é a referenciada e professor.
construída nas relações, que, por sua vez, são emocionais. Lévy
[6] reconhece a importância da teoria da cognição sistêmica, a No âmbito da formação regular e profissional atinge jovens,
teoria sócio-histórica e valoriza os aspectos voltados à futuros profissionais que devem atuar em novas bases de
valorização da linguagem e da cultura. Para Lévy [6] na teoria sociabilidade, de comunicação e produção intelectual e prática.
ecológica da cognição “eu” sou apenas um “micro ator” no
cenário que o engloba e o restringe durante o processo de Para Santaella [9], “a mobilidade, tanto no sentido de
construção do conhecimento. portabilidade, quanto de acesso à informação e principalmente
a mobilidade de pessoas mudam a relação entre a informação
A inteligência ou a cognição são o resultado de redes e o mundo. (...) Agora a informação pode estar nos lugares e
complexas onde interage um grande número de atores nosso corpo agir como browser” (p.35).
humanos, biológicos e técnicos. Não sou “eu” que sou
inteligente, mas “eu” com o grupo humano do qual sou A tecnologia móvel e a convergência das mídias
membro, com minha língua, com toda uma herança de desterritorializaram o espaço educacional institucionalizado,
métodos e tecnologias intelectuais [10]. resignificaram os atores envolvidos na aprendizagem, enfim a
Recentemente, Siemens [2] propôs uma nova teoria da organização curricular e administrativa é convidada para um
aprendizagem, o Conectivismo que, segundo ele, estaria redesenho, pois os mobile como celular, iPads, iPhones trazem
adaptada à era digital. Para esse autor, a capacidade que um a conectividade para qualquer lugar. O acesso à informação e
indivíduo tem para aprender estaria diretamente dependente seu compartilhamento não são limitados a escola, por horários
da sua capacidade para se conectar a informações específicas e rígidos e temas presos ao currículo, a educação formal se
para estabelecer conectividade com nós nas redes digitais que expande. O Second Life é um exemplo, as Universidades
lhe permita aprender mais. virtuais estão alocadas nos Campus virtuais.
Siemens [2] indica quais são os princípios do Conectivismo: Outro exemplo é o MIT que abriu seus conteúdos das aulas
para todos acessarem. As possibilidades de ocupação do
ciberespaço para aprendizagem, ainda são tímidas e o que
temos são modelos tradicionais, com material em PDF, acesso A modalidade tradicional caracteriza-se como: racional, pois
restrito, interatividade e linguagem híbrida multimidiática organiza, sintetiza, hierarquiza e relaciona a causa com seu
pouca explorada. efeito; lógico-matemática, pois é dedutiva, sequencial,
demonstrável e quantificável; reducionista-disjuntiva, pois
A cibercultura desenvolvida na década de 70, vinculada aos exclui os opostos, separa corpo e mente, separa intelecto e
computadores pessoais está em metamorfose com as espírito, emissão e recepção, lógico e intuitivo; centrada pois
tecnologias móveis e se firmando como cultura do século XXI. delimita.
Portanto é de grande importância estudar o potencial das
redes sociais na internet para a educação, bem como A modalidade interativa é intuitiva, pois conta com o
disseminar os resultados dos estudos e práticas. inesperado, o acaso, as junções não lineares e o ilógico; é
multissensorial pois dinamiza interações de múltiplas
4. Web 2.0 e ensino-aprendizagem habilidades sensoriais; é conexial, pois justapõe por algum tipo
de analogia, perfazendo roteiros originais não previstos,
O Facebook é um serviço que se insere no rol das mídias da colagens, significações para a rede de relações; é acentrada,
Web 2.0, as quais se caracterizam pela liberação do polo de pois admite a coexistência de muitos centros.
emissão, sendo também identificadas como “mídias de função
pós-massiva” [10]. 6. Cenários
O’Reilly [11] define a Web 2.0 como “um conjunto de A seguir relatamos duas experiências ou práticas que utilizam
tendências econômica, social e tecnológica que coletivamente ambiente de mídias sociais para promover aprendizagem
formam as bases para a próxima geração da internet – mais virtual. São apresentadas em dois cenários.
madura, um meio distintivo caracterizado pela participação do
usuário, abertura, e efeito de rede”. Cenário 1 - Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho
Vários autores destacam o potencial educacional das mídias
Web 2.0 [17] [5] [13]. A partir da leitura dos mesmos, podemos Com o intuito realizar uma investigação exploratória do
apontar as potencialidades pedagógicas favorecidas pela Web potencial do Facebook como um ambiente virtual de
2.0, como a autoria compartilhada; a construção coletiva de aprendizagem, a Escola Judicial do Tribunal Regional do
significados; a sociabilidade (redes e comunidades virtuais); o Trabalho realizou nessa plataforma o curso “Ambiente Pessoal
acesso a múltiplas bases de conhecimento; o protagonismo de Aprendizagem” (Figura 1). Pudemos inferir alguns dados a
(alunos como produtores de conteúdos e co-autores do respeito do uso da rede social, por meio de relatos avaliativos
currículo); aumento do fluxo de signos e a comunicação dos participantes sobre a experiência de formação.
interativa, ou seja, temos o conceito de rede que para Castells
[12] prioriza a rede como a nova “morfologia social” O objetivo geral do curso foi habilitar cada participante a criar
modificando a lógica do processo produtivo, de poder e de um Ambiente Pessoal de Aprendizagem, baseado no conceito
cultura. Desta forma a educação tem que se transformar na de competência. Em complemento, os objetivos específicos
sua essência organizativa de poder para liberar os fluxos de foram definidos para ampliar a proposta geral, ou seja: refletir
conhecimento e produção. sobre a aprendizagem e o potencial de aquisição de
conhecimento na Internet; mapear competências individuais;
Ao trabalharmos o conceito de rede como espaço para estudo avaliar fontes de informação na Internet; selecionar
e aprendizagem, estamos propondo a resignificação para o tecnologias para a criação de um Ambiente Pessoal de
ensino, pois, segundo Santaella [9], as redes nos livram das Aprendizagem baseado em competências.
escalas micro e macro – família, grupo, instituições, nação –
substituindo-as por conectividade. A hierarquia e o poder dão Dos 30 participantes inscritos, 15 concluíram o curso, 14
lugar a associações e conexões. indivíduos não acessaram o ambiente e um desistiu na
primeira semana, fato que indica uma evasão pequena entre
5. Interatividade aqueles que aderiram ao curso.
O evento foi estruturado em duas unidades sequenciais, nas
A interatividade representa a vida para os ambientes virtuais quais foram desenvolvidas atividades colaborativas por meio
de aprendizagem, pois possibilita o aprendizado colaborativo, de fóruns de discussão e atividades individuais que envolviam
o diálogo, a negociação social e a construção coletiva de apropriação de ferramentas e pesquisa de conteúdos na
conhecimento, deslocando, assim, os alunos da posição passiva Internet.
de receptores de conteúdos, para a posição de construtores do
conhecimento.
[1] VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o [14] RICHARDSON, W. Blogs, Wikis, Podcasts and Other
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Powerful Web Tools for Classrooms. Thousand Oaks, CA:
Paulo: Martins Fontes, 1999. Corwin Press, 2006.
[2] SIEMENS, G. Connectivism: A Learning Theory for the Digital [15] SILVA, J. Erigleidson. Operadores da Inteligência Coletiva
Age. In: International Journal of Instructional Technology and em Ambientes Virtuais de Aprendizagem. 2010. 202 f.
Distance Learning. v.2., n.1, 2005. Disponível em: Dissertação (Mestrado em Tecnologias da Inteligência e Design
http://www.itdl.org/Journal/Jan_05/index.htm. Acesso em Digital) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
05/08/2011. Paulo, 2010.
[3] BOYD, D. M.; ELLISON, N. B. Social network sites: Definition, [16] SILVA, Marcos. Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro:
history, and scholarship. Journal of Computer-Mediated Quartet, 2006.
Communication, v.13, n.11, article 11, 2007.
http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html . [17] ALLEGRETTI, S. Diversificando os ambientes de
Acesso em 14/08/2011. aprendizagem na formação de professores para o
desenvolvimento de uma nova cultura. Tese (Doutorado em
[4] BOZARTH, J. Social Media for Trainers: Techniques for Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação/
Enhancing and Extending Learning. San Francisco, CA: Pfeiffer, Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
2011. Paulo, 2003.