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COMPORTAMENTO DE UM SOLO COLAPSÍVEL AVALIADO A PARTIR DE

ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, E PREVISÃO DE RECALQUES


DEVIDOS À INUNDAÇÃO (COLAPSO)

João Barbosa de Souza Neto

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS


PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS
EM ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

___________________________________________

Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph.D.

___________________________________________
Prof. Roberto Quental Coutinho, D.Sc.

__________________________________________
Prof. Orencio Monje Vilar, D.Sc.

__________________________________________
Prof. Silvio Romero de Melo Ferreira, D.Sc.

__________________________________________
Prof. Francisco de Rezende Lopes, D.Sc.

__________________________________________
Prof. Fernando Artur Brasil Danziger, D.Sc.

__________________________________________
Prof. Márcio de Souza Soares de Almeida, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


AGOSTO DE 2004
ii

SOUZA NETO, JOÃO BARBOSA


Comportamento de um solo colapsível
avaliado a partir de ensaios de laboratório e
campo, e previsão de recalques devidos à
inundação (colapso). [Rio de Janeiro] 2004
XXXVI, 432 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,
D.Sc., Engenharia Civil, 2004)
Tese – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE.
1. Solos colapsíveis
2. Solos não saturados
3. Ensaios de campo
1. COPPE/UFRJ II. Título ( série )
iii

DEDICATÓRIA

A Deus;

meus pais, Abelardo (in memoriam) e Estefânia; e

meus irmãos.
iv

AGRADECIMENTOS

A DEUS que nunca tem me faltado quando necessito.

Aos meus familiares pelo amor, paciência e apoio que sempre me dedicaram.

Aos professores Willy Alvarenga Lacerda e Roberto Quental Coutinho pelo estímulo,
amizade e orientação.

Ao CNPq pelo suporte financeiro através da bolsa de estudo e pelo projeto PRONEX,
imprescindíveis durante a realização deste trabalho.

À Universidade Federal de Pernambuco por ter me cedido as instalações do Laboratório


de Solos para o desenvolvimento dos estudos experimentais desta pesquisa.

À Prefeitura de Petrolândia, através do Secretário de Obras Paulo Lucena, por ter


disponibilizado a Escola Agrícola para ser utilizado como Campo Experimental.

À Diretora da Escola Agrícola Dejanira por ter disponibilizado a infra-estrutura da


escola.

A Lagenésio da Master Solos pelo abatimento concedido no preço das sondagens.

Aos Professores do Departamento de Engenharia Civil da UFPE pelo apoio recebido


durante esta pesquisa.

Aos técnicos Francisco, Severino, Antônio Brito e João Telles do Laboratório de Solos
da UFPE pela ajuda nas atividades de campo e de laboratório.

À Professora Lúcia Valença do Departamento de Geologia da UFPE pela ajuda nas


análises mineralógicas e ao Professor Sílvio Romero (DEC/UFPE) pela ajuda nas
análises das micrografias.

Aos alunos de Iniciação Científica pelo apoio operacional, em especial Rafael Galvão.

Aos alunos da graduação Paulo e Alcides pelo apoio recebido no levantamento


topográfico e ao Departamento de Cartografia da UFPE por ter cedido os equipamentos
para a viabilização desta atividade.

Aos meus amigos do GEGEP/UFPE Joaquim, Sarita, Leonardo, Alan, Everaldo e Ana
Patrícia pela excelente convivência, especialmente, a Karina Dourado, Marília, Kalinny,
Isabela e Gustavo pela “Força Tarefa” montada na etapa final deste trabalho.
v

Aos amigos da República, Francisco Abreu, Roberto Gimarães, Carlos Carrilo, Patrício
Junqueira e Dona Luzmar pelo apoio recebido durante minha estadia no Rio.

Aos meus amigos Sílvia e Marcos Massao, o qual, apesar da distância, sempre
contribuiu com referências bibliográficas e com valiosas sugestões no meu trabalho.

Aos meus amigos da pós-graduação do DEC / UFPE pela convivência e incentivos


recebido durante esta pesquisa, a destacar: Veruschka, Márcio, Luciano e Rubier.

A todos os funcionários da área de Geotecnia da COPPE / UFRJ, pela atenção recebida


durante o curso, em especial Ana Nunes e Patrícia Pacheco.

Aos companheiros do METROREC pela amizade, estímulo e compreensão, em especial


Félix Rocha, José Cláudio, Sebastião, Marineide, Darmiton, José Inocêncio, Cícero e
José Carlos.
vi

Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessário para
a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc).

COMPORTAMENTO DE UM SOLO COLAPSÍVEL AVALIADO A PARTIR DE


ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO, E PREVISÃO DE RECALQUES
DEVIDOS À INUNDAÇÃO (COLAPSO)

João Barbosa de Souza Neto

Agosto/2004

Orientadores: Willy Alvarenga Lacerda


Roberto Quental Coutinho

Programa: Engenharia Civil

Esta tese apresenta um estudo envolvendo ensaios de campo e de laboratório


com os principais objetivos de: avaliar a variação no comportamento de um solo não
saturado de comportamento colapsível devido ao umedecimento; avaliar critérios de
identificação existentes na literatura para um solo colapsível regional; e avaliar métodos
de previsão de recalques de colapso de uma fundação superficial. Uma Escola Agrícola
que apresenta danos devido ao colapso do solo de fundação foi escolhida para servir de
campo experimental. No campo foram realizadas coletas de amostras, ensaios de
permeabilidade “in situ”, sondagens SPT-T, ensaios de colapso no campo através de
provas de carga em placa e um equipamento denominado Expansocolapsômetro
aperfeiçoado nesta pesquisa. No Laboratório foram realizados ensaios de caracterização,
estudos mineralógicos, curvas características do solo e estudo da colapsibilidade através
de ensaios edométricos convencionais e com sucção controlada. O resultado da pesquisa
revelou a existência de uma camada de solo com maior susceptibilidade ao colapso, o
que pode justificar os danos observados nas construções. Os resultados dos ensaios de
colapso “in situ” mostraram que os recalques de colapso tendem a se concentrar na
metade superior do bulbo de tensões. O Expansocolapsômetro mostrou ser um
equipamento promissor na identificação e previsão de recalques de colapso de uma
fundação superficial.
vii

Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the


requirements for the degree of Doctor of Sciences (D.Sc).

THE BEHAVIOR OF A COLLAPSIBLE SOIL EVALUATE THROUGH IN SITU


AND LABORATORY TESTINGS AND SETTLEMENT PREDICTION DUE TO
WETTING

João Barbosa de Souza Neto

August/2004

Advisors: Willy Alvarenga Lacerda


Roberto Quental Coutinho

Department: Civil Engineering

This thesis presents a study including in situ and laboratory testings aiming: to
evaluate the variation on behavior of an unsaturated soil with potential of collapse, due
to wetting; to discuss the procedures to identification of a collapsible regional soil; and
to evaluate predictions methods of collapse settlements of superficial foundation. The
studied area is an agricultural school located in Petrolândia city in site of collapsible
soils. In the field were performed many activities including SPT-T, in situ permeability
test, soil sampling, in situ permeability tests, soil sampling, in situ collapse testings
using a plate with a diameter of 0.80 m and the “down hole collapse test
(Expansecollapsometer)” . In the laboratory were performed characterization tests,
mineralogy studies, soil-water characteristic curve (SWCC), and conventional and
suction controlled collapse tests. The results of the investigation (research) showed the
presence of a layer with higher potential to collapse, which can justify the damages
observed in the buildings. The in situ collapse testings results showed that the collapse
settlements basically occurred in the halph upper part of the stress bulb. The equipment
Expasecollapsometer showed a single, economical and useful way as an identification
method and to provide parameters to collapse settlement predictions.
viii

ÍNDICE

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 1
I.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 1
I.2 OBJETIVOS 3
I.3 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS DA TESE 4

CAPÍTULO II - SOLOS NÃO SATURADOS DE COMPORTAMENTO 7


COLAPSÍVEL
II.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 7

II.1.2 Princípio de Tensões Efetivas e sua validade para solos não 8


saturados
II.2 CONCEITO DE COLAPSO 11
II.3 OCORRÊNCIA DE SOLOS COLAPSÍVEIS 12
II.4 ESTRUTURA DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 14
II.5 MECANISMO DE COLAPSO 15
II.6 ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM NO COLAPSO DOS 18
SOLOS

II.6.1 Umidade inicial do solo 19


II.6.2 Estado de tensão 21

II.6.3 Vazão de inundação 23


II.7 IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS COLAPSÍVEIS 24
II.7.1 Métodos indiretos 25
II.7.1.1 Baseados em ensaios de laboratório 25
II.7.1.2 Baseados em ensaios de campo 30
II.7.2 Métodos diretos 32
II.7.2.1 Ensaios de laboratório 32
II.7.2.2 Ensaios de campo 36
II.8 PREVISÃO DE RECALQUES DE COLAPSO 44
II.8.1 Considerações preliminares 44

II.8.2 Ensaio edométrico duplo 52


ix

II.8.2.1 Proposta de JENNINGS e KNIGHT (1957 e 1975) 52


II.8.3 Ensaio edométrico simples 56
II.8.3.1 Proposta de HOUSTON et al. (1988) 56
II.9 MODELOS CONSTITUTIVOS PARA SOLOS NÃO SATURADOS 60
II.9.1 Modelos elásticos 60
II.9.1.1 Proposta de FREDLUND (1979) 60
II.9.1.2 Proposta de ALONSO et al. (1988) citado por FUTAI (1997) 61
II.9.2 Modelos elastoplásticos 62
II.9.2.1 Modelo de ALONSO, GENS e JOSA (1990) 63
II.9.2.2 Modelo WHEELER e SIVAKUMAR (1995) 72
II.9.2.3 Modelo de FUTAI (1997) 77
II.9.2.4 Ensaios para obtenção dos parâmetros dos modelos elastoplásticos 83
II.9.2.5 Considerações finais 86
II.10 EQUAÇÕES EMPÍRICAS PARA SOLOS NÃO SATURADOS 87
II.10.1 Equações da curva característica 88

II.10.2 Equações para a resistência ao cisalhamento 91

CAPÍTULO III - CAMPO EXPERIMENTAL E CARACTERIZAÇÃO 104


GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA
III.1 INTRODUÇÃO 104
III.2 CAMPO EXPERIMENTAL 104
III.2.1 Localização 104
III.2.2 Características geológicas e climáticas da região 105
III.3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA 114

III.3.1 Sondagem de simples reconhecimento com ensaio de penetração e 114


medida do torque (SPT-T)
III.3.2 Coleta de amostras 124

III.3.3 Ensaios de caracterização 125


III.3.3.1 Granulometria, peso específico relativo dos grãos (Gs) e limites de 126
consistência
III.3.3.2 Compactação 129
x

III.3.4 Índices físicos, perfis de umidade e de sucção 133


III.3.5 Ensaios de permeabilidade “in situ” 136
III.3.6 Análise mineralógica da fração granular 139

III.3.7 Análise mineralógica da fração fina (silte e argila) 142


III.3.8 Análise da micro-estrutura do solo 143
III.3.8.1 Preparação das amostras e equipamento utilizado 143
III.3.8.2 Apresentação e análise dos resultados 148
III.3.9 Curva característica 150
CAPÍTULO IV – COMPRESSIBILIDADE DO SOLO COLAPSÍVEL 157
IV.1 INTRODUÇÃO 157
IV.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SOLO 157
IV.3 METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS CONVENCIONAIS 158

IV.3.1 Ensaios inundados (EDI) e ensaios na umidade natural (EDN e 159


EDN*)
IV.3.2 Ensaios edométricos simples (EDS) 160
IV.3.3 Ensaios em amostras compactadas (EDIC e EDNC) 160
IV.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS 161
CONVENCIONAIS

IV.4.1 Ensaios edométricos convencionais realizados em amostras 161


indeformadas (EDN, EDI e EDN*)
IV.4.1.1 Curvas de compressão dos ensaios inundados (EDI) e na umidade 165
natural (EDN) referente à estação seca da região

IV.4.2 Influência da umidade inicial 174


IV.4.3 Influência da tensão vertical na deformação de colapso 180
IV.4.4 Ensaios edométricos simples (EDS) 185

IV.4.5 Ensaios em amostras compactadas (EDCI e EDCN) 196


IV.5 METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS COM SUCÇÃO 204
CONTROLADA
IV.5.1 Ensaio com sucção constante (EDSC) 204

IV.5.2 Ensaio de colapso com redução gradativa da sucção (CLRS) 206


IV.5.3 Ensaio edométrico com aumento e redução da sucção (EDSV) 209
xi

IV.6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 210


IV.6.1 Ensaios EDSC 210
IV.6.1.1 Tensão de Escoamento 219
IV.6.1.2 Parâmetros de compressibilidade λ(s) e κ(s) 225

IV.6.2 Ensaios de Colapso CLRS 228


IV.6.3 Ensaios EDSV 235
IV.6.4 Determinação dos parâmetros da superfície de escoamento (LC) 239
dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997)
IV.6.5 Previsão dos ensaios com sucção constante (EDSC) 245
IV.6.6 Previsão dos ensaios de colapso com redução gradativa da sucção 248
(CLRS)
CAPÍTULO V – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO 251
V.1 INTRODUÇÃO 251
V.2 METODOLOGIA DOS ENSAIOS 252

V.2.1 Ensaios de cisalhamento direto convencionais 253

V.2.2 Ensaios de cisalhamento direto com sucção controlada 252


V.2.3 Critério de ruptura 254
V.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 254

V.3.1 Ensaios de cisalhamento direto convencionais 254

V.3.2 Ensaios de cisalhamento direto com sucção controlada 268


V.4 ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA DO SOLO NÃO SATURADO A 282
PARTIR DA CURVA CARACTERÍSTICA
V.5 ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE CARGA 287

CAPÍTULO VI – ENSAIOS DE COLAPSO “IN SITU” - PROVAS DE 294


CARGA
VI.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 294
VI.2 ENSAIOS REALIZADOS 299

VI.2.1 Provas de carga em placa 300


VI.2.1.1 Locação e numeração dos ensaios 300
VI.2.1.2 Equipamento 301
VI.2.1.3 Procedimentos 305
xii

VI.2.1.4 Apresentação e discussão dos resultados 308


VI.2.1.4.1 Curvas tensão-recalque 308
VI.2.1.4.2 Avanço da frente de umedecimento 310
VI.2.1.4.3 Recalques de colapso versus tempo 313
VI.2.2 Ensaios com o equipamento Expansocolapsômetro 318
VI.2.2.1 Locação e numeração dos ensaios 319
VI.2.2.2 Equipamento 320
VI.2.2.3 Procedimentos 325
VI.2.2.4 Apresentação e discussão dos resultados 330
VI.2.2.4.1 Recalques de colapso versus tempo 330
VI.2.2.4.2 Curvas tensão-recalque 332
VI.2.2.4.3 Deformação de colapso 341

CAPÍTULO VII – IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA 345


COLAPSIBILIDADE DOS SOLOS E PREVISÃO
DE RECALQUES DE COLAPSO
VII.1 IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA COLAPSIBILIDADE DO 345
SOLO
VII.2 ENSAIO DE CAMPO (SPT-T) 345
VII.3 ENSAIOS DE LABORATÓRIO 346

VII.3.1 Métodos indiretos 346

VII.3.2 Métodos diretos (ensaios edométricos) 351


VII.3.2.1 Ensaio edométrico duplo – REGINATTO e FERRERO (1973) 351
VII.3.2.2 Classificação da colapsibilidade a partir dos resultados dos 354
ensaios edométricos simples (EDS)
VII.4 PREVISÃO DE RECALQUES 357

VII.4.1 Considerações preliminares 357


VII.4.2 Previsão a partir de ensaios edométricos 360
VII.4.2.1 Ensaio edométrico duplo – JENNINGS e KNIGHT (1957) e (1975) 360
VII.4.2.2 Ensaio edométrico simples 365
VII.4.3 Previsão dos recalques de colapso a partir dos ensaios ECT 367
VII.4.4 Comparação entre os recalques previstos, segundo os diferentes 369
di t lt d d i d f ê i (PC 01
xiii

procedimentos, com os resultados dos ensaios de referência (PC 01


e PC 02)
CAPÍTULO VIII - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS 372
PESQUISAS
VIII.1 PRINCIPAIS CONCLUSÕES 372
VIII.2 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 375
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 377
APÊNDICE A - DETERMINAÇÃO DA SUCÇÃO PELO MÉTODO DO 397
PAPEL FILTRO
APÊNDICE B - ENSAIO DE PERMEABILIDADE - PERMEÂMETRO 401
GUELPH
APÊNDICE C - METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS 409
C.1 INTRODUÇÃO 409
C.2 PROCEDIMENTOS GERAIS 410

C.2.1 Moldagem dos corpos-de-prova (CP) 410


C.2.1.1 Amostras indeformadas 410
C.2.1.2 Amostras compactadas 410

C.2.2 Ensaios convencionais 411

C.2.3 Ensaios com sucção controlada 412

C.2.4 Calibração das células edométricas 421


xiv

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO II - SOLOS NÃO SATURADOS DE COMPORTAMENTO

COLAPSÍVEL

Figura II.1 Modelos estruturais para solos colapsíveis (CLEMENCE e 14


FINBARR, 1981).

Figura II.2 Estrutura do Silte/Argila sugerida por CASAGRANDE (1932) 16


antes e após o colapso (HOUSTON et al., 1988).

Figura II.3 Ensaios edométricos: (a) Edométricos duplos; (b) Edométricos 19


simples.

Figura II.4 Influência da umidade inicial na compressibilidade de uma areia 20


siltosa colapsível (FERREIRA, 1995).

Figura II.5 Influência da tensão de inundação no colapso de uma areia 22


siltosa (FERREIRA, 1995).

Figura II.6 Resultado de um ensaio edométrico duplo em um solo 23


compactado apresentando expansão e colapso (LAWTON et al.,
1991).

Figura II.7 Classificação do grau de colapsibilidade do solo (BASMA e 28


TUNCER, 1992).

Figura II.8 Estimativa da deformação de colapso máxima (FUTAI, 2000). 29

Figura II.9 Representação esquemática de um ensaio edométrico duplo 33


indicando as tensões limites para o cálculo do coeficiente de
colapsibilidade (modificado de REGINATTO e FERRERO,
1973).

Figura II.10 Ilustração da metodologia proposta para a determinação do 37


colapso pressiométrico (KRATZ de OLIVEIRA et al., 1999).

Figura II.11 Equipamento “Expanso -colapsômetro” para realização de 39


ensaios de colapso no campo (FERREIRA e LACERDA, 1993).

Figura II.12 Equipamento do “Down -Hole Collapse Test” para realização de 41


ensaios de colapso “in situ” (MAHMOUD et al 1995)
xv

ensaios de colapso “in situ” (MAHMOUD et al., 1995).

Figura II.13 Fatores de influência da camada inundada para o primeiro e 42


segundo carregamentos para o “In -Situ Colapse Test”
(HOUSTON et al., 1995).

Figura II.14 Conceito básico de recalque adicional devido ao colapso da 44


estrutura do solo (JENNINGS e KNIGHT, 1975).

Figura II.15 Representação esquemática do colapso de uma fundação 46


superficial (adaptado de MAHMOUD et al., 1995).

Figura II.16 Representação esquemática das variações sazonais da umidade 47


ou grau de saturação em um perfil de solo não saturado e
homogêneo (HOUSTON e HOUSTON, 1997).

Figura II.17 Perfis de umidade para dois solos típicos de Pernambuco: (a) 48
Argila Expansiva do litoral (JUCÁ e PONTES FILHO, 1997);
(b) Areia Colapsível do semi-árido (FERREIRA, 1995).

Figura II.18 Ensaios de infiltração no campo e no laboratório (EL- 50


EHWANY e HOUSTON, 1990).

Figura II.19 Previsão de recalques de um ensaio de placa utilizando o 51


modelo elastoplástico de FUTAI (1997): a) previsão analítica
(CONCIANI, et al. 1998); b) previsão utilizando o programa
CRISPUNSAT de SILVA FILHO (1998) (FUTAI et al., 2001).

Figura II.20 Representação gráfica do ajuste das curvas segundo JENNINGS 53


e KNIGTH (1975).

Figura II.21 Comparação entre resultados de ensaios edométricos simples e 56


duplos: a) solo compactado (MASWOWE, 1985 citado por
ALONSO et al., 1987); b) loess (PHIEN-WEJ et al., 1992).

Figura II.22 Representação esquemática do resultado da inundação em solos 57


colapsíveis (HOUSTON, 1996).

Figura II.23 Curva de compressão de laboratório de acordo com a proposta 58


de HOUSTON et al. (1988).

Figura II.24 Perfil de solo referente aos dados da Tabela II.8 (HOUSTON et 59
al 1988)
xvi

al., 1988).

Figura II.25 a) Caminhos de tensões para carregamento isotrópico (p) e 64


sucção (s) constantes; b) superfícies de escoamento SI e LC
(ALONSO et al.,1987).

Figura II.26 Relação entre tensões de escoamento p 0 e p *0 : (a) curvas de 66

compressão isotrópica para o solo saturado e não saturado; (b)


caminhos de tensão e curvas de escoamento no plano de tensão
(p, s) (ALONSO et al., 1990).

Figura II.27 Superfícies de escoamento nos espaços: (a) (p,q) e (b) (p,s) 70
(ALONSO et al., 1990).

Figura II.28 Superfície de escoamento no espaço (p, q, s). 71

Figura II.29 (a) Caminho de tensões e (b) curvas de compressibilidade (v, p) 73


para definir a equação da superfície de escoamento LC
(WHEELER e SIVAKUMAR, 1995).

Figura II.30 Curva de escoamento no plano (p,q) para uma sucção constante 76
(WHEELER e SIVAKUMAR, 1995).

Figura II.31 Idealização do comportamento dos solos não saturados 77


submetidos à compressão isotrópica (FUTAI, 1997).

Figura II.32 Parâmetros Nf e pf no espaço (v,p) (FUTAI, 1997). 79

Figura II.33 Parâmetros Nf e pf para λ(s) decrescente (FUTAI, 1997). 83

Figura II.34 Caminho de tensões e deformações produzidas para diferentes 84


sucções e carregamento isotrópico.

Figura II.35 Caminho de sucções e deformações produzidas para tensão 85


isotrópica constante.

Figura II.36 Ensaios de cisalhamento em diferentes sucções. 85

Figura II.37 Caminhos de tensões múltiplos para obtenção dos parâmetros do 86


modelo (ALONSO et al., 1990).

Figura II.38 Definição de variáveis associadas à curva característica 89


(FREDLUND e XING, 1994).
xvii

Figura II.39 Típicas curvas características para três solos distintos 91


(FREDLUND e XING, 1994).

Figura II.40 Envoltória de resistência para solos não saturados no espaço 93


tridimensional (FREDLUND et al., 1978).

Figura II.41 Projeção da envoltória de resistência no plano τ vs (ua-uw) 94


(FREDLUND et al., 1978).

Figura II.42 Projeção da envoltória de resistência no plano τ vs (σn-ua) 94


(FREDLUND et al., 1978).

Figura II.43 Variação da relação φb/φ’ com a sucção matricial para típicos 96
solos brasileiros (De CAMPOS, 1997).

Figura II.44 Linearização da envoltória de ruptura em solos não saturados 96


(De CAMPOS, 1997).

Figura II.45 (a) Representação gráfica da Equação II.95; (b) Ajuste da elipse 97
de grau 2,5 dos dados experimentais (ESCÁRIO e JUCÁ,
1989).

Figura II.46 Prováveis variações na área de água em diferentes estágios de 99


curva característica (VANAPALLI et al., 1996).

Figura II.47 (a) Típica curva característica; (b) Comportamento de 100


resistência ao cisalhamento associado à curva característica
(VANAPALLI et al., 1996).

CAPÍTULO III - CAMPO EXPERIMENTAL E CARACTERIZAÇÃO


GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

Figura III.1 Localização do Campo Experimental (Escola Agrícola) no 107


município de Petrolândia – PE (modificado de FERREIRA,
1995).

Figura III.2 Exemplos de danos provocados por colapso do solo. 108

Figura III.3 Precipitação: ano 2000 a 2002 e média mensal dos últimos 30 109
anos no município de Petrolândia - PE (LAMEPE / ITEP).

Figura III.4 Precipitações anuais: período de 2000 a 2002 e média dos 111
últimos 30 anos (LAMEPE / ITEP)
xviii

últimos 30 anos (LAMEPE / ITEP).

Figura III.5 Índice de Aridez – Petrolândia-PE (modificado de FERREIRA, 113


1995).

Figura III.6 Variação na vegetação local (Umburana-de-cheiro) devido às 113


variações climáticas.

Figura III.7 Locação da área de estudo em relação ao campo experimental. 115

Figura III.8 Locação das atividades de campo realizadas na área de estudo. 116

Figura III.9 Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade e grau 118
de saturação – furos SPT-T1 e SPT-T1b.

Figura III.10 Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade – furo 119
SPT-T2.

Figura III.11 Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade – furo 119
SPT-T3.

Figura III.12 Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade – furo 120
SPT-T4.

Figura III.13 Seções geológico-geotécnicas do Campo Experimental. 121

Figura III.14 Resumo da campanha de amostragem. 125

Figura III.15 Curvas granulométricas - ensaio com defloculante. 126

Figura III.16 Curvas granulométricas - ensaio sem defloculante. 127

Figura III.17 Curvas de compactação – ensaio Proctor Normal com reuso da 132
amostra.

Figura III.18 Variação da granulometria sem defloculante, umidade, grau de 134


saturação e sucção com a profundidade, obtidos durante a
amostragem (Julho/2001).

Figura III.19 Variação do peso específico seco (γd), peso específico natural 136
(γnat) e do índice de vazios com a profundidade obtidos a partir
dos ensaios edométricos e de cisalhamento direto.

Figura III.20 Resultados de permeabilidade saturada Kfs “in situ” 138


(Permeâmetro Guelph)
xix

(Permeâmetro Guelph).

Figura III.21 Classificação da fração granular de um solo em função da 140


esfericidade (MITCHELL, 1993).

Figura III.22 Análise mineralógica da fração areia por lupa binocular. 141

Figura III.23 Difratogramas de Raio X da fração argila para amostra da 144


profundidade de 0,5 a 0,8m.

Figura III.24 Difratogramas de Raio X da fração argila para amostra da 145


profundidade de 1,0 a 1,3m.

Figura III.25 Difratogramas de Raio X da fração argila para amostra da 146


profundidade de 1,5 a 1,8m.

Figura III.26 Difratogramas de Raio X da fração silte – saturadas com 147


o
potássio e aquecidas a 25 C.

Figura III.27 Resultados de microscopia eletrônica de varredura (MEV). 149

Figura III.28 Curvas características: a) Blocos 1 e 2 (Prof.: 0,3-0,8m); 152


b)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,0-1,3m); c)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,5-
1,8m); e d)Blocos 5 e 7 (Prof. 2,0-2,3m).

Figura III.29 Curvas características: (ua-uw) vs θw, ajustadas segundo a 153


equação de VAN GENUTCHEN (1980): a) Blocos 1 e 2 (Prof.:
0,3-0,8m); b)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,0-1,3m); c)Blocos 5 e 6
(Prof.: 1,5-1,8m); e d)Blocos 5 e 7 (Prof. 2,0-2,3m).

Figura III.30 Curvas características: (ua-uw) vs S, ajustadas segundo a 154


equação de VAN GENUTCHEN (1980): a) Blocos 1 e 2 (Prof.:
0,3-0,8m); b)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,0-1,3m); c)Blocos 5 e 6
(Prof.: 1,5-1,8m); e d)Blocos 5 e 7 (Prof. 2,0-2,3m).

CAPÍTULO IV – COMPRESSIBILIDADE DO SOLO COLAPSÍVEL

Figura IV.1 Valores médios, máximos e mínimos dos índices de vazios 163
iniciais de cada amostra.

Figura IV.2 Comparação entre os valores dos teores de umidade e graus de 163
saturação iniciais e finais dos corpos de provas dos ensaios na
xx

umidade natural (EDN e EDN*).

Figura IV.3 Curvas e versus σv log – ensaios inundados (EDI). 166

Figura IV.4 Curvas e versus σv log – ensaios na umidade natural da estação 167
seca (EDN).

Figura IV.5 Curvas εv versus σv log – ensaios inundados (EDI). 168

Figura IV.6 Curvas εv versus σv log – ensaios na umidade natural da estação 169
seca (EDN).

Figura IV.7 Escoamento de um solo estruturado (VAUGHAN, 1988). 171

Figura IV.8 Variação da granulometria sem defloculante, índice de vazios 172


inicial (eo), parâmetros de compressibilidade (Cc e Cs) e as
tensões de escoamento saturada (σvm) e na umidade natural
(σvmn) com a profundidade.

Figura IV.9 Curvas e versus σv log – ensaios inundados e na umidade 175


natural.

Figura IV.10 Curvas εv versus σv log – ensaios inundados e na umidade 176


natural.

Figura IV.11 Variação das deformações de colapso total e parcial com a 178
tensão vertical para as amostras da Camada I.

Figura IV.12 Idealização de um ensaio edométrico duplo em um solo não 182


saturado colapsível de elevada rigidez.

Figura IV.13 Variação das deformações de colapso com a tensão vertical 184
obtida a partir dos resultados dos ensaios edométricos duplos.

Figura IV.14 Curvas e versus σv log dos ensaios EDS e valores médios, 187
máximos e mínimos dos índices de vazios inicial.

Figura IV.15 Curvas εv versus σv log dos ensaios EDN e EDI valores médios, 188
máximos e mínimos dos índices de vazios inicial.

Figura IV.16 Comparação do coeficiente de colapso estrutural (i) e 190


deformação específica de colapso (εc).
xxi

Figura IV.17 Variação da deformação específica de colapso (εc) com a tensão 191
vertical de inundação (σvi) - ensaios edométricos simples (EDS).

Figura IV.18 Comparação entre deformação específica de colapso (εc) obtida 193
a partir de ensaios edométricos simples (EDS) e obtida a partir
de ensaios edométricos duplos (EDD): a) εc dos EDD obtidos a
partir das curvas médias dos ensaios EDI e EDN; b) εc dos EDE
obtidos a partir dos pares de curvas formados pelos ensaios
EDN menos compressíveis e pelos ensaios EDI mais
compressíveis.

Figura IV.19 Comparação entre deformação de colapso (εc) obtidas dos 195
ensaios EDS e previstas pelas propostas de BASMA e
TUNCER (1992).

Figura IV.20 Curvas εv versus σv log dos ensaios em amostras compactadas: 198
a) comparações entre as curva EDCI e EDCN, b) comparação
dos resultados dos ensaios EDCI e EDCN com os ensaios EDI e
EDN das amostras naturais – prof.: 0,5 a 0,8m.

Figura IV.21 Curvas εv versus σv log dos ensaios em amostras compactadas: 199
a) comparações entre as curva EDCI e EDCN, b) comparação
dos resultados dos ensaios EDCI e EDCN com os ensaios EDI e
EDN das amostras naturais – prof.: 1,0 a 1,3m.

Figura IV.22 Curvas εv versus σv log dos ensaios em amostras compactadas: 200
a) comparações entre as curvas EDCI e EDCN, b) comparação
dos resultados dos ensaios EDCI e EDCN com os ensaios EDI e
EDN das amostras naturais – prof.: 1,5 a 1,8m.

Figura IV.23 Comparação entre potencial de colapso do solo compactado e do 202


solo na condição natural: a) prof.: 0,5 a 0,8m; b) prof.: 1,0 a
1,3m; c) prof.: 1,5 a 1,8m.

Figura IV.24 Caminho de tensão seguido no ensaio tipo EDSC. 205

Figura IV.25 Típicas curvas de estabilização das deformações nos ensaios 205
EDSC.
xxii

Figura IV.26 Caminho de tensão para o ensaio tipo CLRS. 207

Figura IV.27 Curvas de estabilização durante a redução da sucção de um 208


ensaio CLRS – amostra de 1 a 1,3m de profundidade: a) curvas
correspondentes a todos os estágios de redução da sucção, b)
curvas correspondentes aos estágios de 100 a 500 kPa de sucção
(ampliação da Figura IV.27a).

Figura IV.28 Caminho de tensão para o ensaio EDSV. 210

Figura IV.29 Curvas de estabilização dos estágios de sucção no ensaio EDSV 211
para a amostras referentes a profundidade de 1,5 a 1,8m.

Figura IV.30 Comparação entre sucção e umidade volumétrica final dos 213
corpos de prova dos ensaios EDSC com a curva característica
do solo.

Figura IV.31 Resultados de ensaios edométricos EDSC na amostra de 1 a 215


1,3m: a) curvas e versus σv log, b) curvas εv versus σv log.

Figura IV.32 Resultados de ensaios edométricos EDSC na amostra de 1,5 a 216


1,8m: a) curvas e versus σv log, b) curvas εv versus σv log.

Figura IV.33 Resultados de ensaios edométricos EDSC na amostra de 2 a 217


2,3m: a) curvas e versus σv log, b) curvas εv versus σv log.

Figura IV.34 Variação da tensão de escoamento com a sucção – Curvas de 220


escoamento LC experimentais.

Figura IV.35 Ampliação do trecho de descarregamento-recarregamento dos 221


ensaios EDSC: a) caminho seguido no espaço (σv, s); b) curvas
εv versus σv log - Amostras de 1 a 1,3m (Camada I).

Figura IV.36 Ampliação do trecho de descarregamento-recarregamento dos 222


ensaios EDSC: a) caminho seguido no espaço (σv, s); b) curvas
εv versus σv log - Amostras de 1,5 a 1,8m (Camada II).

Figura IV.37 Ampliação do trecho de descarregamento-recarregamento dos 223


ensaios EDSC: a) caminho seguido no espaço (σv, s); b) curvas
εv versus σv log - Amostras de 2 a 2,3m (Camada II).
xxiii

Figura IV.38 Variação do parâmetro λ(s) com a sucção: a) amostra entre 1 a 226
1,3m (Camada I); b) amostra entre 1,5 a 1,8m (Camada II), e c)
amostra de 2 a 2,3m (Camada II).

Figura IV.39 Variação do parâmetro κ(s) com a sucção: a) amostra entre 1 a 227
1,3m (Camada I), b) amostra de 1,5 a 1,8m (Camada II), e c)
amostra entre 2 a 2,3m (Camada II).

Figura IV.40 Resultados de ensaios de colapso CLRS – Amostra entre 1 a 229


1,3m.

Figura IV.41 Resultados de ensaios de colapso CLRS – Amostra entre 1,5 a 230
1,8m.

Figura IV.42 Resultados de ensaios de colapso CLRS – Amostra entre 2 a 231


2,3m.

Figura IV.43 Curvas e versus σv log dos ensaios CLRS. 232

Figura IV.44 Comparação das deformações de colapso obtidas a partir dos 236
ensaios edométricos simples (EDS) e edométricos com sucção
controlada (CLRS).

Figura IV.45 Resultados dos ensaios EDSV. 238

Figura IV.46 Parâmetros do solo ajustados segundo os modelos 243


elastoplásticos propostos por ALONSO et al. (1990) e FUTAI
(1997) – amostra entre 1,0 e 1,3 m.

Figura IV.47 Parâmetros do solo ajustados segundo os modelos 244


elastoplásticos propostos por ALONSO et al. (1990) e FUTAI
(1997) – amostra entre 1,5 e 1,8 m..

Figura IV.48 Previsão do caminho de tensões dos ensaios edométricos EDSC 246
através dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997)
– amostra de 1 a 1,3m.

Figura IV.49 Previsão do caminho de tensões dos ensaios edométricos EDSC 247
através dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997)
– amostra de 1,5 a 1,8m.
xxiv

Figura IV.50 Previsão dos caminhos de tensões dos ensaios edométricos 249
CLRS através dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI
(1997).

Figura IV.51 Previsão das deformações de colapso através dos modelos de 250
ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997).

CAPÍTULO V - RESISTÊNCIA

Figura V.1 Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 0,5 a 256


0,8m (Camada I): a) ensaios inundados sob uma tensão σn; b)
ensaios na umidade natural.

Figura V.2 Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 1 a 1,3m 257


(camada I): a) ensaios inundados sob o top-cap; b) ensaios
inundados sob uma tensão σn.

Figura V.3 Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 1,5 a 258


1,8m (Camada II): a) ensaios inundados sob uma tensão σn; b)
ensaios na umidade natural.

Figura V.4 Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 2 a 2,3m 259


(Camada II): a) ensaios inundados sob uma tensão σn; b) ensaios
na umidade natural.

Figura V.5 Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 2,5 a 260


2,8m (Camada com SPT>50): a) ensaios inundados sob uma
tensão σn; b) ensaios na umidade natural.

Figura V.6 Envoltórias de resistência da amostra de 0,5 a 0,8m (Camada I) 264


– ensaios convencionais.

Figura V.7 Envoltórias de resistência da amostra de 1 a 1,3m (Camada I) – 264


ensaios convencionais.

Figura V.8 Envoltórias de resistência da amostra de 1,5 a 1,8m (Camada I) 265


– ensaios convencionais.

Figura V.9 Envoltórias de resistência da amostra de 2 a 2,3m (Camada II) – 265


ensaios convencionais.
xxv

Figura V.10 Envoltórias de resistência da amostra de 2,5 a 2,8m (SPT >50) – 266
ensaios convencionais.

Figura V.11 Variação dos parâmetros de resistência com a profundidade – 269


ensaios convencionais.

Figura V.12 Curvas tensão-deformação – amostra de 1 a 1,3m (Camada I) 271


dos ensaios com sucção controlada: a) sucção de 50kPa; b)
sucção de 500kPa.

Figura V.13 Curvas tensão-deformação dos ensaios com sucção controlada – 272
amostra de 1 a 1,3m ( Camada I) e sucção de 1000kPa.

Figura V.14 Curvas tensão-deformação – amostra de 1,5 a 1,8m (Camada II) 273
dos ensaios com sucção controlada: a) sucção de 50kPa; b)
sucção de 200kPa.

Figura V.15 Curvas tensão-deformação – amostra de 1,5 a 1,8m (Camada II) 274
dos ensaios com sucção controlada: a) sucção de 500kPa; b)
sucção de 1000kPa.

Figura V.16 Envoltória de resistência para diferentes valores de sucção – 276


amostra de 1 a 1,3m (Camada I).

Figura V.17 Envoltória de resistência para diferentes valores de sucção – 276


amostra de 1,5 a 1,8m (Camada II).

Figura V.18 Envoltórias de resistência dos ensaios com sucção controlada no 277
espaço (s, τ), ajustadas segundo a função hiperbólica de GENS
(1993) – amostra de 1 a 1,3m.

Figura V.19 Envoltórias de resistência dos ensaios com sucção controlada no 277
espaço (s, τ), ajustadas segundo a função hiperbólica de GENS
(1993) – amostra de 1,5 a 1,8m.

Figura V.20 Variação do descolamento vertical do corpo de prova na ruptura 279


com a sucção – amostra de 1 a 1,3m.

Figura V.21 Variação do descolamento vertical do corpo de prova na ruptura 279


com a sucção – amostra de 1 a 1,3m.
xxvi

Figura V.22 Variação da sucção limite (slim) com a tensão normal (σn). 280

Figura V.23 Variação do intercepto de coesão e do ângulo de atrito com a 282


sucção.

Figura V.24 Comparação entre dados experimentais e a envoltória de 284


resistência prevista segundo VANAPALLI et al. (1996) –
amostra de 1 a 1,3m.

Figura V.25 Comparação entre dados experimentais e a envoltória de 284


resistência, prevista segundo VANAPALLI et al. (1996) –
amostra de 1,5 a 1,8m.

Figura V.26 Comparação entre dados experimentais e a envoltória de 285


resistência prevista segundo ÖBERG e SÄLLFORS (1997) –
amostra de 1 a 1,3m.

Figura V.27 Comparação entre dados experimentais e a envoltória de 285


resistência prevista segundo ÖBERG e SÄLLFORS (1997) –
amostra de 1,5 a 1,8m.

Figura V.28 Variação dos pesos específicos com a profundidade: a) peso 289
específico seco (γd); b) peso específico natural (γnat); e peso
específico saturado (γsat).

Figura V.29 Resultados de provas de carga realizadas na areia colapsível de 291


Petrolândia (FUCALE, 2000).

CAPÍTULO VI – ENSAIOS DE COLAPSO “IN SITU” – PROVAS DE CARGA

Figura VI.1 Bulbo de tensões obtido experimentalmente (“Freiberg tests”) 295


para uma areia sob uma fundação rígida (KOEGLER e
SCHEIDIG, 1929 citados por TSCHEBOTARIOFF, 1973).

Figura VI.2 Relação entre recalques e larguras (diâmetros) de placas de 297


carga rígidas quadrada/cicular e fundações para carga aplicada
de 200 kPa (REZNIK, 1993).

Figura VI.3 Carga de colapso determinada com pré-inundação do solo 298


(CINTRA, 1998).
xxvii

Figura VI.4 Resultados de provas de carga realizadas na areia colapsível de 301


Petrolândia (FUCALE, 2000).
Figura VI.5 Representação esquemática da montagem da prova de carga. 302

Figura VI.6 Fotografia ilustrando o ensaio antes da inundação. 303

Figura VI.7 Fotografia ilustrando a etapa de inundação do ensaio. 303

Figura VI.8 Representação esquemática da montagem do sistema de alarme 307


para acompanhamento da frente de umedecimento.

Figura VI.9 Perfis de umidade obtidos antes e após as provas de carga. 309

Figura VI.10 Curvas tensão vs. recalques das provas de carga. 309

Figura VI.11 a) Profundidade da frente de umedecimento em função do 311


tempo; b) Volume total de água consumido em cada
profundidade da frente de umedecimento (ensaio CP01).

Figura VI.12 a) Profundidade da frente de umedecimento em função do 311


tempo; b) Volume total de água consumido em cada
profundidade da frente de umedecimento (ensaio CP02).

Figura VI.13 Volume de água consumido para umedecer cada profundidade 312
do solo abaixo da placa.

Figura VI.14 Recalque, consumo de água e profundidade inundada em função 314


do tempo.

Figura VI.15 Resultados de prova de carga instrumentada em um solo 316


colapsível do Mato Grosso: (a) Variação da sucção com a
profundidade; (b) variação da sucção com o tempo; (c) curva
tensão-recalque; (d) curva tempo-recalque (CONCIANI, 1997).

Figura VI.16 Massa específica antes e após o ensaio obtida por tomografia 317
computadorizada (CONCIANI, 1997).

Figura VI.17 Representação esquemática das profundidades dos ensaios com 319
o Expansocolapsômetro, em relação ao bulbo de tensões dos
ensaios de referência.

Figura VI.18 Expansocolapsômetro: a) vista geral do ensaio; b) detalhe do 323


carregamento; c) sapata; d) detalhe da fixação dos
xxviii

extensômetros.

Figura VI.19 Sapata do Expansocolapsômetro: a) sapata; b) sapata 324


desmontada; c) luva; d) eixo e placa de transferência de carga;
e) placa inferior.

Figura VI.20 Representação esquemática do acoplamento do permeâmetro 326


Guelph com o Expansoolapsômetro.

Figura VI.21 Representação esquemática e detalhes do trado nivelador. 327

Figura VI.22 Variação da umidade do solo sob a sapata após o ensaio com o 329
Colapsômetro.

Figura VI.23 Curvas tempo-recalque de colapso obtidas a partir dos ensaios 331
com o Colapsômetro.

Figura VI.24 Curvas tempo-recalque de colapso e tempo-consumo de água 333


para o ensaio ECTA4-2, realizado na profundidade de 1,0m, sob
uma tensão de 15 kPa.

Figura VI.25 Curvas tempo-recalque de colapso e tempo-consumo de água 333


para o ensaio ECTA1B-1, realizado na profundidade de 1,0m,
sob uma tensão de 100 kPa.

Figura VI.26 Curvas tensão-recalque para os ensaios realizados na 334


profundidade de 0,5m.

Figura VI.27 Curvas tensão-recalque para os ensaios realizados na 334


profundidade de 1,0m.

Figura VI.28 Curvas tensão-recalque para os ensaios realizados na 335


profundidade de 1,5m.

Figura VI.29 Comparação entre os recalques, para o solo no estado natural 336
(antes da inundação), obtidos nos ensaios ECT e nas provas de
carga.

Figura VI.30 Variação dos recalques de colapso com a tensão vertical de 338
inundação.

Figura VI.31 (a) Granulometria sem defloculante, (b) peso específico seco 339
(γ ) ( ) l ifi ã d REGINATTO FERRERO (1973) (d)
xxix

(γd), (c) classificação de REGINATTO e FERRERO (1973), (d)


classificação de JENNINGS e KNIGHT (1975) e (e) recalques
de colapso obtidos a partir dos ensaios ECT.

Figura VI.32 Relação entre potencial de colapso de laboratório e potencial de 343


colapso de campo.

CAPÍTULO VII – IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA


COLAPSIBILIDADE DOS SOLOS E PREVISÃO DE
RECALQUES DE COLAPSO

Figura VII.1 Estimativa do grau de colapsibilidade segundo o ábaco de 349


BASMA e TUNCER (1992).

Figura VII.2 Comparação entre a tensão de escoamento saturada (σvms) e a 353

tensão geostática (σvo).

Figura VII.3 Variação da deformação de colapso (εc) e classificação do solo 356


segundo JENNINGS e KINGHT (1975) e LUTENEGGER e
SABER (1988).

Figura VII.4 Representação esquemática das profundidades das amostras e 359


dos ensaios ECT em relação ao bulbo de tensões das provas de
carga.

Figura VII.5 Variação da granulometria sem defloculante (a); do peso 359

específico natural, γnat, (b) distribuição das tensões transmitidas

ao solo pelo carregamento da placa, Δσv, (c) e (d).

Figura VII.6 Representação gráfica do ajuste das curvas segundo JENNINGS 361
e KNIGTH (1975).

Figura VII.7 Resultados dos ensaios edométricos (EDI e EDN) considerados 363
para compor o par de curvas dos ensaios edométricos duplos
(EDD).

Figura VII.8 Resultados dos ensaios edométricos duplos (EDD) ajustados 364
segundo procedimentos gráficos propostos por JENNINGS e
KNIGTH (1975): a) amostra entre 0,5 e 0,8 m; b) amostra entre
xxx

1,0 e 1,3 m; c) amostra entre 1,5 e 1,8 m; d) amostra entre 2,0 e


2,3 m.

Figura VII.9 Curvas de variação de deformação específica de colapso com a 366


tensão vertical de inundação (εc versus σv log) obtidas a partir
dos ensaios edométricos simples: a) amostra entre 0,5 e 0,8 m;
b) amostra entre 1,0 e 1,3 m; c) amostra entre 1,5 e 1,8 m; e d)
amostra entre 2,0 e 2,3 m.

Figura VII.10 Variação dos recalques de colapso com a tensão vertical de 368
inundação.

Figura VII.11 Comparação entre os recalques de colapso previstos e os 370


medidos no ensaio de referência PC01- σvi = 100kPa.

Figura VII.12 Comparação entre os recalques de colapso previstos e os 370


medidos no ensaio de referência PC02- σvi = 60kPa.

APÊNDICE A – DETERMINAÇÃO DA SUCÇÃO PELO MÉTODO DO PAPEL


FILTRO

Figura A.1 Tipos de fluxos do solo para o papel (MARINHO, 1994). 398

Figura A.2 Velocidade de secagem e umedecimento do Papel Filtro 399


Whatman 42, quando exposto à atmosfera do laboratório
(CHANDLER e GUTIERREZ, 1986).

APÊNDICE B – ENSAIO DE PERMEABILIDADE PERMEÂMETRO GUELPH

Figura B.1 Princípio do tubo de Mariotte (SOILMOISTURE, 1991). 401

Figura B.2 Composição básica do Permeâmetro Guelph 403


(SOILMOISTURE, 1991).

Figura B.3 Bulbo de solo saturado estabelecido a partir de uma carga 404
d’água constante (SOILMOISTURE, 1991).

Figura B.4 Curvas para obtenção do parâmetro C (CAMPOS, 1993). 404

Figura B.5 Representação esquemática do problema observado na 407


realização do ensaio de permeabilidade com o permeâmetro
Ghelph no solo colapsível de Petrolândia.
xxxi

Figura B.6 Representação esquemática da solução adotada para evitar a 408


penetração do tubo suporte no solo, durante a realização do
ensaio Guelph no solo colapsível de Petrolândia.

APÊNDICE C – METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS

Figura C.1 Edômetro de sucção contolada (ESCÁRIO, 1967 e 1969; 413


citados por FERREIRA, 1995).

Figura C.2 Adaptações na prensa do tipo Bishop para realização de ensaios 414
com a célula de sucção controlada (FERREIRA, 1995).

Figura C.3 Caminhos de tensões dos ensaios EDSC – Amostra de 1 a 1,3m. 415

Figura C.4 Caminhos de tensões dos ensaios EDSC – Amostra de 1,5 a 416
1,8m.

Figura C.5 Caminhos de tensões dos ensaios EDSC – Amostra de 2 a 2,3m. 417

Figura C.6 Caminhos de tensões dos ensaios CLRS. 418

Figura C.7 Caminhos de tensões dos ensaios EDSV – (a) amostra de 1 a 419
1,3m; (b) amostra de 1,5 a 1,8m.

Figura C.8 Curvas típicas de calibração das células convencionais: a) 423


diferentes conjuntos de célula e prensa; b) diferentes calibrações
para o mesmo conjunto de célula e prensa.

Figura C.9 Curvas típicas de calibração das células com sucção controlada: 423
a) diferentes conjuntos de célula e prensa; b) diferentes
calibrações para o mesmo conjunto de célula e prensa.

Figura C.10 Comparação de curvas de compressão edométricas com e sem 425


correção da deformação do sistema.

Figura C.11 Influência da deformação do sistema (εv(sistema)) sobre a 426


deformação total (εv(total)) representada pela relação
εv(sistema)/εv(total).

Figura C.12 Comparação entre os parâmetros de compressibilidade Cc e Cs 427


obtidos das curvas com e sem a correção da deformação do
sistema.
xxxii

Figura C.13 Comparação entre a deformação específica de colapso (εc) e o 427


coeficiente de colapso estrutural (i) obtidos dos resultados com
e sem a correção da deformação do sistema.

Figura C.14 Comparação entre os módulos edométricos (Eed) obtidos dos 429
resultados considerando e desconsiderando a deformação do
sistema.

Figura C.15 Variação do módulo edométrico (Eed) com a tensão vertical 430
média, com e sem a deformação do sistema.

Figura C.16 Relação entre a diferença entre o módulo edométrico com e sem 430
a correção da deformação do sistema e o módulo corrigido, em
função da tensão vertical média.

Figura C.17 Comparação entre as tensões de escoamento (σvm) obtidas dos 431
resultados dos ensaios com e sem a deformação do sistema.
xxxiii

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO II - SOLOS NÃO SATURADOS DE COMPORTAMENTO


COLAPSÍVEL
Tabela II.1 Principais expressões para tensões efetivas em solos não 9
saturados (JUCÁ, 1993).

Tabela II.2 Métodos indiretos e diretos de identificação de solos colapsíveis 26


(modificado de FERREIRA, 1995).

Tabela II.3 Critérios de identificação de solos colapsíveis (modificado de 27


FUTAI, 1997).

Tabela II.4 Valores típicos de NSPT para alguns solos colapsíveis da região 31
sudeste e centro-oeste.

Tabela II.5 Coeficiente de colapso com a carga aplicada ao cone, REZNIK 32


(1989).

Tabela II.6 Classificação da colapsibilidade nas obras de engenharia 34


(JENNINGS e KNIGHT, 1975).

Tabela II.7 Classificação da colapsibilidade em obras de engenharia 35


(LUTENEGGER e SABER, 1988).

Tabela II.8 Exemplo de aplicação do método de HOUSTON et al. (1988). 59

Tabela II.8 Equações de ajuste da curva característica (SANTOS, 2001). 92

CAPÍTULO III - CAMPO EXPERIMENTAL E CARACTERIZAÇÃO


GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

Tabela III.1 Precipitações pluviométricas em Petrolândia de 2000 a 2002 e 109


médias mensais dos últimos 30 anos (LAMEPE / ITEP).

Tabela III.2 Classificação do clima segundo o índice de aridez (De 112


MARTONNE citado por FERREIRA, 1995).

Tabela III.3 Precipitação anual e índice de aridez para Petrolândia-PE 112


(modificado de FERREIRA, 1995).
xxxiv

Tabela III.4 Resumo dos resultados de caracterização – ensaios com 128


defloculante.

Tabela III.5 Resumo dos resultados de granulometria – ensaios sem 128


defloculante.

Tabela III.6 Resumo dos resultados dos ensaios de compactação. 131

Tabela III.7 Resumo dos resultados dos ensaios de permeabilidade “in situ”. 138

Tabela III.8 Índices físicos dos CP utilizados na determinação da curva 156


característica.

CAPÍTULO IV – COMPRESSIBILIDADE DO SOLO COLAPSÍVEL

Tabela IV.1 Resumo da quantidade de ensaios edométricos realizados. 158

Tabela IV.2 Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios 162
EDN e EDI.

Tabela IV.3 Resumo dos resultados dos ensaios EDI e EDN. 171

Tabela IV.4 Condições iniciais e finais dos corpos de prova referentes aos 186
ensaios EDS.

Tabela IV.5 Condições iniciais, antes da inundação dos corpos de prova, 189
coeficientes de colapso estrutural (i) e deformações de colapso
(εc) obtidos dos ensaios EDS.

Tabela IV.6 Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios 197
EDCI e EDCN.

Tabela IV.7 Condições inicial e final dos corpos de prova referentes aos 211
ensaios EDSC.

Tabela IV.8 Umidade volumétrica final dos corpos de prova dos ensaios 212
EDSC.

Tabela IV.9 Parâmetros de compressibilidade e tensões de escoamento dos 218


ensaios EDSC.

Tabela IV.10 Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios 228
CLRS.
xxxv

Tabela IV.11 Resumo dos resultados dos ensaios CLRS. 235

Tabela IV.12 Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios 237
EDSV.

Tabela IV.13 Parâmetro ks obtidos dos ensaios EDSV. 239

Tabela IV.14 Parâmetros dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI 241
(1997), e as funções das superfícies de escoamento.

CAPÍTULO V - RESISTÊNCIA

Tabela V.1 Condição inicial dos corpos de prova dos ensaios de 255
cisalhamento direto convencionais.

Tabela V.2 Condições dos corpos de prova na ruptura dos ensaios 267
convencionais.

Tabela V.3 Condição dos corpos de prova pós-ruptura dos ensaios 268
convencionais na umidade natural.

Tabela V.4 Condição inicial dos corpos de prova dos ensaios de 270
cisalhamento direto com sucção controlada.

Tabela V.5 Condição dos corpos de prova na ruptura e parâmetros de 275


resistência dos ensaios com sucção controlada.

Tabela V.6 Parâmetros de ajuste das hipérboles (das Figuras V.18 e V.19). 280

Tabela. V.7 Parâmetros do solo para estimativa da resistência no estado não 283
saturado.

Tabela V.8 Resumo dos valores dos pesos específicos dos solos. 288

Tabela V.9 Resumo dos resultados das estimativas da capacidade de carga. 290

CAPÍTULO VI – ENSAIOS DE COLAPSO “IN SITU” - PROVAS DE CARGA

Tabela VI.1 Quantitativo de ensaios com o Expansolapsômetro. 320

Tabela VI.2 Principais características do Expansocolapsômetro 321


(FERREIRA, 1995) e do “Down Hole Collapse Test”
(MAHMOUD et al., 1995).

Tabela VI.3 Teores de umidade obtidos antes e após o ensaio. 328


xxxvi

Tabela VI.4 Recalques de colapso obtidos a partir dos ensaios ECT. 338

Tabela VI.5 Recalques de colapso normalizados dos ensaios de referência e 340


os correspondentes ensaios ECT na mesma tensão de inundação
(σvi).

Tabela VI.6 Deformações de colapso obtidas dos ensaios edométricos e dos 344
ensaios ECT.

CAPÍTULO VII – IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA


COLAPSIBILIDADE DOS SOLOS E PREVISÃO DE
RECALQUES DE COLAPSO

Tabela VII.1 Resumo dos parâmetros utilizados nos critérios de identificação 347
baseado nos índices físicos, características granulométricas e
plasticidade do solo.

Tabela VII.2 Identificação da colapsibilidade do solo a partir de índices 348


físicos, granulometria e plasticidade.

Tabela VII.3 Classificação da colapsibilidade do solo segundo REGINATTO 352


e FERRERO (1973).

Tabela VII.4 Resumo das previsões dos recalques de colapso a partir dos 362
resultados dos ensaios edométricos duplos.

Tabela VII.5 Resumo das previsões dos recalques de colapso a partir dos 365
resultados dos ensaios edométricos simples.

Tabela VII.6 Resumo das previsões dos recalques de colapso a partir dos 368
resultados dos ensaios ECT.

APÊNDICE C – METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS

Tabela C.1 Resumo da quantidade de ensaios edométricos realizados. 409


1

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

I.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O desenvolvimento de regiões áridas e semi-áridas tem conduzido os


engenheiros a lidar com solos cujo comportamento de engenharia não são condizentes
com o esperado na base da mecânica dos solos tradicional. Neste contexto, destacam-se
os problemas associados a solos colapsíveis. São solos não saturados, submetidos a um
determinado estado de tensão, que sofrem considerável redução de volume quando
submetidos a um eventual processo de umedecimento. As deformações são de tal
grandeza que as obras assentes sobre terrenos formados por estes solos não são capazes
de resisti-las, sem que apresentem algum dano.

O fenômeno do colapso tem-se mostrado como causa de vários danos em obras


de engenharia, tais como: canais, aterros, obras de construção civil (fundações), cortes
rodoviários e túneis (GUIMARÃES NETO, 1997). Um histórico de vários casos
registrados na literatura brasileira e internacional é relatado em CINTRA (1998). Em
geral, estes solos são caracterizados por apresentarem uma estrutura porosa, com
elevados índices de vazios e um teor de umidade muito inferior ao necessário para sua
completa saturação.

Dentre as obras de engenharia mais susceptíveis ao colapso as edificações de


pequeno e médio porte são as mais afetadas. Isto se deve, provavelmente, às baixas
tensões transmitidas às fundações, que são facilmente suportadas pelo solo no seu
estado natural (não saturado). Quando o solo, por qualquer razão, é submetido a um
aumento no grau de saturação há um substancial aumento na deformabilidade do solo,
resultando em recalques adicionais não previstos.

Os danos podem variar de algumas rachaduras nas edificações a recalques de


grandes proporções, que podem comprometer a estabilidade da superestrutura. Embora,
os danos provocados pelo colapso, geralmente, não resultem em perdas de vidas ou
grandes custos por evento, como ocorre em terremotos, os custos acumulados são
2

substanciais. LAWTON et al. (1992) relatam os custos envolvidos na recuperação de


danos associados ao colapso do solo de fundação em estruturas construídas no sudeste
da Califórnia. Em um dos projetos, o custo estimado foi de US$ 36.000.000. Para outros
projetos onde estes autores têm se envolvido, o custo total estimado dos danos foi
próximo a US$ 100.000.000. ROLLINS et al. (1994) relatam os danos apresentados em
uma casa de força construída em um depósito de solo colapsível, cujo custo de
remediação foi superior a US$ 20.000.000.

Embora sejam escassas as informações envolvendo custos de recuperação, vários


são os exemplos na literatura brasileira de danos em obras envolvendo solos colapsíveis.
No estado de Pernambuco, o tema passou a ter destaque no meio técnico após a
construção da barragem de Itaparica. No deslocamento de cidades estabelecidas às
margens do Rio São Francisco para áreas antes não ocupadas, envolvendo projetos de
assentamentos, os engenheiros vieram a se deparar com problemas de rachaduras em
várias residências recém construídas, resultando em um dispendioso trabalho de
recuperação. No caso de Petrolândia, em particular, várias obras ligadas aos governos
federal e municipal apresentaram graves danos, resultando na sua demolição e
reconstrução.

Dadas as características das obras envolvidas, raramente os projetos são


elaborados baseados em algum estudo geotécnico, o que, em alguns casos, é
compreensível, já que muitas delas restringem-se a residências de baixo custo. Quando
sim, os estudos limitam-se a sondagens de simples reconhecimento, o que não é a forma
mais adequada de selecionar parâmetros de projeto para fundações em solos colapsíveis.
Embora as tensões transmitidas ao solo de fundação estejam dentro dos critérios de
segurança quanto à ruptura, os recalques devidos a um eventual umedecimento podem
alcançar valores consideráveis, podendo caracterizar a ruptura do solo segundo os
critérios adotados em provas de carga, tal como a NBR 6489/84. A princípio o problema
de engenharia está associado à estimativa dos recalques, embora os limites entre colapso
e ruptura sejam difíceis de serem definidos.

Conforme os exemplos apresentados nos parágrafos anteriores, os custos totais


envolvendo danos em solos colapsíveis podem ser elevados, o que justifica o
investimento em investigação geotécnica, sobretudo na identificação de solos
colapsíveis, na obtenção de parâmetros de projeto e no desenvolvimento de métodos de
análises destinados à previsão dos recalques de colapso. Nesse sentido, vários autores, a
3

exemplo de HOUSTON et al. (1988), ROLLINS e ROGERS (1994), FERREIRA e


LACERDA (1993), CINTRA (1998) e FERREIRA et al. (2002) vêm conduzindo
extensiva pesquisa no tema, o qual será o enfoque central desta pesquisa.

Nesta tese apresenta-se um amplo estudo envolvendo ensaios de campo e de


laboratório. Os estudos de laboratório foram realizados no laboratório de solos da
UFPE, onde se dispõe de equipamentos para realização de ensaios com sucção
controlada. Estes ensaios são indispensáveis quando se pretende analisar as variações do
comportamento de um solo não saturado quando submetido à variação no grau de
saturação e, em conseqüência, na sucção.

Os estudos de campo foram realizados nas imediações de uma escola agrícola


que apresenta danos por conseqüência do colapso localizada no município de
Petrolândia-PE. Exemplos de casos envolvendo dados de obras em outras localidades
deste município e de soluções adotadas na recuperação destas obras podem ser
encontrados nos trabalhos de FERREIRA e TEIXEIRA (1989) e SOUZA et al. (1995).
Tal histórico torna o município de Petrolândia, como um todo, um excelente provedor
de campos experimentais para o desenvolvimento de pesquisas no tema envolvendo
solos colapsíveis.

I.2 OBJETIVOS

Os principais objetivos desta pesquisa são:

1) Caracterização geotécnica de um solo não saturado colapsível da região semi-


árida do Estado de Pernambuco.

2) avaliar as variações no comportamento de um solo não-saturado e colapsível,


quando submetido a um processo de umedecimento, por meio de ensaios de
laboratório e de campo;

3) avaliar critérios de identificação existentes na literatura para um solo colapsível


regional localizado no município de Petrolândia;

4) avaliar métodos de previsão dos recalques, devido à inundação, de uma


fundação superficial assente em um solo colapsível.
4

I.3 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS DA TESE

A tese está dividida em oito capítulos e três apêndices. Além deste apresentam-
se:

Capítulo II: “Solos não saturados de comportamento colapsível”.

Apresenta-se uma revisão bibliográfica sobre os solos não saturados de


comportamento colapsível, onde são enfatizados os aspectos estruturais, fatores que
influenciam no colapso dos solos, os critérios de identificação e classificações da
susceptibilidade dos solos quanto ao colapso, alguns métodos de previsões de recalques
devido ao colapso por inundação e, por fim, alguns modelos elastoplásticos para solos
não saturados que servirão de base nas análises do comportamento do solo em estudo
devido à variação da sucção.

Capítulo III: “Campo experimental e caracterização geológico-geotécnica”

Descrevem-se as principais características da região onde está inserido o campo


experimental, enfatizando-se os aspectos geológicos, morfológicos e climáticos. São
apresentados dados meteorológicos obtidos no período de desenvolvimento da pesquisa
(2000 a 2003). Apresenta-se um estudo de laboratório (caracterização, mineralogia,
curva característica) e de campo (coleta de amostra, sondagens SPT-T, topografia, perfis
de umidade e sucção) destinados a caracterizar o solo do ponto de vista geotécnico e
fornecer dados para avaliar métodos indiretos de identificação da colapsibilidade do
solo.

Capítulo IV: “Compressibilidade do solo colapsível”

Apresenta-se um detalhado estudo da compressibilidade do solo a partir de


ensaios edométricos convencionais e com sucção controlada. São discutidos aspectos
relativos à influência do caminho de tensões na colapsibilidade do solo. Avalia-se a
compressibilidade do solo sob diferentes graus de saturação e discute-se,
5

qualitativamente, a eficiência de técnicas de tratamento em solos colapsíveis que têm


como princípio o pré-umedecimento do solo ou remoção e compactação. Discutem-se
os resultados à luz da teoria dos estados críticos para solos não saturados e avalia-se a
aplicabilidade dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997) ao solo em
estudo.

Capítulo V: “Resistência”

Apresentam-se resultados de ensaios de cisalhamento direto convencional e com


sucção controlada. Avalia-se a aplicabilidade de propostas da literatura destinadas a
prever a variação da resistência de um solo não saturado com a sucção, a partir de
resultados de ensaios convencionais saturados e da curva característica. Utilizando-se a
teoria da capacidade de carga, procura-se avaliar a variação da tensão de ruptura do solo
a partir dos resultados dos ensaios de cisalhamento direto.

Capítulo VI: “Ensaios de colapso “in situ” - provas de carga”

Apresenta-se um conjunto de ensaios de colapso em placa destinados à avaliação


da colapsibilidade do solo no campo. Os ensaios foram divididos em dois grupos. No
primeiro grupo, utilizando-se placa de 80 cm, o objetivo principal dos ensaios foi servir
de referência para avaliar métodos de previsão de recalques de colapso de uma
hipotética fundação superficial. No segundo grupo, foram realizados ensaios de colapso
em placa de tamanho em miniatura (10 cm), utilizando o equipamento
“Expansocolapsômetro”, aperfeiçoado para esta finalidade. Este segundo grupo de
ensaio foi realizado com o objetivo avaliar no campo as variações volumétricas das
camadas do perfil e fornecer dados para previsão de recalques.

Capítulo VII. “Identificação e classificação da colapsibilidade dos solos e previsão de


recalques de colapso”

Neste capítulo são aplicados diferentes critérios de identificação e classificação


de solos colapsíveis no solo em estudo. Por fim são aplicados e comparados
procedimentos para prever os recalques de colapso medidos nas provas de carga em
6

placa (ensaios do primeiro grupo) a partir dos resultados dos ensaios edométricos
convencionais e dos resultados dos ensaios com o Expansocolapsômetro.

Capítulo VIII. “Conclusões e sugestões para futuras pesquisas”

Neste capítulo apresentam-se as principais conclusões e sugestões para o


desenvolvimento de novas pesquisas.

Apêndice A: “Determinação da sucção pelo método do papel filtro”

Apresenta-se uma síntese da técnica do papel filtro destinada à obtenção da


sucção do solo. Descreve-se a metodologia adotada na determinação da curva
característica e do perfil de sucção nesta pesquisa.

Apêndice B: “Ensaio de permeabilidade – permeâmetro Guelph”

Apresenta-se uma síntese do funcionamento do permeâmetro Guelph e o


procedimento adotado na realização dos ensaios de permeabilidade “in situ”.

Apêndice C: “Metodologia dos ensaios edométricos”

Descrevem-se os procedimentos adotados nos ensaios edométricos


convencionais e com sucção controlada. Apresentam-se os caminhos de tensões
seguidos nos ensaios com sucção controlada, resultados de ensaios de calibração do
sistema e discutem-se os efeitos da calibração nos parâmetros do solo.
7

CAPÍTULO II

SOLOS NÃO SATURADOS DE COMPORTAMENTO COLAPSÍVEL

II.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Solos não saturados são encontrados em quase todos os continentes. Sua


importância no meio geotécnico passou a ter destaque a partir do desenvolvimento de
regiões áridas, semi-áridas e tropicais, obrigando os engenheiros a lidar com materiais
com comportamento geotécnico distinto daqueles onde os conceitos da mecânica dos
solos tradicional foram elaborados.

A principal diferença entre solos saturados e os solos não saturados é a


existência de uma pressão negativa na água dos poros dos solos não saturados
comumente definida de sucção, a qual tende a aumentar a tensão intergranular e,
conseqüentemente, a resistência e rigidez do solo.

A sucção total em um solo é definida segundo duas componentes: a sucção


osmótica e a sucção matricial. A primeira está associada à concentração da solução no
solo, enquanto a segunda é resultante da associação de forças de adsorção (atração dos
sólidos do solo e os íons permutáveis da água) e de capilaridade gerada pela tensão
superficial. Dessa forma, a sucção total do solo pode ser assim equacionada:

s = so + sm II.1

Onde, so é a sucção osmótica e sm é a sucção matricial

Estudos de laboratório têm indicado que a sucção matricial é a componente


fundamental da sucção total que controla o comportamento mecânico de um solo não
saturado (ALONSO et al., 1987; FREDLUND, 1998). Quanto à parcela osmótica, há
divergência quanto à sua importância nas variações volumétricas e resistência do solo.
ALONSO et al. (1987) citam trabalhos de alguns pesquisadores indicando influência
importante da sucção osmótica nas variações volumétricas de solos não saturados.
8

Ressaltam, porém, que o efeito da sucção osmótica foi avaliado por meio de ensaios de
colapso ou expansão inundados com diferentes concentrações de sais. Este
comportamento é também observado em solos saturados quando submetidos a variações
na concentração do soluto na água do solo, sendo atribuído à interação química entre as
partículas de argila e os íons dissolvidos na água (MITCHELL, 1993).

A maioria dos autores, a exemplo de FREDLUND e MORGENSTERN (1976),


ALONSO et al. (1987), ALONSO et al. (1990) e muitos outros, têm considerado a
componente matricial da sucção total preponderante no comportamento mecânico dos
solos não saturados, sendo incorporada nas equações de modelos constitutivos.

Do ponto de vista prático, a sucção matricial tem sido definida como:

sm = ua - uw II.2

Sendo, ua pressão do ar nos poros e uw pressão na água dos poros.

A expressão representada pela Equação II.2 engloba tanto a parcela de adsorção


quanto a capilar. A importância de cada uma variará com o tipo de solo e o valor da
sucção, havendo situações, sob sucções elevadas, onde o efeito de adsorção dominará
sobre o capilar. Os limites de influência de cada parcela são de difícil definição. Em
solos argilosos muito plásticos, como as argilas expansivas, é possível existir sucção por
capilaridade da ordem de 2 MPa. Para outros tipos de solos submetidos a sucções
maiores que 100kPa, fenômenos como adsorção passam a ter um papel importante
(MARINHO e PEREIRA, 1998).

Nesta pesquisa será considerado que apenas a sucção matricial influenciará no


comportamento mecânico de um solo não saturado, assim como consideram ALONSO
et al. (1987), FREDLUND e RAHARDJO (1993), FUTAI (1997), VILAR e
MACHADO (1997) e muitos outros.

II.1.2 Princípio de Tensões Efetivas e sua validade para solos não saturados

O princípio das tensões efetivas tem sido a base do estudo do comportamento


mecânico de um solo saturado. A partir do fim da década de 50, vários autores
propuseram estender este princípio para os solos não saturados. Assim, várias
9

expressões foram apresentadas. Na Tabela II.1 está apresentada uma síntese destas
expressões reunidas por JUCÁ (1993), juntamente com as respectivas referências.

Tabela II.1. Principais expressões para tensões efetivas em solos não saturados (JUCÁ,
1993).

REFERÊNCIA EQUAÇÃO VARIÁVEIS

p” = pressão intersticial da
DONALD (1956) σ’= σ + p” (II.3)
água sob tensão atmosférica
β’ = fator de influência
CRONEY et al.
σ’= σ + β’. uw (II.4) medido de um número de
(1958)
ensaios sob tensão efetiva.
χ = parâmetro referente ao
BISHOP (1959) σ’= (σ - ua) + χ(ua-uw) (II.5)
grau de saturação.
aa = parte da área total que
corresponde ao contato ar-ar,
ó = óam + uaaa + uwa w + R - A
LAMBE (1960) R = força de repulsão
(II.6)
elétrica
A = força de atração elétrica
p” = poro-pressão de água
AITCHINSON
σ’= σ + Φp” (II.7) negativa;
(1961)
Φ = parâmetro entre 0 e 1
β = fator estatístico do
JENNINGS (1961) σ’= σ + β.p” (II.8) mesmo tipo que a área de
contato.
χm = parâmetro de tensão
efetiva para sucção matricial;
hm = sucção matricial;
σ’= σ - ua + χm(hm+ua)+ χs(hs+ua)
RICHARDS (1966) χs = parâmetro de tensão
(II.9)
efetiva para sucção
osmótica;
hs = sucção osmótica.
AITCHINSON p” = sucção matricial;
σ’= σ χm.p”m + χs.p”s (II.10)
(1973) p”s = sucção osmótica.
10

Várias dessas expressões foram discutidas em uma conferência sobre poro-


pressão e sucção em solos, realizada em Londres no ano de 1960, dentre as quais a
proposta de BISHOP (1959) foi a mais aceita.

σ’= ( σ - ua) + χ(ua-uw) II.5

A Equação II.5 pode ser reescrita na forma:

σ’= σ - [χ.uw + (1 - χ) ua] II.5a


= σ - u* II.5b

Onde o termo [χ.uw + (1 - χ) ua] é considerado como uma poro-pressão equivalente.

BISHOP e DONALD (1961) realizaram ensaios triaxiais em um silte não


saturado para validar a Equação II.5. A pressão da célula (σ3), a poro-pressão na água
(uw) e a poro-pressão no ar (ua) foram variadas durante o processo de cisalhamento, de
tal forma que ambas parcela (σ3-uw) e (ua-uw) permanecesse constante durante o ensaio.
Nenhum efeito no comportamento tensão-deformação foi observado por conseqüência
dessas variações. No entanto, uma variação em um dos termos (σ3-ua) ou (ua-uw)
resultou num considerável efeito no comportamento tensão deformação. Com base
nestes resultados, estes autores consideraram válida a equação proposta.

Baseados em resultados experimentais, a validade da Equação II.5 foi


questionada por JENNINGS e BURLAND (1962), pelo fato desta ser aplicável apenas a
uma limitada faixa de grau de saturação e tensão e não ser capaz de prever o colapso
(deformação de compressão). O umedecimento do solo aumentará a poro pressão
equivalente (reduzirá a sucção), reduzindo a tensão efetiva. Assim, de acordo com o
principio de tensões efetivas, a redução em σ’ deveria resultar em expansão e não em
colapso. Posteriormente, BISHOP e BLIGHT (1963) admitiram que a Equação II.5 se
adequaria melhor na avaliação do comportamento do solo quanto à resistência ao
cisalhamento do que para variações volumétricas. Outros autores, a exemplo de
BURLAND (1965), seguiram questionando a validade do princípio de tensões efetivas
para solos não saturados, especialmente com respeito à variação de volume.
11

Uma das causas da inaplicabilidade do princípio de tensões efetivas é a


dependência das variações volumétricas do caminho de tensões (σ; ua-uw), não podendo
assim expressar esta combinação em uma única expressão. A grande confirmação deste
fato veio através dos estudos de MATYAS e RADHAKRISHNA (1968). Estes autores
utilizam o conceito de superfície de estado1 para representar graficamente as relações
entre os parâmetros de estado2 de um solo não saturado submetido a um estado de
tensão isotrópico. Os parâmetros de estado podem ser relacionados por funções
matemáticas, definidas como funções de estado.

A superfície de estado foi proposta como sendo uma superfície constitutiva,


descrita como única, com independência entre as variáveis de estado. Tal fato não foi
constatado pelos experimentos de MATYAS e RADHAKRISHNA (1968), os quais
atribuíram esta não unicidade a histerese devido aos ciclos de carregamento e
descarregamento, e umedecimento e secagem.

Outros autores, a exemplo de BARDEN et al. (1969), FREDLUND e


MORGENSTERN (1976); ALONSO et al. (1987) e ALONSO et al. (1990) passaram a
adotar a mesma sistemática de MATYAS e RADHAKRISHNA (1968), abandonando
de vez o conceito de tensões efetivas e utilizando as variáveis de tensão σ1-ua e ua-uw,
σ1-σ3, para o estado triaxial e σ1-ua e ua-uw, para a condição edométrica.

II.2 CONCEITO DE COLAPSO

O colapso é o termo utilizado para os recalques adicionais de uma fundação


devido ao umedecimento de um solo não saturado, normalmente sem aumento nas
tensões aplicadas (JENNINGS e KNIGHT, 1975). Os solos não saturados sujeitos a este
fenômeno são, normalmente, denominados de “Solos Colapsíveis”.

______________________________________________________________________
1“
Superfície de Estado” de um elemento de solo é representada pelo conjunto de pontos, em um sistema
de eixos coordenados num espaço tridimensional, definidos pelas variáveis de estado e o estado de tensão.
2 “
Variáveis de Estado” ou “Parâmetros de Estado” são aquelas variáveis físicas do solo que são
necessárias e suficientes para descrever completamente o seu estado, independente de sua história
passada. Em solos não saturados estas variáveis são o índice de vazios e o grau de saturação
(POOROOSHAB, 1961 citado por MATYAS e RADHAKRISHNA, 1968).
12

II.3 OCORRÊNCIA DE SOLOS COLAPSÍVEIS

Geralmente a ocorrência de solos colapsíveis está relacionada a locais com


deficiência hídrica, em regiões de baixos níveis de precipitações pluviométricas, embora
tenha havido a constatação desses tipos de solos em outras regiões de maior
pluviosidade. Neste contexto incluem-se os ambientes tropicais, os quais, segundo
VILAR et al. (1981), apresentam condições propícias para o desenvolvimento de solos
colapsíveis. Seja pela lixiviação de finos dos horizontes superficiais nas regiões onde se
alternam estações de relativa seca e de precipitações intensas, seja pela deficiência de
umidade que se desenvolvem em regiões áridas e semi-áridas.

Existe uma variedade de formações que podem apresentar comportamento


colapsível, variando tanto em textura quanto em estrutura. As maiores constatações
estão nos depósitos eólicos, aluviais, coluvionais, solos vulcânicos, solos compactados
no ramo seco e solos residuais, sendo a maior incidência nos depósitos eólicos, em
especial os loess. Dentro deste universo, os solos colapsíveis têm sido encontrados em
quase todas as regiões do mundo. No continente americano, depósitos de loess têm sido
encontrados em várias áreas dos Estados Unidos e nos Pampas Argentino (MITCHELL
e COUTINHO,1991).

No Brasil, os solos colapsíveis estão relacionados a outros tipos de formações.


As primeiras investigações geotécnicas relacionadas ao comportamento de solos
colapsíveis remontam, principalmente, à década de 60, quando durante a construção das
grandes barragens na região Centro-Sul os engenheiros se depararam com solos porosos
e sujeitos a recalques repentinos durante a fase de enchimento dos reservatórios
(BEVENUTO, 1982). Atualmente esses solos têm sido encontrados em quase todas as
regiões do país, como exemplos: Pernambuco (ARAGÃO e MELO, 1982; FERREIRA
e TEIXEIRA, 1989; FERREIRA, 1995; COUTINHO et al., 1997; FUCALE, 2000);
Bahia (AFLITOS et al., 1990; CARVALHO e SOUZA, 1990); Interior de São Paulo
(CINTRA, 1998; COSTA e CINTRA, 2001; LOBO et al., 2001 e outros); Rio Grande
do Sul (DIAS, 1994; MARTINS et al., 1997); Tocantins (MORAES et al., 1994;
FERREIRA et al., 2002); Brasília (MARIZ e CASANOVA, 1994; CAMAPUM de
CARVALHO et al., 2001); e Mato Grosso (FUTAI, 1997; CONCIANI, 1997; FUTAI et
al., 2001; FUTAI et al., 2002).
13

Quanto ao tipo de material, não há uma faixa granulométrica específica que


enquadre os solos colapsíveis. Na maioria dos casos, os solos são caracterizados por
estruturas fofas, com granulometria variando de silte a areia fina, geralmente uma
mistura de areia fina, silte e argila, com predominância do primeiro. Todavia, há
exemplos na literatura de solos reconhecidamente colapsíveis predominantemente
argilosos. Um exemplo disso pode ser encontrado em FUTAI (1997), que realizou
ensaios edométricos convencionais e com sucção controlada em um solo colapsível do
Mato Grosso, com as seguintes características granulométricas: 56 a 74% de argila, 16 a
26% de areia e 9 a 17% de silte. O índice de plasticidade médio deste solo foi 24%,
vindo a classificá-lo no grupo CL na classificação unificada. Estes resultados mostram
que a granulometria nem sempre será um bom indicador da colapsibilidade de um solo.

A colapsibilidade está ligada à estrutura que o solo adquire na sua formação


geológica e de duas componentes de tensões efetivas (a tensão total aplicada e a
sucção). Nestes termos BARDEN et al. (1973) destacam três condições para que um
colapso apreciável ocorra:

1. uma estrutura aberta (porosa), potencialmente instável e não saturada;

2. uma componente de tensão aplicada capaz de desenvolver uma condição


metaestável;

3. um valor, suficientemente, elevado de sucção (ou outros agentes de ligação ou


cimentações) para estabilizar os contatos intergranulares, e cuja redução em
inundação conduzirá ao colapso.

II.4 ESTRUTURA DOS SOLOS COLAPSÍVEIS

Uma das características comuns a todos os solos colapsíveis é o fato destes


possuírem uma “estrutura aberta”, freqüentemente referida a grãos r edondos, unidos por
algum material de ligação ou força a qual é susceptível de ser removida ou reduzida por
adição de água (BARDEN et al., 1973; POPESCU, 1986). Os materiais de ligação
podem variar: argila, carbonatos de cálcio, óxidos de ferro ou ainda soldas (“welding”)
nos contatos entre grãos (POPESCU, 1986). O material mais comum encontrado em
vários solos colapsíveis é argila. Neste contexto, uma infinidade de arranjos estruturais
pode ocorrer.
14

CLEMENCE e FINBARR (1981) apresentam típicos modelos estruturais


comuns em vários solos colapsíveis. Estes modelos encontram-se representados na
Figura II.1 e representam, satisfatoriamente, a grande maioria dos solos envolvidos no
fenômeno.

No caso onde o solo é constituído de areia, com ou sem uma fina camada de silte
(Figuras II.1a e II.1b), assume-se que os vínculos são mantidos por forças capilares
desenvolvidas entre os contatos areia-areia, silte-areia e silte-silte. Nos casos onde a
estabilidade estrutural é mantida por placas de argila, vários arranjos podem ser
possíveis. Quando à argila é formada no local por antigênese, ela pode formar uma fina
camada revestindo as partículas de quartzo (Figura II.1c), apresentando elevada
resistência sob baixo teor de umidade. Quando as partículas de argila provêm de
suspensão na água dos poros, a eventual evaporação causará a retração das placas de
argila com a água dos meniscos. Em tais condições a argila forma uma estrutura
floculada e aleatória (Figura II.1d), mantendo os grãos maiores interligados por
contrafortes de argila. No arranjo da Figura II.1e, a estabilidade estrutural é mantida por

(a) Capilaridade (b) Vínculo com (c) Vínculo com partículas


partículas de silte de argilas dispersas

(d) Vínculo com partículas (e) Vínculo em solos (f) Vínculos através de
de argilas floculadas formados após corridas pontes de argila
de lama

Figura II.1. Modelos estruturais para solos colapsíveis (CLEMENCE e FINBARR,


1981).
15

vínculos de argilas e/ou siltes decorrentes de corridas de lama. No ultimo arranjo


estrutural (Figura II.1f), os agregados de argila formam grãos que se conectam entre si
por pontes de argila. Neste caso, os agregados podem ser compostos de uma mistura de
silte e argila, muito comum nos solos colapsíveis argilosos semelhantes ao estudado por
FUTAI (1997).

II.5 MECANISMO DE COLAPSO

JENNINGS e KNIGTH (1957) descrevem o mecanismo do colapso da seguinte


forma: “quando o solo é submetido a um carregamento em seu estado natural, a
estrutura permanece sensivelmente inalterada, e o material de ligação comprime
ligeiramente sem resultar em grandes movimentos relativos dos grãos do solo. Neste
estágio, a consolidação ocorre por compressão das partículas finas entre as maiores
partículas. Enquanto a umidade permanece baixa as forças micro-cisalhantes locais nas
interfaces das partículas de areia, resultantes do carregamento, são resistidas sem
apreciável movimento dos grãos. Quando o solo sob carregamento ganha umidade e
uma certa umidade crítica é excedida, os vínculos alcançam um estágio em que não
podem mais resistir às forças de deformação. A estrutura, então, colapsa”. Trata -se,
portanto, de um problema de ruptura cisalhante em nível micro-estrutural.

Neste nível, pode-se admitir que o fenômeno do colapso obedece ao Princípio de


Tensões Efetivas, pois a redução da sucção, necessariamente, induzirá uma redução na
tensão efetiva e, conseqüentemente, na resistência. Todavia, analisando o colapso do
ponto de vista macroscópico, este princípio não é válido, pois a redução na tensão
efetiva do solo deveria resultar em aumento de volume. Na Figura II.2 apresenta-se um
modelo estrutural idealizado do solo antes e após o colapso, conforme descrito neste
parágrafo. Embora estes autores não tenham utilizado, diretamente, o termo “sucção”,
sabe-se que umidade baixa significa sucção alta e ganho de umidade significa redução
de sucção.

BURLAND (1965), descreve o colapso em termos de estabilidade dos contatos


interpartículas e a hipótese com respeito à diferença da natureza entre as componentes
σ-ua (tensão líquida) e ua-uw (sucção matricial). Em essência, a tensão aplicada gera
ambas, tensão normal (σn) e tensão cisalhante (τ), enquanto a sucção gera apenas tensão
16

normal. A estabilidade dos contatos é mantida enquanto (τ/σn)≤μ, onde μ (coeficiente


de atrito) é uma medida da resistência ao cisalhamento nos contatos. Assim,
aumentando a tensão aplicada, ocorrerá a ruptura de um certo número de contato e,
portanto, gradual compressão. A rápida redução na sucção conduzirá a rupturas
microcisalhantes em grande número de contatos, resultando no colapso. A menos que a
tensão aplicada seja muito elevada, a tensão cisalhante nos contatos será insuficiente
para resultar em instabilidade sem que o solo sofra umedecimento. É também essencial
que o aumento da tensão aplicada ocorra sob uma sucção suficientemente elevada para
garantir a rigidez temporária à estrutura, caso contrário uma grande parcela de
compressão ocorrerá durante o carregamento e o potencial de colapso no sistema será
pequeno.
Embora as descrições apresentadas nos dois parágrafos anteriores tenham sido
formuladas a partir de estudos em solos específicos, as mesmas dizem respeito ao
mesmo mecanismo, sendo extensíveis a solos de outras formações envolvidos no
fenômeno do colapso, independente do tipo de arranjo estrutural e o material de ligação.

A velocidade e intensidade dos recalques, entretanto, dependerá da estrutura e do


tipo do agente responsável pelas ligações. Quando as ligações são mantidas devido à
sucção capilar, a perda da resistência será quase que imediata; no caso de contrafortes
de argilas, um tanto lento; e no caso de cimentação química a perda de resistência pode
ser muito lenta (BARDEN et al., 1973).

(a) Estrutura do solo antes da (b) Estrutura do solo após o


inundação colapso

Figura II.2. Estrutura do Silte/Argila sugerida por CASAGRANDE (1932) antes e após
o colapso (HOUSTON et al., 1988).
17

Os mecanismos descritos por JENNINGS e KNIGTH (1957) e BURLAND


(1965) têm sido adotados por vários autores e estão relacionados àqueles solos não
saturados que colapsam sob umedecimento, conforme definidos no item II.2. Há,
entretanto, situações onde um solo não se enquadram nesta categoria, porém assumem
comportamento colapsível mediante mecanismo distinto do descrito nos parágrafos
anteriores.

REGINATTO e FERRERO (1973) realizaram uma série de ensaios edométricos


em um solo da região de Córdoba, Argentina, onde freqüentes danos nas construções
têm sido atribuídos ao fenômeno do colapso. Os solos analisados variaram de silte
argiloso a argila, sendo classificados como ML e CL na classificação unificada. Estudos
mineralógicos indicaram que o mineral argílico predominante era a ilita, com pequenas
proporções de montmorilonita e caulim. Três ensaios edométricos foram realizados
inundando o solo com diferentes líquidos, a saber: água do sistema de abastecimento da
cidade, esgoto doméstico e água ácida (5,5 < pH < 5,6). Um quarto ensaio foi realizado
na umidade natural. Os resultados indicaram forte influência do líquido percolante nos
recalques registrados, onde em algumas amostras o colapso só ocorreu quando a mesma
foi percolada com água do esgoto ou água ácida. Com estes resultados os autores
concluíram que o colapso ocorreu devido à dispersão da fração argila. Neste caso, a
interação química entre o líquido permeante e o solo foi o desencadeador do processo.
Este mecanismo foi reconhecido por outros autores, a exemplo de INGLES e
AITCHINSON (1969) citado por AITCHINSON (1973) e COSTA FILHO e JUCÁ
(1996).

Há situações onde o fenômeno extrapola os limites da mecânica dos solos.


MELO (2003) usa o termo “colapso” aos recalques intensos observados, num
determinado tempo, em um aterro de resíduos sólidos (Aterro da Muribeca) localizado
em Pernambuco. Entretanto, o mecanismo de colapso descrito por este autor está
associado a ação microbiana. Após a deposição do lixo, dá-se início a degradação da
matéria orgânica acompanhada pelo alargamento dos vazios. Estes vazios se expandem
até um determinado limite, ou seja, até a estrutura suportar a carga imposta pelo peso
próprio do lixo. Ultrapassando este limite, a estrutura não mais resiste ao carregamento
e o aterro colapsa.
18

O mecanismo descrito por REGINATTO e FERRERO (1973) é de ocorrência


rara e, geralmente, associado a ações antrópicas localizadas. Há situações onde um solo
colapsível tem seu potencial de colapso agravado pela interação química com o
permeante. Neste caso, a interação química e a redução da sucção contribuirão com o
processo. Assim, a interação química entre o permeante e o solo deve ser considerada
em situações onde o projetista se deparar com a possibilidade do solo ser inundado,
intencionalmente ou não, por líquidos agressivos. Na maioria dos casos o colapso ocorre
devido a redução da resistência com a redução da sucção, conforme JENNINGS e
KNIGTH (1957) e BURLAND (1965), e este será o mecanismo considerado nesta tese.

II.6 ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM NO COLAPSO DOS SOLOS

Em nível macroestrutural, desde o início os pesquisadores têm recorrido aos


ensaios edométricos para caracterizar o colapso de um determinado solo, como também
avaliar fatores externos que influenciam no processo. Em nível nacional, provavelmente
VARGAS (1953) foi o primeiro a se valer dos resultados de ensaios edométricos na
condição natural e inundada para explicar o comportamento de argilas porosas do
terciário de São Paulo, hoje reconhecidamente colapsíveis. Este procedimento foi
denominado por JENNINGS e KNIGHT (1957) de ensaios edométricos duplos, que
consiste em realizar dois ensaios edométricos em amostras idênticas, sendo um na
umidade natural e outro na condição inundada. A diferença das duas curvas expressa a
colapsibilidade ou expansividade de um solo. Com base em resultados de ensaios
duplos, vários comportamentos têm sido observados.

Outra categoria de ensaios é o edométrico simples, no qual o solo é carregado,


por estágio, até uma tensão determinada, onde é feita a inundação e medidas as
deformações. Com base nos resultados destes ensaios, JENNINGS e KNIGTH (1975)
definiram o potencial de colapso (PC) segundo a Equação II.11. Esta equação é a
mesma que define deformação volumétrica específica. Logo o potencial de colapso
pode ser definido como a deformação volumétrica induzida pela adição de água,
expressa em percentual (BASMA e TUNCER, 1992). Na Figura II.3 Estão
apresentadas, esquematicamente, as duas versões dos ensaios edométricos.
19

Δe
PC = åc = x 100 II.11
1 + e0

Onde: Δe = variação do índice de vazios devido à inundação sob tensão constante;


eo = índice de vazios inicial;
εc = deformação de colapso

1 10 100 σv1000
(log) 1000 1 10 100 σv1000
(log) 1000
0 0
Amostra na Inundação
2
Umidade 2
Natural
e4 e
4
ou ou
ε
6
ε6 Δe
8
8
10 Amostra
Inundada
10
12

14 12

(a) (b)

Figura II.3. Ensaios edométricos: (a) Edométricos duplos; (b) Edométricos simples.

Nos itens seguintes serão apresentados alguns fatores que influenciam no


colapso do solo, avaliados por meio de ensaios edométricos.

II.6.1 Umidade inicial do solo

Vários autores (ex. JENNINGS e KNIGTH, 1975; POPESCU, 1986;


FERREIRA, 1995) têm chamado a atenção ao fato de que o colapso tende a aumentar,
de forma inversa com a umidade do solo antes da inundação, o que é esperado, pois
quanto menor a umidade, mais rígido torna-se o solo por conta da sucção, e menor será
a parcela dos recalques medidos antes da inundação em relação ao recalque total
(recalques antes da inundação mais o recalque devido à inundação). Este
comportamento encontra-se exemplificado na Figura II.4, onde a curva referente a w =
22,35% corresponde a um grau de saturação inicial de 100% (curva do ensaio
inundado).
20

DEFORMAÇÃO VOL. ESPECÍFICA %


0
w = 1,70%
1
w = 3,02%
2
w = 6,95%
3
w = 22,35%
4
5
6
7
8
9
10
10 100 1000 10000
TENSÃO VERTICAL DE CONSOLIDAÇÃO (kPa)

Figura II.4. Influência da umidade inicial na compressibilidade de uma areia siltosa


colapsível (FERREIRA, 1995).

Tal comportamento terá um efeito direto no potencial de colapso (diferença da


deformação entre a curva do ensaio na umidade natural e do ensaio inundado) medido
através de ensaios de laboratório ou campo, dependendo da umidade inicial. Caso o
ensaio seja realizado em amostra coletada na estação úmida, o potencial de colapso será
pequeno. Caso o ensaio seja realizado na estação seca, sob o mesmo nível de tensão, o
potencial de colapso terá seu valor máximo. Logo, pode-se concluir que o período mais
crítico para se construir uma obra é a estação seca, e os parâmetros de projeto devem ser
definidos com base em resultados de ensaios no solo nesta condição. Caso contrário, é
aconselhável um ajuste da umidade inicial da amostra por meio de secagem, antes de
realizar os ensaios no laboratório, a fim de obterem-se parâmetros mais condizentes
com a realidade.

Para que o colapso seja deflagrado duas condições básicas devem ser satisfeitas:
a elevação do teor de umidade até um certo valor limite e a atuação de um estado de
tensões crítico. Há, portanto, um grau de saturação crítico (limite inferior) para gerar a
instabilidade da estrutura do solo, característica do colapso. Além desse limite, o
acréscimo do grau de saturação implica maiores recalques de colapso, porém até atingir
outro valor crítico (limite superior) do grau de saturação, a partir do qual o recalque de
colapso deixa de aumentar (CINTRA, 1998).
21

JENNINGS e KNIGTH (1975) referem-se ao grau de saturação crítico (Sr)


apenas ao limite superior, cujo valor depende da granulometria do solo. Com base em
experiência própria, estes autores apresentam as seguintes faixas de valores de Sr para
diferentes solos colapsíveis:

− 6 < Sr < 10% para pedregulhos finos;

− 50 < Sr < 60% para areias siltosas finas;

− 90 < Sr < 95% para siltes argilosos.

O código de obras da extinta União Soviética não considera o loess colapsível


quando o grau de saturação “in situ” está acima de 80% (limite superior) (REZNIK,
1993).

CINTRA (1998), com base na experiência em solos colapsíveis do interior de


São Paulo, considera este limite superior entre 70 e 80%. Uma vez que a intensidade e
velocidade do colapso dependem da natureza das ligações (BARDEN et al., 1973) é
previsível que o grau de saturação crítico sofra também influência do tipo de estrutura e
formação geológica. Com isso, os valores indicados nem sempre serão compatíveis com
outros solos semelhantes.

II.6.2 Estado de tensão

As deformações de colapso estarão condicionadas ao valor da tensão em que a


inundação ocorre. Sob condição de compressão edométrica ou hidrostática, vários
autores (ex. LUTENEGGER e SABER, 1988; PHIEN-WEJ et al., 1992; FERREIRA,
1995; FUTAI, 1997; VILAR e MACHADO, 1997) têm mostrado que o potencial de
colapso tende a aumentar com a tensão de inundação, até alcançar um valor máximo, a
partir do qual tende a diminuir. A tensão onde ocorre este valor máximo varia com o
tipo e condições iniciais do solo.

Na Figura II.5 está apresentado um exemplo deste comportamento. O solo é uma


areia siltosa do município de Petrolândia-PE estudada por FERREIRA (1995). Os
potenciais de colapso foram determinados a partir de ensaios edométricos simples. A
inundação foi realizada sob a mesma vazão em dois corpos de prova provenientes da
mesma amostra. Até as tensões de inundação de 160 e 320 kPa referentes aos ensaios
22

das séries ES2 e ES1, respectivamente, o potencial de colapso aumentam, vindo a


reduzir a partir desses valores.

7
ES1
POTENCIAL DE COLAPSO (%)
6
ES2
5

ENSAIOS EDOMÉTRICOS SIMPLES


2

PERMEANTE - ÁGUA DESTILADA


1
VAZÃO DE INUNDAÇÃO V=0,25ml/s

0
10 100 1000 10000

TENSÃO VERTICAL DE INUNDAÇÃO (kPa)

Figura II.5. Influência da tensão de inundação no colapso de uma areia siltosa


(FERREIRA, 1995).

BURLAND (1965) evidencia que solos argilosos não saturados podem


apresentar comportamento expansivo, sob baixas tensões, e comportamento colapsível
sob tensões altas. Na Figura II.6 apresenta-se um resultado de um ensaio edométrico
duplo em um solo compactado estudado por LAWTON et al. (1991). Consta também a
curva representada pela diferença das deformações entre o ensaio na umidade natural e
o ensaio inundado. Para tensões inferiores a, aproximadamente, 140kPa o solo apresenta
comportamento expansivo e para tensões superiores a este valor ocorre o colapso. Fato
semelhante foi evidenciado por outros autores, a exemplo de DUDLEY (1970), VILAR
(1994), FERREIRA (1995) e outros. Todavia, em muitos casos, as tensões onde o solo
apresenta comportamento colapsível são tão elevadas que, provavelmente, o efeito de
expansão prevalecerá sobre a maioria da obras assentes.

Segundo DUDLEY (1970) este comportamento está associado às características


granulométricas e mineralógicas do solo. Ao analisar solos de diferentes áreas dos
Estados Unidos, este autor observou que as máximas subsidências (colapso) ocorreram
em solos com teores de argila em torno de 12 %. Abaixo de 5 % de argila a subsidência
23

foi pequena, enquanto solos com mais de 30 % de argila apresentaram expansão. Dentro
destes limites, houve muitos casos onde comportamento colapsível e expansivo foram
observados, dependendo da tensão. Solos com maior índice de atividade apresentaram
tanto maior expansão quanto menor colapso. Fato semelhante foi observado por
LAWTON et al. (1991), porém com valores distintos aos apresentados por DUDLEY
(1970).

II.6.3 Vazão de inundação

A velocidade com que a água penetra nos vazios do solo tem influência na sua
desintegração estrutural, podendo ser menor, maior ou igual à velocidade de destruição
das ligações entre as partículas, estando relacionada, entre outros fatores à afinidade
interna do solo pela água (permeante) e à intensidade da força de coesão que mantém as
partículas agregadas (FERREIRA, 1995). Em geral a inundação ocorre de forma,
relativamente, lenta. Inundação brusca geralmente estão relacionadas com evento
inesperado, tal como a ruptura de um duto. Por esta razão é importante que inundação
nos ensaios de laboratório deva ser realizada numa vazão próxima a prevista no campo.

-10
Umidade de Compactação
Inundada
(%)

-6 Diferença das deformações (colapso ou expansão)


v
(%) ou
diferençca das def. volum.,

-2
v

2
Def. Volum.,

10

14

18
10 100 1000 10000
Tensão Vertical, σv (kPa)

Figura II.6. Resultado de um ensaio edométrico duplo em um solo compactado,


apresentando expansão e colapso (LAWTON et al., 1991).
24

HOUTSTON et al. (1988) procuraram simular no campo e no laboratório o


colapso de uma fundação superficial em um solo siltoso, adicionando água lentamente
até que todo processo do colapso tenha sido concluído. Concluíram que o colapso total
pode ocorrer com um grau de saturação bem abaixo de 100 %.

CRUZ et al. (1994) avalizaram, através de ensaios edométricos, a influência de


alguns fatores na colapsibilidade dos solos porosos do Estado de São Paulo, com o
objetivo de quantificar e procurar formas de mitigar os impactos por colapsos durante o
enchimento dos lagos de duas usinas hidroelétricas. Em um dos ensaios, o solo foi
submetido a uma tensão de 80 kPa e umedecido lentamente por diferentes quantidades
de vapor de água. Observou-se que valores crescentes de umidade provocaram colapsos
significantemente diferentes, sendo o valor máximo obtido após se atingir graus de
saturação em torno de 80 %.

Com base em resultados de ensaios edométricos simples realizados sob


diferentes vazões de inundação (0,0175 a 1,0 ml/s), FERREIRA (1995) mostrou que a
inundação brusca (1,0 ml/s) tende a provocar colapso mais abrupto, porém de menor
magnitude quando comparado com ensaios de inundação lenta. O acréscimo máximo
observado na tensão de 80kPa foi de 40 %, quando a vazão decresceu de 1,0 ml/s para
0,0175ml/s. Há, entretanto, um valor limite da vazão de inundação, a partir da qual o
potencial de colapso não cresce mais com a redução da vazão. A causa desse
comportamento foi atribuída ao maior rearranjo das partículas e maior tempo para o
processo de eluviação. Estes resultados sugerem, em princípio, que o umedecimento do
solo seja feito de forma mais lenta quanto possível, a menos que resultados
comparativos não indiquem influência da vazão de inundação nos resultados.

II.7 IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS COLAPSÍVEIS

Os danos causados às obras de engenharia, por conseqüência do colapso, podem


ser bastante significativos. Assim, a identificação prévia da potencialidade de colapso
de um solo é a primeira etapa que o projetista deve levar em consideração na elaboração
de um projeto de uma fundação em solos colapsíveis (POPESCU, 1986).

Os sistemas de classificação convencionalmente usados em mecânica dos solos


(AASHO, HRB e USCS), são todos baseados na granulometria e propriedades plásticas
25

dos solos, sendo limitados na previsão do comportamento colapsível de um solo. A


principal razão dessa limitação é que os ensaios considerados nestas classificações
destroem a estrutura do solo sobre a qual o comportamento colapsível é dependente.

Embora o mecanismo de colapso possa ser muito complexo (pelo menos a nível
microestrutural), há uma tendência no meio técnico em identificar solos colapsíveis
partindo de ensaios simples e de uso corriqueiro em laboratórios de mecânica dos solos.
Neste sentido, muitos autores têm apresentado métodos para identificar solos
colapsíveis. A depender do critério de identificação, os métodos podem ser classificados
em dois grupos: métodos diretos e métodos indiretos (FERREIRA, 1995). Os métodos
indiretos são aqueles que se utilizam os índices físicos e limites de consistência, ou
parâmetros ligados à textura de simples obtenção em ensaios de laboratório e de campo,
para identificar a potencialidade ao colapso estrutural, sendo de informação orientativa.
Os métodos diretos baseiam-se na medida do potencial de colapso do solo. A Tabela
II.2 resume alguns critérios de identificação de acordo com a classificação de
FERREIRA (1995). Nos itens seguintes serão apresentados e discutidos alguns dos
métodos desses métodos diretos e indiretos.

II.7.1 Métodos indiretos

II.7.1.1 Baseados em ensaios de laboratório

Levando em consideração os métodos indiretos baseados em ensaios de


laboratório, alguns buscam relacionar o índice de vazios el na umidade equivale ao
limite de liquidez (wl) com o índice de vazios inicial do solo (eo), ou utilizam o índice
de consistência. Outros relacionam características granulométricas do solo, diretamente
ou associadas a outros índices físicos do solo, para avaliar a susceptibilidade ao colapso
do solo. A Tabela II.3 resume alguns desses métodos.

Das propostas apresentadas (Tabela II.3), praticamente todas são qualitativas.


Apenas as propostas de BASMA e TUNCER (1992) e a de FUTAI (2000) quantificam
o potencial de colapso. Neste caso, a classificação da colapsibilidade poderá ser feita
utilizando os mesmos critérios baseados no potencial de colapso obtidos por ensaios
edométricos. Por se basearem nos índices físicos ou nos limites de Atterberg, torna o uso
26

desses métodos restrito a solos particulares. É bem provável que existam solos
colapsíveis com características diferentes daqueles utilizados na formulação das
expressões e que sejam classificados como não colapsíveis dentro dos limites impostos
pelos autores (FUTAI, 2000).

Tabela II.2 Métodos indiretos e diretos de identificação de solos colapsíveis


(modificado de FERREIRA, 1995).

MÉTODOS SUB-DIVISÕES BASE PARA DEFINIÇÃO REFERÊNCIAS


DO CRITÉRIO BIBLIOGRÁFICAS
COLLINS e McGOWN
Microscopia eletrônica de
IDENTIFICATIVOS (1974), WOLLE et al.
varredura
(1978)
Pedologia FERREIRA (1990) e
FERREIRA (1993),
ORIENTATIVOS ARMAN e THORNTON
Ensaios expeditos (1972) e JENNINGS e
KNIGHT (1975)
DENISOV (1951)1,
PRIKLONSKIJ (1952)1,
GIBBS e BARA (1962 e
1967),
INDIRETO
Índices físicos FEDA (1966), KASSIF e
HENKIN (1967),
DESIGN OF SMALL
DAMS (1960 e 1974)2,
QUALITATIVOS
CÓDIGO DE OBRAS
DA URSS (1977)

Ensaios de campo – cone CÓDIGO DE OBRAS3


URSS (1977),
Ensaios SPT-T DÉCOURT e
QUARESMA FILHO
(1994)
REGINATTO e
AVALIATIVOS Ensaios edométricos duplos
FERRERO (1973)
BALLY et al. (1973),
JENNINGS e KNIGHT
(1975),
DIRETO Ensaios edométricos símples VARGAS (1978),
QUANTITATIVOS LUTENEGGER e
SABER (1988)

Ensaios de campo FERREIRA e LACERDA


(1993).
1
Citado por FEDA (1966) - 2BUREAU OF RECLAMATION - 3 Citado por RESNIK (1989).
27

Tabela II.3. Critérios de identificação de solos colapsíveis (modificado de FUTAI,


1997).

REFERÊNCIA EXPRESSÃO LIMITES


0,5<K<0,75 – altamente
Denisov (1951) citado el colapsível,
K=
por Reginato (1970) eo K=1 – não colapsível e
1,5 < K < 2 não colapsível
⎛ wo ⎞ O resultado expressa a
⎜⎜ ⎟⎟ − w p
S
Kl = ⎝ o ⎠
Feda (1966) colapsibilidade. So>80%.
wl − w p Kl > 0,85 são colapsíveis
Código de obras da eo − el
λ= λ ≥ -0,1 – o solo é
URSS (1962), citado
1 + eo colapsível
por Reginatto (1970)
Kd < 0 – altamente
Priklonskij (1952) w − wo colapsível,
Kd = l
citado por Feda (1966) wl − w p Kd > 0,5 – colapsível e
Kd > 1 - expansivo
wsat
Gibbs e Bara (1962) R= R > 1 - colapsível
wl
Kassif e Henkin (1967) K = γd.w K < 15 - colapsível
Sr < 6% – colapsível
Cascalho fino
Sr > 10% – não colapsível
Jennings e Knight Sr < 50% – colapsível
Areia fina
(1975) Sr > 60% – não colapsível
Sr < 90% – colapsível
Silte argiloso
Sr > 95% - não colapsível
Ocorre colapso para:
eo − el 1% ≤ wp ≤ 10%, CI < 0,1
Código de obras da CI = 10% ≤ wp ≤ 14%, CI <
URSS (1977) citado por 1 + eo
0,17
Resnik (1989) Sr < 80% 14% ≤ wp ≤ 22%, CI <
0,24
Teor de finos (<0,002 mm) Alta probabilidade de
< 16% colapso
Handy (1973) citado 16 a 24% Provavelmente colapsível
por Lutenegger e Saber
(1988) Probabilidade de colapso <
24 a 32%
50%
> 32% Geralmente não colapsível
O resultado corresponde ao
PC (%) = Equação II.12 potencial de colapso. A
Basma e Tuncer (1992) classificação dependerá do
PC (%) = Equação II.13
critério adotado que se
baseie em PC
Futai (2000) Δεcmáx ou PCmax. = Equação II.14 Critérios baseados em PC
28

Na Tabela II.3 tem-se: K – coeficiente de subsidência; Kl – índice de


subsidência; wo – umidade natural; So – grau de saturação natural; γd – peso específico
seco.

Na proposta de BASMA e TUNCER (1992), o potencial de colapso (PC) pode


ser calculado através das expressões empíricas definidas pelas Equações II.12 e II.13,
ambas obtidas por regressão linear múltipla.

PC = 48,496 + 1,102.Cu - 0,457.wo - 3,533.γs + 2,85.lnσvi II.12

PC = 48,506 + 0,072 (S-C) – 0,439.wo – 3,123.γs + 2,85. lnσvi II.13


Onde:

PC – potencial de colapso, %;
Cu – coeficiente de uniformidade;
(S-C) – diferença entre os teores de areia e argila (diâmetro dos grãos < 0,002mm);
γs – peso específico seco do solo (kN/m3);
σvi – tensão vertical de inundação (kPa).

Tomando-se como referência a classificação de JENNINGS e KNIGTH (1975),


BASMA e TUNCER (1992) apresentam um ábaco para classificar o grau de
colapsibilidade do solo, partindo do grau de compactação do solo e da diferença entre os
teores de areia e argila. Este ábaco encontra-se representado na Figura II.7.

100
95 Muito baixo wi = ótima
Grau de Compactação (%)

90 σv i = 200 kPa

85 Baixo
80
Médio
75
70
65 Alto

60
55 Muito Alto
50
0 20 40 60 80 100

[Areia - Argila (< 0,002mm)]%


Figura II.7. Classificação do grau de colapsibilidade do solo (BASMA e TUNCER,
1992).
29

Na proposta de FUTAI (2000), a deformação de colapso máxima (potencial de


colapso máximo) pode ser calculada segundo a expressão:

0, 6
⎡ e Sr ⎤
Δε c max = 4,2 ⎢ ⎥ II.14
⎣ A(1 + IP) ⎦
Onde: e = índice de vazios natural;
Sr = grau de saturação em percentual;
A = teor de areia em valor absoluto;
IP = índice de plasticidade.

A Equação II.14 encontra-se representada na Figura II.8, juntamente com os


resultados experimentais utilizados por FUTAI (2000) na elaboração desta equação.
Uma vez que a Equação II.14 foi elaborada a partir de uma limitada quantidade de
dados é previsível que esta venha sofrer alterações no futuro, a medida que novos
resultados sejam disponibilizados.

Ao contrário das equações de BASMA e TUNCER (1992) a deformação


calculada por meio da Equação II.14 não leva em consideração o estado de tensão
atuante. Todavia, caso a deformação de colapso máxima seja aceitável, segundo o
critério de identificação ou classificação adotada, baseado no potencial de colapso, é
previsível que nenhum dano deverá a obra, independente da tensão de inundação.

18
Deformação de colapso max (%)

Petrolina Sta Maria Petrolândia (PE)


16 Campo Novo dos Parecis (MT)
14 Novo Amburgo (RS)
-0.6
12 Δε cmax = 4,2 x Machados (PE)

10 São Carlos (SP)


Bom Jesus da Lapa (Ba)
8
Argila bruma amarela (PE)
6
Porto Colombia (SP)
4
Rondonópolis (MT)
2
Setor das Embaixadas Sul (DF)
0
0 2 4 6 8
A(1+IP)/(eVSr)

Figura II.8. Estimativa da deformação de colapso máxima (FUTAI, 2000).


30

II.7.1.2 Baseados em ensaios de campo

Não existe um critério consolidado para identificação de solos colapsíveis a


partir de ensaios de campo. Todavia, algumas peculiaridades têm sido observadas em
alguns solos brasileiros, reconhecidamente colapsíveis. Várias formações das regiões
sudeste e centro-oeste apresentam camadas porosas, não saturadas, variando de solos
arenosos a argilosos, apresentando baixos valores de NSPT. Para solos do interior de São
Paulo, estas camadas têm sido caracterizadas por NSPT < 5 (FERREIRA et al., 1990).
Resultados semelhantes têm sido observados em outros solos porosos, inclusive em
outras regiões. Na Tabela II.4 está apresentada uma síntese de alguns perfis típicos
destas regiões. Embora nenhum autor tenha assumido algum valor de NSPT como um
critério de identificação, estes resultados podem ser encarados como um bom indicador
de solos colapsíveis, embora restritos a algumas formações.

Em contrapartida, FERREIRA e TEIXEIRA (1989) apresentam resultados de


sondagens realizadas no semi-árido de Pernambuco (município de Santa Maria da Boa
Vista), cuja camada de solo colapsível apresentou NSPT variando de 5 a 10 golpes. Em
outro estudo, dessa vez no município de Petrolândia, na camada colapsível (considerada
até a profundidade de 5,50 m) o NSPT apresentou aumento com a profundidade, variando
de 10 a 56 golpes numa sondagem realizada a seco. Em outra sondagem, realizada com
circulação d’água, o N SPT variou de 7 a 19 golpes. Estes resultados mostram a influência
da sucção nos valores do NSPT, o que torna difícil estabelecer um critério de
identificação, na base de tal ensaio, para esta formação. Todavia, para esta região, a
realização de sondagens duplas (inundada e no estado natural) pode vir a ser uma
ferramenta de trabalho sugestiva, embora não haja dados comparativos para se chegar a
um critério de identificação.

Nas formações de onde provêm os dados da Tabela II.4, a sucção no campo


raramente ultrapassa 60kPa. Valores máximos de sucção, medidos por tensiômetros,
variaram entre 25 e 50 kPa para um solo colapsível do Mato Grosso (CONCIANI,
1997) e menos de 45kPa para um solo colapsível do interior de São Paulo (COSTA e
CINTRA, 2001). Na região semi-árida do NE, sucção da ordem de 10MPa é possível de
ocorrer na estação seca (FERREIRA, 1995; SOUZA NETO et al., 2002), exercendo
forte influência na resistência, o que pode resultar em grandes diferenças nos valores de
NSPT quando estes são realizados na estação úmida e na estação seca.
31

Tabela II.4. Valores típicos de NSPT para alguns solos colapsíveis da região sudeste e
centro-oeste.

PROF. NSPT
REFERÊNCIA LOCAL SOLO
(m) (Golpes)
Carvalho e Souza (1990) Ilha Solteira -SP até 10m 3a6 SC
Ferreira et al. (1990) São Paulo até 5m <5 SC
Conciani (1997) Rondonópolis - MT até 4m <5 SC
Conciani (1997) Campo Novo – MT até 10m 1a5 CL
Camapum de Carvalho et al.
Brasília - DF até 4m 2a6 Argiloso
(2001)
Barbosa e Conciani (2000) Primavera Leste - MT até 12m 1a8 SM

DÉCOURT e QUARESMA FILHO (1994) propuseram um método que permite


estabelecer se um solo é ou não colapsível, em função dos resultados obtidos no ensaio
SPT com medição de torque. Após determinação do valor do NSPT mede-se o torque
máximo necessário para girar o amostrador padrão do solo. Define-se por índice de
torque (TR) a razão entre o valor do torque máximo medido (Tmáx), em kgf x m, e o
valor NSPT. Se o valor dessa razão estiver compreendido entre 2 e 3, o solo é
considerável colapsível. É importante ressaltar que este limite foi definido com base em
ensaios realizados em solo porosos de São Paulo, podendo não ser satisfatório para
solos de outras regiões.

REZNIK (1989) apresenta uma expressão, baseada em resultados de ensaios de


cone (CPT) realizados na umidade natural e na condição inundada, e um critério de
identificação de solos colapsíveis. A expressão e os critérios de identificação estão
apresentados na Equação II.15 e na Tabela II.5, respectivamente.

Kw = Pq/Pqw II.15

Onde: Kw = coeficiente de colapso;

Pqw = resistência à penetração do cone no solo inundado;

Pq = resistência à penetração do cone no solo na condição natural.


32

Tabela II.5. Coeficiente de colapso com a carga aplicada ao cone, REZNIK (1989).

CARGA APLICADA SOLO COLAPSÍVEL SE

kPa Kw >

100 2,0
200 1,5
300 1,3

II.7.2 Métodos diretos

II.7.2.1 Ensaios de laboratório

A avaliação da colapsibilidade de um solo por meio de ensaios edométricos tem


a vantagem de levar em consideração as tensões atuantes e quantificar o potencial de
colapso, sendo extensível a qualquer formação e tipo de solo.

Com base nos resultados de ensaios edométricos duplos, REGINATTO E


FERRERO (1973) apresentam um critério para determinar a susceptibilidade ao colapso
dos solos para uma determinada tensão vertical, tomando-se como referência à tensão
vertical geostática e a tensão de escoamento (referida como tensão de colapso) sob duas
condições limites: na umidade natural e na condição inundada. Esta proposta encontra-
se representada, graficamente, na Figura II.9. Um coeficiente de colapsibilidade é assim
definido:

óvms − óvo
C= II.16
óvmn − óvo

Onde:

σvo = tensão vertical geostática,

σvmn = tensão de escoamento do solo na umidade natural,

σvms = tensão de escoamento do solo na condição inundada.


33

Figura II.9. Representação esquemática de um ensaio edométrico duplo indicando as


tensões limites para o cálculo do coeficiente de colapsibilidade (modificado de
REGINATTO e FERRERO, 1973).

Através do coeficiente de colapsibilidade e comparando-se os valores de σvo,

σvms, σvmn e σv (tensão vertical total após a imposição das cargas no terreno),

determina-se se há perigo de colapso e para qual nível de tensão esse colapso ocorrerá.
Dessa forma tem-se:

1) quando σvms < σvo e C < 0, o solo será considerado “verdadeiramente colapsível”,

onde grandes recalques ocorrerão sob saturação, até mesmo sob o peso próprio;

2) quando σvms > σvo e 0 < C < 1, o solo será considerado “condicionalmente

colapsível”. A ocorrência de colapso dependerá do valor de σv. Quando σv < σvms

nenhum colapso ocorrerá quando o solo for inundado e o máximo incremento de

tensão que o solo pode suportar será σvms – σvo. Se σvms < σv < σvmn, o colapso

ocorrerá quando o solo for inundado após o carregamento. Se σv > σvmn, o colapso

ocorrerá até mesmo sem inundação;

3) quando C = 1 o colapso não ocorrerá, sendo uma condição restrita a poucos solos.
Na maioria dos casos C é menor que 1, incluindo alguns solos não colapsíveis;
34

4) quando C = - ∞, σvmn = σvo é o caso de solos não-cimentados, normalmente

consolidados.

Com base no valor do potencial de colapso (Equação II.11) correspondente a


uma tensão de 200 kPa, JENNINGS e KNIGHT (1975) apresentaram uma classificação
que leva em conta a gravidade dos danos em uma obra. Esta proposta encontra-se
resumida na Tabela II.6.

Tabela II.6. Classificação da colapsibilidade nas obras de engenharia (JENNINGS e


KNIGHT, 1975).

PC (%) GRAVIDADE DOS PROBLEMAS


0a1 Sem problema
1a5 Problema moderado
5 a 10 Problemático
10 a 20 Problema grave
> 20 Problema muito grave

ABELEV (1948) citado por LUTENEGGER e SABER (1988) e ROGERS et al.


(1994) define “coeficiente de colapso estrutural” como sendo:

Δe
i= 100 II.17
1 + ei

Onde: Δe = variação do índice de vazios devido à inundação sob uma tensão específica,

ei = índice de vazios, antes da inundação, correspondente à tensão de inundação,

de 300 kPa.

Baseado neste índice, ABELEV (1948) classifica como solos colapsíveis todo
aquele que apresente i > 2%. LUTENEGGER e SABER (1988), classificam os danos
em uma obra de leve a alto, a depender o valor de i. Esta proposta encontra-se resumida
na Tabela II.7. VARGAS (1978) considera colapsível todo solo que apresente i > 2%,
porém para uma tensão de inundação qualquer, o que é um critério mais sensato, uma
vez que muitos solos colapsíveis apresentam valores de i superiores a este limite para
tensões inferiores a 300 kPa.
35

Tabela II.7. Classificação da colapsibilidade em obras de engenharia (LUTENEGGER e


SABER, 1988).

i (%) GRAVIDADE DOS PROBLEMAS


2 Leve
6 Moderado
10 Grave

As propostas assim apresentadas não visam à estimativa dos recalques de uma


fundação. Servem apenas como um guia para o projetista avaliar a susceptibilidade ao
colapso de um determinado terreno, tal como os métodos indiretos. Por serem métodos
diretos, os critérios não sofrem a influência do tipo de solo onde os mesmos foram
elaborados, podendo ser estendidos a qualquer formação. Todavia, algumas
considerações devem ser feitas ao se aplicar estes critérios.

Os critérios apresentados, certamente, foram definidos a partir das experiências


em obras onde os autores se envolveram, e os efeitos dos recalques em uma obra variam
de acordo com o tipo de construção. Muitos solos colapsíveis apresentam, no estado
natural (não saturado) tensão de ruptura inferior a 200 kPa. Vários exemplos da
literatura brasileira de provas de carga em placa confirmando esta afirmação encontram-
se resumidos em CINTRA (1998). CONCIANI (1997) apresenta resultado de uma
prova de carga, no estado natural, em um solo colapsível do Mato Grosso, onde a tensão
de ruptura foi inferior a 80 kPa. Nestas condições, dificilmente a tensão de projeto
alcançaria valores tão elevados como pressupõem as propostas onde fixam a tensão de
inundação. Além disso, é possível que algum solo colapsível venha apresentar PC ou i,
na tensão de 200 e 300 kPa, menor ao que possuiria numa tensão inferior, podendo
exercer forte influência na classificação do solo com base nos critérios de JENNINGS e
KNIGTH (1975), ABELEV (1948) e LUTENEGGER e SABER (1988).

Apesar da diferença entre as expressões que descrevem o potencial de colapso


(Equação II.11) e o coeficiente de colapso estrutural (Equação II.17) do solo, em vários
trabalhos da literatura, de diferentes pesquisadores, o termo potencial de colapso tem
sido atribuído a ambas expressões. Se pouca compressão ocorre no solo, antes da
inundação, até o nível de tensão onde ocorrerá a inundação, as duas expressões darão
resultados similares. Caso contrário, as diferenças poderão ser significativas.
36

LUTENEGGER e SABER (1988) recomendam cautela ao comparar valores de PC


registrados na literatura. Para fins de previsão de recalque de uma fundação superficial a
Equação II.11 pode se ajustar melhor a este propósito.

Uma das formas de avaliar os danos em uma edificação, devido a recalques


diferenciais, é através da distorção angular (β =δ / l, onde δ é o recalque diferencial e l
a distância entre dois pontos da fundação). Com base na classificação de BJERRUM
(1963) citado por VELLOSO e LOPES (1996), baseada nos valores de β, tem-se:

β = 1/500: limite seguro para evitarem-se danos em paredes de edifícios;

β = 1/300: limite a partir do qual começam aparecer trincas em paredes de edifícios; e

β = 1/150: limite a partir do qual se podem esperar danos estruturais em edifícios


correntes.

Dependendo do tipo de fundação e da espessura da camada colapsível, 2% de


deformação de colapso pode resultar em um recalque inaceitável para muitas
edificações. Embora o critério de VARGAS (1978) esteja mais adequado à realidade
brasileira, a classificação do solo com base no limite estabelecido pode não ser
adequada em toda situação.

II.7.2.2 Ensaios de campo

KRATZ de OLIVEIRA et al. (1999) apresentam uma proposta de identificação


de solos colapsíveis a partir de resultados de ensaios pressiométricos duplos. A
metodologia consiste na realização de um ensaio na condição natural e outro com o
furo, previamente, inundado. A previsão do potencial de colapso é obtida comparando-
se resultados dos ensaios na umidade natural e na condição inundada, semelhantemente
ao ensaio edométrico duplo proposto por JENNINGS e KNIGTH (1957).

Analogamente à técnica do ensaio edométrico duplo, é necessária a utilização de


um ajuste dos raios iniciais de cavidade para determinar, de forma adequada, a
magnitude do colapso pressiométrico, visto que no pressiômetro do tipo pré-furo
dificilmente obtém-se o mesmo raio inicial da cavidade para todos os ensaios. Na Figura
II.10 está apresentado, esquematicamente, o procedimento de cálculo para estimativa do
colapso pressiométrico segundo KRATZ de OLIVEIRA et al. (1999).
37

Translação da curva
Δr

Umidade natural
Pressão Colapso

ri Solo saturado
(rf , P f )REF

P0
Expansão
livre
ronat rosat
Raio

Figura II.10. Ilustração da metodologia proposta para a determinação do colapso


pressiométrico (KRATZ de OLIVEIRA et al., 1999).

O potencial de colapso (Equação II.18) é definido como:

r f − ri − ro
2 2 2 2
r sat nat
C press = 2
− o 2
ri ro nat

II.18

Onde: ri e rf são os raios da cavidade para o solo sob condição de umidade natural e
para o solo saturado, respectivamente, ambos para o nível de tensão igual à
pressão de plastificação Pf do ensaio pressiométrico saturado;

roNAT e roSAT são os raios iniciais de cavidade para as condições de umidade


natural e saturada, respectivamente.

Alguns pontos há que se destacar nesta proposta. As condições de tensões


impostas no ensaio pressiométrico não são as mesmas transmitidas ao solo por uma
fundação superficial, o que dificulta estabelecer correlações com ensaios edométricos. O
potencial de colapso varia com a tensão e a proposta, assim apresentada, avalia a
colapsibilidade apenas para a tensão de plastificação. Finalmente, falta um critério de
classificação. Em outras palavras, para qual valor de Cpress o solo pode ser considerado
colapsível? Isto é um ponto que precisa ser definido.
38

Apesar da ausência de um critério, este procedimento foi aplicado por


COUTINHO et al. (2004) nos resultados dos ensaios pressiométricos realizados por
DOURADO (2004), onde foi observada similaridade de comportamento entre os
valores de Cpress. e os valores de PC na tensão de 200 kPa obtidos a partir de ensaios
edométricos simples.

FERREIRA e LACERDA (1993) desenvolveram um equipamento simples,


denominado “Expansocolapsômetro”, que permite avaliar a variação de volume dos
solos em campo em diferentes profundidades do perfil geotécnico. Trata-se de um
ensaio de placa em miniatura realizado em um furo aberto a trado. Na Figura II.11
apresenta-se um desenho esquemático do equipamento, o qual é composto de duas
partes: uma similar ao ensaio de placa e outra de controle de vazão. A primeira é
composta de placa e hastes metálicas, mesa estabilizadora, rolamento vertical,
deflectômetros e pesos para transferência de carga e aplicação da tensão. A segunda é
composta de dois pequenos reservatórios de água interligados, com torneiras de
passagem que permitem regular a vazão de saída d’água. Estes reservatórios são
sustentados por quatro perfis metálicos contraventados com bases que servem de
sustentação dos reservatórios. Os ensaios são realizados em um furo de sondagem
aberto a trado. O carregamento é feito por estágios até alcançar uma tensão específica,
onde é feita a inundação. Os recalques são acompanhados até a estabilização e o
potencial de colapso é definido segundo a expressão:

⎛ ÄH ⎞
PC = ⎜ ⎟ x100% II.19
⎝ H ⎠

Onde: ΔH é a variação de altura (recalque) devido à inundação;

H é a espessura inicial da camada comprometida com o processo do colapso


antes da inundação. Esta profundidade pode ser determinada pela variação da
umidade do solo alterada com a inundação ou profundidade abaixo da placa em
que a transmissão de tensão é significativa. Nos ensaios realizados, esta
profundidade está situada a 275mm abaixo da placa, ou seja, aproximadamente
2,5D, onde D é o diâmetro da placa (100mm). Nesta profundidade, FERREIRA
e LACERDA (1995), usando o método dos elementos finitos, mostram que
nesta profundidade a tensão transmitida pela placa é cerda de 5% da tensão
média de contato entre o solo e a placa.
39

Figura II.11. Equipamento “Expanso-colapsômetro” para realização de ensaios de colapso no campo (FERREIRA e LACERDA, 1993).
40

Os potenciais de colapso (deformação de colapso) determinados segundo esta


metodologia (Equação II.19) apresentam uma correlação, aproximadamente linear, com
os potenciais de colapso obtidos a partir de ensaios edométricos simples (considerou-se
a Equação II.17) para a areia colapsível de Petrolândia - PE, resultando na expressão:

PCLab = 1,131PCcampo, r2 = 0,997 II.20

Uma vez que o potencial de colapso de campo é correlacionável com os de


laboratório, os critérios estabelecidos com base nestes últimos podem ser considerados
na identificação de solos colapsíveis, sobretudo em solos de difícil amostragem. Basta,
apenas, converter os resultados de campo para o laboratório, segundo a Equação II.20.

FERREIRA et al. (2002) apresenta uma nova versão do Expansocolapsômetro,


similar a uma prensa tipo Bishop utilizada nos ensaios edométricos. Esta versão permite
realizar ensaios com tensões de até 640 kPa, permitindo também ser utilizada para
estimar a tensão de ruptura das camadas do solo.

Analogamente à proposta de FERREIRA e LACERDA (1993), MAHMOUD et


al. (1995) desenvolveram um equipamento para realização de ensaios de colapso em
placa tamanho em miniatura (diâmetro entre 76 e 150mm). O equipamento (Figura
II.12) consiste de um tripé (Figura II.12b) por onde desliza uma haste através de dois
conjuntos de rolamentos (um superior e outro inferior) (Figura II.12b e c). A carga é
transmitida ao solo através da haste, onde é fixada uma sapata perfurada. A carga é
obtida por meio de pesos aplicados a uma placa superior. Os recalques são medidos por
meio de extensômetros (Figura II.12d) apoiados sobre uma base fixada à haste. A
inundação é feita através da própria haste (Figura II.12a) adicionando água numa
abertura superior. A metodologia do ensaio, denominada “Down -Hole Collapse Test”,
consiste em se obter uma curva tensão-deformação de colapso a partir dos resultados
dos ensaios de campo.

O ensaio “Down -hole Collapse Test” é feito através da aber tura de um furo de
sondagem até a profundidade desejada, onde se apóia uma placa (sapata) com diâmetro
variando entre 70 e 150mm. Após aplicação de uma carga inicial, o solo sob a placa é
inundado e os recalques são medidos até a frente de umedecimento alcançar uma
determinada profundidade (Ztar), a qual varia entre 30 a 100% do diâmetro da placa
(MAHMOUD et al., 1995). O tempo necessário (ttar) para a frente de inundação alcançar
(b) (c)
41

(a) (d)

Figura II.12. Equipamento do “Down-Hole Collapse Test” para realização de ensaios de colapso “in situ” (MAHMOUD et al., 1995).
42

Ztar é definido em um ensaio de infiltração a parte. Após esta etapa, novos


carregamentos são adicionados, enquanto a frente de inundação ainda avança. O
intervalo de tempo entre cada carregamento varia entre 2min ou 0,1ttar. Concluída a
seqüência de carregamentos, o equipamento é desmontado e, utilizando um amostrador,
determina-se a profundidade final da frente de inundação.

Assim como na proposta de FERREIRA e LACERDA (1993), os dados obtidos


no “Down Hole Collapse Test” incluem a carga aplicada, recalques da placa e
profundidade de inundação. A carga aplicada e as dimensões da placa conduzem a
tensão vertical de contato média (qcon). A tensão vertical média dentro da zona inundada
(qave), é obtida pelo produto da tensão de contato e os fatores de influência, IF e Is
(definidos por qave/qcon), obtidos a partir da Figura II.13. A variação da tensão média do
solo, na região inundada, sob a placa foi definida utilizando análises de elementos
finitos, adotando um modelo elástico-linear. HOUSTON et al. (1995) apresentam uma
descrição detalhada dessas análises. Os autores não fazem restrição do emprego desta
metodologia com relação ao tipo de solo.

As análises numéricas indicaram que no início do processo de inundação, a


tensão em um ponto do solo sob a placa alcança um valor máximo, reduzindo-se à
medida que a frente de umedecimento avança. Este processo é repetido nas camadas de
solos secos subjacentes. Assim, na interpretação do ensaio assume-se a hipótese de que
o processo de infiltração é lento, enquanto o colapso é um tanto imediato, existindo

Figura II.13. Fatores de influência da camada inundada para o primeiro e segundo


carregamentos para o “In -Situ Collapse Test” (HOUSTON et al., 1995).
43

suficiente tempo para que o colapso ocorra sob a tensão máxima. A profundidade da
frente de umedecimento avança segundo uma função parabólica com o tempo, (EL-

EHWANY e HOUSTON, 1990) e quando alcança a profundidade Zw prevista para o

ensaio, admite-se que todo o recalque de colapso devido ao primeiro carregamento


tenha ocorrido. Se os novos carregamentos forem adicionados em um intervalo de
tempo suficientemente curto, o avanço da frente de umedecimento será pequeno. Assim,
para os novos carregamentos, a tensão máxima ocorrerá imediatamente após a aplicação
da carga e o avanço da frente de umedecimento não afetará o novo carregamento.

As diferenças nas duas condições limites conduzem a duas curvas distintas dos
valores de fatores de influência. Para o primeiro carregamento, o fator de influência
considerado no cálculo da qave será IF, enquanto nos carregamentos subseqüentes o fator
de influência será IS. A deformação média de colapso dentro da zona inundada
corresponde ao recalque observado dividido pela profundidade (espessura) final

(Zwfinal) do solo inundado.

ÄH i
åpi = II.21
Z wfinal

Onde: ΔHi é o recalque resultante da aplicação de uma tensão vertical média

qave.

DAY (1996) e FERREIRA et al. (1996) discutem o trabalho de HOUSTON et


al. (1995). Segundo DAY (1996), a limpeza da base do furo pode ser a maior limitação
para o emprego deste tipo de ensaio. A existência de material solto ou solo perturbado
na base do furo poderia resultar em maior colapso do que aquele medido no laboratório
a partir de blocos indeformados. FERREIRA et al. (1996) apresentam uma síntese de
seus estudos com o “Exp anso-colapsômetro”, onde ressaltam a importância de
correlacionar o potencial de colapso de campo com o de laboratório.

Em resposta, HOUSTON et al. (1996) admitem que a limpeza do furo é,


definitivamente, o aspecto mais importante dos ensaios de colapso “in situ”. Entretanto,
com base em observações de ensaios “in situ” realizados e comparações com resultados
de laboratório, os autores acreditam ser possível obter suficiente limpeza para realização
44

de ensaios de colapso “in situ”. Na ocasião a limpeza do f uro foi realizada pela cravação
de um tubo de parede fina além do solo perturbado pelo trado utilizado na abertura do
furo, algumas vezes aplicando um vácuo para auxiliar na remoção do solo solto.
Ressaltam ainda que a carga devido ao peso próprio da estrutura do carregamento é
suficiente para alcançar um adequado assentamento entre o solo e a placa. Com respeito
às correlações com ensaios de laboratório, os autores enfatizam que a variabilidade
espacial dos solos estudados tem dificultado comparações precisas, embora os autores
não descartam a importância deste procedimento e esperam maior quantidade de dados
para tratarem desta questão. Embora a relação tensão-deformação obtida segundo estas
metodologias destina-se, principalmente, a previsão de recalques em fundação, o
resultado poderá também ser utilizado como um método de identificação, seguindo o
mesmo princípio dos ensaios edométricos simples.

II.8 PREVISÃO DE RECALQUES DE COLAPSO

II.8.1 Considerações preliminares

Independente do tipo de solo, um projeto de fundação deve contemplar dois


princípios básicos de segurança: 1) segurança contra a ruptura, traduzida nos critérios de
projeto relativos à capacidade de carga; e 2) a segurança contra recalques excessivos.

Em solos colapsíveis, mesmo quando respeitado o princípio de segurança quanto


à ruptura, consideráveis recalques podem ocorrer quando submetidos a um processo de
umedecimento, dependendo do carregamento. Neste caso, o segundo critério de
segurança prevalecerá nas análises de projeto.

Diferentemente de uma argila saturada, onde os recalques por adensamento


podem levar meses ou anos, até a sua estabilização, em um solo não saturado os
recalques decorrentes do carregamento se estabilizarão em um curto espaço de tempo,
dependendo da sucção do solo.

Em solos colapsíveis os recalques de uma fundação podem ser divididos em


duas parcelas (Figura II.14): 1) os recalques decorrentes do carregamento, de caráter
imediato; e 2) os recalques devidos a um eventual umedecimento.
45

Figura II.14. Conceito básico de recalque adicional devido ao colapso da estrutura do


solo (JENNINGS e KNIGHT, 1975).

Para realização da previsão de recalques de colapso é necessário, inicialmente,


definir a espessura do solo, sob a fundação, que contribuirá com o processo do colapso.
Em outras palavras, necessita-se o conhecimento da distribuição de tensões decorrente
da carga aplicada e a extensão e grau de saturação de um futuro umedecimento
(distância radial e vertical afetada pela inundação).

A distribuição de tensões é complexa e, na maioria dos casos (fundações em


sapatas isoladas) assume um caráter tridimensional. Em geral, adotam-se as formulações
da teoria da elasticidade, definindo a profundidade (Z) do bulbo de tensões e uma
parcela (Zw) daquela limitada pelo bulbo de inundação (Figura II.15). Este é um ponto
que tem gerado divergência entre vários autores. JENNINGS e KNIGHT (1975)
limitam esta profundidade a 1,5B, sendo B a menor dimensão da sapata. FERREIRA e
LACERDA (1993) e FERREIRA (1995) consideram 2,5D, sendo D o diâmetro de uma
placa. Para MAHMOUD et al. (1995) e HOUSTON et al. (1995) os recalques devido as
deformações do solo são negligenciáveis para profundidade equivalente a 1 D, e esta
tem sido considerada na interpretação de ensaios de colapso “in situ ”. Com base em
resultados de provas de carga em um solo colapsível, CONCIANI (1997) observou que
as mudanças mais significativas dos recalques de colapso ocorreram numa profundidade
equivalente a 0,25 D, sem ultrapassar 0,8 D.
46

Figura II.15. Representação esquemática do colapso de uma fundação superficial


(adaptado de MAHMOUD et al., 1995).

Conforme ressaltado em II.6.1, para que o colapso seja deflagrado é necessário


que o estado de tensão atuante e o grau de saturação atinjam um valor crítico, abaixo
dos quais o colapso não ocorrerá. Portanto, a espessura do solo sob a fundação que
contribuirá com o processo do colapso dependerá, antes de tudo, do estado de tensão a
que o solo está submetido antes da inundação, havendo ou não a possibilidade de todo
bulbo de tensões contribuir com o processo.

O umedecimento do solo varia de acordo com o fluxo da água. Para um perfil de


solo natural, influenciado apenas pela precipitação pluviométrica, evaporação e
evapotranspiração, o avanço da frente de umedecimento segue o padrão da Figura II.16.
As curvas referentes aos limites superior e inferior refletem as variações sazonais dos
teores do grau de saturação ou teores de umidade a que um perfil de solo é submetido.
Dependendo da espessura do perfil, haverá uma profundidade de equilíbrio onde,
praticamente, nenhuma variação ocorrerá no grau de saturação ou teor de umidade. A
região do perfil limitada por esta profundidade e a superfície é definida como “camada
ativa” (JUCÁ e PONTES FILHO, 1997), a qual será função do clima, tipo do solo e
topografia.
47

Figura II.16. Representação esquemática das variações sazonais da umidade ou grau de


saturação em um perfil de solo não saturado e homogêneo (HOUSTON e HOUSTON,
1997).

É na camada ativa onde, geralmente, estão apoiadas as fundações superficiais.


Daí, uma das razões das obras de pequeno e médio porte, onde se utilizam este tipo de
fundação, serem as mais afetadas pelo fenômeno do colapso. Na Figura II.17 estão
apresentados dois perfis de umidade em solos distintos do estado de Pernambuco. O
primeiro (Figura II.17a) corresponde a uma argila expansiva do litoral do estado, com
um clima classificado como As’ (tropical úmido com inverno chuvoso), segundo
Köppen. O outro (Figura II.17b) é uma areia fina colapsível localizada no semi-árido de
Petrolândia - PE (BSs’h’), onde as precipitações anuais, raramente, excedem os 500mm.
Apesar da característica arenosa (areia > 87%) do solo colapsível, o que se reflete maior
permeabilidade, a espessura da camada ativa foi quase à metade daquela do solo
expansivo, refletindo a importância do clima na definição da referida camada.

Há, entretanto, outras situações onde o processo de umedecimento não segue o


padrão apresentado na Figura II.16 ou II.17, geralmente quando o regime de fluxo é
alterado por ações antrópicas, tais como:

a) ruptura de tubos de abastecimento d´água ou coleta de esgotos;

b) elevação, intencional ou não, do nível d’água, tal como criação de lagos


artificiais por barragens;
48

0 0

1 1 Zona Ativa..
Zona
PROFUNDIDADE (m)

2 Ativa 2

Areia Colapsível
3 3
Petrolândia - PE
Jul/91 (Ferreira, 1995)
4 4
Jan/92
Argila Expansiva
Jul/92 Paulista - PE 2/11/1991
5 5
Mar/93 (Jucá e Pontes 1/5/1992
Jul/93 Filho, 1997) 9/12/1992
Valor de
6 6
Set/94 Valor de Equilíbrio Equilíbrio 10/12/1992
Mar/95 14/12/1992
7 7
0 10 20 30 40 50 0 5 10 15

UMIDADE (%) UMIDADE (%)


(a) (b)

Figura II.17. Perfis de umidade para dois solos típicos de Pernambuco: (a) Argila
Expansiva do litoral (JUCÁ e PONTES FILHO, 1997); (b) Areia Colapsível do semi-
árido de Petrolândia – PE (FERREIRA, 1995).

c) irrigação;

d) alteração nas condições de drenagem, resultando na concentração de água no


terreno; e outras.

Nestas situações, especialmente na (a) e (b), é possível que o processo de


umedecimento conduza a graus de saturação superiores ao induzido por eventos
naturais, embora vários autores tenham concluído, por observações de campo, que o
grau de saturação dificilmente alcança a condição de completa saturação em solos
colapsíveis. Em solos que apresentam perfis espessos, a frente de umedecimento pode
alcançar profundidades superiores a da zona ativa, quando as condições de fluxo são
alteradas, podendo afetar, inclusive, obras assentes em fundações profundas.

Com respeito a alteração nas condições de drenagem (item d) é muito comum a


realização de atividades de terraplenagem ou cortes, com o objetivo de nivelar o terreno
antes da construção. Caso não seja criado um sistema de drenagem adequando, águas de
origem pluviométricas poderão se acumular próximo a alguns elementos de fundação,
49

continuando a se infiltrar no solo, mesmo após cessar o evento pluviométrico. Em


regiões como o semi-árido nordestino, embora apresente baixos índices pluviométricos,
a estação chuvosa envolve um curto espaço de tempo (na maioria das vezes não
excedendo três meses), havendo registros de 31,7 e 40,5mm em apenas uma noite
(FERREIRA, 1995). Nestas situações, acúmulo de água pode ocorrer por um período de
tempo suficiente para a frente de umedecimento alcançar uma espessura não desprezível
do solo sob a fundação.

EL-EHWANY e HOUSTON (1990) avaliaram o avanço da frente de


umedecimento através de ensaios de infiltração unidimensional no laboratório e no
campo (Figura II.18). Esta situação assemelha-se a descrita no parágrafo acima. Os
dados referentes ao avanço da frente de umedecimento com o tempo ajustaram-se a uma
curva parabólica definida por uma equação do tipo:
b
D = (a)t II.22

Onde: D é a profundidade da frente de umedecimento;

a e b são coeficientes de ajustes que depende do tipo de solo.

Segundo HOUSTON (1992) o coeficiente b varia em torno de 0,5. HOUSTON


et al. (1998) reescreveram a Equação II.22 na forma:

Zw = Cit1/2 II.23

Onde: Zw é a profundidade da frente de umedecimento;


t é o tempo transcorrido em minutos e
Ci é o coeficiente de infiltração em cm/min1/2.

Para solos areno-siltosos HOUSTON et al. (1998) têm encontrado valores de Ci


variando entre 3 e 4 cm/min1/2, para um grau de saturação médio em torno de 15 %
antes da inundação.

Esta proposta é apresentada como uma ferramenta auxiliar para estimativa do


avanço da frente de umedecimento, uma vez que, dada às dificuldades na determinação
de parâmetros hidráulicos de solos não saturados, análises de fluxo utilizando modelos
para estas condições, nem sempre têm resultado em previsões adequadas, sobretudo em
solos de regiões áridas. Segundo GERSCOVICH (1994), a depender do tipo de solo, a
50

transição do estado saturado para um estado não saturado pode reduzir o valor da
condutividade hidráulica em até 100 vezes.

Levando em conta as premissas para estimativa de recalques em solos


colapsíveis, a prática comum é assumir uma hipótese conservadora, admitindo que toda
camada que contribuirá com o colapso tornar-se-á, na prática, inundada, alcançando um
grau de saturação de 100 %. Esta situação é rara, e na maioria dos casos o grau de
saturação estará bem abaixo deste valor. Para solos areno-siltosos, EL-EHWANY e
HOUSTON (1991) observaram graus de saturação em torno de 50 %, após ensaios de
colapso no campo. Uma vez que nos ensaios de colapso no laboratório o grau de
saturação alcança valores próximos de 100%, estes autores recomendam uma correção
dos parâmetros de laboratório, a fim de levar em conta o efeito da saturação parcial,
evitando assim a sobre-estimativa dos recalques. Segundo estes autores, para graus de
saturação entre 65 a 70 %, essencialmente todo colapso ocorrerá e para grau de
saturação de 50 % o colapso será, aproximadamente, 85 % do colapso total. Em outros
estudos de campo, o grau de saturação máximo observado (limite superior) variou entre
50 e 70 %, para situações de fluxo descendente (HOUSTON e HOUSTON, 1997).

(a) Ensaio de Laboratório (b) Ensaio de Campo

Figura II.18. Ensaios de infiltração no campo e no laboratório (EL-EHWANY e


HOUSTON, 1990).
51

Admitindo-se a hipótese de inundação extrema, alguns autores têm utilizado


resultados de ensaios edométricos ou ensaios de campo para prever os recalques de
colapso em uma fundação superficial (JENNINGS e KNIGHT, 1975; HOUSTON et al.,
1988). Em publicação mais recente, CONCIANI et al. (1998) previram os recalques
decolapso de um ensaio de placa realizado por CONCIANI (1997), considerando a
teoria da elasticidade no cálculo das tensões e as equações constitutivas do modelo
elastoplástico de FUTAI (1997) no cálculo das deformações. Em outra ocasião, FUTAI
et al. (2001) previram os recalques desse ensaio utilizando o mesmo modelo
implementado em um programa de elementos finitos por SILVA FILHO (1998).
Resultados semelhantes foram obtidos por COSTA et al. (2003) ao prever os recalques
de ensaios realizados com o Expansocolapsômetro utilizando um programa de
elementos finitos. Os resultados das análises de CONCIANI et al. (1998) e FUTAI et al.
(2001) encontram-se resumidos na Figura II.19, onde percebe-se que os recalques
previstos foram muito próximos dos medidos. Mais adiante serão apresentados alguns
modelos elastoplásticos que serão considerados nas análises dos resultados dos ensaios
edométricos desta tese.

0 0

10 10
RECALQUE (mm)

20 20

30 Previsão Analítica 30 Previsão Numérica


(CONCIANI et al., 1998) (FUTAI et al., 2001)
40 40

Experimental Experimental
50 50
Previsão Previsão
60 60
0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50
TENSÃO (kPa) TENSÃO (kPa)

(a) (b)

Figura II.19. Previsão de recalques de um ensaio de placa utilizando o modelo


elastoplástico de FUTAI (1997): a) previsão analítica (CONCIANI et al., 1998); b)
previsão utilizando o programa CRISPUNSAT de SILVA FILHO (1998) (FUTAI et al.,
2001).
52

Dada às dificuldades em se obter os parâmetros do solo na condição não


saturada, o uso de modelos elástoplásticos para solos não saturados tem limitado-se a
trabalhos de pesquisa em nível acadêmico. O procedimento mais usual de previsão de
recalques de colapso é, simplesmente, multiplicar as deformações de colapso obtidas
por ensaios edométricos pela espessura da camada envolvida no processo (JENNINGS e
KNIGHT, 1975). Em outras situações, busca-se estimar as tensões no solo sob a
fundação utilizando as equações da teoria da elasticidade, subdividindo o perfil de solo
sob a fundação em camadas e multiplicando a deformação de colapso pela espessura da
camada correspondente (ex: HOUSTON, et al., 1988). São simplificações, pois as
variações no estado de tensões por decorrência do umedecimento são desconhecidas.
Além disso, os ensaios edométricos foram desenvolvidos para obter parâmetros a serem
utilizados na previsão de recalques por adensamento, cujas hipóteses simplificadoras
(semi-espaço infinito, fluxo na direção vertical) se ajustam a este tipo de ensaio. Numa
fundação superficial, tanto as condições de tensão quanto às de deformações não
obedecem a este princípio. Com base em resultados de ensaios edométricos em uma
célula adaptada para medir a tensão lateral, VILAR e MACHADO (1997) mostraram
que a tensão horizontal aumenta com o processo de umedecimento, resultando em
aumento do Ko.

Uma vez que, no campo não existe restrição das deformações horizontais (como
ocorre nos ensaios edométricos), a depender do valor da tensão vertical de inundação,
significativos deslocamentos horizontais podem ocorrer, acentuando os recalques.
Apesar destas limitações vários autores têm admitido previsões de recalques
satisfatórias utilizando estes procedimentos, a exemplo de JENNINGS e KNIGHT
(1957 e 1975) e HOUSTON et al. (1988). A seguir serão apresentadas e discutidas duas
propostas de previsão de recalques em solos colapsíveis.

II.8.2 Ensaio edométrico duplo

II.8.2.1 Proposta de JENNINGS e KNIGHT (1957) e (1975)

JENNINGS e KNIGHT (1957) propõem que as deformações de colapso sejam


obtidas das curvas ajustadas dos ensaios edométricos duplos. Em concepção, este tipo
53

de ensaio compara duas curvas e ou ε vs. log σv (uma na umidade natural e outra

inundada) proveniente de duas amostras “idênticas”. Todavia, por mais homogêneo que
pareça, os solos são heterogêneos e a hipótese de se obter amostras idênticas é uma
situação rara. Mesmo quando dois corpos-de-prova apresentem índice de vazios iguais é
possível que fatores associados à microestrutura (ex: distribuição dos poros;
concentração de agentes de cimentação resistentes à ação da água; variações na
granulometria) possam influenciar na compressibilidade do solo.

Um outro ponto a se considerar, talvez de maior relevância, a se considerar é a


perturbação a que todo solo é submetido durante os processos de amostragem e
manuseio no laboratório, que podem influir consideravelmente nos resultados. Tudo
isso conduzirá a diferenças no trecho inicial das curvas inundadas e na umidade natural.
Para corrigir este problema, estes autores propuseram um método gráfico de ajuste de
curva, conforme representado na Figura II.20.

O método, parte da hipótese que todo solo no estado natural, em uma


profundidade qualquer encontra-se em equilíbrio sob a tensão geostática, independente
das variações de umidade. Em outras palavras, o método se aplica a solos
condicionalmente colapsíveis. Em linhas gerais, consiste em transladar verticalmente

uma das curvas para o ponto (eo, σvo), definido pelo índice de vazios do solo na tensão

devido ao peso das terras (σvo).

(a) Ajuste das curvas para um solo (b) Ajuste das curvas para um solo pré-
normalmente adensado adensado.

Figura II.20. Representação gráfica do ajuste das curvas segundo JENNINGS e


KNIGTH (1975).
54

De acordo com a Figura II.20, a deformação volumétrica específica

correspondente a um acréscimo de tensão total Δσv, além da tensão devido ao peso das

terras, pode ser calculada segundo as expressões:

1) antes da inundação

Δes
s1 = II.24
1 + eo

2) após a inundação sob uma tensão vertical total σv constante.

Δec
s2 = II.25
1 + eo

onde: Δes é a variação do índice de vazios, desde antes da inundação até a tensão σv
considerada,

Δec é a variação do índice de vazios devido à inundação, sob tensão σv


constante.

eo é o índice de vazios na coordenada (eo, po).

Os recalques de uma sapata podem, então, ser estimados bastando multiplicar a


deformação volumétrica correspondente a cada parcela (Equações II.24 e II.25) pela
espessura da camada H envolvida no processo. Antes da inundação, esta espessura é
limitada pela profundidade abaixo da placa, onde as tensões induzidas são
significativas. Após a inundação há que se considerar a extensão da frente de
umedecimento, que pode ser inferior a da profundidade das tensões induzidas.

JENNINGS e KNIGHT (1975) comentam sobre a aplicação do procedimento em


oito casos práticos, onde os recalques de colapso têm sido registrados e as tensões
conhecidas. A comparação entre os recalques medidos e os previstos, dentro de um
limite de confiança, foi coerente em todos os casos.

AITCHINSON (1973) ressalta três limitações dos ensaios edométricos duplos


que podem influenciar na estimativa de recalques. A primeira diz respeito à
dependência do colapso com a umidade inicial (sucção) do solo. A segunda é que o
processo do colapso pode depender do caminho de tensões. A terceira refere-se ao
55

mecanismo de colapso, que pode ser controlado por outro fator do que, meramente, a
sucção, tal como a interação química.

Há divergências quanto à influência do caminho de tensões nas deformações de


colapso. BARDEN et al. (1969), utilizando uma célula desenvolvida por ROWE e
BARDEN (1962) e adaptada para realizar ensaios com controle da sucção, avaliaram o
efeito do caminho de tensões nas deformações volumétricas de amostras compactadas.
Nos corpos-de-prova moldados sob as mesmas condições iniciais (energia de
compactação, umidade, peso específico seco e granulometria) e sem características
expansivas, estes autores concluíram que as deformações volumétricas independem do
caminho de tensões, quando este envolve aumento do grau de saturação (redução da
sucção). Esta conclusão valida a hipótese de que ambos ensaios edométricos (duplo ou
simples) devem conduzir ao mesmo resultado.

A conclusão de BARDEN et al. (1969) conclusão é respaldada por ALONSO et


al. (1987), sendo admitida em um modelo constitutivo para solos não saturado
elaborado por ALONSO et al. (1990).

Na Figura II.21 estão apresentados dois exemplos da literatura justificando o


exposto nos parágrafos anteriores.

LUTENEGGER e SABER (1988) atribuem à heterogeneidade dos corpos-de-


prova as divergências obtidas ao comparar ensaios edométricos duplos e simples. Por
outro lado FUCALE e FERREIRA (2001) atribuíram à influência da trajetória de
tensões a ligeira superioridade das deformações de colapso obtidas nos ensaios
edométricos simples, quando comparadas com os ensaios duplos. Conclusão semelhante
é apresentada por NOORANY (1992), ao comparar resultados de ensaios edométricos e
de triaxiais de compressão hidrostática em amostras pré-inundada e inundada em
determinadas tensões.

Segundo HOUSTON (1996), o efeito do caminho de tensões é insignificante


quando comparado à variabilidade espacial (heterogeneidade) do solo, atribuindo a esta
última as divergências observadas nos valores das deformações volumétricas obtidas em
ambos ensaios edométricos. Em geral, após a inundação, as deformações finais obtidas
em ensaios edométricos simples, tenderão a agrupar-se em uma estreita faixa (Figura
II.22), cuja amplitude será uma conseqüência da heterogeneidade do solo.
56

0.9 0.9
Ensaio No.16 16A Inundado em σv i
0.8 16B 0.8
Tensão de 16C
ÍNDICE DE VAZIOS

0.7 Compactação - Pco 16D 0.7


Inundado
0.6 0.6
γ d=15.92 kN/m
3 w = 5%
So=15.0-15.8%
0.5 So=45.0 % 0.5
wo=11 %
Solo Compactado
0.4 0.4
(Maswowe, 1985)
Loess - Tailândia
0.3 0.3 (Phien-wej et al, 1992)

0.2 0.2
10 100 1000 10000 10 100 1000 10000

TENSÃO VERTICAL (kPa) TENSÃO VERTICAL (kPa)

(a) (b)

Figura II.21. Comparação entre resultados de ensaios edométricos simples e duplos: a)


solo compactado (MASWOWE, 1985 citado por ALONSO et al., 1987); b) loess
(PHIEN-WEJ et al., 1992).

II.8.3 Ensaio edométrico simples

II.8.3.1 Proposta de HOUSTON et al. (1988)

Os ensaios duplos permitem determinar as deformações de colapso para


qualquer nível de tensão. Por outro lado, sua interpretação pode ser afetada em solos
heterogêneos, com grandes variações nos índices de vazios.

Admitindo independência da trajetória de tensões entre ensaios edométricos


duplos e simples, HOUSTON et al. (1988) apresentam uma proposta baseada em apenas
um ensaio edométrico simples para prever as deformações de colapso, em qualquer
nível de tensão. O procedimento de laboratório pode assim ser resumido:

1) Uma amostra na umidade natural é colocada no aparelho edométrico sob uma tensão
de ajuste de 5kPa. Assume-se que as deformações decorrentes desse carregamento
são provenientes de efeito de perturbação da amostra, não sendo incluídas na
construção gráfica da curva ε ou e vs. logσv a deformação decorrente deste
carregamento.
57

Figura II.22. Representação esquemática do resultado da inundação em solos


colapsíveis (HOUSTON, 1996).

2) A amostra na umidade natural é carregada, por estágio, até uma tensão igual ou
superior a prevista de campo. Para cada incremento de carga, as leituras são tomadas
a cada meia hora até que menos de 1% da compressão ocorra em uma hora. Neste
ponto, a amostra é inundada e as deformações de colapso acompanhadas.

3) Após a estabilização das deformações de colapso, a amostra inundada é submetida a


um aumento adicional de tensão, definindo a forma final da “curva inundada”.

A Figura II.23 ilustra a construção da curva de laboratório para prever as


deformações de colapso. A curva ABC mostra as deformações resultantes do
carregamento da amostra sob condição natural. A linha CD mostra as deformações de
colapso resultantes da inundação. A linha DE mostra as deformações resultantes do
carregamento adicional da amostra inundada. A linha AD é uma construção gráfica
aproximada que representa a curva que resultaria de uma segunda amostra idêntica,
proveniente de um ensaio inundado no ponto A. Este procedimento tende a amenizar os
efeitos associados a heterogeneidade do solo, comum nos ensaios edométricos duplos.

HOUSTON (1996) ressalta como a principal vantagem do procedimento


representado na Figura II.23 é que uma maior quantidade de dados é obtida a partir de
um único corpo-de-prova, com as amostras remanescentes podendo ser utilizadas na
avaliação da variabilidade espacial do depósito. Neste mesmo trabalho, este autor
58

apresenta uma alternativa para obtenção da curva tensão-deformação de colapso,


consistindo da realização de uma série de ensaios edométricos simples.

Figura II.23. Curva de compressão de laboratório de acordo com a proposta de


HOUSTON et al. (1988).

Semelhante a proposta de JENNINGS e KNIGHT (1957 e 1975), os recalques


de colapso de uma fundação superficial será calculado multiplicando as deformações de
colapso correspondentes a tensão vertical total no centro de cada camada do perfil de
solo sob a fundação, obtidas a partir da construção gráfica da Figura II.23, pela
espessura da camada correspondente.

HOUSTON et al. (1988) utilizaram esta metodologia para prever os recalques


devido à inundação de uma sapata protótipo. Para isso, amostras adjacentes ao protótipo
foram coletadas em diferentes profundidades. Na Figura II.24 está apresentado o perfil
com a correspondente estratigrafia do terreno e a Tabela II.8 um exemplo da aplicação
do método, com os resultados da previsão. A tensão no centro de cada camada foi
calculada considerando a soma da tensão induzida pelo carregamento aplicado à sapata,
e a tensão geostática.
59

Figura II.24. Perfil de solo referente aos dados da Tabela II.6 (HOUSTON et al., 1988).

Tabela II.8. Exemplo de aplicação do método de HOUSTON et al. (1988).

Prof. do Tensão Recalque de


terreno induzida Tensão Tesão colapso
abaixo da Fator de pela Geostática total Percentagem de Espessura previsto na
Zona Amostra
superfície Influência sapata colapso da zona zona
(1) (3) (kPa) (kPa)
(m) (4) (kPa (8) (m) (mm)
(6) (7)
(2) (5) (9) (10)

1 0,4 – 0,6 1B 0,7926 52,6 1,3 53,9 9,5 6 14,478


2 0,6 – 0,7 1B 0,4647 30,8 4,0 34,8 7,7 6 11,684
3 0,7 – 0,9 1D 0,2858 19,0 6,6 25,6 6,4 6 9,652
4 0,9 – 1,0 1D 0,1732 11,8 9,2 21,0 5,6 6 8,636
5 1,0 – 1,2 4A 0,1184 7,9 11,9 19,7 3,5 6 5,334
6 1,2 – 1,3 4A 0,0855 5,6 14,5 20,2 3,5 6 5,334
4 1,3 – 1,5 4A 0,0608 4,0 17,6 21,6 3,7 8 7,62
8 1,5 – 1,7 4B 0,0447 3,0 20,2 23,1 0,0 6 0
9 1,7 – 1,8 4C 0,0372 2,5 22,8 25,3 3,7 6 5,588
10 1,8 – 2,0 4C 0,0311 2,1 25,4 27,5 3,9 6 5,842
11 2,0 – 2,1 4D 0,0262 1,7 28,1 29,8 5,6 6 8,636
12 2,1 -2,3 4D 0,0222 1,5 30,7 32,2 5,9 6 8,89

Nota: Recalque total previsto = 91,7mm; Recalque medido: 89 mm


60

A distribuição das tensões devido ao carregamento da sapata foi calculada


usando a teoria de distribuição de Westergaard, baseada na hipótese de que a rigidez
horizontal é um tanto maior que a vertical.

O recalque total estimado (97,1 mm) foi, surpreendentemente, próximo ao


medido (89 mm), sugerindo que o método pode ser promissor na prática da engenharia.

II.9 MODELOS CONSTITUTIVOS PARA SOLOS NÃO SATURADOS

O desenvolvimento de modelos constitutivos para solos não saturados deu-se


início ao a partir da década de 70. Os primeiros modelos apresentados eram do tipo
elástico, admitindo-se uma relação linear entre as variáveis de tensão e as variáveis de
deformação, dentre os quais destacam-se as proposta de FREDLUND (1979) e a
proposta de ALONSO et al. (1988) citados por FUTAI (1997).

No fim da década de 80, uma grande contribuição foi dada por ALONSO et al.
(1987). Estes autores apresentaram as bases conceituais para o desenvolvimento de um
modelo elastoplástico para solos não saturados. As expressões analíticas desse modelo
são apresentadas em ALONSO et al. (1990). Alterações posteriores foram realizadas
por outros autores, possibilitando considerar o colapso máximo.

Alguns desses modelos serão apresentados nos itens subseqüentes, com ênfase
aos modelos elastoplásticos em função de sua aplicação nesta tese.

II.9.1 Modelos elásticos

II.9.1.1 Proposta de FREDLUND (1979)

As relações constitutivas deste modelo foram elaboradas como uma extensão das
equações da teoria da elasticidade para solos não saturados, similar à proposta de
BRIOT (1941), considerando as variáveis de tensão (σ-ua) e (ua-uw).
61

(óx - u a )
åx = −
ì1
(σ y + σ z − 2u a ) + (u a - u w ) II.26
E1 E1 H1

(ó - ua ) ì1 (u - u )
åy =
y
− (σ x + σ z − 2u a ) + a w II.27
E1 E1 H1

(óz - u a )
åz = −
ì1
(σ x + σ y − 2u a ) + (u a - u w ) II.28
E1 E1 H1
Sendo:

εx, εy, εz = deformação específica segundo as direções x, y, e z;

E1 = módulo de elasticidade para o carregamento de (σ-ua);

μ1 = coeficiente de Poisson; e

H1 = módulo de elasticidade para o carregamento de (ua-uw).

Os parâmetros são determinados a partir de ensaios de laboratório. Em geral, a


relação tensão-deformação é considerada linear apenas para uma limitada faixa de
tensão. FREDLUND E RAHARDJO (1993) propõem que os parâmetros sejam obtidos
através de pequenos incrementos para a tensão e deformação. Este procedimento tem
sido adotado por SILVA FILHO (1998) nas análises numéricas de fundação superficial
utilizando o programa de elementos finitos UNSTRUCT, que utiliza as equações
constitutivas deste modelo.

II.9.1.2 Proposta de ALONSO et a.l (1988) citado por FUTAI (1997)

Neste modelo as deformações resultam da soma de duas parcelas. Uma devido


aos efeitos da variação de tensões e a outra causada pala variação da sucção.

dε = De-1dσ* + dεo I I.29

Onde:
62

σ* = σ-mua e m = {1,1,1,0,0,0,};

De: matriz do modelo elástico não linear com (K, G), onde K é o módulo de

compressibilidade volumétrica, sendo determinado a partir das superfícies de


estado;

ε0: a deformação inicial, podendo ser obtidos a partir de ensaios edométricos ou


isotópicos;

G: módulo cisalhante obtido a partir expressão tensão-deformação hiperbólica.

⎡ (ó − ó3 ) R ⎤
G = [G 0 + M (u a − u w )]⎢1 − 1 ⎥ II.30
⎣ (ó1 − ó3 ) f ⎦

Onde:

M = constante;

R = constante próxima de 1;

(σ1-σ3)f = tensão desvio na ruptura, pode-se adotar um critério de ruptura tipo


Mohr-Coulomb ou outro.

II.9.2 Modelos elastoplásticos

Os modelos elastoplásticos foram concebidos para analisar o comportamento


deformacional de um solo segundo duas componentes de deformação: uma elástica e
uma plástica, limitadas por uma superfície de escoamento.

O primeiro modelo constitutivo, desenvolvido para solos saturados, onde a


compressibilidade e resistência passaram a serem tratados como um enfoque único e
dependente, foi o Cam Clay (ROSCOE e SCHOFIELD, 1963 e SCHOFIELD e
WROTH, 1968). Posteriormente, SCHOFIELD e BURLAND (1968) apresentam uma
versão modificada (Cam Clay Modificado), cuja principal diferença está na forma da
curva de escoamento. Ambos os modelos incorporam conceitos de estados críticos e
plasticidade com endurecimento plástico. Os conceitos e equações constitutivas de
ambos modelos podem ser encontradas em e AITCHINSON e BRANSBY (1978) e
WOOD (1990), respectivamente.
63

Seguindo este mesmo princípio, ALONSO et al. (1990) apresentaram as


equações constitutivas do primeiro modelo elastoplástico para solos não saturados. Nos
itens subseqüentes serão apresentados os aspectos conceituais e as equações
constitutivas dos modelos de ALONSO et al. (1990), WHEELER e SIVAKUMAR
(1995) e FUTAI (1997).

II.9.2.1 Modelo de ALONSO, GENS e JOSA (1990)

ALONSO et al. (1987) apresentaram um modelo conceitual, para um estado de


tensão isotrópico, no qual inclui o conceito de endurecimento plástico controlado pela

tensão média líquida p = σm-ua, sendo σm=(σ1+σ2+σ3)/3, e a sucção matricial (s).

Num plano p versus s (Figura II.25) o espaço elástico será definido por duas curvas de
escoamento: a LC (“load collapse”) definida pela tensão de escoamento isotrópica em
diferentes valores de sucção; e a outra SI (“suction increase”), que é paralela ao eixo de

tensão isotrópica, definida pela sucção so (Figura II.25b), idealizada como sendo a

máxima sucção experimentada pelo solo. Qualquer variação (p e/ou s) no estado de


tensão dentro do espaço limitado por estas duas curvas resultará em deformações
elásticas (recuperáveis). Uma vez ultrapassado estes limites, deformações plásticas
(irreversíveis) ocorrerão, resultando na ampliação do espaço elástico.

Vários caminhos de tensão poderão resultar na ampliação do espaço elástico. O


aumento de s acima do limite so deslocará a SI. A redução da sucção sob uma tensão
isotrópica constante, ou aumento da tensão isotrópica sob sucção constante resultará no
deslocamento da LC, daí o termo “load collaps e” (carga – colapso).

• idealizado para um solo não plástico ou pouco plástico, de moderada


expansividade. A expansão está associada a deformações elásticas, enquanto o
colapso a deformações plásticas;

• admite-se o acoplamento das curvas de escoamento LC e SI (Figura II.25b), ou


seja, o deslocamento de uma delas resultará no deslocamento da outra;

Como principais características do modelo destacam-se:

• a rigidez do solo aumenta com o aumento da sucção;


64

v
p0* p01 p02 p

s2

s1
s=0
(a)

SI
s0

s2 LC

s1

p0* p01 p02 p


(b)

Figura II.25. a) Caminhos de tensões para carregamento isotrópico (p) e sucção (s)
constantes; b) Superfícies de escoamento SI e LC (ALONSO et al., 1987).

• as deformações volumétricas são independentes do caminho de tensões quando


este envolve carregamento e redução sucção, e dependentes quando o caminho
de tensões envolve aumento da sucção.

Equações constitutivas para um estado de tensão isotópico

O modelo foi idealizado para o estado de tensão isotrópico e triaxial, tomando-se


como base o Cam Clay Modificado. A seguir serão apresentadas a equações
constitutivas do modelo, propostas por ALONSO et al. (1990).

ALONSO et al. (1990) utilizaram o espaço de tensão (p, s) para definir o estado
de tensão isotópico. Analogamente ao comportamento dos solos saturados, o volume
específico (v = 1 + e) para o trecho virgem será definido por:
65

p
v = N(s ) − ë(s )ln II.31
pc

onde: pc é uma tensão de referência para a qual v = N(s); e


λ(s) é um parâmetro de rigidez associado ao ramo virgem para um carregamento
isotrópico sob sucção constante.
No trecho de descarregamento e recarregamento (sob sucção constante), o solo
se comportará elasticamente. Neste trecho o volume específico será definido por:

dp
dv = − ê II.32
p

Onde κ é o índice de compressão para o trecho de descarregamento e recarregamento da


tensão isotrópica, considerado independente da sucção.

Na Figura II.26 são comparados os comportamentos de dois corpos de prova


submetidos (um saturado e o outro sob sucção constante) a um carregamento isotrópico.
Os parâmetros pc, N(s), λ(s), κ, juntamente com a tensão de escoamento (tensão de pré-
adensamento) para o solo saturado, p *0 (ponto 3), e na sucção s1, p 0 (ponto 1) são
apresentados nesta Figura. Para um hipotético caminho de tensão (1-2-3), envolvendo
descarregamento de p 0 para p *0 , com s constante, com subseqüente redução de s para
uma sucção zero sob tensão constante, o volume específico em 3 pode ser equacionado
segundo a expressão:

v3 = v1 + Δvp+Δvs II.33

Onde: Δvp e Δvs corresponde as variações volumétricas correspondente ao


descarregamento de 1-2 e a redução da sucção, respectivamente.

As variações volumétricas de 1-2 e 2-3 serão do tipo elástica uma vez que
ocorrem dentro do domínio elástico. Para o trecho correspondente ao descarregamento
de s (caminho 2-3) a variação volumétrica pode ser dada por uma expressão logarítmica,
semelhante a Equação II.34.

ds
dv = - ês II.34
(s + p atm )

onde: κs é um parâmetro de rigidez elástica para variação da sucção; e


pat é a pressão atmosférica.
66

50 250 450 650


pc p0* p0 lnp
750

700
N(0)
N(s)
650

600
Expansão 1
550v κ
3 3
Δ vs 1
v2
500v 1 Δ vp 2 κ 1
λ (s)
1
450 s
λ (0)
Colapso
400

350 s=0
(a)
v
300

350s
300s 2 1
1

250
200

150
LC
100
3
50
p0* p0 p
(b)

Figura II.26. Relação entre tensões de escoamento p 0 e p *0 : (a) curvas de compressão


isotrópica para o solo saturado e não saturado; (b) caminhos de tensão e curvas de
escoamento no plano de tensão (p, s) (ALONSO et al., 1990).

Considerando as Equações II.31, II.32 e II.34, a Equação II.33 torna-se:

p0 p0 p0 s + p at p *0
N(s) - ë(s) ln + ê ln + κ ln + ês ln = N(0) - ë(0) ln II.35
pc p *0 p *0 p at pc

A Equação II.34 fornece a relação entre p 0 e s como função de alguns valores de

referência ( p *0 , pc) e alguns parâmetros do solo (N(s), λ(s), κ, κs).

A simplificação da Equação II.35 pode ser obtida considerando que um solo,


num estado inicial não saturado, submetido a um caminho de tensão envolvendo
67

redução da sucção de s para zero, sob uma tensão constante equivalente a pc, dentro do
domínio elástico, alcance o trecho virgem da curva saturada mediante expansão elástica,
de forma que:

0 s + p at
Δv (p c ) = N(0) - N(s) = ês ln II.36
s p at

Substituindo a Equação II.36 na Equação II.35 obtém-se a relação:

[ë(0)− ê]/ [ë(s)− ê]


⎛ p 0 ⎞ ⎛ p *0 ⎞
⎜⎜ c ⎟⎟ = ⎜⎜ c ⎟⎟ II.36
⎝p ⎠ ⎝p ⎠

A Equação II.37 define o conjunto de valores de tensão de escoamento (po) para


cada sucção associada. Em outras palavra, define uma família de curvas de escoamento
LC, cuja posição será controlada pela tensão de escoamento do solo saturado ( p *0 ),
funcionando como um parâmetro de endurecimento.

ALONSO et al. (1990) consideram um aumento assintótico da rigidez com o


aumento da sucção estando próximo do comportamento da maioria dos solos, segundo
estes autores. Este aumento deverá ocorrer segundo a expressão:

λ(s) = λ(0) [(1-r) exp (-βs)+r] II.38

onde: r é uma constante relacionada com a máxima rigidez do solo, conforme a


expressão:

ë(s → ∞)
r= II.39
ë(0)

β é um parâmetro que controla o aumento da rigidez do solo com a sucção.

Segundo o modelo proposto, deformações plásticas com o aumento da sucção


ocorrerão, caso o solo seja submetido a um valor de s superior ao máximo (s0)
experimentado pelo solo em sua história. Nestas condições, a variação do volume
específico será dada por:

ds
dv = - ës II.40
(s + p at )
68

onde λs é um parâmetro de rigidez relacionado a variação da sucção para o

estado virgem do solo.

Para variações da sucção inferiores a s0 o comportamento do solo será elástico, e


a variação do volume específico poderá ser calculada pela Equação II.34.

Deformações e leis de endurecimento

De acordo com a Equação II.32, um aumento de p dentro da região elástica


induzirá uma compressão volumétrica dada por:

dv ê dp
dåevp = − = II.41
v v p

Uma vez a tensão média p alcançar o valor de escoamento p0, a deformação


volumétrica total pode ser calculada pela Equação II.42.

ë(s) dp 0
dåvp = II.42
v p0

A componente plástica da deformação volumétrica será dada pela expressão:

ë(s) − ê dp 0
dåpvp = II.43
v p0

Da Equação II.37 é possível mostrar que a deformação volumétrica plástica


(Equação II.42) pode também ser calculada pela expressão:

ë(0) − ê dp*0
dåpvp = II.44
v p*0

De forma semelhante ao aumento de p, um aumento da sucção dentro da região


elástica resultará em deformação volumétrica elástica, segundo a expressão:

ês ds
dåevs = II.45
v (s + p at )

Caso a curva de escoamento s = s0 seja alcançada, deformações plásticas


ocorrerão.
69

ës ds 0
dåvs = II.46
v (s 0 + p at )

ës − ês ds 0
dåpvs = II.47
v (s 0 + p at )

As deformações irreversíveis controlarão a posição das curvas de escoamento


LC e SI através das Equações II.44 e II.47. Baseado em evidências experimentais, que
indicam acoplamento entre as duas curvas de escoamento. ALONSO et al. (1990)
propõem a seguinte Lei de Endurecimento:

dp*0 v
*
= dåpv II.48
p0 ë(0) - ê

ds 0 v
= dåpv II.49
s 0 + p at ës − ês

Equações constitutivas para um estado de tensão triaxial (q ≠ 0)

Para considerar o efeito das tensões cisalhantes, a tensão desvio (q = σ1-σ3) foi
introduzida como um terceiro parâmetro de tensão. Para este novo estado tensão, o
estado de deformação é definido segundo a mesma formulação do modelo Cam Clay
Modificado.

Para as deformações volumétricas εv, tem-se:

εv = ε1 + 2ε3 II.50

Para as deformações cisalhantes εs, tem-se:

2
ås = (å1 − å3 ) II.51
3

Assim como no modelo Cam Clay Modificado, a curva de escoamento para uma
sucção s constante, no plano p versus q, é descrita por uma elipse, a qual exibirá no eixo
de tensão isotrópica p uma tensão de escoamento dada por p0, relacionada com a curva
de escoamento LC (Figura II.27).
70

SI

LC
s1
k
1

p
p0* p0
(a)
q
linha de estados críticos s= cte
M
M
linha de estados críticos s = 0

p
-ps p0 * p0
(b)

Figura II.27. Superfícies de escoamento nos espaços: (a) (p,q) e (b) (p,s) (ALONSO et
al., 1990).

A condição ruptura em uma sucção s qualquer, foi definida por retas paralelas à
linha de estado crítico (LEC). Como hipótese, o efeito da sucção será representado por
um aumento no intercepto de coesão, mantendo a inclinação da LEC constante.
Segundo ALONSO et al. (1990) esta hipótese é aceitável para uma limitada faixa de
tensões. Admitindo-se que o aumento da coesão segue uma relação linear com a sucção,
a elipse interceptará o eixo isotrópico p em um ponto dado por:

p = -ps = -ks II.52

onde k é uma constante que descreve o aumento da coesão com a sucção.


71

As elipses serão descrita pela Equação II.52, tendo o eixo maior limitado pelos
seguimentos –ps(s) e po(s).

q 2 − M 2 (p + ps )(p0 − p ) = 0 II.53

O modelo propõe também que a superfície de escoamento SI se estenda dentro


da região q > 0 por meio de um plano paralelo ao eixo q, de forma que a Equação II.53
seja mantida no espaço (p, q, s). Uma visão tridimensional da superfície de escoamento
é dada na Figura II.28.

s
dεpp sp

dεvp p

Figura II.28. Superfície de escoamento no espaço (p, q, s).

O modelo considera o incremento das deformações plásticas associado com a


superfície de escoamento no plano (p, q) segundo uma lei de fluxo não associada no
plano s = constante, introduzindo um parâmetro α, resultando na expressão:

dåsp 2qá
= 2 II.54
dåvp M (2p + ps − p 0 )
p

O parâmetro α é escolhido de forma que esta lei seja capaz de prever


deformações laterais nulas para condição K0 de JAKY (1948):

6 − 2M
K 0 = 1 − senφ , = II.55
6+M

Para a condição de deformação lateral nula α será dado por:


72

⎧ ⎫
⎪ ⎪
M (M − 9)(M − 3) ⎪ 1 ⎪
á= ⎨ ⎬ II.56
9(6 − M ) ⎪ ⎡1 − ê⎤ ⎪
⎪⎩ ⎢⎣ ë(0) ⎥⎦ ⎪⎭

As deformações elásticas dεse=2/3(dε1e - dε3e) induzidas por variações em q será


calculadas através do módulo cisalhante G, segundo a expressão:

⎛1 ⎞
dåse = ⎜ G ⎟dq II.57
⎝3 ⎠

II.9.2.2 Modelo WHEELER e SIVAKUMAR (1995)

A proposta de WHEELER e SIVAKUMAR (1995) visa corrigir algumas


incompatibilidades do modelo ALONSO et al. (1990), de forma a obter melhor ajuste
aos resultados experimentais realizados em um Caulim compactado. A principal
divergência observada entre os resultados experimentais e o previsto pelo modelo de
ALONSO et al. (1990) foi o aumento de λ(s) e N(s) com o aumento da sucção, onde o
modelo prevê comportamento inverso.

A principal modificação proposta por WHEELER e SIVAKUMAR (1995)


ocorreu nas equações constitutivas da curva de escoamento LC e da elipse no plano
(p,q), permitindo modelar a diminuição ou aumento da rigidez com a sucção.

Equações constitutivas para um estado de tensão isotrópico (q = 0)

A expressão para a linha de compressão isotrópica permaneceu, praticamente, a


mesma de ALONSO et al. (1990), com a ressalva de que a pressão de referência pc foi

substituída pela pressão atmosférica (patm), considerada 100 kPa.

⎛ p ⎞
v = N(s) − ë(s)ln⎜⎜ ⎟⎟ II.58
⎝ p atm ⎠

sendo: N(s) e λ(s) dependentes da sucção.


73

WHEELER e SIVAKUMAR (1995) justificam a escolha de pat para tornar a

Equação II.58 dimensionalmente consistente e garantir que o intercepto N(s) refira-se a


um valor de p dentro da faixa de dados experimentais.

A equação constitutiva da LC foi determinada considerando o caminho de


tensões A-B-C representado na Figura II.29, semelhante ao adotado por ALONSO et al.
(1990), porém com sentido inverso.

B D C

A
p
p0(0) p0

(a)

v p0(0) p0
p

A
-Δv D C
B
s1
s= 0
(b)

Figura II.29. (a) Caminho de tensões e (b) curvas de compressibilidade (v, p) para
definir a equação da superfície de escoamento LC (WHEELER e SIVAKUMAR,1995).

O caminho ABC ocorre dentro do domínio elástico, sendo divido em duas


parcelas: um (A-B) partindo do estado virgem saturado (ponto A), submetido a um
aumento da sucção s sob tensão isotrópica p(0) constante; o outro (B-C) correspondente
74

ao aumento da tensão isotrópica sob s constante, até alcançar o estado virgem não
saturado (ponto C). A variação volumétrica para este caminho de tensão será dada pela
expressão:

⎛ s + p atm ⎞ ⎛ p (s) ⎞
Äv = -ês ln⎜⎜ ⎟⎟ − ê ln⎜⎜ 0 ⎟⎟ II.59
⎝ p atm ⎠ ⎝ p(0) ⎠

Os parâmetros correspondem aos mesmos utilizados por ALONSO et al. (1990),


porém a tensão de escoamento saturada ( p *0 ) foi designada p(0) por WHEELER e
SIVAKUMAR (1995).

Uma vez que tanto o ponto A quanto o ponto C estão sobre a curva de
compressão virgem saturada e na sucção s, respectivamente, a variação volumétrica de
A para C pode ser calculada pela expressão alternativa:

⎛ p ⎞ ⎛ p (0) ⎞
Äv = N(s) - ë(s) ln⎜⎜ 0 ⎟⎟ − N(0) + ë(0) ln⎜⎜ 0 ⎟⎟ II.60
⎝ p atm ⎠ ⎝ p atm ⎠

Igualando as Equações II.59 e II.60 e re-arranjando tem-se a equação


constitutiva da curva de escoamento LC.

⎛ p(0) ⎞
[λ (s ) − κ ]ln⎛⎜⎜ p0 ⎞
⎟⎟ = [λ (0) − κ ]ln⎜⎜
⎛ s + p atm
⎟⎟ + N (s ) − N (0) + κ s ln⎜⎜

⎟⎟ II.61
⎝ p atm ⎠ ⎝ p atm ⎠ ⎝ p atm ⎠

O modelo proposto é muito similar ao de ALONSO et al. (1990), sendo


ligeiramente diferentes nas posições iniciais adotadas nos caminhos de tensões. Para o
caso particular de pc = p *0 , o modelo de Alonso iguala-se ao de WHEELER e
SIVAKUMAR (1995).

O modelo não apresenta funções para descrever o comportamento dos


parâmetros λ(s) e N(s) com a sucção. A variação destes parâmetros considerada
empiricamente através da Equação II.61.

Equações constitutivas para um estado de tensão triaxial (q ≠ 0)

Assim como no modelo de ALONSO et al. (1990), associaram a curva LC com a


tensão desvio q, formando uma superfície de escoamento no espaço (p,q,s). No cálculo
75

das deformações volumétricas e das deformações cisalhantes são mantidas as equações


II.53 a II.54.

No plano de (p,q) e (p,v) a linha de estados críticos é definida segundo as


Equações II.62 e II.63, respectivamente.

Para tensão desvio (q)

q = M(s) p + μ(s) II.62

Para o volume específico (v)

⎛ p ⎞
v = Γ(s) - ø(s) ln⎜⎜ ⎟⎟ II.63
⎝ p atm ⎠

Nesta proposta, os parâmetros M(s), μ(s), Γ(s) e ψ(s), representados na Figura


II.30, variam com a sucção. Na proposta de ALONSO et al. (1990) o parâmetro M é
considerado constante.

Tanto a linha de estado crítico (LEC), quanto a curva de escoamento LC


definirão a forma da curva de escoamento no espaço (p,q,s). No plano (p,q) as linhas de
estado crítico e compressão isotrópica (LCI), para uma sucção s qualquer, interceptarão
a curva de escoamento no plano (p,q). As tensões médias líquidas (p0 para a LCI e px
para a LEC) nos pontos de interseção serão dadas pelas Equações II.64 (para a LCI) e
II.65 (para a LEC).

⎡ ⎛ p ⎞ ⎤
⎢ N(s) − ë(s) ln⎜⎜ ⎟⎟ − v ⎥
p0
= exp ⎢ ⎝ p at ⎠ ⎥ II.64
p ⎢ ë(s) − ê ⎥
⎢ ⎥
⎣⎢ ⎦⎥

⎡ ⎛ p ⎞ ⎤
⎢ Ã(s) − ø(s) ln⎜⎜ ⎟⎟ − v ⎥
px
= exp ⎢ ⎝ p at ⎠ ⎥ II.65
p ⎢ ø(s) − ê ⎥
⎢ ⎥
⎣⎢ ⎦⎥
76

linha de estados M
críticos
1

B C

M*
μ(s) A
1 p
px p p0
(a)
v
px p p0 p

1
λ(s)
B
C A
1
linha de adensamento
ψ(s)
istrópico

linha de estados
críticos
(b)

Figura II.30. Curva de escoamento no plano (p,q) para uma sucção constante
(WHEELER e SIVAKUMAR, 1995).

WHEELER e SIVAKUMAR (1995) também adotaram uma forma elíptica da


curva de escoamento no plano (p,q) passando pelos pontos A (p = p0, q = 0) e B (p = px,
q = M(s)px + μ(s)), com o ápice coincidindo em B, equivalente ao modelo Cam Clay
Modificado.

Para o caso onde o prolongamento da elipse (para uma sucção s qualquer),


passando em B, não coincida com a origem, a expressão da elipse será dada por:

q2 = M*2(p0 – p)(p + p0 – 2px) II.66

sendo:

M(s)p x + ì(s)
M* = II.67
p 0 (s) − p x
77

II.9.2.3 Modelo de FUTAI (1997)

Com base nas análises de vários modelos elastoplásticos e de resultados


experimentais. FUTAI (1997) apresenta um modelo elastoplástico para estado de tensão
isotrópico. O modelo tem como princípio as propostas de ALONSO et al. (1990) e
WHEELER e SIVAKUMAR (1995).

Na formulação da equação constitutiva da curva de escoamento LC, o modelo


adota funções para os parâmetros N(s), λ(s) e κ(s), as quais podem ser crescentes ou
decrescentes, a depender do tipo de solo e nível de tensão isotrópica p alcançada no
ensaio.

De acordo com FUTAI (1997), o comportamento de um solo “altamente


colapsível” pode ser dividido, hipoteticamente, em quatro regiões (Figura II.31).

1) região I – com comportamento elástico correspondendo ao trecho de


descarregamento e recarregamento, com inclinação definida pelo parâmetro
κ(s), o qual diminui com o aumento da sucção;

2) região II – começa quando a curva deixa de acompanhar de forma tangente a


reta de inclinação κ(s). Esta região é uma transição entre as regiões I e III. A
curva do parâmetro de compressibilidade inicia com tendência a abrir, logo
depois começa a fechar até coincidir com λ(s);

v ln p
s2 s3 região II
s1
região I
região III
s=0

s3 > s2 > s1
região IV

Figura II.31. Idealização do comportamento dos solos não saturados submetidos à


compressão isotrópica (FUTAI, 1997).
78

3) região III – é a região virgem propriamente dita, que pode ser aproximada a
uma reta com inclinação λ(s);

4) região IV – ocorre para valores elevados da tensão isotrópica, onde as curvas,


sob diferentes valores de s, tendem a se tornar paralelas e próximas.

O modelo foi elaborado para se adequar a solos que apresentam comportamento


de λ(s) crescente com a sucção, os quais não eram contemplados com o modelo de
ALONSO et al. (1990). Para tanto, FUTAI (1997) propôs algumas modificações nas
equações constitutivas dos parâmetros variáveis com a sucção, de modo a contemplar
solos que apresentavam comportamento de λ(s) tanto crescente quanto decrescente com
a sucção.

Para o caso de λ(s) crescente com o aumento da sucção, um ponto A (Figura


II.32) definido pela coordenada (pf, Nf) foi idealizado para facilitar a obtenção das
funções dos parâmetros.

Formulação do parâmetro λ(s)

A função λ(s) foi obtida a partir da proposta de ALONSO et al. (1990),


utilizando diretamente a função λ(∞), conforme a expressão:

λ(s) = λ(0) + [λ(∞) - λ(0)](1-e-βs) II.68

para λ(∞) > λ(0), a função é crescente e com concavidade para cima;
para λ(0) > λ(∞), a função é decrescente e com concavidade para baixo;

Onde: λ(∞) é a inclinação da reta virgem para sucção tendendo ao infinito;


β é o parâmetro que controla a rigidez do solo com a variação da sucção.

Formulação do parâmetro N(s)

O volume específico segundo o modelo Cam Clay é:

⎛ p⎞
v = N(s) - ë(s) ln⎜⎜ ⎟⎟ II.69
⎝ pc ⎠

Observando a Figura II.31 obtém-se para N(s)


79

⎛p ⎞
N(s) = N f + ë(s) ln⎜⎜ f ⎟⎟ II.70
⎝ pc ⎠

Onde: Nf é o volume específico para o qual convergem as curvas v versus p;


pf é a tensão isotrópica para a qual convergem as curvas v versus p.

Sabendo-se que no ponto A os volumes específicos são os mesmos, é possível


colocar N(s) apenas em função de pf.

Figura II.32. Parâmetros Nf e pf no espaço (v,p) (FUTAI, 1997).


⎛p ⎞
N f = N(0) + ë(0) ln⎜⎜ f ⎟⎟ II.71
⎝ pc ⎠
⎛p ⎞
N f = N(s) + ë(s) ln⎜⎜ f ⎟⎟ II.72
⎝ pc ⎠
Igualando as Equações II.71 e II.72

⎛p ⎞
N(s) = N(0) + [ë(s) - ë(0)] ln⎜⎜ f ⎟⎟ II.73
⎝ pc ⎠

onde pc será considerada igual a pressão atmosférica patm e esta igual a 100 kPa.

Considerando a Equação II.68 chega-se a função final de N(s)


80

⎛p ⎞
( )
N(s) = N(0) + [ë(∞) - ë(0)]1 − e -â ln⎜⎜ f ⎟⎟ II.74
⎝ pc ⎠

Formulação do parâmetro κ (s)

A idealização da função κ(s) segue a mesma idealização conceitual de λ(s). Os


resultados dos ensaios realizados por FUTAI (1997) indicaram redução de κ com o
aumento da sucção, o que significa aumento da rigidez do solo na região elástica. A
Figura II.32 apresenta, esquematicamente, a variação dos parâmetros κ(s) e λ(s) com a
sucção. Neste modelo, a função κ(s) será dada por:

κ(s) = κ(0) + [κ(∞) - κ(0)](1 – e-χs)] II.75

onde: κ(s) é a função da inclinação da reta de descarregamento e


recarregamento para um valor de sucção s;
κ(0) é a inclinação da reta de descarremento para a condição saturada;
κ(∞) é o parâmetro para o qual convergem os valores de κ(s) quando a
sucção tende ao infinito;
χ é o parâmetro que controla a rigidez com a sucção para condição
elástica.

Para κ(∞) > κ(0) a função é crescente e com concavidade para cima.

Para κ(∞) < κ(0) a função é decrescente e com concavidade para baixo.

Equação constitutiva da curva de escoamento LC

Na obtenção da curva de escoamento LC, FUTAI (1997) utilizou a mesmo


caminho de tensões (1-2-3) de WHEELER e SIVAKUMAR (1995) (Figura II.29), ou
seja:
• aumento da sucção (1-2) com tensão isotrópica igual a p *0 ; e

• aumento da tensão isotrópica p com sucção constante (2-3)

Considerando que o caminho de tensões adotado ocorre dentro do domínio


elástico do solo, a variação do volume específico será dada por:
81

⎛ s + p at ⎞ ⎛p ⎞
Äv = -ês ln⎜⎜ ⎟⎟ − ê(s) ln⎜⎜ *0 ⎟⎟ II.76
⎝ p at ⎠ ⎝ p0 ⎠

Como os pontos 1 e 3 pertencem às mesmas retas a mesma curva de escoamento,


a variação do volume específico também pode ser dada por:

⎛ p ⎞ ⎛ p* ⎞
Äv = N(s) - ë(s) ln⎜⎜ 0 ⎟⎟ − N(0) + ë(0) ln⎜⎜ 0 ⎟
⎟ II.77
⎝ p atm ⎠ ⎝ p atm ⎠

Igualando as Equações II.76 e II.77 e incorporando as funções λ(s), κ(s) e N(s)


tem-se a expressão da curva LC.

p0 ⎧⎪ 1 ⎡ p *0 ⎤ ⎫⎪
= exp⎨ ⎢ N(s) − N(0) + (ë(0) − ê(s))ln ⎥⎬ II.78
p atm ⎪⎩ ë(s) − ê(s) ⎣ p atm ⎦ ⎪⎭

Os parâmetros pf, β e λ(∞) são obtidos através de um sistema de três equações,

necessitando de três ensaios com sucção constante e um com sucção controlada.

Deformações

O cálculo das deformações segue o mesmo procedimento do modelo de


ALONSO et al. (1990), com a diferença da introdução da função κ(s) nas deformações
elásticas.
Para o carregamento p dentro da região elástica, as deformações volumétricas
serão dadas por:

ê(s) dp
dåevp = II.79
v p

Para um caminho envolvendo aumento da sucção, a deformação volumétrica


será dada por:

κ s ds
dε vse = II.80
v s + p atm
82

A deformação volumétrica plástica associada a LC será dada por:

ë(s) − ê(s) dp 0
dåevp = II.81
v p0
ou
ë(0) − ê(0) dp *0
dåpvp = II.82
v p *0

A deformação volumétrica plástica associada a SI é dada por:

ës − ês ds 0
dåpvs = II.83
v s 0 + p at

FUTAI (1997) considerou a mesma lei de endurecimento de BALMACEDA


(1991):

dp *0 dåvp + k ps dåvs
p p

= II.84
p *0 ë(0) − ê(0)

ds 0 k sp dåpvp + dåpvs
= II.85
s 0 + p at ës − ês

onde: k é uma constante que controla a superfície de escoamento pela ponderação


de cada deformação plástica. BALMACEDA (1991) adota k = 1, enquanto
FUTAI (1997) adota k =2.

Extensão do modelo à λ(s) decrescente

A extensão do modelo para os casos onde o parâmetro λ é decrescente com o


aumento da sucção, será feita pela própria função λ(s), bastando impor λ(0) > λ(∞). A
correspondência física dos parâmetros continua a mesma. Os parâmetros Nf e pf serão
remetidos para cima, podendo cair fora do domínio de ensaio, conforme a Figura II.33.
83

II.9.2.4 Ensaios para obtenção dos parâmetros dos modelos elastoplásticos

Os ensaios para obtenção dos parâmetros são os mesmos para todos os modelos
apresentados. ALONSO et al. (1990) propuseram dois grupos de ensaios.

v ln p
pf
Nf

Figura II.33. Parâmetros Nf e pf para λ(s) decrescente (FUTAI, 1997).

O primeiro grupo é chamado caminho de tensões convenientes para obtenção


dos parâmetros do modelo:

1) ensaio de adensamento isotrópico, sendo um deles saturado e os demais não


saturados com sucção constante, como indica a Figura II.34.

Destes ensaios obtém-se os parâmetros de compressibilidade para o


carregamento de p:
• inclinação da reta virgem saturada λ(0);
• inclinações das retas virgens para condição não saturada e sucções constantes
λ(s1), λ(s2),...;
• inclinação da reta de descarregamento e recarregamento κ, considerado
invariável com a sucção;
• tensão de pré-adensamento na condição saturada p0*;
• tensões de pré-adensamento para condição não saturada e sucções constantes
p0(s1),p0(s2), ...
84

s2

s1

s=0 p
(a)

v
p0 * p0(s1) p0(s2)
ln p
κ

λ(s2)
λ(s1)
λ(0) s2
s1
(b) s= 0

Figura II.34. Caminho de tensões e deformações produzidas para diferentes sucções e


carregamento isotrópico.

2) ensaio de carregamento e descarregamento da sucção com tensão p constante


(Figura II.35).

Destes ensaios se obtém:


• inclinação da reta virgem para carregamento da sucção, λs;
• inclinação da reta virgem para descarregamento e recarregamento da
sucção,κs;
• máxima sucção sofrida pelo solo, s0.

3) ensaios de cisalhamento (Figura II.36).

Destes ensaios é possível obter-se:

• inclinação da linha de estados críticos M;


• módulo cisalhante (tangente do gráfico q “versus” εs);

⎛ p ⎞
• parâmetro que descreve o aumento da coesão com a sucção ⎜ k = − s ⎟ .
⎝ s ⎠
85

p
(a)

v
s0
ln s
κs

λs

(b)

Figura II.35. Caminho de sucções e deformações produzidas para tensão isotrópica


constante.

Figura II.36. Ensaios de cisalhamento em diferentes sucções.

O segundo grupo de ensaios propostos por ALONSO et al. (1990) são ensaios
com caminhos de tensões múltiplos, objetivando diminuir o número de ensaios. Estes
caminhos são mostrados na Figura II.37.
86

s2
para a
ruptura

(a) p
q

s1

(b) p
q

para a
ruptura

s1

p
(c)

Figura II.37. Caminhos de tensões múltiplos para obtenção dos parâmetros do modelo
(ALONSO et al., 1990).

II.9.2.5 Considerações finais

O modelo de ALONSO et al. (1990) pode ser considerado o marco inicial das
outras propostas de modelos elastoplásticos apresentadas.

Várias considerações foram feitas tais como: rigidez crescente com a sucção,
independência dos parâmetros κ e M com a sucção, que têm sido contestadas com base
87

em evidências experimentais da literatura (ex: ESCÁRIO e SÁES, 1987; CAMPOS e


CARRILO, 1995; CAMPOS, 1997). Todavia, para uma limitada faixa de tensão e
sucção, estas considerações podem ser consideradas válidas, a depender do tipo de solo.
Além disso, a tensão de referência pc tem sido questionada por WHEELER e
SIVAKUMAR (1995) pela falta de validade experimental.

Na proposta de WHEELER e SIVAKUMAR (1995) admite-se a dependência


de, quase todos os parâmetros (λ(s), μ(s), Γ(s) e ψ(s)) do solo, da sucção, porém carece
de funções que representem a variação desses parâmetros com a sucção, podendo
acarretar em problemas na precisão de caminhos de tensões diferentes dos valores
ensaiados (FUTAI, 1997). SILVA FIHO (1998) utiliza trechos lineares e regressões
polinomiais para representar estes valores. Este procedimento foi também adotado por
FUTAI (1997). Segundo este autor, a dificuldade no uso destas regressões é a sua
independência em relação à função de escoamento.

O modelo de FUTAI (1997) permite consideração crescente ou não da rigidez


com a sucção do solo através de funções que relacionam os parâmetros com a sucção. A
utilização deste modelo na previsão de caminhos de tensões de resultados de diferentes
ensaios da literatura mostrou bem ajustados aos resultados experimentais.

O modelo de FUTAI (1997) se aplica a solos que apresentam variação crescente


ou decrescente da rigidez com a sucção. Mostrou-se bem ajustado a resultados
experimentais de diferentes solos da literatura. Para a faixa de tensão correspondente à
região II, nenhum modelo resultou em previsões satisfatórias.

Vale ressaltar que existem vários outros modelos elastoplásticos paras solos não
saturados. Em sua maioria partem das mesmas hipóteses fundamentais de ALONSO et
al. (1990). Como exemplos têm-se os modelos de BALMACEDA (1991), GEHLING
(1994) e SILVA FILHO (1998).

II.10 EQUAÇÕES EMPÍRICAS PARA SOLOS NÃO SATURADOS

Uma das dificuldades na aplicação dos modelos para solos não saturados, na
prática da engenharia, está nos ensaios necessários para obtenção dos parâmetros do
solo.
88

As limitações dos dispositivos existentes para monitorar amplas faixas de


valores de sucção e o tempo requerido até a estabilização das mesmas tornam os ensaios
demorados e, muitas vezes, não compatíveis com o tempo disponível para elaboração e
execução de um projeto.

A não linearidade entre a propriedade considerada e a sucção dificulta o


estabelecimento de correlações com os índices físicos do solo. Assim, alguns autores
baseados em dados da literatura, têm apresentado equações para algumas propriedades
dos solos a partir da curva característica e ensaios convencionais. Algumas dessas
relações serão apresentadas, resumidamente, nos itens seguintes.

II.10.1 Equações para curva característica

As propriedades geotécnicas de um solo não saturado dependem da sucção


matricial a qual o mesmo está submetido. Para baixos valores de sucção, onde o ar
encontra-se no estado ocluso, pode ocorrer pequena variação em algumas propriedades,
quando comparadas com o solo no estado saturado. À medida que o solo perde
umidade, as propriedades variam de forma não linear com a sucção, havendo sempre
um valor crítico onde o aumento da sucção pouco influenciará. Assim, para
compreender as variações no comportamento de um solo não saturado, faz-se necessário
o conhecimento de sua relação sucção-umidade, comumente conhecida como curva
característica, pois varia de acordo com as características físicas e estruturais do solo.

A curva característica obtida durante um processo de secagem difere daquela


obtida durante o umedecimento. É o fenômeno descrito como histerese, resultando em
duplicidade de valores da sucção para a mesma umidade, e vice-versa. Dada a
importância da relação entre a sucção e a umidade no comportamento dos solos não
saturados, vários autores têm apresentado modelos conceituais e matemáticos para
descrever a forma da curva característica, tanto na engenharia (ex. FREDLUND e
XING, 1994 e ROJAS, 2002) quanto na agronomia (ex. VAN GENUTCHEN, 1980).

Do ponto de vista da engenharia, a curva característica tem sido interpretada


segundo o desenho esquemático apresentado na Figura II.38. A maioria dos modelos
utiliza a umidade volumétrica no eixo das ordenadas. Na prática da engenharia esta
representação é feita utilizando a umidade gravimétrica (teor de umidade que relaciona
89

o peso da água com o peso seco do solo) ou o grau de saturação. Nesta Figura está
apresentado o procedimento gráfico adotado por FREDLUND e XING (1994) para
determinação dos pontos críticos da curva, a saber: o valor de entrada de ar (também
conhecido como pressão de borbulhamento), o qual corresponde à sucção matricial onde
o ar passa a entrar nos grandes poros do solo; e a umidade residual (θr), correspondente
àquela onde grande variação de sucção é necessária para remover água do solo. A
umidade de saturação (θs) é o valor mínimo da umidade necessário para o solo
permanecer saturado.

Os dados experimentais da curva característica, sem uma função analítica, são de


limitado uso, servindo, basicamente, como uma informação auxiliar na interpretação de
resultados de outros ensaios de laboratório. Além disso, os pontos críticos nem sempre
ficam bem definidos nos resultados experimentais. Com o crescente uso de métodos
numéricos para simular, por exemplo, fluxos e transportes de massa em zonas não
saturadas, fazem-se necessárias expressões analíticas da curva característica de um solo.

60
Valor de Entrada de ar
θs
UMIDADE VOLUMÉTRICA

50

Ar residual
40

30

Umedeci-
20
mento
Secagem

10 Umidade
residual θr
0
0.1 10 1000 100000 10000000

SUCÇÃO (kPa)

Figura II.38. Definição de variáveis associadas à curva característica (FREDLUND e


XING, 1994).
90

De uma maneira geral, a geometria dos poros, a magnitude e a composição


mineralógica da fração fina são determinantes na posição relativa, forma e inclinação da
curva característica (JUCÁ, 1993). Segundo MARINHO e PEREIRA (1998), ao longo
da curva característica de um solo a forma de retenção de água varia de acordo com o
nível de sucção. Para cada tipo de solo haverá um valor limite da sucção matricial onde
a retenção dependerá de efeitos capilares. Desta forma, a estrutura do solo é um fator
que controla a forma e a posição da curva característica. Para valores de sucção
superiores a este valor limite, fenômenos como adsorção passam a ter um papel
importante. Neste caso, não só a estrutura do solo, mas também a mineralogia
controlarão a forma da curva característica. Em solos argilosos expansivos é possível
atingir valores de sucção por capilaridade da ordem de 2 MPa, por exemplo. Tudo isso
dificulta a elaboração de um modelo matemático para descrever a relação entre a sucção
e a umidade que se ajuste às várias classes de solo.

Na Figura II.39 apresentam-se típicas curvas características de três solos


distintos. Nos solos argilosos, onde os efeitos de adsorção e capilaridade são mais
significativos, maiores valores de sucção são necessários para resultar em variações
significativas na umidade. Nos solos arenosos, pequenas variações na sucção são
suficientes para resultar em grande perda de umidade no solo, resultando em formas
mais abruptas da curvas característica.

Alguns autores têm proposto equações de ajuste, com base em dados


experimentais disponíveis. FREDLUND e XING (1994) ressaltam que as equações
propostas são de natureza empírica e cada uma parece aplicar a um grupo de solo
particular. Na Tabela II.9 encontram-se resumidas algumas dessas equações de ajuste.
Das equações apresentadas, a proposta de VAN GENUTCHEN (1980) é a mais
difundida.

SANTOS (2001) aplicou estas equações (Tabela II.9) nos resultados


experimentais numa curva característica de um solo arenoso da formação Barreiras de
Recife. Todas as equações resultaram em bom ajuste. Porém, uma análise através do
coeficiente de determinação R2 indicou melhor ajuste para a equação de BROOKS e
COREY (1964).
91

100

90 Solo Argiloso
UMIDADE VOLUMÉTRICA (inicialmente lama)
80
Solo Siltoso
70

60

50
Solo Arenoso
40

30

20

10

0
0.1 1 10 100 1000 10000 100000 1000000

SUCÇÃO (kPa)
Figura II.39. Típicas curvas características para três solos distintos (FREDLUND e
XING, 1994).

Dadas às dificuldades envolvidas na determinação experimental da curva


característica de um solo, alguns autores têm proposto modelos empíricos baseados em
propriedades índices dos solos, tal como a granulometria. ZAPATA et al. (2000),
baseado em dados de 190 solos obtidos da literatura, apresentam correlações dos
parâmetros da equação de FREDLUND e XING (1994) com as propriedades dos solos
analisados. Uma vez que a estrutura do solo desempenha um papel importante na forma
da curva característica, o uso dessas correlações deve ser feito com ressalvas.

II.10.2 Resistência

Conforme já comentado, até a década de 60 procurou-se analisar a resistência ao


cisalhamento de um solo não saturado em função de uma tensão efetiva equivalente a
proposta de Terzaghi para solos saturados. Utilizando o critério de ruptura de Mohr-
Coulomb e admitindo-se válidos o princípio de tensões efetivas para solos não
saturados, BISHOP (1959) apresenta a seguinte expressão para a resistência de um solo
não saturado:
92

Tabela II.9. Equações de ajuste da curva característica (SANTOS, 2001).

EQUAÇÃO REFERÊNCIA

(ès − èr )
èw = èr + bg
II.86 GARDNER (1958)
1 + a g .h

⎧ (ès − èr ) , (á .h > 1)
⎪èr +
èw = ⎨ (ábc .h )ëbc bc II.87 BROOKS e COREY (1964)
⎪è , (ábc .h ≤ 1)
⎩ s
ès − èr
èw = èr +
[1 + (á .h ) ] n vg m vg
II.88 VAN GENUTCHEN (1980)
vg

ès − èr
èw = èr + ⎛ ⎞
II.89 VAN GENUTCHEN e
[1 + (á .h ) ]
vg
n vg
⎜ 1− 1
⎜ n vg



⎠ MUALEM (1980)

ès − èr
èw = èr + ⎛ ⎞
II.90 VAN GENUTCHEN e
[1 + (á .h ) ]
vg
n vg
⎜ 1− 2
⎜ n vg



⎠ BURDINE (1980)

ès − èr
èw = èr + ⎛ h − a mb ⎞
II.91
⎜⎜ ⎟⎟ McKEE e BUMB (1987)
1+ e ⎝ b mb ⎠

⎡ ⎛ h⎞⎤
⎢ ln⎜⎜1 + ⎟⎟ ⎥
hr ⎠ ⎥
èw = ès ⎢1 − ⎝
1
II.92
⎢ 6 ⎥
⎛ 10 ⎞ ⎧ ⎡ n fx
⎤ ⎫
m fs FREDLUND e XING (1994)
⎢ ln⎜⎜1 + ⎟⎥ ⎪ ⎛ h ⎞ ⎪
⎣⎢ ⎝ h r ⎠⎟ ⎦⎥ ⎨ln ⎢e + ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥ ⎬
⎪⎩ ⎢⎣ ⎝ a fx ⎠ ⎥⎦ ⎪⎭

Onde: θw = umidade volumétrica;


θs = umidade volumétrica de saturação;
θr = umidade volumétrica residual;
h = sucção do solo;
ag, bg, αbc, λbc, αvg, nvg, mvg, amb, bmb, afx, nfx, mfx, hr = parâmetros de ajuste.

τ = c’+( σn-ua)f tgφ’+ χ(ua-uw)f.tφ’ II.93

Uma das dificuldades na utilização da Equação II.93 está na determinação do


parâmetro χ, uma vez que este varia com o grau de saturação. A partir da década de 70
93

vários autores passaram a utilizar variáveis de estado de tensões independentes para


descrever o comportamento mecânico de um solo não saturado. Seguindo esta
sistemática, FREDLUND et al. (1978) apresentam a seguinte expressão para a
resistência dos solos não saturados:

τ = c’ + (u a-uw)f tanφb + (σ-ua)f tanφ’ II.94

Onde φb é o ângulo de atrito relacionado a variação da sucção do solo.

A representação gráfica da envoltória de ruptura definida pela Equação II.94,


requer um espaço tridimensional (Figura II.40), tendo como ordenada a tensão
cisalhante τ e nas abscissas as variáveis de estado de tensão (σn-ua) e (ua-uw). A projeção
da envoltória de resistência no plano τ vs (ua-uw) (Figura II.41) é representada por uma
reta com inclinação φb constante. No plano τ vs (σn-ua) (Figura II.42) a envoltória será
representada por uma reta com inclinação φ’ constante. Qualquer reta traçada no plano τ
vs (σn-ua) interceptará o plano definido pelos os eixos τ e (σn-ua) em uma ordenada c =
c’+(u a-uw) tg φb.

313.8 Sucção
293.8 (ua - uw) b
φ
b φ
Tensão Cisalhante ( )

273.8
φ'
253.8
233.8
213.8 c=(ua-uw) f tanφb
c'
193.8
173.8 φ'
153.8
133.8
c'
113.8
62.18 112.18 162.18 212.18 262.18 312.18 362.18
Tensão Normal Líquida (σn - ua)

Figura II.40. Envoltória de resistência para solos não saturados no espaço tridimensional
(FREDLUND et al., 1978).
94

300

Tensão Cisalhante,
280
(σ - ua)3 >(σ - ua)2
260
b
φ (σ - ua)2 >(σ - ua)1
240
b (σ - ua)1 > 0
220
φ
b
200
φ (σ - ua)f = 0
b
180 φ

160
c
140
c'
120
63.31 163.31 263.31 363.31
Sucção Matricial (ua-uw )

Figura II.41. Projeção da envoltória de resistência no plano τ vs (ua-uw) (FREDLUND et


al., 1978).

300
Tensão Cisalhante, τ

280

260
(ua - uw)2 >(ua - uw)1
240
φ' (ua - uw)1 > 0
220

200
φ' (ua - uw)f = 0

180 φ'

160
c
140
c'
120
63.31 163.31 263.31 363.31
Tensão Normal Líquida (σ - ua)

Figura II.42. Projeção da envoltória de resistência no plano τ vs (σn-ua) (FREDLUND et


al., 1978).

Na Equação II.94 admite-se independência dos parâmetros φb e φ’ da sucção.


Todavia, com base em evidências experimentais, a linearidade da envoltória onde se
obtém o parâmetro φb (Figura II.41) tem sido contestada por vários autores (ESCÁRIO
95

e SAÉZ, 1986; ESCÁRIO e JUCÁ, 1989; CAMPOS e CARRILO, 1995; GAN e


FREDLUND, 1995; WHEELER e SIVAKUMAR, 1995 e CAMPOS, 1997). Com base
em resultados de ensaios de cisalhamento direto e compressão triaxial com sucção
controlada em amostras compactadas e no estado natural, estes autores têm observado a
não linearidade na envoltória de resistência no plano τ vs (ua-uw), resultando na redução
do parâmetro φb com o aumento da sucção. No plano τ vs (σn-ua) observou-se
comportamento linear da envoltória com a tensão, porém, com inclinações diferentes
para distintas faixas de sucção, resultando em aumento de φ’ em algumas amostras.

WOOD (1979) citado por SANTOS (2001) comparou as Equações II.93 e II.94 e
deduziu que tgφb = χtgφ’. Como conseqüência, se o parâmetro χ não é constante para
um dado material, logo não há razão para que o ângulo φb seja. A Figura II.43 apresenta
a variação da relação φb/φ’ com a sucção para solos típi cos brasileiros. Conforme pode-
se observar, no início das curvas a razão φb/φ’ permanece relativamente constante ( ≅ 1)
até um determinado nível de sucção, a partir do qual ocorre um decréscimo acentuado
desta relação, de forma não linear. Ao se atingir um segundo nível, maior, de sucção,
φb/φ’ passa a variar pouco ou torna -se novamente constante, dentro dos níveis máximos
de sucção considerados. Segundo De CAMPOS (1997) um solo pode apresentar pressão
negativa (sucção) na água mesmo estando suturado. Nestas condições, admitindo-se
ua=0, a resistência do solo poderá ser representada tanto pela Equação II.93 quanto pela
Equação II.92, podendo-se esperar φb = φ’, justificando o trecho, aproximadamente,
linear da relação φb/φ sob baixos valores de sucção.

Quanto ao parâmetro φ’, a depender da faixa de variação das tensões,


comportamento não linear da envoltória também tem sido observado em solos
saturados, seja por efeito de pré-adensamento, seja por quebra de grãos (De CAMPOS,
1997), resultando em variações neste parâmetro com a tensão. Logo, dependendo do
tipo de solo, é previsível que comportamento semelhante seja observado em solos não
saturados.

As variações dos parâmetros φ’ e φb implicam em que a resistência ao


cisalhamento de um solo não saturado deva ser representada por uma superfície curva.
Segundo De CAMPOS (1997), atualmente, inexistem dados experimentais de qualidade
que possibilitem uma plena definição desta superfície. Porém, nada impede que os
conceitos básicos de resistência ao cisalhamento de solos não saturados possam ser
96

1
0.9 Colúvio Amarelo

0.8 Colúvio Vermelho

0.7 Residual Maduro

0.6 Residual Típico

/ ' 0.5
b

0.4

0.3
0.2

0.1
0
0 50 100 150 200 250 300

Sucção Matricial (kPa)

Figura II.43. Variação da relação de φb / φ´ com a sucção matricial para típicos solos
brasileiros (De CAMPOS, 1997).

aplicados da prática da engenharia, desde que se trabalhe com envoltórias multilineares,


ou seja, considerem-se as variações lineares em ambos parâmetros na faixa de valores
de (σn-ua) e (ua-uw). Este procedimento encontra-se representado, esquematicamente, na
Figura II.44.

Figura II.44. Linearização da envoltória de ruptura em solos não saturados (De


CAMPOS, 1997).
97

Para intervalos de tensão e sucção mais abrangentes, alguns autores têm


proposto expressões empíricas para levar em consideração a não linearidade da
envoltória de ruptura com respeito à variação da sucção.

Com base em resultados de ensaios de cisalhamento direto com sucções de até


15MPa, ESCÁRIO e JUCÁ (1989) propõem que a envoltória de resistência no plano τ
vs (ua-uw), seja ajustada a uma elipse de grau 2,5 conforme a expressão:

2,5 2,5
⎛ sm − s ⎞ ⎛ ô+ ôb ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ =1 II.95
⎝ sm − sa ⎠ ⎝ ôm + ôb ⎠

Onde: τ = resistência ao cisalhamento;


τm = resistência ao cisalhamento máxima;
s = ua-uw (sucção matricial);
sm = sucção matricial correspondente à resistência ao cisalhamento
máxima.

A Equação II.95 encontra-se representada graficamente na Figura II.45a e na


Figura II.45b o ajuste dos resultados experimentais de segundo este procedimento.

1.4
TENSÃO CISALHANTE, (MPa)

( τ + 0.22) 2.5 = 501-00806 (80 -s)2.5 (s - ua) = 0.6MPa


1.2

1
Elipse (grau 2.5) 0.3 MPa
0.8
0.12 MPa
0.6

0.4
( τ + 0.88) 2.5 = 148-00248 (80 -s) 2.5
0.2 tg φ' = 0.636 Argila de Guadalix
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
SUCÇÃO, s = ua - uw (MPa)

(a) (b)

Figura II.45 (a) Representação gráfica da Equação II.95; (b) Ajuste da elipse de grau 2,5
dos dados experimentais (ESCÁRIO e JUCÁ, 1989).
98

Segundo GENS (1993) citado por SANTOS (2001), uma função hiperbólica
alternativa pode ser também utilizada pra representar a resistência ao cisalhamento dos
solos não saturados. Neste caso, a resistência adicional Δτ com relação à resistência
saturada τfsat pode ser expressa por:

s
Äôf = ôf − ôf =
sat
II.96
s
cotg (ö') + *
c

Onde: s = ua-uw = sucção matricial

∂ô
Esta expressão assegura a hipótese = tg (ö') na origem. Como o parâmetro c*
∂s
não representa o máximo aumento na resistência ao cisalhamento, por que esta

hipérbole é uma função assintótica crescente, cuja assíntota é cmáx, o mesmo deve ser

corrigido de acordo com a expressão abaixo, onde o valor de r encontra-se no intervalo


de 0,8 a 0,9.

c máx
c* = II.97
r
Voltando à Figura II.43, observa-se uma certa semelhança entre a variação da
relação φb/φ’ com a curva característica (Figura II.38). Várias evidências experimentais
têm indicado a existência de uma relação entre a curva característica do solo e a
variação da resistência no plano τ vs (ua-uw). Em função disso, existem vários propostas
para estimativa da resistência de um solo não saturado baseadas nos parâmetros do solo
saturado e a na curva característica do solo (ex: FREDLUND et al., 1995b;
VANAPALLI et al., 1996 e FREDLUND et al., 1996).

VANAPALLI et al. (1996) apresentam um modelo físico (Figura II.46) de um


solo submetido a um processo de secagem, o qual relaciona-se com a curva
característica. Segundo estes autores, a variação da resistência estará relacionada à área
relativa de influência dos meniscos. À medida que esta área é reduzida, a influência da
sucção na resistência do solo tende a diminuir.

Até o valor de entrada de ar (Figura II.46a), o ar encontra-se no estado ocluso


(Figura II.46b) e o solo comporta-se como se estivesse saturado. Nestas condições tem-
se φb = φ’ e uma contribuição proporcional da sucção na resistência do solo. Acima do
99

valor de entrada de ar, o ar passa a entrar nos grandes poros, reduzindo a área de
influência dos meniscos. Neste estágio (transição primária e secundária, conforme
Figura II.46c e II.46b), há uma redução não linear da contribuição da sucção na
resistência, até um valor limite, correspondente ao estágio residual (Figura II.46d), a
partir do qual pouca ou nenhuma contribuição da sucção ocorrerá. Há situações (ex.
areia e silte) nas quais pode ocorrer, inclusive, a redução da resistência sob sucções
elevadas. Um exemplo simples e prático é o desmoronamento de esculturas de areia
após a secagem. A Figura II.47 apresenta, esquematicamente, a relação entre a
resistência e a curva característica, conforme comentado neste parágrafo.

As equações empíricas para estimativa da resistência de solos não saturados


consideram, indiretamente, o efeito da área de influência dos meniscos como um fator
multiplicador na parcela da resistência associada a sucção.

FREDLUND et al. (1995a) assumem que um incremento da resistência ao


cisalhamento, dτ, devido a um incremento da sucção matricial, d(ua-uw), é proporcional

ao produto da variação da sucção e a área de contato efetivo da água, Aw, no estado

corrente:

100
Grau de Saturação (%)

90
Desaturação
Transição Estágio residual
80 secundária de não saturação
Dessaturação
Transição primária

Zona de
70 ar ocluso

60

50
0 100 200 300 400 500 600 700 800

Sucção Matricial (kPa)


(a)

Figura II.46. Prováveis variações na área de água em diferentes estágios de curva


característica (VANAPALLI et al., 1996).
100

100
(a)

Grau de Saturação (%)


80

60
Zona de Dessaturação

40

Valor de entrada de ar
20
Saturação Residual

0
0 50 100 150 200

Sucção Matricial (kPa)

120
Resistência Cisalhamento (kPa)

b
Valor de entrada φ
100 de ar

80
Envoltória de Resistência
60 ao Cisalhamento não linear

40
Resistência ao Cisalhamento Saturada
20
(b)
0
0 50 100 150 200

Sucção matricial (kPa)

Figura II.47. (a) Típica curva característica; (b) Comportamento de resistência ao


cisalhamento associado à curva característica (VANAPALLI et al., 1996).

dτ = CAwd(ua-uw) II.98

Onde: Aw = área de contato efetivo de água.

Aw pode ser relacionada com o grau de saturação segunda a expressão:

Aw = [Se]p II.99
101

Onde p é um parâmetro de ajuste; e

S − Sr
Se=saturação efetiva = II.100
1 − Sr

Sr é o grau de saturação residual do solo, podendo ser estimado da curva


característica.

Substituindo a Equação II.99 em II.98 e integrando tem-se a seguinte expressão


para a resistência de um solo não saturado:

ô= c'+ (ón − u a ) tan ö'+ tan ö' ∫ [s e ] d(u a − u w )


p
II.101
0

A integral da Equação II.101 pode ser resolvida utilizando uma das propostas
existentes na literatura para representação numérica da curva característica (Tabela II.9).
Para solos arenosos e siltosos pode-se admitir p = 1.

Considerando a equação simplificada da curva característica de McKEE e


BUMB (1984) a Equação II.101 torna-se:

(u −u )
⎡ − a w ⎤
ô= c'+(ón − u a )tanö'+(u a − u w )b tan ö'+ b1 ⎢1 − e b1 ⎥ tan ö' II.102
⎢⎣ ⎥⎦

Onde: (ua-uw)b é a sucção no valor de entrada de ar;

b1 = parâmetro de ajuste.

Considerando a equação da curva característica simplificada de BROOKS e


COREY (1964) a Equação II.101 torna-se:

Para b2 ≠ 1

(u a − u w )b
b2
⎛ 1 1 ⎞
ô= c'+ (ón − u a )tanö'+(u a − u w )b tan ö'+ ⎜ − ⎟ tan ö' II.103
b2 − 1 ⎜ (u − u ) b 2 −1
(u a − u w ) ⎟⎠
b 2 −1
⎝ a w b

Para casos especiais onde b2 = 1, tem-se:

⎡ (u − u w ) ⎤
ô= c'+(ón − u a )tanö' (u a − u w )b tanö'+(u a − u w )b ln ⎢ a ⎥ tan ö' II.104
⎣ (u a − u w )b ⎦
102

Assim como Aw é proporcional a Se, a área de água normalizada (aw ≈ Aw) é


proporcional a umidade volumétrica normalizada Θ. FREDLUND et al. (1995b)
apresentam uma proposta alternativa para a Equação II.101 utilizando a umidade
volumétrica normalizada, Θ, ao invés da saturação efetiva, Se, conforme a expressão:

ô= c'+(ón − u a )tan ö'+ (u a − u w )[È (u a − u w )] tan ö'


k
II.105

onde: Θ (ua-uw) = θ(ua-uw)/θs; e

θ(ua-uw) é a umidade volumétrica correspondente a uma sucção


qualquer, podendo ser calculada a partir de uma das equações da curva
característica (Tabela II.9);

k é um parâmetro que depende do tipo do solo.

Considerando a equação da curva característica de McKEE e BUMB (1984) e a


solução de BROOKS e COREY (1964) a Equação II.105 pode ser reescrita segundo as
expressões:

Considerando McKEE e BUMB (1984):

⎛ − [(u a −u w )−f(u a −u w )b ] ⎞
k

ô= c'+ (ón − u a ) tan ö'+⎜ e ⎟ (u a − u w )tanö' II.106


⎜ ⎟
⎝ ⎠

Onde f e k são parâmetros de ajuste.

Considerando BROOKS e COREY (1964)

⎡ (u − u w )b ⎤
f'

ô= c'+(ón − u a )tanö'+ ⎢ a ⎥ (u a − u w )tan ö' II.107


⎣ (u a − u w ) ⎦

Utilizando o mesmo conceito de FREDLUND et al. (1995b), VANAPALLI et


al. (1996) reescrevem a Equação II.105 sem o parâmetro de ajuste k, conforme a
expressão:

⎡ ⎛ è− èr ⎞⎤
ô= c'+(ón − u a ) tan ö'+ (u a − u w )⎢ tan ö' ⎜⎜ ⎟⎟⎥ ' II.108
⎣ ⎝ ès − èr ⎠⎦

ou
103

⎡ ⎛ S − Sr ⎞⎤
ô= c'+(ón − u a ) tan ö'+(u a − u w )⎢ tan ö' ⎜⎜ ⎟⎟⎥ ' II.109
⎣ ⎝ 100 − S r ⎠⎦

Os parâmetros θr e Sr podem ser obtidos diretamente da curva característica do


solo.

As Equações II.93 e II.94, são meras funções de ajustes aos dados experimentais
definidas com base em resultados de um solo específico, podendo mostrar-se
inadequadas quando aplicadas aos resultados em outros solos.

As equações II.101 a II.109 são equivalentes. Estas equações ultrapassam os


limites de simples ajustes, uma vez que estas foram estabelecidas com base em
evidência experimentais que comprovam a existência de uma relação direta entre a
curva característica e o comportamento do solo. Logo a acurácia da previsão estará
vinculada a representatividade da curva característica para o solo considerado, a qual
deve contemplar toda a faixa de sucção e tensão prevista no campo. Isto é considerado
por VANAPALLI et al. (1996) como uma das limitações do método proposto.
104

CAPÍTULO III

CAMPO EXPERIMENTAL E CARACTERIZAÇÃO


GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

III. 1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo são descritas e discutidas, inicialmente, as características gerais


do campo experimental. Em seguida, as atividades de campo e de laboratório realizadas
para caracterizar o solo, com as metodologias envolvidas, a apresentação e discussão
dos resultados. Finalmente, são avaliados alguns critérios da literatura destinados a
identificar solos colapsíveis a partir dos resultados apresentados.

III. 2 CAMPO EXPERIMENTAL

III. 2.1 Localização

A área escolhida como “Campo Experimental” está localizada no perímetro


urbano do Município de Petrolândia, no sertão de Pernambuco, a cerca de 530 km do
Recife. A escolha do local está associada à existência de danos nas edificações de um
colégio agrícola, tendo resultado na demolição e reconstrução de várias salas de aula.
Além disso, tanto a região quanto o município tem sido alvo de outros estudos
realizados.

ARAGÃO e MELO (1982) relatam o caso do Conjunto habitacional


Massangano, localizado no município de Petrolina-PE, onde 600 residências recém
construídas apresentaram danos devido ao colapso. Apresentam também um estudo
detalhado destinado ao tratamento das residências já construídas, bem como a
elaboração de especificações construtivas para as novas construções. De forma
semelhante, FERREIRA e TEIXEIRA (1989) apresentam um estudo envolvendo
105

ensaios de campo e laboratório destinado ao projeto de fundação para construção de


1856 residências populares no município de Santa Maria da Boa Vista – PE.

FERREIRA (1995) apresenta uma série de estudos de laboratório e de campo


para compreensão do mecanismo de variações volumétrica em um solo colapsível e um
solo expansivo de Petrolândia.

Caso semelhante ao de ARAGÃO e MELO (1982) é apresentado por SOUZA et


al. (1995), onde relatam o projeto de reassentamento numa área rural do município de
Petrolândia, por conseqüência da construção da barragem de Itaparica, e os danos
observados nas residências recém construídas. Apresenta também os estudos de
laboratórios realizados e as soluções adotadas tanto na recuperação quanto nas novas
construções.

Na Figura III.1 estão indicados os locais utilizados como campo experimental


por FERREIRA (1995) e o local correspondente ao campo experimental da atual
pesquisa. Os novos anexos que compõem o colégio, muitos dos quais construídos
durante o início desta pesquisa, na estação seca, foram interditados por conseqüência de
extensas fissuras geradas após a estação chuvosa. Na Figura III.2 estão ilustrados
exemplos típicos de danos observados nas construções locais, caracterizados por
rachaduras diagonais (a) devido à recalques diferenciais, muitas das quais se estendendo
do piso (b) ao teto (c).

III.2.2 Características geológicas e climáticas da região

Apresenta-se uma síntese das principais características geológicas e climáticas


do município onde está localizado o campo experimental. Informações adicionais
podem ser encontradas em FERREIRA (1995).

O município de Petrolândia está inserido na Bacia do Jatobá, a qual está


localizada no centro-sul do estado de Pernambuco, envolvendo mais cinco municípios
(Tacaratu, Inajá, Tupanatinga, Buique e Floresta). A área do campo experimental
consiste de um capeamento eluvial pertencente à Formação Tacaratu. Esta formação é
caracterizada por arenitos grosseiros a médios, ocasionalmente conglomeráticos e mal
selecionados. São comuns as ocorrências de intercalações de arenitos finos e siltitos,
106

feldspáticos e níveis argilosos em menores proporções. A coloração deste arenito varia


de branco a avermelhado, com graduações para as tonalidades róseas, amarelada e
amarronzada.

No campo experimental em estudo, a análise táctil-visual do solo indica uma


areia siltosa fina de coloração amarelada.

O relevo observado na região é predominantemente plano. No Colégio Agrícola


observa-se uma suave declividade, da ordem de 5%, no sentido das edificações,
suficiente para conduzir partes das águas pluviais nesta direção. Esta declividade,
associada à ausência de um sistema de drenagem adequado, certamente tende a
contribuir para deflagração do processo do colapso.

Dados pluviométricos fornecidos pelo LAMEPE/ITEP (Laboratório de


Meteorologia de Pernambuco/Fundação Instituto Tecnológico de Pernambuco)
referentes ao município de Petrolândia encontram-se na Tabela III.1. Nesta Tabela estão
as precipitações mensais acumuladas de 2000 a 2002 e a média mensal dos últimos 30
anos de observação (1973 a 2002).

Na Figura III.3 estão apresentadas as precipitações pluviométricas mensais entre


os anos de 2000 e 2002, e as médias mensais dos últimos 30 anos (média histórica).
Nestes três anos, a precipitação mensal máxima observada (122mm) foi em março de
2001, estando acima da média histórica deste mês (93mm).

A estação chuvosa inicia-se em dezembro, sendo janeiro, fevereiro e março o


trimestre mais chuvoso. As precipitações acumuladas nestes quatro meses envolvendo
os dois anos onde foram realizadas as atividades de campo foram 286mm de 2000 a
2001 e 190mm de 2001 a 2002, sendo superior a 100% e 70% das precipitações anuais
de 2001 e 2002, respectivamente. A estação seca está compreendida entre os meses de
maio e novembro, geralmente, tendo agosto, setembro e outubro o trimestre mais seco.
A exceção ocorreu em 2001, onde o trimestre com menor índice pluviométrico (7 mm)
esteve compreendido entre abril e junho. Todavia, as precipitações nos meses
subseqüentes até novembro (máxima de 14 mm) são muito baixas para provocar
aumento significativo na umidade do solo.
107

Figura III.1. Localização do Campo Experimental (Escola Agrícola) no município de


Petrolândia – PE (modificado de FERREIRA, 1995).
108

(a) Fissura em diagonal


vista do interior de uma
sala.

(c) Fissuras no teto vista


do interior de uma sala.

(b) Fissura em diagonal


estendendo-se ao piso

Figura III.2. Exemplos de danos provocados por colapso do solo.


109

Tabela III.1. Precipitações pluviométricas em Petrolândia de 2000 a 2002 e médias


mensais dos últimos 30 anos (LAMEPE / ITEP).
Precipitação (mm) - Petrolândia

ANO Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
2000 50 113 63 34 7 4 0 2 2 0 11 116 402

2001 37 11 122 0 0 7 10 14 1 14 0 35 266

2002 116 27 12 29 20 7 2 0 2 0 0 31 246


Média 60 93 51 37 32 26 11 11 7 29 39 450
54
30 Anos
Floresta

ANO Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Anual
Média 90 118 71 24 13 12 5 9 11 29 50 492
71
30 Anos
Belém de São Francisco
Média 76 134 88 30 16 13 3 4 7 33 58 550
88
30 Anos

140
Ano de 2000
120 Ano de 2001
Precipitação Acumulada (mm)

Ano de 2002
100
Média mensal dos 30 anos

80
Petrolândia - PE
60

40

20

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Figura III.3. Precipitação: ano 2000 a 2002 e média mensal dos últimos 30 anos no
município de Petrolândia - PE (LAMEPE / ITEP).
110

Dados pluviométricos (1935 a 1993) do município de Petrolândia publicados


pela divisão de meteorologia da SUDENE e analisados por FERREIRA (1995), indicam
o trimestre de janeiro a março o mais chuvoso e o trimestre de agosto a outubro o mais
seco, estando de acordo com os dados da atual pesquisa (Tabela III.1 e Figura III.3).
Neste período, o maior índice pluviométrico mensal registrado foi de 440,8mm, em
março de 1960. As precipitações anuais, máximas e mínimas registradas foram,
respectivamente, 932,8mm e 80,8mm, com média de 437,5mm.

Na Figura III.4 estão apresentadas as precipitações anuais de 2000 a 2002 de


Petrolândia e as precipitações anuais de dois municípios próximos (Floresta e Belém de
São Francisco, distantes 62 km e 82 km de Petrolândia, respectivamente). Nesta Figura,
a linha tracejada indica a média anual referente ao período de observação (1935 a 1993)
relatado por FERREIRA (1995).

A média anual dos últimos 30 anos para o município de Petrolândia (450 mm)
foi próxima aos 437,5mm do período relatado por FERREIRA (1995). Entre 2000 e
2002 as precipitações anuais foram sempre inferiores às medias históricas. No período
que foram realizados os estudos de campo (2001 e 2002), as precipitações anuais foram
inferiores ao ano que antecedeu as atividades (2000). Ao comparar os registros anuais
de Floresta e Belém de São Francisco, Petrolândia apresenta os menores índices
pluviométricos (máxima de 402 mm) da região (Figura III.4).

FERREIRA (1995) cita dados do Ministério da Agricultura (período de


observação de 30 anos) que indicam, para a bacia do Jatobá, uma evaporação anual
compreendida entre 1600 a 1800 mm, sendo inferior aos 2.142,8 mm observado em
1993, que envolve o período de pesquisa desse autor. Vale ressaltar que 1993, a
precipitação anual foi de apenas 80,8 mm.

Tentou-se na atual pesquisa obter dados atualizados que envolvessem todo o


período de realização dos estudos de campo. Todavia, a Estação Agrometeorológica
Projeto Apolônio Sales havia sido desativada. A Secretaria de Recursos Hídricos, a qual
o LAMEPE estava vinculado foi desativada em 2003. Problemas operacionais
associados a transferência do LAMEPE para o ITEP, resultaram na indisponibilidade de
outros dados meteorológicos (evaporação, temperatura) atualizados.

FERREIRA (1995) apresenta dados de Agosto de 1992 a Junho de 1994 que


indicam a média mensal das temperaturas máximas e mínimas variando de 31 a 35,2oC
111

700

600 Média (1935 a 1993)

Precipitação Anual (mm)


FERREIRA (1995)
500
437,5 mm

400

300

200

100

0
2000 2001 2002 30 Anos

Petrolândia Belém de São Francisco Floresta

Figura III.4. Precipitações anuais: período de 2000 a 2002 e média dos últimos 30 anos
(LAMEPE / ITEP).

e 18,3 a 23oC, respectivamente. Em 1993 a temperatura média anual foi de


27,7oC,superior a temperatura média anual registrada entre 1964-1979. Uma vez que
este autor considerou as informações limitadas em termos de quantidade de dados,
utilizou a temperatura média anual de 1964-1979 e as precipitações anuais de 10 anos
(1984 a 1993) de observação para classificar o solo segundo o índice de aridez De
MARTONNE (1941). Este índice relaciona a pluviometria em um determinado período
e a temperatura média no mesmo período. A expressão que define o índice de aridez e a
classificação de De Martonne, encontram-se resumidos na Tabela III.2.

Com base nos dados pluviométricos de Petrolândia entre de 2000 a 2002 (Tabela
III.1), procurou-se classificar o solo segundo a proposta de De MARTONNE (1941)
citado por FERREIRA (1995), considerando a temperatura média do período de 1964 a
1979 (25,4oC). Na Tabela III.3 apresenta-se um resumo das precipitações anuais e do
índice de aridez, acrescidos dos dados de FERREIRA (1995). Os dados da Tabela III.3
encontram-se representados na Figura III.5, com a correspondente classificação segundo
esta proposta.

Os valores do índice de aridez (Tabela III.3) classificam o município de


Petrolândia, em sua maioria, de semi-árido (20 > A >m 5) a deserto. De acordo com a
112

classificação de Köppen, o município possui características BSs’h’ (clima muito quente


e semi-árido).

A cobertura vegetal dominante na área compreende a caatinga hiperxerófila,


lenhosa e espinhosa, onde se verifica, no período de seca, a queda das folhas da quase
totalidade de seus componentes (FERREIRA, 1995). A Figura III.5 exemplifica as
variações sofridas pela vegetação devido às variações sazonais ocorridas no período da
pesquisa (2001 a 2002), com a queda total da folhagem.

Em agricultura, o início do desfolhamento de uma planta caracteriza o ponto de


murchamento, definido pela sucção a partir da qual a planta não consegue retirar água
do solo. Este valor depende do tipo de planta, porém não varia muito e o valor de 1,5
MPa tem sido adotado para caracterizar este ponto (COULD, 1973 citado por
MARINHO e PEREIRA, 1998). O exemplo da Figura III.6 mostra o quanto pode ser
elevado os valores das sucções no campo no período seco, impossibilitando o
monitoramento desses valores por meio de tensiômetros.

Tabela III.2. Classificação do clima segundo o índice de aridez (De MARTONNE,1941)


(citado por FERREIRA, 1995).

ÍNDICE DE ARIDEZ (A) CLASSSIFICÃO DE De MARTONNE (19941)


A > 20 Úmido
P
A= (III.1) 20 > A > 5 Semi-árido
T + 10 A<5 Deserto

Onde: P – precipitação (mm) durante um determinado período (ano, mês); e


T – temperatura média em centígrados durante o mesmo período.

Tabela III.3. Precipitação anual e índice de aridez – Petrolândia – PE (modificado de


FERREIRA, 1995).

PRECIPITAÇÃO ANUAL (mm) de PETROLÂNDIA

FERREIRA (1995) Atual Pesquisa


ANO 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 2000 2001 2002
372 944 444 150 ----- 478 178 472 289 59,4 402 266 246
A 10,6 25,8 12,3 4,2 ---- 13,8 4,8 12,9 7,7 1,5 11,4 7,5 7
113

30

A = P / (T +10)
25 ÚMIDO P - Precipitação
T - Temperatura
ÍNDICE DE ARIDEZ (A).

20

15

10
SEMI-ÁRIDO
5

DESERTO
0
1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

1984 a 1993 (FERREIRA, 1995) 2000


a
2002
TEMPO - ANO

Figura III.5. Índice de Aridez – Petrolândia-PE (modificado de FERREIRA, 1995).

(a) Estação Úmida (b) Estação Seca

Figura III.6. Variação na vegetação local (Umburana-de-cheiro) devido às variações


climáticas.
114

III.3. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA

A caracterização geotécnica do solo foi feita através de estudos de campo e de


laboratório. No campo foram realizadas: coleta de amostras indeformadas (blocos) e
amolgadas (sacos); ensaios de permeabilidade (Guelph); sondagens SPT com medição
do torque (SPT-T); perfis de umidade e perfil de sucção. No laboratório foram
realizados ensaios de caracterização (granulometria, limites de Atterberg, densidade dos
grãos e compactação); análise qualitativa da fração granular e da fração fina;
microscopia eletrônica de varredura; e curva característica.

III.3.1 Sondagem de simples reconhecimento com ensaio de penetração e medida


do torque (SPT-T)

O principal objetivo das sondagens nesta pesquisa é avaliar a variação espacial


do perfil e a variação da resistência a penetração (N) e o torque (T) com a profundidade.
Foram realizadas duas campanhas, uma no período chuvoso (final de fevereiro de 2002)
e a outra no período seco (outubro de 2002). A locação dos furos de sondagem,
juntamente com outras atividades de campo realizadas estão indicadas nas Figuras III.7
e III.8.

Na primeira campanha foram realizados quatro furos, três deles (SPT-T1, SPT-
T2 e SPT-T3) em pontos, eqüidistantes entre si, formando uma triangulação em torno da
área destinada aos outros ensaios de campo (Figura III.7 e Figura III.8). Todos os furos
foram executados a seco (a trado). O quarto furo (SPT-T4) foi realizado fora dos limites
desta área, próximo às edificações que apresentam danos. O objetivo de realizar um furo
além desse limite é o de verificar se o perfil do solo próximo às edificações é
semelhante aos demais. Na segunda campanha foram realizados três furos, sendo um a
seco e dois por circulação d’água. O objetivo destes dois últimos furos foi avaliar a
possibilidade de definir um critério de identificação para solos colapsíveis a partir da
comparação dos resultados. Os furos da segunda campanha são diferenciados dos furos
Os furos da primeira campanha por uma letra minúscula após o número de identificação
(SPT-T1b, SPT-T2b, SPT-T3b).
ESCOLA AGRÍCOLA - CAMPO EXPERIMENTAL

POÇO
GH1
SPT-T3
N SPT-T1
SPT-T1b,T2b e T3b
GH2 2 4
3 3 2 2B
1
1 2A
1 PC01 1A 2
SPT-T4 SECÇÃO
1A 1B
4
1B 4A

SEC
ÃOÇ
3A

2
SPT-T2

ÁREA DE ESTUDO
fossa
115

fossa
fossa

fossa LEGENDA
cx. d'água Sondagem SPT-T
Expansolapsômetro
cx. d'água Pressiômetro *
Guelph
Catavento Poço de Amostragem
Prova de Carga
5 0 5 10m Parabólica
Coqueiro

Figura III.7. Locação da área de estudo em relação ao campo experimental.


116

POÇO

GH1

SPT-T3

SPT-T1
SPT-T1b
GH2 SPT-T3b
SPT-T2b 4
2
3 2B
1 3 2
2A
PC01 2
1 1A LEGENDA
1A
1B Sondagem SPT-T
4 4A Expansolapsômetro
1B
Pressiômetro *
Guelph
3A Poço de Amostragem
Prova de Carga
Parabólica
Coqueiro
SPT-T2 * OBS: Ensaios PMT
(DOURADO, 2003)

ÁREA DE ESTUDO

2 0 2 4m

Figura III.8. Locação das atividades de campo realizadas na área de estudo.

Em ambas campanhas, os ensaios de penetração eram realizados a cada 0,50m,


até alcançar a condição de impenetrabilidade. Após a cravação do amostrador padrão,
retirava-se a cabeça de bater, colocava-se uma luva centralizadora e um pino adaptador
sextavado. Uma chave soquete sextavada era adaptada no pino e com um torquímetro de
80kgfm eram iniciados movimentos de rotação da haste, anotando o torque máximo
(Tmáx.) necessário para girar o amostrador, conforme QUARESMA et al. (1998). Após a
retirada do amostrador de dentro do furo, amostras de solo da ponta do mesmo eram
117

coletadas e pesadas para a determinação do teor de umidade. Uma vez alcançada a


condição de impenetrável ao trado nos furos a seco, a sondagem era prosseguida por
meio de circulação d’ág ua, até os limites estabelecidos pela NBR 6484.

Os resultados das sondagens estão apresentados nas Figuras III.9 a III.12. As


linhas tracejadas nos furos da primeira campanha indicam a profundidade onde
prosseguiu a sondagem por circulação d’água. Nestas F iguras está apresentada a
classificação da granulometria baseada na análise táctil-visual do solo; os índices de
penetração (NSPT); os índices de torque, definido pela razão Tmáx / NSPT (DÉCOURT e
QUARESMA FILHO, 1994); e os teores de umidade, os quais são comparados com os
resultados obtidos a partir de amostras coletadas do poço de amostragem,
correspondendo ao período seco de 2001. Nos perfis da Figura III.9, localizados
próximos ao poço de coleta de amostras, estão apresentados, também, a umidade
necessária para a saturação do solo, calculada a partir dos índices físicos de corpos de
prova moldados “in situ” para determinação da sucção do solo.

Na Figura III.13 apresenta-se uma seção geológico-geotécnica obtida a partir das


sondagens. Nesta figura estão as cotas de cada amostra indeformada (bloco), dos
ensaios de placa e dos ensaios com o Expansolapsômetro (ECT), a serem detalhados no
Capítulo VI, e dos ensaios pressiométricos (PMT) realizados por DOURADO (2004).
Constam também alguns resultados da relação entre o recalque de colapso e o diâmetro
da placa (sc/D), para a tensão de inundação de 100 kPa, referentes aos ensaios ECT e o
potencial de colapso pressiométrico (Equação II.17) apresentado em COUTINHO et al.
(2004).

Os valores de N(SPT) = 50 e T/N = 6 apresentados nas Figuras são apenas limites


impostos para a representação gráfica dos resultados, nem sempre representando o valor
efetivamente medido. Em outras palavras, para qualquer valor acima destes limites
foram considerados os acima mencionados. No caso do ensaio de torque, este se
mostrou irrealizável para índices de penetração em torno deste limite (N=50).

Os furos da segunda campanha (SPT-T1b, SPT-T2b, SPT-T3b) foram realizados


próximos do furo SPT-T1 (Figura III.8) da primeira campanha, onde as diferenças de
cotas entre eles não ultrapassam os 0,30 m. Para fins de comparação, estes resultados
estão representados na mesma Figura (Figura III.9).
Descrição
0 0 0 0 0
Estação seca
Areia fina siltosa,
executados
não plástica,
por circulação
1 fofa a medianamente 1 d'água 1 1 1
compacta
Areia fina siltosa,
Estação seca
com plasticidade, 2
2 (a trado) 2 2 2
fofa a medianamente
comapcta.
Compacta a muito 61
3 compacta 3 Estação 50/8 3 3 3
chuvosa 75/23
(a trado)
Impenetrável à
Irrealizável
4 percussão 4 45/1 4 4 4
o ensaio de
118

torque

Profundidade (m)
Arenito da
5 Formação Tacaratu 5 48/17 5 5 5
50/15
Poço (Jul./01)
SPT-T1 (Fev./02) SPT-T1 (Fev./02) Poço (Jul./01)
6 6 6 6 SPT-T1 (Fev./02) 6
SPT-T1b (Out./02) SPT-T1b (Out./02)
Fim da sondagem SPT-T1b (Out./02) SPT-T1 (Fev./02)
SPT-T2b (Out./02) SPT-T2b (Out./02)
SPT-T3b (Out./02) SPT-T3b (Out./02) Umidade Saturação SPT-T1b (Out./02)
7 7 7 7 7
0 0.5 1 0 10 20 30 40 50 0 1 2 3 4 5 6 0 7 14 21 28 0 20 40 60 80 100
N (SPT) T/N Teor de Umidade (%) Grau de Saturação (%)

Figura III.9. Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade e grau de saturação.
119

Descrição
0 0 0 0
Areia fina siltosa,
não plástica Estação
fofa a chuvosa
1 medianamente 1 1 1
compacta.
Ar. fina siltosa, c/plastic.
fofa a median. Compacta
2 medianamente compacta
2 2 2
Profundidade (m)

a compacta
50/30
Impenetrável à
3 percussão 3 50/10 3 3
Irrealizável
Arenito da Formação
o ensaio de
Tacaratu
4 4 55/15 4 torque 4

5 5 50/6 5 5
Fim da sondagem
Poço (Jul./01)
SPT-T2 (Fev./02) SPT-T2 SPT-T2 (Fev./02)
6 6 6 6
0 0.5 1 0 10 20 30 40 50 0 1 2 3 4 5 6 0 2 4 6 8 10 12
N (SPT) T/N Teor de Umidade (%)

Figura III.10. Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade – furo SPT-T2.

Descrição
0 0 0 0
Areia fina siltosa Estação
não plástica, chuvosa
fofa
1 1 1 1
Areia fina siltosa, com
plasticidade, median.
compacta a muito compacta
2 2 45/12 2 2
Profundidade (m)

Impenetrável à
percussão Irrealizável o
ensaio de
3 Arenito da 3 51/12 3 torque 3
formação Tacaratu
53/15

4 Fim da sondagem 4 4 4

5 5 5 5
Poço (Jul./01)
SPT-T3 (Fev./02) SPT-T3 SPT-T3 (Fev./02)
6 6 6 6
0 0.5 1 0 10 20 30 40 50 0 1 2 3 4 5 6 0 4 8 12 16

N (SPT) T/N Teor de Umidade (%)

Figura III.11. Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade – furo SPT-T3.
120

Descrição
0 0 0 0
Areia fina siltosa
não plástica,
Estação
fofa a medianamente chuvosa
1 compacta. 1 1 1
Median. compacta

Areia fina
2 siltosa com 2 2 2
Profundidade (m)

plasticidade,
medianam. compacta
a compacta
3 3 3 3
Medianamente
compacta
4 4 4 4
Medianamente
compacta a
nuito compacta
5 72/30 Irrealizável o
Impenetrável - arenito 5 5 5
ensaio de torque
da form ação Tacaratu Poço (Jul./01)
Fim da sondagem
SPT-T4 (Fev./02) SPT-T4 (Fev./02) SPT-T4 (Fev./02)
6 6 6 6
0 0.5 1 0 10 20 30 40 50 0 1 2 3 4 5 6 0 4 8 12
N (SPT) T/N Teor de Umidade (%)

Figura III.12. Resultados de sondagem SPT-T com perfis de umidade – furo SPT-T4.

Nos furos realizados na área de estudo (Figura III.7 e Figura III.8) a condição de
impenetrável está compreendida entre 2 e 3m de profundidade, com a espessura do solo
reduzindo à medida que aumenta a distância do furo em relação às edificações (Figura
III.13). Tomando-se como referência o furo SPT-T1, observa-se uma suave declividade
(entre 3 e 4 %) na direção dos furos SPT-T2 e SPT-T3. As diferenças de cota entre o
furo SPT-T1 (cota 319,85m) e os furos SPT-T2 (cota 319,05) e SPT-T3 (cota 319,15m)
são 0,8m e 0,7m, respectivamente. No furo SPT-T4 (Figura III.12), o mais próximo das
edificações (Figura III.7), a condição de impenetrável a percussão ocorre em 5 metros
de profundidade. Em todos perfis, o índice de torque, em geral, acompanha a mesma
tendência do N(SPT).

O solo é constituído de uma areia fina siltosa amarelada, apresentado duas


camadas distintas (Figura III.13). Uma superior, com espessura variando de 1,2 a 1,3m,
sem apresentar plasticidade, e com compacidade variando de fofa (N ≤ 4) a média (9 <
N < 18). Na segunda camada, subjacente, o solo apresenta pouca plasticidade (1 ≤ IP ≤
7%), com espessura variando em torno de 1,0 a 4,0 m e compacidade variando de média
a muito compacta (N > 40), porém esta última classificação ocorrendo já na condição de
impenetrável a percussão.
SPT - T4
320 4
SPT - T1 320

1
CAMADA 1 5 10 SPT - T3
Areia Fina Siltosa NP 4
319 8 319
12 44
2
19
9 4
6
318 22 318
11 5
28
20
CAMADA 2 20 14
Areia Fina Siltosa (3 < IP% < 6) 45/12
317 12 317

COTA (m)
COTA (m)

42 61

75/23
50/12
316 13 316
45/11
53/15
Camada com SPT > 50
121

315 72 315
48/17

50

0 10 20 30 40 50 60

DISTÂNCIA (m)
LEGENDA
Areia siltosa não plástica (camada 1) Ensaio de permeabilidade Guelph Provas de carga em placa
(ensaios de referência)
Areia siltosa com pouca plasticidade (camada 2) Ensaio ECT (Expansolapsômetro)

Camada com SPT > 50 Ensaios Pressiométricos

Amostra em bloco

Figura III.13. Seção geológico-geotécnica do Campo Experimental.


122

Conforme será discutido no Capítulo VII, as classificações baseadas nos


resultados dos ensaios edométricos sugerem a existência de um trecho “problemático”
com maior susceptibilidade ao colapso, na fronteira entre estas duas camadas (Camada
1 e Camada 2). Na área de estudo (Figura III.8), especificamente na vertical referente ao
poço de amostragem, este trecho apresenta uma espessura da ordem de 1,0 m (entre 1,0
e 2,0m de profundidade), podendo atingir espessuras superiores à medida que o perfil se
distancia da área de estudo (Figura III.13). Resultados de ensaios pressiométricos
realizados por DOURADO (2004) na mesma área de estudo sugerem também a
existência de um trecho com maior susceptibilidade ao colapso entre 1,0 e 2,0 m de
profundidade. Mais detalhes destes resultados podem ser encontrados em COUTINHO
et al. (2004). Fato semelhante foi observado nos ensaios ECT a serem apresentados e
discutidos no Capítulo VI, os quais mostram aumento nos recalques de colapso com a
profundidade. Os recalques foram mais intensos nos ensaios realizados a 1,5 m de
profundidade, reforçando os comentários anteriores. Infelizmente foram realizados
ensaios em profundidades superiores a esta, impossibilitando uma melhor definição da
espessura da camada problemática.

É importante ressaltar que a classificação, quanto à compacidade, descrita no


parágrafo acima reflete o período em que foram realizadas as sondagens, em sua
maioria na estação úmida. Em todos perfis observa-se maior valor de N no primeiro 0,5
m, em relação à profundidade subseqüente. Tal fato deve estar associado a maior
exposição dessa camada às variações climáticas.

Nos perfis SPT-T1 e SPT-T1b (Figura III.9) obtidos no final da estação chuvosa
e da estação seca, respectivamente, observa-se um considerável aumento (45 a 55%) no
valor do índice de penetração no ensaio SPT-T1b, conseqüente do aumento da sucção
do solo. O aumento no valor de N neste ensaio veio a classificar a areia de
medianamente compacta a compacta (19 < N < 40) até 2m de profundidade.

Os resultados dos ensaios de penetração da segunda campanha realizados por


circulação d’água (SPT -T2b e SPT-T3b) não apresentaram variações significativas no
índice de penetração (N), para todo perfil, em relação ao ensaio realizado a seco (SPT-
T1b). Apenas no primeiro ensaio de penetração a 0,5m no furo SPT-T2b e a 1,0m de
profundidade no furo SPT-T3b observa-se redução significativa de 33% e de 67%,
respectivamente, em relação ao ensaio SPT-T1b. Para outras profundidades, os valores
de N são geralmente superiores ou da mesma ordem do ensaio SPT-T1b. Quando
123

comparados com o furo SPT-T1 (primeira campanha), realizado a seco na estação


úmida, os resultados dos ensaios com circulação d’água foram, em geral, superiores.

Inicialmente, acreditou-se que o uso de bentonita (usada por descuido) no ensaio


SPT-T2b tenha comprometido a infiltração da água. Todavia, o problema se repetiu furo
SPT-T3b, distante apenas de 1,0m, sem usar bentonita, mesmo mantendo o tubo de
revestimento preenchido com água por um longo tempo. Certamente o tempo envolvido
na lavagem do furo não foi suficiente para inundar o solo.

A variação da resistência à penetração, por conseqüência das variações sazonais,


mostra o quanto pode ser questionável um critério de identificação com base no valor de
N, apenas. Além disso, o simples processo de circulação d’água mostrou -se ineficiente
na saturação do solo, sugerindo que, nem sempre, a comparação de resultados de
ensaios por circulação d’água na estação seca, com outros realizados no estado natural
dará uma boa indicação da colapsibilidade do solo. É importante que a inundação dos
45cm do solo, referente à penetração do amostrador seja avaliada em pesquisas futuras,
pois caso o procedimento de inundação do solo envolva um tempo demasiadamente
longo poderá perder o sentido prático.

Como esperado, os teores de umidade referentes aos ensaios da primeira


campanha (período úmido) foram sempre superiores aos obtidos durante a coleta das
amostras (período seco), geralmente sem indicar uma profundidade de convergência
entre eles. A única exceção verifica-se nos perfis de umidade dos ensaios SPT-T1 e
SPT-T1b (Figura III.9), que tendem a convergir na profundidade de 3,0m, porém,
praticamente, na condição de impenetrável.

Esses resultados diferem do comportamento observado nos perfis de umidade


obtidos por FERREIRA (1995) para a areia colapsível estudada por este autor (Figura
II.17 – Capítulo II), cujos resultados indicaram convergência (período seco e período
úmido) entre as profundidades de 1,5 a 2,5m, embora os valores máximos e mínimos
das umidades foram equivalentes aos perfis das Figuras III.9 a III.12.

A umidade de saturação (Figura III.9) foi cerca de duas vezes o valor da máxima
umidade obtida na sondagem da primeira campanha (final da estação chuvosa),
sugerindo que, para as condições de campo, a saturação é pouco provável de ocorrer
neste solo.
124

Estes resultados (Figuras III.9 a III.12) sugerem que as águas decorrentes das
chuvas tendem a alterar todo a camada de solo colapsível, provavelmente devido a
pequena espessura e elevada permeabilidade que esta apresenta.

O perfil SPT-T4 (Figura II.12) se destaca dos demais por apresentar teores de
umidade superiores até a profundidade de 2,0 m, embora os ensaios tenham sido
realizados na mesma época e sem a ocorrência de chuvas eventuais durante esta
atividade. Uma explicação para esta discrepância pode estar associada a uma maior
concentração de água devido à alteração nas condições naturais de drenagem por conta
da construção, associada à implantação de vegetação de origem não nativa (coqueiros,
etc.) existente em torno das edificações, constantemente irrigada.

III.3.2 Coleta de amostras

A amostragem foi realizada em julho de 2001, correspondendo ao período seco


da região. Foram obtidas amostras indeformadas (blocos) e amolgadas (sacos). As
amostras indeformadas foram coletadas a partir de um poço exploratório de secção
retangular (1,5 x 2,0 m) e profundidade de até 3,0 m. A escolha da localização do poço
obedeceu a dois critérios básicos: (1) proximidade das construções que apresentam
danos devido ao colapso e de uma infraestrutura básica (energia, água e local para
acondicionamento das amostras) existente, facilitando assim as outras campanhas de
campo; e (2) disponibilidade de área para a realização das provas de carga a serem
apresentadas no Capítulo VI. A locação do poço está indicada nas Figuras III.7 e III.8.

As amostras consistiram de blocos cúbicos com arestas variando entre 270 mm a


300 mm. Foram coletados nove blocos ao longo da profundidade. Na escolha das
profundidades de cada bloco levou-se em consideração o tamanho do bulbo de tensão a
ser induzido ao terreno nos futuros ensaios de provas de carga em placas. Considerou-se
uma placa circular com diâmetro (D) de 0,80m e um bulbo correspondente a 2,5D (2m).

Admitindo-se também que a placa venha a ser apoiada a 0,5m da superfície do


terreno, o limite inferior do bulbo ficaria a 2,50m da superfície. Esta foi a principal
razão da execução de um poço de 3,0m de profundidade. Na Figura III.14 está
apresentado um resumo da campanha de amostragem, onde está indicada a
profundidade de cada bloco e a cota (319,55m) do nível do terreno. Vale ressaltar que
125

na área de estudo há uma declividade da ordem de 3 %, resultando numa diferença de


cota em torno de 0,40m entre a locação do poço e a dos demais ensaios de campo.

O procedimento consistiu da moldagem de um bloco com dimensões superiores


às descritas no parágrafo acima. Utilizando-se de uma faca afiada, era dado o
acabamento final (dimensões 270 ou 300 mm). Em seguida o bloco era envolvido com
uma camada de papel laminado, seguida de uma outra camada de tecido morim e,
finalmente, uma camada de talagarça. Após estas etapas eram aplicadas várias camadas
de parafina, até formar uma capa suficientemente rígida. Posteriormente, o bloco era
cuidadosamente seccionado do maciço e acondicionado em uma caixa de madeira.

Antes do acondicionamento do bloco na caixa, quando adequado, uma placa de


isopor com as dimensões internas da caixa era colocada sobre o topo do bloco, servindo
como amortecedor de futuros impactos durante o transporte. Os vazios remanescentes
eram preenchidos com parafina. Do solo removido durante a moldagem de cada bloco,
cerca de 15 kg de amostra amolgada era coletada em saco para realização de ensaios de
caracterização.

III.3.3 Ensaios de caracterização

Os ensaios de caracterização física foram realizados de acordo com as


metodologias da norma brasileira: NBR 7181 para a granulometria; NBR 6459 para os
limites de liquidez e plasticidade; NBR 6508 para o peso específico dos grãos e NBR
7182 para os ensaios de compactação.

Bloco Posição dos blocos no bulbo de pressão


Camada Data Prof (m)
No Cota do nível do terreno: 319,55m
03/07/01 1e2 0,5 a 0,8
1
04/07/01 3e4 1 a 1,3
04/07/01 5e6 1,5 a 1,8
2
05/07/01 7e8 2 a 2,3
NSPT > 50 05/07/01 9 2,5 a 2,8

Figura III.14. Resumo da campanha de amostragem.


126

III.3.3.1 Granulometria, peso específico relativo dos grãos e limites de consistência

Os ensaios foram realizados a partir das amostras amolgadas (sacos) obtidas


durante a moldagem dos blocos. No caso dos ensaios de granulometria, além do
procedimento prescrito na norma citada, foram realizados ensaios sem o uso do
defloculante, mantendo o restante do procedimento idêntico ao prescrito na norma.

Nas Figuras III.15 e III.16 estão apresentadas as curvas granulométricas


referentes aos ensaios realizados com e sem o uso do defloculante, respectivamente. Nas
Tabelas III.4 e III.5 são apresentados um resumo das frações do solo com outros
resultados de caracterização (peso específico relativo dos grãos, Gs, e limites de
Atterberg). Está apresentada também (Tabela III.4) a classificação das amostras no
sistema unificado, considerando os ensaios com defloculante.

Areia
Areia
Grossa
Argila Silte Areia Fina Média Pedregulho

100

90

80
Percentual passando (%)

70

60

50

40

30 Prof.(m): 0,5 a 0,8


Prof.(m): 1,0 a 1,3
20 Prof.(m): 1,5 a 1,8
Prof.(m): 2,0 a 2,3
10
Prof.(m): 2,5 a 2,8
0
0.001 0.010 0.100 1.000 10.000 100.000

Diâmetro dos grãos (mm)

Figura III.15. Curvas granulométricas – ensaio com defloculante.


127

Areia Areia
Argila Silte Areia Fina Média Grossa Pedregulho

100

90

80
Percentual passando (%)

70

60

50

40

30 Prof.(m): 0,5 a 0,8


Prof.(m): 1,0 a 1,3
20
Prof.(m): 1,5 a 1,8
10 Prof.(m): 2,0 a 2,3
Prof.(m): 2,5 a 2,8
0
0.001 0.010 0.100 1.000 10.000 100.000

Diâmetro dos grãos (mm)

Figura III.16. Curvas granulométricas – ensaio sem defloculante.

Considerando os resultados dos ensaios realizados com o uso do defloculante


(Tabela III.4), solo apresenta uma granulometria, predominantemente grossa, com
menos de 50% (entre 12 e 26%) passando na peneira 200 (0,075mm). A fração
predominante é a areia fina, com percentual variando entre 69 e 78%, enquanto a
porcentagem de argila varia no intervalo de 7 e 16%, com maior concentração a partir
de 1,5m de profundidade. Os valores do Gs (2,64 a 2,67) sugerem uma mineralogia,
predominantemente, composta do mineral Quartzo (2,67). Embora a porcentagem de
silte seja pequena (≤ 5%), a relação silte/argila tende a decrescer com a profundidade
até 2,5m, indicando haver uma pequena lixiviação da argila da camada superior para as
mais profundas, aumentando na camada de 2,5 a 2,8m.

Até a camada de 1,0 a 1,3m (amostras 1 e 2) o solo não apresenta


comportamento plástico, embora apresente mais de 12% de finos. Isto gera um
inconveniente quanto à aplicação da classificação USCS, pois para percentual de finos
superior a 12 % faz-se necessária a identificação do solo na carta de plasticidade. Uma
Tabela III.4 - Resumo dos resultados de caracterização – ensaios com defloculante.
Composição Granulométrica (%) - ABNT Limites de
Prof. % Pass.
Gs Areia Atterberg (%) Silte/Arg. Ia USCS
(m) #200 Arg. Silte Pedr.
fina média grossa LL LP IP
0,5-0,8 12 2,67 7 2 78 12 1 0 NL NP ----- 0,29 ---- SP-SM
1,0-1,3 14 2,64 9 3 74 13 1 0 14 NP ----- 0,33 ----- SP-SM
1,5-1,8 19 2,64 14 2 70 13 1 0 16 12 4 0,14 0,3 SM
2,0-2,3 21 2,64 15 0,5 69 12 0,5 3 17 15 3 0,03 0,2 SM
2,5-2,8 25 2,64 16 5 69 10 0 0 19 13 6 0,31 0,4 SM/SC
128

Tabela III.5 - Resumo dos resultados de granulometria – ensaios sem defloculante.


Composição Granulométrica (%) - ABNT Relação
Prof. % Pass.
Gs Areia (Arg. SD/Arg.CD)
(m) #200 Argila Silte Pedregulho
fina média grossa %
0,5-0,8 12 2,67 2 2 88 7 1 0 29
1,0-1,3 14 2,64 2 3 85 8 2 0 22
1,5-1,8 19 2,64 2 4 86 8 0 0 14
2,0-2,3 21 2,64 2 6 82 7 1 2 13
2,5-2,8 25 2,64 3 9 82 6 0 0 19
SD – ensaio realizado sem defloculante, CD – ensaio realizado com defloculante.
129

vez que os percentuais de finos das respectivas amostras (12,3 e 13,8 %) encontram-se
próximos a este limite, o bom senso conduz a classificá-las no grupo SP-SM (areia fina
siltosa mal-graduada), o qual seria restrito a solos com percentuais de fino entre 5 e
12%.

As demais amostras apresentaram tanto maiores percentuais de finos quanto uma


pequena plasticidade (3<IP<6), o que permite classificá-las no grupo SM. A única
ressalva é feita para a amostra referente às profundidades 2,5 a 2,8m, cuja fração fina
enquadrou-se, na Carta de Plasticidade, na zona de fronteira entre os grupos ML e CL,
definida pelos pontos acima da linha A com IP entre 4 e 7%, resultando numa dupla
classificação (SM/SC). Nas amostras que apresentam alguma plasticidade, o índice de
atividade foi inferior a 0,75, indicando a não existência de minerais argílicos expansivos
na fração argila.

Nos ensaios realizados sem o uso do defloculante, observa-se aumento no


percentual de areia fina (faixa de 69 a 78% para 82 a 88%) e redução na quantidade de
argila (faixa de 7 a 16% para 2 a 3%), como era de se esperar, sendo mais significativo
para as amostras a partir da profundidade de 1,5m. A razão entre o percentual de argila
do ensaio sem defloculante para o ensaio com defloculante (PD), expresso em termos
percentuais, variou entre 13 e 29 %, indicando tratar-se de um solo não dispersivo (PD
< 20%) a moderadamente dispersivo (20 < PD < 50%), conforme a NBR 13602/96. Tais
resultados respaldam a hipótese considerada nesta pesquisa de que o mecanismo de
colapso é predominantemente devido à redução da sucção.

III.3.3.2 Compactação

Tendo em vista que uma das soluções adotadas na prática da engenharia ao tratar
solos colapsíveis é a destruição da estrutura original do solo através da compactação,
ensaios de compactação foram realizados com o objetivo caracterizar o solo nesta
condição. Estes ensaios servirão, também, como referência na preparação de amostras
compactadas para avaliar o efeito da compactação na redução da colapsibilidade do
solo.

FERREIRA (1995) avaliou os efeitos de reuso e secagem das amostras nos


ensaios de compactação. O reuso da amostra exerceu influência insignificante nos
130

resultados (redução de 1,8% no peso específico aparente seco e 0,2 % na umidade


ótima). Conclusão semelhante foi obtida ao comparar o peso específico seco máximo
dos ensaios realizados a partir de amostras secas em estufa e com o reuso do material
com o correspondente ensaio realizado em amostras secas ao ar. A secagem da amostra
em estufa resultou numa redução de 1,28 % no peso específico seco, em relação ao
ensaio em amostra seca ao ar. Considerando estes resultados, na atual pesquisa, os
ensaios de compactação foram realizados com secagem prévia e reuso das amostras,
conforme a NBR 7182.

Na Figura III.17 estão apresentadas as curvas de compactação sobrepostas às


curvas de diferentes graus de saturação (grau de saturação de 100%, grau de saturação
na umidade ótima e grau de saturação na umidade do menor peso específico no ramo
seco da curva). Mostra-se ainda a faixa e o valor médio do peso específico seco e do
teor de umidade na condição de campo, obtidos a partir dos ensaios edométricos
(Capítulo IV) e de cisalhamento direto (Capítulo V). Estes resultados encontram-se
resumidos na Tabela III.6.

Nas condições de peso específico aparente seco máximo e umidade ótima, o solo
estudado apresenta grau de saturação entre 62 e 85% (Tabela III.6), aumentando com a
profundidade, estando, na maioria dos casos, abaixo do que normalmente se observa em
outros solos (geralmente mais argilosos) da literatura (85 a 90%). O aumento do grau de
saturação com a profundidade pode ser explicado pelo aumento no teor de argila
(Tabela III.4), que tende a ser mais significativo a partir de 1,5m (>14%). Nas amostras
limitadas pela profundidade máxima de 1,3m (amostra 1 e 2), o grau de saturação (62,4
e 71,2%) aproxima-se ao observado por FERREIRA (1995) (67,14%) em solo similar
investigado por este autor.

O grau de compactação (GC) definido pela relação entre o peso específico seco
do solo natural e o peso específico seco do solo na umidade ótima varia entre 82 e 92%,
estando fora da faixa de valores (GC < 80%), sugerida por MELLO (1973) citado por
FERREIRA (1995), de solo potencialmente colapsível. Todavia, os valores dos pesos
específicos secos médios do solo no estado natural (< 17kN/m3) estão, na maioria das
amostras, compatíveis com o observado em muitos solos colapsíveis da literatura (11 a
17kN/m3), o que resultará numa porosidade da ordem de 40%, conforme THORNTON
e ARULANANDIAN (1975). A única exceção ocorre na amostra referente à
profundidade de 2,5 a 2,8m, que apresentou γd natural de 18,8 kN/m3.
131

O peso específico seco máximo (γdmáx) do solo compactado, em geral, segue


tendência de aumentando com a profundidade. A única exceção ocorreu na amostra de 2
a 2,3m, onde o γdmáx (20,3 kN/m3) foi superior ao da amostra de 2,5 a 2,8m (20 kN/m3),
porém muito próximos. Uma possível justificativa para mudança de tendência de
aumento em γdmáx pode estar relacionada ao teor de finos (percentual passando na #200)
no solo. GUIMARÃES NETO (1997) avaliou a influência no teor de finos nos
resultados dos ensaios de compactação da areia colapsível de Petrolândia, onde γdmáx
apresentou tendência de aumento para teores de finos de até 20%, a partir do qual se
observou redução em γdmáx.

Nas amostras limitadas pelas profundidades de 2 a 2,8m, tanto o comportamento


das curvas (Figura III.17d e III.17e) quanto os valores de γsmáx assemelha-se a resultado
da literatura apresentado por SOUZA PINTO (2000) referente a um solo arenoso
laterítico fino. Vale ressaltar que, nestas duas amostras, observou-se vários nódulos
vermelhos, indicando a existência de concentração de óxidos de ferro. Das amostras
ensaiadas, apenas as limitadas nas profundidades inferiores a 1,3m (Figura III.17g)
apresentaram semelhança em termos de comportamento da curva, com o solo de
Petrolândia estudado por FERREIRA (1995).

Tabela III.6. Resumo dos resultados dos ensaios de compactação.

Condição de Campo Compactada

Prof.(m) Umidade (%) γdmáx (kN/m3) S Wot γsmáx S


GC
mín. média máx. min. média máx. (%) (%) (kN/m3) (%)
0,5-0,8 0,38 0,87 1,59 15,1 16 17 4,9 11,3 18 62,4 90,0
1,0-1,3 0,71 1,65 2,45 15,1 16 16,6 7,4 11 18,8 71,2 86,2
1,5-1,8 0,58 1,72 2,82 15,5 16 16,8 9,0 9,7 19,7 74,6 82,2
2,0-2,3 1,56 2,18 3,46 15 16,5 17,2 10,1 8,8 20,3 77,3 82,3
2,5-2,8 1,55 2,96 3,71 17,1 18,1 18,8 18,2 10,2 20 84,2 91,5
132

19.5 19.5
Peso específico seco (kN/m ) Prof.: 0,5 a 0,8m Prof.: 1 a 1,3m
3

19.0 19.0 S=10,5%


18.5 S=9,5% S=62,4% S=100% 18.5

18.0 18.0

17.5 17.5

17.0 17.0

16.5 16.5 S=71,2% S=100%


S=34%
16.0 16.0

15.5 Condição de campo 15.5 Condição de campo


(a) (b)
15.0 15.0
20.5 0 5 10 15 20 25 0
20.5 5 10 15 20 25
S=100% Prof.: Prof.: 2(%)
a 2,3m
20.0 Teor de Umidade (%) 20.0 Teor de Umidade
Peso específico seco (kN/m )
3

S=20,7% 1,5 a 1,8m


19.5 19.5
19.0 19.0
18.5 18.5
18.0 18.0
17.5 17.5
17.0 17.0
16.5 16.5 S=29,5% S=100%
S=77,3%
16.0 S=74,5% 16.0
15.5 Condição de campo
Condicção de campo (c)15.5 (d)
15.0 15.0
21.0 0 5 10 15 20 25 0
21.0 5 10 15 20 25
0,5-0,8m
Prof.: 2,5 a 2,8m
Peso específico seco (kN/m )

Peso específico seco (kN/m )


3

1,0-1,3m
S=31,8% 1,5-1,8m
20.0 20.0
2,0-2,3m
2,5-2,8m
19.0 19.0 Ferreira (1995)

18.0 18.0

S=100%
17.0 S=84% 17.0
Condicção de campo
(e) (f)
16.0 16.0
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25

Teor de Umidade (%) Teor de Umidade (%)

Figura III.17. Curvas de compactação – ensaio Proctor Normal com reuso da amostra.
133

III.3.4 Índices físicos, perfis de umidade e de sucção

Durante a amostragem, foram moldados corpos-de-prova a cada 0,25m ao longo


da profundidade para obtenção do teor de umidade, índices físicos (peso específico,
índice de vazios, grau de saturação e porosidade) e sucção do solo. Os corpos-de-prova
foram obtidos pela cravação estática de anéis edométricos em pequenos blocos
seccionados do maciço. A sucção do solo foi obtida pelo método do papel filtro,
utilizando dois papéis por corpo de prova. Detalhe do procedimento adotado e
informações conceituais sobre o método do papel filtro encontram-se no Apêndice A.

Na Figura III.18 apresentam-se a variações da granulometria, considerando os


resultados dos ensaios realizados sem o uso do defloculante, dos índices físicos e da
sucção do solo com a profundidade. Os teores de umidades foram determinados de
amostras remanescentes da moldagem desses corpos de prova (em cápsulas) e pesando-
se, diretamente, o corpo-de-prova (CP) antes e após secagem em estufa. Os índices de
vazios foram calculados considerando o peso específico relativo dos grãos (Gs) de 2,66
até 0,5m e 2,64 para profundidades superiores.

Não se observa tendência de variação do peso específico (γd) seco com a


profundidade (Figura III.18b). Os valores, em sua maioria, variam entre 16 e 18 kN/m3.
A exceção ocorre na profundidade de 2,5m, onde γd excedeu 19 kN/m3. Excluindo este
último valor, o peso específico médio do perfil é de 16,9kN/m3. Os pesos específico
seco e natural (γnat) foram próximos, com diferença máxima de 15% na profundidade de
2m. No restante do perfil essa diferença variou entre 1 e 5%.

Os teores de umidade (Figura III.18c) obtidos a partir de cápsulas foram,


ligeiramente, inferiores aos obtidos da pesagem dos corpos de prova, provavelmente
devido a alguma perda de umidade durante a moldagem do corpo de prova. Para
profundidades inferiores a 1,5m a umidade variou entre 1 e 2 %. Para profundidades
superiores, em geral, os teores de umidade variaram entre 2 e 4 %, provavelmente
devido ao maior teor de argila (Figura III.18a) que se observa a partir desta
profundidade. Estes baixos valores são um reflexo da seca que assolava a região no ano
de 2001. Resultados semelhantes foram encontrados por FERREIRA (1995) em outra
localidade de Petrolândia. Para estes valores, o grau de saturação (S) varia entre 5 e 10
% e entre 10 e 20 % para profundidades inferiores e superiores a 1,5m, respectivamente.
0 Descrição 1
0 0 0 0 0 0 0
Estação Seca

Areia fina siltosa,


0.5 sem plasticidade 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5 0.5
(SP/SM)

CAMADA I Areia Fina


1 1 1 1 1 1 1

1.5 1.5 Areia 1.5 1.5 1.5 1.5 1.5


CAMADA II Média e
Areia fina siltosa, Grossa
134

(SM)

Profundidade (m)
18% 92%
2 com plasticidade 2 Pedregulho 2 2 2 2 2
(3 < IP < 6%)

SPT > 50
2.5 Areia fina 2.5 2.5 2.5 2.5 2.5 2.5
siltosa/argilosa Silte
(SM/SC), IP = 6%, Método
Natural Cápsulas
presença de óxido Argila Papel Filtro
de ferro. (a) Seco (b) CP (c) (d) (e) (f)
3 3 3 3 3 3 3
0 20 40 60 80 100 15 17 19 21 23 0 2 4 6 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0 20 40 60 0 10 20 30
3
Granulometria (%) γ d e γ nat (kN/m ) w (%) e S (%) Sucção (MPa)

Figura III.18. Variação da granulometria sem defloculante, umidade, grau de saturação e sucção com a profundidade, obtidos durante a
amostragem (Julho/2001).
135

Exceções ocorreram nas profundidades de 2,0 m e 2,5 m. Na primeira


profundidade, o teor de umidade obtido do corpo de prova foi 17,8%, resultando num
grau de saturação de 92%. Em nenhum momento durante a amostragem observou-se
alguma característica no solo que justifique valores tão altos. Assim, é de se esperar que
neste caso tenha ocorrido algum erro de pesagem. Na profundidade de 2,5m a umidade
de 5 % resultou no grau de saturação de 38 %, o que pode ser justificado pelo baixo
índice de vazios (0,36) desse corpo-de-prova.

As sucções encontradas (Figura III.18f) foram elevadas (na faixa de 10 a 20


MPa, aproximadamente), reforçando a impossibilidade de monitoramento da sucção no
campo através de tensiômetros, conforme já discutido. Observa-se também pouca
dispersão nos valores obtidos nas duas determinações (dois papéis por corpo-de-prova)
em cada profundidade, e boa concordância entre o grau de saturação e a sucção.
Sucções dessa ordem em um solo arenoso sugerem que a transferência da água para o
papel ocorra na forma de vapor. Neste caso, pouco sentido há de se falar em sucção
matricial. Em outras palavras, a sucção determinada pelo método do papel filtro nessa
faixa de valores equivalerá à sucção total. Valores semelhantes foram obtidos por
FERREIRA (1995) para areia colapsível estudada por este autor.

Na profundidade de 1,5m observa-se uma acentuação nos valores, tanto nos


índices físicos quanto na sucção do solo (Figura III.18). Inicialmente levantou-se a
hipótese de tais resultados indicarem algum trecho com um comportamento especial em

torno desta profundidade. Todavia, os índices físicos (γnat, γd e eo) determinados a partir

da moldagem dos corpos de prova dos ensaios edométricos (Capítulo IV) e dos ensaios
de cisalhamento direto (Capítulo V) indicam (Figura III.19), para profundidades

inferiores a 1,8m, valores máximos de γd e γnat de 17 kN/m3 e 17,3 kN/m3,

respectivamente, menores do que os 17,6 kN/m3 e 18,3 kN/m3 apresentados na Figura


III.18b. Como se pode perceber na Figura III.19, a linha que une os valores médios
(linha tracejada) não indica qualquer acentuação semelhante ao observado na Figura
III.18b. Portanto, os resultados da Figura III.18, embora coerentes entre si, não podem
ser tomados como padrão para o perfil.
136

0 0 0

0.5 0.5 0.5

1 1 1
Profundidade (m)

1.5 1.5 1.5

2 2 2

2.5 2.5 2.5

(a) (b) (c)


3 3 3
14 16 18 20 14 16 18 20 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8

γ d (kN/m3) γ nat (kN/m3) e

Figura III.19. Variação do peso específico seco (γd), peso específico natural (γnat) e do
índice de vazios com a profundidade obtidos a partir dos ensaios edométricos e de
cisalhamento direto.

III.3.5 Ensaios de permeabilidade “in situ”

Para avaliação da condutividade hidráulica do solo foram realizados ensaios de


permeabilidade de campo através do permeâmetro Guelph. Este equipamento permite
realizar ensaio pontual de carga constante, fornecendo diretamente a permeabilidade
saturada (Kfs) e o potencial mátrico de fluxo (φm) do solo. Conhecidos os teores de
umidade e a curva característica do solo, o ensaio também permite a obtenção,
indiretamente, da condutividade hidráulica não saturada (K) para aquele solo
correspondente sucção, utilizando-se os valores de Kfs e φm obtidos durante a realização
do ensaio, conforme a equação:

K = Kfs [e(α)(ϕ)] III.2


137

onde: α = Kfs/φm é uma constante que depende das propriedades dos poros do solo;
ϕ = sucção da água no solo em cm de coluna d' água;
e = 2,71828.

A avaliação do valor da condutividade hidráulica não saturada no ensaio Guelph,


só é possível em função do mesmo levar em consideração na sua interpretação a zona
não saturada do solo. Detalhes dos procedimentos adotados na determinação dos perfis
de permeabilidade, bem como os conceitos teóricos relacionados ao equipamento
encontram-se relatados no Apêndice B.

Os ensaios de permeabilidade foram realizados paralelamente a duas outras


campanhas durante a estação seca da região. A primeira campanha de ensaios ocorreu
durante a amostragem, enquanto a segunda campanha foi feita durante a realização de
ensaios pressiométricos por DOURADO (2004).

Foram realizados 11 ensaios em quatro furos em localizações distintas do


terreno. A locação dos furos, em relação ao prédio administrativo, está indicada nos
desenhos das Figuras III.7 e III.8, sob a sigla GHX, sendo X o número do furo. Os
resultados estão apresentados na Figura III.20 e na Tabela III.7, com a granulometria do
solo referente aos ensaios realizados sem o defloculante e os índices de vazios em
profundidades equivalentes às dos ensaios.

Na profundidade de 1,0m, dois ensaios realizados apresentam valores negativos


de Kfs, o que caracteriza a existência de uma descontinuidade hidráulica, ou ainda, que a
permeabilidade nesta profundidade nos respectivos furos (GH3 e GH4) esteja fora dos
limites de validade do equipamento (10-2 a 10-6 cm/s) (SOILMOISTURE, 1993).
Portanto, os valores negativos não serão considerados na definição da linha que une os
pontos médios.

Estes resultados mostram que o solo considerado possui elevada permeabilidade


saturada (típico de solos arenosos) com tendência a diminuir com a profundidade. Esta
tendência está coerente com os valores dos índices de vazios correspondentes e as
características granulométricas do solo, cuja análise táctil-visual de amostras coletadas
do trado durante a realização dos furos, indica aumento no teor de argila e um
comportamento plástico a partir da profundidade de 1,5m, tal como os resultados dos
ensaios de caracterização apresentados na Tabela III.4.
138

0 0 0
Areia Média
e Grossa
0.5 0.5 0.5
Silte
Profundidade (m)

1 1 1
Areia Fina

1.5 1.5 1.5


GH1
2 2 2 GH2
GH3
2.5 Pedregulho 2.5 2.5 GH4
Argila Média
3 3 3
0 20 40 60 80 100 0.50 0.55 0.60 0.65 0.70 -2 1 4 7 10 13 16
-3
Granulometria (%) Índice de Vazios Kfs (10 cm/s)

Figura III.20. Resultados de permeabilidade saturada Kfs “in situ” (Permeâmetro


Guelph).

Tabela III.7. Resumo dos resultados dos ensaios de permeabilidade “in situ”.

Kfs Kfs médio


Camada Prof.(m) Mês / Ano Furo e
(cm/s) (cm/s)
GH1 5,74 x 10-3
Julho/2001
0,5 GH2 1,44 x 10-3 5,64 x 10-3 0,67
Nov./2002 GH3 9,73 x 10-3
1
Julho/2001 GH1 8,44 x 10-3 8,44 x 10-3
1 GH3 -0,47 x 10-3 (válido o valor 0,66
Nov./2002
GH4 -1,22 x 10-3 positivo)
Julho/2001 GH2 3,91 x 10-3
1,5 -3
3,93 x 10-3 0,65
Nov./2002 GH3 3,96 x 10
2 2 Nov./2002 GH3 3,74 x 10-3 0,64
Nov./2002 GH1 1,82 x 10-3
2,5 -3
1,15 x 10-3 0,56
Nov./2002 GH3 0,481 x 10
139

III.3.6 Análise mineralógica da fração granular

A mineralogia (tipo de mineral) e o formato dos grãos da fração granular de um


solo pode exercer forte influência em algumas propriedades de engenharia. Uma areia
que possui mica como mineral predominante apresenta menor resistência e maior
compressibilidade do que uma areia do mesmo grupo na classificação unificada, e
mesma compacidade, composta por quartzo ou feldspato. Bons exemplos da influência
da mica na compressibilidade e resistência de solos residuais podem ser encontrados em
SANDRONI (1991).

Fato semelhante pode ocorrer em areias carbonáticas, onde a quebra dos grãos
devido às cargas externas pode resultar em aumento da compressibilidade do solo e
redução da resistência com o aumento da tensão confinante. O índice de compressão de
uma areia carbonática, por exemplo, pode ser superior a 100 vezes de uma areia
constituída de minerais silicatos (MURFF, 1987). Isso é uma conseqüência, dentre
outras, da menor dureza dos minerais carbonáticos (ex: calcita, dolomita) que variam
entre 3 e 4 na escala de dureza de Moh, enquanto areias compostas de minerais silicatos,
tal como o quartzo, este valor pode chegar a 7. Além disso os minerais carbonáticos
apresentam maior sensibilidade a líquidos agressivos, o que pode vir a ter forte
influência no comportamento mecânico neste tipo de solo.

Embora o conhecimento da mineralogia não seja normalmente utilizado em um


projeto geotécnico, a análise mineralógica é de grande auxílio na interpretação de
resultados de ensaios de laboratório de comportamento no campo. No caso da fração
granular, esta pode ser feita pela simples observação por meio de uma lupa. Na Figura
III.21 está apresentada uma classificação dos grãos da fração areia, em função do
formato, o que é também uma conseqüência do processo de formação do depósito.

Nesta pesquisa, a análise mineralógica da fração granular (areia) foi realizada,


qualitativamente, utilizando uma lupa binocular pertencente ao Laboratório de Geologia
Sedimentar (LAGESE) do departamento de Geologia da UFPE, com a participação
direta da Professora Lúcia Valença. Uma vez que este equipamento provia de uma
câmera fotográfica acoplada, foi possível obter fotos desta fração do solo.
140

Angular

Subangular

Subarredondado

Arredondado

Bem arredondado

Figura III.21. Classificação da fração granular de um solo em função da esfericidade


(MITCHELL, 1993).

Inicialmente uma porção representativa da amostra era lavada, simultaneamente,


nas peneiras #10 (2mm) e #230 (0,062mm) para remoção da fração fina do solo. A
amostra úmida era conduzida à estufa para secagem. Uma pequena porção (50g) do solo
seco passando na peneira #10 e retido na #230 era separada para análise da fração areia
fina a média. Outra porção do solo retido na peneira 10 era separado para análise da
fração areia grossa e pedregulho.

Embora estas análises tenham sido realizadas nas amostras correspondentes a


todas as profundidades, não foram observadas variações significativas quanto ao
formato dos grãos. O único fator diferencial entre as amostras, foi uma ligeira
superioridade na presença de óxidos de ferro para as profundidades superiores a 2,0m,
embora o processo de lavagem tenha removido a maior parte dos óxidos. Na Figura
III.22 estão apresentados alguns desses resultados, representativos do perfil.

A fração granular é composta, essencialmente, de quartzo, com formato dos


grãos variando de arredondado a subarredondados na fração areia fina a média
(0,062mm < φgrãos < 2mm). Na profundidade de 2,5m (Figuras III.22e, III.22f), alguns
141

grãos apresentam-se revestidos por uma película de óxido de ferro, resultando na


tonalidade avermelhada. Na fração areia grossa e pedregulho (φgrão > 2mm) o formato
dos grãos varia de subarredondado a subanguloso. A forma arredondada dos grãos é um
indício de que o processo de eluviação ocorreu em um material transportado.

(a) Prof.: 1,5 a 1,8m (0,062 <φgrão mm < 2) (b) Prof.: 2,0 a 2,3m (0,062 < φgrão mm < 2)

(c) Prof.: 1,5 a 1,8m (φgrão > 2mm) (d) Prof.: 2,0 a 2,3m (φgrão > 2mm)

(e) Prof.: 2,5 s 2,8m (0,062 <φgrão mm < 2) (f) Prof.: 2,5 s 2,8m (0,062 <φgrão mm < 2)

Figura III.22. Análise mineralógica da fração areia por lupa binocular.


142

III.3.7 Análise mineralógica da fração fina (silte e argila)

A natureza mineralógica da fração fina pode ter forte influência no processo do


colapso. Solos que contém, na fração argila, minerais de natureza dispersiva (ex:
montmorilonita) podem ter seu potencial de colapso aumentado devido à interação
química com o líquido permeante. Algumas vezes o solo só apresenta comportamento
colapsível quando percolado por líquidos agressivos, conforme demonstraram
REGINATTO e FERRERO (1973). Daí a importância em identificar a mineralogia da
fração fina do solo.

A análise mineralógica da fração silte e da fração argila foi realizada através de


difração de Raio X. Utilizou-se um difratômetro da marca Rigaku-Geigerflex, com
radiação K-alfa do cobre, velocidade do goniômetro de 4o/min e velocidade da carta de
40mm/min, pertencente ao Departamento de Engenharia de Minas (DEM) da UFPE.

A confecção e tratamento das lâminas foram realizados no Laboratório de


Ciências do Solo da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), sob os
cuidados do técnico Camilo Sidrak. A difração do Raio X foi realizada pelo Professor
Hugo Villaroyal do DEM / UFPE. As análises dos difratogramas foram realizadas com
a participação da Professora Lúcia Valença do Departamento de Geologia da UFPE.

As lâminas de argila foram submetidas aos seguintes tratamentos: 1) saturação


com magnésio e glicerol; 2) saturação com potássio e secas a 25oC; e 3) saturação com
potássio e aquecidas a 550oC por duas horas. As lâminas da fração silte receberam o
tratamento com potássio e glicerol.

As análises foram realizadas nas amostras correspondentes às profundidades de


0,5 a 0,8m, 1,0 a 1,3m e 1,5 a 1,8m. Nas Figuras III.23 a III.25 estão apresentados os
difratogramas referentes à fração argila. Na Figura III.26 estão os difratogramas da
fração silte.

A mineralogia para as três amostras é similar. Considerando os picos de primeira


ordem, a fração argila possui como principais componentes os minerais Caulinita (7,16
o o
A ) e Mica (10,1 A ). Nas lâminas aquecidas a 550oC, observa-se, apenas, a presença do
mineral Ilita, pois o aquecimento a esta temperatura transforma a Caulinita. Uma
exceção ocorreu na amostra entre 1,5 e 1,8 m (Figura III.25), onde um pico duvidoso
(representado pela interrogação) sugere a possibilidade da existência de
143

interestratificação irregular envolvendo minerais expansivos do tipo 2:1. Nas lâminas


saturadas com magnésio e glicerol, não ficou evidenciada a existência de minerais do
grupo das Esmectitas. Estes resultados apresentam-se coerentes com os observados por
FERREIRA (1995) para um solo colapsível de outra localidade de Petrolândia.
o o
Na fração silte (Figura III.26), predomina o mineral Quartzo (3,34 A - 4,26 A ).
Para esta fração do solo, os difratogramas apresentam resultados diferentes da areia
amarelo avermelhada estudada por FERREIRA (1995) onde foram identificados como
principais componentes a Caulinita, interestratificação irregular de Montmorilonita-
Vermiculita e Mica.

A predominância de minerais de natureza pouco dispersiva nos solos estudados


nesta pesquisa sugere que a interação química deve ter um papel secundário no processo
do colapso, sendo este dominado pela perda de resistência dos vínculos devido à
redução da sucção.

III.3.8 Análise da micro-estrutura do solo

A análise da micro-estrutura do solo foi feita por meio de microscopia eletrônica


de varredura (MEV). O principal objetivo foi avaliar o modelo estrutural representativo
para o solo em estudo.

Dada a variação na granulometria com a profundidade, uma tentativa, foi feita


para obter seqüências de micrografias representativas das amostras envolvidas pelo
bulbo de tensões (até 2m) dos futuros ensaios de placa. Problemas associados à
metalização das amostras e ao próprio equipamento (vibração e perda de nitidez em
algumas micrografias) resultaram no comprometimento desse esforço. Todavia,
algumas micrografias mostraram-se adequadas para elucidar as características
estruturais do solo. A seguir será apresentada uma descrição resumida dos
procedimentos adotados e análise de alguns resultados, tidos como representativos.

III.3.8.1 Preparação das amostras e equipamento utilizado

Nesta pesquisa as análises foram realizadas em amostras indeformadas no estado


natural. Uma pequena porção retirada do bloco, a qual era desbastada, cuidadosamente,
com um estilete até obter cubos variando de 7 a 10mm. Dada a característica arenosa do
144

14 (M)
o (M)
3,36A o
12 10,1 A
(C) Caulinita
10
(M) Mica
8
(M)o
6 5,04A

4
o
K - 550 C
2

0
40 30 20 10 0
9 (C) o (
3,57A (C) o
8
7,16 A
7
6
(M)
o
5 3,36 A
4
(M) o
3
10,1 A
2 Mg-Glicerol
1
0
40 30 (C) o 20 (C) o10 0
9
5,57 A 7,16 A
8
7
6
5
4
(M) o (M) o
3 3,36 A 10,1 A
2 (M) o
o 5,04 A
1 K-25 C
0
40 35 30 25 20 15 10 5
2θ 0

Figura III.23. Difratogramas de Raio X da fração argila para amostra da profundidade


de 0,5 a 0,8m.
145

12 (M) o
(C) Caulinita 3,36 A
10
(M) Mica
8 (M) o
10,1 A
6
(M)
o
4 5,04 A
o
2 K - 550 C

0
40 30 20 10 0
9 (C) o (C) o
3,57 A 7,16 A
8
7
6
(M)
o
5 3,36 A
4
(M)o
3 10,1A

2 Mg - Glicerol
1
0
40 30 20 (C)10
o
0
9
(C) o 7,16 A
8 3,57 A
7
6
5
4
(C) o (M) o
3 2,13 A 3,36 A
(M) o
2 (M) o 10,1 A
1 o 5,04 A
K-25 C
0
40 35 30 25 20 15 10 5 0

Figura III.24. Difratogramas de Raio X da fração argila para amostra da profundidade


de 1,0 a 1,3m.
146

(M) o (M) o
9 3,36 A 10,1 A
8 (C) Caulinita
7
(M) Mica
6
? Possivel
5 interestratificação
incluindo minerais expansivos (M)o
4 2:1
do tipo 5,04A
?
3
o
2 K - 550 C
1
0
40 30 20 10 0
10 (C) o (C) o
3,57A 7,16 A
9
8
7
6 (M)
o
5 3,36 A
4 (M)
o
10,1 A
3
Mg-Glicerol
2
1
0
40 30 20 (C) 10
o 0
10
7,16 A
9 (C) o
8 3,57 A

7
6
5
4
3 (M) o (M) o
2 3,36 A 10,1 A
o
1 K-25 C
0
40 35 30 25 20 15 10 5 0

Figura III.25. Difratogramas de Raio X da fração argila para amostra da profundidade


de 1,5 a 1,8m.
147

(Q) o
10 (Q) o
3,34 A
4,26 A
9 (Q) Quartzo
8
7 Prof.: 0,5 a 0,8m
6
(Q) o
5
2,46 A
4 (Q) o
(Q) o 2,28 A
3 1,98 A
2
1
0
50 40 30 20 10 0
9 (Q) o
3,34 A
8 (Q) o
Prof.: 1,0 a 1,3m
7 4,26 A
(Q) o
6
2,46 A
5
4
3 (Q) o
2 1,98 A

1
0
50 40 30 (Q) 20 10 0
9 o
3,34 A (Q) o
8 4,26 A
Prof.: 1,5 a 1,8m
7
6
5
4 (Q) o
(Q) o
(Q) 2,16 A 2,46 A
3 o
1,98 A
2
1
0
50 40 30 20 10 2θ 0

Figura III.26. Difratogramas de Raio X da fração silte – saturadas com potássio e


aquecidas a 25oC.
148

solo, facilmente desagregável com o manuseio, nem sempre esta operação resultou em
amostras com as dimensões bem definidas. Embora o solo encontrava-se com o teor
umidade próximo à umidade higroscópica, os pequenos cubos eram conduzidos, em
uma cápsula, à estufa, e mantido por 24 h para completa secagem.

Em seguida, as amostras, preparadas conforme o parágrafo cima, eram


conduzidas em um ambiente fechado ao Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami
(LIKA) da UFPE, para serem metalizadas e observadas no MEV. Dada a característica
frágil das amostras, alguns cuidados especiais com o transporte, tal como confiná-las na
própria cápsula com lenço de papel, foram tomados para evitar a vibração e,
conseqüentemente, desagregação do solo.

Para obtenção da superfície de observação, as amostras eram fixadas em um


suporte metálico cilíndrico por meio de uma cola especial. Em seguida os suportes com
as amostras eram colocados em uma campânula de vácuo, para então serem
metalizadas. Após este processo procedia-se a varredura.

O equipamento utilizado para tal fim foi o microscópio da marca Jeol JSM - T
200 (scanning microscope). Uma vez que o mesmo permite o acoplamento de uma
câmera fotográfica, os resultados das observações das superfícies das amostras são
registrados através de fotografias.

III.3.8.2 Apresentação e análise dos resultados

Na Figura III.27 estão apresentados os resultados representativos das amostras 1


(0,5 a 0,8m), 2 (1,0 a 1,3m) e 3 (1,5 a 1,8m). Na análise das micrografias contou-se com
a ajuda do Professor Sílvio Romero do DEC/UFPE. Os resultados referentes à amostra
4 (2,0 a 2,3m), não apresentaram detalhes elucidativos que permitissem alguma
conclusão.

A estrutura do solo é caracterizada por grãos de quartzo revestidos, total ou


parcialmente, por partículas de argila e silte e, quase sempre, não se estendendo ou
formando pontes. Das micrografias analisadas, apenas a da Figura III.27f (amostra 3)
apresenta ponte de argila e silte interligando os grãos de quartzo, como também maior
revestimento dos grãos do que as amostras 1 e 2 (Figuras III.27a a III.27b). A
porosidade é do tipo de empacotamento simples, observando poucos canais, similar à
149

observada por FERREIRA (1995) para outro local de Petrolândia. Os revestimentos dos
grãos são típicos do processo de iluviação, notadamente nas amostras 1 (0,5 a 0,8m) e 2
(1,0 a 1,3m).

(a) (b)

Amostra 1 (prof. 0,5 a 0,8m): (a) e (b) grãos de quartzo na dimensão de areia fina e silte (parcialmente
revestidos por películas de fração menores) conectados com grãos de quartzo na dimensão de areia média,
deixando entre si poros.

(c) (d)

Amostra 2 (prof. 1,0 a 1,3m): (c) grãos de quartzo na dimensão de areia fina circundados por grãos de
quartzo na dimensão de areia média e fina, formando um pacote; (d) semelhante às micrografias (a) e (b).

(e) (f)

Amostra 3 (prof. 1,5 a 1,8m): (e) similar a micrografia (f); presença de pontes de argila e silte interligando
os grãos de quartzo, apresentando maior revestimento que as Amostras 1 e 2.

Figura III.27. Resultados de microscopia eletrônica de varredura (MEV).


150

A predominância do silte como material de ligação sugere que grandes variações


na sucção devem ocorrer em um curto espaço de tempo com o processo de
umedecimento, resultando em brusca perda de resistência dos agentes de ligação. Com
isso, é de se esperar que todo o processo do colapso ocorra de forma muito rápida com o
umedecimento.

III.3.9 Curva característica

Na atual pesquisa, as curvas características dos solos analisados foram obtidas


pelo método do papel filtro. Inicialmente objetivou-se a obtenção tanto da curva de
secagem quanto da curva de umedecimento. Uma vez que a condição representativa no
processo do colapso é o umedecimento, priorizou-se nos ensaios a obtenção desta
última. Além disso, pelos valores de sucção (10 a 20MPa) apresentados no perfil da
Figura III.18, é previsível que as amostras estejam com a umidade abaixo da residual.

Os ensaios foram realizados em amostras correspondentes as profundidades 0,5-


0,8m, 1,0-1,3m, 1,5-1,8m e 2,0-2,3m. Os corpos-de-prova foram obtidos pela cravação
estática de anéis confeccionados em aço inoxidável e com dimensões bem definidas. Na
determinação da sucção matricial, seguiu-se o mesmo procedimento (Apêndice A)
adotado nos ensaios para obter o perfil da Figura III.18. Os primeiros pontos da curva
característica foram obtidos para a amostra no estado natural (estado seco). Os demais
foram obtidos por sucessivos processos de umedecimento.

O umedecimento da amostra foi realizado através de um pulverizador manual e a


umidade era controlada pelo peso do CP, ou seja, uma vez conhecidas as condições
iniciais do CP (umidade e peso seco), calculava-se o peso necessário para o mesmo
alcançar uma determinada umidade. Uma vez que haviam dois CP por amostra, dois
pontos da curva eram obtidos em cada pesagem. Inicialmente tentou-se umedecer a
amostra por vapor de água quente, conforme JUSTINO da SILVA (2002), porém este
procedimento mostrou-se demasiadamente demorado, optando-se assim pelo
pulverizador.

No processo de umedecimento procurou-se estender às umidades máximas


superiores a determinada no campo, porém sem alcançar a saturação, pois havia risco de
desestruturação do CP, especialmente naqueles com menos teores de argila. Após
alcançar a umidade máxima permitida era iniciado o processo de secagem, visando
151

assim avaliar alguma histerese. O mesmo procedimento de controle de umidade durante


a fase de umedecimento foi adotado durante a secagem.

Na Figura III.28 estão apresentadas as curvas características (secagem e


umedecimento) referentes às amostras limitadas pela profundidade máxima de 2,3m,
com a umidade gravimétrica (relação entre o peso da água e o peso seco do solo) no
eixo das ordenadas. A forma das curvas é típica de solo arenoso (Figura II.39 no
Capítulo II). Há um trecho inicial onde se observa grande variação na umidade com
pequena variação da sucção, seguido por outro trecho onde pequenas variações de
umidade ocorrem com o aumento da sucção. A interseção destes dois trechos
caracteriza a umidade residual. Observa-se também aumento da inclinação do segundo
trecho com a profundidade, sugerindo aumento da umidade residual com o teor de
argila, uma vez que esta fração do solo tende a aumentar com a profundidade (Tabela
III.4).

Os dados referentes à secagem não evidenciam, com clareza, o comportamento


de histerese, podendo as diferenças observadas entre os valores referentes ao
umedecimento e secagem à própria variabilidade estrutural do solo. Caso a histerese
fosse evidenciada, os dados experimentais referentes à secagem posicionariam acima da
curva de umedecimento, representada na Figura III.28 pela linha cheia, obtida por
interpolação gráfica aos pontos correspondentes.

O ponto correspondente à sucção no valor de entrada de ar não ficou


caracterizado das curvas características obtidas. Aliás, esta não é a forma mais correta
de se determinar este ponto crítico. FREDLUND e XING (1994) representam a
umidade volumétrica (θ) na ordenada como uma opção para determinar a sucção
correspondente ao valor de entrada de ar e a umidade residual. Várias expressões da
curva característica existentes na literatura se baseiam nesta representação. MARINHO
e PEREIRA (1998) propõem o uso do grau de saturação na ordenada para a mesma
finalidade.

Na Figura III.29 e na Figura III.30, os dados da Figura III.28 estão representados


com a umidade volumétrica (θw) e grau de saturação (S) no eixo das ordenadas,
respectivamente. Como se pode perceber, em nenhuma amostra os dados experimentais
indicam algum ponto de inflexão que evidencie o valor de entrada de ar. As umidades
volumétricas foram determinadas segundo a expressão:
152

16 16
Umedecimento Umedecimento
14 14 Secagem
Teor de Umidade (%)

12 12

10 10

8 8

6 6

4 4

2 2
Prof.(m): 0,5 a 0,8 Prof.(m): 1,0 a 1,3
0 0
1 10 100 1000 10000 100000 1 10 100 1000 10000 100000

Sucção (kPa) Sucção (kPa)

(a) (b)

16 16
Umedecimento Umedecimento
14 Secagem 14 Secagem

12 12
Teor de Umidade (%)

10 10

8 8

6 6

4 4

2 2
Prof.(m): 1,5 a 1,8 Prof.(m): 2,0 a 2,3
0 0
1 10 100 1000 10000 100000 1 10 100 1000 10000 100000

Sucção (kPa) Sucção (kPa)

(c) (d)

Figura III.28. Curvas características: a) Blocos 1 e 2 (Prof.: 0,3-0,8m); b)Blocos 5 e 6


(Prof.: 1,0-1,3m); c)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,5-1,8m); e d)Blocos 5 e 7 (Prof. 2,0-2,3m).
153

45 45
Umedecimento Umedecimento
40 40 Secagem
Van Genutchen (1980)
Van Genutchen (1980)
35 Parâmetros 35
Parâmetros
θs = 40,2%
Umidade Volumétrica,

30 30 θs = 38,2%
θr = 39%
θr = 45%
25 αv g = 0,0137 25
αv g = 36,1
nv g = 0,8288
20 20 nv g = 3,005
mv g = 8,3374
mv g = 0,334
15 R2 = 0,95 15
R2 = 0,9
10 10

5 5
Prof.(m): 0,5 - 0,8 Prof.(m): 1 - 1,3
0 0
0.01 1 100 10000 1000000 0.01 1 100 10000 1000000
Sucção (kPa) Sucção (kPa)

(a) (b)

45 45
Umedecimento Umedecimento
40 Secagem 40 Secagem
Van Genutchen (1980) Van Genutchen (1980)
35 35
Parâmetros Parâmetros
Umidade Volumétrica,

30 30 θs = 34,5%
θs = 38%
25 θr = 43% 25 θr = 6%
αv g = 0,5621 αv g = 0,9441
20 nv g = 4,7426 20 nv g = 2,4489
mv g = 0,15 mv g = 0,1883
15 15
2
R = 0,97 R2 = 0,94
10 10

5 5
Prof.(m): 1,5 - 1,8 Prof.(m): 2,0 - 2,3
0 0
0.01 1 100 10000 1000000 0.01 1 100 10000 1000000
Sucção (kPa) Sucção (kPa)

(c) (d)

Figura III.29. Curvas características: (ua-uw) vs θw, ajustadas segundo a equação de


VAN GENUTCHEN (1980): a) Blocos 1 e 2 (Prof.: 0,3-0,8m); b)Blocos 5 e 6 (Prof.:
1,0-1,3m); c)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,5-1,8m); e d)Blocos 5 e 7 (Prof. 2,0-2,3m).
154

120 120
Umedecimento Umedecimento
110 110 Secagem
Van Genutchen (1980)
Van Genutchen (1980)
100 100
90 Prof.(m): 0,5 - 0,8 90 Prof.(m): 1 - 1,3
80 80
Grau de Saturação

70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0.01 1 100 10000 1000000 0.01 1 100 10000 1000000
Sucção (kPa) Sucção (kPa)

(a) (b)

120 120
Umedecimento Umedecimento
110 Secagem 110 Secagem
100 Van Genutchen (1980) 100 Van Genutchen (1980)

90 90
Prof.(m): 1,5 - 1,8 Prof.(m): 2 - 2,3
80 80
Grau de Saturação

70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0.01 1 100 10000 1000000 0.01 1 100 10000 1000000
Sucção (kPa) Sucção (kPa)

(c) (d)

Figura III.30. Curvas características: (ua-uw) vs S, ajustadas segundo a equação de VAN


GENUTCHEN (1980): a) Blocos 1 e 2 (Prof.: 0,3-0,8m); b)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,0-
1,3m); c)Blocos 5 e 6 (Prof.: 1,5-1,8m); e d)Blocos 5 e 7 (Prof. 2,0-2,3m).
155

S.e
èw = III.3
1+ e

Onde: θw = umidade volumétrica;


S = grau de saturação;
e = índice de vazios.

Uma vez que não se observou indício de variações volumétricas significativas,


durante o processo de umedecimento e secagem (ex: separação entre o solo e o anel) e
nenhuma natureza expansiva (minerais expansivos) foi detectada no solo, as umidades
volumétricas foram calculadas considerando constante o índice de vazios do corpo de
prova (CP). Na Tabela III.8 estão apresentadas as condições iniciais de cada CP e as
umidades gravimétricas e volumétricas correspondentes à saturação total, ws e θs,
respectivamente.

Foram feitas tentativas visando a obtenção experimental da sucção


correspondente ao valor de entrada de ar. Na primeira tentativa, corpos de prova
adicionais foram moldados e pré-saturados por capilaridade. Todavia as sucções obtidas
pelo método do papel filtro não foram inferiores às mínimas obtidas pelo processo
anterior, provavelmente por problemas associados à pesagem ou perturbação do solo
durante a colocação do papel. Outra tentativa foi feita através do ensaio de membrana
de pressão. Porém, problemas associados a vazamentos e colmatação das pedras porosas
podem ter sido as causas do comprometimento dos resultados.

Considerando os dados experimentais (umedecimento e secagem) e a umidade


volumétrica na condição de saturação (Tabela III.8), os dados foram ajustados segundo
a proposta de VAN GENUTCHEN (1980) (Equação II.88) reescrita na Equação III.4.

ès − èr
èw = èr +
[1 + (á .h ) ]
n vg m vg
III.4
vg

O ajuste foi realizado utilizando-se o método dos mínimos quadrados através de


processos interativos. Para tanto foi utilizado o programa SWRC 3.0, disponibilizado,
gratuitamente, pela ESALQ (Escola de Agricultura L. Q. / USP). Os parâmetros da
Equação III.4 e o coeficiente de determinação R2, referentes a curva que apresenta o
156

melhor ajuste (representada pela linha cheia), encontram-se representados na Figura


III.25, onde observa-se boa concordância do ajuste com os dados experimentais.

Das curvas ajustadas (Figuras III.29 e III.30) pode-se perceber que a sucção
correspondente ao valor de entrada de ar (primeiro ponto de inflexão) foi da ordem de
1kPa, para algumas amostras, e não excedendo este valor para outras. Os perfis de
umidades obtidos na estação úmida (Figuras III.9 a III.12) e os dados experimentais da
Figura III.28 a III.30 sugerem que sucções da ordem do valor de entrada de ar é pouco
provável de ocorrer no campo, sob condições normais.

Tabela III.8. Índices físicos dos CP utilizados na determinação da curva característica.

γs Umidade de Saturação
Prof. (m) CP No wo (%) eo So (%)
(kN/m3) ws (%) θs (%)
01 0,53 15,9 0,67 2,09 25,4 0,40
0,5 – 0,8
02 0,61 15,9 0,68 2,38 25,3 40
03 1,32 16,3 0,62 5,65 23,3 38
1,0 – 1,3
04 1,13 16,3 0,62 4,82 23,5 38
05 2,55 16,1 0,64 10,52 24,2 39
1,5 – 1,8
06 2,55 16,6 0,59 11,48 22,2 37
07 2,23 17,1 0,54 10,8 20,6 35
2,0 – 2,3
08 2,23 17,3 0,53 11,2 19,9 34
157

CAPÍTULO IV

COMPRESSIBILIDADE DO SOLO COLAPSÍVEL

IV.1 INTRODUÇÃO

Inicialmente apresenta-se uma síntese das principais características do solo e da


metodologia adotada nos ensaios edométricos. Em seguida são apresentados e
discutidos os resultados obtidos, a partir dos quais serão avaliados critérios de
classificação da colapsibilidade do solo, influência do estado de tensões e interpretação
dos resultados à luz dos modelos elastoplásticos.

Foram realizados ensaios convencionais e com sucção controlada. Os primeiros


objetivando avaliar a influência do estado de tensão, a classificação da colapsibilidade e
avaliar propostas de previsão de recalques de colapso com base nestes resultados. O
segundo com o objetivo de fornecer parâmetros do solo a serem utilizados nos modelos
constitutivos apresentados no Capítulo II.

Todos os ensaios foram realizados no laboratório de solos da UFPE. Nos ensaios


convencionais foram utilizadas prensas edométricas do tipo Bishop, com sistema de
carregamento através de pesos em pendural e célula de anel fixo. Nos ensaios com
sucção controlada foram utilizados os equipamentos construídos por FERREIRA
(1995), baseado na proposta de ESCÁRIO (1967 e 1969). As deformações foram
acompanhadas por meio de deflectômetros mecânicos com sensibilidade de 0,05mm.

A Tabela IV.1, transcrita do Apêndice C, apresenta um resumo qualitativo e


quantitativo dos ensaios realizados. Detalhes dos procedimentos adotados encontram-se
resumido no referido apêndice.

IV.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SOLO

A caracterização geotécnica do solo foi apresentada, em detalhes, no Capítulo


III, cabendo aqui apenas algumas informações de utilidade na interpretação dos
resultados.
158

Tabela IV.1. Resumo da quantidade de ensaios edométricos realizados.

PROF.
CAMADA AMOSTRA ENSAIO / TIPO
(m) EDN EDI EDN* EDNC EDIC EDS EDSC CLRS EDSV

BL 01 e 02 0,5 a 0,8 03 02 02 03 07 ----- ---- -----


I
BL 03 e 04 1,0 a 1,3 06 02 02 02 07 02 04 01

BL 05 e 06 1,5 a 1,8 04 02 02 02 07 02 04 01
II
BL 07 e 08 2,0 a 2,3 04 2 ----- 02 07 02 04 -----

Impen.
BL 09 2,5 a 2,8 03 2 ----- 02 07 ----- ----- -----z
SPT

EDN = ensaio edométrico na umidade natural.


EDI = ensaio edométrico inundado.
EDN* = ensaio edométrico com teor de umidade superior ao da estação seca.
EDNC = ensaio edométrico na umidade natural em amostra compactada.
EDIC = ensaio edométrico inundado em amostra compactada.
EDS = ensaio edométrico simples
EDSC = ensaio edométrico com sucção constante.
CLRS = ensaio de colapso com redução gradativa da sucção.
EDSV = ensaio edométrico com sucção variável.

As amostras foram coletadas na estação seca, com teores de umidade variando


entre 1 e 6 % e sucção entre 10 e 20 MPa (ver Figura III.18). O solo na área de estudo
apresenta uma espessura em torno de 3m.

O solo é uma areia fina siltosa (SM), com percentual de areia entre 69 e 78%,
que apresenta pouca plasticidade (3 < IP < 6) a partir de 1,5m de profundidade. A
estrutura é do tipo empacotamento simples, caracterizada por grãos de quartzo
conectados por agregações de silte e argila. A fração argila é composta, essencialmente
de Caulinita e Mica.

IV.3 METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS CONVENCIONAIS

Uma vez que se pretende avaliar algumas propostas da literatura de previsão de


recalques de colapso, os ensaios convencionais foram realizados em, praticamente,
159

todas amostras. A exceção ocorreu numa série de ensaios duplos realizados em amostras
compactadas, os quais foram restringidos às três profundidades superiores de coleta.

IV.3.1 Ensaios inundados (EDI) e ensaios na umidade natural (EDN e EDN*)

Estes ensaios foram realizados em amostras naturais com o objetivo principal de


compor o par de curvas dos ensaios edométricos duplos.

O ensaio edométrico na umidade natural (EDN) é comumente citado como WC


(umidade constante) por alguns autores (ex. FUTAI, 1997). Isto é uma simplificação,
pois alguma perda de umidade sempre ocorrerá. Para minimizar a perda de umidade
neste tipo de ensaio, o topo da célula era envolvido por uma capa plástica fixada por
ligas de borracha. Este procedimento foi adotado inicialmente por JENNINGS e
KNIGTH (1957) e tem sido utilizado até os dias de hoje por outros autores (ex:
FERREIRA, 1995; FUTAI, 1997; SOUZA NETO, 1998 e outros), sendo considerado
também nos ensaios EDS (edométricos simples) e EDNC (edométricos em amostras
compactadas).

Numa série de ensaios na umidade natural os corpos de prova tiveram seus


teores de umidade aumentados por meio de vapor d’água, segundo o procedimento de
JUSTINO da SILVA (2002). Estes ensaios serão identificados pela sigla (EDN*). O
objetivo destes ensaios foi avaliar a compressibilidade do solo sob diferentes teores de
umidade, simulando a situação de uma obra cuja construção foi iniciada em um período
intermediário entre a estação úmida e seca.

No caso de uma obra iniciada no final da estação chuvosa é previsível que a


compressão do solo tenda a reduzir no decorrer da construção. Em tal situação, apenas
parte da deformação de colapso ocorrerá durante a construção, onde o restante poderá
ser deflagrado durante o período chuvoso ou por conseqüência de outro processo de
umedecimento. Este ensaio foi motivado devido ao relato de um engenheiro da
prefeitura sobre obras construídas na estação seca onde adotaram o pré-umedecimento
do solo como solução, as quais vieram a apresentar fissuras durante a estação chuvosa.

Nos ensaios EDI a inundação foi feita da base para o topo da célula, numa vazão
de inundação de 0,25 ml/s, a mesma adotada por FERREIRA (1995) como padrão. Nos
160

primeiros ensaios, realizados nas amostras correspondentes à camada I (Tabela IV.1), a


inundação foi feita sob uma tensão inicial de 5 kPa. Logo observou-se colapso sob este
valor, razão pela qual passou-se a adotar 1,25 kPa como tensão mínima de inundação.

IV.3.2 Ensaios edométricos simples (EDS)

Os ensaios EDS (edométricos simples) foram realizados objetivando a obtenção


das deformações de colapso (εc) sob diferentes tensões de inundação (σvi), fornecendo
curvas σvi versus εc a serem utilizadas na estimativa dos recalques dos ensaios de prova
de carga em placa (Capítulo VI).

O procedimento básico consistiu em carregar o solo, por estágio, até uma


determinada tensão vertical (σvi), onde era efetuada a inundação do solo conforme
descrito no item anterior. As deformações decorrentes da inundação eram
acompanhadas até a sua estabilização. Após 24 horas do início da inundação sob a
tensão σvi, as células eram desmontadas e obtidos os índices físicos finais dos corpos de
prova. Alguns ensaios foram realizados conforme a metodologia de HOUSTON et al.
(1988) descrita no Capítulo II (II.8.3), dando prosseguimento ao carregamento após a
estabilização dos recalques de colapso.

IV.3.3 Ensaios em amostras compactadas (EDIC e EDNC)

Os ensaios EDIC (edométrico inundado em amostra compactada) e EDNC


(edométrico no estado natural em amostras compactadas) foram realizados para compor
pares de curvas de ensaios duplos no solo compactado. O objetivo principal destes
ensaios foi avaliar o efeito da compactação na redução da colapsibilidade do solo,
simulando a situação de uma obra onde se tenha adotado a técnica de remoção e
compactação do solo. Embora esta técnica tenha sido adotada em construções locais, há
relato que algumas delas apresentaram danos na estação chuvosa.

Por tratar-se de uma região semi-árida, com índices de evaporação que chega a
serem superiores a quatro vezes aos índices pluviométricos e levando em consideração
que as obras são construídas, geralmente, na estação seca, um conjunto de ensaios
161

EDNC foi realizado em amostra compactada previamente seca ao ar. Estes ensaios
tiveram o objetivo de simular a situação de uma obra onde o solo é compactado na
ótima e exposto às condições atmosféricas durante um período de tempo (um fim de
semana, por exemplo) resultando na secagem do mesmo antes da construção da
fundação. A curva assim obtida será comparada com o resultado do ensaio EDIC,
avaliando se a simples secagem pode induzir algum colapso sob futura inundação.

IV.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS


CONVENCIONAIS

Conforme demonstrado no Apêndice C, a deformação do sistema pode exercer


forte influência nos resultados dos ensaios, especialmente, no que diz respeito aos
parâmetros de deformabilidade do solo (Cc, Cs, Eed) e na tensão de escoamento (σvm).
Portanto, nesta pesquisa procedeu-se a correção da deformação do sistema nos
resultados dos ensaios. Os detalhes dos procedimentos de calibração e correção das
deformações do sistema encontram-se no referido apêndice.

IV.4.1 Ensaios edométricos convencionais realizados em amostras indeformadas


(EDN, EDI e EDN*)

Apresentam-se os resultados dos ensaios edométricos convencionais realizados


em amostras indeformadas. Compreendem a este grupo: os ensaios na umidade natural
de campo na estação seca (EDN); os ensaios na umidade natural, cujos corpos-de-prova
foram, previamente, pré-umedecidos por vapor de água até uma determinada umidade
(EDN*); e os ensaios inundados (EDI).

Na Tabela IV.2 estão apresentadas as condições iniciais e finais dos corpos-de-


prova referentes a estes ensaios. Na Figura IV.1 apresentam-se os valores mínimos,
médios e máximos dos índices de vazios de cada amostra. Na Figura IV.2 são
comparados os teores de umidade e os graus de saturação iniciais referentes aos ensaios
na umidade natural (EDN e EDN*), com os obtidos no final do ensaio.
162

Tabela IV.2. Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios EDN e EDI.

CONDIÇÕES DOS CORPOS DE PROVA

INICIAL FINAL
Camada Amostra CP Ensaio
Gs wo γso So wf γsf Sf
Prof. (m) No Tipo eo ef
(%) kN/m3 (%) (%) kN/m3 (%)

01 EDI 1,10 16,3 0,63 4,63 17,4 16,5 0,52 88,1


02 EDI 1,12 16,4 0,62 4,82 16,8 16,6 0,50 88,9
1e2 03 EDN 0,89 16,0 0,66 3,58 0,58 16,1 0,61 2,6
2,66
(0,5-0,8) 04 EDN 1,22 16,4 0,62 5,22 ---- ---- ----- -----
05 EDN* 3,60 16,0 0,67 14,6 2,31 16,6 0,55 11,3
06 EDN* 6,38 15,7 0,70 24,4 5,83 16,7 0,56 27,8
I
07 EDI 1,99 16,6 0,60 8,84 14,1 16,9 0,43 85,6
08 EDI 1,44 16,2 0,63 6,09 14,7 17,9 0,48 81,1
3e4 09 EDN 1,78 16,2 0,63 7,44 1,27 16,5 0,56 5,78
2,64
(1,0-1,3) 10 EDN 1,49 15,7 0,69 5,74 ----- ----- ----- -----
11 EDN* 3,58 15,8 0,67 14,1 2,66 16,4 0,50 14,0
12 EDN* 6,50 15,7 0,68 25,2 4,7 16,7 0,52 24,0
13 EDI 2,15 16,1 0,64 8,88 13,9 16,4 0,44 78,2
14 EDI 2,06 16,2 0,63 8,61 13,9 16,5 0,44 83,3
5e6 15 EDN 2,08 15,9 0,67 8,25 1,98 16,2 0,57 8,8
2,64
(1,5-18) 16 EDN 2,24 16,4 0,61 9,63 ----- ----- ----- -----
17 EDN* 3,70 15,9 0,66 19,2 2,83 16,5 0,51 14,7
18 EDN* 5,94 16,2 0,63 34,1 4,7 17,2 0,46 26,8
II
19 EDI 1,85 16,6 0,59 8,28 13,49 16,9 0,43 83,6
20 EDI 2,61 16,7 0,58 11,8 12,84 17,1 0,40 84,4
7e8 21 EDN 2,16 17,0 0,55 10,3 2,13 17,4 0,49 11,5
2,64
(2,0-2,3) 22 EDN 1,99 16,6 0,59 8,89 ----- ----- ----- -----
23 EDN* 3,78 16,3 0,62 16,0 3,23 16,9 0,52 16,3
24 EDN* 6,04 16,1 0,64 25,0 4,73 4,8 1,71 26,3
25 EDI 3,71 18,6 0,42 23,6 10,20 19,3 0,31 87,8
26 EDI 2,80 18,6 0,42 17,7 11,60 19,2 0,28 100
9
SPT>50 2,64 27 EDN 3,04 17,8 0,48 16,6 ----- ----- ----- -----
(2,5-2,8)
28 EDN* 3,96 18,1 0,46 22,7 4,31 18,8 0,41 27,5
29 EDN* 6,00 18,0 0,46 34,2 5,67 18,8 0,41 36,9
163

0.8
Média Máximo Mínimo
0.7

Índice de Vazios Inicial


0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0
0.5-0.8 1.0-1.3 1.5-1.8 2.0-2.3 2.5-2.8

Faixa de Profundidade da Amostra (m)

Figura VI.1 Valores médios, máximos e mínimos dos índices de vazios iniciais de cada
amostra.

8 40
Grau de Saturação Final (%)

7 35 1
1
Umidade Final (%)

6 30 1
1
5 25

4 20

3 15

2 10

1 5
(a) (b)
0 0
0 2 4 6 8 0 10 20 30 40

Umidade Inicial (%) Grau de Saturação Inicial (%)

Figura IV.2. Comparação entre os valores dos teores de umidade e graus de saturação
iniciais e finais dos corpos de provas dos ensaios na umidade natural (EDN e EDN*).

Em média (Figura IV.1), os índices de vazios foram da mesma ordem de valor


(0,65) nas amostras inferiores 1,8 m, envolvendo toda Camada I e a amostra entre 1,5 e
1,8 m da Camada II. Para profundidades superiores o valor médio foi de 0,60 e 0,45
paras as amostras entre 2,0 e 2,3m (Camada II) e entre 2,5 e 2,8 m (camada com
164

SPT>50), respectivamente. A divergência entre os valores máximos e mínimos variou


entre 3 e 8 %, em relação à média. Embora sendo pequena em termos percentuais, tal
fato dificulta a comparação da compressibilidade do solo nos diferentes ensaios,
conforme será discutido adiante.

Ao comparar as condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios na


umidade natural EDN e EDN* (Figura VI.2) observa-se sempre, no final do ensaio,
redução no teor de umidade entre 1,0 % (2,16 para 2,13%) e 36 % (3,6 para 2,13 %) do
valor inicial, numa média de 18 %. No caso do grau de saturação não ficou clara alguma
tendência de aumento ou redução, variando em função da redução do índice de vazios
do corpo de prova. Em geral os valores iniciais e finais foram próximos.

Nos ensaios inundados (EDI) o grau de saturação final (Sf) (Tabela IV.2), em
quase a totalidade dos corpos de prova, foi inferior a 90 %, numa média de 86 %. A
única exceção ocorreu no ensaio referente ao corpo de prova CP26, correspondente à
amostra entre 2,5 e 2,8 m (camada impenetrável, com SPT > 50 golpes), cujo grau de
saturação foi de 100 %.

Nas mesmas condições dos ensaios inundados desta pesquisa, FERREIRA


(1995) encontrou valores Sf de 100 % para a areia colapsível de Petrolândia estudada
por esse autor. Para o mesmo solo na condição compactada e variando o teor de finos
GUIMARÃES NETO (1997) encontrou graus de saturação médios finais entre 92,43 ±
5,88 % a 100 %. Para uma areia siltosa micácea de origem residual SOUZA NETO
(1998) obteve valores entre 83 e 97 %. Para o mesmo solo colapsível estudado por
FERREIRA (1995), FUCALE (2000) apresenta valores de Sf da ordem de 90 % e para
solos colapsíveis de outros municípios (Petrolina e Santa Maria da Boa Vista) variando
de 86 a 100 %, embora, em geral, sendo solos mais argilosos que os de Petrolândia.

A divergência nos resultados pode ser conseqüência da drenagem das células


antes de desmontar os ensaios. Mesmo que durante o ensaio a submersão do corpo de
prova conduza um elevado grau de saturação, o que é provável, a simples drenagem das
células associada à baixa capacidade de retenção da areia, pode resultar em graus de
saturação inferiores a 100 %. É possível que o teor de umidade determinado no final do
ensaio seja algo em torno da capacidade de campo do solo.

Na atual pesquisa, os ensaios só eram desmontados após a completa drenagem


da água pela base da célula, ainda sob o carregamento. Somente a partir deste
165

procedimento as células eram desmontadas, efetuadas a pesagem dos corpos de prova e


determinados os teores de umidade finais. Considerando-se as condições finais do CP26
(Tabela IV.2) o grau de saturação calculado será de 109%, o que pode ser uma
conseqüência de algum excesso d’água durante a pesagem deste CP ou erros inerentes
da própria determinação de Gs, e ou w, necessários no cálculo do grau de saturação, que
se somam influenciando no valor de Sf. Para HOUSTON et al. (1988), na realização de
ensaios de colapso em corpos-de-prova completamente inundados, estes provavelmente
não atingirão os 100 % de grau de saturação, podendo ser bem inferior a este valor.

IV.4.1.1 Curvas de compressão dos ensaios inundados (EDI) e na umidade natural


(EDN) referente à estação seca da região

Nas Figuras IV.3 e IV.4 estão apresentadas as curvas relacionando a variação do


índice de vazios com a tensão vertical (e versus σv log) referentes aos ensaios inundados
(EDI) e na umidade natural correspondente a estação seca da região (EDN). Como se
pode observar nestas Figuras, é nítida a heterogeneidade do solo, refletida nas condições
iniciais (Tabela IV.2) dos corpos-de-prova, especialmente nas diferenças dos índices de
vazios iniciais. Estas diferenças mostram-se mais significativas nos corpos-de-prova dos
ensaios na umidade natural (Figura IV.4). Nas Figuras IV.5 e IV.6 apresentam-se as
curvas de variação da deformação volumétrica com a tensão vertical (εv versus σv log)
referentes a estes ensaios.

Conforme relatado no Apêndice C, nos ensaios com inundação prévia (EDI) a


inundação foi feita sob pequenas sobrecargas (1,25 e 5 kPa). Apesar desses baixos
valores observou-se, na maioria dos ensaios, uma pequena deformação de colapso (em
geral menor que 0,5 %), mesmo quando a inundação ocorrera sob a tensão de 1,25 kPa.
Este fato fica bem evidenciado nas amostras da Camada I (Figuras IV.3 e IV.5a e b),
especialmente na amostra entre 1,0 e 1,3 m (Figuras IV.3b e IV.5b), a qual apresentou
deformações de colapso da ordem de 0,7 %. Exceto nos ensaios referentes aos corpos-
de-prova CP13 (Figura IV.5c) da Camada II e o CP25 (Figura IV.5e) referente a
amostra obtida na camada com SPT > 50 (considerada impenetrável ao SPT), observou-
se uma pequena expansão de 0,08 % e 0,45 %, respectivamente, podendo esta expansão
estar associada a nódulos com maior concentração de argila nestes corpos-de-prova.
166

0.65 1
CP01-EDI CP07-EDI
0.63 1
CP02-EDI CP08-EDI
0.61 1
Camada I Camada I
Prof.(m): Prof.(m):
Índice de Vazios

0.59 1
0,5 a 0,8 1,0 a 1,3
0.57 1

0.55 1

0.53 1

0.51 1

0.49 0

0.47 (a) 0 (b)


0.45 0
0.65 1 10 100 1000 1 1
10000 10 100 1000 10000
CP13-EDI CP19-EDI
CP14-EDI CP20-EDI
0.60 1
Camada II Camada II
Prof.(m): Prof.(m):
Índice de Vazios

0.55 1
1,5 a 1.8 2,0 a 2,3

0.50 1

0.45 0

0.40 0

(c) (d)
0.35 0
0.43 1 10 100 1000 100001 10 100 1000 10000
CP25-EDI
0.41 CP26-EDI Tensão Vertical (kPa)

0.39 SPT > 50


Prof.(m):
Índice de Vazios

0.37 2,5 a 2,8

0.35

0.33

0.31

0.29

0.27
(e)
0.25
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.3. Curvas e versus σv log – ensaios inundados (EDI).


167

0.69 1
CP03-EDN (wi=0,89%) Camada I
0.67 CP04-EDN (wi=1,22%) 1 Prof.(m):
1,0 a 1,3
Camada I
0.65 Prof.(m): 1
Índice de Vazios

0,5 a 0,8
0.63 1

0.61 1

0.59 1

0.57 1 CP09-EDN (wi=1,78%)


(a) CP10-EDN (wi=1,49%) (b)
0.55 1
0.67 1 10 100 1000 1 1
10000 10 100 1000 10000
CP21-EDN (wi=2,16%)
0.65 1
CP22-EDN (wi=1,99%)
0.63 1

0.61 1 Camada II
Índice de Vazios

Prof.(m):
0.59 1 2,0 a 2,3

0.57 1

0.55 1

0.53 Camada II 1
Prof.(m): 1,5 a 1.8
0.51 1
CP15-EDN (wi=2,08%)
0.49 0
CP16-EDN (wi=2,22%) (c) (d)
0.47 0
0.49 1 10 100 1000 10000
1 10 100 1000 10000
SPT > 50 Tensão Vertical (kPa)
Prof.(m):
0.48
2,5 a 2,8
Índice de Vazios

0.47

0.46

0.45

0.44

CP27-EDN (wi=3,04%) (e)


0.43
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.4.Curvas e versus σv log – ensaios na umidade natural da estação seca (EDN).
168

0 0
CP01-EDI CP07-EDI
1 1
Deformação Volumétrica (%) CP02-EDI CP08-EDI
2 2
Camada I Camada I
3 Prof.(m): 3 Prof.(m):
0,5 a 0,8 1,0 a 1,3
4 4

5 5

6 6

7 7

8 8

9 9
10
(a)10 (b)
11 11
-1 1 10 100 1000 -1 1
10000 10 100 1000 10000
0 CP13-EDI 0 CP19-EDI
1 CP14-EDI 1 CP20-EDI
Deformação Volumétrica (%)

2 2
Camada II Camada II
3 3
Prof.(m): Prof.(m):
4 1,5 a 1.8 4 2,0 a 2,3
5 5
6 6
7 7
8 8
9 9
10 10
11 11
12 12
13 (c) 13 (d)
14 14
-1 1 10 100 1000 100001 10 100 1000 10000
CP25-EDI
0
CP26-EDI Tensão Vertical (kPa)
1
Deformação Volumétrica (%)

2 SPT > 50
Prof.(m):
3
2,5 a 2,8
4
5
6
7
8
9
10
11
12 (e)
13
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.5. Curvas εv versus σv log – ensaios inundados (EDI).


169

0 0
Camada I Camada I
Deformação Volumétrica (%) Prof.(m): Prof.(m):
1 0,5 a 0,8 1 1,0 a 1,3

2 2

3 3

4 4
CP03-EDN (wi=0,89%) CP09-EDN (wi=1,78%)
(a) CP10-EDN (wi=1,49%)
(b)
CP04-EDN (wi=1,22%)
5 5
0 1 10 100 1000 0 1
10000 10 100 1000 10000
Camada II Camada II
Prof.(m): Prof.(m):
1 1
Deformação Volumétrica (%)

1,5 a 1.8 2,0 a 2,3

2 2

3 3

4 4

5 5
CP15-EDN (wi=2,08%) CP21-EDN (wi=2,16%)
CP16-EDN (wi=2,22%) (c) CP22-EDN (wi=1,99%) (d)
6 6
0 1 10 100 1000 1
10000 10 100 1000 10000
SPT > 50
Prof.(m): Tensão Vertical (kPa)
2,5 a 2,8
Deformação Volumétrica (%)

CP27-EDN (wi=3,0%) (e)


5
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.6.Curvas εv versus σv log– ensaios na umidade natural da estação seca (EDN).
170

Nos ensaios inundados, as curvas de compressão são caracterizadas por trechos


virgens bem definidos, caracterizando mudança de comportamento “elástico” para
“elastoplásticos”. Nos solos da Camada I (Figuras IV.3 e IV.5a e b) este trecho
apresenta-se mais extenso, envolvendo quase toda a curva de compressão, as vezes sem
indicar com clareza a mudança de comportamento característico do escoamento do solo.

Nos ensaios na umidade natural (EDN), independente das diferenças nas


condições iniciais dos corpos de prova, as deformações volumétricas (Figura IV.6)
foram, em geral, próximas (com máximo na ordem de 5 %), tanto nas amostras da
Camada I quanto nas amostras da Camada II (Figura IV.6a a d). A exceção se verifica
na amostra entre 2,5 e 2,8 m (SPT > 50) que apresentou compressão máxima próxima
de 3 %. Como se percebe na Figura IV.5e, o trecho virgem dos ensaios inundados nesta
amostra inicia com deformações um pouco superior a 3 %, para tensões entre 160 e 320
kPa. Logo é possível que o ensaio EDN desta amostra não tenha atingido o trecho
virgem da curva de compressão, embora o aspecto da curva assim indique.

Nos ensaios na umidade natural (EDN) as curvas (Figuras IV.4 e IV.6) nem
sempre indicam com clareza um trecho linear que caracterize o trecho virgem ou uma
acentuação nas deformações que caracterize o escoamento do solo. No ensaio referente
à amostra de 1,5 a 1,8 m (Figuras VI.4c e IV.6c) da Camada II observa-se mais de um
trecho retilíneo com diferentes inclinações, até alcançar o trecho virgem. Fato
semelhante é observado, com menos intensidade, nos CP04 e CP10 das amostras
referentes à Camada I (Figura VI.4a e IV.4b). Comportamento semelhante foi
apresentado por VAUGAN (1988), para um solo estruturado, o qual atribui à existência
de estágios intermediários de escoamento na curva de compressão, à medida que as
ligações são destruídas, até atingir o trecho virgem, caracterizado pela intensificação das
deformações. Este comportamento encontra-se exemplificado na Figura IV.7.

A partir dos resultados dos ensaios inundados (EDI) e dos ensaios na umidade
natural (EDN), foram determinados a tensão de escoamento (σvm) e os parâmetros de
compressibilidade (Cc e Cs) do solo. Estes resultados encontram-se na Tabela IV.3. A
tensão de escoamento foi determinada pelo método gráfico de Pacheco Silva. Este
método possui uma vantagem em relação ao de Casagrande, uma vez que não se faz
necessária a determinação de um raio mínimo na curva do ensaio, muita vezes de difícil
identificação. Nos ensaios na umidade natural onde o trecho virgem não ficou bem
evidenciado, Cc foi determinado considerando os últimos estágios de tensão (640 – 1280
171

Figura IV.7. Escoamento de um solo estruturado (VAUGHAN, 1988).

Tabela IV.3. Resumo dos resultados dos ensaios EDI e EDN.

CONDIÇÃO INICIAL DOS


AMOSTRA CP ENSAIO PARÂMETROS
CAMADA Gs o
CORPOS DE PROVA
Prof. (m) N TIPO
wo γso So σvm
eo Cc Cs
(%) kN/m3 (%) (kPa)
01 EDI 1,10 16,3 0,63 4,63 35 0,064 0,007
1e2 02 EDI 1,12 16,4 0,62 4,82 28 0,064 0,007
2,66
(0,5-0,8) 03 EDN 0,89 16,0 0,66 3,58 100 0,041 0,002
04 EDN 1,22 16,4 0,62 5,22 131 0,051 0,005
I 07 EDI 1,99 16,6 0,60 8,84 12 0,060 0,007
3e4 08 EDI 1,44 16,2 0,63 6,09 8 0,067 0,007
2,64
(1,0-1,3) 09 EDN 1,78 16,2 0,63 7,44 237 0,044 0,005
10 EDN 1,49 15,7 0,69 5,74 278 0,055 0,005
13 EDI 2,15 16,1 0,64 8,88 27 0,081 0,002
5e6 14 EDI 2,06 16,2 0,63 8,61 31 0,117 0,014
2,64
(1,5-1,8) 15 EDN 2,08 15,9 0,67 8,25 275 0,062 0,002
II 16 EDN 2,16 16,4 0,61 9,31 248 0,067 0,002
19 EDI 1,85 16,6 0,59 8,28 37 0,099 0,005
7e8 20 EDI 2,61 16,7 0,58 11,8 58 0,124 0,009
2,64
(2,0-2,3) 21 EDN 2,16 17,0 0,55 10,3 85 0,046 0,007
22 EDN 1,99 16,6 0,59 8,89 90 0,053 0,007
25 EDI 3,71 18,6 0,42 23,6 257 0,101 0,007
9
SPT>50 2,64 26 EDI 2,80 18,6 0,42 17,7 122 0,124 0,012
(2,5-2,8)
27 EDN 3,04 17,8 0,48 16,6 ----- ----- 0,005
172

kPa) da curva de compressão. No Cs considerou-se o trecho retilíneo entre 1280 e 10


kPa da curva de descarregamento, independente do ensaio.

Os resultados da Tabela IV.3 encontram-se representados na forma de perfil na


Figura IV.8. Como pode-se perceber nesta Figura, as tensões de escoamento (Figura

IV.8e), para o solo no estado natural (σvmn) foram sempre superiores a tensão de

escoamento do solo na condição inundada (σvms), porém sem uma faixa de valor

característica para cada camada do perfil de solo. Vale ressaltar que a tensão de
escoamento é também referida, também, como tensão de pré-consolidação virtual por
alguns autores (ex: VARGAS, 1973; FERREIRA, 1995).

Observa-se (Figura IV.8) que os maiores valores de σvmn (Tabela IV.3), entre

230 e 280 kPa, estão compreendidos entre 1,0 e 1,8 m de profundidade, envolvendo o
limite inferior da Camada I e a Camada II. Neste mesmo trecho ocorrem os menores

valores de σvms (8 e 12 kPa), precisamente na amostra de 1,0 a 1,3 m de profundidade

da Camada I. Mesmo considerando os valores de σvmn da amostra entre 1,5 e 1,8 m da

0 0 0 0 0

EDI EDN
CAMADA I
EDN EDN EDI
0.5 0.5 0.5 0.5 0.5
Areia Média EDN
EDI
e Grossa
EDI
1 1 1 1 1
Profundiade (m)

Areia Fina

1.5 1.5 1.5 1.5 1.5


CAMADA II

Pedregulho
2 2 2 2 2

Silte
2.5 2.5 2.5 2.5 2.5
SPT > 50
Argila (a) (b) (c) (d) (e)
3 3 3 3 3
0 20 40 60 80 100 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.04 0.07 0.1 0.13 0 0.005 0.01 0.015 0 100 200 300
Granulometria (%) eo Cc Cs σvm (kPa)

Figura IV.8. Variação da granulometria sem defloculante, índice de vazios inicial (eo),
parâmetros de compressibilidade (Cc e Cs) e as tensões de escoamento do solo saturado

(σvms) e na umidade natural (σvmn) com a profundidade.


173

Camada II, estes são inferiores ao valores obtidos a partir dos ensaios da amostra de 0,5

a 0,8 m da Camada I. Na Camada de SPT > 50 não foram determinados σvmn nem Cc

pois há dúvidas que a curva de compressão desse ensaio tenha atingido o trecho virgem.

Conforme REGINATTO e FERRERO (1973), para solos colapsíveis têm-se

σvmn > σvms. Quanto maior a diferença entre estas duas tensões, maior será a faixa de

tensão em que o solo apresentará comportamento colapsível. Logo é de se esperar que a


camada de solo entre 1,0 e 1,8 m deva apresentar maior susceptibilidade ao colapso do
que as demais. Para profundidades superiores a diferença entre estas duas tensões tende
a reduzir, sugerindo a redução da colapsibilidade do solo.

Os parâmetros de compressibilidade Cc obtidos a partir dos ensaios na umidade


natural (EDN) foram sempre inferiores aos obtidos a partir dos ensaios inundados
(EDI). Este fato sugere divergência entre as duas curvas para as tensões adotadas nos
ensaios, conforme pressupõe o modelo de ALONSO et al. (1990).

Considerando os resultados dos ensaios inundados, os valores de Cc variaram na


faixa de 0,06 e 0,07 para as amostras da Camada I (profundidade < 1,3 m) e entre 0,08 e
0,13 para as amostras envolvidas pelas Camadas II e de SPT > 50. Este fato pode ser
justificado pelo maior teor de argila que o solo apresenta a partir de 1,5 m de
profundidade, tornando-o mais compressível quando saturado.

Quanto ao parâmetro Cs, não se observa (Figura IV.8) alguma tendência de

variação com a profundidade que caracterize alguma particularidade entre as camadas.

Os valores de Cs (Tabela IV.3) variaram ente 0,002 e 0,014, com média de 0,008, nos

ensaios inundados (EDI) e ligeiramente inferior nos ensaios na umidade natural (entre
0,002 e 0,009, com média de 0,005). Estes baixos valores sugerem que a
expansibilidade neste solo seja pequena. Portanto, amostras coletadas tanto no período
seco quanto no período úmido deverão apresentar pesos específicos secos similares.

FERREIRA (1995) determinou o parâmetro Cc para diferentes trechos da curvas

de compressão e o Cs para todo o trecho de descarregamento para um solo colapsível de


Petrolândia, no estado natural e na condição inundada, similar ao solo da Camada I
desta pesquisa. Para a faixa de tensão equivalente considerada na atual pesquisa, os
valores de Cc foram: 0,058 na condição natural e 0,080 no solo inundado, superiores aos
174

obtidos na atual pesquisa, apesar de apresentarem índices físicos semelhantes. Os

valores de Cs foram semelhantes aos encontrados na atual pesquisa, variando entre

0,002 a 0,004, estando o valor mínimo para a amostra no estado natural (wo = 1,70 %).

IV.4.2 Influência da umidade inicial

Alguns ensaios foram realizados em corpos-de-prova sob diferentes teores de


umidade para avaliar a influência da umidade inicial na colapsibilidade do solo. Nas
Figuras IV.9 e IV.10 estão apresentadas as curvas de variação do índice de vazios e da

deformação volumétrica com a tensão vertical (e versus σv log e εv versus σv log),

respectivamente. Nestas Figuras, os ensaios com a sigla EDN* referem-se àqueles


corpos-de-prova que tiveram seus teores de umidade aumentados por vapor d’água. Para
fins de comparação, nas Figuras referentes a cada amostra foram acrescentados os
resultados dos ensaios inundados (EDI) e na umidade natural de campo (EDN) com os
índices de vazios mais próximos dos ensaios EDN*. As condições inicial e final de cada
corpo de prova encontram-se na Tabela IV.2.

As diferenças nas condições iniciais dos corpos-de-prova (Tabela IV.2) são


consideráveis, dificultando a comparação entre os resultados na Figura IV.9. Todavia,
uma análise qualitativa da Figura IV.10 sugere que pequenas variações no teor de
umidade podem ser suficientes para resultar em grande compressão no solo. Observa-se
também uma tendência geral das curvas dos ensaios EDN* convergirem para as curvas
dos ensaios inundados (EDI) a partir de uma determinada tensão.

Segundo JENNINGS e KNIGTH (1957), a tensão onde ocorre o início da


convergência da curva não saturada para a curva inundada dependerá do teor de
umidade inicial ou grau de saturação inicial do solo e estará relacionada a um grau de
saturação crítico. De acordo com FUTAI (1997) esta convergência deverá sempre
ocorrer, desde que as tensões, para um dado valor de sucção no solo, sejam
suficientemente altas.

Observa-se também que as amostras referentes ao solo da Camada I (Figuras


IV.10a e b) apresentam maior sensibilidade às variações no teor de umidade do solo do
que as amostras das demais camadas. Para estas amostras (Camada I), a convergência
175

0.70 1
(a) (b)
0.65 1

0.60 1
Índice de Vazios

0.55 1

0.50 1

0.45 0
CP02-EDI CP08-EDI
Camada I Camada I
0.40 CP03-EDN (wi=0,89%) CP10-EDN (wi=1,49%)
Prof.(m): 0 Prof.(m):
CP05-EDN* (wi=3,60%) CP11-EDN* (wi=3,58%)
CP06-EDN* (wi=6,40%) 0,5 a 0,8 CP12-EDN* (wi=6,5%) 1,0 a 1,3
0.35 0
0.65 1 10 100 1000 1 1
10000 10 100 1000 10000
(c) (d)
0.60 1
Índice de Vazios

0.55 1

0.50 1

0.45 0

CP14-EDI Camada II 0 CP19-EDI Camada II


0.40
CP16-EDN (wi=2,22%) CP22-EDN (wi=1,99%)
Prof.(m):
CP17-EDN* (wi=3,70%) Prof.(m): CP23-EDN* (wi=3,78%)
CP18-EDN* (wi=5,94%) 1,5 a 1.8 CP24-EDN* (wi=6,04%) 2,0 a 2,3
0.35 0
0.50 1 10 100 1000 10000
1 10 100 1000 10000
(e)
Tensão Vertical (kPa)
0.45

0.40
Índice de Vazios

0.35

0.30

0.25
CP25-EDI
0.20 CP27-EDN (wi=3,04%) SPT>50
CP28-EDN* (wi=3,96%) Prof.(m):
CP29-EDN* (wi=6,0%) 2,5 a 2,8
0.15
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.9. Curvas e versus σv log – ensaios inundados e na umidade natural.


176

0 0
(a) (b)
Deformação Volumétrica (%) 2 2

4 4

6 6

8 8

10 10
CP02-EDI
CP08-EDI
CP03-EDN (wi=0,89%) Camada I Camada I
12 CP10-EDN (wi=1,49%)
CP05-EDN* (wi=3,6%) Prof.(m):12 Prof.(m):
CP11-EDN* (wi=3,58%)
0,5 a 0,8 1,0 a 1,3
CP06-EDN* (wi=6,4%) CP12-EDN* (wi=6,5%)
14 14
-1 1 10 100 1000 -1 1
10000 10 100 1000 10000
(c) (d)
1 1
Deformação Volumétrica (%)

3 3

5 5

7 7

9 9

11 11

13 13
CP14-EDI CP19-EDI
15 15
CP16-EDN (wi=2,22%) Camada II CP22-EDN (wi=1,99%) Camada II
Prof.(m): Prof.(m):
17 CP17-EDN* (wi=3,7%) 17 CP23-EDN* (wi=3,78%)
1,5 a 1.8 2,0 a 2,3
CP18-EDN* (wi=5,94%) CP24-EDN* (wi=6,04%)
19 19
-1 1 10 100 1000 10000
1 10 100 1000 10000
(e)
1
Tensão Vertical (kPa)
Deformação Volumétrica (%)

11

13 CP26-EDI SPT>50
CP27-EDN (wi=3,0%) Prof.(m):
15 CP28-EDN* (wi=4,0%)
2,5 a 2,8
CP29-EDN* (wi=6,0%)
17
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.10. Curvas εv versus σv log – ensaios inundados e na umidade natural.


177

das curvas dos ensaios EDN* para as curvas dos ensaios EDI ocorre para tensões
relativamente baixas. Um exemplo disso pode ser visto na curva de compressão
referente ao ensaio EDN* do CP12 (Figura IV.10b), cuja convergência inicia-se numa
tensão de aproximadamente 40 kPa, para um grau de saturação inicial de 25 % (Tabela
IV.2).

A compressão nos ensaios EDN* é considerável nas amostras inferiores à


profundidade de 1,8m, envolvendo as Camadas I e a amostra de 1,5 a 1,8 m da Camada
II. Nos ensaios EDN* da amostra entre 0,5 e 0,8 m (Figura VI.10a), referente à Camada
I, com graus de saturação iniciais de 14,6 e 24,4 % (CP05 e CP06, respectivamente), as
deformações de volumétricas (εv) foram muito próximas das obtidas no ensaio EDI. Na
amostra entre 2,0 e 2,3m de profundidade (Camada II) só observa-se compressão
significativa nos ensaios EDN* para um teor de umidade inicial da ordem de 6,0 %
(CP24), equivalente a um grau de saturação de 25%. Na Camada de SPT > 50 (Figura
IV.10e) o umedecimento parcial resultou em aumento muito pequeno na compressão do
solo.

Considerando os resultados apresentados nas Figura IV.9 e IV.10, procurou-se


avaliar a influência do grau de saturação na colapsibilidade do solo comparando as
deformações de colapso (εc) para o solo totalmente inundado e umedecido até os graus
de saturação dos ensaios EDN*. A deformação de colapso foi calculada por:

εc=(ΔH/Ho) x 100% IV.1

onde: ΔH é a diferença de altura entre os corpos de prova na umidade natural de


campo (ensaio EDN) e os corpos de prova inundados (inundado EDI) ou
umedecidos até um determinado grau de saturação (ensaios EDN*);

Ho é a altura inicial do corpo de prova, iguais para todos ensaios.

Na Figura IV.11 apresentam-se exemplos das variações das deformações de


colapso total (εc) e parcial com a tensão vertical (σv) para as amostras da Camada I,
calculadas considerando a diferença de altura entre os corpos-de-prova dos ensaios
EDN e EDI e entre os corpos de prova dos ensaios EDN e EDN*, respectivamente.
Apresentam-se também as razões entre εc (parcial) /εc (total) para cada tensão vertical.

Como se pode perceber na Figura IV.11, para uma tensão da ordem de 100 kPa,
e um grau de saturação da ordem de 15 % (Figura IV.11a) a deformação de colapso foi
178

6 120
Colapso Total - Inundação Total - EDI (CP02)
Colapso Parcial - (w i = 3,6% e So=14,6%) - EDN* (CP12)
[Colapso Parcial / Colapso Total]

(%)
5 100

[ c (parcial) /
c
CAMADA I - Prof. (m): 0,5 a 0,8
Deformação de Colapso,

4 80

3 60

c
(total)] (%)
2 40

1 20

(a)
0 0
1 10 100 1000

Tensão Vertical (kPa)

8 160
Colapso Total - Inundação Total - EDI (CP08)
Colapso Parcial - (w i=6,5% e So=25,2%) - EDN* (CP12)
7 [Colapso Parcial / Colapso Total]
140
(%)

[ c (parcial) /
6 120
c

CAMADA I - Prof.(m): 1,0 a 1,3


Deformação de Colapso,

5 100

4 80
c
(total)] (%)

3 60

2 40

1 20
(b)
0 0
1 10 100 1000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.11. Variação das deformações de colapso total e parcial com a tensão vertical
para as amostras da Camada I.
179

cerca de 70 % da deformação de colapso total. Na amostra entre 1,0 e 1,3 m de


profundidade (Figura IV.11b) o colapso parcial nesta mesma tensão foi da ordem de
55% do colapso total. Fato semelhante foi observado na amostra entre 1,5 a 1,8 m de
profundidade referente à Camada II.

Estes resultados mostram que variações no teor de umidade, tal como as


observadas nos perfis de sondagem apresentados no Capítulo III, podem ser suficientes
para provocar intenso colapso no solo, sem que alcance a saturação. Por outro lado, o
uso de uma solução que tem por princípio a pré-inundação do solo pode ter um efeito
limitado caso o solo não seja suficientemente umedecido ou o grau de saturação
alcançado no umedecimento não seja mantido durante a construção. Em tais situações, o
solo pode continuar sendo colapsível, com o colapso vindo a ser deflagrado em um
futuro umedecimento. A magnitude do colapso parcial com a variação do grau de
saturação dependerá do tipo de solo, em geral, sendo mais intenso nos solos arenosos
com pouco finos, onde pequenas variações na umidade podem provocar grande variação
na sucção, tal como as amostras da Camada I.

ROLLINS e ROGERS (1994) avaliaram a eficiência de diferentes técnicas de


tratamento em solos colapsíveis, dentre elas a pré-inundação do solo. A avaliação era
feita pela comparação de resultados de ensaios em provas de carga no solo tratado com
uma prova de carga no solo natural (sem tratamento). Os ensaios foram realizados em
sapatas quadradas (1,5 x 1,5m) em concreto, consistindo de carregamento até a tensão
de 85kPa, onde era feita a inundação do solo. Monitores de recalques foram instalados a
1, 2 e 3m abaixo do nível da sapata para determinar a distribuição dos recalques em
profundidade. O grau de saturação obtido após o ensaio de referência (sem tratamento)
foi em torno de 60%. Segundo estes autores, vários estudos têm levado a conclusão que
os recalques de colapso quando o grau de saturação alcança valores da ordem de 60-
70%, o colapso é equivalente ao que ocorreria no caso do solo saturado.

No tratamento envolvendo a pré-inundação do solo, um volume de mais de


30.000 litros de água foi percolado, provocando a inundação do solo até uma
profundidade superior a 3m. No decorrer da inundação, observou-se que cerca de 80%
do recalque total observado (80mm) ocorreram além dos 3m de profundidade. Segundo
estes autores, parece existir uma tensão limite abaixo da qual o colapso não ocorrerá no
solo estudado, estando a porção superior do perfil abaixo deste limite. Após o perfil ter
secado até alcançar um teor de umidade próximo a condição natural (antes da
180

inundação) foi realizado o ensaio para avaliar a eficiência do método. O resultado


mostrou recalques da mesma ordem dos obtidos no ensaio de referência (sem
tratamento), concluindo que a técnica de pré-inundação sem carregamento do solo não é
suficiente para prevenir futuro danos à fundação.

ROLLINS e ROGERS (1994) sugerem que o simples processo de umedecimento


provocaria recalques suficientes para alterar a estrutura do solo, reduzindo sua condição
metaestável. Os recalques observados (80 mm) mostram que o solo não tenha sido
submetido a um processo de umedecimento tão intenso em sua história, vindo a recalcar
sob o próprio peso. Mesmo em um solo verdadeiramente colapsível, é pouco provável
que tais recalques provoquem alterações tão significativas na estrutura do solo a ponto
de evitar futuros danos.

Na técnica de pré-inundação subtende-se que a construção será realizada com o


solo umedecido, caso contrário a perda de umidade trará o solo à condição inicial e o
efeito da inundação, como concluem ROLLINS e ROGERS (1994), será insuficiente
para evitar futuros danos. Tais conclusões estão de acordo com os comentários
anteriores referentes aos resultados dos ensaios da atual pesquisa (Figura IV.8). Caso o
umedecimento não seja mantido ou ocorra grande perda de umidade durante a
construção a condição metaestável persistirá. Portanto, futuros danos à construção
poderão ocorrer caso o solo seja submetido a um subseqüente processo de
umedecimento, conforme foi relato de algumas obras em Petrolândia onde foi adotada a
técnica de pré-umedecimento do solo.

IV.4.3 Influência da tensão vertical na deformação de colapso

O colapso é uma conseqüência da redução da rigidez de um solo quando este é


submetido a um processo de umedecimento. Conforme abordando no Capítulo II, a
magnitude da deformação específica de colapso (εc) dependerá da tensão (σvi) sob a
qual ocorrerá o umedecimento do solo. Sob condições de compressão edométrica ou
hidrostática (isotópica), resultados da literatura em diferentes solos indicam
comportamentos diversos da curva εc versus σvi, podendo εc ser sempre crescente com
σvi, atingir um máximo e permanecer constante ou reduzir a partir de um valor limite de
σvi.
181

No modelo idealizado por FUTAI (1997) apresentado no Capítulo II, a curva de


compressão de um solo submetido a um carregamento hidrostático é dividida em quatro
regiões: região I, onde o comportamento da curva é controlado pelo parâmetro elástico
κ(s) do solo, o qual reduz com o aumento da sucção; região II onde o comportamento da
curva é controlado pelo parâmetro de compressibilidade λ(s), o qual tende a reduzir com
o aumento da sucção; a região III onde o comportamento da curva de compressão
continua sendo controlado pelo parâmetro λ(s), porém este parâmetro passa a aumentar
com o aumento da sucção; e a região IV, onde as curvas tendem a se tornar paralelas ou
próximas. Este modelo foi idealizado para atender a solos colapsíveis que apresentam
comportamento de pico na curva εc versus σvi, o qual deverá ocorrer entre as regiões II e
III.

Na Figura IV.12 apresenta-se a idealização de um ensaio edométrico duplo


convencional, onde a sucção inicial da amostra natural é grande o suficiente (ex:
10MPa) para conferir elevada rigidez ao solo. Esta condição se enquadra dentro do solo
desta pesquisa e será considerada para dar suporte às discussões seguintes. Nesta Figura
encontra-se representada também a deformação específica de colapso (εc), definida pela
a Equação IV.1, em função da tensão vertical (σv). Para facilitar a compreensão, a
Figura IV.12 será representada por trechos, envolvendo as três regiões iniciais sugeridas
por FUTAI (1997).

O comportamento do solo idealizado na Figura IV.12 pode assim ser entendido:

i. caso o nível de tensão esteja compreendido na Região I (trecho 0 a A) o


colapso tenderá a ser pequeno ou poderá ocorrer pequena expansão elástica;

ii. caso a tensão máxima alcançada no ensaio não seja elevada o suficiente, o
ensaio estará na Região II (trecho A-B-C). Neste caso, as curvas do ensaio
inundado e na umidade natural se divergirão e o índice de compressão do

ensaio na umidade natural (Ccn) será menor que o correspondente ao ensaio

inundado (Cci). A deformação de colapso ou o potencial de colapso tenderá

sempre a aumentar com a tensão vertical de inundação (σvi);

iii. à medida que σvi aumenta, a curva na umidade do ensaio na umidade

natural caminha para a Região III, devendo haver uma região de transição
(trecho C-D) onde as curvas inundada e na umidade natural seguem
182

paralelas (Ccn = Cci). É nesta região onde ocorrerá o colapso máximo. Isto

justifica o comportamento de alguns solos da literatura cujo potencial de


colapso cresce, alcança um valor máximo e permanece constante até o
término do ensaio;

iv. à medida que σvi aumenta, as ligações que mantém a estrutura metaestável

do solo natural são gradativamente destruídas e o ensaio alcança a Região III

(trecho D-E-F), onde as curvas tendem a convergir (Ccn > Cci). A partir daí

o potencial de colapso tende a diminuir com a tensão.

3,5
A
Umidade Natural
B
3 C
Região I
D
2,5
Região III
e ou εv

2
Inundado E
Região II
1,5 F

0,5

0
1 10 100 1000 10000
1,6
Deformação de Colapso ( c )

1,4 Cci > Ccn Cci < Ccn


1,2
1
Cci = Ccn

0,8
0,6
Colapso
0,4
0,2
0%0
-0,2 Expansão
-0,4
1
σv0 10 σvA σvB
100
σvC σvD σ
1000 vE σvF 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.12. Idealização de um ensaio edométrico duplo em um solo não saturado


colapsível de elevada rigidez.
183

Logo é previsível que qualquer solo colapsível, sob condição de compressão

edométrica ou isotrópica, apresente um pico na curva σvi versus εc, que poderá ser

evidenciado ou não se a máxima tensão de inundação ocorrer na Região III da curva de


compressão.

Considerando o modelo idealizado da Figura IV.12 e os resultados apresentados


(Tabela IV.3 e Figuras IV.8 e IV.9), vale destacar alguns pontos já discutidos
anteriormente:

i. os ensaios na umidade natural de campo (EDN) apresentam sempre índices


de compressão menores que os correspondentes na condição inundada
(EDI). Logo é previsível que a curva de compressão deste solo encontre-se
na Região II, onde as deformações de colapso devem ser sempre crescentes
com o nível da tensão vertical;

ii. à medida que o solo é umedecido (ensaios EDN* na Figura IV.9 e IV.10) os
vínculos que mantém a estrutura estável são enfraquecidos e o solo perde
rigidez. Ao alcançar um valor limite de tensão, as deformações são
intensificadas e a curva não saturada converge para a curva inundada. Neste
caso o solo é conduzido à Região III da curva de compressão, onde as
deformações de colapso devem ser decrescentes com a tensão vertical.

Na Figura IV.13 apresentam-se as variações da deformação específica de colapso


(εc) com a tensão vertical (σvi). Os valores de εc foram calculados conforme a Equação
IV.1. As curvas de compressão dos ensaios considerados encontram-se na Figura IV.13a
e os corpos-de-prova referentes aos ensaios utilizados para compor o par de curvas
(umidade natural e inundada) dos ensaios edométricos duplos estão indicados na
legenda da Figura IV.13b. Nos corpos de prova dos ensaios na umidade natural estão,
também, indicados o teor de umidade inicial e o respectivo grau de saturação inicial.
Estes resultados foram escolhidos para exemplificar o comportamento de um solo
colapsível sob duas situações. Umas onde as tensões dos ensaios limitam-se à Região II
e a outras onde as tensões alcançam a Região III.

Na curvas onde as deformações de colapso foram calculadas com base nos ensaios

EDN (Região II), observa-se aumento de εc com a tensão vertical, chegando próximo à

região de transição onde ocorre o colapso máximo. Na curva onde εc foi calculada com
184

base no ensaio EDN*, os colapsos são menos intensos, alcança um valor máximo (εc ≅

2,4%) na tensão de 40 kPa seguido de uma brusca redução até um valor mínimo (εc ≅

0,2%) na tensão de 640 kPa. Estes resultados mostram-se coerentes com o


comportamento idealizado da Figura IV.12.

0
(%)

2
v
Deformação Volumétrica

10
CP08-EDI
12 CP10-EDN (wi=1,49%; So=5,7%)
CP12-EDN* (wi=6,5%; So=25,2%) (a)
14
8 1 10 100 1000 10000
CP10-EDN (wi=1,49%; So=5,7%) e CP08-EDI
Deformação Espec. de Colapso (%)

7
CP12-EDN* (wi=6,5%; So=25,2%) e CP08-EDI

6
Camada I
5 Prof.(m): 1,0 a 1,3

1
(b)
0
1 10 100 1000 10000

Tensão vertical (kPa)

Figura IV.13. Variação das deformações de colapso com a tensão vertical obtida a partir
dos resultados dos ensaios edométricos duplos.
185

Pode haver situações onde a curva inundada apresenta o trecho virgem não linear.

Nesses casos, é possível a ocorrência de um valor máximo em εc ainda na Região II,

seguido de redução. Porém, a redução da deformação de colapso deverá ser menos


significativa do que ocorreria caso o solo atingisse a Região III.

IV.4.4 Ensaios edométricos simples (EDS)

Na Tabela IV.4 estão apresentadas as condições iniciais e finais dos corpos de


prova utilizados nos ensaios edométricos simples (EDS). Os ensaios representados pela
sigla EDS* referem-se àqueles realizados segundo a proposta de HOUSTON et al.
(1988). Nas Figuras IV.14 e IV.15 estão apresentadas as curvas e versus σv log e as
curvas εv versus σv log destes ensaios, respectivamente.

Em média, os valores dos índices de vazios foram equivalentes aos dos ensaios
na umidade natural (EDN) e inundados (EDI), porém com maiores diferenças entre os
valores máximo e mínimo de cada amostra (Figura IV.14f). Observa-se, também,
comportamento semelhante ao observado nos ensaios EDI, EDN e EDN* (Figura IV.1),
com as amostras inferiores à profundidade de 1,8 m apresentando valores médios
equivalentes (entre 0,63 e 0,64). Para profundidades superiores a 1,8 m, os valores do
índice de vazios iniciais médios foram de 0,58 na amostra entre 2,0-2,3 m (Camada II) e
0,45 na amostra de 2,5-2,8 m (camada de SPT > 50).

O grau de saturação final (Sf) variou, na média, entre 77 e 88 %, estando na


mesma ordem ou ligeiramente inferior aos obtidos nos ensaios EDI (entre 80 e 89 %).
Não observou-se correlação de Sf com algum índice físico ou com a tensão vertical de
inundação.

Na Tabela IV.5 estão apresentadas as condições iniciais dos corpos de prova e


no início da inundação, os coeficientes de colapso estrutural (i) e as deformações

específicas de colapso, εc (ou potencial de colapso), para cada tensão vertical de

inundação (σvi). Estão também representados nesta tabela os resultados referentes aos
ensaios inundados (EDI) que apresentaram colapso durante a inundação.

Conforme esperado, os valores de εc e i (Tabela IV.5), calculados pelas

Equações II.11 e II.17 (Capítulo II), respectivamente, são similares. A máxima diferença
186

Tabela IV.4. Condições iniciais e finais dos corpos de prova referentes aos ensaios EDS.

CONDIÇÕES DOS CORPOS DE PROVA


Inicial Final
Amostra σvi CP Ensaio
Gs Wo γdo So Wf γdf Sf
(Bloco) kPa No Tipo eo ef
(%) kN/m3 (%) (%) KN/m3 (%)
20 30 EDS 1,22 16,1 0,65 4,96 18,7 16,3 0,61 81,0
1e2 40 31 EDS 1,13 16,3 0,64 4,72 17,9 16,4 0,57 83,8
(0,5-0,8) 80 32 EDS 1,11 16,4 0,62 4,79 18,2 16,6 0,51 95,3
2,66 160 33 EDS 1,32 16,2 0,65 5,44 16,4 16,4 0,54 81,6
Camada 320 34 EDS 0,99 16,1 0,65 4,06 17,0 16,3 0,50 89,9
I 640 35 EDS 1,03 16,5 0,61 4,50 17,0 16,7 0,43 100
200 36 EDS* 1,59 15,8 0,68 6,21 15,3 18,0 0,48 85,3
20 37 EDS 1,65 16,2 0,63 9,84 18,2 16,6 0,60 80,3
3e4 40 38 EDS 1,97 15,9 0,66 7,86 18,5 16,2 0,61 80,4
(1,0-1,3) 80 39 EDS 1,57 16,3 0,62 6,76 16,4 16,6 0,53 82,3
2,64 160 40 EDS 1,65 16,6 0,59 7,39 15,2 16,9 0,45 89,7
Camada 320 41 EDS 1,79 16,2 0,63 7,51 16,6 16,5 0,47 92,7
I 640 42 EDS 1,38 16,1 0,64 5,68 15,8 16,3 0,42 99,4
200 43 EDS* 1,78 15,6 0,70 6,72 16,3 17,1 0,54 80,5
20 44 EDS 2,82 16,8 0,57 13,0 14,6 17,3 0,46 84,2
5e6 40 45 EDS 2,01 16,3 0,62 8,54 15,8 16,6 0,55 75,7
(1,5-1,8) 80 46 EDS 2,02 16,0 0,65 8,21 16,6 16,3 0,57 76,1
2,64 160 47 EDS 1,95 16,3 0,62 8,30 14,6 16,6 0,43 88,9
Camada 320 48 EDS 2,01 16,0 0,65 8,21 13,1 16,4 0,45 77,8
II 640 49 EDS 2,20 16,5 0,60 9,75 16,3 16,9 0,56 76,1
200 50 EDS* 2,08 15,5 0,70 7,83 12,0 17,9 0,47 66,7
20 51 EDS 2,16 16,5 0,60 9,43 16,22 16,8 0,57 74,7
7e8 40 52 EDS 2,10 16,8 0,57 9,77 15,20 17,2 0,53 75,3
(2,0-2,3) 80 53 EDS 2,88 17,0 0,56 13,7 14,87 17,5 0,49 79,8
2,64 160 54 EDS 2,17 16,6 0,59 9,68 14,32 17,0 0,48 79,4
Camada 320 55 EDS 2,21 16,6 0,59 9,96 13,96 17,0 0,47 78,5
II 640 56 EDS 2,09 16,4 0,61 9,12 15,91 16,8 0,45 93,3
200 57 EDS* 2,21 17,1 0,55 10,7 12,71 19,3 0,37 91,2
20 58 EDS 2,41 18,3 0,45 14,2 10,71 18,7 0,43 66,4
40 59 EDS 3,51 18,8 0,41 22,8 11,52 19,4 0,37 81,9
9
80 60 EDS 3,59 18,3 0,44 21,5 11,81 19,0 0,41 75,7
(2,5-2,8)
2,64 160 61 EDS 2,97 18,2 0,45 17,6 12,47 18,8 0,39 84,8
320 62 EDS 3,41 18,5 0,43 21,1 11,71 19,1 0,32 96,0
SPT>50
640 63 EDS 2,71 17,9 0,48 15,1 12,24 18,4 0,38 85,1
200 64 EDS 2,24 18,0 0,47 13,6 10,59 19,9 0,33 85,8

entre eles de 0,35 (εc=8,1% e i = 8,45%) ocorreu na amostra entre 1,0 e 1,3 m (Camada
I), sob a tensão de inundação de 640 kPa.
187

0.7 1
(a) (b)
0.65 1

0.6 1
Índice de Vazios

0.55 CP30-20kPa 1
CP31-40kPa CP37-20kPa
CP32-80kPa CP38-40kPa
0.5 1
CP33-160kPa CP39-80kPa
CP40-160kPa
CP34-320kPa
0.45 0 CP41-320kPa
CP35-640kPa
CP42-640kPa
CP36*-200kPa
0.4 CAMADA I CP43*-200kPa
0 CAMADA I
CP01-5kPa (EDI) CP07-5kPa (EDI)
Prof.(m): 0,5 a 0,8
Prof.(m): 1 a 1,3
CP02-5kPa (EDI) CP08-1,25kPa (EDI)
0.35 0
0.7 1 10 100 1000 1 1
10000 10 100 1000 10000
CP51-20kPa CP52-40kPa
(c) CP53-80kPa CP54-160kPa
0.65 1 CP55-320kPa CP56-640kPa
CP57*-200kPa CP19-1,25kPa (EDI)
CP20-1,25kPa (EDI)
0.6 1
Índice de Vazios

0.55 1

CP44-20kPa
0.5 CP45-40kPa 1
CP46-80kPa
0.45 CP47-160kPa 0
CP48-320kPa
CP49-640kPa
0.4 0
CP50*-200kPa CAMADA II CAMADA II
CP14-1,25kPa (EDI)
Prof.(m): 1,5 a 1.8 Prof.(m): 2 a 2,3 (d)
0.35 0
0.5 1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

(e) Tensão Vertical (kPa)


0.8
0.45 Média Máximo Mínimo (f)
0.7
Índice de Vazios

0.6
Índice de Vazios Inicial

0.4
0.5

CP58-20kPa
0.4
0.35 CP59-40kPa
CP60-80kPa
0.3
CP61-160kPa
CP62-320kPa 0.2
0.3
CP63-640kPa
CP64-200kPa SPT > 50 0.1
CP26-1,25 kPa (EDI) Prof.(m): 2,5 a 2,8
0.25 0
1 10 100 1000 10000 0.5-0.8 1.0-1.3 1.5-1.8 2.0-2.3 2.5-2.8

Tensão Vertical (kPa) Profundidade da Amostra (m)

Figura IV.14. Curvas e versus σv log dos ensaios EDS e valores médios, máximos e
mínimos dos índices de vazios inicial.
188

0 0
(a) (b)
Deformação Volumétrica (%) 2 2

4 4

6 6
CP37-20kPa
CP30-20kPa
CP38-40kPa
8 CP31-40kPa 8
CP32-80kPa CP39-80kPa

10 CP33-160kPa 10 CP40-160kPa

CP34-320kPa CP41-320kPa
12 CP05-640kPa 12 CP42-640kPa
CP36*-200kPa CP43*-200kPa
14 CP01-5kPa (EDI)
CAMADA I 14 CP07-5kPa (EDI) CAMADA I
Prof.(m): 0,5 a 0,8 Prof.(m): 1 a 1,3
CP02-5kPa (EDI) CP08-1,25kPa (EDI)
16 16
0 1 10 100 1000 10000
0 1 10 100 1000 10000
(c) (d)
2 2
Deformação Volumétrica (%)

4 4

6 6 CP51-20kPa
CP44-20kPa
CP52-40kPa
CP45-40kPa
8 8
CP53-80kPa
CP46-80kPa
CP54-160kPa
10 CP47-160kPa 10
CP55-320kPa
CP48-320kPa
CP56-640kPa
12 12
CP49-640kPa CP57*-200kPa
14 CP50*-200kPa CAMADA II 14 CP19-1,25kPa (EDI) CAMADA II
CP14-1,25kPa (EDI) Prof.(m): 1,5 a 1.8 CP20-1,25kPa (EDI) Prof.(m): 2,0 a 2,3
16 16
0 1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
(e) Tensão Vertical (kPa)
2
Deformação Volumétrica (%)

6
CP58-20kPa
8 CP59-40kPa
CP60-80kPa
10
CP61-160kPa
CP62-320kPa
12
CP63-640kPa

14 CP66*-200kPa SPT > 50


CP26-1,25kPa (EDI) Prof.(m): 2,5 a 2,8
16
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.15. Curvas εv versus σv log dos ensaios EDN e EDI e valores médios,
máximos e mínimos dos índices de vazios inicial.
189

Tabela IV.5. Condições iniciais, antes da inundação dos corpos de prova, coeficientes
de colapso estrutural (i) e deformações de colapso (εc) obtidos dos ensaios EDS.

CONDIÇÕES DOS CORPOS DE PROVA PARÂMETRO


Início
Inicial
Amostra σvi CP Ensaio Inundação i εc
Gs
(Bloco) (kPa) No Tipo wo γdo γdi (%) (%)
eo ei
(%) kN/m3 kN/m3
5 01 EDI 1,10 16,3 0,63 16,32 0,63 0,24 0,24
5 02 EDI 1,12 16,4 0,62 16,56 0,61 0,49 0,49
1e2 20 30 EDS 1,22 16,1 0,65 16,20 0,64 1,35 1,34
(0,5-0,8) 40 31 EDS 1,13 16,3 0,64 16,34 0,63 2,83 2,81
2,66 80 32 EDS 1,11 16,4 0,62 16,69 0,59 4,53 4,46
Camada 160 33 EDS 1,32 16,2 0,65 16,34 0,63 4,55 4,49
I 320 34 EDS 0,99 16,1 0,65 16,49 0,61 4,81 4,70
640 35 EDS 1,03 16,5 0,61 17,12 0,55 4,54 4,38
200 36 EDS* 1,59 15,8 0,68 16,10 0,65 7,17 7,05
1,25 08 EDI 1,44 16,2 0,63 16,24 0,62 0,74 0,74
5 07 EDI 1,99 16,6 0,60 16,57 0,58 0,75 0,74
3e4 20 37 EDS 1,65 16,2 0,63 16,36 0,61 1,47 1,46
(1,0-1,3) 40 38 EDS 1,97 15,9 0,66 16,05 0,65 2,03 2,01
2,64 80 39 EDS 1,57 16,3 0,62 16,38 0,59 4,15 4,14
Camada 160 40 EDS 1,65 16,6 0,59 16,88 0,54 6,16 6,06
I 320 41 EDS 1,79 16,2 0,63 16,68 0,56 5,28 5,28
640 42 EDS 1,38 16,1 0,64 16,78 0,55 8,45 8,10
200 43 EDS* 1,78 15,6 0,70 15,94 0,65 4,27 4,17
1,25 14 EDI 2,06 16,2 0,63 16,18 0,63 0,36 0,36
20 44 EDS 2,82 16,8 0,57 16,58 0,58 1,22 1,22
5e6
40 45 EDS 2,01 16,3 0,62 16,14 0,64 3 2,97
(1,5-1,8)
80 46 EDS 2,02 16,0 0,65 16,50 0,60 2,67 2,63
2,64
160 47 EDS 1,95 16,3 0,62 17,23 0,53 4,06 3,96
Camada
320 48 EDS 2,01 16,0 0,65 16,72 0,58 8,07 7,87
II
640 49 EDS 2,20 16,5 0,60 16,52 0,60 8,29 8,06
200 50 EDS* 2,08 15,5 0,70 15,82 0,67 6,33 6,20
1,25 19 EDI 1,85 16,6 0,59 16,6 0,59 0,45 0,45
1,25 20 EDI 2,61 16,7 0,58 16,7 0,58 0,14 0,13
7e8 20 51 EDS 2,16 16,5 0,60 16,54 0,60 1,32 1,31
(2,0-2,3) 40 52 EDS 2,10 16,8 0,57 16,88 0,56 1,2 1,20
2,64 80 53 EDS 2,88 17,0 0,56 17,27 0,53 2,08 2,04
Camada 160 54 EDS 2,17 16,6 0,59 16,9 0,55 4,5 4,39
II 320 55 EDS 2,21 16,6 0,59 16,95 0,56 4,83 4,74
640 56 EDS 2,09 16,4 0,61 16,88 0,56 6,01 5,85
200 57 EDS* 2,21 17,1 0,55 17,54 0,51 3,41 3,32
1,25 26 EDI 2,80 18,6 0,42 18,64 0,42 0,13 0,13
20 58 EDS 2,41 18,3 0,45 18,37 0,51 0,56 0,54
9 40 59 EDS 3,51 18,8 0,41 18,99 0,24 0,96 0,94
(2,5-2,8) 80 60 EDS 3,59 18,3 0,44 18,52 0,43 0,62 0,62
2,64
160 61 EDS 2,97 18,2 0,45 18,43 0,43 1,08 1,07
SPT>50 320 62 EDS 3,41 18,5 0,43 18,2 0,45 3,15 3,10
640 63 EDS 2,71 17,9 0,48 18,83 0,40 3,61 3,61
200 64 EDS 2,24 18,0 0,47 18,35 0,44 1,57 1,54
190

Na Figura IV.16 são comparados os valores de εc e i, onde observa-se que os

pontos definidos pela interseção desses valores posicionam-se em torno da linha de


igualdade.

Deformação de Colapso, ε c (%) 10

1
8 1

0
0 2 4 6 8 10

Coeficiente de Colapso, i (%)

Figura IV.16. Comparação entre o coeficiente de colapso estrutural (i) e deformação


específica de colapso (εc).

Na Figura IV.17 apresentam-se as variações das deformações de colapso (εc)


com a tensão vertical de inundação (σvi). Dada a similaridade nos valores de εc e i,
torna-se desnecessária a mesma representação para o coeficiente de colapso estrutural.

Em geral (Figura IV.17), o comportamento de εc é de aumento com a tensão

vertical de inundação, sem indicar com clareza um valor de σvi a partir do qual εc

apresente tendência de redução. Tal comportamento sugere que os níveis de tensão


adotados na inundação estiveram limitados à Região II (Figura IV.12), estando em
acordo com o observado ao se comparar as deformações específicas de colapso obtidas
a partir dos ensaios EDI e EDN (condição de campo), conforme exemplificado na
Figura IV.13. Uma exceção é observada na amostra referente à profundidade de 0,5 a

0,8 m (Camada I), observa-se aumento de εc até um valor máximo (≅ 4,7%) na tensão

de 320 kPa, seguido de uma tênue redução (4,4% em 640 kPa).


191

9 9
(%) c
8 Prof.(m): 0,5 a 0,8 8 Prof.(m): 1,0 a 1,3

7 7
Deformação de Colapso,

CAMADA I CAMADA I
6 6
5 5

4 4

3 3
2 2
1 (a) 1 (b)
0 0
9 1 10 100 1000
9 1 10 100 1000
Prof.(m): 2,0 a 2,3
(%)

Prof.(m): 1,5 a 1,8


8 8
c

7 CAMADA II 7 CAMADA II
Deformação de Colapso,

6 6
5 5

4 4
3 3
2 2
1
(c) 1 (d)
0 0
1 10 100 1000 1 10 100 1000
9 9
(%)

Prof.(m): 2.5 a 2,8 Prof.(m): 0,5 a 0,8


8 8
Prof.(m): 1,0 a 1,3
c

7 SPT > 50 7 Prof.(m): 1,5 a 1,8


Deformação de Colapso,

6 6 Prof.(m): 2,0 a 2,5

5 5 Prof.(m): 2.5 a 2,8

4 4

3 3
2 2
1
(e) 1 (f)
0 0
1 10 100 1000 1 10 100 1000

Tensão Vertical de Inundação (kPa) Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura IV.17. Variação da deformação específica de colapso (εc) com a tensão vertical

de inundação (σvi) – ensaios edométricos simples (EDS).


192

Observa-se também (Figura IV.17) divergência de alguns dados experimentais


em relação à tendência geral representada pela curva interpolada graficamente. Um

exemplo disso é o valor de εc (7 %) obtido no ensaio (CP36) da amostra entre 0,5 a 0,8

m (Camada I), inundado na tensão de 200 kPa (Figura IV.17a). Neste ensaio, o valor de

εc foi superior ao obtidos nos demais ensaios realizados nesta amostra, independente da

tensão de inundação. É interessante notar que este ensaio apresenta índice de vazios
inicial de 0,68, superior aos observados nos demais corpos de prova (Tabela IV.5) que
variou entre 0,61 e 0,65. Estas divergências sugerem que as variações na estrutura do
solo podem ter forte influência nos resultados dos ensaios, mesmo numa mesma
amostra.

Uma tentativa foi feita no sentido de avaliar o efeito da estrutura na deformação

de colapso comparando os valores de εc, para uma dada tensão de inundação, com o

peso específico seco inicial (γdo) ou o peso específico seco no início da inundação (γdi)

do corpo de prova. Em geral as deformações de colapso foram superiores para as


amostras menos densas. Entretanto, dada a limitada quantidade de dados e a grande

dispersão observada não foi possível estabelecer alguma correlação entre εc e γdo ou γdi.

É importante ressaltar que o peso específico reflete apenas um dos aspectos da


estrutura de um solo. Outros fatores (arranjo, cimentações, etc), de difícil quantificação,
também influenciarão. Todavia, os resultados apresentados na Tabela IV.5 mostram,
qualitativamente, que as variações da estrutura de um solo colapsível podem influenciar
tanto ou mais nos valores das deformações de colapso de um solo, do que o caminho de
tensões seguido (tensão onde ocorre a inundação).

Com o objetivo de comparar os resultados de ensaio edométricos duplos (EDD)


e edométricos simples (EDS), a partir dos resultados dos ensaios inundados (EDI) e na
umidade natural referente à estação seca (EDN) (Figuras IV.3 a IV.6) foram
determinadas as deformações específicas de colapso para as mesmas tensões de

inundação adotadas nos EDS. Onde havia duplicidade de ensaios EDI e EDN, εc foi

calculada considerando a média das variações de altura dos corpos de prova de cada

ensaio. Calculou-se εc considerando, também, os pares de curvas formados pelos


193

ensaios EDI mais compressíveis (CPs: 02, 08, 14, 20 e 28) e os ensaios EDN menos
compressíveis (CPs: 04, 09, 16, 21 e 27).

Na Figura IV.18 são comparados os valores das deformações específicas de


colapso obtidas a partir dos resultados dos ensaios edométricos duplos (EDD) com os
valores obtidos a partir dos ensaios edométricos simples (EDS) apresentados na Tabela
IV.5.

Os pontos definidos pela interseção dos valores de εc obtidos segundo os dois

procedimentos (Figura IV.18) se dispersam em torno da linha de igualdade. Ao

comparar os valores de εc obtidos a partir dos ensaios edométricos duplos (EDD)

formados pela média dos resultados de dois ensaios EDN e dois ensaios EDI (Figura

IV.18a), com os valores de εc obtidos a partir dos ensaios edométricos simples (EDS),

os obtidos a partir dos ensaios EDS foram ligeiramente, superiores. Por outro lado,
considerando os pares de curvas dos ensaios EDD formados pelos ensaios EDI mais

10 10
1
9 9 εc(EDD) = 1,01εc(EDS)
εc(EDD) = 0,85εc(EDS)
ε c (%) - Edométrico Duplo

1 1
2
8 2 1 8 R = 0,74
R = 0,81
7 7
6 6
5 5
4 4
3 3
2 2
1 (a) 1 (b)
0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10

ε c (%) - Edométrico Simples ε c (%) - Edométrico Simples

Figura IV.18. Comparação entre deformação específica de colapso (εc) obtida a partir de
ensaios edométricos simples (EDS) e obtida a partir de ensaios edométricos duplos
(EDD): a) εc dos EDD obtidos a partir das curvas médias de dois ensaios EDI e dois
ensaios EDN; b) εc dos EDD obtidos a partir dos pares de curvas formados pelos
ensaios EDN menos compressíveis e pelos ensaios EDI mais compressíveis.
194

compressíveis e os ensaios EDN menos compressíveis, a maior parte dos dados


experimentais posiciona-se sobre a linha de igualdade, indicando a superioridade nas
deformações de colapso obtidas a partir dos ensaios EDD.

FERREIRA (1995) encontrou valores de potenciais de colapso (considerou a


Equação II.17 do coeficiente de colapso estrutural) obtidos a partir dos ensaios
edométricos simples superiores aos obtidos a partir dos ensaios duplos. Admitindo
homogeneidade do solo estudado, este autor atribuiu estas diferenças ao estado tensional
(caminho de tensões verticais, sucções iniciais e o índice de vazios).

A sucção inicial terá influência significativa caso a tensão vertical ultrapasse o


limite elástico do solo. Para solo muito seco, onde a sucção encontra-se no trecho
residual as deformações antes da inundação serão pequenas para maioria da faixa de
tensão. O índice de vazios inicial refletirá um dos aspectos da estrutura do solo. Quanto
ao caminho de tensões verticais, conforme discutido no Capitulo II, há divergências
sobre sua influência nas deformações volumétricas do solo quando este caminho
envolve aumento do grau de saturação, como é o caso do colapso.

BASMA e TUNCER (1992) compararam os valores de εc obtidos por ensaios

duplos e edométricos simples em solos compactados onde não observaram diferenças


significativas nos resultados, estando os pontos de interseção posicionados em torno da
linha de igualdade. Para HOUSTON (1996) o efeito do caminho de tensões é
insignificante quando comparado às variações da estrutura do solo. Os resultados da
Figura IV.18 parecem tender a reforçar este argumento, onde o uso de diferentes corpos
de provas para compor os pares de curvas dos ensaios duplos levam a conclusões
distintas.

Na Figura IV.19 são comparadas as deformações específicas de colapso (εc)


obtidas a partir dos ensaios edométricos simples (EDS) com os valores de εc previstos
pelas equações empíricas de BASMA e TUNCER (1992), reapresentadas nesta Figura.
Nas amostras da Camada I (entre 0,5 a 1,3 m), onde se dispõem de todos os parâmetros
do solo, os resultados experimentais foram comparados com os previstos segundo as
duas equações propostas por estes autores. Para profundidades superiores (Camada II e
camada com SPT > 50), as deformações foram previstas considerando a equação (2).

Os valores previstos se aproximam dos experimentais para tensões superiores a


40 kPa e nas amostras que apresentam comportamento sempre crescente de εc com a
195

14 14
Prof.(m): 0,5 a 0,8 Prof.(m): 1,0 a 1,3
Deformação de Colapso (%) (1) Basma e Tuncer (1992) (1) Basma e Tuncer (1992)
(2) Basma e Tuncer (1992) (2) Basma e Tuncer (1992)
9 9

4 4

-1 -1

-6 -6

(a) (b)
-11 -11
14 14
Prof.(m): 1,5 a 1,8 Prof.(m): 2,0 a 2,3
Deformação de Colapso (%)

(2) Basma e Tuncer (1992) (2) Basma e Tuncer (1992)


9 9

4 4

-1 -1

-6 -6
(c) (d)
-11 -11
7 1 10 100 1000 1 10 100 1000
Prof.(m): 2.5 a 2,8
Deformação de Colapso (%)

(2) Basma e Tuncer (1992)


Tensão Vertical de Inundação (kPa)
3
(1) εc = 48,496 + 1,102 Cu - 0,457wi
-1 - 3,533γ d + 2,8 ln(σvi)

-5 (2) εc = 47,506 - 0,072 (S-C) - ,439wi


- 3,123γ d + 2,851 ln(σvi)
-9
(e) onde: γ d = peso específico seco
Cu = coeficiente de uniformidade
-13
wi = umidade inicial
1 10 100 1000
σv i = tensão vertical de inundação
Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura IV.19. Comparação entre deformação de colapso (εc) obtidas dos ensaios EDS e
previstas pelas propostas de BASMA e TUNCER (1992).
196

tensão de inundação. Para tensões inferiores a este valor as equações de BASMA e


TUNCER (1992) prevêem a expansão do solo. No caso da amostra limitada pela
profundidade de 0,5 e 0,8 m (Camada I), os valores previstos foram próximos apenas
para faixa de tensão entre 40 e 200 kPa. Para as amostras entre as profundidades de 1,0
e 1,3 (Camada I) e entre 1,5 a 2,3m (Camada II) observa-se melhor ajuste das funções.

As equações de BASMA e TUNCER (1992) são sempre crescentes, o que


justifica o melhor ajuste para as amostras que apresentam este comportamento. Estas
equações foram obtidas através de análises estatísticas de resultados de ensaios
realizados em amostras compactadas, com características distintas do solo em estudo.
Este fato pode justificar a divergência entre os valores previstos e os experimentais na
faixa de baixa tensão.

A comparação dos dados experimentais com a proposta de FUTAI (2000) ficou

prejudicada, uma vez que quase a totalidade das curvas εc versus σvi não indicou valor

de pico da deformação de colapso. No caso da amostra limitada pela profundidade de

0,5 a 0,8 m (Camada I), única exceção, εcmáx previsto foi de 5,42 %, estando próximo

da deformação máxima (4,81%) determinada a partir do ensaio EDS na tensão de 320


kPa. Para outras profundidades, esta proposta tenderá a subestimar os valores máximos

de εc alcançados nos ensaios.

IV.4.5 Ensaios em amostras compactadas (EDCI e EDCN)

Na Tabela IV.6 estão apresentadas as condições iniciais e finais dos corpos de


provas referentes aos ensaios realizados em amostras compactadas, conforme
metodologia detalhada no Apêndice C. Nas Figuras IV.20, IV.21 e IV.22 são
apresentadas a curvas εv versus σv log destes ensaios. Nas Figuras IV.21b e IV.22b estes
resultados são comparados com as curvas médias dos ensaios inundados (EDI) e na
umidade natural (EDN) realizados nas amostras indeformadas (Figuras IV.5 e IV.6).

Para uma mesma amostra compactada observam-se diferenças nos valores dos
pesos específicos secos iniciais (γdo) entre os corpos-de-prova (Tabela IV.6). Ao
comparar o corpo-de-prova mais denso com o menos denso, para cada amostra, a
197

diferença nos valores de (γdo) varia entre 4 e 8 %, estando este máximo restrito à
amostra entre 1,5 a 1,8 m (Camada II) de profundidade.

Desconsiderando os corpos-de-prova moldados a partir da amostra compactada,


previamente seca ao ar (CP’s: 67, 70 e 73), observam-se sempre menores teores de
umidade inicial para os corpos-de-prova, em relação às umidades ótimas obtidas das
curvas de compactação apresentadas no Capítulo III. O desvio dos valores médios das
umidades iniciais dos corpos-de-prova (CP’s: 65, 66, 68, 69, 71 e 72), em relação aos
valores das umidades ótimas obtidas dos ensaios de compactação variou de 1,5 a 1,9 %,
aumentando inversamente com a profundidade da amostras. Fato semelhante observa-se

com relação ao γdo, os quais foram, em média, inferiores 0,8 a 2,3 % em relação aos

valores de γdmáx obtidos dos ensaios de compactação.

Os CP foram moldados sempre do topo (última camada compactada) para a base


(primeira camada compactada) da amostra compactada. Portanto, as variações nos
valores de γdo sugerem que a energia de compactação não foi uniforme em todas as
camadas, o que é uma situação previsível de ocorrer no campo.

Assim como os ensaios inundados no solo natural, nos ensaios inundados nas
amostras compactadas inundadas (EDCI) a inundação foi feita sob uma pequena tensão
de 1,25 kPa. Também nestes ensaios (Figuras IV.20a a IV.22a) observa-se um pequeno

Tabela IV.6. Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios EDCI e EDCN.

INICIAL FINAL COMPACTADA


Amostra CP Ensaio
Prof. (m) No Tipo wo γso So wf γsf Sf wot γdmáx.
3
eo 3
ef
(%) kN/m (%) (%) kN/m (%) (%) kN/m3
1e2 65 EDCI 9,36 17,4 0,53 47,3 14,8 19,1 0,46 85,7
(0,5 a 0,8) 66 EDCN 9,47 18,1 0,47 53,9 7,2 19,8 0,40 47,7 11,3 18
Camada I 67 EDCN 2,35 17,3 0,54 11,7 ----- ----- ---- -----
3e4 68 EDCI 9,37 19,0 0,39 63,3 11,1 20,8 0,34 86,5
(1,0 a 1,3) 69 EDCN 9,44 18,3 0,45 56,0 7,6 20,0 0,36 55,3 11 18,8
Camada I 70 EDCN 2,39 19,2 0,38 16,8 ----- ------ ----- -----
5e6 71 EDCI 8,07 18,8 0,40 53,0 10,5 20,4 0,33 84,2
(1,5 a 1,8) 72 EDCN 8,30 19,7 0,34 63,9 6,87 21,3 0,29 62,4 9,7 19,7
Camada II 73 EDCN 2,36 20,5 0,29 7,41 ----- ----- ----- -----
198

0
(a)

Deformação Volumétrica (%)


2

4
Prof.(m): 0,5 a 0,8

5 CP65 (EDCI)
CP66 (wi=9,47%)
CP67 (wi=2,35%)
6
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

0
(b)
1

2
Deformação Volumétrica (%)

7
Prof.(m): 0,5 a 0,8
8
EDI (CP01 e CP2) EDN (CP03 e CP04)
CP65 (EDCI) CP66 (w i=9,47%)
9
CP67 (w i=2,35%)
10
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.20. Curvas εv versus σv log dos ensaios em amostras compactadas: a)


comparações entre as curva EDCI e EDCN; b) comparação dos resultados dos ensaios
EDCI e EDCN com os ensaios EDI e EDN das amostras naturais – prof.: 0,5 a 0,8m.
199

0
(a)

Deformação Volumétrica (%)


2

4
Prof.(m): 1,0 a 1,3

5 CP68 (EDCI)
CP69 (wi=9,44%)
CP70 (wi=2,39%)
6
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

0
(b)
2
Deformação Volumétrica (%)

10
Prof.(m): 1,0 a 1,3
EDI (CP08) EDN (CP09 e CP10)
12
CP68 (EDCI) CP69 (w i=9,44%)
CP70 (w i=2,39%)
14
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.21. Curvas εv versus σv log dos ensaios em amostras compactadas: a)


comparações entre as curva EDCI e EDCN; b) comparação dos resultados dos ensaios
EDCI e EDCN com os ensaios EDI e EDN das amostras naturais – prof.: 1,0 a 1,3m.
200

0
(a)

Deformação Volumétrica (%)


2

Prof.(m):1,5 a 1,8
5 CP71 (EDCI)
CP72 (wi=8,30%)
CP73 (wi=2,39%)
6
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

0
(b)
2
Deformação Volumétrica (%)

10

12
Prof.(m): 1,5 a1,8
EDI (CP13 e CP14) EDN (CP15 e CP16)
14
CP71 (EDCI) CP72 (w i=8,30%)
CP73 (w i=2,39%)
16
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.22. Curvas εv versus σv log dos ensaios em amostras compactadas: a)


comparações entre as curvas EDCI e EDCN; b) comparação dos resultados dos ensaios
EDCI e EDCN com os ensaios EDI e EDN das amostras naturais – prof.: 1,5 a 1,8m.
201

colapso (εc < 0,5 %) durante a inundação. É possível que este colapso esteja associado a
algum efeito de perturbação do solo durante a moldagem do corpo-de-prova,
especialmente na fase de acabamento. Esta hipótese é reforçada quando se compara o
resultado do ensaio realizado na umidade de compactação (EDCN) referente ao corpo-
de-prova CP69 da amostra entre 1,0 e 1,3 m (Camada I), o qual apresenta deformação
próxima ao ensaio EDCI (CP68) desta amostra na mesma tensão de inundação (Figura
IV.21a).

Conforme esperado, a compactação resultou na redução da compressão (Figuras


IV.20b a IV.22b) do solo, embora a maior compressibilidade dos ensaios inundados nas
amostras compactadas (EDCI) é um indicativo de que, mesmo compactado, o solo pode
apresentar colapso, dependendo das condições de compactação. As diferenças nas
condições iniciais dos CP dificultam avaliar o quanto a secagem do solo após a
compactação influenciará na colapsibilidade, uma vez que diferenças de 1 % na
umidade ótima pode ter influência considerável no comportamento de uma areia.
Todavia, é previsível que a situação mais crítica que pode vir a ocorrer numa obra
assente em um solo arenoso com poucos finos, onde se adota a solução de remoção e
compactação do solo, seja a do solo ressecado, devido às pequenas variações
volumétricas que estes solos, normalmente, apresentam no campo com as variações da
sucção.

Procurou-se avaliar a eficiência da compactação na redução da colapsibilidade

do solo comparando as deformações específicas de colapso (εc) das amostras naturais

com as deformações de colapso das amostras compactadas, considerando a situação


mais crítica (secagem do solo após a compactação). Os valores de εc foram calculados
segundo a mesma sistemática adotada nos ensaios edométricos duplos das amostras
indeformadas (Equação IV.1). Estes resultados encontram-se apresentados na Figura

IV.23. Os ensaios utilizados no cálculo de εc estão indicados nas legendas de cada

Figura.

A eficiência da compactação na redução da colapsibilidade do solo variou com a


profundidade, sendo tanto maior quanto mais profunda a amostra. Em outras palavras, a
eficiência aumentou com a quantidade de finos. Em média, a redução na deformação de
colapso do solo, por conseqüência da compactação, variou de 44%, na amostra entre 0,5
e 0,8 m da Camada I (Figura IV.23a) a 95 % na amostra entre 1,5 a 1,8 m da Camada II
202

5
Compactado (CP65 e CP67)
4,5

Deformação de Colapso (%)


Natural (Média EDI e EDN)
4
Prof.(m): 0,5 a 0,8
3,5
3
2,5
2
1,5
1

0,5
(a)
0
9 1 10 100 1000 10000
Compactado (CP68 e CP70)
8
Deformação de Colapso (%)

Natural (Média EDI e EDN)


7
Prof.(m):1 a 1,3
6

1
(b)
0
1 10 100 1000 10000
10
Compactado (CP79 e CP80)
9
Deformação de Colapso (%)

Natural (Média EDI e EDN)


8
Prof.(m):1,5 a 1,8
7
6
5
4
3
2
1 (c)
0
1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.23. Comparação entre potencial de colapso do solo compactado e do solo na


condição natural: a) prof.: 0,5 a 0,8m; b) prof.: 1,0 a 1,3m; c) prof.: 1,5 a 1,8m.
203

(Figura IV.23c). Isto pode ser justificado por duas razões (ver Capítulo III): 1) o peso

específico seco máximo (γmáx) do solo compactado na umidade ótima aumenta com o

teor de finos; e 2) conforme já ressaltado no Capítulo III e discutido em detalhes no


Capítulo VII, os resultados dos ensaios edométricos indicam a existência de uma
camada intermediária (entre 1,0 e 1,8 m) com maior susceptibilidade ao colapso.
Considerando o critério de VARGAS (1978), a compactação conduzirá o solo a
uma condição estável para quase a totalidade das amostras. A única exceção é
observada na amostra limitada pela profundidade de 1,0 a 1,3 m da Camada I (Figura
IV.23a), que apresenta deformação de colapso, na condição compactada, superior a 2 %
para tensões verticais a partir de 320 kPa. Todavia, para faixa de tensões mais provável
de ocorrer nas obras locais que apresentam danos (< 100 kPa) a condição estável
prevalecerá. Por outro lado, considerando o critério de JENNINGS e KNIGTH (1975),
até a profundidade de 1,3 m (Camada I) o solo compactado ainda se enquadra dentro da
faixa de “problema moderado” (1 < PC < 5 %).
Do que foi exposto no parágrafo acima pode-se concluir que, dependendo das
condições de carregamento, é possível que algum dano de menor intensidade possa
ocorrer ao empregar esta técnica, especialmente nas camadas mais arenosas (Camada I).
Esta possibilidade pode justificar danos observados em algumas edificações locais onde
foi adotada a remoção e compactação do solo como solução.
Na prática, o grau de compactação no campo dificilmente será de 100 % e
apenas uma fração da camada colapsível é tratada, o que é justificável, pois evidências
experimentais (ex: HOUSTON et al., 1995; CONCIANI, 1997) indicam que quase a
totalidade do colapso estará limitada a uma espessura equivalente a maior dimensão da
sapata. Há ainda que se considerar situações onde a compactação é feita sem nenhum
controle e sob condições de temperaturas extremas, resultando em um peso específico
menor do que o esperado. Todavia, em obras de baixo custo, onde não se justifica o uso
de fundações profundas, esta solução é bastante sugestiva, especialmente em solos
condicionalmente colapsíveis, e tem sido adotada em várias situações (ex: ARAGÃO e
MELO, 1982; SOUZA et al., 1995a; SOUZA et al., 1995b).
Mesmo quando a compactação é feita sem o devido controle, o aumento da
capacidade de carga do terreno pode ser considerável, assim como a redução na
colapsibilidade. SILVEIRA e SILVEIRA (1958) apresentam uma ampla investigação
geotécnica envolvendo ensaios de laboratório e de campo num solo típico de São
204

Carlos, visando dar subsídios técnicos na elaboração de um eventual código de


fundações para construções de pequeno porte dessa cidade. Uma prova de carga foi
realizada no solo na condição natural (indeformado e sem inundação). Em outra prova
de carga, o solo foi removido até 1,50 m de profundidade por meio de escavação de um
poço e compactado em camadas sucessivas até a profundidade de 0,50 m. A prova de
carga realizada no solo compactado resultou num aumento de aproximadamente 200 %
na tensão admissível do terreno, por um processo relativamente econômico. Vale
ressaltar que o solo foi compactado, manualmente, na umidade de campo (em média 14
%), inferior a umidade ótima (15,2 %), resultando num peso específico máximo de 16,4
kN/m3, cerca de 87 % do peso específico na umidade ótima (18,7 kN/m3).
Segundo ROLLINS e ROGERS (1994) este tipo de solução oferece várias
vantagens, tais como:

1) diminuição de material colapsível na zona de maior influência das tensões


transmitidas pela fundação;
2) aumenta a profundidade para qual a água deve infiltrar para alcançar o
material colapsível; e
3) diminui as tensões induzidas que a camada colapsível subjacente é submetida.
Estes autores realizaram provas de carga em placa (inundação na tensão de 85
kPa) para medir o colapso em um solo colapsível no estado natural e após a escavação
parcial com substituição por um solo granular compactado. O recalque de colapso
medido após o tratamento (110 mm) foi cerca de 40 % do colapso no solo não tratado
(280 mm). Com base nesses resultados os autores chegaram à conclusão que este tipo de
solução é um risco calculado, sendo viável se acompanhada de um sistema de drenagem
que minimize a infiltração de água na fundação.

IV.5 METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRCOS COM SUCÇÃO


CONTROLADA

IV.5.1 Ensaio com sucção constante (EDSC)

Os ensaios com sucção (s) constante e com carregamento e descarregamento da


tensão vertical (EDSC) foram realizados com o objetivo principal de obter os seguintes
parâmetros do solo:
205

1) tensão de escoamento em função da sucção [σvm(s)]; e

2) parâmetros de compressibilidade relacionados com a reta virgem [λ(s)] e com a


reta de descarregamento ou re-carregamento da tensão [κ(s)], ambos em função
da sucção.

Inicialmente os corpos-de-prova foram mantidos sob uma sucção determinada e


com uma tensão mínima de 2,6 kPa por um tempo mínimo de 15 dias, conforme
justificado no Apêndice C. Após a estabilização da sucção, o solo foi carregado, por
estágio, até uma tensão em torno da geostática (σvo), efetuado um ciclo de
descarregamento e re-carregamento até a tensão de 1.335 kPa, tornando a descarregar
até a tensão de 10 kPa. A representação esquemática dos caminhos de tensões seguidos
nestes ensaios encontra-se na Figura IV.24. A linha cheia representa os dados
experimentais, enquanto as setas orientam o caminho seguido. No Apêndice C
encontram-se os caminhos de cada ensaio.

A sucção máxima utilizada nos ensaios foi 1.500 kPa. Valores superiores foram
evitados devido a possíveis vazamentos da graxa de vedação da pressão na célula, o que
resultaria na perda de pressão e, conseqüentemente, do ensaio. Esta decisão foi tomada
após vazamentos terem ocorrido em alguns ensaios das primeiras séries. A solução
adotada para conter o vazamento da graxa consistiu na utilização de um diafragma de

Ensaio EDSC
Sucção (kPa)

A B
D C
s F
E

σvo
Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.24. Caminho de tensão seguido no ensaio tipo EDSC.


206

plástico envolvendo a graxa e o pistão. Nas outras séries dos ensaios EDSC a sucção
máxima foi 1.000 kPa.

A estabilização de cada estágio de tensão foi observada através da curva da


variação da deformação volumétrica versus a raiz do tempo. Na Figura IV.25 estão
apresentadas típicas curvas de estabilização das deformações volumétricas (εv) para
diferentes valores de tensão (Figura IV.25a) e para diferentes sucções (Figuras IV.25b).
Em geral a estabilização não ultrapassou 8 horas, embora o próximo carregamento só
era adicionado após um tempo mínimo de 24 horas.

IV.5.2 Ensaio de colapso com redução gradativa da sucção (CLRS)

Os ensaios de colapso sob redução gradativa da sucção (CLRS) foram realizados


com o principal objetivo de verificar a validade da LC experimental e teórica. O
caminho de tensão seguido por este tipo de ensaio encontra-se representado,
esquematicamente, na Figura IV.26. Inicialmente uma sucção (s) de 1.500 kPa era
aplicada até a estabilização. O solo foi carregado até uma tensão σvi determinada (trecho
AB) onde era provocado o colapso por redução gradativa da sucção (trecho BC).

0 0
Deformação Volumétrica (%)

(a) (b)
0.5 0.5

1 1

1.5 1.5

2 2
S = 50 kPa
2.5 2.5
σv = 160 kPa
3 3
S = 50 kPa
3.5 5 kPa 10 kPa 21 kPa 3.5 S = 200 kPa
42 kPa 83 kPa 167 kPa S = 500 kPa
4 4
334 kPa 667 kPa 1335 kPa S = 1000 kPa Prof.: 1,5 a 1,8m
4.5 4.5
0 10 20 30 40 50 0 20 40 60 80 100
Raiz de t (min) Raiz de t (min)

Figura IV.25. Típicas curvas de estabilização das deformações nos ensaios EDSC.
207

A B Ensaio
CLRS

Sucção

C
E D
σvi
σv
Tensão Vertical

Figura IV.26. Caminho de tensão para o ensaio tipo CLRS.

Posteriormente o solo foi carregado até 1.335 kPa (trecho CD) e descarregado
até 10,4 kPa (trecho DE). No Apêndice C encontram-se os caminhos seguidos em cada
ensaio.

As tensões onde se procedeu o umedecimento (σvi) do solo foram definidas a


partir da LC’s experimentais obtidas a partir dos ensaios EDSC. Em todos ensaios,
procurou-se carregar o solo sem que ultrapassasse o limite elástico. Visou-se com isso
verificar a expansão elástica do solo quando a sucção é reduzida dentro deste espaço
elástico, conforme se prevê nos modelos elastoplásticos.

Cada valor de sucção reduzido era mantido até a estabilização das deformações
de colapso. O tempo de estabilização variou de 5 a 49 dias, com o máximo ocorrendo
quando a sucção era reduzida a 0 kPa. Em praticamente todos ensaios observou-se
pouca expansão (< 0,05%) ou nenhuma deformação mensurável durante as primeiras 24
horas. Após este prazo o comportamento geral era compressão.

Tomando-se como referência a condição do corpo-de-prova no início do


umedecimento, um dos ensaios (CP86) na amostra entre 1,0 e 1,3 m de profundidade
(Camada I) apresentou comportamento de pico na curva εv versus t log, resultando numa
expansão máxima (no pico) entre 0,05 na sucção de 500 kPa e de 0,22 % na sucção de
208

200 kPa, resultando numa expansão entre 0,02 e 0,11% no final do ensaio,
respectivamente. As curvas de estabilização para este ensaio encontram-se
representadas na Figura IV.27. A Figura IV.27a apresenta todos os estágios de redução
da sucção, enquanto a Figura IV.27b uma ampliação dos três primeiros estágios (500,
200 e 100 kPa).

-0.5
Deformação Volumétrica (%)

0.5
CP 86
1
σv i = 60 kPa
1.5 Prof.(m): 1 a 1,3m

2 S = 500 kPa
2.5 S = 200 kPa
S = 100 kPa
3
S = 0 kPa (a)
3.5
0 10 1000 100000 10000000

Tempo (min)
-0.25
S = 500 kPa
Deformação Volumétrica (%)

CP 86
-0.2
σv i = 60 kPa S = 200 kPa
-0.15 Prof.(m): 1 a 1,3m S = 100 kPa

-0.1

-0.05

0.05

0.1
(b)
0.15
0.1 1 10 100 1000 10000

Tempo (min)

Figura IV.27. Curvas de estabilização durante a redução da sucção de um ensaio CLRS


– amostra de 1 a 1,3m de profundidade: a) curvas correspondentes a todos os estágios de
redução da sucção; b) curvas correspondentes aos estágios de 100 a 500 kPa de sucção
(ampliação da Figura IV.27a).
209

Uma possível justificativa dos valores máximos observados na Figura IV.27


pode estar associada a perda de pressão durante o ensaio, transferindo parte da carga
adicional utilizada para combater o empuxo do pistão ao corpo de prova. Esta perda é
inevitável, uma vez que o equipamento utilizado não dispõe de um sistema automático
de ajuste. Embora os ajustes eram realizados quase que diariamente, considerando a
baixa expansão desse solo é possível que a transferência de parte da carga para a
amostra, embora pequena, possa ter sido suficiente para reduzir ou anular a expansão
decorrente da redução da sucção dentro do espaço elástico.

IV.5.3 Ensaio edométrico com aumento e redução da sucção (EDSV)

Os ensaios EDSV (edométrico com σv constante e variação da sucção) foram

realizados com a finalidade de obter os parâmetros λs, κs e so, descritos no Capítulo II.

Estes ensaios foram realizados nas amostras referentes às profundidades de 1,0 a 1,3 m
(Camada I) e 1,5 a 1,8 m (Camada II). No ensaio correspondente a amostra de 1,0 a 1,3
m houve problema de perda de pressão na sucção de 400 kPa, optando-se pela não
continuidade do mesmo.

Admitiu-se a possibilidade do solo ser submetido a um umedecimento, na


estação úmida, tal que alcançasse um grau de saturação próximo da saturação, seguido
de secagem. Portanto as amostras foram, previamente, umedecidas por capilaridade até
alcançar um grau de saturação o mais próximo possível da saturação.

Na Figura IV.28 apresenta-se, esquematicamente, o caminho seguido no ensaio


EDSV. Os corpos-de-prova foram, inicialmente, carregados até uma tensão próxima à
tensão geostática (trecho AB). Após a estabilização das deformações devido ao
carregamento, a sucção foi aumentada por estágio até 1.500 kPa (trecho BC), seguida de
redução até 50 kPa (trecho CD). Cada estágio de sucção foi mantido até a estabilização
das deformações resultantes. Após a estabilização das deformações na sucção de 50
kPa, a tensão foi aumentada até 1.335 kPa (trecho DE) e reduzida até 10,4 kPa (trecho
EF).

A estabilização das deformações para cada estágio de sucção foi observada pela
variação da altura do corpo de prova em função da raiz do tempo. A Figura IV.29
210

apresenta as curvas ΔH (mm) versus Raiz de t para o ensaio na profundidade de 1,5 a


1,8 m. No trecho de aumento da sucção (secagem) a estabilização ocorreu num tempo
máximo de 4 dias, enquanto no trecho de umedecimento este tempo, em geral, foi
superior a 8 dias.

C
Ensaio
EDSV
Sucção (kPa)

D
F E
A
σvoB σv
Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.28. Caminho de tensão para o ensaio EDSV.

IV.6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

IV.6.1 Ensaios EDSC

Na Tabela IV.7 apresentam-se as condições iniciais e finais de cada corpo de


prova dos ensaios EDSC (carregamento e descarregamento de σv sob sucção constante).
Como se pode perceber, os teores de umidade no final de cada ensaio foi sempre
superior ao teor de umidade inicial de cada corpo de prova. Tais resultados são
esperados, uma vez que a sucção do solo na época de coleta das amostras foi cerca de
10 vezes a máxima alcançada nos ensaios EDSC.
211

-0.05
-0.04 Prof.(m): 1,5 a 1,8m

Deslocamento Vertical (mm)


-0.03
-0.02
-0.01
0
0.01
0.02
0.03
0.04
0.05
0.06
0 30 60 90 120 150

Raiz de t (min)
25 kPa 50 kPa
100 kPa 200 kPa
400 kPa 800 kPa
1500 kPa 800kPa (Umedecimento)
400 kPa (Umedecimento) 200 kPa (Umedecimento)
100 kPa (Umedecimento) 50 kPa (Umedecimento)

Figura IV.29. Curvas de estabilização dos estágios de sucção no ensaio EDSV para a
amostras referentes a profundidade de 1,5 a 1,8m.

Tabela IV.7. Condições inicial e final dos corpos de prova referentes aos ensaios EDSC.

CONDIÇÕES DOS CORPOS DE PROVA

INICIAL FINAL
Amostra Ensaio CP (ua-uw)
Prof. (m) Tipo Nº kPa Wo γso So Wf γsf
eo ef Sf
(%) kN/m3 (%) (%) kN/m3
3e4 74 50 1,91 15,5 0,70 7,2 3,11 17,1 0,54 15,0
(1,0-1,3) 75 100 2,12 15,4 0,71 7,8 2,59 16,6 0,59 11,8
EDSC
Camada 76 500 1,35 15,5 0,71 5,1 2,08 16,7 0,59 9,4
I 77 1500 1,79 15,6 0,69 6,9 2,38 16,3 0,62 10,2
5e6 78 50 2,0 16,0 0,65 8,1 4,35 17,7 0,50 23,2
(1,5-1,8) 79 200 1,36 15,9 0,67 5,4 3,64 17,3 0,53 18,2
EDSC
Camada 80 500 2,14 16,4 0,61 9,2 4,00 17,4 0,52 20,3
II 81 1000 2,54 15,9 0,66 10,1 3,01 16,4 0,61 13,0
7e8 82 50 2,0 16,5 0,60 8,8 4,56 17,6 0,50 24,3
(2,0-2,3) 83 200 2,18 16,9 0,56 10,3 3,21 18,0 0,47 18,1
EDSC
Camada 84 500 3,46 17,2 0,54 17,1 5,49 17,9 0,48 30,4
II 85 1000 2,24 15,9 0,66 8,9 3,00 16,4 0,60 11,9
212

A partir das condições finais de cada corpo de prova (ef e Sf) foram calculadas as
correspondentes umidades volumétricas (θ). Os valores de θ e das sucções
correspondentes a cada corpo de prova encontram-se na Tabela IV.8. Na Figura IV.30
estão apresentadas as curvas características das correspondentes amostras, onde foram
adicionados os dados experimentais dos ensaios EDSC. Nesta Figura, os dados
experimentais das curvas características correspondem ao trecho de umedecimento.

Tabela IV.8. Umidade volumétrica final dos corpos de prova dos ensaios EDSC.
Amostra CP ua - uw Umidade
Prof.(m) No (kPa) Volumétrica (θ)
74 50 0,053
3e4
75 100 0,044
(1 a 1,3m)
76 500 0,035
Camada I
77 1500 0,039
78 50 0,077
5e6
79 200 0,063
(1,5 a 1,8m)
80 500 0,069
Camada II
81 1000 0,049
82 50 0,081
7e8
83 200 0,058
(2 a 2,3m)
84 500 0,099
Camada II
85 1000 0,045

Na maioria das amostras (Figura IV.30), os dados experimentais dos ensaios


EDSC posicionam-se próximos aos dados experimentais da curva característica, embora
abaixo da curva ajustada de acordo com VAN GENUTCHEN (1980). A exceção ocorre
nos ensaios correspondentes a amostra limitada pela profundidade de 1,5 a 1,8 m da
Camada II (Figura IV.30b), cujos resultados dos ensaios EDSC posicionam-se sobre ou
acima da curva ajustada.
Vale lembrar que, além da granulometria, a forma da curva característica
depende da estrutura do solo. A estrutura das amostras onde se obteve a curva
característica não é a mesma dos ensaios edométricos, os quais foram submetidos a uma
tensão de até 1.335 kPa.
Dados experimentais apresentados por CHARLES e PANG (2000) mostram
que, para um mesmo solo, as curvas características de amostras mais densas
posicionam-se acima das curvas de amostras menos densas. Portanto, era de se esperar
que os resultados dos ensaios EDSC posicionassem acima da curva ajustada e dos dados
experimentais das curvas características, não abaixo.
213

0.45
Van Genutchen (1980)
0.4
Ensaios EDSC

Umidade Volumétrica,
0.35
Curva Característica
0.3
Prof.(m): 1,0 a 1,3m
0.25

0.2

0.15

0.1

0.05 (a)
0
0.01 0.1 1 10 100 1000 10000 100000
0.4
Van Genutchen (1980)
0.35
Ensaios EDSC
Umidade Volumétrica,

0.3
Curva Característica
0.25
Prof. (m): 1,5 a 1,8m
0.2

0.15

0.1

0.05
(b)
0
0.01 0.1 1 10 100 1000 10000 100000
0.4
Van Genutchen (1980)
0.35
Ensaios EDSC
Umidade Volumétrica,

0.3
Curva Característica
0.25

0.2 Prof.(m): 2,0 a 2,3m

0.15

0.1

0.05
(c)
0
0.01 0.1 1 10 100 1000 10000 100000

Sucção (kPa)

Figura IV.30. Comparação entre sucção e umidade volumétrica final dos corpos de
prova dos ensaios EDSC com a curva característica do solo.
214

Por tratar-se de uma areia siltosa com poucos finos, a faixa de sucção
correspondente ao trecho residual é muito ampla, começando em sucções muito baixas.
Uma vez que foi empregada a técnica do papel filtro na determinação da curva
característica, é possível que a transferência da água do solo para o papel na faixa de
sucção adotada no nos ensaios EDSC tenha ocorrido, em grande parte, na forma de
vapor. Nestas situações a sucção matricial tende a se equiparar à sucção total, quando se
adota esta técnica (FREDLUND e XING, 1994; HOUSTON et al., 1994). Nos ensaios
edométricos, a sucção é imposta pela diferença da pressão do ar na câmera da célula e
da pressão da água (ua-uw) na base, que é, por definição, a sucção matricial e menor do
que a total. Tal fato pode ser uma justificativa do posicionamento dos dados
experimentais dos ensaios EDSC abaixo dos dados experimentais da curva
característica.

A amostra entre 1,0 a 1,3 m (Figura IV.30a) possui menor teor de finos. Apesar
da compressão sofrida pelo solo durante o ensaio, a granulometria neste caso pode ter
um papel dominante na definição da curva característica. Na amostra correspondente a
profundidade entre 1,5 a 1,8 m, há maior teor de finos e a alteração da estrutura pode ter
exercido um papel importante no posicionamento dos dados dos ensaios EDSC em
relação aos da curva característica.

Os ensaios referentes à amostra entre 2,0 e 2,3 m da Camada II (Figura IV.30c)


apresentaram considerável divergência com os resultados da curva característica.
Suspeita-se que nestes ensaios tenham ocorrido problemas na estabilização da sucção.
Estes ensaios correspondem à última série de ensaios EDSC. Durante esta série houve
vazamento em algumas mangueiras que interligam o reservatório de água à base da
célula. Estes vazamentos ocorreram durante o período noturno, o que resultou na perda
de duas bombas submersas adaptadas para auxiliar na remoção de bolhas na base da
célula. Uma vez que o fato ocorrera com os estágios de carregamento em curso, a única
providência possível foi repor a água nos reservatórios e restabelecer a circulação da
água na base da célula através da instalação de novas bombas. Portanto os resultados
dos ensaios EDSC dessa amostra devem ser considerados com ressalvas.

Nas Figuras IV.31, IV.32 e IV.33 apresentam-se as curvas e versus σv log e εv


versus σv log referentes a cada ensaio. Mais uma vez fica evidente a heterogeneidade do
solo. Em geral, ao comparar as deformações volumétricas (Figuras IV.31b a IV.33b), o
solo torna-se mais compressível a medida que a sucção é reduzida e tende a convergir
215

0.80
CP07-EDI CP08-EDI
CP74-S=50kPa CP75-S=100kPa
0.75 CP76-S=500kPa CP77-S=1500kPa

Prof.(m): 1,0 a 1,3


Índice de Vazios 0.70

0.65

0.60

0.55

0.50

0.45
1 10 100 1000 10000
-5
CP07-EDI CP08-EDI
CP74-S=50kPa CP75-S=100kPa
-3
CP76-S=500kPa CP77-S=1500kPa
Deformação Volumétrica (%)

-1 Prof. (m): 1,0 a 1,3

11
1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.31. Resultados de ensaios edométricos EDSC na amostra de 1 a 1,3m: a)


curvas e versus σv log; b) curvas εv versus σv log.
216

0.75
CP13-EDI CP14-EDI
CP78-S=50kPa CP79-S=200kPa
0.70 CP80-S=500kPa CP81-S=1000kPa

0.65
Índice de Vazios

0.60

0.55

0.50

0.45
(a)
Prof.(m): 1,5 a 1,8
0.40

-5
CP13-EDI CP14-EDI
-3 CP78-S=50kPa CP79-S=200kPa
CP80-S=500kPa CP81-S=1000kPa
-1
Deformação Volumétrica (%)

11

13
Prof.(m): 1,5 a 1,8 (b)
15
1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.32. Resultados de ensaios edométricos EDSC na amostra de 1,5 a 1,8m: a)


curvas e versus σv log; b) curvas εv versus σv log .
217

0.75
CP19-EDI CP20-EDI
CP82-S=50kPa CP83-S=200kPa
0.70
CP84-S=500kPa CP85-S=1000kPa

Índice de Vazios 0.65

0.60

0.55

0.50

0.45

0.40
Prof. (m): 2 a 2,3 (a)
0.35

-5
CP19-EDI CP20-EDI
-3 CP82-S=50kPa CP83-S=200kPa
CP84-S=500kPa CP85-S=1000kPa
Deformação Volumétrica (%)

-1
Prof.(m): 2 a 2,3
1

11
(b)
13
1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.33. Resultados de ensaios edométricos EDSC na amostra de 2 a 2,3m: a)


curvas e versus σv log; b) curvas εv versus σv log.
218

para os ensaios sob sucção 0 kPa (EDI), conforme esperado. Portanto, seguem padrão
semelhante aos ensaios convencionais umedecidos com vapor d’água, EDN* (Figura
IV.10). A exceção ocorreu na amostra de 2,0 a 2,3 m (Figura IV.33b), o que reforça a
hipótese de que tenha ocorrido algum problema na estabilização da sucção nestes
ensaios.

Das curvas e versus σv log (Figuras IV.31 a IV.33) foram determinadas as

tensões de escoamento [σvm(s)] para cada valor de sucção e os parâmetros de

compressibilidade Cc e Cs, referentes ao trecho virgem ao trecho de descarregamento.


Nos ensaios onde foi realizado um ciclo de descarregamento-recarregamento,
determinou-se também o Cr. A partir dos valores de Cc e Cs foram determinados os
parâmetros de compressibilidade λ(s) e κ(s) através das Equações IV.2 e IV.3, os quais
são utilizados nos modelos elastoplásticos apresentados no Capítulo II. Estes resultados
encontram-se resumidos na Tabela IV.9.

Tabela IV.9 Parâmetros de compressibilidade e tensões de escoamento dos ensaios


EDSC.

PARÂMETROS DO SOLO
Amostra Ensaio CP (ua-uw)
Prof. (m) Tipo Nº kPa σvm(s)
Cc Cs Cr λ(s) κ(s)
(kPa)
07 0 13 0,067 0,007 ---- 0,029 0,003
EDI
3e4 08 0 8 0,06 0,007 ---- 0,026 0,003
74 50 33 0,083 ----- 0,002 0,036 ----
(1-1,3)
75 100 50 0,085 0,003 0,001 0,037 0,001
Camada 0,122 0,053
EDSC 76 500 130 0,003 0,0001 0,001
I 0,092 0,044
0,053 0,023
77 1500 200 0,001 0,0007 0,0005
0,064 0,028
5e6 13 0 27 0,081 0,002 ---- 0,035 0,001
EDI
14 0 31 0,117 0,014 ---- 0,051 0,006
(1,5-1,8)
78 50 157 0,152 0,003 0,0006 0,066 0,003
Camada 79 200 192 0,129 0,001 0,0003 0,056 0,0004
EDSC
II 80 500 348 0,117 0,003 0,0003 0,051 0,0012
81 1000 406 0,092 0,004 ---- 0,040 0,002
7e8 19 0 38 0,122 0,005 ---- 0,043 0,002
EDI
20 0 88 0,124 0,009 ----- 0,054 0,004
(2-2,3) 82 50 232 0,101 0,01 0,0009 0,044 0,004
Camada 83 200 290 0,097 0,006 0,002 0,042 0,0026
EDSC
II 84 500 219 0,062 0,006 ---- 0,027 0,0026
85 1000 400 0,07 0,004 0,001 0,031 0,0017
219

λ(s) = Cc/2,3 IV.2

κ(s) = Cs/2,3 IV.3

Alguns ensaios referentes à amostra entre 1,0 e 1,3 m de profundidade (Camada


I) apresentaram não linearidade no trecho virgem, o qual se ajustou a dois segmentos de
reta. Nestes casos determinaram-se os parâmetros de compressibilidade para cada
segmento.

IV.6.1.1 Tensão de Escoamento

Na Figura IV.34 apresenta-se a variação da tensão de escoamento, σvm(s), com a

sucção, ou curvas de escoamento LC experimental. Os incrementos nas sucções


provocam aumentos cada vez menores nos valores de σvm(s). Tal comportamento se
ajusta bem ao padrão proposto por ALONSO et al. (1990), induzindo a uma função do
tipo exponencial, onde há uma tensão de escoamento a partir da qual a sucção tenderá
ao infinito. Observa-se também uma curva mais aberta à medida que aumenta a
profundidade da amostra, o que pode ser explicado pelo aumento no teor de finos.

No caso da amostra entre 2 a 2,3 m (Camada II), observa-se (Figura IV.34) uma
curvatura da LC mais abrupta, quando comparada com as demais amostras, com menor

diferença entre os valores de σvm(s). Tal fato reforça a possibilidade da sucção não ter

alcançado a completa estabilização nestes ensaios, conforme comentado anteriormente.


Nesta amostra, o ensaio na sucção de 500 kPa (CP84) não apresentou uma curva bem
definida (Figura IV.33), dificultando a determinação dos parâmetros do solo. Na Figura
IV.34, o resultado desta amostra posicionou-se fora da tendência definida pelos demais
resultados. É possível que tenha ocorrido algum problema não detectado durante a
realização deste ensaio, além do já mencionado. Portanto, o resultado do ensaio na
sucção de 500kPa não será considerado na determinação dos parâmetros das equações
constitutivas dos modelos elastoplásticos, que serão abordados mais adiante.

Conforme apresentado no Capítulo II, estas curvas (Figura IV.34) representam


um estado limite entre o comportamento elástico e o comportamento elastoplástico do
solo. Qualquer variação no estado de tensão dentro deste limite deverá resultar em
220

1600
Prof.(m): 1,0 a 1,3
1400
Prof.(m): 1,5 a 1,8
Prof.(m): 2,0 a 2,3

Sucção Matricial (kPa)


1200

1000

800

600 ?

400

200

0
0 100 200 300 400 500

Tensão de Escoamento (kPa)

Figura IV.34. Variação da tensão de escoamento com a sucção – Curvas de escoamento


LC experimentais.

deformações volumétricas elásticas. Na maioria dos ensaios EDSC, houve um


ciclo de descarregamento e recarregamento quando a tensão vertical alcançava uma
tensão em torno da tensão geostática (σvo). Procurou-se representar estes estágios de
tensão no plano (σv, s), juntamente com a LC experimental da referente amostra.

Nas Figuras IV.35, IV.36 e IV.37 estão apresentados os resultados no espaço


(σv, s) dos ensaios EDSC referente ao trecho de descarregamento e re-carregamento

para cada amostra. Estão também nestas Figuras as curvas εv versus σv log

correspondentes a este trecho.

Como se pode perceber, em todos ensaios os caminhos de tensões seguidos neste


trecho encontram-se dentro do espaço elástico (Figuras IV.35a a IV.37a). Entretanto, as

curvas εv versus σv log (Figuras IV.35b a IV.37b) mostram, em quase a totalidade dos

resultados, deformação permanente após o descarregamento, o que é típico de


comportamento plástico. Apenas no ensaio correspondente a sucção de 1.000 kPa na
amostra de 2 a 2,3m (Figura IV.37b) o solo apresenta comportamento elástico, com
recuperação total das deformações no final do descarregamento.
221

1600

1400
S=50kPa
1200
Sucção Matricial (kPa)
S=100kPa
S=500kPa
1000
S=1500kPa

800 Prof.(m): 1 a 1,3m

600

400

200
(a)
0
1 10 100 1000
0
Tensão Vertical (kPa)
S=50kPa
0.2
S=100kPa
Deformação Volumétrica (%)

0.4 S=500kPa

S=1500kPa
0.6

0.8

1.2

1.4
(b)
1.6
1 10 100 1000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.35. Ampliação do trecho de descarregamento e re-carregamento dos ensaios


EDSC: a) caminho seguido no espaço (σv, s); b) curvas εv versus σv log - Amostra entre
1,0 a 1,3m (Camada I).
222

1200
S=50kPa
S=200kPa
1000
S=500kPa
Sucção Matricial (kPa)
800
1,5 a 1,8m

600

400

200

(a)
0
1 10 100 1000
0
Tensão Vertical (kPa)
S=50kPa

0.1 S=200kPa
Deformação Volumétrica (%)

S=500kPa
0.2

0.3

0.4

0.5

(b)
0.6
1 10 100 1000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.36. Ampliação do trecho de descarregamento e recarregamento dos ensaios

EDSC: a) caminho seguido no espaço (σv, s); b) curvas εv versus σv log - Amostra entre

1,5 a 1,8 m (Camada II).


223

1400
S=50kPa
2 a 2,5m
1200 S=200kPa
S=500kPa

Sucção Matricial (kPa) 1000

800

600

400

200
(a)
0
1 10 100 1000
-0.2
Tensão Vertical (kPa)
S=50kPa
-0.1
S=200kPa
Deformação Volumétrica (%)

0
S=1000kPa
0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7
(b)
0.8
1 10 100 1000

Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.37. Ampliação do trecho de descarregamento e re-carregamento dos ensaios

EDSC: a) caminho seguido no espaço (σv, s); b) curvas εv versus σv log - Amostra entre

2 a 2,3 m (Camada II).


224

Comportamento semelhante foi observado por FUTAI (1997) num solo


colapsível argiloso do Mato Grosso. Este autor atribuiu como causa as incertezas no
valor da tensão de escoamento, a qual deveria ser inferior do que os valores encontrados
através do método de Casagrande, na ocasião adotado como padrão na determinação de
σvm(s).

É possível que incertezas com respeito ao valor da tensão de escoamento possam


ocorrer quando são utilizados os métodos gráficos de Casagrande ou Pacheco Silva.
Entretanto, como se pode perceber nas Figura IV.35 a IV.37 as curvas de escoamento
LC encontram-se muito distantes do máximo valor de σv alcançado no referido trecho,
especialmente nas sucções mais elevadas (500 a 1.500kPa), para justificar que o
comportamento plástico possa estar associado a uma sobrestimativa da tensão de
escoamento.

Solos colapsíveis são, por natureza, sensíveis aos procedimentos de amostragem


e manuseio das amostras na preparação dos corpos de prova. Por mais cuidadosa seja a
cravação dos anéis, alguma perturbação provocada pelo próprio acabamento
(nivelamento da superfície do corpo de prova) permanecerá na superfície dos corpos de
prova. É possível que as deformações permanentes no primeiro ciclo de
descarregamento estejam associadas mais a efeitos de perturbação do que mesmo ao
deslocamento da LC. Os colapsos observados nos ensaios edométricos convencionais
inundados (EDI) sob uma tensão mínima de 1,25 kPa é um forte indício disso. Além
disso, nesta faixa de tensão, os erros de calibração tendem a ser mais significativo,
podendo também influenciar, significativamente, nas deformações medidas.

Uma outra justificativa pode estar associada a alguma perda de pressão do ar


durante o carregamento. A membrana não é totalmente impermeável ao ar (ver
Apêndice C), o que requer ajustes periódicos da pressão. Isto é feito manualmente, já
que os equipamentos utilizados nestes ensaios não dispõem de um sistema automático
de ajuste. Em sucções muito altas, a sensibilidade dos manômetros é reduzida e, uma
vez que os ajustes são feitos em função das reduções nas pressões, verificadas
visualmente, é possível que alguma carga aplicada para conter o empuxo venha a ser
transmitida à amostra. Todavia, em sucções muito baixas, tanto a variação na pressão
quanto a carga adicional para conter o empuxo são pequenas para justificar tais
deformações. Além disso, a cada carga adicional, as pressões nos manômetros eram
225

previamente ajustadas. A princípio, a primeira justificativa é mais plausível já que


mostra-se coerente com os dados dos ensaios convencionais.

IV.6.1.2 Parâmetros de compressibilidade λ(s) e κ(s)

Nas Figuras IV.38 e IV.39 apresentam-se a variação dos parâmetros λ(s) e κ(s)
em função da sucção, respectivamente.

Nas amostras referentes às profundidades de 1 a 1,3m (Camada I) e 1,5 a 1,8m


(Camada II), inicialmente, λ(s) (Figura IV.38a e b) aumenta com a sucção, alcança um
valor máximo nas sucções de 500kPa e 50kPa, respectivamente, e torna a decrescer. Na
amostra entre 2 a 2,3 m (Figura IV.38c) o comportamento de λ(s) é sempre de redução
com o aumento da sucção. De acordo com o modelo elastoplástico de FUTAI (1997) é
previsível o aumento de λ(s) ou Cc com a sucção, desde que as tensões sejam elevadas o
suficiente para alcançar a Região III da curva de compressão, conforme a Figura II.31
apresentada no Capítulo II. Vários resultados da literatura (WHEELER e
SIVAKUMAR, 1995; FUTAI, 1997; MACHADO e VILAR, 1997) confirmam o
comportamento crescente de λ(s) com a sucção. O comportamento de λ(s) decrescente
com o aumento da sucção pode ser atribuído ao fato da tensão máxima do ensaio não ter
alcançado a Região III da curva de compressão, considerada por FUTAI (1997) como
sendo o trecho virgem propriamente dito.

Com respeito ao parâmetro κ(s), em geral, o comportamento foi de redução com


o aumento da sucção (Figura IV.39). Comportamento semelhante foi observado por
FUTAI (1997). A exceção ocorreu na amostra entre 1,5 a 1,8 m (Camada II), onde os
valores de κ(s) não indicam com clareza alguma tendência de variação deste parâmetro
com a sucção. ALONSO et al. (1990) admitem a dependência de κ(s) com a sucção,
porém para fins de simplificação, este parâmetro foi considerado constante na
formulação das equações constitutivas do modelo desses autores. Uma vez que o solo
torna-se mais rígido com o aumento da sucção é previsível que as deformações no
trecho elástico da curva de compressão sejam menores e, por conseqüência, também

κ(s). Todavia, como se pode perceber na Tabela IV.9, os valores de κs(s) para o solo em

estudo (0,001 a 0.004) são muito baixos. Portanto, considerá-lo constante não resultará
226

0.07
Prof.(m): 1,0 a 1,3
0.06

0.05

0.04
(s)
0.03

0.02

0.01
(a)
0
0.07

0.06
Prof.(m): 1,5 a 1,8

0.05

0.04
(s)

0.03

0.02

0.01
(b)
0
0.07
Prof.(m): 2 a 2,3
0.06

0.05

0.04
(s)

0.03

0.02

0.01
(c)
0
0 400 800 1200 1600

Sucção Matricial (kPa)

Figura IV.38. Variação do parâmetro λ(s) com a sucção: a) amostra entre 1 a 1,3 m
(Camada I); b) amostra entre 1,5 a 1,8m (Camada II); e c) amostra entre 2 a 2,3m
(Camada II).
227

0.005
Prof.(m): 1,0 a 1,3
0.004

0.003

κ (s)
0.002

0.001

(a)
0
0.005
Prof.(m): 1,5 a 1,8
0.004

0.003
κ (s)

0.002

0.001

(b)
0

0.005
Prof.(m): 2 a 2,3
0.004

0.003
κ (s)

0.002

0.001

(b)
0
0 400 800 1200 1600

Sucção Matricial (kPa)

Figura IV.39. Variação do parâmetro κ(s) com a sucção: a) amostra entre 1 a 1,3m
(Camada I); b) amostra entre 1,5 a 1,8m (Camada II); e c) amostra entre 2 a 2,3m
(Camada II).
228

em erro apreciável, do ponto de vista prático. Estes resultados também estão em acordo
com os observados nos ensaios convencionais, indicando que a expansão elástica devido
ao descarregamento da tensão seja pequena neste solo.

IV.6.2 Ensaios de Colapso CLRS

Na Tabela IV.10 apresenta-se as condições iniciais e finais dos corpos de prova


referentes aos ensaios CLRS (colapso com redução gradativa da sucção). Nas Figuras
IV.40, IV.41 e IV.42 estão apresentados os resultados desses ensaios nos planos (σv, s),
(σv, εv) e (s, εv) referentes a cada amostra. Na Figura IV.43 estão apresentadas as curvas
e versus σv log de cada ensaio.

Tabela IV.10.Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios CLRS.

CONDIÇÕES DOS CORPOS DE PROVA

INICIAL FINAL
Amostra Ensaio (ua-uw) CP σvi
Prof. (m) Tipo kPa Nº kPa wo γso So wf γsf
eo ef Sf
(%) kN/m3 (%) (%) kN/m3
3e4 CLRS 1500 a 0 86 60 0,95 15,6 0,69 3,6 18,4 17,1 0,55 87,6
(1,0 a 1,3)
Camada I CLRS 1500 a 0 87 80 1,86 15,8 0,71 7 18,9 17,4 0,52 96,2

5e6 CLRS 1500 a 0 88 100 2,15 15,7 0,68 8,4 17,3 17,5 0,49 91.4
(1,5 a 1,8)
Camada II CLRS 1500 a 0 89 160 2,35 16,6 0,59 10,5 12,8 18,3 0,45 76

7e8 CLRS 1500 a 0 90 160 2,09 17,3 0,54 10,5 13,7 18,1 0,38 94,9
(2,0 a 2,3)
Camada II CLRS 1500 a 0 91 250 2,30 16,6 0,59 10,2 14,4 18,8 0,40 94,8

O grau de saturação final dos corpos de prova (Tabela IV.10) variou entre 76% a
97%, numa média de 92%, superior ao que foi observado nos ensaios edométricos
convencionais inundados (EDI) e edométricos simples (EDS) (Tabelas IV.2 e IV.4).
Este fato pode ser justificado pela diferença entre as condições de drenagem dos ensaios
com sucção controlada e dos ensaios convencionais. A baixa permeabilidade da
membrana de celulose tende a impedir a drenagem do excesso de água sobre o corpo de
229

1600 1600
CP86 CP87
1400 1400
Sucção Matricial (kPa)
Tensão de Tensão de
1200 Inundação 1200 Inundação
σv i=63kPa 1000 σv i=83kPa
1000

800 800

600 LC 600 LC
Experimental Experimental
400 400
Prof.(m): Prof.(m):
200 1 a 1,3 200 1 a 1,3
(a) (b)
0 0
-1 1 10 100 1000 10000
-1 1 10 100 1000 10000
Deformação Volumétrica (%)

0
1 1

3 3

5 5

7 7

9 9

11 11
CP86 (c) CP87 (d)
13 13
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

-1 -1
Deformação Volumétrica (%)

1 1
Deformação em Deformação em
3 3
σv i=63kPa antes da σv i=83kPa antes da
5 redução da sucção 5 redução da sucção

7 7

9 9

11 11
CP86 (e) CP87 (f)
13 13
0 500 1000 1500 2000 0 500 1000 1500 2000

Sucção Matricial (kPa) Sucção Matricial (kPa)

Figura IV.40. Resultados de ensaios de colapso CLRS – Amostra entre 1 a 1,3m.


230

1600 1600

Sucção Matricial (kPa) 1400 1400 LC


LC
1200 Experimental
Experimental 1200

1000 1000

800 800

600 CP88 600 CP89


Tensão de Tensão de
400 400
Inundação Inundação
200 σv i=104kPa 200 σv i=167kPa
(a) (b)
0 0
-1 1 10 100 1000 10000
-1 1 10 100 1000 10000
Deformação Volumétrica (%)

1 1

3 3

5 5

7 7

9 9

11 11
CP88 (c) CP89 (d)
13 13
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

-1 -1
Deformação Volumétrica (%)

1 1
Deformação em Deformação em
3 3
σv i=104kPa antes da σv i=167kPa antes da
5 redução da sucção 5 redução da sucção

7 7

9 9

11 11
CP88 (e) CP89 (f)
13 13
0 500 1000 1500 2000 0 500 1000 1500 2000

Sucção Matricial (kPa) Sucção Matricial (kPa)

Figura IV.41. Resultados de ensaios de colapso CLRS – Amostra entre 1,5 a 1,8m.
231

1600 1600
Sucção Matricial (kPa) 1400 1400
LC LC
1200 Experimental 1200 Experimental

1000 1000
Prof.(m): Prof.(m):
800 2 a 2,3 800 2 a 2,3

600 CP90 600 CP91


Tensão de Tensão de
400 Inundação 400
Inundação
200 σv i=167kPa 200 σv i=261kPa (b)
(a)
0 0
-1,0 1 10 100 1000 10000
-1 1 10 100 1000 10000
Deformação Volumétrica (%)

0
1,5 2

4,0 4

6,5 7

9,0 9

11,5 12

CP90 (c) CP91 (d)


14,0 14
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

-1 -1
Deformação Volumétrica (%)

1 1

3 Deformação em 3
σv i=167kPa antes da Deformação em
5 5
redução da sucção σv i=261kPa antes da
7 7 redução da sucção

9 9

11 11
CP90 (e) CP91 (f)
13 13
0 500 1000 1500 2000 0 500 1000 1500 2000

Sucção Matricial (kPa) Sucção Matricial (kPa)

Figura IV.42. Resultados de ensaios de colapso CLRS – Amostra de 2 a 2,3m.


232

0,75 1
CP86 Prof. (m): 1 a 1,3 CP87
Tensão de Tensão de
0,7 Inundação 1
Inundação
σv i=63kPa
Índice de Vazios

σv i=83kPa
0,65 1

0,6 1

0,55 1

(a) (b)
0,5 1
0,7 1 10 100 1000 10000
1 1 10 100 1000 10000
CP88 CP89
0,65 Tensão de 1 Tensão de
Inundação Inundação
σv i=104kPa σv i=167kPa
Índice de Vazios

0,6 1

0,55 1

0,5 1

0,45 0
Prof.(m): 1,5 a 1,8 (c) Prof.(m): 1,5 a 1,8 (d)
0,4 0
0,6 1 10 100 1000 10000
1 1 10 100 1000 10000
CP90 CP91
Tensão de Tensão de
0,55 Inundação 1 Inundação
σv i=167kPa σv i=261kPa
Índice de Vazios

0,5 1

0,45 0

0,4 0

(e) Prof.(m): 2 a 2,3 (f)


0,35 0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.43. Curvas e versus σv log dos ensaios CLRS.


233

prova. Isto ficou evidenciado ao desmontar as células edométricas, onde verificou-se


que os CP encontravam-se submergidos, diferente do que foi observado nos ensaios
convencionais. A única exceção ocorreu no ensaio correspondente ao CP89, onde não
observou-se a submersão do mesmo. O excesso de água só era removido após a
desmontagem das células. Assim, ao retirar os pesos remanescentes, o solo tende a
absorver uma certa quantidade de água, resultando no aumento do teor de umidade
final.

Como se pode perceber nas Figuras IV.40a a IV.42a, as tensões verticais onde
ocorreram o umedecimento (σvi) estiveram sempre dentro do espaço elástico limitado
pela LC experimental. A redução da sucção dentro desse espaço deveria resultar sempre
em expansão elástica do solo, fato este que só foi verificado no ensaio correspondente
ao CP96 referente à amostra de 1,0 a 1,3m (Figura IV.40). Vale ressaltar que esta
amostra apresenta o menor teor de finos. Neste ensaio, a redução da sucção até 200kPa
resultou numa expansão elástica de 0,1% em relação à condição do corpo-de-prova no
início do umedecimento, como era de se esperar (Figura IV.40e). Ao reduzir para
100kPa,o estado de tensão ultrapassa o limite elástico definido pela LC e uma
compressão de 0,02% em relação ao início do umedecimento foi registrada. Nesta
última condição (s = 100 kPa) o estado de tensão encontra-se próximo dos limites da
LC, o que justifica a baixa compressão do solo.

Dada a baixa sensibilidade dos manômetros utilizados nos ensaios CLRS, a


redução da sucção do penúltimo ao último estágio variou entre 50 e 100kPa,
dificultando um melhor acompanhamento da contribuição da sucção na parcela das
deformações de colapso. Como se pode observar nas curvas características apresentadas
no Capítulo III, 50 kPa pode ser uma sucção suficientemente alta para conduzir o solo
ao início ou próximo do início do estágio residual, especialmente nas amostras mais
arenosas. Uma vez que na maioria destes ensaios a diferença de sucção entre o
penúltimo estágio e o último foi de 100 kPa, não foi possível obter dados suficientes
para avaliar a variação nas deformações de colapso com a sucção. Em outras palavras,
quase totalidade do colapso ocorre sempre quando a sucção é reduzida a 0 kPa. Este
acompanhamento permitiria definir o valor limite de sucção (indiretamente um grau de
saturação) onde a continuação do processo de umedecimento não resultaria em colapso
apreciável.
234

Nos demais ensaios, ao reduzir a sucção, a deformação resultante foi sempre de


compressão, porém pequenas quando estas ocorrem dentro do espaço elástico. Ao
ultrapassar o limite elástico (LC) as deformações são intensificadas. O ensaio referente
ao CP87 (Figura IV.40) da amostra entre 1 a 1,3m (Camada I) pode ser considerado um
bom exemplo disso. Neste ensaio o umedecimento ocorre na tensão de 83 kPa. Ao
reduzir a sucção de 1.500 para 500kPa, uma compressão de 0,25% foi registrada (Figura
IV.40f), embora esta variação tenha ocorrido dentro do espaço elástico definido pela
LC. Ao ultrapassar o limite elástico na sucção de 200 kPa, a deformações volumétricas
de compressão se acentuam, alcançando um valor da ordem de 1,2 % na sucção de 100
kPa, em relação à deformação no início do umedecimento. O colapso remanescente de
2,5 % ocorrerá sob sucção de 0 kPa.

Esta pequena compressão que ocorre dentro do espaço elástico na maioria dos
ensaios reforçam comentários anteriores (IV.5.2), podendo ser atribuída, em parte, a
perda de pressão do ar na célula durante o ensaio, permitindo que parte da carga
adicionada para combater o empuxo do pistão seja transmitida ao corpo de prova,
reduzindo ou anulando a expansão elástica do solo. Além disso, as tensões onde
ocorreram o umedecimento nos demais corpos de prova foram sempre superiores à
adotada no ensaio referente ao CP86. Vale ainda ressaltar que, experimentalmente, a
transição do comportamento elástico de um solo para o comportamento elastoplástico
não ocorre de forma tão abrupta, conforme previsto nos modelos elastoplásticos.
Portanto, é possível a ocorrência de deformações plásticas mesmo dentro do espaço
elástico definido pela LC.

Estes resultados mostram bom argumento entre os dados experimentais e o


comportamento previsto segundo o modelo conceitual de ALONSO et al (1987). Mostra
também que pequenas variações nos teores de umidade podem ser suficientes para
deflagrar o processo do colapso no solo em estudo.

Da Figura IV.43 foram determinados o coeficiente de colapso estrutural (i) e as


deformações específicas de colapso (εc). Na Tabela IV.11 apresentam-se as condições
iniciais dos corpos-de-prova, as condições dos corpos-de-prova no início do
umedecimento, o coeficiente de colapso estrutural (i) e as deformações específicas de
colapso (εc) obtidas a partir destes resultados. Os valores de i e εc foram similares aos
obtidos nos ensaios edométricos simples (Tabela IV.5) e sempre aumentando com a
tensão vertical de inundação σvi.
235

Tabela IV.11. Resumo dos resultados dos ensaios CLRS.

CONDIÇÕES DOS CP
RESULTADO
Amostra Ensaio (ua-uw) CP σvi Inicial
Início do
Prof. (m) Tipo kPa Nº kPa Umedecimento
i εc
wo γso γsi
eo ef (%) (%)
(%) kN/m3 kN/m3
3e4 CLRS 1500 a 0 86 60 0,95 15,6 0,69 15,6 0,69 3,15 3,15
(1,0 a 1,3)
Camada I CLRS 1500 a 0 87 80 1,86 15,5 0,71 15,53 0,70 3,69 3,67

5e6 CLRS 1500 a 0 88 100 2,15 15,7 0,68 15,8 0,68 2,10 2,08
(1,5 a 1,8)
Camada II CLRS 1500 a 0 89 160 2,35 16,6 0,59 16,72 0,58 4,99 4,99

7e8 CLRS 1500 a 0 90 160 2,09 17,3 0,54 17,5 0,51 3,16 3,13
(2,0 a 2,3)
Camada II CLRS 1500 a 0 91 250 2,30 16,6 0,59 17,1 0,54 4,58 4,43

Na Figura IV.44 as deformações de colapso obtidas a partir dos ensaios CLRS


são comparadas com os resultados dos ensaios EDS. Como se pode perceber, os
resultados dos ensaios CLRS se enquadram na tendência geral definida pelos ensaios
EDS. Estes resultados, a princípio, mostram que a velocidade de umedecimento neste
solo não terá influência significativa nas deformações de colapso, uma vez que nos
ensaios CLRS o umedecimento ocorre de forma muito lenta.

IV.6.3 Ensaios EDSV

Na Tabela IV.12 apresenta-se um resumo das condições iniciais e finais dos


corpos de prova dos ensaios EDSV. Na Figura IV.45 estão apresentados estes resultados
no espaço (σv, s), (σv, v) e (s, v), onde v é o volume específico (1+e).

Estes ensaios foram realizados com o objetivo obter os parâmetros de

compressibilidade λs e κs (Capítulo II). Nestes ensaios, as amostras foram previamente

umedecidas por capilaridade antes da moldagem dos corpos de prova. O caminho de

tensões consistiu de carregamento até uma tensão em torno de σvo, sob sucção s ≅0 kPa,

seguido de carregamento até 1.500 kPa e descarregamento até 50 kPa. Devido a


problemas de vazamento na pressão do ar, o caminho completo foi possível apenas no
ensaio da amostra limitada pela profundidade de 1,5 a 1,8 m (Camada II).
236

(%)
Ensaios EDS
8

c
Ensaios CLRS
7

Deformação de Colapso,
6 Prof.(m): 1 a 1,3
5
4
3
2
1
(a)
0
9 1 10 100 1000
(%)

Ensaios EDS
8
c

Ensaios CLRS
7
Deformação de Colapso,

6 Prof.(m): 1,5 a 1,8


5
4
3
2
1 (b)
0
1 10 100 1000
9
(%)

Ensaios EDS
8
c

Ensaios CLRS
7
Deformação de Colapso,

6 Prof.(m): 2 a 2,3
5
4
3
2
1
(c)
0
1 10 100 1000

Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura IV.44. Comparação das deformações de colapso obtidas a partir dos ensaios
edométricos simples (EDS) e edométricos com sucção controlada (CLRS).
237

Tabela IV.12. Condições iniciais e finais dos corpos de prova dos ensaios EDSV.

CONDIÇÕES DOS CORPOS DE PROVA

Amostra Ensaio Δ (ua-uw) INICIAL FINAL


CP
Prof. (m) Tipo Nº (kPa) wo γdo So wf γsf Sf
eo ef
(%) kN/m3 (%) (%) kN/m3 (%)
3e4
EDSV 92 25 a 200 20,2 16,1 0,64 82,7 3,66 17,2 0,54 17,9
(1,0 a 1,3)
5e6
EDSV 93 25 a 1500 a 50 19,6 16,3 0,62 83,3 3,45 18,3 0,44 20,7
(1,5 a 1,8)

Como se pode perceber na Tabela IV.12 o processo de umedecimento não foi


suficiente para os corpos de prova atingirem a saturação, estando os valores dos graus
de saturação iniciais próximos à média dos valores finais obtida a partir dos ensaios
convencionais EDI e EDS (Tabela IV.2 e IV.4). De qualquer modo, considerando os
teores de umidade dos perfis de sondagem apresentados no Capítulo III e de outros
resultados apresentados em FERREIRA (1995), obtidos em plena estação chuvosa,
dificilmente as condições iniciais desses corpos de prova serão alcançadas no campo
mediante eventos naturais (precipitações pluviométricas).

Os graus de saturação finais dos corpos-de-prova (Tabela IV.12) foram


próximos aos obtidos nos ensaios EDSC (Tabela IV.7) para o mesmo nível de sucção,
reforçando que os tempos de estabilização para as sucções adotadas foram satisfatórios.

Percebe-se nas Figuras IV.45c e d, que o solo apresenta considerável


compressão sob sucção 0 kPa e um nítido enrijecimento do solo após os ciclos de
secagem e umedecimento, tornando o solo menos compressível (Figura IV.45d). Não se
pode descartar que a compressão apresentada pelo corpo de prova sob sucção de 0 kPa
esteja associada a alguma perturbação do solo, pois as variações no volume específico
foram consideráveis, em relação outros ensaios.

Em nenhum ensaio o aumento da sucção (Figura IV.45e e f) indica com clareza

um ponto de escoamento capaz de caracterizar o parâmetro so (sucção máxima

alcançada pelo solo). Isto é previsível, pois nos ensaios EDSC a sucção máxima
aplicada (1.500 kPa) resultou em aumento de umidade, confirmando que a sucção no
campo é bem superior à máxima adotada nos ensaios. A inclinação da reta no trecho de
redução da sucção, no ensaio referente a amostra de 1,5 a 1,8 m (Camada II) é muito
semelhante ao do trecho de carregamento, havendo uma quase recuperação do volume
238

1600 1600
CP92 LC Prof.(m): CP93
1400 Experimental 1400
Sucção Matricial (kPa) 1,5 a 1,8
1200 Prof.(m): 1200 LC
1,0 a 1,3 Experimental
1000 1000

800 800

600 600

400 400

200 200
(a) (b)
0 0
1.58 1 10 100 1000 10000
2 1 10 100 1000 10000
CP92 CP93
1.56 2
Volume Específico (1 + e)

Prof.(m):
Prof.(m):
1.54 2 1,5 a 1,8
1,0 a 1,3
1.52 2

1.50 2

1.48 1

1.46 1

1.44 1
(c) (d)
1.42 1
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

1.54 2
CP92 CP93
Volume Específico (1 + e)

1.53 2 Prof.(m):
Prof.(m):
1,0 a 1,3 2 1,5 a 1,8
1.52

1.51 2

1.50 2

1.49 1
(e) (f)
1.48 1
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Sucção Matricial (kPa) Sucção Matricial (kPa)

Figura IV.45. Resultados dos ensaios EDSV.


239

específico (Figura IV.45f). Tal fato sugere que as deformações procederam-se no


espaço elástico. As diferenças existentes podem estar relacionadas a algum efeito de
histerese, embora não se tenha evidenciado, com clareza, este fato nas curvas
características (Capítulo III) ou a perturbação da amostra. Vale ressaltar que nos ensaios
para obtenção da curva característica, em nenhum momento o solo foi submetido a
umidades tão elevadas.

Considerando que as variações volumétricas devido à variação na sucção


ocorreram dentro do espaço elástico do solo, o único parâmetro obtido nestes ensaios foi

o κs, o que está de acordo com o que ocorre no processo do colapso, já que o caminho

seguido será sempre de umedecimento do solo. Portanto, nesta situação pouco sentido

há em se falar de λs e so, especialmente no semi-árido nordestino.

Os valores de κs obtidos encontram-se na Tabela IV.13 obtidos. Observa-se

semelhança entre estes valores com os parâmetro κ(s), apresentados na Tabela IV.9.
Estes resultados sugerem que a expansão elástica neste solo, quando submetido a um
processo de umedecimento ou secagem seja pequena para o solo em estudo, do ponto de
vista prático.

IV.6.4 Determinação dos parâmetros da superfície de escoamento (LC) dos


modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997)

A partir dos resultados dos ensaios EDSC e EDSV (Tabelas IV.9 e IV.13) foram
determinados os parâmetros dos modelos elastoplásticos propostos por ALONSO et al.
(1990) e por FUTAI (1997).

Tabela IV.13. Parâmetro ks obtidos dos ensaios EDSV.

Amostra Ensaio CP PARÂMETRO


Prof. (m) Tipo Nº κs
3e4
EDSV 92 0,0013
(1,0 a 1,3)
5e6
EDSV 93 0.004
(1,5 a 1,8)
240

Os parâmetros dos modelos foram obtidos por processo numérico utilizando um


programa que emprega o procedimento dos mínimos quadrados. O conjunto de
parâmetros selecionados para cada modelo foi aquele que resultasse no menor
coeficiente de determinação e estivesse dentro da realidade experimental dos ensaios.

Isso era obtido fixando os valores de p0*, κs, κ(0) ou κ, no caso de modelo de ALONSO

et al. (1990).

O procedimento acima foi aplicado apenas nas amostras referentes às


profundidades de 1,0 a 1,3 m (Camada I) e 1, a 1,8 m (Camada II). Na amostra entre 2,0
a 2,3 m (Camada II), o melhor conjunto de parâmetros obtidos se enquadraram fora da
realidade experimental. Uma vez que há dúvidas quanto à representatividade destes
ensaios, conforme discutido em IV.6.1, optou-se em desconsiderar estes resultados nas
análises seguintes.

O modelo de FUTAI (1997) pode ser ajustado para solos que apresentam
aumento ou redução de λ(s) com a sucção. A escolha do tipo de ajuste dependerá do
comportamento desse parâmetro com a variação da sucção, a ser avaliado com base nos
resultados dos ensaios. Uma vez que os resultados dos ensaios EDSC (Figura IV.38)
indicam valores superiores de λ(s) para sucções de até 500 kPa, em relação à condição
saturada, considerou-se no ajuste do modelo a função de λ(s) crescente.

Na Tabela IV.14 estão apresentados os conjuntos de parâmetros que melhor se


ajustaram aos dados experimentais e as funções relacionadas com a superfície de
escoamento, para ambos modelos. As respectivas funções associadas às superfícies de
escoamento estão representadas pelas Equações IV.4 a IV.13.

Nas Figuras IV.46 e IV.47 são comparados os resultados experimentais com os


ajustes dos modelos.

a) Modelo de ALONSO et al. (1990)

a.1) Amostra entre 1,0 e 1,3 m (Camada I)

⎛ 10 ⎞ ⎛ 0,0268 ⎞
po = 1,093 x10 −6 ⎜⎜ −6
⎟⎟ exp⎜⎜ ⎟⎟ IV.4
⎝ 1,093x10 ⎠ ⎝ λ ( s ) − 0,0017 ⎠
241

Tabela IV.14. Parâmetros dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997).

AMOSTRA
MODELO PARÂMETRO
Prof.(m)

ALONSO po*=10 kPa, λ(0) = 0,0285, κ = 0,0017,


et al. (1990) pc = 1,093x 10-6 kPa, r = 0,8525, β=0,0047 kPa-1
1,0 a 1,3 po*=10 kPa, pf = 2000 kPa, λ(0) = 0,0275, λ(∞)= 0,064
FUTAI
κ(0) = 0,003, κ(∞)= 0,0005, κs = 0,001, χ = 0,005,
(1997)
β = 0,00274
ALONSO po*=29,3 kPa, λ(0) = 0,05, κ = 0,002, pc = 1,092 x 10-6 kPa
et al. (1990) r = 0,8716, β=0,0062 kPa-1
1,5 a 1,8 po*=30 kPa, pf = 150000 kPa, λ(0) = 0,05, λ(∞)= 0,0719
FUTAI
κ(0) = 0,004, κ(∞)= 0,0008, κs = 0,004, χ = 0,005,
(1997)
β = 0,0055

λ ( s ) = 0,0285 (0,1475) exp (-0,0047 s) + 0,8525 IV.5

a.2) Amostra entre 1,5 e 1,8 m (Camada II)

⎛ 29,3 ⎞ ⎛ 0,048 ⎞
po = 1,092 x10 − 6 ⎜⎜ ⎟⎟ exp ⎜⎜ ⎟⎟ IV.6
⎝ λ (s) - 0,002 ⎠
-6
⎝ 1,092 x 10 ⎠

λ ( s ) = 0,05 (0,1284) exp (-0,0062 s) + 0,8716 IV.7

b) Modelo de FUTAI (1997)

b.1) Amostra entre 1,0 e 1,3 m (Camada I)

κ ( s ) = 0,003 + (− 0,0025)[1 - exp (-0,005 s)] IV.8

λ ( s ) = 0,0275 + (0,0365)[1 - exp (-0,00274 s)] IV.9


242

po ⎧ 1 ⎡ s + 100 ⎤ ⎫
= exp⎨ ⎢3 (λ (s) - 0,00275 ) − 2,303 (0,0275 - κ (s) ) − 0, 001 ln ⎬ IV.10
100 ⎩ λ (s) - κ (s) ⎣ 100 ⎥⎦ ⎭

b.2) Amostra entre 1,5 e 1,8 m (Camada II)

κ ( s ) = 0,004 + (− 0,0032) [1 - exp (- 0,005 s )] IV.11

λ ( s ) = 0,05 + (0,0219) [1 - exp (- 0,0055s )] IV.12


po ⎧ 1 ⎡ s + 100 ⎤ ⎫ IV.13
= exp ⎨
λ κ ⎢⎣7,31 (λ ( s) − 0,05) + (0,05 − κ ( s ) ) − 1,204(0,05 - κ (s) ) − 0,004 ln 100 ⎥⎦ ⎬
100 ⎩ (s) - (s) ⎭

Independente da amostra observa-se boa concordância dos resultados


experimentais com as curvas de escoamento previstas pelos modelos (Figuras IV.46a e
IV.46b; IV.47a e IV.47b). Na amostra de 1 a 1,3m (Figura IV.46) observa-se melhor
ajuste para a LC prevista pelo modelo de FUTAI (1997). Na amostra de 1,5 a 1,8m
(Figura IV.47) a qualidade dos ajustes foi equivalente.

Quanto ao parâmetro λ(s), a aproximação entre os resultados experimentais e a


previsão varia com o nível de sucção. Na amostra entre 1,0 a 1,3 m (Camada I), a qual
apresenta comportamento crescente de λ(s) até a sucção de 500 kPa, a discrepância
entre os resultados experimentais e o previsto pelo modelo de ALONSO et al. (1990) foi
grande nesta faixa de sucção, enquanto a previsão com base no modelo de FUTAI
(1997) foi bastante coerente. Na sucção de 1.500 kPa a melhor previsão se verifica no
modelo de ALONSO et al. (1990). Fato semelhante se observa na amostra entre 1,5 a
1,8 m (Camada II), embora com maior divergência entre as previsões e os resultados
experimentais, independentes do modelo.

As divergências entre os resultados experimentais e os previstos podem ser


justificadas pelas hipóteses, quanto à variação da rigidez, consideradas na elaboração de
cada modelo. O modelo de ALONSO et al. (1990) adota uma função decrescente do
parâmetro λ(s) com a sucção. Isto é válido quando o solo se encontra na Região II da
curva de compressão (Figura II.31 do Capítulo II). O modelo de FUTAI (1997) foi
elaborado para a Região III da curva de compressão, onde ocorre aumento de λ(s) com a
sucção. Portanto, nos ensaios onde a tensão máxima foi suficiente para alcançar a
Região III, tal como nos ensaios realizados na sucção de até 500 kPa da amostra entre
243

250 250
Tensão de Escoamento (kPa) Alonso et al. (1990) Futai (1997)
Experimental Experimental
200 200

Parâmetros: Parâmetros:
150 po* = 10 kPa 150 po* =10 kPa
λ(0) = 0,0285 pf = 2000 kPa
κ = 0,0017 λ(0) = 0,0275
100 pc = 1,093x10 -6 kPa 100 λ(inf) = 0,064
r = 0,8585 κ (0) = 0,003
β = 0,0047 kPa
-1 κ (inf.) = 0,0005
50 50 κ s = 0,001
χ = 0,005
Prof.(m): 1,0 a 1,3 (a) Prof.(m): 1,0 a 1,3 β = 0,00274 (b)
0 0
0 500 1000 1500 0 500 1000 1500
0.07 0.07
Alonso et al. (1990)
0.06 Experimental 0.06

0.05 0.05
(s)

0.04 0.04

0.03 0.03

0.02 0.02 Futai (1997)


(c) Experimental (d)
0.01 0.01
0 500 1000 1500 0 500 1000 1500

Sucção Matrical (kPa)


0.005
Futai (1997)
0.004 Experimental

0.003
(s)

0.002

0.001
(e)
0
0 500 1000 1500

Sucção Matricial (kPa)

Figura. IV.46. Parâmetros do solo ajustados segundo os modelos elastoplásticos


propostos por ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997) – amostra entre 1,0 e 1,3 m.
244

500 500
Alonso et al. (1990) Futai (1997)
Experimental
Tensão de Escoamento (kPa)
Experimental
400 400

Parâmetros: Parâmetros:
300 p o* = 29,3 kPa 300 p o* =30 kPa
λ(0) = 0,05 p f = 150000 kPa
κ = 0,002 λ(0) = 0,05
200 p c = 1,092x10 -6 kPa 200 λ(inf) = 0,0719
r = 0,8716 κ (0) = 0,004
β = 0,0062 kPa
-1 κ (inf.) = 0,0008
100 100 κ s = 0,004
χ = 0,005
Prof.(m): 1,5 a 1,8 (a) Prof.(m): 1,5 a 1,8 β = 0,0055 (b)
0 0
0 500 1000 1500 0 500 1000 1500
0.08 0.08
Alonso et al. (1990)
0.07 Experimental 0.07

0.06 0.06

0.05 0.05
(s)

0.04 0.04

0.03 0.03
Futai (1997)
0.02 0.02
(c) Experimental (d)
0.01 0.01
0 500 1000 1500 0 500 1000 1500

Sucção Matrical (kPa)


0.006
Futai (1997)
0.005
Experimental
0.004
(s)

0.003

0.002

0.001
(e)
0
0 500 1000 1500

Sucção Matricial (kPa)

Figura. IV.47. Parâmetros do solo ajustados segundo os modelos elastoplásticos


propostos por ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997) – amostra entre 1,5 e 1,8 m.
245

1,0 a 1,3 m, a função λ(s) definida pelo modelo de FUTAI (1997) se ajusta melhor aos
resultados experimentais. No caso onde a curva de compressão limitou-se à Região II, a
proposta de ALONSO et al. (1990) apresenta o melhor ajuste, com exemplo o ensaio na
sucção de 1.500 kPa da amostra de 1 a 1,3 m.

Apenas no modelo de FUTAI (1997) admite-se a variação do parâmetro κ em


função da sucção (κ(s)). Na amostra de 1,0 a 1,3 m (Figura IV.46e) a variação de κ(s)
prevista pelo modelo foi coerente com os resultados experimentais. Na amostra de 1,5 a
1,8 m (Figura IV.46e) esta comparação fica comprometida, uma vez que os próprios
resultados experimentais não indicam com clareza uma tendência de variação deste
parâmetro com a sucção.

IV.6.5 Previsão dos ensaios com sucção constante (EDSC)

Utilizando as funções da superfície de escoamento (LC) obtidas em IV.6.4


(Equações IV.4 a IV.13) procurou-se prever os resultados dos ensaios EDSC, segundo
os modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997). Os resultados destas previsões
encontram-se nas Figuras IV.48 e IV.49 para os ensaios referentes às amostras de 1,0 a
1,3 m e 1,5 a 1,8 m, respectivamente.

Independente da amostra (Figuras IV.48 e IV.49), na maioria das previsões o


modelo de FUTAI (1997) apresentou maior concordância com os resultados
experimentais do que o modelo de ALONSO et al. (1990). Apenas nos ensaios
realizados nas maiores sucções (1.000 e 1.500 kPa), a previsão segundo ALONSO et al.
(1990) mostrou-se mais satisfatórias do que as previsões pelo modelo de FUTAI (1997).
Isto se justifica pelo fato da curva de compressão dos ensaios realizados nas maiores
sucções ficaram limitadas à Região II, onde o parâmetro de rigidez λ(s) tende a reduzir
com o aumento da sucção, conforme prever ALONSO et al. (1990). Uma vez que a
compressão do solo além do limite de escoamento da LC é controlada pelo parâmetro
λ(s) é de se esperar que o modelo de ALONSO et al (1990) se ajustasse melhor a estes
resultados, já que os valores deste parâmetro previstos com base neste modelo foram
próximos aos obtidos diretamente dos ensaios para estas sucções (100 e 500 kPa).
246

1.76 1.76
Experimental Experimental
Alonso et al. (1990) Alonso et al. (1990)
Futai (1997) Futai (1997)
1.71 1.71
Volume Específico

1.66 1.66

1.61 1.61

1.56 CP 74 1.56 CP 75
(ua-uw) = 50kPa (ua-uw) = 100kPa

Prof.(m): 1 a 1,3 (a) Prof.(m): 1 a 1,3 (b)


1.51 1.51
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

1.76 1.76
Experimental Experimental
Alonso et al. (1990) Alonso et al. (1990)
Futai (1997) Futai (1997)
1.71 1.71
CP 77
(ua-uw) = 1500kPa
Volume Específico

1.66 1.66

1.61 1.61

1.56 CP 76 1.56
(ua-uw) = 500kPa

Prof.(m): 1 a 1,3 (c) Prof.(m): 1 a 1,3 (d)


1.51 1.51
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.48. Previsão do caminho de tensões dos ensaios edométricos EDSC através
dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997) – amostra de 1 a 1,3m.
247

1.76 1.76
Experimental Experimental
Alonso et al. (1990) Alonso et al. (1990)
1.71 Futai (1997) Futai (1997)
1.71
Prof.(m): 1,5 a 1,8 CP 78 Prof.(m): 1,5 a 1,8 CP 79
(ua-uw) = 50kPa
Volume Específico

1.66 (ua-uw) = 200kPa


1.66

1.61

1.61
1.56

1.56
1.51

(a) (b)
1.46 1.51
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

1.76 1.76
Experimental Experimental
Alonso et al. (1990) Alonso et al. (1990)
1.71 Futai (1997) 1.71 Futai (1997)

CP 80
Volume Específico

1.66 (ua-uw) = 500kPa 1.66

Prof.(m): 1,5 a 1,8

1.61 1.61

1.56 1.56

CP 81
1.51 1.51 (ua-uw) = 1000kPa
Prof.(m): 1,5 a 1,8
(c) (d)
1.46 1.46
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.49. Previsão do caminho de tensões dos ensaios edométricos EDSC através
dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997) – amostra de 1,5 a 1,8m.
248

IV.6.6 Previsão dos ensaios de colapso com redução gradativa da sucção (CLRS)

Serão apresentados os resultados das previsões dos ensaios CLRS através das
funções dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997). Conforme apresentado
e discutido em IV.6.2, o estado de tensão onde deu-se início ao umedecimento ocorreu
sempre dentro do espaço elástico da LC. As deformações durante o umedecimento do
solo podem ser calculadas em duas etapas. Quando a redução da sucção ocorre dentro
dos limites elástico, os modelos prevêem expansão do solo. Neste caso a variação na
deformação volumétrica será dada pela expressão:

ês ds
dv evs = IV.14
v (s + p atm )

Uma vez que o estado de tensão tenha alcançado o limite elástico, a deformação
de colapso pode ser calculada pela diferença entre as deformações plásticas do solo na
sucção (si) onde o estado de tensão alcança o limite elástico e na condição saturada,
segundo a expressão

åc =
[(ë(0) - ê(0)) − (ë(s i ) − ê(si ) )] dp IV.15
v p

Os resultados das previsões encontram-se na Figura IV.50. Independente do


modelo adotado as previsões foram similares. Este fato pode ser justificado uma vez que
o estado de tensão inicial se encontrava dentro do limite elástico, onde as deformações
de ambos modelos são muitos similares. O valor do κ médio adotado no modelo de
ALONSO et al. (1990) e o κ(s) adotado no modelo de FUTAI (1997) são muito
próximos, não resultando em diferenças significativas nas deformações elásticas. Na
condição inundada os modelos resumem-se ao Cam Clay Modificado e as deformações
plásticas serão iguais.
Nos ensaios referentes às amostras de 1,0 a 1,3 m (Figura IV.50a e b) os
colapsos previstos foram muito similares aos dos ensaios. As maiores divergências
ocorreram no trecho correspondente aos acréscimos de tensão na condição saturada, o
que pode ser uma conseqüência da própria heterogeneidade do solo. Na amostra de 1,5 a
1,8 m, as previsões mostram uma expansão máxima da ordem de 0,5 %, incompatível
com todos os resultados experimentais apresentados.
249

-2 -2
CP 86 CP 87
0 0
σvi = 62 kPa σvi = 83 kPa
Deformação Volumétrica (%)

2 Prof.(m): 1 a 1,3 2 Prof.(m): 1 a 1,3

4 4

6 6

8 8

10 10

12 12
Experimental Experimental
14 Alonso et al. (1990) 14 Alonso et al. (1990)
Futai (1997) (a) Futai (1997) (b)
16 16
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

-2 -2
Prof.(m): 1,5 a 1,8 CP 88
0 σvi = 104 kPa 0
Deformação Volumétrica (%)

2 2 CP 89
σvi = 167 kPa
4 4 Prof.(m): 1,5 a 1,8

6 6

8 8

10 10

12 12
Experimental Experimental
14 Alonso et al. (1990) 14 Alonso et al. (1990)
Futai (1997) (c) Futai (1997) (d)
16 16
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura IV.50. Previsão dos caminhos de tensões dos ensaios edométricos CLRS através
dos modelos de ALONSO et al. (1990) e FUTAI (1997).
250

Admitindo-se uma sucção constante de 10.000 kPa durante o carregamento,


procurou-se prever as deformações de colapso dos ensaios edométricos simples. Na
Figura IV.51 apresentam-se as deformações de colapso em função da tensão vertical de
inundação. As previsões foram satisfatórias apenas para uma faixa de tensão (entre 40 e
200 kPa na amostra de 1 a 1,3m e entre 80 e 200 kPa na amostra de 1,5 a 1,8m). Como
pode-se observar na Figura IV.50b, o modelo de FUTAI (1997) indica um valor de pico
na curva εc versus σvi log que não ficou caracterizado nos resultados experimentais. Tal
fato pode ser uma conseqüência da subestimativa da tensão de escoamento nas sucções
de 1000 e 1.500 kPa, uma vez que as tensões máximas nestes ensaios não foram
suficientes para alcançar a Região III da curva de compressão.

Embora os modelos elastoplásticos para solos não saturados mostrem-se uma


excelente ferramenta no entendimento do comportamento do solo, os resultados
apresentados sugerem que estes modelos são muito sensíveis às variações dos
parâmetros. A acurácia das previsões estará vinculada à qualidade dos ensaios (a
completa definição da curva de compressão) e ao grau de heterogeneidade do solo.

12 12
Experimental Experimental
(%)

10 Alonso et al. (1990) 10 Alonso et al. (1990)


Futai (1997)
c

Futai (1997)
Deformação de Colapso,

8 8 Prof.(m): 1,5 a 1,8


Prof.(m): 1 a 1,3
6 6

4 4

2 2

0 0
(a) (b)
-2 -2
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical de Inundação (kPa) Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura IV.51. Previsão das deformações de colapso através dos modelos de ALONSO et
al. (1990) e FUTAI (1997).
251

CAPÍTULO V

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

V.1. INTRODUÇÃO

É comum na literatura associar o colapso à redução de volume resultante do


rearranjo estrutural de um solo, quando este é submetido a um processo de
umedecimento. Todavia, quando se comparam resultados de provas de carga em solos
colapsíveis no estado natural e no solo pré-inundado, o que se verifica é uma substancial
redução na capacidade de carga do solo umedecido. Há casos onde a capacidade de
carga do solo natural ultrapassa em até três vezes a do solo umedecido. Um típico
exemplo pode ser encontrado em SILVA (1990). Dificilmente estas variações ocorrem
em outros solos que não apresentam comportamento colapsível. Se a capacidade de
carga de um solo está relacionada a sua resistência, é presumível de alguma forma, que
o colapso também assim estará.

Nesta pesquisa o estudo da resistência foi realizado com o objetivo principal de


avaliar a variação da capacidade de carga do solo com a sucção. Como objetivos
secundários os resultados serão utilizados, para avaliar propostas da literatura para
estimativa da resistência de um solo não saturado a partir da curva característica.
Fornecerão também, parâmetros a serem utilizados em modelos para solos não
saturados, permitindo assim, no futuro, análises mais elaboradas utilizando programas
numéricos.

Para se alcançar os objetivos descritos no parágrafo acima, foram realizados os


seguintes ensaios:

1. cisalhamento direto convencional e;

2. cisalhamento direto com sucção controlada.

Será apresentada uma síntese das metodologias adotadas nos ensaios, seguida da
apresentação e discussão dos resultados. A partir das equações de ajuste das curvas
características (Capítulo III) e dos resultados dos ensaios convencionais, na condição
inundada, será feita uma estimativa da resistência do solo sob diferentes valores de
252

sucção e comparada com os resultados experimentais. Com base nas equações


decorrentes da teoria da capacidade de carga e a partir dos resultados dos ensaios, será
feita uma estimativa da capacidade de carga para diferentes condições do solo.

V.2 METODOLOGIA DOS ENSAIOS

V.2.1 Ensaios de cisalhamento direto convencionais

Nos ensaios convencionais foi utilizada uma prensa de cisalhamento direto


produzida pela Ronald Top S/A, com sistema de cargas através de pesos em pendural.
Nas leituras dos deslocamentos verticais e horizontais foram utilizados extensômetros
da marca Mitutoyo, com sensibilidade de 0,01mm. A força horizontal foi determinada
através de um anel de carga. Foram utilizados corpos de prova com seção transversal
quadrada de dimensões de 2” (50,8mm) de lado e 20mm de altura.

Os ensaios foram realizados na condição inundada e na umidade natural. Quanto


aos procedimentos gerais, seguiu-se basicamente as recomendações de HEAD (1984).
Na maioria dos ensaios as tensões normais Vn foram 25, 50, 100, 200 e 300 kPa. As
tensões eram aplicadas em único estágio e o tempo de estabilização das deformações foi
sempre 60 min. Após a estabilização das deformações, iniciava-se o cisalhamento. A
velocidade adotada em ambas condições de ensaio foi 0,24 mm/min. Nos ensaios
inundados, o padrão adotado foi inundar o solo sob uma tensão Vn durante 24 horas,
estando o solo sujeto ao colapso nesta etapa. Neste caso, o cisalhamento só era iniciado
após esse tempo. Após o cisalhamento o ensaio era desmontado e determinada a
umidade final do corpo de prova. Os deslocamentos máximos adotados nos ensaios
variaram entre 10 e 11mm.

Com o objetivo de avaliar a influência do caminho de tensão nos resultados dos


ensaios inundados, numa série de ensaios na amostra de 1,0 a 1,3 m (Camada I), a
inundação foi feita apenas sob o peso do top-cap. Após 24 horas de inundação, o
carregamento era aplicado. Uma vez estabilizadas as deformações devidas ao
carregamento, o solo era cisalhado. Em outra série, nesta mesma amostra, seguiu-se o
padrão descrito no parágrafo acima. Nenhuma diferença significativa nos resultados foi
verificada, passando a adotar como padrão a inundação sob uma tensão Vn determinada.
253

V.2.2 Ensaios de cisalhamento direto com sucção controlada

Os ensaios com sucção controlada foram realizados nas amostras


correspondentes às profundidades entre 1,0 a 1,3m (Camada I) e 1,5 a 1,8m (Camada II).

O equipamento utilizado consiste de uma prensa convencional adaptada para


utilizar uma célula, que permite a imposição e controle da sucção através do princípio
de translação de eixos. A célula utilizada nesta pesquisa é idêntica àquela descrita em
ESCÁRIO e SAÉZ (1986). A pressão na célula é mantida por um sistema idêntico ao
dos ensaios edométricos com sucção controlada (membrana de celulose e graxa
envolvendo os pistões de transmissão da carga). As tensões são aplicadas através de um
sistema de pesos em pendural, idêntico ao da prensa convencional de cisalhamento
direto. Nas leituras dos deslocamentos verticais e horizontais foram utilizados
extensômetros da marca Mitutoyo com sensibilidade de 0,01mm. A força horizontal foi
determinada através de um anel de carga. Foram utilizados corpos de prova quadrados
com dimensões de 50 mm de lado e a 22 mm de altura.
Por se tratar de um solo arenoso, que poderia provocar rupturas da membrana,
evitou-se o contato direto entre a membrana e o solo, colocando entre eles um papel
filtro com as dimensões internas da caixa de cisalhamento. O corpo de prova moldado,
segundo o mesmo procedimento dos ensaios edométrícos (Apêndice C), era transferido
à caixa de cisalhamento, sobre o qual eram postas uma placa perfurada, uma pedra
porosa e uma a placa de transferência de carga.
A pressão do ar era aplicada apenas sob o peso da placa de transferência de
carga e mantida durante 15 dias (mesmo tempo adotado nos ensaios edométricos para
estabilização da sucção). As sucções adotadas foram 50, 200, 500 e 1000 kPa, exceto na
amostra de 1,0 a 1,3 m, na qual não foram realizados ensaios na sucção de 200kPa por
limitação de amostra. Após este prazo era aplicada tensão normal e acompanhadas as
deformações até ocorrer a estabilização. As tensões adotadas foram 50, 100, 200 e 300
kPa. Pelas mesmas razões dos ensaios edométricos (Apêndice C) as tensões eram
mantidas por no mínimo 24 horas, antes do iniciar o cisalhamento. Após a estabilização
das deformações os corpos de prova eram cisalhados, sob uma velocidade de 0,018
mm/min. O deslocamento máximo alcançado em cada ensaio foi 7mm, e o tempo de
duração em torno de 7 horas. Após o cisalhamento, desmontava-se o ensaio e
coletavam-se três amostras de solo para determinação do teor de umidade. Mais
detalhes sobre o equipamento utilizado pode ser encontrado em FERREIRA (1997).
254

V.2.3 Critério de ruptura

Nos ensaios de cisalhamento direto adotou-se como critério de ruptura os valores


de pico da tensão cisalhante ou os valores máximos, quando a curva tensão-deformação
não indicavam valores de pico bem definidos. Estes critérios são válidos tanto para os
ensaios convencionais quanto para os ensaios com sucção controlada.

V.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

V.3.1 Ensaios de cisalhamento direto convencionais

Na Tabela V.1 são apresentadas as condições iniciais de cada corpo de prova dos
ensaios convencionais. A sigla em asterisco na profundidade de 1 a 1,3 m refere-se ao
ensaio onde a inundação precedeu ao carregamento. Nas Figuras V.1 a V.5 são
apresentadas as curvas tensão cisalhante (W) versus deslocamento horizontal (dh) e
deslocamento vertical (dv) versus deslocamento horizontal (dh), referentes a todos
ensaios convencionais. Exceto na amostra correspondente a profundidade de 1 a 1,3m
(Figura V.2), nas demais amostras comparam-se os resultados dos ensaios na umidade
natural com os ensaios inundados.
Em média os índices de vazios (0,69 até 1,8m; 0,65 entre 2 e 2,3m e 0,48 entre
2,5 e 2,8 m) foram cerca de 7 % superiores aos obtidos nos ensaios edométricos (0,65
até 1,8m; 0,6 entre 2 e 2,3m; e 0,45 entre 2,5 e 2,8m). Este fato pode ser conseqüência
de algum efeito de borda, devido à forma dos moldadores (quadrados) utilizados nos
ensaios de cisalhamento direto, resultando em vazios nas interseções dos lados.
Nos ensaios inundados, as curvas W versus dh nem sempre indicam com clareza
comportamento de pico. Geralmente a tensão cisalhante aumenta até um valor máximo,
permanecendo constante com o aumento do deslocamento, típico de solos arenosos
fofos. Nas curvas dv versus dh o comportamento é sempre de compressão. Nas amostras
com profundidade inferior a 1,3 m (Figuras V.1a e V.2a) observa-se comportamento de
pico para tensões superiores a 100kPa, caracterizando um comportamento relativamente
mais denso na areia. Uma possível justificativa para este comportamento de pico pode
está associada à deformação de colapso que o solo apresenta durante a inundação,
aumentando com o acréscimo da tensão. Quanto maior o colapso, mais denso estará o
solo no início do cisalhamento.
255

Tabela V.1. Condição inicial dos corpos de prova dos ensaios de cisalhamento direto
convencionais.
Amostra Ensaio CONDIÇÃO INICIAL DOS CPs – ENSAIOS CONVENCIONAIS
Prof. (m) Tipo
CP Vn wo So
Js (kN/m3) eo
No (kPa) (%) (%)
01 25 0,47 15,6 0,70 1,8
1e2 02 50 0,65 16,1 0,65 2,7
(0,5-0,8) CDI 03 100 0,74 17 0,56 2,5
Camada I 04 200 0,74 15,2 0,75 2,5
05 300 0,66 15,9 0,66 2,7
06 50 1,87 16,1 0,64 7,7
07 100 1,04 15,9 0,71 3,9
CDI
08 200 1,51 15,4 0,71 5,6
3e4
09 300 0,72 15,6 0,69 2,8
(1 a 1,3)
10 50 0,71 15,8 0,67 2,8
Camada I
11 100 1,05 15,7 0,69 4,1
CDI*
12 200 0,86 15,1 0,75 3
13 300 1,29 ------ ------ ------
14 50 1,95 15,5 0,70 7,4
5e6
15 100 1,78 15,5 0,71 6,7
(1,5 a 1,6) CDI
16 200 1,91 15,7 0,66 7,4
Camada II
17 300 1,99 15,9 0,66 8
18 25 1,67 ----- ---- -----
7e8 19 50 2,84 16,7 0,58 12
(2 a 2,3) CDI 20 100 2,35 15 0,77 8,1
Camada II 21 200 ------ ----- ----- -----
22 300 1,86 16,2 0,63 7,7
23 25 2,77 17,8 0,48 15,2
9 24 50 3,49 17,5 0,51 17,5
(2,5 a 2,8) CDI 25 100 3,21 18 0,47 18
SPT > 50 26 200 3,61 17,8 0,48 19,7
27 300 3,26 17,9 0,48 18,1
28 25 0,46 15,4 0,72 1,7
1e2 29 50 0,38 15,3 0,73 1,4
(0,5 a 0,8) CDN 30 100 0,43 15,1 0,76 1,5
Camada I 31 200 0,44 15,4 0,72 1,6
32 300 0,45 15,6 0,70 1,7
33 50 1,3 17 0,55 6,2
5e6
34 100 1,15 16,1 0,64 4,7
(1,5 a 1,8) CDN
35 200 1,85 15,4 0,71 6,9
Camada II
36 300 2,02 14,80 0,79 6,7
37 25 1,84 16,2 0,63 7,8
7e8 38 50 1,73 15,9 0,66 7
(2 a 2,3) CDN 39 100 1,97 16,2 0,63 8,3
Camada II 40 200 1,56 16,1 0,64 6,5
41 300 1,73 16,2 0,63 7,3
42 25 2,78 18,2 0,45 16,4
9 43 50 2,71 17,7 0,49 14,5
(2,5 a 2,8) CDN 44 100 2,82 18,2 0,45 16,5
SPT > 50 45 200 2,5 17,9 0,48 13,8
46 300 1,55 17,1 0,54 7,5
256

350 350
CP01-25kPa CP02-50kPa CP28-25kPa CP29-50kPa
300 CP03-100kPa CP04-200kPa
300 CP30-100kPa CP31-200kPa
Tensão Cisalhante (kPa)...

CP05-300kPa CP32-300kPa
250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 4 8 12 0 4 8 12

0 0

0,15 0,15
Deslocamento Vertical (mm)

0,3 0,3

0,45 0,45

0,6 0,6

0,75 0,75

0,9 0,9

1,05 CP01-25kPa CP02-50kPa1,05


CP28-25kPa CP29-50kPa
CP03-100kPa CP04-200kPa
1,2 1,2 CP30-100kPa CP31-200kPa
CP05-300kPa CP32-300kPa
1,35 1,35
0 4 8 12 0 4 8 12

Deslocamento Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

a) Inundado – 0,5 a ,8m b) Umidade Natural – 0,5 a 0,8m

Figura V.1. Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 0,5 a 0,8m (Camada


I): a) ensaios inundados sob uma tensão Vn; b) ensaios na umidade natural.
257

300 300
CP06-50kPa CP07-100kPa CP10-50kPa CP11-100kPa

250 CP08-200kPa CP09-300kPa


250 CP12-200kPa CP13-300kPa
Tensão Cisalhante (kPa)...

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 4 8 12 0 4 8 12

0 0

0,15 0,15
Deslocamento Vertical (mm)

0,3 0,3

0,45 0,45

0,6 0,6

0,75 0,75

CP06-50kPa CP07-100kPa
0,9 0,9 CP10-50kPa CP11-100kPa
CP08-200kPa CP09-300kPa CP12-200kPa CP13-300kPa
1,05 1,05
0 4 8 12 0 4 8 12

Deslocamento Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

a) Inundado sob o top-cap – 1 a 1,3m b) Inundado sob Vn – 1 a 1,3m

Figura V.2. Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 1 a 1,3 m (Camada


I): a) ensaios inundados sob o top-cap; b) ensaios inundados sob uma tensão Vn.
258

400 400
CP14-50kPa CP15-100kPa CP33-50kPa CP34-100kPa
350 CP16-200kPa 350
CP17-300kPa CP35-200kPa CP36-300kPa
Tensão Cisalhante (kPa)...

300 300

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10

-1,2 -1,2
CP14-50kPa CP15-100kPa
-1 -1
CP16-200kPa CP17-300kPa
Deslocamento Vertical (mm)

-0,8 -0,8

-0,6 -0,6

-0,4 -0,4

-0,2 -0,2

0 0

0,2 0,2

0,4 0,4
CP10-50kPa CP11-100kPa
0,6 0,6
CP12-200kPa CP13-300kPa
0,8 0,8
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10

Deslocamento Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

a) Inundado – 1,5 a 1,8m b) Umidade Natural – 1,5 a 1,8m

Figura V.3. Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 1,5 a 1,8m (Camada


II): a) ensaios inundados sob uma tensão Vn; b) ensaios na umidade natural.
259

400 400
CP18-25kPa CP19-50kPa CP37-25kPa CP38-50kPa
350 CP20-100kPa CP21-200kPa350 CP39-100kPa CP40-200kPa
CP41-300kPa
Tensão Cisalhante (kPa)...

CP22-300kPa
300 300

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 4 8 12 0 4 8 12

-1,2 -1,2
CP18-25kPa CP19-50kPa
-0,95 CP20-100kPa -0,95
CP21-200kPa
Deslocamento Vertical (mm)

CP22-300kPa
-0,7 -0,7

-0,45 -0,45

-0,2 -0,2

0,05 0,05

0,3 0,3

0,55 0,55
CP37-25kPa CP38-50kPa
0,8 0,8 CP39-100kPa CP40-200kPa
CP41-300kPa
1,05 1,05
0 4 8 12 0 4 8 12

Deslocamanto Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

a) Inundado – 2 a 2,3m b) Umidade Natural – 2 a 2,3m

Figura V.4. Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 2 a 2,3 m (Camada


II): a) ensaios inundados sob uma tensão Vn; b) ensaios na umidade natural.
260

650 650
CP23-25kPa CP24-50kPa CP42-25kPa
600 600
CP25-100kPa CP26-200kPa
550 550 CP43-50kPa
Tensão Cisalhante (kPa)...

CP27-300kPa
500 500 CP44-100kPa
450 450 CP45-200kPa
400 400 CP46-300kPa
350 350
300 300
250 250
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
0 4 8 12 0 4 8 12

-2,5 -2,5
CP23-25kPa CP24-50kPa
CP25-100kPa CP26-200kPa
-2 -2
Deslocamento Vertical (mm)

CP27-300kPa

-1,5 -1,5

-1 -1

-0,5 -0,5

0 0

CP42-25kPa CP43-50kPa
0,5 0,5 CP44-100kPa CP45-200kPa
CP46-300kPa
1 1
0 4 8 12 0 4 8 12

Deslocamento Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

a) Inundado – 2,5 a 2,8m b) Umidade Natural – 2,5 a 2,8m

Figura V.5. Curvas Tensão-Deslocamento Horizontal – amostra de 2,5 a 2,8 m (Camada


com SPT>50): a) ensaios inundados sob uma tensão Vn; b) ensaios na umidade natural.
261

No Capítulo IV foi mostrado que as deformações de colapso da amostra


correspondente à profundidade de 0,5 a 0,8m aumenta, até alcançar um valor máximo
na tensão de 320kPa, com ligeira tendência de redução a partir desta tensão. Para outras
amostras, Hc apresentou comportamento sempre crescente para o nível de tensão adotado
nos ensaios (Figura IV.17).

Para as tensões de 25 a 100 kPa adotadas nos ensaios de cisalhamento direto, a


amostra de 0,5 a 0,8m apresenta sempre maior potencial de colapso do que as outras
amostras, sugerindo maior instabilidade estrutural nesta faixa de tensão. Portanto, a
mudança de estado fofo para um estado mais denso, no início do cisalhamento, deverá
ser maior nesta amostra. Vale ressaltar que, exceto na amostra de 1,0 a 1,3 m, o padrão
adotado nos ensaios foi sempre inundar o solo sob tensão. Tal fato é claramente visível
nas curvas W versus dh, na amostra entre 0,5 e 0,8 m (Figura V.1a), onde se observa
comportamento de pico já na tensão de 100 kPa. Na tensão de 200 kPa, uma leve
tendência de dilatação é observada na curva dv versus dh, embora predomine a
compressão.

Nas amostras da camada II (Figuras V.3 e V.4) o comportamento de pico nos


ensaios inundados torna-se menos evidente ou inexistente, reaparecendo na amostra de
entre 2,5 a 2,8m (Figura V.5a), nas tensões inferiores a 100 kPa. Vale ressaltar que esta
amostra apresenta menores índices de vazios e menores valores de Hc, para todos os
níveis de tensão. Para ser classificada de colapsível, pelo critério de VARGAS (1978),
seria necessária uma tensão vertical de 320 kPa, superior a máxima adotada nos ensaios
de cisalhamento direto (300 kPa). Visualmente, foram observados na amostra entre 2,5
e 2,8 m (SPT > 50) vários nódulos de cor avermelhada, caracterizados por concentração
de óxidos de ferro, o que tende a conferir maior estabilidade das ligações e rigidez ao
solo. Logo é previsível, que na faixa de baixa tensão (25 e 50kPa) os ensaios
apresentem comportamento mais rígido, com picos bem definidos nas curva W versus dh.

Ao comparar os resultados dos ensaios na condição inundada e na umidade


natural observam-se picos bem definidos, nas curvas W versus dh e maiores tensões
cisalhantes nos ensaios na umidade natural, como era de se esperar. Nas curvas dv
versus dh, do ensaio na umidade natural da amostra entre 0,5 a 0,8 m (Figura V.1b), o
comportamento foi sempre de compressão, com pequena tendência de dilatação na
tensão de 25kPa. É interessante notar que para tensões superiores a 50kPa, os
262

deslocamentos verticais foram sempre superiores aos dos ensaios inundados (Figura
V.1a), onde era de se esperar que a maior rigidez da amostra na umidade natural
resultasse em menor compressão durante o cisalhamento.

A maior compressão dos ensaios na umidade natural da amostra entre 0,5 a 0,8m
pode ser justificada pelo fato da pequena compressão sofrida antes do início do
cisalhamento. Dada a maior instabilidade estrutural desta amostra na faixa de tensão
adotada nos ensaios, durante a fase de cisalhamento as tensões cisalhantes tendem a
romper os vínculos que mantém a estrutura estável resultando em considerável perda de
volume do solo. Nos ensaios inundados, a compressão sofrida pelo solo devido ao
colapso confere um estado mais denso ao mesmo, resultando em menor compressão na
fase de cisalhamento. Nas tensões inferiores a 100 kPa, o solo apresenta menor colapso,
resultando em uma estrutura mais aberta no início do cisalhamento, razão pela qual os
ensaios inundados nas tensões de 25 e 50 kPa mostram-se mais compressíveis que os
ensaios na umidade natural. Nas amostras correspondentes à Camadas II (entre 1,5 e 2,3
m) e à camada com SPT > 50 (entre 2,5 e 2,8 m) o solo apresenta menor potencial de
colapso para as tensões adotadas nos ensaios. Em outras palavras, o solo possui maior
estabilidade estrutural. A maior resistência dos vínculos aos esforços cisalhantes
limitará a propagação das deformações cisalhantes, resultando em menor compressão ou
comportamento dilatante.

Segundo HOUSTON e EL-EHWANY (1991) solos colapsíveis são altamente


contrácteis. Portanto, as deformações cisalhantes durante a cravação de um tubo de
parede fina seriam do tipo localizadas e estariam restritas à borda da amostra. Este é o
principal argumento que esses autores utilizam para justificar, como adequado, o uso
deste procedimento de amostragem. Como se pode perceber nos resultados dos ensaios
na condição natural, nem todos solos colapsíveis são contrácteis e o comportamento
dilatante é previsível ocorrer sob altas sucções. Nestas situações, rupturas do tipo
generalizadas são previstas de ocorrerem, propagando-se no interior da amostra. Estes
resultados mostram que o uso de tubos de parede fina não pode ser aplicável a qualquer
solo colapsível.

As envoltórias de resistência encontram-se representadas nas Figuras V.6 a


V.10. As condições dos corpos de prova na ruptura e os parâmetros de resistência
encontram-se resumidos na Tabela V.2. Nos ensaios na umidade natural estão também
apresentadas as envoltórias de resistência pós-ruptura, obtidas considerando menor
263

valor da tensão cisalhante ou quando esta tensão permanece constante na curva W versus
dh, após o valor de pico. O objetivo da envoltória pós-ruptura foi avaliar o efeito da
sucção nos parâmetros de resistência, numa condição próxima do estado crítico, embora
se deve reconhecer que este tipo de ensaio não seja o recomendável para avaliar o
comportamento do solo nesta condição. A condição dos corpos de prova pós-ruptura
destes ensaios encontram-se resumidas na Tabela V.3. Na Figura V.11 é apresentada a
variação dos parâmetros de resistência com a profundidade.

Nos ensaios inundados, as amostras com profundidades inferiores a 2,0 m


apresentam intercepto de coesão (c’) nulo e ângulos de atrito variando entre 31 e 34o
(Tabela V.2 e Figuras V.11a e V.11b), semelhante ao que se observa em solos arenosos
fofos. Nas amostras correspondentes às profundidades superiores a 2,0 m observa-se
pequena redução do ângulo de atrito (I’ variando 29 e 31o) e aumento entre 1 e 11 kPa
em c’, o que é indício da existência de uma coesão verdadeira a partir desta
profundidade. Vale ressaltar que a partir dos 2m observou-se presença de óxidos de
ferro, com maior concentração na amostra de 2,5 a 2,8m, o qual associado ao maior teor
de argila pode justificar esta tendência.

Nos ensaios inundados da amostra de 1,0 a 1,3 m, apenas o ângulo de atrito


apresentou uma pequena diferença de 1o (Figura V.7 e Tabela V.2). Esta diferença é
insignificante, para justificar alguma influência do caminho de tensões (tensão onde
ocorre a inundação) na resistência deste solo, estando dentro do que se espera nestes
ensaios em outros solos.

Considerando os valores de pico, em geral, os parâmetros de resistência foram


superiores aos encontrados nos ensaios inundados (Tabela V.2 e Figura V.11c e d),
conforme esperado. A exceção ocorreu na amostra correspondente à profundidade de
0,5 a 0,8m (Camada I), onde I na umidade natural (33,8o) foi praticamente igual ao
valor obtido a partir dos ensaios inundados (33,9o). O aumento (0 para 34 kPa) no
intercepto de coesão também foi menor nesta amostra. Nas amostras da Camada II
(entre 1,5 e 2,3 m de profundidade) o aumento no ângulo de atrito (I) (entre 6 e 7o) e no
intercepto de coesão (entre 73 e 76 kPa) em relação aos ensaios inundados, indica forte
264

400
(1) Inundado
(2) Umidade Natural (pico)

Tensão Cisalhante (kPa) ..


(3) Umidade Natural (pós-ruptura)
300
Prof.(m): 0,5 a 0,8m

(1) c' = 0kPa, I ' = 33,9o


(2) c = 23,2kPa, I = 33,8o
200
(3) c = 12kPa, I = 33,6o

100

0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.6. Envoltórias de resistência da amostra de 0,5 a 0,8 m (Camada I) – ensaios


convencionais.

400
(1) Inundado sob Top-Cap
(2) Inundado sob tensão específica
Tensão Cisalhante (kPa)..

300 Prof.(m): 1 a 1,3m

(1) c' = 0kPa, I ' = 32,1o


(2) c' = 0kPa, I ' = 31,6o
200

100

0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.7. Envoltórias de resistência da amostra de 1 a 1,3 m (Camada I) – ensaios


convencionais.
265

400
(1) Inundado
(2) Umidade Natura (pico)
(3) Umidade Natural (pós-ruptura

Tensão Cisalhante (kPa) .


300

200

Prof.(m): 1,5 a 1,8m


100
(1) c' = 0kPa, I ' = 31,9o
(2) c = 75,6kPa, I = 38,8o
(3) c = 37kPa, I = 36,6o
0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.8. Envoltórias de resistência da amostra de 1,5 a 1,8 m (Camada I) – ensaios


convencionais.

400
(1) Inundado
(2) Umidade Natural (pico)
(3) Umidade Natural (pós-ruptura)
Tensão Cisalhante (kPa) .

300

200

Prof.(m): 2 a 1,3m
100
(1) c' = 1,3kPa, I ' = 30,6o
(2) c = 73kPa, I = 36o
(3) c = 21kPa, I = 36,2o
0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.9 Envoltórias de resistência da amostra de 2 a 2,3 m (Camada II) – ensaios


convencionais.
266

800
(1) Inundado
(2) Umidade Natural (pico)
700 (3) Umidade Natural (pós-ruptura)

(1) c' = 11kPa, I ' = 29.1o


(2) c = 145kPa, I = 57,2o
600
(3) c = 59kPa, I = 38,5o
Tensão Cisalhante (kPa) .

Prof.(m): 2,5 a 2,8


500

400

300

200

100

0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.10. Envoltórias de resistência da amostra de 2,5 a 2,8 m (SPT > 50) – ensaios
convencionais.

influência da sucção nesta camada. Este fato pode ser justificado pelo maior teor de
finos, especialmente na fração argila, nesta camada. Na camada com SPT > 50 (entre
2,5 e 2,8 m), a envoltória de resistência (Figura V.10) apresenta uma intensa curvatura,
a qual pode ser justificada pela elevada rigidez dessa camada. Ignorando este
comportamento, foram determinados os parâmetros de resistência desta camada na
umidade natural, ajustando os dados a uma reta. O ângulo de atrito de 57,2o e o
intercepto de coesão de 145 kPa e os resultados apresentados nos outros capítulos,
mostram claramente tratar-se de uma camada diferenciada.
267

Tabela V.2. Condições dos corpos de prova na ruptura dos ensaios convencionais.

CONDIÇÃO DE RUPTURA PARÂMETROS


Amostra CP
Ensaio Valores de Pico / Máximo c' ou c I’ ou I
Prof. (m) No
dh (mm) dv (mm) Vr (kPa) Wr (kPa) (kPa) (o)
01 8,0 0,495 29,7 21,7
01 e 02 02 4,9 0,326 55,5 37,4
(0,5 a 0,8) CDI 03 4,9 0,410 110,7 71,4 0 33,9
Camada I 04 4,3 0,148 218,5 141,4
05 3,7 0,391 304,9 209,3
06 4,0 0,444 54,3 31,6
03 e 04
07 5,4 0,503 111,9 69,7
(1 a 1,3) CDI 0 32,6
08 5,3 0,554 223,5 134,8
Camada I
09 5,2 0,427 333, 218,2
10 4,9 0,389 55,5 34,4
03 e 04
11 7,4 0,530 117,1 63,2
(1 a 1,3) CDI 0 31,6
12 5,8 0,622 225,9 148,3
Camada I
13 4,2 0,380 327 198,1
14 8,9 0,710 60,8 29,4
05 e 06
15 4,9 0,645 110,7 63,2
(1,5 a 1,8) CDI 0 31,9
16 6,8 0,580 231 136,7
Camada II
17 5,2 0,628 315 203,4
18 4,5 ------- 27,5 15,1
07 e 08 19 5,0 0,550 55,5 28,2
(2 a 2,3) CDI 20 4,5 0,283 121,3 76,7 1,3 30,6
Camada II 21 6,3 0,757 228,4 149,7
22 7,2 0,658 356,2 203,1
23 1,7 0,197 25,9 23,7
09 24 2,4 0,658 52,6 35,8
(2,5 a 2,8) CDI 25 1,4 0,421 102,9 73,3 10,6 29,1
SPT > 50 26 4,8 0,696 221 136,9
27 4,2 0,671 327,1 190
28 1,9 0,168 26 42,2
01 e 02 29 2,4 0,355 52,6 59,2
(0,5 a 0,8) CDN 30 2,6 0,597 105,5 93,5 23,2 33,8
Camada I 31 3,3 0,822 213,7 160,3
32 7,7 0,643 332,9 249
33 1,5 -0,236 51,4 133
05 e 06
34 1,5 0,030 103,1 148,3
(1,5 a 1,8) CDN 75,6 33,8
35 1,7 0,077 206,8 219,5
Camada II
36 1,5 0,073 291,3 327
37 0,9 -0,273 25,5 75,1
07 e 08 38 1,1 -0,070 51,1 120,9
(2 a 2,3) CDN 39 1,8 0,024 103,6 158,6 73,2 36
Camada II 40 1,7 0,049 206,9 231,7
41 2,3 0,022 315 300
42 1,0 -0,643 25,6 148,7
09 43 1,2 -0,427 51,3 203,1
(2,5 a 2,8) CDN 44 1,4 -0,173 102,9 372,5 145,3 57,2
SPT > 50 45 1,6 -0,255 206,5 484,2
46 1,2 -0,308 306,9 592
268

Tabela V.3. Condição dos corpos de prova pós-ruptura dos ensaios convencionais na
umidade natural.

CONDIÇÃO PÓS-RUPTURA PARÂMETROS


Amostra CP
Ensaio Valores de Pós-Pico c' ou c I’ ou I
Prof. (m) No
dh (%) dv (mm) Vr (kPa) Wr (kPa) (kPa) (o)
28 2,9 0,106 26,6 29,3
1e2 29 3,9 0,358 54,2 49,7
CDN
(0,5 a 0,8) 30 4,4 0,660 109,5 82,8 12 33,6
Camada I 31 4,3 0,839 218,3 157,7
32 8,7 0,659 341 238,5
33 6,9 -0,989 57,9 77,1
5e6
34 3,1 -0,168 106,6 128
(1,5 a 1,8) CDN 37 36,6
35 4,2 0,097 218,2 179,2
Camada II
36 3,1 -0,101 301 270,7
37 2,7 -0,509 26,5 41,2
7e8 38 4,4 -0,410 54,8 56,4
(2 a 2,3) CDN 39 5,3 -0,199 111,8 106,7 20,9 36,2
Camada II 40 4,7 -0,061 220,7 183,9
41 4,1 -0,028 326,4 258,4
42 1,8 -0,909 26 112
9 43 2,6 -0,712 52,8 85
(2,5 a 2,8) CDN 44 3,3 -0,382 107 118,1 59,2 38,5
SPT > 50 45 2,9 -0,440 312,2 235,3
46 4,0 -0,448 325,7 323,2

Ao considerar a condição pós-ruptura (Tabela V.3 e Figuras V.11c e V.11d),


tanto o intercepto de coesão quanto o ângulo o atrito foram superiores aos ensaios
inundados, embora inferiores aos obtidos a partir das envoltórias de pico. Estes
resultados mostram a situação em que este solo pode ser desfavorável para uma obra,
caso seja submetido a uma condição extrema de inundação. Mostram também,
qualitativamente, que as hipóteses simplificadoras adotadas nos modelos para solos não
saturados, onde o efeito da sucção limita-se ao aumento na coesão, pode ser
conservadora mesmo numa condição de estado crítico.

V.3.2 Ensaios de cisalhamento direto com sucção controlada

Na Tabela V.4 apresentam-se as condições iniciais de cada corpo de prova dos


ensaios de cisalhamento direto com sucção controlada. Nas Figuras V.12 a V.15
apresentam-se as curvas W versus Vn e dv versus dh para diferentes valores de sucção.
269

0 0
Ensaios Inundados Ensaios Inundados
0.5 0.5

1 1
Profundidade (m)

1.5 1.5

2 2

2.5 2.5
(a) (b)
3 3
0 5 10 15 28 30 32 34 36

Intercepto de Coesão (kPa) Ângulo de Atrito ( o )

0 0
(c) (d)
0.5 0.5

1 1
Profundidade (m)

1.5 1.5

2 2

2.5 2.5
Inundado Inundado
3 Umidade Natural (pico) 3 Umidade Natural (pico)
Umidade Natural (pós-ruptura) Umidade Natural (pós-ruptura)
3.5 3.5
0 50 100 150 200 20 30 40 50 60

Intercepto de Coesão (kPa) Ângulo de Atrito ( o )

Figura V.11. Variação dos parâmetros de resistência com a profundidade – ensaios


convencionais.
270

Tabela V.4. Condição inicial dos corpos de prova dos ensaios de cisalhamento direto
com sucção controlada.

CONDIÇÃO INICIAL DOS CPs


Amostra CP ENSAIOS COM SUCÇÃO CONTROLADA
Prof. (m) No
ua-uw Vn wo Js So
eo
(kPa) (kPa) (%) (kN/m3) (%)
47 50 50 2,2 16,4 0,61 9,5
48 50 100 1,6 16,1 0,64 6,6
49 50 200 2,45 16,2 0,63 10,3
50 50 300 1,9 16,5 0,60 8,4
51 200 50 1,95 16,3 0,62 8,3
5e6 52 200 100 1,39 16,4 0,64 5,8
53 200 200 1,57 16 0,66 6,3
(1,5-1,8) 54 200 300 1,9 16,3 0,62 12,5
55 500 50 2,1 16,2 0,63 8,7
Camada II 56 500 100 2,32 15,9 0,66 9,2
57 500 200 2,05 16,4 0,61 8,9
58 500 300 1,75 16 0,60 7,7
59 1000 50 2,32 16,5 0,60 10,2
60 1000 100 2,15 16 0,65 8,7
61 1000 200 1,87 16,5 0,60 8,2
62 1000 300 2,58 15,9 0,66 10,3
63 50 50 1,08 16,1 0,64 4,5
64 50 100 1,56 15,9 0,66 6,3
65 50 200 1,57 16 0,65 6,4
3e4 66 50 300 1,15 15,8 0,67 4,5
67 500 50 1,01 16 0,65 4,1
(1,0-1,3) 68 500 100 0,91 16 0,65 3,7
69 500 200 0,84 15,8 0,67 3,3
Camada I 70 500 300 0,82 15,8 0,68 3,2
71 1000 50 0,9 15,5 0,70 3,4
72 1000 100 0,58 15,9 0,66 2,3
73 1000 200 0,72 15,6 0,69 2,7
74 1000 300 0,76 15,6 0,69 2,9

Nas Figuras V.16 e V.17 estão apresentadas as envoltórias de resistência no


plano (Vn, W) para cada valor de sucção, as quais são comparadas com as envoltórias dos
ensaios convencionais inundados (sucção 0 kPa) e na umidade natural (sucção inicial da
ordem de 10 MPa). A condição de ruptura de cada corpo de prova e os teores de
umidades finais encontram-se resumidos na Tabela V.5. Nas Figuras V.18 e V.19 são
apresentadas as envoltórias de resistência no plano (s, W) ajustada à hipérbole de GENS
(1993) (Equação V.1).
271

350 350
CP63-50kPa CP64-100kPa CP67-50kPa CP68-100kPa
300 300
CP65-200kPa CP66-300kPa CP69-200kPa CP70-300kPa
Tensão Cisalhante (kPa)...

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

-0,5 -0,5
CP63-50kPa CP64-100kPa (ua-uw ) = 500kPa
Deslocamento Vertical (mm)

-0,35 CP65-200kPa CP66-300kPa


-0,35

-0,2 (ua-uw ) = 50kPa -0,2

-0,05 -0,05

0,1 0,1

0,25 0,25 CP67-50kPa CP68-100kPa

CP69-200kPa CP70-300kPa
0,4 0,4
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

Deslocamento Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

(a) Sucção de 50kPa (b) Sucção de 500kPa

Figura V.12. Curvas tensão-deformação – amostra de 1 a 1,3m (Camada I) dos ensaios


com sucção controlada: a) sucção de 50kPa; b) sucção de 500kPa.
272

350
CP71-50kPa CP72-100kPa
300 CP73-200kPa CP74-300kPa

Tensão Cisalhante (kPa)... 250

200

150

100

50

0
0 2 4 6 8

-0,7
CP71-50kPa CP72-100kPa
Deslocamento Vertical (mm)

CP73-200kPa CP74-300kPa
-0,5

-0,3

-0,1

0,1

Prof.(m): 1 a 1,3 (ua-uw ) = 1000kPa


0,3
0 2 4 6 8

Deslocamento Horizontal (mm)

Figura V.13. Curvas tensão-deformação dos ensaios com sucção controlada – amostra
de 1 a 1,3m (Camada I) e sucção de 1000kPa.
273

350 350
CP47-50kPa CP48-100kPa CP51-50kPa CP52-100kPa
300 CP49-200kPa 300
CP50-300kPa CP53-200kPa CP54-300kPa
Tensão Cisalhante (kPa)..

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

-0,4 -0,4
CP47-50kPa CP48-100kPa
-0,3 -0,3
CP49-200kPa CP50-300kPa
Deslocamento Vertical (mm)

-0,2 -0,2
(ua-uw ) = 50kPa
-0,1 -0,1

0 0

0,1 0,1
(ua-uw ) = 200kPa
0,2 0,2
CP51-50kPa CP52-100kPa
0,3 0,3
CP53-200kPa CP54-300kPa
0,4 0,4
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

Deslocamento Horizontal (mm) Deslocamento Horizontal (mm)

(a) Sucção de 50kPa (b) Sucção de 200kPa

Figura V.14. Curvas tensão-deformação – amostra de 1,5 a 1,8m (Camada II) dos
ensaios com sucção controlada: a) sucção de 50kPa; b) sucção de 200 kPa.
274

350 350
CP55-50kPa CP56-100kPa CP59-50kPa CP60-100kPa
300 CP57-200kPa 300
CP58-300kPa CP61-200kPa CP62-300kPa
Tensão Cisalhante (kPa)..

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

-0,4 -0,4
CP55-50kPa CP56-100kPa

CP57-200kPa CP58-300kPa
Deslocamento Vertical (mm)

-0,3 -0,3

(ua - uw ) = 500kPa
-0,2 -0,2

-0,1 -0,1

0 0
(ua - uw ) = 1000kPa
0,1 0,1 CP59-50kPa CP60-100kPa
CP61-200kPa CP62-300kPa
0,2 0,2
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8

Deslocamento Horizontal (%) Deslocamento Horizontal (%)

(a) Sucção de 500kPa (b) Sucção de 1000kPa

Figura V.15. Curvas tensão-deformação – amostra de 1,5 a 1,8m (Camada II) dos
ensaios com sucção controlada: a) sucção de 500kPa; b) sucção de 1000kPa.
275

Tabela V.5. Condição dos corpos de prova na ruptura e parâmetros de resistência dos
ensaios com sucção controlada.

CONDIÇÃO DE RUPTURA PARÂMETROS


Amostra ua-uw CP Valores de Pico / Máximo
Prof.(m) (kPa) No wf c I
dh dv Vr Wr (%) (kPa) ( o)
(mm) (mm) (kPa) (kPa)
47 2,2 0,010 52,3 47,4 3,30
48 4,1 0,141 108,9 79 5,33
50 12,1 32,6
49 4,0 0,310 214,2 149,6 3,36
50 5,1 0,152 334,8 225,8 3,45
51 1,7 -0,062 53,1 63,4 3,16
52 3,6 -0,088 107,7 93,5 3,89
5e6 200 28,6 31,9
53 4,0 0,006 217,1 163,7 -----
(1,5 a 1,8) 54 4,0 0,005 331,4 235,3 -----
55 1,2 -0,058 51,4 50,8 3,46
Camada II 56 5,3 -0,181 111,8 109,6 3,61
500 25,9 36,2
57 3,8 -0,053 216,5 211,4 4,40
58 5,0 -0,123 333,4 253,6 3,30
59 0,7 -0,007 56,2 70,8 ----
60 1,1 -0,002 107,8 118,3 3,67
1000 33,3 35,7
61 1,7 -0,090 212,3 178,3 3,19
62 2,7 -0,006 326,9 271,3 3,71
63 2,9 0,128 53,1 49,7 3,3
64 5,9 0,218 111 80,9 5,33
50 15,7 31,9
65 4,4 0,208 217,2 155,1 3,36
66 5,6 0,164 337,8 223,7 3,45
3e4 67 3,1 -0,238 53,3 56,2 2,67
(1 a 1,3) 68 3,8 0,003 108,2 90,9 2,72
500 16,9 35,9
69 4,8 0,028 221,2 183,7 2,85
Camada I 70 4,9 0,048 332,6 254,4 2,82
71 1,3 -0,060 55,4 50,7 2,11
72 2,0 -0,080 104,8 96,5 2,4
1000 16,3 35,4
73 3,8 -0,076 222,4 175 2,22
74 5,4 -0,005 346,6 261,3 2,47

x Hiperbolo proposta por GENS (1993)

s
f  f
sat
 f V.1
s
cotg ' 
c*
onde: s = ua-uw = sucção matricial

c máx
c* , onde r é um parâmetro de ajuste.
r
276

400
S=50kPa
S=500kPa
S=1000kPa

Tensão Cisalhante (kPa); 300 S=0kPa

Prof.(m): 1 a 1,3

200

100

(a)
0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.16. Envoltória de resistência para diferentes valores de sucção – amostra entre
1,0 a 1,3m (Camada I).

400
S=50kPa
Prof.(m): 1,5 a 1,8
S=200kPa
S=500kPa
Tensão Cisalhante (kPa) .

300 S=1000kPa
S=0kPa
Umidade Natural

200

100

(b)
0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.17. Envoltória de resistência para diferentes valores de sucção – amostra entre
1,5 a 1,8 m (Camada II).
277

400
Tensão Normal Camada I

Tensão Cisalhante (kPa) .


50 kPa 100kPa Prof.(m): 1,0 a 1,3
300 200 kPa 300 kPa

200

100

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção Matricial (kPa)

Figura V.18. Envoltórias de resistência dos ensaios com sucção controlada no espaço (s,
W), ajustadas segundo a função hiperbólica de GENS (1993) – amostra entre 1,0 a 1,3 m.

400
Tensão Normal Camada II
Tensão Cisalhante (kPa) ..

50 kPa 100kPa Prof.(m): 1,5 a 1,8


300 200kPa 300kPa

200

100

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção Matricial (kPa)

Figura V.19. Envoltórias de resistência dos ensaios com sucção controlada no espaço (s,
W), ajustadas segundo a função hiperbólica de GENS (1993) – amostra entre 1,5 a 1,8m.
278

Os índices de vazios (Tabela V.4) foram da mesma ordem ou ligeiramente


superiores aos ensaios edométricos. Nas curvas W versus dh observam-se picos bem
definidos apenas nas sucções de 1000kPa, independente da amostra (Figura V.13 e
V.15). Nas curvas dv versus dh observa-se tendência a comportamento dilatante à
medida que aumenta a sucção, o que é previsível, já que há aumento na rigidez do solo.

Na sucção de 50 kPa (Figuras V.12 e V.14), em geral a compressão predomina,


embora para valores de tensão normal (Vn) de 50kPa observa-se tendência dilatante.
Para outros valores de sucção esta tendência se mantém mesmo para tensões superiores.
Nas Figuras V.20 e V.21 estão apresentadas as variações de altura (dv) dos corpos de
prova na ruptura com a sucção (Tabela V.5). A amostra de 1 a 1,3 m (Figura V.20)
apresenta dilatação na sucção de 1.000kPa, independente do valor de Vn. Na amostra de
1,5 a 1,8 m (Figura V.21) este fato só não é observado na sucção de 50kPa. Estes
resultados sugerem a existência de um valor limite de sucção acima do qual o solo
apresentará comportamento dilatante na ruptura e, por conseqüência, tendência à ruptura
generalizada. Para um dado solo, esta sucção limite (slim) dependerá da tensão normal,
aumentando com o valor de Vn.

Na Figura V.22 apresenta-se a variação de slim com Vn para as amostras


ensaiadas. Em média a sucção limite da amostra de 1 a 1,3m foi cerca de 70 % superior
aos valores obtidos na amostra de 1,5 a 1,8m, sugerindo que slim deva aumentar
inversamente com o teor de finos, já que este aumenta com a profundidade. Tal
conclusão pode justificar a compressão na ruptura da amostra de 0,5 a 0,8m (Figura
V.1), uma vez que esta apresenta o menor teor de finos. Conforme propõem HOUSTON
e EL-EHWANY (1991), o uso de tubos de parede fina para coleta de amostras
indeformadas em alguns solos colapsíveis, pode ter aplicação restrita a uma faixa de
sucção muito limitada. Sendo tanto menor quanto mais argiloso o solo.

No plano (Vn, W) os resultados dos ensaios com sucção controlada conduziram a


envoltórias lineares (Figuras V.16 e V.17), embora nem sempre paralelas entre si, como
são propostas em várias hipóteses de resistência de solos não saturados na literatura (ex.
FREDLUND et al., 1978; ALONSO et al., 1987; ALONSO et al., 1990; e WHEELER e
SIVAKUMAR, 1995). Este fato resultará na variação do ângulo de atrito do solo com a
sucção. No plano (s, W) (Figuras V.18 e V.19) observa-se nítida curvatura na envoltória
de resistência, o que resultará na redução do parâmetro Ib com a sucção, conforme tem-
279

-0.3

Deslocamento Vertical (dv) na..


-0.2

-0.1
ruptura (mm)

0.1 50kPa
100kPa
0.2 200kPa
Prof.(m): 1 a 1,3m 300kPa
0.3
0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção (kPa)

Figura V.20. Variação do deslocamento vertical do corpo de prova na ruptura com a


sucção – amostra de 1 a 1,3m.

-0.3
Prof.(m): 1,5 a 1,8m
Deslocamento Vertical (dv) na..

-0.2

-0.1
ruptura (mm)

0.1
50kPa
0.2
100kPa

0.3 200kPa
300kPa
0.4
0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção (kPa)

Figura V.21. Variação do deslocamento vertical do corpo de prova na ruptura com a


sucção – amostra de 1 a 1,3m.
280

1000
Prof.(m): 1 a 1,3

800 Prof.(m): 1,5 a 1,8

Sucção Limite (kPa) 600

400

200

0
0 100 200 300 400

Tensão Normal (kPa)

Figura V.22. Variação da sucção limite (slim) com a tensão normal (Vn).

Tabela V.6. Parâmetros de ajuste das hipérboles (das Figuras V.18 e V.19).

Amostra I’ ( o ) Vn (kPa) Wsat (kPa) c* (kPa)


50 33 22,7
100 65 30
1 a 1,3 32,1
200 140 39,8
300 200 66,7
50 29,4 44,4
100 59 62,3
1,5 a 1,8 31,9
200 134 48,1
300 195 80,6

se observado em vários resultados da literatura. Neste plano, os resultados


experimentais mostraram-se, satisfatoriamente, ajustados à função hiperbólica de GENS
(1993), reapresentada na Equação V.1. Na Tabela V.6 apresenta-se os parâmetros de
ajustes da hipérbole adotados para cada tensão vertical.

Resultados da literatura (FREDLUND et al., 1995, VANAPALLI et al., 1996a e


VANAPALI et al., 1996b) mostram que até o valor de entrada de ar, a resistência de um
solo aumenta linearmente com a sucção. A partir deste valor, a resistência aumenta de
forma não linear até a sucção correspondente a umidade residual, a partir da qual o
aumento na resistência passa a ser insignificante. As curvas características (Capítulo III)
281

referentes às amostras onde foram realizados os ensaios com sucção controlada (1 a 1,3
e 1,5 a 1,8m) sugerem valores de entrada de ar da ordem de 1kPa e para sucções
superiores a 100kPa o solo se encontra no estágio residual. Este baixo valor da sucção
na entrada de ar justifica a não linearidade observada nas envoltórias no plano (s, W)
(Figuras V.18 e V.19), atingindo um valor máximo na sucção de 500kPa, de onde,
praticamente, não se observa mais aumento na resistência.

Na Figura V.17 a envoltória dos ensaios na umidade natural (sucção inicial #


10MPa) da amostra de 1,5 a 1,8m, chama atenção por apresentar resistência bem
superior aos demais ensaios com sucção controlada, especialmente nos ensaios
referentes às sucções de 500 e 1000kPa, mesmo estes valores estando dentro do trecho
residual, onde era de se esperar variações insignificantes na resistência. Na amostras de
1 a 1,3m esta comparação não foi possível, por não se dispor de ensaios na umidade
natural. Embora este argumento seja compartilhado por outros autores, BIEWEI et al.
(1998) ressaltam o caráter empírico e físico das definições de umidade residual, que
pode induzir a erros na determinação do valor real. Para tanto propõem um método
alternativo para determinação da umidade residual considerado a curva de contração do
solo. Este procedimento pode ser adequado para solos que apresentem substancial
contração durante a secagem, tal como os solos expansivos. Todavia, inaplicáveis aos
solos desta pesquisa. Segundo VANAPALLI et al. (1996a), nos pedregulhos, areias,
siltes e misturas destes solos, o estágio residual ocorre em sucções relativamente baixas
(entre 0 e 200kPa) e é bem definido. Portanto, é pouco provável que a superioridade dos
ensaios na umidade natural esteja relacionado a incertezas na determinação do estágio
residual.

Não há uma explicação plausível que justifique a superioridade da resistência


dos ensaios na umidade natural para a amostra de 1,5 a 1,8m. Todavia, no solo em
estudo, as ligações que mantêm a estrutura colapsível são compostas da fração fina do
solo (especialmente a fração argila) e esta tende a aumentar com a profundidade. Tal
fato pode ser uma justificativa para o ganho de resistência observado na amostra de 1,5
a 1,8m no trecho residual. Em outras palavras, quanto mais fino o solo maior será a
faixa de sucção que contribuirá com a resistência. Logo se pode supor que a resistência
dos vínculos, individualmente, seja superior a resistência do solo como todo, cuja
contribuição na resistência total será maior ou menor a depender da quantidade de finos.
282

Isto é uma suposição que precisa ser mais bem avaliada através de ensaios com sucção
controlada sob sucções superiores às adotadas nos ensaios.

Na Figura V.23 apresenta-se a variação do intercepto de coesão (c) e a do ângulo


de atrito (I) com a sucção do solo. O intercepto de coesão se comporta de forma
semelhante às envoltórias de resistência no plano (s, W), aumentando com a sucção até
um valor limite onde as variações são pequenas. O aumento em (c) na amostras de 1,5 a
1,8m é mais significativo do que na amostras de 1 a 1,3, o que é justificável pelo maior
teor de finos que a primeira apresenta. O ângulo de atrito apresenta faixas de valores
distintos a depender do intervalo de sucção considerado. Para sucções entre 0 e 200 kPa,
o ângulo de atrito variou de 31,9 a 32,6o, com média de 32,1o. Para sucções de 500 a
1000 kPa o ângulo de atrito variou de 35,4 a 36,2o, com média de 35,8o. Ao contrário do
intercepto de coesão, a diferença do ângulo de atrito entre as duas amostras foram
insignificante, sem indicar uma tendência clara.

V.4 ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA DO SOLO NÃO SATURADO A PARTIR DA


CURVA CARACTERÍSTICA

Conhecidos os parâmetros do solo na condição inundada (sucção de 0 kPa) e a


equação da curva característica ajustada segundo o modelo de VAN GENUTCHEN
(1980), procurou-se prever a variação da resistência do solo com a sucção. Foram

35 37
Intercepto de Coesão (kPa)

(a) (b)
30 36
Ângulo de Atrito

25
35
20
34
15
33
10
Prof.(m): 1 a 1,3 32 Prof.(m): 1 a 1,3
5
Prof.(m): 1,5 a 1,8 Prof.(m): 1,5 a 1,8
0 31
0 200 400 600 800 1000 1200 0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção (kPa) Sucção (kPa)

Figura V.23. Variação do intercepto de coesão e do ângulo de atrito com a sucção.


283

adotadas as Equações de VANAPALLI et al. (1996) e ÖBERG e SALLFÖRS (1997),


pelo fato destas serem independentes de parâmetros de ajustes. Na Tabela V.7
apresenta-se um resumo dos parâmetros do solo e da curva característica adotados nas
previsões. Nas Figuras V.24 a V.27 estão apresentadas as envoltórias de resistência,
previstas segundo as Equações V.2 e V.3 no plano (s, W), as quais são comparadas com
os dados experimentais ajustados segundo a função hiperbólica proposta por GENS
(1993).

VANAPALLI et al. (1996)

ª§    r · º
 c' (  u a ).tg. (u a  u w ) «¨¨ w ¸¸ tg» V.2
¬©  s   r ¹ ¼

ÖBERG e SALLFÖRS (1997)

W = c’+(V - ua).tgI’+S.(ua – uw).tgI’ V.3

Independente do modelo considerado observa-se divergência entre as envoltórias


previstas e os resultados experimentais, sendo mais significativa quando as previsões
foram feitas com base na proposta de VANAPALLI et al. (1996a). Considerando esta
proposta (Figuras V.24 e V.25), a resistência máxima alcançada na sucção de 1.000 kPa
não excedeu em 20% do valor obtido para a sucção de 0 kPa. Ao comparar os resultados
experimentais, este máximo ultrapassa os 150%. Considerando a proposta de ÖBERG e
SÄLLFORS (1997) (Figuras V.26 e V.27) observa-se aumento quase linear na tensão
cisalhante com a sucção, sem seguir a tendência hiperbólica induzida pelos resultados
experimentais.

Tabela. V.7. Parâmetros do solo para estimativa da resistência no estado não saturado.

Parâmetros de Resistência Parâmetros da Curva Característica


Amostra
Ensaios Inundados (Modelo de VAN GENUTCHEN, 1980)
Prof.(m)
c' (kPa) I’ Ts Tr Dvg nvg mvg
0 32,6
1 a 1,3 0,382 0,045 0,361 3,01 0,334
0 31,6
1,5 a 1,8 0 31,9 0,380 0,043 0,562 4,743 0,150
284

400
50 kPa
100 kPa Prof.(m): 1 a 1,3
350 200 kPa
Tensão Cisalhante (kPa) . 300 kPa
300 Vanapalli et al. (1996)
Hiperbole de Gens (1993)
250

200

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção Matricial (kPa)

Figura V.24. Comparação entre dados experimentais e a envoltória de resistência


prevista segundo VANAPALLI et al. (1996) – amostra de 1 a 1,3m.

400
50 kPa
100 kPa Prof.(m):1,5 a 1,8
350 200 kPa
300 kPa
Tensão Cislhante (kPa) .

300 Vanapalli et al. (1996)


Hiperbole de Gens (1993)
250

200

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Sucção Matricial (kPa)

Figura V.25. Comparação entre dados experimentais e a envoltória de resistência


prevista segundo VANAPALLI et al. (1996) – amostra de 1,5 a 1,8m.
285

400
50kPa
100 kPa Camada I
350 200 kPa Prof.(m):
Tensão Cisalhante (kPa) . 300 kPa 1,0 a 1,3
300 Öberg e Sällfors (1997)
Hiperbole de Gens (1993)
250

200

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Sucção Matricial (kPa)

Figura V.26. Comparação entre dados experimentais e a envoltória de resistência


prevista segundo ÖBERG e SÄLLFORS (1997) – amostra entre 1,0 a 1,3 m.

400
50kPa
100kPa Camada II
350 200kPa
Prof.(m):
300kPa
Tensão Cislhante (kPa) .

300 Öberg e Sällfors (1997) 1,5 a 1,8


Hiperbole de Gens (1993)
250

200

150

100

50

0
0 200 400 600 800 1000 1200
Sucção Matricial (kPa)

Figura V.27. Comparação entre dados experimentais e a envoltória de resistência


prevista segundo ÖBERG e SÄLLFORS (1997) – amostra entre 1,5 a 1,8 m.
286

Os modelos de previsão da resistência dos solos não saturados, a partir da curva


característica e de resultados de ensaios de resistência saturados, são um capítulo
recente na mecânica dos solos. As primeiras propostas foram apresentadas por
FREDLUND et al. (1995) e ÖBERG e SALLFÖRS (1995) e pouco se acrescentou a
estas. Geralmente as contribuições recentes limitam-se a introdução de parâmetros de
ajustes (ex. FREDLUND et al., 1996, VANAPALLI et al., 1996), os quais necessitam
de resultados de ensaios com sucção controlada para sua definição. Tal procedimento
tem sido alvo de críticas por MACHADO e VILAR (1998) e BASTOS (1999), por
descaracterizar o caráter expedito dessas propostas.

Nos últimos cinco anos, comparações entre previsões e resultados experimentais


têm sugerido que estes modelos podem ter aplicação restrita. Previsões, consideradas
razoáveis, foram obtidas por MACHADO e VILAR (1998) para um solo de São Carlos
e outros resultados da literatura utilizando as propostas de FREDLUND et al. (1995) e
ÖBERG e SÄLLFORS (1995). Procedimento semelhante foi adotado por BASTOS
(1999) para solos residuais do Rio Grande do Sul e por SANTOS (2001) para um solo
arenoso da formação Barreiras de Recife. Em ambos os casos os resultados das
previsões não se mostraram satisfatórios para os solos analisados.

VANAPALLI et al. (1996b) chamam a atenção ao fato das curvas características


serem, na maioria dos casos, obtidas sem levar em consideração as tensões totais no
campo, cujas deformações impostas ao solo por estas tensões alterará a estrutura do solo
e, consequentemente, a forma da curva característica, vindo a influenciar nos resultados
das previsões. Para contornar este problema esses autores propõem que sejam
determinadas curvas características para cada condição de carregamento.

É possível que as deformações submetidas ao solo durante o ensaio sejam uma


das causas das divergências observadas entre os resultados experimentais e os previstos.
Todavia, a obtenção de curvas características sob diferentes condições de carregamento
pode ser tão dispendioso, quanto a realização dos ensaios de resistência, tornando a
proposta pouco atrativa. Uma outra hipótese pode ser quanto às divergências observadas
nos solos analisados pode estar relacionada a algum fator associado à micro estrutura do
solo, que possa contribuir de forma diferenciada do que se observa em outros solos onde
os modelos mostraram-se adequados.
287

V.5 ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE CARGA

A estimativa da capacidade de carga foi feita a partir das formulações baseadas


na teoria do equilíbrio plástico. Considerou-se uma fundação circular rígida, de
superfície lisa, com 0,80m de diâmetro e apoiada a 0,50m da superfície, tal como nos
ensaios de placa a serem apresentados no Capítulo VI.

Utilizou-se a expressão da capacidade para uma sapata corrida (Equação V.4)


com os fatores de forma propostos por VÈSIC (1975) para uma fundação circular.

B
qult  c cN c   q DN q   q  N V.4
2

Onde: Nc; Nq e NJ são fatores de capacidade de carga;

J é o peso específico do solo;

c é o intercepto de coesão;

D é profundidade da fundação;

B é a largura da fundação (fundação quadrada ou corrida) ou o diâmetro


no caso de fundação circular;

[c, [q e [J são fatores de forma para uma sapata circular ou quadrada


dados por (VESIC, 1975):

[c = 1+(Nq/Nc);

[q = 1+tgI, sendo I o ângulo de atrito do solo; e

[J = 0,6.

Os fatores de capacidade de carga Nc e Nq foram calculados segundo as


expressões:

Nc=(Nq-1) cotI V.5

§ ·
Nq e tg tg 2 ¨ 45 o  ¸ V.6
© 2¹

NJ = 2(Nq+1)tgI V.7
288

Partindo-se dos parâmetros de resistência (c e I) dos ensaios de cada amostra,


procurou-se avaliar a variação da capacidade de carga com a profundidade, admitindo-
se o solo homogêneo e com as propriedades correspondentes a cada profundidade. Nas
amostras onde foram realizados ensaios com sucção controlada, a parcela de resistência
associada à sucção matricial foi incorporada nas estimativas através da coesão aparente
(c) (Equação V.9). Este artifício é sugerido por FREDLUND e RAHARDJO (1993) e
elimina o problema da não linearidade associada ao parâmetro Ib, o que tem dificultado
sua aplicação para uma ampla faixa de sucção. Procedimento semelhante foi adotado
por COSTA (1996) para avaliar a influência da sucção na análise de estabilidade de uma
encosta em solo residual.

c = c’+(ua-uw) tgIb V.8

O peso específico foi determinado a partir da média geral dos corpos de prova
dos ensaios edométricos e dos ensaios de cisalhamento direto. Na Tabela V.8
apresentam-se os valores mínimos, médios e máximos dos pesos específicos seco (Js),
natural (Jnat) e do solo saturado (Jsat.). Estes resultados encontram-se representados
graficamente na Figura V.28. Até a profundidade em torno de 1,6m os pesos
específicos, em média, apresentam pouca variação, a partir da qual observa-se tendência
de aumento. Para a condição de sucção 0kPa (solo inundado) adotaram-se os valores de

Jsat, enquanto em outras condições (outras sucções) adotaram-se os valores de Jnat.

Tabela V.8. Resumo dos valores dos pesos específicos do solo.

PESO ESPECÍFICO (kN/m3)


Prof.
(m) Js Jnat Jsat

mínimo média máximo mínimo média máximo mínimo média máximo

0,5-0,8 15,1 16 17 15,2 16,1 17,1 19,4 20 20

1-1,3 15 16 16,6 15,2 16,2 16,9 18,9 19,9 19,9

1,5-1,8 14,8 16 17 15,1 16,3 17,3 19,2 19,9 19,9

2-2,3 15 16,5 17,3 15,4 16,9 17,8 19,4 20,3 20,3

2,5-2,8 17,1 18,1 18,8 17,4 18,6 19,5 20,2 21 21


289

0 0 0

0.5 0.5 0.5


Profundidade (m)

1 1 1

1.5 1.5 1.5

2 2 2

2.5 2.5 2.5

(a) (b) (c)


3 3 3
14 16 18 20 14 16 18 20 18 19 20 21 22

J s (kN/m3) J nat (kN/m3) J sat (kN/m3)

Figura V.28. Variação dos pesos específicos com a profundidade: a) peso específico
seco (Js); b) peso específico natural (Jnat.); e c) peso específico do solo saturado (Jsat).

Na Tabela V.9 apresenta-se um resumo dos resultados das estimativas da


capacidade de carga, onde constam os parâmetros de resistência adotados, os fatores de
capacidade de carga e as tensões de ruptura (qult) e os fatores de forma propostos por
VÈSIC (1975). Nos ensaios inundados e na umidade natural ou com sucção controlada
onde observou-se nas curvas dv versus dh predominância de compressão, foi adotada
uma redução de 1/3 nos parâmetros de resistência (c e I) da Tabela V.9, admitindo-se
nestes caso que a ruptura seria do tipo localizada, conforme propõe TERZAGHI (1943).

Na condição inundada e considerando os parâmetros das amostras limitadas pela


profundidade de 2,3m, os valores médios de qult variaram entre 115 e 158 kPa.
Considerando os parâmetros de resistência da amostra de 2,5 a 2,8m, a tensão de ruptura
foi cerca de três vezes do valor mínimo observado nas outras profundidades.
Considerando os parâmetros do solo no estado natural, a capacidade de carga alcança
valores superiores a 6.000 kPa nas profundidades maiores de 2 m.

FUCALE (2000) apresenta resultados de provas de carga em placa num solo


colapsível de Petrolândia, com características similares às amostras limitadas pela
profundidade de 1,3 m. Estes resultados encontram-se na Figura V.29. Os ensaios foram
realizados na condição natural e no solo inundado, com placa de 0,40 m de diâmetro.
290

Nos ensaios na umidade natural a ruptura foi do tipo generalizada ocorrendo numa
tensão de 360 kPa. Na condição inundada, a ruptura foi do tipo localizada e o valor da
tensão de ruptura (entre 170 e 190 kPa) foi definido por extrapolação dos resultados
segundo os métodos de Van der Veen, Wong e Duncan e Mazurkiewicz.

Tabela V.9. Resumo dos resultados das estimativas da capacidade de carga.

Parâmetros de Fatores de Capacidade qult


Sucção Ruptura
Prof.(m) resistência de Carga (kPa)
(kPa) Tipo
c' ou c *
I’ ou I *
Nc Nq NJ Vesic
0 Localizada 0 33,9 19,5 9,7 9,6 187
0,5 a 0,8
~10000 Localizada 23 33,8 19,4 9,7 9,5 817
0 Localizada 0 32,6 18,2 8,7 8,3 164
0 Localizada 0 31,6 17,2 8,1 7,4 149
1 a 1,3 50 Localizada 15,7 31,9 17,5 8,3 7,7 529
500 Localizada 16,9 35,9 21,9 11,6 12,1 751
1000 Generalizada 16,3 35,4 47,8 35,0 51,1 2.034
0 Localizada 0 31,9 17,5 8,3 7,7 153
50 Localizada 12,1 32,6 41,4 28,7 39,8 5.851
200 Localizada 28,6 31,9 18,2 8,7 8,3 460
1,5 a 1,8
500 Generalizada 25,9 36,2 35,2 22,9 29,8 2.071
1000 Generalizada 33,3 35,7 51,5 38,7 58,2 3.112
~10000 Generalizada 75,6 33,8 49,2 36,3 53,7 3.568
0 Localizada 1,3 30,6 16,4 7,4 6,7 169
2 a 2,3
~10000 Generalizada 73,2 36 50,6 37,8 56,3 7.626
0 Localizada 10,6 29,1 15,2 6,6 5,7 450
2,5 a 2,8
~10000 Generalizada 145,3 57,2 973,6 1512 4695 523
Vesic: Equação V.4
Sucção (~): valor inicial aproximado dos ensaios na umidade natural
Sucção 0 kPa: ensaios inundados.
Ruptura localizada: tgId=(2/3)tgI’ou I* e cd=2/3 c ou c*, onde I’, I*, c’ e c* são os
parâmetros de resistência do solo, apresentados na Tabela V.9, na condição saturada e
não saturada, respectivamente e cd e Id são os parâmetros do solo minorados utilizados
no cálculo dos fatores de capacidade de carga.
291

RECALQUE (mm)
4

Diâmetro da Placa = 0,40m


8

Umidade Natural
10 Inundado em 10 kPa
Inundado em 80kPa
12
10 100 1000

TENSÃO VERTICAL (kPa)

Figura V.29. Resultados de provas de carga realizadas na areia colapsível de Petrolândia


(FUCALE, 2000).

Como se pode perceber na Tabela V.9, os valores de qult do solo inundado


estimados com base na teoria da capacidade de carga foram da mesma ordem do
resultado obtido a partir das prova de carga de FUCALE (2000) e compatíveis com os
resultados de ensaios de placa realizados na atual pesquisa (100 e 160 kPa) que serão
apresentados e discutidos no Capítulo VI. Por outro lado, ao se comparar os valores
previstos com base nos parâmetros dos ensaios não saturados, referentes às amostras
entre 0,5 a 1,3 m, observa-se uma considerável sobrestimativa da capacidade de carga
do solo, quando se compara com o resultado da prova de carga do solo no estado natural
de FUCALE (2000) (Figura V.29), mostrando que nesta condição a teoria convencional
pode não ser apropriada a todo solo. Uma vez que na atual pesquisa não foram
realizadas provas de carga em placa na umidade natural até a ruptura, esta comparação
deve ser vista como uma possibilidade e não como um resultado conclusivo.

A teoria da capacidade de carga é uma aplicação da teoria clássica da


plasticidade, na qual foi desenvolvida considerando o equilíbrio de um sólido rígido-
plástico. Em outras palavras, admite-se nenhuma deformação antes da ruptura e um
fluxo plástico com tensão constante após a ruptura. Segundo VESIC (1973) esta
condição se aplica a solos relativamente incompressíveis onde se espera a ocorrência de
292

ruptura do tipo generalizada. Portanto era de se esperar que nas condições onde as
amostras apresentaram comportamento dilatante, o que é indício de ruptura
generalizada, as previsões fossem compatíveis com o observado no resultado de
FUCALE (2000), pelo menos nas amostras limitadas pela profundidade de 1,3m.
Mesmo quando foi considerando ruptura localizada (amostra de 0,5 a 0,8m) na condição
natural, o valor de qult (média em torno de 770 kPa) foi substancialmente superior ao
obtido no ensaio da Figura V.29.

É possível que fatores outros não incorporados na teoria tradicional, tal como o
fenômeno de ruptura progressiva, a compressibilidade do solo e o efeito de escala
possam ter grande peso no resultado das estimativas da capacidade de carga. VESIC
(1973) ressalta que seria necessária uma teoria de capacidade de carga baseada em um
modelo de comportamento do solo mais realístico, tal como um modelo elastoplástico.

Solos colapsíveis possuem características especiais daqueles onde a teoria tem


sido comumente aplicada. No caso do loess, por exemplo, BADILLO e RODRÍGUEZ
(1973) consideram que é particularmente difícil calcular a capacidade de carga com
métodos teóricos, recomendando em tais situações o uso de provas de carga na
determinação de qult.

CUDMANI et al. (1994) comparam resultados de provas de carga em placa e em


sapatas quadradas realizados em uma formação residual do Rio Grande do Sul, com os
valores estimados segundo a teoria da capacidade de carga. Diferentes formulações para
o fator de carga NJ foram consideradas (TERZAGHI, 1943; VESIC, 1973; HANSEN,
1970; MEYERHOF, 1961; e pela Norma DIN 4017). Exceto nas previsões onde foi
adotada a redução de 1/3 nos parâmetros de resistência, para levar em consideração a
condição de ruptura localizada (TERZAGHI, 1943), os valores de qult previstos foram
de 2 a 6 vezes superiores aos valores determinados experimentalmente. Resultados
semelhantes foram obtidos por AGNELLI e ALBIERO (1994) num solo colapsível de
Bauru (SP) e por TEIXEIRA et al. (1996) em um solo laterítico do sul de Minas Gerais
com característica colapsível. Neste último caso, os autores concluem que as teorias
para estimativa de capacidade de carga são inadequadas para a prática de fundações
rasas na região.

Haja vista às divergências entre dados experimentais e os resultados de previsões


utilizando a teoria da capacidade de carga, além da ausência de um prova de carga na
293

condição natural até à ruptura nesta pesquisa, torna-se prematura alguma conclusão, em
termos de valores e comportamento, quanto ao efeito da sucção na capacidade de carga
do solo em estudo. O aumento da sucção tenderá a aumentar o valor de qult como têm
sido demonstrado por FUTAI et al. (2001) através de análise numérica utilizando um
modelo elastoplástico. Nesta referência observou-se aumento, segundo uma função
parabólica, da tensão de ruptura com a sucção, o que é justificável uma vez que a
variação na resistência não é linear para uma ampla faixa de sucção. Apesar da
sofisticação das análises realizadas, há poucos dados disponíveis de ensaios de placa
com monitoramento da sucção que permita estabelecer alguma relação ou fator de
correção para permitir melhores estimativas da capacidade de carga em solos não
saturados. Conforme argumentam estes autores, faz-se necessário medir a sucção
durante os ensaios de placa e provas de carga em solos não saturados, isto quando
possível.
294

CAPÍTULO VI

ENSAIOS DE COLAPSO “IN SITU” - PROVAS DE CARGA

VI.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Independente do tipo de solo, as provas de carga sobre placa são os ensaios que
melhor se aproximam de uma fundação superficial, sendo o meio mais realístico para
determinação da capacidade de carga de um solo e estimativa de recalques de uma
fundação. Os custos envolvidos na realização desses tipos de ensaios tornam seu uso,
geralmente, restrito às obras de maior envergadura, especialmente quando se pretende
avaliar o desempenho de um elemento de fundação, ou pesquisas acadêmicas.

A utilização de resultados de provas de carga em projetos de fundações diretas


enfrenta algumas limitações devido à fatores associados ao tipo de fundação (rigidez,
dimensão e forma), perfil de solo (tipo do solo, heterogeneidade, anisotropia, etc.) e
condições de carregamento (excentricidade, direção, etc). Tudo isso resultará em não
uniformidade das tensões transmitidas ao solo e, conseqüentemente, dificultando a
obtenção de uma relação tensão-deformação.

Na região de contato entre a placa e o solo geralmente assume-se a tensão média


aplicada (carga aplicada dividida pela área da placa) como sendo a tensão transmitida
pela placa ao solo. Isto é razoável no caso de placas flexíveis apoiadas na superfície do
terreno. No caso de placas rígidas, a distribuição das tensões no contato solo-placa será
não-uniforme e dependerá do tipo de solo.

Para profundidades superiores, as tensões induzidas pelo carregamento tendem a


diminuir. Na prática da engenharia, no cálculo destas tensões, têm-se adotado as
formulações baseadas na teoria da elasticidade, nas quais a hipótese fundamental é a
existência de uma relação constante entre as tensões e as deformações. Isto é aceitável
quando as tensões cisalhantes devido às cargas externas estejam longe das tensões de
ruptura (2 < FS < 3). Considera-se também que o meio é homogêneo e isotrópico.
A distribuição das tensões sob a fundação varia tanto verticalmente quanto
horizontalmente, onde as isóbaras de tensões assumem a forma de um bulbo de tensões.
Pela Teoria de Boussinesq a isóbara correspondente a 10% da tensão aplicada à
295

superfície do terreno atinge uma profundidade em torno de 2 vezes o diâmetro (D) de


uma placa circular, ou 2,5 D, considerando-se a isóbara correspondente a 5 % da tensão
aplicada (FERREIRA e LACERDA, 1995). Segundo MAHMOUD et al (1995), no caso
de uma placa circular, a região do solo que sofre maior influência das deformações
impostas pelo carregamento limita-se a 0,25 vezes o diâmetro (D) da placa e torna-se
negligenciável à profundidade equivalente a 1 D da placa.

Embora as formulações da teoria da elasticidade, para distribuição de tensões


sob uma fundação superficial, sejam as mais utilizadas na prática da engenharia
geotécnica, raros são os trabalhos que discutem a validade desta teoria com base em
resultados experimentais. KOEGLER e SCHEIDIG (1929) citados por
TSCHEBOTARIOFF (1973), baseados em resultados de provas de carga onde as
tensões verticais foram medidas através de células de pressão, mostram que em uma
placa rígida apoiada em uma areia sem coesão há uma concentração de tensões sob a
placa que pode exceder o valor da tensão média de contato (P/A, onde P é a carga total
aplicada e A é a área da placa), havendo um bulbo de tensões onde a isóbara de 100 %
da tensão média de contato se situa a uma profundidade aproximadamente de 0,9 D. A
pressão na célula instalada na face inferior da placa foi igual a 230 % de P/A. Na Figura
VI.1 apresenta-se um exemplo dos resultados desse estudo.

Figura VI.1. Bulbo de tensões obtido experimentalmente (“Freiberg tests”) para uma
areia sob uma fundação rígida (KOEGLER e SCHEIDIG, 1929 citados por
TSCHEBOTARIOFF, 1973).
296

Do que foi exposto nos parágrafos acima, pode-se esperar que, quanto maior o
diâmetro da placa maior recalque ocorrerá para uma determinada tensão. Esta
proporcionalidade é afetada pela heterogeneidade, anisotropia e profundidade do solo,
as quais são consideradas no método de Housel-Barata para estimativa de recalques em
fundações diretas e da tensão adimissível, sendo comprovado experimentalmente por
WERNECK et al. (1979) e JARDIM (1981). FARIA (1999) reavaliou o método de
Housel-Barata para diferentes solos residuais, onde observou elevada dispersão do
coeficiente de Buisman, utilizado neste método, sobretudo nos solos argilosos porosos.
Essas disperões foram atribuídas às diferenças de comportamento das provas de carga
num mesmo local por consequência das variações de umidade (sucção).

A previsão de recalques de uma sapata é, geralmente, feita pela extrapolação dos


recalques obtidos a partir da prova de carga em placa (ou uma sapata) para as dimensões
da fundação, admitindo-se para o solo as mesmas hipóteses da teoria da elasticidade
consideradas nas formulações utilizadas no cálculo das tensões. Isto é uma
simplificação, pois as propriedades elásticas do solo, em geral, tendem a variar com a
profundidade e raramente o solo se comporta elasticamente. A existência de camadas
com módulos de elasticidade contrastantes altera completamente o conceito de bulbo de
tensões, aplicável a solos homogêneos.Todavia estas hipóteses são tidas como válidas
para a faixa de tensão onde admitisse proporcionalidade entre tensão e recalque.

Uma vez que as dimensões da placa utilizada nos ensaios são, geralmente,
inferiores à da fundação, a região do solo envolvida na prova de carga será menor do
que a envolvida pelo elemento de fundação. Isto pode resultar que uma camada não
alcançada pelo ensaio venha a ser solicitada sob as cargas da fundação real, podendo
comprometer a acurácia dos recalques previstos diretamente dos ensaios de prova de
carga em placa.

Segundo REZNIK (1993) e REZNIK (1995) a proporcionalidade entre recalques


e a dimensão da placa é válida apenas para uma limitada faixa de diâmetro ou largura
das placas, conforme esquematizado na Figura VI.2. Apenas no trecho linear CD da
curva a proporcionalidade é valida, devendo ser considerado como um critério para
definir as dimensões do protótipo de fundação ou placa a ser utilizada no ensaio. A
forma da curva depende da carga considerada e do tipo de solo. Assim, faz-se
necessário a realização de uma quantidade mínima de ensaios, com placas de diferentes
297

diâmetros, para definir o tamanho padrão a ser utilizado em uma investigação


geotécnica.

Segundo BARATA (1986), a proporcionalidade entre recalques e diâmetro da


placa é válida para placas carregadas na superfície do terreno ou em cavas aberta
(diâmetro da cava superior a três vezes o diâmetro da placa), em solos que apresente
módulo (E) constante. Devido à variação do peso específico do solo com a profundidade
o módulo de compressão também irá variar. Na maioria dos solos o módulo aumenta e
nas camadas inferiores a compressão tenderá a ser menor do que ocorreria para um solo
com o módulo constante, nas mesmas condições de carregamento. Neste mesmo
trabalho, este autor incorpora à expressão da elasticidade fatores de correção que
consideram a influência da profundidade na previsão de recalques de um solo com
compressibilidade rápida, tal como o solo residual. Os recalques de colapso não são
contemplados nessa metodologia.

Não há um padrão internacional quanto à dimensão (forma e tamanho) das


placas a serem adotadas nos ensaios. A norma GOST 1234-66 da antiga União Soviética
(REZNIK, 1993) especifica placas circulares rígidas com áreas de 600, 2.500 e 5.000
cm2. A NBR 6489/84 prescreve o uso de uma placa rígida e com área mínima de 0,50m2
(5.000 cm2), a ser utilizada em provas de carga direta. Assim, em solos colapsíveis têm-
se, geralmente, recorrido a placas com estas dimensões, embora placas com dimensões
inferiores têm sido utilizadas por alguns autores, para avaliar o colapso no campo (ex:
FERREIRA e LACERDA, 1993; MAHMOUD, 1995 e FUCALE, 2000).

500

450 F
E
Recalque (mm)

400
D
350 A

300

250 B C
Trecho
200
linear
150
0
100 200
Diâmetro (d)300 400(a) da placa
ou largura 500 600

Figura VI.2. Relação entre recalques e larguras (diâmetros) de placas de carga rígidas
quadrada/cicular de fundações para carga aplicada de 200 kPa (REZNIK, 1993).
298

Em se tratando de solos colapsíveis, a maioria das provas de carga tem-se


limitado a avaliação do desempenho de fundações ou, simplesmente, para caracterizar o
colapso. Poucos estudos têm direcionado o uso destes tipos de ensaio no sentido de
obter parâmetros de projeto, com vista à previsão de recalques.

CINTRA (1998), baseado em resultados de provas de carga no estado natural e

no solo pré-inundado, define “carga de colapso (Qc)” como sendo a carga crítica que,
aplicada pela fundação, deflagra o colapso em um solo colapsível suficientemente

inundado. Em relação à carga última (Qu), determinada com o solo no teor de umidade
natural (variável com a sucção), a carga de colapso representa uma redução da
capacidade de carga devido à inundação. Esta definição encontra-se esquematizada na
Figura IV.3.

Analisando a Figura IV.3 percebe-se que Qc representa a capacidade de carga do


solo pré-inundado, e não, necessariamente, uma carga crítica a partir da qual o colapso

ocorrerá, pois nada impede que algum colapso ocorra para uma carga Qa < Qc,

suficiente para resultar em algum dano na obra. Com respeito a Qc, nenhuma referência

é feita por CINTRA (1998) quanto ao emprego de Qc como um parâmetro de projeto.

Qa Qc Qu
Q
RECALQUE

Qa = carga admissível

Qc = carga de colapso

Qu = carga última

Figura VI.3. Carga de colapso determinada com pré-inundação do solo (CINTRA,


1998).
299

Conforme já comentado no item II.7 (Capítulo II), em solos colapsíveis, não


apenas a região de influência das tensões como também a profundidade de inundação
devem ser vistos como parâmetros a serem considerados em um projeto. As propostas
de FERREIRA e LACERDA (1993) e MAHMOUD et al (1995), buscam obter curvas
tensão - deformação a partir de ensaios de colapso no campo. Nas duas proposições, a
deformação é calculada com base na tensão média no contato placa-solo e a
profundidade alcançada pela frente de umedecimento nos ensaios. Esta profundidade,
considerada nos métodos de previsão como sendo a região do solo de influência do
colapso é um ponto ainda não esclarecido. Além disso, os recalques de colapso (como
qualquer outro) não se distribuem igualmente na camada inundada, como admite-se nos
ensaios edométricos. Portanto, deverá existir uma profundidade limite a partir da qual
nenhum colapso adicional significativo ocorrerá, mesmo se a inundação alcance
profundidades superiores.

VI.2 ENSAIOS REALIZADOS

Foram realizados dois grupos de ensaios:

1. Grupo 1: provas de carga realizadas com placa circular rígida e com diâmetro de
80 cm (área mínima de 5.000 cm2) em cava de 1,0 m de diâmetro com
profundidade de 0,5 m da superfície do terreno;

2. Grupo 2: ensaios realizados em placa tamanho miniatura (diâmetro 10 cm)


utilizando um equipamento específico (Colapsômetro) desenvolvido para esta
finalidade, nas profundidades de 0,5; 1,0 e 1,5 m.

Os objetivos dos ensaios foram:

1. Grupo 1: servir de referência para as previsões de recalques de colapso, que


serão apresentadas e discutidas no Capítulo VII.
2. Grupo 2: para fornecer dados do perfil de solo a serem aplicados na previsão de
recalques.
Nos ensaios procurou-se simular a situação mais comum sujeita a uma fundação
direta assente em um solo condicionalmente colapsível, ou seja, carregamento
(construção da obra) no período seco e, posteriormente submetida à um processo de
umedecimento, o qual resultará nos recalques de colapso. Os dois grupos de ensaios
300

foram realizados no período mais seco da região (outubro e novembro). O caminho de


tensões seguido foi: carregamento do solo, por estágio, até uma tensão Vvi determinada
e, em seguida, inundação mantendo a tensão constante, registrando assim os recalques
de colapso. O critério de estabilização dos rescalques (antes da inundação e os de
colapso) foi o da NBR 6489/84. Nos ensaios do Grupo 1, após a estabilização dos
recalques de colapso, novos estágios de carregamento foram aplicados até o solo atingir
uma condição de ruptura.

A definição das tensões onde foram efetuadas as inundações (Vvi) foi com base
nos tipos de edificações predominantes no local de pesquisa e que resultassem num FS
> 3, considerando a capacidade de carga do solo na condição natural. Uma vez que a

tensão de ruptura nesta condição (Vrn), prevista com base na teoria da capacidade de
carga (Capítulo V), foi elevada e esta teoria tem-se mostrado incompatível na estimativa
da tensão de ruptura em alguns solos não saturados, tomou-se como referência o
resultado da prova de carga na umidade natural apresentado por FUCALE (2000), onde
obteve-se uma tensão de ruptura em torno de 360 kPa. Este ensaio (Figura VI.4) foi
realizado no mesmo campo experimental de FERREIRA (1995), em Petrolândia - PE,
num solo similar ao estudado na atual pesquisa. Nos ensaios com placa de 80 cm
(ensaio de referência) as tensões de inundação foram 60 kPa (Vvi # 1/6 Vrn), e 100 kPa,

(Vvi #1/3Vrn). Nos ensaios com placas de 10 cm as tensões variaram de 15 a 100 kPa.

Os ensaios de referência foram realizados pela ATECEL da UFCG, sob a


coordenação do autor desta pesquisa. Nestes ensaios foram realizados o
acompanhamento do avanço da frente de umedecimento utilizando um sistema simples,
desenvolvido neste trabalho especificamente para esta finalidade. Nos ensaios do
segundo grupo, um equipamento, denominado “Colapsômetro” foi desenvolvido no
laboratório de solos da UFPE, tomando por base outras propostas da literatura.

VI.2.1 Provas de carga em placa

VI.2.1.1 Locação e numeração dos ensaios

A locação das provas de carga, em relação aos outros ensaios de campo


realizados, está indicada nas Figuras III.7 e III.8 apresentadas no Capítulo III, sob as
301

RECALQUE (mm)
4

Diâmetro da Placa = 0,40m


8

Umidade Natural
10 Inundado em 10 kPa
Inundado em 80 kPa
12
10 100 1000

TENSÃO VERTICAL (kPa)

Figura VI.4. Resultados de provas de carga realizadas na areia colapsível de Petrolândia


(FUCALE, 2000).

siglas PC01 (prova de carga 1) e PC02 (prova de carga 2). Na disposição das provas de
carga procurou-se eliminar qualquer sobreposição da área de influência (sobreposição
do bulbo de tensões e área inundada) de um ensaio sobre o outro. Assim adotou-se uma
distância em torno de 5,0 metros entre cada ensaio.

A escolha dessa distância levou em consideração dois aspectos: 1) reservar uma


área entre as duas provas de carga para a realização dos futuros ensaios com o
“Expansocolapsômetro”; e 2) evidências de estudos semelhantes realizados por
HOUSTON et al. (1988) em um solo colapsível do Arizona, envolvendo prova de carga
em um modelo de fundação direta construído a 0,41m da superfície, limitando a
inundação da região carregada através de bermas. Após a realização do ensaio foi
verificado que a maior distância radial alcançada pelo umedecimento do solo foi cerca
de 2,0 m do centro do modelo. Vale ressaltar que a área da base do modelo foi 0,46 m2,
enquanto a área envolvida pela berma foi 1,41m2.

VI.2.1.2 Equipamento

Para execução das provas de carga de referência, foi utilizado um macaco


hidráulico com capacidade de 70 tf, alimentado por uma bomba hidráulica manual
302

dotada de um manômetro, previamente calibrado pelo Laboratório de Metrologia da


UFRN.

O sistema de reação empregado consistiu de uma cargueira (caminhão caçamba


de três eixos carregado com solo e pedras), com capacidade de aplicar até 15tf. O
macaco foi aplicado diretamente no eixo traseiro do caminhão, utilizando uma rótula
para melhor centralização da carga, impedindo assim a inclinação do eixo e a rotação da
placa. Na Figura VI.5 está apresentada uma representação esquemática da montagem do
ensaio e nas Figuras VI.6 e VI.7 uma visualização do ensaio.

Os deslocamentos verticais da placa foram medidos, simultaneamente, através


de 03 (três) extensômetros mecânicos, com sensibilidade de 0,01 mm, instalados em
eixos eqüidistantes de 120o. Os extensômetros foram fixados em suportes metálicos
presos a uma viga de referência com rigidez compatível com a sensibilidade das
medidas efetuadas. A viga de referência era apoiada sobre dois tripés distantes 2 m da
extremidade da cava.

DESCRIÇÃO:

Conjunto de placas

1) Conjunto de placas
2) Macaco hidráulico
3) Rótula
4) Extensômetro
5) Viga de referência
6) Prancha de madeira
7) Mangueira de água
8) Sensor elétrico
9) Sistema de alarme
10) Reservatório de água
11) Mangueira de nível
12) Bulbo de tensões

Figura VI.5. Representação esquemática da montagem da prova de carga.


303

Figura VI.6. Fotografia ilustrando o ensaio antes da inundação.

Figura VI.7. Fotografia ilustrando a etapa de inundação do ensaio.


304

Um conjunto composto de três placas circulares de aço sobrepostas, com


diferentes diâmetros e espessura 20 mm, foi utilizado para simular um elemento de
fundação rígido com diâmetro de 0,80 m e área 0,50 m2 (Figuras IV.6 e IV.7).

O avanço da frente de umedecimento foi acompanhado utilizando um sistema de


alarme composto de sirene e indicador analógico, o qual registra, por meio de um sensor
instalado no solo, a variação de umidade provocada pela inundação do solo. Os dois
dispositivos (alarme e cabos sensores) podem ser visualizados na Figura VI.7.

Este sistema desenvolvido neste trabalho foi elaborado a partir de um medidor


de nível e possui o mesmo mecanismo de funcionamento deste equipamento. A
modificação realizada consistiu, basicamente, na instalação de um autofalante mais
potente e reconfiguração do circuito, tornando os sinais (analógico e sonoro) mais
sensíveis às variações do teor de umidade do solo. O circuito foi montado em uma caixa
apropriada, onde adaptou-se uma saída para receber um conector do tipo P10 (utilizado
em equipamentos de som).

Os sinais sonoro e analógico são acionados quando um sensor elétrico instalado


no solo, em uma profundidade pré-determinada, é submetido às variações de umidade
do solo. À medida que a umidade aumenta, os sinais são ampliados, atingindo o
máximo quando o solo encontra-se próximo da saturação.

O elemento utilizado como sensor consistiu de um cabo elétrico paralelo, onde


foram instalados dois conectores P10 (um em cada extremidade). Antes da instalação
dos conectores, o cabo foi inserido em uma mangueira de plástico transparente de 3/8”.
O objetivo desta mangueira é fornecer uma proteção adicional ao cabo contra choques
mecânicos que podem ocorrer durante a instalação do dispositivo no solo, evitando uma
possível ruptura do mesmo.

Este dispositivo não permite obter informações que se relacionem com o teor de
umidade do solo, tal como outros dispositivos destinados a esta finalidade (ex. TDR,
Sonda de Nêutrons, etc). Sua eficiência limita-se a solos com baixos teores de umidade.
Por outro lado, dada a pequena dimensão do elemento utilizado como sensor (conector
P10), é possível obter informação mais precisa da posição da frente de umedecimento, o
que é uma vantagem em relação aos demais, já citados. Uma outra vantagem é o custo
do dispositivo, onde os componentes (circuito equivalente, cabos e conectores) podem
305

ser encontrados na maioria das lojas de equipamentos eletrônicos a um preço muito


baixo.

VI.2.1.3 Procedimento

Nas prova de carga em placa adotou-se o seguinte procedimento:

1. Abertura e preparação da cava.

Uma cava circular com diâmetro de 1,0 m e 0,50 m de profundidade foi aberta
no terreno. Utilizando uma régua de madeira, foi feita uma cuidadosa preparação do
solo para o assentamento do conjunto de placas, tendo o devido cuidado de primar pelo
nivelamento do solo no fundo da cava.

A profundidade de ensaio, de apenas 0,50 m, obedeceu a dois critérios básicos:


1) o tamanho do bulbo de tensões, previsto para ser de 2,0 m de profundidade, conforme
discutido no item de amostragem no Capítulo III; e 2) espessura máxima da camada de
solo (da ordem de 3,0 m) na área destinada aos estudos de campo nesta pesquisa,
conforme demonstrado nos perfis de sondagens apresentados no Capítulo III.

2. Preparação do tapete drenante.

Uma vez que estava prevista a inundação do solo sob a placa, uma camada de,
aproximadamente, 15 mm de areia grossa pedregulhosa lavada foi distribuída sobre o
fundo da cava devidamente nivelado. Procedimento semelhante foi adotado por
REZNIK (1993) e CONCIANI (1997), cujo objetivo principal é facilitar e
homogeneizar a infiltração da água no solo sob a placa.

3. Montagem dos sistema de carregamento.

A placa inferior (0,80 m de diâmetro) foi apoiada, diretamente, sobre a camada


drenante, tomando-se toda precaução para manter sua centralização, tanto em relação ao
eixo do caminhão quanto em relação à parede da cava. As demais placas, um cilindro,
base dos extensômetros, macaco hidráulico e rótula eram sobrepostos, nesta seqüência,
sobre a placa inferior para formaro sistema de transmissão das cargas.

4. Execução do ensaios.
306

A execução dos ensaios foi baseada nas recomendações da norma NBR 6489/84
(ensaio lento). A tensão prevista para o ensaio foi 100 kPa (tensão máxima de
inundação). Foi programado ensaiar o solo até o dobro da tensão prevista (200 kPa), em
10 (dez) estágios de tensões de 20 kPa, correspondente a 10 % da tensão máxima
programada.

4.1 Estágios de carregamento.

O carregamento era aplicado por estágio até a tensão de inundação, onde era
interrompida a aplicação da seqüência de estágios de tensão para iniciar o processo de
inundação do solo. O estágio posterior só era aplicado quando o recalque entre duas
leituras consecutivas fosse inferior a 5% do recalque total, conforme a NBR 6489/84.

4.2. Procedimento de inundação.

4.2.1 Durante a preparação da cava, quatro furos eqüidistantes 90o entre si foram
abertos utilizando um trado com 60mm de diâmetro externo (o mesmo utilizado
na abertura dos furos do ensaio Guelph) para permitir a instalação do sistema de
alarme. Os furos foram posicionados adjacentes à parede da cava, cada um com
profundidade distinta a partir da profundidade do ensaio, a saber: 0,5; 1,0; 1,5; e
2,0 metros. Na Figura VI.8 apresenta-se um desenho esquemático da montagem
do sistema de alarme.

4.2.2 O início da inundação foi realizado lançando-se um grande volume de água


sobre o centro da placa, sob uma vazão mínima de 0,11 l/s, até formar uma
lâmina d’água que oscilava entre 50 e 70mm (Figuras VI.7 e VI.8). A lâmina
d’água era mantida através de uma mangueira conectada a um reservatório com
dimensões conhecidas, no qual foi acoplado externamente um tubo transparente
e uma escala, servindo como indicador do nível d’água no reservatório (Figura
VI.5). Quando necessário, um volume extra de água era acrescentado por meio
de uma mangueira com vazão conhecida (a mesma utilizada para formar a
lâmina d’água).

4.2.3 Com este procedimento foi possível calcular, com relativa acurácia, o volume de
água utilizado durante o avanço da frente de umedecimento até a profundidade
de 2,0 m, considerada o limite do processo. Uma vez a água tendo alcançado a
profundidade do sensor, o circuito era acionado, soando o sinal.
307

Figura VI.8. Representação esquemática da montagem do sistema de alarme para


acompanhamento da frente de umedecimento.

4.3 Recalques de colapso.

Os recalques de colapso (recalques decorrentes da inundação) eram


acompanhados em sucessivos intervalos de tempo, numa razão ('t/t)=1, até a
estabilização, conforme a NBR 6489/84, ou a completa inundação do bulbo de tensões
(2 m abaixo da placa).

4.4 Ruptura.

Após a completa estabilização dos recalques de colapso e o completo


umedecimento do bulbo de tensões, novos estágios de carregamento eram aplicados até
alcançar um recalque equivalente a 10 % do diâmetro da placa (80mm) ou o limite da
tensão programada para o ensaio.

Dada a excessiva perda de rigidez do solo devido ao umedecimento, nenhuma


das duas provas de carga realizadas atingiram a tensão programada (200 kPa). Apenas
na primeira prova de carga (PC01) o critério dos 10 % foi alcançado. No segundo ensaio
308

(PC02), só foi possível acrescentar dois novos estágios de carregamento. Além desses, o
solo não apresentava reação suficiente para manter a pressão do manômetro. Neste caso,
considerou-se como ruptura a máxima condição de tensão e deformação alcançada no
ensaio. As tensões de ruptura foram: 160 kPa para o ensaio PC01; e 100 kPa para o
ensaio PC02.

Com este procedimento pretendia-se obter as seguintes informações do ensaio:

1. Recalque de colapso com o tempo;

2. Avanço da frente de umedecimento com o tempo;

3. Volume de água necessário para provocar o colapso.

A análise conjunta dessas informações auxiliaria na definição da profundidade,


abaixo de uma fundação superficial, submetida a um fluxo vertical descendente,
responsável pelo desencadeamento de todo processo de colapso. Todavia,
diferentemente do avanço da frente de umedecimento, os recalques com o tempo foram
lançados diretamente em uma planilha eletrônica num computador portátil, utilizado
para agilizar o processamento dos resultados. Infelizmente, problemas na planilha
eletrônica resultou na perda destas informações.

Após a conclusão do ensaio, o sistema era imediatamente desmontado e retirado


o caminhão. Utilizando o trado concha de 60mm de diâmetro, realizava-se um furo no
centro da cava, onde eram coletadas, a cada 0,50m, três amostras de solo para
determinação do teor de umidade. Na Figura VI.9 estão apresentados os perfis de
umidade determinados antes e após a conclusão dos ensaios. Nesta figura, o símbolo
localizado no canto direito superior indica a profundidade do ensaio. Os elevados teores
de umidade (superior a 10 % na maioria dos resultados) após o ensaio confirmam que
toda região considerada de influência do bulbo de tensões foi inundada. Induzindo a um
grau de saturação superior a 50 %.

VI.2.1.4 Apresentação e discussão dos resultados

VI.2.1.4.1 Curvas tensão-recalque

Na Figura VI.10 estão apresentadas as curvas tensão-recalques referentes às duas


provas de cargas realizadas, onde observa-se proporcionalidade entre os recalques de
309

0 0 0
PC01 Q PC02 Q
Areia fina siltosa
0.5 não plástica 0.5 0.5

1 1 Inicial 1
Profundidade (m)

Final
Areia fina

Areia Média
1.5 1.5 1.5
siltosa
3 < IP% < 5
2 2 2
Argila

Areia Fina
2.5 2.5 2.5

3 3 3 Inicial
Final
3.5 3.5 3.5
0 20 40 60 80 100 0 10 20 30 0 10 20 30
Granulometria (%) Teor de Umidade (%) Teor de Umidade (%)

Figura VI.9. Perfis de umidade obtidos antes e após as provas de carga.

0
10
20
Recalque (mm)

30
40
50
60
70
PC01
80
PC02
90
0 50 100 150 200
Tensão Vertical (kPa)
Figura VI.11. Curvas tensão vs. recalques das provas de carga.
310

colapso com a tensão vertical de inundação. Até a tensão de inundação (100 kPa para o
ensaio PC01 e 60 kPa para o ensaio PC02), antes de iniciar o umedecimento do solo, os
recalques totais foram pequenos (1,24 mm no ensaio PC01 e 0,56mm no ensaio PC02).
Os colapsos (parcela de recalque devido à inundação) foram de 45 mm para o ensaio
PC01 e 20,5 mm para o ensaio PC02. No caso do ensaio PC02 o colapso observado
aproxima-se do critério de ruptura técnica da NBR 6489/84 (25mm), enquanto no ensaio
PC02 o colapso ultrapassa em 20mm este valor.

VI.2.1.4.2 Avanço da frente de umedecimento

Nas Figuras VI.11 e VI.12 estão apresentados o avanço da frente de


umedecimento e o consumo de água necessário para umedecer o solo em cada
profundidade. Os dados relacionando profundidade inundada (D) com o tempo (t) foram
ajustados segundo a proposta de EL-EHWANY e HOUSTON (1990) (item II.7),
resultando em boa concordância entre os valores experimentais e a curva ajustada. As
funções de ajuste para cada ensaio estão apresentadas nas Equações VI.1 e VI.2, para os
ensaios PC01 e PC02, respectivamente. Nestas equações, o menor coeficiente de
infiltração (Ci) no ensaio PC01 (0,086m/min0,5) pode ser atribuído às maiores
deformações de colapso neste ensaio, tendo como conseqüência maior redução na
permeabilidade.

D = 0,086 t0,5 VI.1

D = 0,109 t0,5 VI.2

O volume total de água consumido para o umedecimento de cada profundidade


especificada pela instrumentação, não define com clareza uma tendência que possa ser
expressa por uma função. O resultado do ensaio CP02 (Figura VI.12) sugere que, a
medida que a frente de umedecimento avança (Figura VI.13a), maior quantidade de
água se faz necessária para umedecer a profundidade seguinte (Figura VI.12b). Esta
tendência é observada até 1,5m, a partir da qual o acréscimo tende a diminuir. Este
comportamento pode ser melhor visualizado através da Figura VI.13b. Para a
profundidade de 2,0 m sob a placa o consumo de água foi menor. No ensaio PC01
311

0 0
Profundidade da Placa Profundidade da Placa
PC01
Profundidade da frente de.

0.5 0.5
umedecimento (m)

1 1

1.5 1.5

2 2

2.5 0,5 2.5


D = 0,086t
3 3
0 200 400 600 0 500 1000 1500

Tempo (min) Volume de Água (L)

(a) (b)

Figura VI.11. a) Profundidade da frente de umedecimento em função do tempo; b)


Volume total de água consumido ao longo do avanço da frente de umedecimento
(ensaio CP01).

0 0
Profundidade da Placa Profundidade da Placa PC02
PC02
Profundidade da frente de.

0.5 0.5
umedecimento (m)

1 1

1.5 1.5

2 2

2.5 0,5 2.5


D = 0,109t
3 3
0 200 400 600 0 500 1000 1500
Tempo (min) Volume de Água ( L )

(a) (b)

Figura VI.12. a) Profundidade da frente de umedecimento em função do tempo; b)


Volume total de água consumido ao longo do avanço da frente de umedecimento
(ensaio CP02).
312

(Figura VI.13a) também observa-se este comportamento, porém, esta análise fica
prejudicada uma vez que o acompanhamento do processo de inundação foi feito, com
segurança, apenas até a profundidade de 1,0m.

Uma possível explicação para redução do consumo de água no trecho de 1,50 a


2,0 m abaixo da placa (2,0 a 2,5 m da superfície do terreno) no ensaio PC02 pode estar
associado à heterogeneidade do solo. Como pode ser observado na Tabela III.4 e na
Figura III.19 (Capítulo III), há maior concentração de finos a partir dos 2,0 m (1,5m
abaixo da placa) de profundidade e redução no índice de vazios (Figura III.19),
influenciando assim no comportamento do fluxo.

O menor volume total de água no ensaio PC01 (Figura VI.11b) em relação ao


ensaio PC02 (Figura VI.12b) pode ser justificado pelo esvaziamento da lâmina d’água
que ocorreu em algum momento durante a noite, embora o fluxo continuasse a
prosseguir, pois no ensaio PC01 não foi possível o acompanhamento de todo processo
de umedecimento.

Uma vez que no ensaio PC01 não foi possível o acompanhamento do avanço da
frente de umedecimento para toda a extensão do bulbo (2,0m abaixo da placa), uma
estimativa do tempo necessário para que isto ocorresse foi feita a partir da Equação VI.1,

0.5 0.5
Profundidade (m)..

Profundidade (m)

1.0
1.0
1.1

1.5
1.5

PC01 2.0 PC02


2.0

0 200 400 600 800 0 200 400 600 800

Consumo de Água (L) Consumo de Água (L)


(a) (b)

Figura VI.13. Volume de água consumido para umedecer cada profundidade do solo
abaixo da placa.
313

indicando que a inundação do bulbo ocorreria 540 min após o início do processo. Vale
registrar que, no dia seguinte, passados 460 min desde o início da inundação, os dois
sensores instalados a 1,50 m e 2,0 m abaixo da profundidade da placa indicaram a
presença de água, estando os sinais (analógico e sonoro) no seu limite superior,
indicando que o umedecimento foi intenso.

VI.2.1.4.3 Recalques de colapso versus tempo

Conforme descrito no item VI.2.1.3, quase a totalidade dos dados relacionando


os recalques em função do tempo foi perdida. Contudo, devido à necessidade de
interrupção do acompanhamento do ensaio PC01, uma leitura dos extensômetros, antes
da frente de umedecimento alcançar a profundidade de 1,0m, ficou registrada fora da
planilha eletrônica, permitindo a obtenção de três pontos da curva tempo-recalque. O
primeiro ponto refere-se ao recalque medido no início da inundação; o segundo refere-
se ao recalque registrado após 106 min do início da inundação e o terceiro ao recalque
do fim da inundação (colapso total), registrado após 460 min (# 7,5 h) de inundação.
Este resultado está apresentado na Figura VI.14, juntamente com o avanço da frente de
umedecimento e o volume de água. O trecho onde não ocorreu a monitoração do
consumo de água encontra-se representado pelo segmento tracejado.

Este resultado (Figura VI.14) mostra que após 106min do início do processo de
umedecimento, quase a totalidade do recalque de colapso (43,5mm) havia ocorrido,
mesmo sem o sensor localizado à 1,0m de profundidade ter acionado o alarme.
Considerando a curva ajustada pela Equação VI.1, a profundidade da frente de
umedecimento neste momento deveria estar em torno de 0,88m, consumindo cerca de
570 litros de água. A partir daí, todo o excesso de água adicionado resultou num
acréscimo de 1,47 mm no recalque de colapso. Comportamento semelhante também foi
observado no ensaio PC02.

Não se pode, porém, descartar que a camada entre 1,0 e 1,5m, a partir da
profundidade da placa (1,5 a 2,0m da superfície do terreno), tenha exercido alguma
contribuição no colapso total. Conforme discutido no Capítulo IV os resultados dos
ensaios edométricos na umidade natural (Figura IV.8) indicam que até a profundidade
de 1,5 m um teor de umidade pequeno, entre 4 % e 5 % pode resultar em considerável
aumento na compressão do solo, especialmente nas camadas não plásticas com menor
314

0 1300
PC01

Volume de Água ( L )..


10 1040

Recalque (mm).
20 780

30 520
Recalque
40 Volume de Água 260

50 0
0 0 200 400 600
PC01
Profundidade da frente.

0.5
de umedecimento (m)

Profundidade da Placa
1

1.5

2.5 0,5
D = 0,086t
3
0 200 400 600
Tempo (min)

Figura VI.14. Recalque, consumo de água e profundidade inundada em função do


tempo.

teor de argila. Um teste preliminar no laboratório mostrou que se faz necessário um teor
de umidade mínimo da ordem de 5 % para o sistema de alarme emitir os primeiros
sinais. Portanto, é possível que parte do colapso tenha ocorrido no trecho de 1,0 a 1,5 m,
abaixo da placa, sem o sistema ter sido acionando. Vale ressaltar que os critérios de
classificação da colapsibilidade (Capítulo VII) sugerem que o trecho entre 1,0 e 2,0 m
de profundidade apresenta maior susceptibilidade ao colapso do que em outras
profundidades.

CONCIANI (1997) mediu o avanço da frente de umedecimento em ensaios de


colapso semelhantes aos realizados nesta pesquisa, utilizando a técnica da reflectometria
no domínio do tempo (TDR) e tensiômetros. Uma parte do estudo foi realizada em um
315

solo argiloso (CL) localizado no município de Campo Novo do Parecis, Mato Grosso.
Trata-se do mesmo solo estudado por FUTAI (1997).

Uma síntese desses resultados encontra-se representada na Figura VI.15, e será


utilizada para complementar as discussões da Figura VI.14. A Figura VI.15a representa
a variação da sucção em determinadas profundidades devido à inundação do solo. Na
Figura VI.15b as variações da sucção, em cada profundidade, é representada como
função do tempo. Na Figura VI.15c está representada a curva tensão-recalque referente
ao ensaio inundado na tenção de 54 kPa (ensaio 3). Na Figura VI.15d está representada
as variações dos recalques de colapso com o tempo.

SUCÇÃO (kPa)
TEMPO (min)
-10 0 10 20 30 40 50 0 50 100 150 200 250 300
50
0.25 Prof. 0,25m
40
PROFUNDIDADE (m)

Vv i =54kPa Prof. 0,50m


SUCÇÃO (kPa)

0.5 Prof. 0,75m


30
Antes da inundação Porf. 1,0m
Início da Inundação 20 Prof. 1,5m
0.75
8 min. após
10
1 60 min. após
120 min. após 0
Poro pressão
1.5 150 min. após
positiva
-10
(a)
(b)

0 0
5 5
10 10
RECALQUE (mm)

15 15
20 20
25 0,25m 25
30 Profundidade 30
da frente de
35 umedecimento 35
40 40
0,50m
45 0,75m 45
50 50
0 10 20 30 40 50 60 0 50 100 150 200 250 300

TENSÃO (kPa) TEMPO (min)


(c) (d)

Figura VI.16. Resultados de prova de carga instrumentada em um solo colapsível do


Mato Grosso: (a) Variação da sucção com a profundidade; (b) variação da sucção com o
tempo; (c) curva tensão-recalque; (d) curva tempo - recalque (CONCIANI, 1997).
316

Observa-se (Figura VI.15a e b) que as variações da sucção limitaram-se à


profundidade, máxima, de 0,75m. Para o tempo máximo de leitura dos tensiômetros
(150min), os recalques (Figura VI.15d) apresentam-se, praticamente, estabilizados.
Nenhum esforço adicional foi feito no sentido de garantir que a inundação envolvesse
todo o bulbo de tensões, estando o processo de umedecimento condicionado à
estabilização dos recalques.

Em cada profundidade envolvida pelo umedecimento observa-se, em um


determinado momento, uma redução acentuada da sucção (Figura VI.15a), a qual será
considerada aqui como o momento de chegada da frente de umedecimento. Ao
correlacionar o avanço da frente de umedecimento com os recalques (Figuras VI.15b, c
e d) observa-se que cerca de 50 % do colapso ocorre quanto o umedecimento alcança a
profundidade de 0,25 m abaixo da placa, e pouco menos de 50 % quando a frente
alcança a profundidade de 0,50 m. Nos 0,25 m restante do avanço da frente de
umedecimento apouco colapso ocorreu.

Utilizando tomografia computadorizada, CONCIANI (1997) observou que as


variações de volume (medida a partir da variação da massa específica seca) estiveram
concentradas nos primeiros centímetros abaixo da placa, com as mudanças mais
significativas ocorridas a 20 cm, ou seja, 0,25 D, sendo D o diâmetro da placa, embora
exista alguma diferença entre os valores até, aproximadamente, 0,8 D (0,64m). Este
resultado encontra-se representado na Figura IV.16.

É importante ressaltar que a velocidade do colapso estará associada ao tipo de


estrutura e natureza das ligações. HOUSTON et al. (1995) consideram que o colapso em
solos arenosos ocorre de forma quase imediata. Neste caso, é previsível que uma vez
que a frente de umedecimento alcance uma determinada profundidade, praticamente
todo parcela de colapso para o estado de tensão atuante nesta profundidade ocorrerá em
poucos minutos.

A definição da posição da frente de umedecimento dependerá da sensibilidade


do sistema utilizado para sua monitoração. Uma vez um solo arenoso pode apresentar
considerável colapso com pequenas variações no grau de saturação, é possível que
alguma camada inferior venha a colapsar antes da frente de umedecimento ser
detectada, tal como o solo desta pesquisa.
317

0,5

0,7

0,9 Profundidade
1,0m do ensaio
Profundidade (m)
Região de concentração
1,1 do colapso
1,2m

1,3

1,5

1,7

1,9 Antes do Ensaio


Após o Ensaio
2,1
0,8 0,9 1 1,1
3
Massa Espec.Seca (gr/cm )

Figura VI.16. Massa específica antes e após o ensaio obtida por tomografia
computadorizada (CONCIANI, 1997).

No caso do solo estudado por CONCIANI (1997), a natureza argilosa do mesmo,


induz uma resposta mais lenta do solo com o processo de umedecimento. Em outras
palavras, mesmo que a frente de umedecimento tenha alcançado uma profundidade
superior, nada garante que o colapso na camada anterior tenha se estabilizado por
completo. Isto pode explicar o fato de cerca de apenas 50 % do recalque total de colapso
tenha ocorrido quando a frente de umedecimento alcançou a profundidade de 0,25 m
abaixo da placa, embora o resultado da tomografia sugira que quase a totalidade do
colapso tenha ocorrido nesta camada. Vale ainda ressaltar que a hipótese adotada para
caracterizar a chegada do avanço da frente de umedecimento na Figura VI.15 não leva
em conta a redução da sucção a um valor zero, podendo o valor remanescente exercer
alguma influência na rigidez do solo até alcançar a completa saturação.

Considerando os resultados apresentados, é possível concluir:


318

1. a maior influência da inundação nos recalques de colapso deverá estar limitada a


uma profundidade equivalente ao diâmetro da placa. Esta profundidade pode ser
maior no caso da existência de camadas subjacentes com maior susceptibilidade
ao colapso (ex: camadas verdadeiramente colapsível) submetida a um estado de
tensão superior ao crítico.

2. considerando os resultados do avanço da frente de umedecimento (Figuras VI.12


e VI.13) e uma fundação direta, com cerca de 1m x 1m de lado, apoiada a 1,0m
da superfície do terreno na areia colapsível de Petrolândia, é possível que a
frente de umedecimento alcance o primeiro metro sob a fundação (2m da
superfície do terreno) entre 5 e 9 horas, caso ocorra precipitações pluviométricas
intensas, a qual associadas à deficiência de drenagem, possibilite o acúmulo de
água próximo a um elemento de fundação.

Em muitas construções de Petrolândia, as fundações possuem dimensões


superiores a descrita no parágrafo acima, apoiadas em profundidades em torno de 1,0 m.
Muitos elementos de fundações da Escola Agrícola (Campo Experimental) se
enquadram nesta condição. Mesmo em um ano de baixa pluviometria, é possível que
precipitações entre 35 mm e 40 mm (ou superiores) possam ocorrer em apenas uma
noite no período chuvoso. Assim, as condições descritas em (2) são possíveis de ocorrer
e podem justificar vários danos observados nas edificações da escola. Além disso, a
constatação de uma camada com maior susceptibilidade ao colapso entre 1,0 m a 2,0 m
da superfície do terreno é um fator agravante, o que pode justificar a intensificação dos
danos observados nas edificações no decorrer desta pesquisa.

VI.2.2 Ensaios com o equipamento “Expansocolapsômetro”.

O principal objetivo destes ensaios é obter curvas tensão-recalque de colapso,


representativas das camadas de solo envolvidas pelo bulbo de tensões das provas de
carga.

Os ensaios foram realizados, em diferentes profundidades, utilizando um


equipamento específico, denominado “Expansocolapsômetro”. Esta nomeclatura foi
atribuida por FERREIRA e LACERDA (1993) uma vez que este equipamento permite,
em princípio, medir tanto o colapso quanto expansão no campo.
319

VI.2.2.1 Locação e numeração dos ensaios

A locação dos ensaios com o Colapsômetro, em relação aos outros ensaios


realizados, está indicada nos Figuras III.7 e III.8 apresentados no Capítulo III, sob as
siglas ECTi-j, onde i é o número do furo e j o número do ensaio. Os furos foram
posicionados numa área delimitada pelas duas provas de carga dos ensaios do Grupo 1.
A distância mínima entre dois furos foi 1,0 m, evitando assim qualquer influência da
inundação de um ensaio sobre o outro. A profundidade dos ensaios foi definida de
forma a envolver a região do bulbo de tensões envolvida no processo do colapso. Na
Figura VI.17 apresenta-se, esquematicamente, a distribuição dos ensaios em relação ao
bulbo.

O bulbo de tensões foi dividido em quatro camadas, com 0,50 m cada, com as
profundidades coincidindo com as das amostras indeformadas (blocos). Assim os
resultados obtidos nos ensaios com Colapsômetro poderão ser correlacionados com os
obtidos nos ensaios edométricos.

Foi realizado um total de 14 ensaios, distribuídos em oito furos. Na Tabela VI.1


está apresentado o quantitativo dos ensaios, com a correspondente tensão de inundação
(Vvi).

Figura VI.17. Representação esquemática das profundidades dos ensaios com o


Colapsômetro, em relação ao bulbo de tensões dos ensaios de referência.
320

Tabela VI.1. Quantitativo de ensaios com o Colapsômetro.


FURO ENSAIO PROF. (m) Vvi (kPa)
ECT1-1 0,5 100
1
ECT1-3 1,5 100
1B ECT1B-1 0,5 100
1A ECT1A-1 1,0 100
ECT2-1 0,5 60
2 ECT2-2 1,0 60
ECT2-3 1,5 60
ECT3-1 0,5 30
3 ECT3-2 1,0 30
ECT3-3 1,5 30
3A ECT3A-1 1,0 30
ECT4-1 0,5 15
4
ECT4-2 1,5 15
4A ECT4A-1 1,0 30

VI.2.2.2 Equipamento

Nesta pesquisa, uma versão aprimorada do Expansocolapsômetro foi elaborada a


partir das versões propostas FERREIRA e LACERDA (1995) (Figura II.11) e por
MAHMOUD et al. (1995) (Figura II.12), apresentadas no Capítulo II.

Em síntese, ambas propostas consistem de uma base fixa por onde desliza uma
haste ligada a uma placa superior utilizada para aplicar os carregamentos. A carga é
transmitida ao solo por meio de uma sapata circular rígida perfurada, com tamanhos que
variam de 70 mm a 150 mm na proposta de MAHMOUD et al. (1995) e 100mm na
proposta de FERREIRA (1995). Nos ensaios, as cargas são obtidas adicionando pesos
previamente calibrados, à placa superior. Uma vez alcançada a tensão prevista, dá-se a
inundação do solo através de condutos ligando um reservatório (ou outro tipo de fonte
de água) de água à sapata. Os recalques de colapso são medidos por meio de
extensômetros apoiados sobre barras conectadas a haste. Na Tabela VI.2 está
apresentado um resumo das principais características de cada equipamento.
321

Tabela VI.2. Principais características do Expanso - Colapsômetro (FERREIRA, 1995)


e do “Down Hole Collapse Test” (MAHMOUD et al., 1995).

ITEM FERREIRA (1995) MAHMOUD et al. (1995)


Tripé composto por dois
conjuntos (um superior e outro
Mesa estabilizadora com um
inferior) com três rolamentos
Base Fixa rolamento central tipo agulha
externos, cada, eqüidistantes 120o
com diâmetro fixo.
um do outro e ajustáveis ao
diâmetro da haste.
Diâmetro de 100mm. O contato
sapata-haste é feito por meio de
Diâmetro 75 a 150mm, composta
encaixe, formando uma espécie
de um reservatório interno,
de rótula. A inundação é feita
engastada à haste. A inundação é
Sapata por um conduto (mangueira)
feita internamente (por dentro da
fixado externamente à haste.
sapata) utilizando como conduto a
Não há reservatório interno e a
própria haste.
inundação é feita lançando água
sobre a sapata.
Independente do sistema de
Sistema de
carregamento, permitindo o Não há controle de vazão.
inundação
controle de vazão.
Medição dos Extensômetros instalados na Extensômetros instalados na parte
recalques parte inferior do equipamento. inferior do equipamento.

Os protótipos de equipamentos apresentados (Figuras II.11 e II.12) possuem


algumas limitações operacionais que motivaram o desenvolvimento de uma nova versão
a ser utilizada na presente pesquisa. As principais limitações são: as cargas são
aplicadas na parte superior do equipamento, enquanto os instrumentos de medição dos
recalques (extensômetros) posicionados na parte inferior. Isto provoca um certo
desconforto durante o acompanhamento das leituras, além de gerar uma condição de
risco (tombamento dos pesos), especialmente quando realizando ensaios em tensões
mais elevadas (ex: 100 kPa), onde se faz necessário o empilhamento de uma quantidade
322

considerável de pesos. No caso da sapata, o equipamento de MAHMOUD et al. (1995)


possui um reservatório interno, que tem a finalidade de uniformizar o processo de
umedecimento, porém, por ser engastada pode resultar em não uniformização das
tensões de contato em caso da existência de alguma imperfeição do furo. Este problema
é minimizado na proposta de FERREIRA (1995), pois o contato sapata-haste comporta-
se como uma rótula, permitindo uma melhor acomodação da sapata com o solo.

Na Figura VI.18 está apresentado um desenho da versão equipamento utilizado


na atual pesquisa. A base fixa assemelha-se a proposta MAHMOUD et al. (1995),
consistindo de um tripé (1) apoiado em sapatas de apoio ajustáveis (2), facilitando assim
o nivelamento. A haste (3) desliza sobre dois conjuntos (um superior e outro inferior)
compostos por três rolamentos eqüidistantes de 120o entre si (4). As cargas são obtidas
por meio de pesos (5), previamente calibrados, aplicados sobre uma placa (6) com um
eixo central (7) para auxiliar na centralização (semelhante ao sistema de pendural das
prensas edométricas). Os instrumentos de medição dos deslocamentos (extensômetros)
(8) são fixados na base do conjunto de rolamentos superior por meio de um suporte (9)
com base magnética (10), sendo apoiado sobre um prolongamento da haste. Nesta
pesquisa utilizou-se extensômetros mecânicos com curso máximo de 30mm e
sensibilidade 0,01 mm. O nivelamento do tripé e obtido por meio de quatro níveis de
bolha fixados nas bases dos conjuntos de rolamentos (Figura VI.18d). A inversão das
posições das cargas e dos extensômetros elimina as limitações operacionais das versões
anteriores. A inundação é feita por um conduto (mangueira) (11) que atravessa
internamente a haste e conecta-se à sapata (12).

Na Figura VI.19 está apresentado um desenho com os detalhes da sapata, a qual


pode ser dividida em três partes: uma conexão tipo luva (1) que tem a finalidade
principal de unir a haste à sapata. O topo da luva é fechado, onde é fixada uma conexão
para mangueira; um eixo central (2) responsável para transmitir o carregamento à base
da sapata. As duas extremidades do eixo são abauladas, porém com funções distintas. A
extremidade superior tem o objetivo de facilitar e uniformizar o escoamento da água
vinda do conduto. A extremidade inferior tem o objetivo de centralizar o carregamento,
gerando um apoio de segundo gênero (rótula). O eixo central é unido à luva por meio de
rosca. Um vazio superior entre estas duas partes tem a função de gerar um
reservatório superior; a terceira parte é a placa de transferência de carga (3), a qual

pode ser subdividida em duas partes. A parte superior possui um encaixe central, com
323

(a) (b)

(c) (d)

Figura VI.19. Expansocolapsômetro: a) vista geral do ensaio; b) detalhe do carregamento; c) sapata; d) detalhe da fixação dos extensômetros.
(a) (b)
324

(c)

(d) (e)

Figura VI.20. Sapata do Expansocolapsômetro: a) sapata; b) sapata desmontada; c) luva; d) eixo e placa de transferência de carga; e) placa
inferior.
325

uma depressão abaulada, cuja finalidade é garantir a centralização do eixo. Possui


também quatro furos que conectam-se ao reservatório superior por meio de condutos
flexíveis (mangueiras). A união desta parte com o eixo principal se dar por quatro molas
de tração. A outra parte é composta de uma tampa perfurada, a qual uni-se a parte
superior por meio de rosca. Entre as duas há uma pedra porosa, que tem a finalidade de
uniformizar o umedecimento do solo. Há também um espaço vazio entre estas duas
partes, formando assim um reservatório inferior.

Assim como a proposta de FERREIRA e LACERDA (1993) o sistema de


inundação segue independente do sistema de aplicação do carregamento podendo ser de
vazão controlada ou não. Nesta pesquisa foi utilizado o permeâmetro Guelph para esta
finalidade. Na Figura VI.20 está apresentado, esquematicamente, o acoplamento dos
dois equipamentos. O Guelph possui uma escala interna, onde pode-se monitorar o
consumo de água durante o ensaio, além do controle da vazão, que pode ser feito por
meio de uma torneira num recipiente de água alimentado por este equipamento,
instalado na parte inferior.

VI.2.2.3 Procedimentos

Os procedimentos adotados na realização dos ensaios com o Colapsômetro,


seguiram, em linhas gerais, os mesmos adotados por FERREIRA (1995), ou seja:

1) limpeza e nivelamento da área a ser ensaiada. Utilizando um trado tipo


concha com diâmetro superior ao da sapata, iniciava-se a abertura do furo até
a profundidade do ensaio. Uma vez que o solo encontrava-se no estado muito
seco, este trado mostrou-se inadequado na remoção do material de dentro do
furo. Neste caso, o avanço do furo foi feito com o auxílio de um trado
especial construído para nivelar a base do furo, assumindo assim uma função
dupla (abertura e nivelamento do furo). Na Figura IV.21 está apresentado um
desenho esquemático e fotografias do trado nivelador. Em cada profundidade
do ensaio eram coletadas três cápsulas para determinação do teor de umidade
do solo;
326

Figura VI.20. Representação esquemática do acoplamento do permeâmetro Guelph com


o Expansocolapsômetro.

2) uma vez alcançada a profundidade do ensaio, a sapata, haste, suporte dos


pesos e o complemento da haste eram acoplados. Por meio de parafusos de
ajustes, os conjuntos de rolamentos eram ajustados ao diâmetro da haste. A
verticalidade da haste era obtida por meio de um nível de bolha;

3) com o equipamento nivelado, os extensômetros eram fixados e ajustados a


uma leitura inicial. Aplicava-se o carregamento complementar ao peso das
hastes, até alcançar a tensão mínima do ensaio (15 kPa).

Os estágios de tensão foram aplicados numa razão 'V/V = 1, até atingir a tensão
de inundação. O critério de estabilização dos recalques foi o mesmo da NBR 6489/84,
ou seja, quando os recalques entre duas leituras consecutivas fossem menor do que 5%
do recalque total.
327

Figura VI.21. Representação esquemática e detalhes do trado nivelador.

Nos ensaios ECT1B-1, ECT3-1, ECT3A-1, ECT3-3 e ECT4-2 e após a


estabilização dos recalques, foi adicionada água em quantidade para verificar se
ocorreriam recalques adicionais. Nos ensaios ECT1B-1, ECT3A-1 e ECT4-2 procurou-
se monitorar o consumo de água com o tempo. Este monitoramento foi feito através da
bureta interna do Guelph.

Após a estabilização dos recalques na tensão de inundação, aplicava-se uma


carga hidráulica no Guelph suficiente para manter o nível de água no reservatório
situado na extremidade do mesmo. Através da torneira do reservatório, o solo era
inundado sob uma vazão em torno de 0,25 ml/s e medidos os recalques de colapso até a
estabilização.

Após a conclusão de cada ensaio, retirava-se o equipamento e, utilizando um


trado concha de 60 mm de diâmetro, eram coletadas amostras de solo a cada 0,125m
(12,5cm) para determinação do teor de umidade. Na Tabela VI.3 e na Figura VI.22
estão apresentados os teores de umidade antes e após o ensaio.Os símbolos com as setas
e as linhas cheias horizontais indicam as profundidades dos ensaio e das umidades
iniciais. As linhas horizontais tracejadas indicam as profundidades onde foram
determinadas as umidades após cada ensaio. O trecho tracejado em cada curva é uma
extrapolação dos resultados para auxiliar na interpretação dos resultados.
328

Tabela VI.3. Teores de umidade obtidos antes e após o ensaio.

Teor de Umidade (%)


Vvi (kPa) Ensaio Prof.(m)
Inicial Final
0,5 2,06 --------
0,625 ------- 8,22
ECT1-1
0,75 ------- 2,18
0,875 ------- 2,42
0,5 1,24 ------
ECT1B-1 0,625 ------ 9,40
100
0,75 ------ 7,18
1,0 2,28 -----
ECT1A-1
1,125 ------ 6,38
1,5 2,59 -----
ECT1-3 1,625 ------ 9,25
1,75 ------- 3,62
0,5 2,1 -------
0,625 ------ 8,12
ECT2-1
0,75 ------ 2,4
0,875 ------ 2,34
1,0 2,32 ------
60
ECT2-2 1,625 ------ 10,29
1,750 ------ 3,45
1,5 2,46 ------
ECT2-3 1,625 ------ 8,87
1,750 ------ 3,7
0,5 1,50 -------
0,625 ----- 11,45
ECT3-1
0,75 ----- 7,67
0,875 ----- 2,41
ECT3-2 1,0 1,97 -------
1,5 2,4 -------
30 ECT3-3 1,625 ------ 9,58
1,75 ------ 6,14
1,0 1,83 -------
ECT3A-1 1,125 ------- 12,31
1,250 ------- 6,574
1,0 1,83 -------
ECT4A-1
1,125 ------ 8,76
0,5 1,48 ------
0,625 ------ 9,52
ECT4-1
0,75 ------ 4,39
15 0,875 ------ 3,04
1,5 2,4 ------
ECT4-2 1,625 ------ 9,58
1,75 ------ 6,14
0 0 0 0
ECT1-1 ECT1B-1 ECT2-1 ECT3-1 ECT3-2 CMT4-1 CMT4-2
ECT1A-1 ECT1-3 ECT2-2 ECT3-3 ECT3A-1
ECT2-3 ECT4A-1

0.5 0.5 0.5 0.5

1 1 1 1
329

Profundidade (m)
1.5 1.5 1.5 1.5

σvi = 100kPa σvi = 60kPa σvi = 30kPa σvi = 15kPa


2 2 2 2
0 2 4 6 8 10 0 3 6 9 12 0 3 6 9 12 15 0 2 4 6 8 10

Teor de Umidade (%) Teor de Umidade (%) Teor de Umidade (%) Teor de Umidade (%)

Figura VI.22. Variação da umidade do solo sob a sapata após o ensaio com o Expansocolapsômetro.
330

As variações mais significativas da umidade ocorreram a 0,125m (1,25 x


diâmetro da placa) abaixo da sapata (Tabela VI.3 e Figura VI.22). Estes resultados
sugerem que os recalques de colapso estarão concentrados em torno da metade superior
do bulbo de tensões, embora os resultados apresentados por FERREIRA e LACERDA
(1993) e FERREIRA (1995) sugerem que todo o bulbo de tensões contribuirá no
processo do colapso. Os resultados obtidos na presente pesquisa concordam com outros
resultados da literatura (MAHMOUD et al., 1995; CONCIANI, 1997). Nos ensaios
ECT1B-1, ECT3-1, ECT3A-1, ECT3-3 e ECT4-2, submetidos a uma quantidade extra
de água após a estabilização dos recalques, observaram-se variações significativas nos
teores de umidade até 0,250 m sob a placa (2,5 vezes o diâmetro da placa). A influência
do volume de água adicional nestes ensaios será discutida adiante.

VI.2.2.4 Apresentação e discussão dos resultados

VI.2.2.4.1 Recalques de colapso versus tempo

Na Figura VI.23 estão apresentadas as curvas tempo-recalque de colapso, para


cada tensão de inundação. A profundidade correspondente a cada ensaio encontra-se
indicada na Tabela VI.1. Para melhor visualização, foi utilizada a raiz quadrada do
tempo no eixo das abscissas. Para quase a totalidade dos ensaios, a estabilização dos
recalques ocorreram entre 2 e 15 min, embora em nenhum ensaio as leituras foram
interrompidas antes dos 30 min.
A única exceção ocorreu no ensaio ECT3A-1 (Figura VI.23b), sob a tensão de
inundação de 30 kPa, o qual indica que este tempo não foi suficiente para estabilização
dos recalques. É importante ressaltar que este ensaio teve que ser interrompido antes da
total estabilização. Ao comparar com os ensaios ECT3-1 e ECT4A-1, realizados na
mesma profundidade e sob a mesma tensão, observa-se que o ensaio ECT3A-1
apresenta um comportamento peculiar em relação aos demais, não apenas do que diz
respeito à estabilização, mas também no valor do recalque de colapso (3,09mm), cerca
de duas vezes o valor dos recalques obtidos nos outros ensaios (ECT3-1 e ECT4A-1).
Uma possível justificativa para esta diferença de comportamento pode estar associada à
má distribuição de tensão no contado solo-sapata, possivelmente por alguma
imperfeição persistente no nivelamento da base do furo. Portanto, este ensaio não pode
ser considerado representativo nas demais análises.
331

0 0
ECT3-1 ECT3-2
ECT3A-1 ECT4A-1
0.5 0.5 ECT3-3

1 1
Recalque (mm)

1.5 1.5

2 2

2.5 2.5

3 ECT4-1 3
Vvi = 15 kPa ECT4-2 Vvi = 30 kPa
3.5 3.5
0 2 4 6 0 2 4 6
Raiz de t (min) Raiz de t (min)

(a) (b)

0 0
ECT1-1 ECT1B-1
1 1
ECT1A-1 ECT1-3
2 2
3 3
Recalque (mm)

4 4

5 5
6 6
7 7
8 ECT2-1 8
9
Vvi = 60 kPa ECT2-2
9 Vvi = 100 kPa
ECT2-3
10 10
0 2 4 6 0 2 4 6
Raiz de t (min) Raiz de t (min)

(c) (d)

Figura VI.23. Curvas tempo-recalque de colapso obtidas a partir dos ensaios com o
Colapsômetro.
332

Nas Figuras VI.24 e VI.25 estão apresentadas, simultaneamente, as curvas


tempo-recalque e tempo-volume de água referentes aos ensaios ECT4-2 e ECT1B-1
onde o volume de água durante a inundação foi monitorado. Fazem parte também do
grupo de ensaios onde um volume extra de água foi acrescentado após a estabilização
dos recalques de colapso. Percebe-se nestas figuras que após a estabilização dos
recalques, os colapsos decorrentes do volume de água adicional foram pequenos,
estando dentro do critério de estabilização considerado para estes ensaios (recalques
entre duas leituras consecutivas menores do que 5 % do recalque total). Note na Tabela
VI.3 e na Figura VI.22 que o umedecimento do solo nestes ensaios envolveu todo o
bulbo de tensões (0,250m abaixo da profundidade do ensaio).

Estes resultados reforçam as conclusões anteriores de que, para um solo


condicionalmente colapsível, as deformações de colapso estejam concentradas na
metade superior do bulbo de tensões, uma vez quem nos ensaios onde a inundação
limitou-se à estabilização dos recalques (ECT1-1, ECT1A-1, ECT1-3, ECT2-1, ECT2-
2, ECT2-3, ECT3-2, ECT4-1 e ECT4A-1) as variações significativas da umidade
estiveram concentradas a 0,125m (1,25 D, sendo D o diâmetro da sapata), conforme
Tabela VI.3 e Figura VI.22.

Na existência de camadas subjacentes ou intermediárias com maior


susceptibilidade ao colapso é possível que as deformações de colapso sejam
significativas em profundidades superiores à metade do bulbo, dependendo da tensão
em que ocorrerá a inundação. Todavia, para um solo homogêneo e dentro da faixa de
tensão predominante nas obras relacionadas ao fenômeno do colapso os recalques de
colapso estarão concentrados em torno da metade superior do bulbo de tensões.

Do ponto de vista de engenharia, esta constatação sugere que não se faz


necessário o tratamento de toda camada colapsível envolvida pelo bulbo de tensões, o
que poderá ter um efeito significativo na redução do custo de uma obra. Este fato é
economicamente importante e deve ser investigado com maior detalhe em futuras
pesquisas.

VI.2.2.4.2. Curvas tensão–recalque

Nas Figuras VI.26 a VI.28 estão apresentadas as curvas tensão-recalque dos


ensaios ECT referentes a cada profundidade de ensaio.
333

0 7.5
Recalque
Consumo de Água
0.5 6

Volume de Água ( L )
Recalque (mm)
1 4.5

1.5 3
ECT4-2
Vvi = 15 kPa
2 1.5

2.5 0
0 2 4 6
Raiz de t (min)

Figura VI.24. Curvas tempo-recalque de colapso e tempo-consumo de água para o


ensaio ECTA4-2, realizado na profundidade de 1,5 m, sob uma tensão de 15 kPa.

0 4.5
Recalque
0.5 Consumo de Água 4
Volume de Água ( L )

1 3.5
Recalque (mm)

1.5 3

2 2.5
2.5 2
ECT1B-1
3 1.5
Vvi = 100 kPa
3.5 1

4 0.5

4.5 0
0 2 4 6
Raiz de t (min)

Figura VI.25. Curvas tempo-recalque de colapso e tempo-consumo de água para o


ensaio ECTA1B-1, realizado na profundidade de 0,5 m, sob uma tensão de 100 kPa.
334

Recalque (mm) 2

3
ECT4-1
4 ECT3-1
ECT2-1
5 ECT1-1
ECT1B-1 Prof.(m): 0,5
6
0 20 40 60 80 100 120

Tensão Vertical (kPa)

Figura VI.26. Curvas tensão-recalque para os ensaios realizados na profundidade de


0,5m.

2
Recalque (mm)

4 ECT4A-1
ECT3A-1
5
ECT3-2

6 ECT2-2
ECT1A-1 Prof.(m): 1,0
7
0 20 40 60 80 100 120

Tensão Vertical (kPa)

Figura VI.27. Curvas tensão-recalque para os ensaios realizados na profundidade de


1,0m.
335

2
Recalque (mm)
3

ECT4-2
5
ECT3-3
ECT2-3
6
ECT1-3
Prof.(m): 1,5
7
0 20 40 60 80 100 120

Tensão Vertical (kPa)

Figura VI.28. Curvas tensão-recalque para os ensaios realizados na profundidade de 1,5


m.

Em todos os ensaios ECT (Figura VI.26 a VI.28), observa-se uma acentuação


nos recalques no estado natural (antes da inundação) a partir da tensão de 15 kPa.
Independente da profundidade, estes recalques foram, em geral, próximos. A única
exceção se verifica no ensaio ECT3-1 (Figura VI.26), onde o recalque no estado natural
na tensão de 30 kPa foi cerca de 30 % menor do que os demais ensaios realizados nesta
mesma profundidade e na mesma tensão.

Ao comparar com os resultados dos ensaios de provas de carga, os recalques no


estado natural dos ensaios ECT nas profundidades de 0,50 m e 1,5 m (Figuras VI.27 e
VI.28) variaram entre 0,72 mm e 1,30 mm na tensão de 60 kPa e entre 1,14 mm a 1,99
mm na tensão de 100 kPa. Estes valores são muito próximos ou superiores aos obtidos
nas provas de carga (0,56 mm na tensão de 60 kPa e 1,24 mm na tensão de 100 kPa).
Esta comparação pode ser melhor visualizada na Figura VI.29, na qual estão
apresentados os resultados das provas de carga e alguns resultados dos ensaios ECT. Na
profundidade de 1,0 m os recalques no estado natural dos ensaios ECT, até a tensão de
60 kPa, foram ligeiramente superiores aos obtidos nas provas de carga.
336

0.0

Recalque do solo no estado natural (mm)


0.5

1.0

1.5

PC01 (Prof.: 0,5 m)


ECT1-1 (Prof.: 0,5 m)
2.0
ECT1A-1 (Prof.: 1,0 m)
ECT1-3 (Prof.: 1,5 m)
2.5
0 20 40 60 80 100 120

Tensão Vertical (kPa)

Figura VI.29. Comparação entre os recalques, para o solo no estado natural (antes da
inundação), obtidos nos ensaios ECT e nas provas de carga.

Para um solo homogêneo, isotrópico e linearmente elástico, submetido a um


carregamento superficial, os recalques serão proporcionais à dimensão da área
carregada. No caso de uma placa circular os recalques serão proporcionais ao diâmetro
da placa. Na maioria das formações geológicas, não se pode considerar o solo
homogêneo e, muito menos, isotrópico. O peso específico, em geral, tende a aumentar
com a profundidade e, conseqüentemente, o módulo de elasticidade. Mesmo quando o
módulo possa ser considerado constante, os recalques de um ensaio de placa realizado à
superfície do terreno serão superiores aos recalques obtidos caso o ensaio seja realizado
em profundidade. É o que BARATA (1986) define como “efeito de profundidade”.

No caso dos ensaios ECT o diâmetro da sapata é 8 vezes menor do que o


diâmetro da placa utilizada nos ensaios de provas de carga. Logo era de se esperar
menores recalques para o solo no estado natural para os ensaios ECT, o que nem sempre
se observa (Figura VI.29). Uma justificativa disso pode estar associada à distribuição de
tensões no contato placa - solo. Apesar dos cuidados no nivelamento da base dos furos,
irregularidades sempre persistirão. Estas irregularidades podem ser menores em uma
placa com 80 cm de diâmetro, porém relevantes em placas de pequenos diâmetros, tal
como a utilizada no Expansocolapsômetro (10 cm). Neste caso, as irregularidades
337

induzirão a tensões superiores a imposta pelo carregamento em alguns pontos, refletindo


nos valores dos recalques medidos. Dependendo do grau de irregularidade do furo, este
fator poderá ter grande influência também nos recalques de colapso, especialmente em
tensões menores, pode ser observado no ensaio ECT3A-1 (Figura IV.27).

Na Tabela VI.4 estão apresentados os recalques de colapso referentes a cada


ensaio ECT. Na Figura VI.30 estão apresentas as correspondentes curvas tensão de
inundação versus recalque de colapso.

Conforme esperado, o comportamento geral dos recalques de colapso foi de


aumento com o aumento da tensão de inundação (Figura VI.30). As exceções se
verificam nos ensaios ECT2-1 e ECT2-3 (Tabela VI.4) inundados na tensão de 60 kPa,
referentes às profundidades de 0,5 m e 1,5m, respectivamente e no ensaio ECT3A-1
realizado na profundidade de 1,0 m sob uma tensão de inundação de 30 kPa. No ensaio
ECT2-1 o recalque de colapso foi 3,98 mm, superando os colapsos obtidos nos ensaios
ECT1-1 e ECT1B-1 realizados na mesma profundidade e sob uma tensão de inundação
de 100 kPa. Fato semelhante ocorreu no ensaio ECT3A-1. Todavia, conforme
comentado anteriormente, há dúvidas quanto à representatividade deste ensaio. No
ensaioECT2-3 o colapso de 3,47 mm foi ligeiramente superior ao obtido no ensaio
inundado na tensão de 30 kPa (3,1mm) da mesma profundidade. Observa-se também
(Figura VI.30) aumento nos recalques de colapso a medida que aumenta a profundidade
ensaiada

Na Figura VI.31 os resultados dos ensaios ECT (Tabela VI.4) estão apresentados
em profundidade. Nesta figura encontram-se, também, a granulometria, o pesos
específico seco do solo (Jd), e a classificação da colapsibilidade do solo segundo
REGINATTO e FERRERO (1973) e JENNINGS e KNIGTH (1975), conforme serão
discutidas no Capítulo VII. Conforme discutido em III.3.4, o Jd, em média, não
apresenta variações significativas nas profundidades envolvidas nos ensaios ECT, que
justifique o aumento nos recalques de colapso. A única variação aparente no perfil é o
aumento na fração argila com a profundidade (Figura VI.31a). Por outro lado, todos os
métodos diretos de classificação (Figura VI.32c e d) indicam um trecho com maior
susceptibilidade ao colapso entre 1,0 e 2,0 m. Ignorando os resultados dos ensaios que
se apresentam divergentes da tendência geral na Figura VI.30, a variação dos recalques
de colapso dos ensaios ECT (Figura VI.31e) mostra-se coerente com estas
classificações.
338

Tabela VI.4. Recalques de colapso obtidos a partir dos ensaios ECT.

FURO ENSAIO PROF. (m) Vvi (kPa) Colapso (mm)


ECT1-1 0,5 100 3,46
1
ECT1-3 1,5 100 9,89
1B ECT1B-1 0,5 100 3,81
1A ECT1A-1 1,0 100 5,52
ECT2-1 0,5 60 3,98
2 ECT2-2 1,0 60 2,57
ECT2-3 1,5 60 3,47
ECT3-1 0,5 30 1,24
3 ECT3-2 1,0 30 1,35
ECT3-3 1,5 30 3,10
3A ECT3A-1 1,0 30 3,09
ECT4-1 0,5 15 0,21
4
ECT4-2 1,5 15 2,24
4A ECT4A-1 1,0 30 1,54

0
1
Recalque de Colapso (mm)

2
3
4
5
6
7
Prof.: 0,5m
8
Prof.: 1,0m
9
Prof.: 1,5m
10
11
0 20 40 60 80 100 120
Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura VI.30. Variação dos recalques de colapso com a tensão vertical de inundação.
0 0 0 0 0

Classificação: Gravidade do problema


Reginatto e Ferrero (1973)

0.5 Areia Média 0.5 0.5 0.5 σv i = 200kPa 0.5


e Grossa

CAMADA I Profundidades
1 1 envolvidas 1 1 1
nos ensaios Verdadeiramente
ECT Colapsível
σv m < σv o
1.5 1.5 1.5 1.5 1.5
CAMADA II PROBLEMÁTICO 15 30 60 e 100kPa

SEM PROBLEMA

Profundidade (m)
Areia Fina

PROBLEMA MODERADO
339

2 2 2 2 2
100 kPa
60 kPa
30 KPa
Silte 15 kPa
2.5 2.5 2.5 2.5 2.5
Ajuste da Figura VI.30

Argila
(a) (b) (c) (d) (e)
3 3 3 3 3
0 20 40 60 80 100 14 16 18 20 0 50 100 150 200 0 2 4 6 8 10 0 4 8 12
3
Granulometria (%) γ d (kN/m ) σvo e σvm (kPa) εc (%) Colapso (mm)

Figura VI.31. (a) Granulometria, (b) peso específico seco (γd), (c) classificação de REGINATTO e FERRERO (1973), (d) classificação de
JENNINGS e KNIGHT (1975) e (e) recalques de colapso obtidos a partir dos ensaios ECT.
340

Apesar da heterogeneidade do solo procurou-se avaliar, qualitativamente, a


influência de cada camada nos recalques de colapso das provas de carga. Para fins de
comparação, os recalques de colapso dos ensaios ECT e das provas de carga foram
divididos pelos respectivos diâmetros da placa. Na Tabela VI.5 estão apresentados os
valores dos recalques de colapso normalizados ('S/D), expressos em termos
percentuais.

As diferenças nos valores dos colapsos (Tabela VI.5) reflete a heterogeneidade


do perfil. O aumento do colapso com a profundidade não permite a comparação direta
entre estes resultados. Todavia, observa-se que os colapsos obtidos a partir dos ensaios
CMT são, em geral, inferiores aos dos ensaios de prova de carga em placa até a
profundidade de 1,0 m. A exceção ocorre no ensaio ECT2-1, onde o colapso foi superior
a todos os demais ensaios na mesma tensão (60 kPa). O resultado deste ensaio deve ser
visto com ressalvas, uma vez que não segue a tendência definida pelos outros ensaios da
mesma profundidade (Figura VI.30). Por outro lado, os colapsos dos ensaios realizados
na profundidade de 1,5 m foram sempre superiores aos das provas de carga. Uma vez
que o bulbo de tensões dos das provas de carga envolveu todas as camadas dos ensaios
ECT é razoável que a camada entre 1,5 e 2,0 m da superfície do terreno (entre 1,0 e 1,5
m a partir da profundidade da placa) tenha exercido alguma contribuição no colapso
total dos ensaios PC01 e PC02.

Tabela VI.5. Recalques de colapso normalizados dos ensaios de referência e os


correspondentes ensaios ECT na mesma tensão de inundação (Vvi).
COLAPSO
Vvi (kPa) ENSAIO PROF.(m)
'S/D (%)
PC01 0,5 5,6
ECT1-1 0,5 3,5
100 ECT1B-1 0,5 3,8
ECT1A-1 1,0 5,1
ECT1-3 1,5 9,9
PC02 0,5 3
ECT2-1 0,5 4,0
60
ECT2-2 1,0 2,6
ECT2-3 1,5 3,5
341

VI.2.2.4.3 Deformação de colapso

As principais vantagens de um ensaio de colapso no campo são: 1) minimização


do efeito de perturbação das amostras; 2) por simular o processo natural de
umedecimento alcança graus de saturação semelhantes ao de uma fundação real; 3)
fornece resultados imediatos no campo; e 4) a possibilidade de fornecer resultados em
solos de difícil amostragem.

A principal desvantagem está na não uniformidade do estado de tensões dentro


da região do solo contribuindo com o recalque, dificultando a conversão das medidas no
campo em correspondente tensão - deformação (MAHMOUD et al., 1995).

Os dados fornecidos pelas provas de carga em placa limitam-se ao recalque total,


medido no topo da placa e a tensão de contato solo - placa, considerada a carga aplicada
dividida pela área carregada. Em solo colapsível, convencionou-se definir a
profundidade sob uma fundação superficial, envolvida no processo do colapso aquela
sob a influência das tensões induzidas pela fundação e que sofreu variação de umidade
devido ao processo de umedecimento (JENNINGS e KNIGHT, 1975; FERREIRA,
1995; HOUSTON et al., 1995; CONCIANI, 1997). Dessa forma, a deformação de
colapso (potencial de colapso) no campo tem sido calculada dividindo os recalques
medidos pela profundidade abaixo da fundação alcançada pela frente de umedecimento,
no final do ensaio (FERREIRA e LACERDA, 1993; HOUSTON et al., 1995 e
MAHMOUD et al., 1995).

Isto é uma simplificação, pois nada garante que toda região envolvida pelo bulbo
de tensões e pela frente de umedecimento contribua com o processo do colapso. Os
resultados de CONCIANI (1997) apresentado na Figura VI.16 é um exemplo disso. Por
outro lado, admitir que apenas a metade superior do bulbo contribua com o colapso
pode não ser válido em toda as situações. No caso da ocorrência no perfil um perfil de
solo homogêneo, cuja susceptibilidade ao colapso diminua com a profundidade, é
razoável admitir esta hipótese dependendo da tensão aplicada. No caso de solos que se
enquadrem no grupo de “solos problemáticos”, conforme JENNINGS e KNIGHT
(1975), é possível que uma região maior do bulbo de tensões possa contribuir com o
colapso.
342

FERREIRA e LACERDA (1995), com base nos resultados dos ensaios com o
“expanso-colapsômetro” adotaram a espessura da camada envolvida no colapso como
sendo 275mm, ou seja, todo o bulbo de tensões (considerado 2,5D, sendo D o diâmetro
da placa) contribuiu com o processo do colapso. HOUSTON et al. (1995) mostraram,
por meio de resultados com o “Down Hole Collapse Test”, que a profundidade
envolvida no processo do colapso, raramente, excede a largura do protótipo da fundação
ou diâmetro da placa. A simples divisão do recalque por uma determinada espessura do
solo não leva em consideração a redução dos recalques com a profundidade, o que
subestimará as deformações calculadas nos ensaios de campo.

FERREIRA e LACERDA (1993) correlacionaram as deformações de colapso


(potencial de colapso) obtidas a partir dos ensaios edométricos simples com as
deformações de colapso obtidas a partir dos ensaios com o “expanso-colapsômetro”,
conforme a expressão:

Hc (campo)=0,89 Hc (lab).; r2=0,997 VI.3

A Equação VI.3 foi definida a partir de dados experimentais obtidos em um


campo experimental localizado em Petrolândia - PE. Posteriormente, FERREIRA et al.
(2002) acrescentaram dados de Palmas - TO à esta relação, resultando em uma ligeira
diferença no coeficiente de inclinação da reta:

Hc (campo) = 0,83 Hc (lab) VI.4

Na Figura VI.32 são comparados os resultados dos ensaios ECT com as


correlações representadas pelas Equações VI.3 e VI.4. Os valores das deformações de
colapso encontram-se resumidos na Tabela VI.6.

Os resultados do ensaio ECT (Figura VI.32 e Tabela VI.6) não seguem as


relações obtidas por FERREIRA e LACERDA (1993) e FERREIRA et al. (2002).
Observa-se também considerável dispersão dos resultados (R2=0,48), quando
comparado com as relações (Equações VI.3 e VI.4). A princípio, levantou-se a
possibilidade dos resultados estarem sofrendo influência de algum atrito entre o sistema
343

de rolamentos e a haste, embora em nenhum momento na montagem dos ensaios


observou-se qualquer restrição aos deslocamentos da mesma, mesmo esta observação
sendo feita apenas sob o peso próprio da haste.

Uma vez que nos ensaios de referência o (PC01 e PC02) o atrito nos sistema é
inexistente, procurou-se comparar as deformações de colapso calculadas a partir dos
resultados destes ensaios. As deformações de colapso dos ensaios de referência (Tabela
VI.6) foram muito similares a média das obtidas nos ensaios ECT na mesma tensão (Hc =
1,34 % na tensão de 60 kPa e Hc = 2,27 % na tensão de 100 kPa). Estes resultados
mostram que as correlações das Equações VI.3 e VI.4 podem não ser válidas para todos
os solos e formação geológicas.

7.0
Potencial de Colapso de Campo (%)

(1): PCcampo = 0,89.PClab


(Ferreira e Lacerda, 1993) (1)
6.0
(2)
(2): PCcampo = 0,83.PClab
5.0
(Ferreira et al., 2002)

4.0 Experimental
Ponto não PC01
considerado
3.0 PC02
em (3)

2.0 (3): PCcampo = 0.41PClab.


R2 = 0.48
1.0 (atual pesquisa)

0.0
0 2 4 6 8
Potencial de Colapso Laboratório (%)

Figura VI.32. Relação entre potencial de colapso de laboratório e potencial de colapso


de campo.
344

Tabela VI.6. Deformações de colapso obtidas dos ensaios edométricos e dos ensaios
ECT.

Prof Vvi r(mm) Hc (laboratório) (%)


ENSAIO
c (campo) 100 (%)
(m) (kPa) 2,5D (Obtidos da Figura IV.17)

60 PC02 1,03 -----------


100 PC01 2,25 -----------
15 ECT4-1 0,08 1,0
30 ECT3-1 0,50 1,90
0,5
60 ECT2-1 1,59 3,66
ECT1-1 1,38
4,34
100 ECT1B-1 1,52
ECT3-2 0,54
30 1,95
ECT3A-1 1,24
1,0
60 ECT2-2 1,03 2,60
100 ECT1A-1 2,21 3,55
15 ECT4-2 0,9 0,75
30 ECT3-3 1,24 1,25
1,5
60 ECT2-3 1,39 2,20
100 ECT1-3 3,96 3,40
345

CAPÍTULO VII

IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA COLAPSIBILILIDADE DOS


SOLOS E PREVISÃO DE RECALQUES DE COLAPSO

VII.1 IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA COLAPSIBILIDADE DO SOLO

Partindo dos resultados apresentados e discutidos nos Capítulos III e IV,


procurou-se aplicar os critérios de identificação e classificação da colapsibilidade dos
solos descritos no Capítulo II, de acordo com os dados disponíveis.

VII.2 ENSAIO DE CAMPO (SPT-T)

DÉCOURT e QUARESMA FILHO (1994) apresentam uma proposta de


identificação de solos colapsíveis baseada nos índice de torque (T/N) obtido a partir dos
resultados dos ensaios SPT-T. Nesta proposta, são considerados colapsíveis os solos que
apresentam valores de T/N entre 2 e 3. Na maioria dos perfis apresentados no Capítulo
III (Figuras III.9 a III.12) a razão T/N variou entre 0,5 e 2 ou superior a 3. Portanto, este
critério não mostrou-se compatível para o solo em estudo, onde quase a totalidade das
camadas, reconhecidamente colapsíveis (face aos danos observados nas obras), as
razões T/N estiveram fora dos limites estabelecidos para identificá-las como colapsíveis.
Resultados semelhantes foram obtidos por GUIMARÃES et al. (2000) para seis perfis
de solos colapsíveis de Anápolis, Goiás, os quais recomendam precauções ao utilizar os
SPT-T para identificar solos colapsíveis, uma vez que aspectos estruruais influenciam
no colapso, sem que estes influenciem nos resultados dos ensaios. Vale salientar que o
ensaio SPT destroi a estrutura do solo e o ensaio de torque é realizado na amostra
desestruturada.

É importante ressaltar que a razão T/N é dependente do tipo de solo ensaiado.


Sendo assim, os critérios estabelecidos por DÉCOURT e QUARESMA FILHO (1994),
a partir de uma limitada quantidade de dados, em uma formação específica (argilas
porosas do terciário de São Paulo), pode não ser aplicável a solos colapsíveis de outras
346

regiões. Além disso, o efeito da sucção na razão T/N não foi, devidamente, avaliado. É
possível que as variações sazonais da sucção nas “argilas porosas de São Paulo” não
influenciem, significantemente, nos resultados dos ensaios. Todavia, no caso do solo
desta pesquisa, os elevados valores de sucção na estação seca (Figura III.18) podem ter
um efeito marcante, embora o perfil da Figura III.9 não reflita com clareza este efeito.
Dada a limitada quantidade de dados, torna-se prematura uma conclusão sobre a
aplicabilidade do índice de torque como um critério de identificação da colapsibilidade
da areia colapsível de Petrolândia. Certamente, os limites estabelecidos por DÉCOURT
e QUARESMA FILHO (1994) (2 < T/N < 3) não se aplicam ao solo em questão.

VII.3 ENSAIOS DE LABORATÓRIO

VII.3.1 Métodos indiretos

A partir dos resultados dos ensaios de caracterização apresentados no Capítulo


III, procurou-se avaliar a colapsibilidade do solo através dos métodos indiretos de
identificação baseados nos índices físicos, características granulométricas e plásticas do
solo, conforme Tabela II.3 (Capítulo II). Os parâmetros necessários para a utilização
desses critérios encontram-se resumidos na Tabela VII.1, onde eL (índice de vazios no
limite de liquidez) e wsat (umidade de saturação) foram obtidos a partir das Equações
VII.1 e VII.2, respectivamente. Os demais índices físicos (eo, wo, So e Jd) foram obtidos
da média geral dos corpos de prova dos ensaios edométricos (convencionais e com
sucção controlada) e de cisalhamento direto apresentados nos Capítulo IV e V. Na
Tabela VII.2 estão apresentadas, resumidamente, a identificação de cada amostra com o
respectivo critério.
Considerando os critérios de identificação baseados nos índices físicos e limites
de consistência do solo (DENISOV, 1951; FEDA, 1966; Código de Obras da URSS,
1962; PRIKLONSKIJ, 1952; e GIBBS e BARA, 1967), estes só puderam ser aplicados
às amostras com profundidades superiores a 1,3 m. Para profundidades inferiores o solo
não apresenta plasticidade (Tabela VII.1), impossibilitando o emprego desses critérios.
Com exceção das propostas de PRIKLONSKIJ (1952) e FEDA (1966), as amostras
correspondentes a Camada II (entre 1,5 e 2,3 m de profundidade) foram, em geral,
identificadas como colapsíveis pelos demais critérios (Tabela VII.2). A exceção se
347

verifica na amostra entre 2,0 e 2,3 m de profundidade, a qual foi identificada como não
colapsível (K=0,76) pelo critério de DENISOV (1951), embora no limite superior para
ser identificada como colapsível por este critério (0,5 < K < 0,75). Na amostra entre 2,5
e 2,8 m (SPT > 50), apenas o Código de Obras da URSS (1962) a identificou de
colapsível.

O critério de HANDY (1973), que se baseia no percentual de argila (I < 2P) do


solo, indica que, independente da profundidade de coleta das amostras, o solo possui
alta probabilidade ao colapso. Todavia, dada a complexidade envolvida no fenômeno do
colapso, este critério deve ser visto com ressalvas, já que não leva em consideração
outros fatores (clima, estrutura do solo, pedologia) que influenciam no fenômeno do
colapso.

Tabela VII.1. Resumo dos parâmetros utilizados nos critérios de identificação baseado
nos índices físicos, características granulométricas e plasticidade do solo.

Prof.(m) LL LP IP wo So Jd Argila Areia


eo eL Cu GC
Amostra (%) (%) (%) (%) (%) (kN/m3) (%) (%)

0,5 - 0,8 0,66 ----- ----- ----- ----- 0,6 2,5 16 4,5 91 3,87 90

1,0 - 1,3 0,65 ----- ----- ----- ----- 1,3 5,1 16 8 88 29,0 86,2

1,5 - 1,8 0,65 0,43 16,3 12,4 3,9 1.9 7,6 16 12 84 ----- 82,2

2,0 - 2,3 0,60 0,45 16,9 12,9 4,0 2,4 10,7 16,5 13,5 81,5 ----- 82,3

2,5 - 2,8 0,46 0,49 18,5 12,6 5,9 2,8 15,9 18,1 13,3 79 ----- 91,5

eo = índice de vazios inicial


So = Grau de saturação inicial
wo = umidade inicial
Jd = peso específico seco
Areia = diâmetro 0,075 a 4,75 mm
Argila = % < 0,002mm
Cu = coeficiente de uniformidade
GC = grau de compactação (Tabela III.6 – Capítulo III)

LL.Gs VII.1
eL
100
100.eo
w Sat. VII.2
Gs
348

Tabela VII.2. Identificação da colapsibilidade do solo a partir de índices físicos,


granulometria e plasticidade.
Resultado / Classificação
REFERÊNCIA EXPRESSÃO LIMITES Profundidade da Amostra (m)
0,5-0,8 1-1,3 1,5-1,8 2-2,3 2,5-2,8
eL 0,5 < K < 0,75 0,67 0,76 1,11
DENISOV (1951)
K ----- ----
eo Colapsível (C) (NC) (NC)

§ wo ·
¨¨ ¸¸  w p Kl > 0,85
-2,9 -4,6 -2,1
FEDA (1966) Kl © So ¹ Para So < 60% ----- -----
(NC) (NC) (NC)
wL  wP Colapsível

Código de Obras eo  e L
O O t -0,1 0,13 0,09 -0,04
URSS 1  eo Colapsível
----- -----
(C) (C) (C)
(1962)
PRIKLONSKIJ
wL  wo Kd < 0 3,6 4,9 2,6
Kd
(1966) wL  wP Colapsível
---- ----
(NC) (NC) (NC)

GIBBS e BARA
w Sat R>1 1,54 1,34 0,92
R ----- -----
(1967) wL Colapsível (C) (C) (NC)
Percentual de Argila Probabilidade
(<0,002mm) de Colapso
< 16% Alta (A)
4,5 8 12 13,5 13,3
HANDY (1973) 16 a 24% Provável (P) (A) (A) (A) (A) (A)
24 a 32% < 50% (PP)
> 32% Não colapsível (NC)

PC%=Equação II.12 Critério de 5,87 8,16


---- ---- ----
BASMA e JENNINGS e (P) (P)
TUNCER (1992) PC%=Equação II.13 KNIGHT (1975) 5,25 5,46 5,93 4,57 -1,25
Vvi=200 kPa (PB) (PB) (PB) (PM) (NC)
Hc máx(%) = Equação Critério de
5,42 6,31 2,64 3,01 2,11
FUTAI (2000) II.15 JENNINGS e
(PB) (PB) (PM) (PM) (PM)
KNIGHT (1975)
(C) = Colapsível; (NC) = Não Colapsível; (A) = Alta Probabilidade de Colapso; (P) = Provável;
(PP) = Pouco Provável; (PM) = Problema Moderado; (PB) = Problemático.

BASMA e TUNCER (1992):


Equação II.12: CP %=48,496+0,102.Cu-0,457.wo-3,533.Js+2,85.lnVvi VII.3
Equação II.13: CP %=48,506+0,072.(S-C)-0,439.wo-3,123.Js+2,85.lnVvi VII.4

FUTAI (2000):
0,6
ª e Sr º
Equação II.14: 'H c max 4,2 « » VII.5
¬ A(1  IP) ¼

CRITÉRIO DE JENNINGS e KNIGHT (1975): Gravidade dos Problemas


Problemático (P): 5 < PC% < 10
Problema Moderado (PM): 1 < PC% < 5
349

A partir do potencial de colapso (deformação de colapso) e da deformação de


colapso máxima calculados segundo as equações empíricas de BASMA e TUNCER
(1992) e de FUTAI (2000), respectivamente, as amostras foram classificadas segundo o
critério de JENNINGS e KNIGHT (1975), o qual classifica o solo segundo a gravidade
dos danos esperado em uma obra. Independente da proposta considerada, nas amostras
limitadas pela profundidade de 1,3 m (blocos 1, 2, 3 e 4), correspondentes à Camada I, o
solo foi classificado de problemático (5 < PC % < 10). Para profundidades superiores a
1,3 m, a classificação variou. Os valores das deformações de colapso máximas, entre
2,11 e 3,01% (Tabela VII.2), calculadas de acordo com FUTAI (2000) classificam as
amostras acima desta profundidade no grupo de solos com problema moderado (1 < PC
% < 5), independente da camada. Com base nos valores do potencial de colapso
calculados pela equação de BASMA e TUNCER (1992) a amostra da Camada II entre
1,5 e 1,8 m foi classificada no grupo dos solos problemáticos e a amostra entre 2,0 e 2,3
m no grupo dos solos com problema moderado. Na amostra de 2,5 a 2,8 m (camada com
SPT > 50) a deformação calculada (1,25 %) foi de expansão.

BASMA e TUNCER (1992) apresentaram, também, um ábaco que relaciona a


diferença entre o percentual de areia e argila (fração < 0,002 mm) com o grau de
compactação, para classificar o solo quanto ao risco de colapso. De acordo com este
ábaco (Figura VII.1) o solo em estudo apresenta risco ao colapso variando de muito
baixo a baixo.

100
wi = ótima
95 Muito baixo
V v i = 200kPa
Grau de Compactação (%)

90

85 Baixo
80
Médio
75

70
Prof.(m): 0,5 a 0,8
Alto
65 Prof.(m): 1 a 1,3

60 Prof.(m): 1,5 a 1,8


Prof.(m): 2 a 2,3
55 Muito
Alto Prof.(m): 2,5 a 2,8
50
0 20 40 60 80 100

[Areia - Argila (< 0,002mm)]%

Figura VII.1. Estimativa do grau de colapsibilidade segundo o ábaco de BASMA e


TUNCER (1992).
350

Conforme foi ressaltado no Capítulo II, os métodos indiretos para identificação


de solos colapsíveis sofrem grande influência da formação geológica onde os mesmos
foram elaborados.

JATOBÁ e FERREIRA (1991) aplicaram vários desses métodos em 23 solos


colapsíveis brasileiros e concluíram que os métodos baseados nos índices físicos e
limites de Atterberg, em sua maioria, mostraram-se inadequados. Segundo estes autores,
dos critérios avaliados, o de FEDA (1966) apresentou os resultados mais coerentes.
Resultado diferente foi observado por FUTAI (1997) em um solo colapsível argiloso do
Mato Grosso. Dos métodos analisados, apenas o de HANDY (1973) classificou o solo
como não colapsível. Para este mesmo solo, CONCIANI (1997) utilizou seis desses
métodos, dos quais quatro identificaram o solo como não colapsível. FUTAI (1997)
atribuiu estas diferenças às variações nos resultados de caracterização. SOUZA NETO
(1998) utilizou alguns desses métodos em um solo residual maduro argiloso, onde todos
os critérios identificaram este solo como não colapsível, embora resultados de ensaios
edométricos tenham mostrado o contrário. Fato semelhante foi observado por FUCALE
(2000) ao utilizar o método de GIBBS e BARA (1967) em cinco amostras de solos
colapsíveis de Petrolina - PE, dentre as quais duas foram identificadas como não
colapsível, embora os ensaios edométricos mostrassem o contrário.

Os resultados apresentados neste trabalho sugerem que os critérios qualitativos


que têm como princípio a comparação de índices associados ao solo no estado natural e
no limite de liquidez, em especial o Código de Obras da URSS (1962) e o critério de
GIBBS e BARA (1967), sofrem menos a influência da origem onde os mesmos foram
estabelecidos, podendo ser aplicádos ao solo em estudo que apresente alguma
plasticidade.

Das propostas que buscam a quantificação do potencial de colapso do solo, as


equações de BASMA e TUNCER (1992), apresentaram-se mais adequadas para o solo
em estudo. Uma vez que as fundações das edificações da escola agrícola estão assentes
em uma profundidade máxima em torno de 1,0 m, é previsível que o bulbo de tensões
induzido pela fundação envolva camadas de até 2,0 m de profundidade. Na
profundidade de 2,5 m, o solo apresenta SPT > 50, independente da época em que foi
realizada a sondagem. É pouco provável que o solo apresente colapso significativo nesta
profundidade para a maioria das obras locais. Portanto, a proposta apresentada mostra-
se coerente com o que se espera com base nesta observação. O mesmo não se pode dizer
351

do ábaco proposto por estes autores (Figura VII.1), o qual tende a subestimar a real
susceptibilidade do solo ao colapso.

VII.3.2 Métodos diretos (ensaios edométricos)

VII.3.2.1 Ensaio edométrico duplo - REGINATTO e FERRERO (1973)

O critério de REGINATTO e FERRERO (1973) avalia a susceptibilidade ao


colapso de um solo, para uma determinada tensão vertical, tomando-se como referência
a tensão vertical geostática e a tensão de escoamento para duas condições limites (solo
saturado e o solo não saturado). Com base no valor do coeficiente de colapsibilidade (C)
apresentado no Capítulo II (Equação II.16), os solos colapsíveis podem ser classificados
de: “condicionalmente colapsíveis”, onde é necessária a aplicação de uma tensão, além
da geostática, para que o colapso ocorra; e os “solos verdadeiramente colapsíveis”, os
quais podem apresentar colapso mesmo sem carregamento adicional.

A partir dos resultados dos ensaios edométricos na umidade natural (EDN)


referente à condição de campo (estação seca) e dos ensaios edométricos inundados
(EDI) apresentados no Capítulo IV, determinou-se os coeficientes de colapsibilidade de
cada amostra, com exceção daquela limitada pelas profundidades de 2,5 e 2,8 m
(SPT>50), cujo ensaio na umidade natural não mostrou-se satisfatório na determinação
da tensão de escoamento nesta condição (Vvmn). Na Tabela VII.3 apresenta-se um
resumo das informações necessárias para o cálculo do coeficiente de colapsibilidade e a
classificação das amostras segundo REGINATTO e FERRERO (1973). Nesta Tabela,
as tensões geostáticas (Vvo) foram calculadas considerando os valores médios dos pesos
específicos naturais (Jnat) de cada amostra, obtidos a partir dos corpos-de-prova dos
ensaios edométricos EDI e EDN e dos ensaios de cisalhamento direto apresentados no
Capítulo V. Uma vez que cada amostra envolve uma faixa de profundidade, as tensões
geostáticas foram calculadas para as profundidades correspondentes aos limites
inferiores e superiores de cada faixa, resultando em dois valores limites para o
coeficiente de colapsibilidade. Na existência de duplicidade de ensaios edométricos,
considerou-se o valor médio das tensões de escoamento.
352

Tabela VII.3. Classificação da colapsibilidade do solo segundo REGINATTO e


FERRERO (1973).

Amostra Jnat Vvo Vvms Vvmn V vms  V vo


C Classificação
(Prof.:m) (kN/m3) (kPa) (kPa) (kPa) V vmn  V vo
0,5 - 0,8 16,1 8,1 - 13 32 116 0,218 - (0,181) CC
1,0 - 1,3 16,2 16,2 - 21,1 10 258 -0,026 - (-0,047) VC
1,5 - 1,8 16,3 24,3 - 29,2 29 261 0,020 - (-0,001) CC a VC
2,0 - 2,3 16,9 32,5 - 37,6 48 87 0,277 - (0,202) CC
2,5 - 2,8 18,6 41,3 - 46,9 190 ----- -------- -------
CC = Condicionalmente Colapsível; VC = Verdadeiramente Colapsíveil.

Segundo este critério o solo varia de condicionalmente colapsível (Vvms > Vvo e 0
< C < 1) a verdadeiramente colapsível (Vvms < Vvo e C < 0), dependendo da
profundidade (Tabela VII.3). A faixa de profundidade onde o solo apresenta-se
verdadeiramente colapsível, ou no limite desta classificação, está compreendida entre
1,0 e 2,0 m.

Segundo este critério para que o colapso ocorra em um solo condicionalmente


colapsível faz-se necessária uma tensão adicional além da tensão vertical geostática. O
acréscimo máximo de tensão ('Vv), em relação a Vvo, que o solo nesta condição
suportará sem apresentar colapso é 'Vv = Vvms - Vvo. No caso do solo verdadeiramente
colapsível, este poderá apresentar colapso mesmo sem carga adicional. Com base nisso,
pode-se concluir que a tensão Vvms é o principal parâmetro que limita um solo
condicionalmente colapsível de um solo verdadeiramente colapsível.

Considerando este critério, ROCCA et al. (1992) propõem a representação


gráfica de Vvms e Vvo com a profundidade para determinar a espessura de camadas
susceptível ao colapso sob um determinado estado de tensão. Esta forma de
representação também permite definir a camada em que o solo comporta-se como
verdadeiramente colapsível, a qual será limitada pelos valores de Vvms< Vvo. Seguindo
esta metodologia, os valores de Vvms e Vvo da Tabela VII.3 encontram-se representados
na Figura VII.2. Nesta Figura, as profundidades correspondentes aos valores de Vvms são
as médias entre o limites inferiores e superiores de cada amostra (bloco).
353

0.5

Profundidade (kPa)
1
Verdadeiramente
Colapsível
1.5
Limite entre
verdadeiramente e
condicionalmente colapsível
2

V vms
2.5

V vo
3
0 50 100 150 200

Vvo e Vvms (kPa)

Figura VII.2. Comparação entre a tensão de escoamento saturada (Vvms) e a tensão

geostática (Vvo).

Observa-se (Figura VII.2) um trecho entre 1,0 e 1,5 m de profundidade onde os


valores de Vvms são inferiores a Vvo, o que classifica o solo desta camada de
verdadeiramente colapsível. Observa-se também que entre 1,5 e 2,0 m de profundidade
tem-se Vvo # Vvms, entando no limite máximo admissível de tensão que o solo pode
suportar sem apresentar colapso, segundo este critério.

Estes resultados (Figura VII.2) sugerem a existência de um uma camada com


espessura da ordem de 1,0 m de profundidade com maior susceptibilidade ao colapso. A
espessura desta camada pode variar de acordo com a variação da espessura do perfil,
que tende a ser mais profundo próximo as edificações da Escola Agrícola, conforme
descrito no Capítulo III. Uma edificação, mesmo de pequeno porte, cuja fundação se
encontre assente nas proximidades desta camada, certamente estará sujeita a recalques
diferenciais na estação chuvosa, caso o solo atinja o grau de saturação crítico. Este
354

argumento pode explicar o fato de algumas pequenas edificações, com características


construtivas semelhantes, dentro dos limites da Escola Agrícola, apresentarem danos,
enquanto outras não. Vale ressaltar que as variações de umidade na estação chuvosa
(Capítulo III) foram observadas ao longo de todo perfil se solo.

FERREIRA (1995) aplicou o critério de REGINATTO e FERRERO (1973) em


duas amostras de solo colapsível de Petrolândia-PE: uma a 1,20 m de profundidade e a
outra a 2,0 m. Na amostra de 2,0 m de profundidade o solo foi classificado de
verdadeiramente colapsível. Resultados de ensaios com o Expanso-colapsômetro, sob
tensão geostática, realizados no mesmo local onde foram coletadas as amostras
indicaram maiores potenciais de colapso no trecho entre 0,8 e 2,0 m de profundidade.
Por tratar-se de solos pertencentes à mesma formação geológica, é possível que a
existência uma camada com maior susceptibilidade ao colapso, com faixas de
profundidades variáveis, seja uma característica desta formação.

VII.3.2.2 Classificação da colapsibilidade a partir dos resultados dos ensaios


edométricos simples (EDS)

Algumas propostas para identificação e classificação de solos colapsíveis,


baseados em resultados de ensaios edométricos simples, foram apresentadas no Capítulo
II. Com base nos valores do coeficiente de colapso estrutural (i) e do potencial de
colapso (PC) ou da deformação de colapso (Hc) obtidos a partir dos resultados dos
ensaios edométricos simples apresentados no Capítulo IV (Tabela IV.5), procurou-se
classificar as amostras segundo estas propostas.

De acordo com VARGAS (1978) os solos são considerados colapsíveis quando i


> 2 %, independente da tensão vertical de inundação (Vvi). Segundo este critério, as
amostras da Camada I (profundidade menor que 1,3 m) serão identificadas como
colapsíveis para valores de Vvi t 40 kPa. Na Camada II (entre 1,3 e 2,5 m de
profundidade), esta tensão mínima varia. A amostra entre 1,5 a 1,8 m será considerada
colapsível para Vvi t 40 kPa. Na amostra entre 2,0 a 2,3m a tensão mínima para
considerar o solo colapsível será 80 kPa. Na amostra de 2,5 a 2,8 m, correspondente a
camada considerada impenetrável ao SPT, o solo foi identificado como colapsível para
as tensões de inundação a partir de 320 kPa.
355

O critério de JENNINGS e KNIGTH (1975) classifica o solo de acordo com a


gravidade dos danos em uma obra, a partir do valor do potencial de colapso (PC), ou
deformação de colapso Hc, para tensão de inundação de 200 kPa. Considerando as

curvas Hc versus Vvi log apresentadas no Capítulo IV (Figura IV.7), a classificação do

solo variou entre “problema moderado” (1 d PC % d 5) para a amostra de 0,5 a 0,8m


(Camada I) e para as amostras superiores a 2,0 m de profundidade, envolvendo a
Camada II (2,0 – 2,3m) e a camada com SPT > 50 (2,5 – 2,8m). Entre 1,0 e 1,8 m,
envolvendo amostras das Camadas I (1,0 – 1,3 m) e II (1,5 – 1,8 m), o solo foi
classificado no grupo dos “solos problemáticos” (5 d PC % d 10).

A proposta de classificação de LUTENEGGER e SABER (1988) é baseada no


valor do coeficiente de colapso estrutural (i) correspondente à tensão de 300kPa. Esta
proposta classifica o solo de acordo o “grau de susceptibilidade ao colapso do solo”.
Conforme apresentado na Figura IV.16 (Capítulo IV), praticamente, não há diferença
entre a deformação de colapso (Hc) e o coeficiente de colapso estrutural (i). Portanto,
utilizar os valores de Hc nas propostas de identificação ou classificação que se baseiam

no valor i não resultará em erros significativos. A partir das curvas versus Hc versus Vvi
log foram determinadas as deformações de colapso para esta tensão (300 kPa). De
acordo com a classificação de LUTENEGGER e SABER (1988), na amostra inferior a
1,0 m e nas amostras superiores a 1,8 m de profundidade, a susceptibilidade ao colapso
varia entre os limites de leve (i = 2 %) a moderada (i = 6 %), enquanto as amostras
limitadas por estas duas profundidades se enquadram nos limites de moderado a grave (i
= 10 %).

Na Figura VII.3 estão apresentadas as deformações de colapso com a

profundidade, referentes às tensões de inundação Vvo (tensão geostática), 200 kPa e 300
kPa. Para estas duas últimas tensões estão indicados nos gráficos os limites das
classificações de JENNINGS e KNIGHT (1975) e LUTENEGGER e SABER (1988),

respectivamente. Na tensão geostática (Figura VII.3a), os valores de Hc (0,5 a 1,6 %)


identificam o solo como estável, segundo o critério de VARGAS (1978). Entretanto,
fica clara a existência de uma camada intermediária, entre 1,0 e 1,9 m, com maior
susceptibilidade ao colapso. Nas classificações de JENNINGS e KNIGHT (1975)
(Figura VII.3b) e LUTENEGGER e SABER (1988) (Figura VII.3c) esta camada se
356

enquadra na classe de solos problemáticos e de susceptibilidade ao colapso entre


moderada e grave, respectivamente.

0 0 0
Gravidade do problema Grau de susceptibilidade
ao colapso
0.5 Vv i = Vv o 0.5 Vv i = 200kPa 0.5 Vv i = 300kPa

PROBLEMA MODERADO
Profundidade (m)

1 1 SEM PROBLEMA 1

PROBLEMÁTICO

MODERADO

GRAVE
LEVE
1.5 1.5 1.5

2 2 2

Classificação:
Classificação: Lutenegger e
2.5 2.5 2.5
Jennings e Knight (1975) Saber (1988)

(a) (b) (c)


3 3 3
0 0.5 1 1.5 2 0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
H c (%) H c (%) H c (%)

Figura VII.3. Variação da deformação de colapso (Hc) e classificação do solo segundo


JENNINGS e KINGHT (1975) e LUTENEGGER e SABER (1988).

Estes resultados reforçam os comentários anteriores sobre a existência de uma


camada, intermediária, com maior susceptibilidade ao colapso. Resultados de ensaios de
colapso in situ, apresentados e discutidos no Capítulo VI, e estudos realizados por
DOURADO (2004) através de ensaios pressiométricos também evidenciam a existência
desta camada. Tal constatação é um agravante para as edificações existentes, devendo
ser considerada nas futuras obras de recuperação ou novas construções locais.

FUTAI (1997) critica as propostas de JENNINGS e KNIGTH (1975) e


LUTENEGGER e SABER (1988) pelo fato destas não levarem em consideração a
história de tensões do solo. Caso as tensões de escoamento na condição saturada forem
superiores às tensões de referência (200 e 300 kPa) haverá pouca deformação ou, até
mesmo expansão do solo. Por outro lado há solos colapsíveis cuja tensão de ruptura no
estado natural está bem aquém da tensão de referência. Um bom exemplo disso é
357

apresentado por CONCIANI (1997) para um solo colapsível do Mato Grosso (o mesmo
estudado por FUTAI, 1997), cuja capacidade de carga no estado natural obtida por meio
de provas de carga em placa, não ultrapassou os 65 kPa. Além disso, vários solos
colapsíveis podem apresentar recalques de colapso suficientes para resultar em danos
numa obra, sob tensões bem inferiores às de referência.

A proposta de VARGAS (1978) permite identificar o solo colapsível para


qualquer nível de tensão. Porém, 2 % de deformação de colapso pode resultar em
recalques inaceitáveis para algumas obras. A proposta de JENNINGS e KNIGHT
(1975) é a única que busca classificar o solo colapsível por faixas de valores do
potencial de colapso. Portanto, nada mais razoável que esta seja aplicável para qualquer
nível de tensão, e não apenas na tensão de referência.

VII.4 PREVISÃO DE RECALQUE

VII.4.1 Considerações preliminares

Na literatura técnica é comum referir ao fenômeno do colapso como um


problema de variação de volume devido ao rearranjo estrutural do solo. Partindo desse
princípio, vários autores têm recorrido a resultados de ensaios edométricos duplos ou
simples para esta finalidade.

O procedimento tradicional consiste em dividir o solo sob a fundação superficial


em camadas e multiplicar sua espessura pelas deformações específicas de colapso,
referentes ao estado de tensão atuante no centro de cada camada (ex: HOUSTON et al.,
1988).

Os ensaios edométricos são amplamente empregados para obtenção de


parâmetros de argilas saturadas sob compressão unidimensional, situação esta que se
aproxima, satisfatoriamente, de carregamentos em extensas áreas sobre um estrato de
solo compressível saturado, tal como uma camada de argila mole. No caso de uma
fundação superficial, as condições de carregamento dificilmente se enquadram nesta
condição. Conforme ressalta BARATA (1986) esta hipótese pode ser razoável quando a
358

dimensão da fundação ou a área carregada é relativamente grande em relação à


espessura do perfil de solo.

No colapso, que é um processo inverso ao adensamento, as tensões horizontais


aumentam com o processo do umedecimento, resultando em aumento de Ko com a
redução da sucção, conforme mostraram VILAR e MACHADO (1997) e VILAR et al.
(1998). Portanto, deslocamentos horizontais ocorrerão no solo sob uma fundação
superficial (uma sapata), uma vez que a condição de completa restrição aos
deslocamentos horizontais, tal como nos ensaios edométricos, não existe nesta condição
de campo. Portanto, a parcela de recalque devida à distorção do solo não pode ser
desconsiderada.

O uso de ensaios de campo na previsão de recalques de colapso é recente. Os


procedimentos, basicamente, consistem em obter uma relação tensão-deformação de
colapso através de ensaios de colapso “in-situ” (FERREIRA e LACERDA, 1993;
HOUSTON et al., 1995) e adotar a mesma metodologia de cálculo adotada nos ensaios
edométricos. Embora estes ensaios se assemelhem às condições de carregamento de
uma sapata, existem incertezas sobre a real espessura da camada envolvida no processo
do colapso, necessária no cálculo das deformações.

Partindo dos resultados dos ensaios edométricos apresentados no Capítulo IV e


dos resultados dos ensaios ECT apresentados no Capítulo VI, procurou-se prever os
recalques de colapso das provas de carga em placa (PC01 e PC02) apresentadas e
discutidas no Capítulo VI.

Apesar da complexidade envolvida no processo do colapso, as previsões foram


feitas analiticamente tomando-se como base as propostas apresentadas no Capítulo II.
Admitiu-se que todas as camadas envolvidas pelo bulbo de tensões foram submetidas ao
umedecimento. Considerou-se um bulbo de tensões com profundidade equivalente a 2,5
D, sendo D o diâmetro da placa, ou seja, 2,0 m para o diâmetro da placa utilizada nesta
pesquisa (0,8 m).

O bulbo de tensões foi dividido em quatro camadas com espessura de 0,5 m


cada, envolvendo as faixas de profundidade das amostras e as profundidades dos ensaios
ECT. Na Figura VII.4 apresenta-se, esquematicamente, a disposição das amostras e dos
ensaios ECT em relação ao bulbo de tensões.
359

Figura VII.4. Representação esquemática das profundidades das amostras e dos ensaios
ECT em relação ao bulbo de tensões das provas de carga.

As tensões transmitidas ao solo pelas provas de carga foram calculadas com base
nas formulações da teoria da elasticidade, para uma placa circular rígida assente à
superfície do terreno. Estes resultados encontram-se na Figura VII.5. Nesta Figura
apresenta-se também a variação, com a profundidade, da granulometria do solo (Figura

VII.7a) e o peso específico seco natural (Jnat) (Figura VII.7b).

0 0 0 0
Areia fina siltosa, r = 0,40m PC01 r = 0,40m PC02
não plástica (NP) Vv i=100kPa Vv i = 60kPa
0.5 CAMADA 1 0.5 0.5 0.5
Distribuição de tensões Distribuição de tensões
Areia Média no centro da placa no centro da placa
e grossa
1 1 1 1
Profundidade (m)

Areia fina
1.5 siltosa, 1.5 1.5 1.5
3 < IP% < 6

CAMADA II

2 Areia fina 2 2 2

Silte
2.5 2.5 2.5 2.5

Argila
(c) (d)
3 3 3 3
0 20 40 60 80 100 14 16 18 20 0 20 40 60 80 100 0 10 20 30 40 50 60

Granulometria (%) J nat (kN/m )3


'Vv (kPa) 'Vv (kPa)

Figura VII.5. Variação da granulometria sem defloculante (a); do peso específico


natural, Jnat, (b) distribuição das tensões transmitidas ao solo pelo carregamento da
placa, 'Vv, (c) e (d).
360

As tensões geostáticas foram calculadas para o centro de cada camada (Figura

VII.4) utilizando os valores médios do Jnat (Figura VII.5).

VII.4.2 Previsão a partir de ensaios edométricos

VII.4.2.1 Ensaio edométrico duplo - JENNINGS e KNIGHT (1957) e (1975)

A proposta de JENNINGS e KNIGHT (1957) e (1975) é destinada àqueles solos

colapsíveis que se mantêm estáveis sob a tensão geostática (Vvo), independente do teor
de umidade ou grau de saturação do solo. Em outras palavras, aplica-se aos solos

“condicionalmente colapsíveis”. Qualquer deformação de colapso Hc, determinada a

partir de ensaios edométricos, que venha ocorrer sob uma tensão de inundação (Vvi)

equivalente a tensão geostática (Vvo) é atribuída aos efeitos de alívio de tensões e


perturbação da amostra. Para compensar estes efeitos, os autores propõem que as curvas
dos ensaios edométricos duplos sejam ajustadas, de forma a desconsiderar as

deformações de colapso para valores de Vvi < Vvo. O procedimento de ajuste encontra-

se resumido na Figura VII.6. Para solos que apresentam valores da razão Vvms/Vvo entre
0,8 e 1,5 o ajuste deve feito conforme a Figura VII.6a e para solos que apresentam

valores Vvms/Vvo o ajuste deve ser feito conforme a Figura VII.6b.

As deformações específicas de colapso Hc podem ser calculadas segundo a


expressão:

e

c VII.6
1  eo

onde: 'es é a variação do índice de vazios, desde antes da inundação até a tensão Vv
considerada;

eo é o índice de vazios do solo na coordenada (Vvo, eo) da curva ajustada


segundo o procedimento da Figura VII.6.
361

(a) Ajuste das curvas para um solo (b) Ajuste das curvas para um solo pré-
normalmente adensado adensado

Figura VII.6. Representação gráfica do ajuste das curvas segundo JENNINGS e


KNIGTH (1975).

O recalque de colapso de uma fundação superficial (sapata) pode ser calculado


pelo produto da deformação específica de colapso (Hc), em uma determinada tensão total

(Vvo + 'Vv), pela espessura da camada (Hi) envolvida no processo do umedecimento.

Partindo dos resultados dos ensaios edométricos inundados (EDI) e na umidade


natural (EDN), foram montados os pares de curvas dos ensaios edométricos duplos
(EDD) para as camadas envolvidas pelo bulbo de tensões das provas de carga em placa
(entre 0,5 e 2,5 m em relação ao nível do terreno). Foram considerados os corpos-de-
prova com menores diferenças nos índices de vazios iniciais.

Na Figura VII.7 apresentam-se as curvas referentes aos ensaios edométricos


duplos para cada amostra. Na Figura VII.8 apresentam-se as curvas ajustadas segundo a
proposta de JENNINGS e KNIGTH (1975).

Nas amostras envolvidas pelas profundidades entre 1,0 e 2,3 m os valores de


Vvms/Vvo estiveram compreendidos entre 0,48 e 1,1. Nestes casos o ajuste das curvas
foram feitos segundo o procedimento de ajuste da Figura VII.6a.

Partindo-se das curvas ajustadas dos ensaios edométricos duplos (Figura VII.8),
calculou-se as deformações específicas de colapso (Equação VII.6) para as tensões

totais (Vvo + 'Vv) atuantes no centro de cada camada envolvida pelo bulbo de tensões
362

(Figura VII.4) e a parcela do recalque de colapso (rc) de cada camada. Estes resultados
encontram-se resumidos na Tabela II.4.

A diferença entre os recalques previstos e os medidos (Tabela VII.4) variou de


acordo com a tensão de inundação da prova de carga. Na prova de carga PC01,
inundada na tensão 100 kPa, o recalque previsto (30,0 mm) foi 67 % do valor do
recalque medido (45,0 mm). Na prova de carga PC02, inundada na tensão de 60 kPa, o
recalque previsto (21,5 mm) foi cerca de 5 % superior ao medido (20,5 mm).

JENNINGS e KNIGHT (1975) afirmam que a comparação entre os recalques


previstos, segundo este procedimento, com os recalques medidos em oito casos de obras
foram coerentes, dentro de um limite de confiança.

CONCIANI (1997) comparou resultados de previsões de recalques de colapso


com os medidos em ensaios de placas, semelhantes ao desta pesquisa. Observou que nos
ensaios inundados nas tensões de 18 e 36 kPa os recalques previstos a partir dos ensaios
edométricos duplos foram da mesma ordem de grandeza, embora superiores, aos
medidos nas provas de carga. Para um ensaio inundado na tensão de 54 kPa o recalque
de colapso previsto foi cerca de 50 % inferior em relação ao medido na prova de carga.
É importante ressaltar que a tensão de ruptura deste solo no estado natural foi em torno
de 65 kPa.

Tabela VI.4. Resumo das previsões dos recalques de colapso a partir dos resultados dos
ensaios edométricos duplos.

TRECHO ENSAIO PC01 - Vvi = 100kPa ENSAIO PC02 - Vvi = 60kPa


SOB A
CAMADA PLACA (Vvo+ 'Vv) rp (Vvo+ 'Vv) rp
(m) Hc Hc
kPa (mm) kPa (mm)
0,5 - 0,8 98 0,022 11,0 64 0,016 8,0
I
1,0–1,5 53 0,017 8,5 39 0,011 5,5
1,5 – 2,0 44 0,016 8,0 38 0,012 6,0
II
2,0 – 2,5 45 0,005 2,5 42 0,004 2,0
Recalque de Colapso Previsto (rp), mm 6 rc 30,0 6 rc 21,5
Recalque de Colapso Medido (rm), mm rm 45,0 rm 20,5
(Vvo + 'Vv) – Tensão total no centro da camada
rc = (Hci) x Hi, onde Hi é a espessura da camada envolvida no colapso(Hi = 500mm)
363

0.70 0.70
CP02-EDI CP08-EDI
CP04-EDN (wi=1,22%) CP09-EDN (wi=1,49%)

0.65 Camada I 0.65 Camada I


Prof.(m): 0,5 a 0,8 Prof.(m): 1,0 a 1,3
Índice de Vazios

0.60 0.60

0.55 0.55

0.50 0.50

(a) (b)
0.45 0.45
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

0.70 0.70
CP14-EDI CP19-EDI
CP16-EDN (wi=2,22%) CP22-EDN (wi=1,99%)
0.65 0.65
Camada II Camada II
Prof.(m): 1,5 a 1,8 Prof.(m): 2,0 a 2,3
0.60 0.60
Índice de Vazios

0.55 0.55

0.50 0.50

0.45 0.45

(d)
(a)
0.40 0.40
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura VII.7. Resultados dos ensaios edométricos (EDI e EDN) considerados para
compor o par de curvas dos ensaios edométricos duplos (EDD).
364

0.63 0.63
CP02-EDI CP08-EDI
0.61 CP04-EDN (wi=1,22%)0.61 CP09-EDN (wi=1,49%)

0.59 0.59
Índice de Vazios

0.57 0.57

0.55 0.55

0.53 0.53

0.51 0.51

0.49 0.49
Camada I Camada I
0.47 Prof.(m): 0,5 a 0,8 0.47 Prof.(m): 1,0 a 1,3
(a) (b)
0.45 0.45
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

0.65 0.65
CP14-EDI CP19-EDI
CP16-EDN (wi=2,22%) CP22-EDN (wi=1,99%)

0.60 0.60
Índice de Vazios

0.55 0.55

0.50 0.50

0.45 Camada II 0.45


Camada II
Prof.(m):1,5 a 1,8 Prof.(m): 2,0 a 2,3
(c) (d)
0.40 0.40
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertcial (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura VII.8. Resultados dos ensaios edométricos duplos (EDD) ajustados segundo
procedimentos gráficos propostos por JENNINGS e KNIGTH (1975): a) amostra entre
0,5 e 0,8 m; b) amostra entre 1,0 e 1,3 m; c) amostra entre 1,5 e 1,8 m; d) amostra entre
2,0 e 2,3 m.
365

VII.4.2.2 Ensaio edométrico simples

Partindo das curvas tensão-deformação de colapso (Hc versus Vvilog) obtidas


através dos ensaios edométricos simples (Capítulo IV) procurou-se prever os recalques
de colapso (rc) das provas de carga em placa. Adotou-se o mesmo procedimento de
cálculo nas previsões através dos ensaios edométricos duplo.

Na Figura VII.9 apresentam-se as curvas Hc versus Vvi log referentes às amostras


envolvidas pelo bulbo de tensões das provas de carga (Figura VII.4). Considerou-se que
as deformações de colapso ocorridas nas tensões de inundação de 1,25 kPa foram
decorrentes de efeitos de perturbação do solo. Portanto, nas deformações de colapso a
serem utilizadas no cálculo dos recalques foram subtraídas as deformações ocorridas nas
tensões de inundação de 1,25 kPa. Exceto na amostra correspondente à primeira camada
(Figura VII.4), entre 0,5 a 0,8, esta subtração não foi considerada, uma vez que a menor
tensão de inundação foi 5 kPa. O resultado destas previsões encontram-se resumidas na
Tabela VII.5.

Os recalques previstos (Tabela VII.5) foram sempre superiores aos obtidos a


partir dos resultados dos ensaios edométricos duplos, porém apresentando o mesmo
comportamento com relação às provas de carga. No ensaio PC01 (Vvi = 100 kPa)

Tabela VII.5. Resumo das previsões dos recalques de colapso a partir dos resultados dos
ensaios edométricos simples.

TRECHO
ENSAIO PC01 - Vvi = 100kPa ENSAIO PC02 - Vvi = 60kPa
SOB A
CAMADA PLACA (Vvo+ 'Vv) rp (Vvo+ 'Vv) rp
Hc Hc
(m)
kPa (mm) kPa (mm)
0,5 - 0,8 98 0,043 21,5 64 0,037 18,5
I
1,0–1,5 53 0,014 7,0 39 0,018 9,0
1,5 – 2,0 44 0,013 6,5 38 0,011 5,5
II
2,0 – 2,5 45 0,008 4 42 0,003 4,0
Recalque de Colapso Previsto (rp), mm 6 rc 39,0 6 rc 37,0
Recalque de Colapso Medido (rm), mm rm 45,0 rm 20,5
(Vvo + 'Vv) – Tensão total no centro da camada
rc = (Hci) x Hi, onde Hi é a espessura da camada envolvida no colapso(Hi = 500mm)
366

9 9
Prof.(m): 0,5 a 0,8 Prof.(m): 1,0 a 1,3
8 8 Efeito de perturbação
Deformação de Colapso, H c (%)

7 7

6 6

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1
(a) (b)
0 0
1 10 100 1000 1 10 100 1000

Tensão Vertical de Inundação (kPa) Tensão Vertical de Inundação (kPa)

9 9

Prof.(m): 1,5 a 1,8 Prof.(m): 2,0 a 2,3


8 8
Efeito de Perturbação
Deformação de Colapso, H c (%)

Efeito de pertubação
7 7

6 6

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1 (d)
(c)
0 0
1 10 100 1000 1 10 100 1000

Tensão Vertical de Inundação (kPa) Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura VII.9. Curvas de variação de deformação específica de colapso com a tensão


vertical de inundação (Hc versus Vv log) obtidas a partir dos ensaios edométricos
simples: a) amostra entre 0,5 e 0,8 m; b) amostra entre 1,0 e 1,3 m; c) amostra entre 1,5
e 1,8 m; e d) amostra entre 2,0 e 2,3 m.
367

o recalque previsto (39,0 mm) foi cerca de 87 % do recalque medido (45,0 mm),
enquanto no ensaio PC02 (Vvi = 60 kPa) a previsão resultou num recalque da ordem de
80 % superior ao medido (20,5 mm) nesta prova de carga.

No Capítulo II foi apresentada uma proposta de HOUSTON et al. (1988) para


prever recalques de colapso utilizando apenas um ensaio edométrico simples. Este
procedimento não foi aplicado devido a falta de representatividade do ensaio realizado
na amostra entre 0,5 e 0,8 m, envolvida pela primeira camada do bulbo de tensões
(Figura VII.4). Segundo esses autores, os recalques previstos através de ensaios
edométricos deverão sempre superestimar os recalques medidos.

VII.4.3 Previsão dos recalques de colapso a partir dos ensaios ECT

A partir dos resultados dos ensaios ECT procurou-se prever os recalques de


colapso das provas de carga. As deformações de colapso foram calculadas segundo o
mesmo princípio considerado por FERREIRA e LACERDA (1993) e HOUSTON et al.
(1995), ou seja, dividindo o recalque de colapso em uma determinada tensão vertical de
inundação pela espessura da camada do solo envolvida no processo do umedecimento e
pelo bulbo de tensões, conforme a expressão:

rc

c VII.7
Hw

onde: rc = rf – ri, sendo rf o recalque total após a inundação e ri o recalque no início da


inundação; e

Hw é a espessura da camada umedecida envolvida pelo bulbo de tensões,


determinada comparando os teores de umidade antes e após o ensaio.

Os resultados dos ensaios ECT apresentados no Capítulo VI, onde nenhum


volume de água foi adicionado após a estabilização dos recalques, mostram que as
variações significativas no teor de umidade estiveram concentradas na metade superior
do bulbo de tensões, considerado 250 mm (2,5 D) nestes ensaios.

Com base nesses resultados, as deformações de colapso foram calculadas


considerando a espessura de Hw igual a 125 mm (1,25 D). Os recalques de colapso (rc)
para as tensões totais (Vvo + 'Vv) no centro de cada camada envolvida pelo bulbo de
368

tensões foram obtidos a partir das curvas rc versus Vvi (Figura VI.31) dos ensaios ECT
(Capítulo VI), reapresentada na Figura VII.10. Uma vez que não foram realizados
ensaios ECT nas profundidades de 2,0 m, a parcela de recalque desta camada não será
inclusa na previsão. O resultado destas previsões encontra-se resumido na Tabela VII.6.

0
1
Recalque de Colapso (mm)

2
3
4
5
6
7
Prof.: 0,5m
8
Prof.: 1,0m
9
Prof.: 1,5m
10
11
0 20 40 60 80 100 120
Tensão Vertical de Inundação (kPa)

Figura VII.10. Variação dos recalques de colapso com a tensão vertical de inundação.

Tabela VII.6. Resumo das previsões dos recalques de colapso a partir dos resultados dos
ensaios ECT.

TRECHO
ENSAIO PC01 - Vvi = 100kPa ENSAIO PC02 - Vvi = 60kPa
SOB A
CAMADA PLACA (Vvo+ 'Vv) rp (Vvo+ 'Vv) rp
(m)
Hc Hc
kPa (mm) kPa (mm)
0,5 - 0,8 98 0,028 13,8 64 0,018 9,0
I
1,0–1,5 53 0,021 10,5 39 0,014 7,0
II 1,5 – 2,0 44 0,038 19,0 38 0,033 16,5
Recalque de Colapso Previsto (rp), mm 6 rc 43,9 6 rc 32,0
Recalque de Colapso Medido (rm), mm rm 45,0 rm 20,5
(Vvo + 'Vv) – Tensão total no centro da camada
rc = (Hci) x Hi, onde Hi é a espessura da camada envolvida no colapso(Hi = 500mm)
369

O recalque total previsto a partir dos resultados dos ensaios ECT (Tabela VII.6)
seguiram o mesmo comportamento das previsões a partir dos ensaios edométricos, com
relação aos recalques medidos nas provas de carga. No ensaio PC01 (Vvi = 100 kPa), o
recalque de colapso previsto (43,9 mm) foi 98 % do valor do recalque medido (45 mm).
No ensaio PC02 (Vvi = 100 kPa), o recalque de colapso previsto (32 mm) foi 56 %
superior ao recalque medido (20,5 mm).

VII.4.4 Comparação entre os recalques previstos, segundo os diferentes


procedimentos, com os resultados dos ensaios de referência (PC01 e PC02)

Nas Figuras VII.11 e VII.12 são comparadas as previsões segundo os diferentes


procedimentos adotados. As linhas cheias horizontais nestas figuras representam os
recalques medidos nos ensaios de provas de carga.

As melhores aproximações entre os recalques de colapso previstos com os


medidos variam com a tensão vertical de inundação. Na prova de carga PC01 (Figura
VII.11), inundada na tensão de 100 kPa, o melhor resultado se verifica para a previsão
realizada a partir dos resultados dos ensaios ECT. Na prova de carga PC02 (Figura
VII.12), inundada na tensão de 60 kPa os melhores resultados foram obtidos a partir dos
ensaios edométricos duplos (EDD).

BRIAUD (1992) comparou os recalques medidos através de ensaios de provas


de carga realizados em argilas, siltes e areias com os recalques previstos a partir dos
resultados de ensaios pressiométricos. A diferença entre os recalques previstos e os
medidos foi de r 50 %. Estes estudos não foram realizados em solos colapsíveis.
Portanto, pode-se considerar que os resultados das previsões dos recalques de colapso
realizados nesta pesquisa estão dentro da faixa de erro que se observa na literatura,
apesar das simplificações envolvidas nos procedimentos adotados.

Apesar das incertezas envolvidas no cálculo das deformações dos ensaios ECT,
o resultado das previsões sugere que este procedimento pode ser um meio simples e
econômico para fins de projeto em solos colapsíveis. A realização de análises numéricas
envolvendo programas com fluxo associado pode ser uma ferramenta útil para
estabelecer uma interpretação mais racional destes ensaios. Todavia vale ressaltar
algumas vantagens e limitações deste tipo de ensaio.
370

60
Colapso PC01: ECT - A partir do Expansocolapômetro
Vv i = 100kPa EDD - Edométricos Duplos
50 EDS - Edométricos Simples
rc = 45mm
Colapso Previsto (mm)
40

30

20

10

0
ECT EDD EDS
Método de Previsão

Figura VII.11. Comparação entre os recalques de colapso previstos e os medidos no


ensaio de referência PC01- Vvi = 100kPa.

0 2 4 6 8 10
60
Colapso PC02: ECT - A partir do Expansocolapômetro
EDD - Edométricos Duplos
50 Vvi = 60kPa
EDS - Edométricos Simples
rc = 20,5mm
Colapso Previso (mm)

40

30

20

10

0
ECT EDD EDS
Método de Previsão

Figura VII.12. Comparação entre os recalques de colapso previstos e os medidos no


ensaio de referência PC02- Vvi = 60kPa.
371

Os ensaios de colapso “in situ” tal como os ensaios ECT possuem a vantagem de
obter resultados diretos na aplicação de previsão de recalques sem as inconveniências
envolvidas nas coletas de amostras, especialmente em solos sensíveis aos
procedimentos de amostragem e preparação dos corpos de prova para os ensaios de
laboratório, tal como os solos arenosos colapsíveis. Os ensaios de campo minimizam os
efeitos de perturbação das amostras. Permitem, também, avaliar “in situ” a eficiência de
uma solução que envolva a remoção e compactação do solo. Todavia, uso de placas de
pequenas dimensões pode não ser aconselhável para alguns solos granulares com
considerável presença de pedregulho. Além disso, a preparação do furo, em especial o
nivelamento da base, é um fator que pode ter forte influência nos resultados. Este
aspecto necessita de uma investigação detalhada no futuro.
372

CAPÍTULO VIII

CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

VIII.1 PRINCIPAIS CONCLUSÕES

• Os dados pluviométricos de Petrolândia classificam o clima de semi-árido, com


sucções que podem variar de 10 a 20 MPa na estação seca. Este fato
impossibilita o monitoramento da sucção no campo através de tensiômetros.

• O perfil de solo é constituído de uma areia siltosa com duas camadas distintas.
No período chuvoso (Dezembro a Março) tem seu teor de umidade totalmente
alterado devido às precipitações pluviométricas. Este fato, associado à má
drenagem em torno da área construída tem contribuído para o agravamento dos
danos nas edificações da escola.

• As análises granulométricas de ensaios realizados com e sem o uso do


defloculante, associadas à análise mineralógica, indicam um solo de natureza
pouco dispersiva, sugerindo que a interação química não exerce efeito
significante no processo do colapso do solo em estudo, estando este processo
dominado pela redução da sucção.

• A técnica do papel filtro mostrou-se um meio simples e eficiente na


determinação da sucção do solo e na obtenção da curva característica.

• Não foi observado o efeito de histerese na curva característica das amostras


analisadas. Os resultados se ajustaram, satisfatoriamente, à equação de VAN
GENUCTHEN (1980).

• Os resultados dos ensaios edométricos mostraram que a deformação do sistema


exerce forte influência nos parâmetros de deformabilidade (Cc, Cr e o Eed) do
solo. Quanto às deformações de colapso (εc), a influência da calibração é
pequena, podendo ser desconsiderada quando o objetivo do ensaio for este.

• Os resultados dos ensaios edométricos realizados sob diferentes teores de


umidade natural, mostraram que o solo pode apresentar grande compressão com
pequenas variações na umidade, especialmente na Camada I. Este fato sugere
373

que as variações no teor de umidade do solo na estação chuvosa podem ser


suficientes para provocar intenso colapso no solo, mesmo sob graus de saturação
relativamente baixos (ex: 15 a 25 %).

• A conclusão do parágrafo acima sugere que a técnica de pré-umedecimento do


solo como tratamento pode ser eficiente, desde que seja mantida a umidade do
solo durante a construção ou o umedecimento seja realizado sob carregamento.

• Os resultados dos ensaios edométricos duplos e edométricos simples sugerem


que as variações da estrutura do solo podem ter um efeito mais significativo nas
deformações de colapso do que os caminhos de tensões seguidos nestes ensaios.

• Os resultados dos ensaios edométricos duplos e simples mostraram que, na


maioria das amostras, as tensões máximas adotadas nos ensaios não foram
suficientes para provocar a redução da deformação de colapso com a tensão de
inundação.

• Os resultados dos ensaios em amostras compactadas mostraram que a eficiência


da compactação na redução da colapsibilidade sofre forte influência do teor de
finos do solo. Para solos arenosos com baixo teor de finos, é possível que algum
dano à obra de menor intensidade, devido ao colapso do solo, venha ocorrer,
mesmo utilizando a técnica de remoção e compactação do solo.

• O critério de DÉCOURT e QUARESMA FILHO (1994), baseado nos resultados


de sondagens SPT-T, não se mostrou adequado na identificação da
colapsibilidade do solo.

• A tentativa de avaliar a colapsibilidade do solo comparando os resultados de


sondagens a seco e por lavagem, realizadas na estação seca, não mostrou-se
adequada, uma vez que o simples processo de lavagem não foi eficiente na
saturação do solo.

• Dos métodos indiretos de identificação baseados nos índices físicos e nos limites
de consistência do solo, aplicáveis às amostras da Camada II, as propostas de
GIBBS e BARA (1967) e o Código de Obras da URSS mostraram-se as mais
adequadas na identificação da colapsibilidade do solo de Petrolândia.

• As classificações da colapsibilidade baseadas nos resultados dos ensaios


edométricos duplos e simples indicam a existência de um trecho entre 1,0 e 2,0
374

m de profundidade, envolvendo a Camada I e a Camada II, com maior


susceptibilidade ao colapso, vindo a ser classificada de “verdadeiramente
colapsível”, segundo REGINATTO e FERRERO (1973) e “problemática”
segundo JENNINGS e KNIGHT (1975).

• Com base no potencial de colapso (deformação de colapso) calculado a partir de


equações empíricas e considerando o critério de classificação de JENNINGS e
KNIGHT (1975), a proposta de BASMA e TUNCER (1992) mostrou-se mais
compatível com o observado através dos ensaios edométricos.

• Os ensaios edométricos com sucção controlada confirmam as conclusões obtidas


a partir dos resultados dos ensaios edométricos convencionais sob diferentes
teores de umidade, mostrando que o solo pode apresentar grande compressão
sob graus de saturação relativamente baixos.

• A variação dos parâmetros de compressibilidade obtidos a partir dos ensaios


com sucção controlada sugere que, para sucções altas (1.000 e 1.500 kPa), as
tensões máximas alcançadas nos ensaios não tenham sido suficientes para
definir, adequadamente, o trecho virgem da curva de compressão, de acordo com
FUTAI (1997).

• O modelo de FUTAI (1997), em geral, ajustou-se melhor aos resultados


experimentais dos ensaios EDSC (edométricos com sucção constante) do que o
de ALONSO et al. (1997). Para sucções a partir de 1.000 kPa, o modelo de
ALONSO et al. (1990) apresentou os melhores ajustes.

• Quanto às previsões das deformações de colapso dos ensaios CLRS (colapso


com redução gradativa da sucção), tanto o modelo de ALONSO et al. (1990),
quanto o de FUTAI (1997) apresentaram resultados similares. Este fato se
justifica pelo estado de tensões no início da inundação estarem dentro dos
limites elásticos das LC’s.

• As propostas da literatura para prever a resistência do solo não saturado,


utilizando resultados de ensaios convencionais saturados e a curva característica
não se ajustaram adequadamente ao solo em estudo, reforçando as críticas da
literatura (MACHADO e VILAR, 1998; BASTOS, 1999; e SANTOS, 2001)
quanto à eficiência dessas propostas.
375

• A capacidade de carga prevista segundo a teoria da capacidade de carga


mostrou-se com patível com as tensões de ruptura obtidas nesta pesquisa para o
solo inundado. Na umidade natural esta comparação ficou prejudicada, uma vez
que não foram realizadas provas de carga até a ruptura nesta condição.

• O sistema de alarme utilizado na inundação das provas de carga em placa


mostrou-se um meio simples e econômico para o acompanhamento do avanço da
frente de umedecimento do solo, alcançando o objetivo para o qual este sistema
foi destinado nesta pesquisa, ou seja, garantir a inundação do solo envolvido
pelo bulbo de tensões.

• Os resultados do acompanhamento da frente de umedecimento ajustaram-se a


uma função parabólica, conforme propõem EL-EHWANY e HOUSTON (1990),
podendo ser um recurso a mais no projeto de fundações em solos colapsíveis.

• A análise conjunta dos resultados das provas de carga com o avanço da frente de
umedecimento sugerem que a maior influência da inundação nos recalques de
colapso estará limitada à metade superior do bulbo de tensões. Este fato é
reforçado ao analisar os resultados dos ensaios ECT, realizados com o
equipamento Colapsômetro.

• Dependendo das condições de drenagem, a frente de umedecimento pode


alcançar a profundidade de 2,0 m em apenas 5 horas, para o perfil de solo
estudado. Este fato é um agravante para as obras locais, cujas fundações,
geralmente, estão assentes numa profundidade da ordem de 1,0 m.

• As previsões dos recalques realizadas a partir dos ensaios ECT foram


compatíveis com as previsões realizadas através dos ensaios edométricos,
estando dentro da faixa de erro que se observa em procedimentos adotados em
projetos de fundações para outros solos.

VIII.2 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

• Realização de ensaios de provas de carga com placas de diferentes diâmetros,


incluindo o ensaio ECT, com o objetivo de verificar o efeito de escala nos
376

recalques de colapso. Estes ensaios devem ser realizados em um perfil mais


homogêneo quanto possível.

• Realização de um estudo similar ao desta pesquisa em outro campo


experimental.

• Realização no laboratório de ensaios de colapso no equipamento triaxial, sob


diferentes tensões de inundação, com o objetivo de avaliar o comportamento de
variação das deformações de colapso com a tensão, sob uma condição de
carregamento mais condizente com as condições de carregamento de uma
sapata.

• Avaliar procedimentos de inundação dos furos de sondagem SPT que permitam


a utilização dos resultados desses ensaios na identificação de solos colapsíveis,
especialmente em regiões semi-áridas.

• Realização de modelagem numérica para melhor avaliação do comportamento


do solo “in situ”, quando submetido ao umedecimento.

• Realização de ensaios de cone.

• Avaliar técnicas que permitam o monitoramento da sucção no campo, tanto na


estação seca quanto na estação úmida.
377

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APÊNDICE A

DETERMINAÇÃO DA SUCÇÃO PELO MÉTODO DO PAPEL FILTRO

O método baseia-se no princípio de que um solo, com alguma umidade, quando


é posto em contato com um papel filtro, em um ambiente hermeticamente fechado, com
umidade inferior, faz com que este último absorva uma certa quantidade de água do solo
até que o sistema entre em equilíbrio de pressão. Nesta condição, o papel e o solo
possuirão a mesma sucção, porém com umidades gravimétricas diferentes. Conhecida a
curva de retenção do papel (relação sucção-umidade) e a umidade gravimétrica do
mesmo determina-se a sucção do papel.

O papel indicado para esta finalidade é o classificado como “quantitativo”, sendo


os Whatman No42 e o Schleicher & Schuell No 589 os mais utilizados. A escolha deste
tipo de papel se deve ao fato que o processo industrial envolvido na fabricação garante
as mesmas características de absorção, independente de caixa ou lote (CHANDLER e
GUTIERREZ, 1986). Na atual pesquisa, o papel filtro utilizado foi o Whatman 42, o
qual, no estado seco ao ar, apresenta umidade da ordem de 6%, permitindo medir
sucções na faixa de 0 a 29 MPa (MARINHO, 1994). A sucção foi determinada a partir
da curva de calibração de CHANDLER et al. (1992) citado por MARINHO (1994),
resumida nas Equações A.1 e A.2.

Para umidade do papel (w) > 47%

Sucção (kPa) = 10 (6,05-2,48 log w ) A.1

Para umidade do papel (w) ≤ 47%

Sucção (kPa) = 10 (4,84-0,0622 w ) A.2


398

Sucção total (matricial mais osmótica) ou matricial podem se obtidas por este
procedimento, a depender de como ocorre o fluxo da água do solo para o papel. Caso o
fluxo ocorra na forma de vapor a sucção medida será a total (matricial mais osmótica).
Isto é obtido evitando o contato direto do papel com o solo. Caso o fluxo ocorra apenas
por capilaridade, a sucção medida será a matricial. Isto é obtido através do contato
direto do papel com o solo. Estes dois procedimentos estão exemplificados na Figura
A.1. Todavia, em sucções muito altas, quando o solo encontra-se num estado muito
seco, a transferência da água do solo para o papel será, predominantemente, na forma de
vapor. Neste caso, pouca ou nenhuma diferença ocorrerá entre a sucção matricial e a
total (FREDLUND e XING, 1994 e HOUSTON et al., 1994).

Figura A.1. Tipos de fluxos do solo para o papel (MARINHO, 1994).

Nâo há um procedimento único utilizado para medir a sucção do solo pelo


método do papel filtro. No caso de sucção matricial, é fundamental que o papel filtro
esteja em perfeito contato com o solo. O tempo de estabilização de 7 dias tem sido
adotado como suficiente (CHANDLER E GUTIERREZ, 1986; MARINHO, 1994;
HOUSTON et al., 1994).

Um outro aspecto importante que pode influenciar nos resultados, é o tempo


requerido desde a remoção do papel do ambiente de equilíbrio até a pesagem, que deve
ser o mais curto quanto possível para evitar perda de umidade. Da mesma forma deve-se
proceder durante a pesagem do papel seco, evitando ganho excessivo de umidade.
CHANDLER e GUTIERREZ (1986) consideram este o ponto mais importante do
399

ensaio e recomendam que a pesagem do papel seja feita em no máximo 30 segundos. O


ganho de umidade do papel seco em estufa e a perda de umidade do papel úmido são da
ordem de 1%, neste intervalo de tempo, embora no último caso este percentual dependa
da umidade inicial do papel. Na Figura A.2 estão apresentadas curvas de secagem e
umedecimento para o papel Whatman 42.

35
Umidade do Papel Filtro: %

34
Secagem
33

32

31
0 1 2 3
3

1 Umedecimento

0
0 1 2 3

min

Figura A.2. Velocidade de secagem e umedecimento do Papel Filtro Whatman 42,


quando exposto à atmosfera do laboratório (CHANDLER e GUTIERREZ, 1986).

A determinação da sucção matricial nesta pesquisa seguiu o procedimento


seguinte:

1) Corpos-de-prova eram obtidos pela cravação estática de anéis confeccionados


em aço inoxidável e dimensões bem definidas. No campo, esta atividade foi
realizada paralelamente à coleta das amostras. Neste caso, um bloco de pequenas
dimensões era, inicialmente, retirado do maciço. A cravação do anel ocorreu
sempre no sentido vertical, partindo do topo do bloco, acompanhada do desbaste
do solo circundante ao anel utilizando uma faca afiada de lâmina reta, até
ultrapassar cerca de 10mm da face superior do CP. Para facilitar o avanço do
anel, utilizou-se um cilindro de acrílico com diâmetro externo igual ao do anel.
No laboratório, uma porção do bloco era retirada e conduzida a uma prensa (a
mesma utilizada nos ensaios triaxiais) para auxiliar na cravação do anel. Uma
400

base metálica era apoiada sobre o anel e, lentamente, pressionada pelo pistão até
a completa cravação. Em cada corpo de prova, a superfície era devidamente
nivelada utilizando uma régua metálica. O CP era pesado e, do material
remanescente do acabamento, eram coletadas três amostras de solo para
determinação do teor de umidade;

2) Dois papéis filtros (um em cada lado do corpo de prova) eram colocados em
contato com o solo. Em seguida o conjunto (papel mais corpo de prova) era
envolvido com várias camadas de filme de PVC, para evitar a transferência
(perda ou ganho de umidade) de água com o meio, e armazenado em uma caixa
térmica (caixa de isopor);

3) O tempo de estabilização padrão foi de 10 dias, embora houve uma ocasião que
excedeu este valor, porém sem ultrapassar 15 dias;

4) Os papéis eram pesados em uma balança digital com capacidade de 200g e


sensibilidade de 0,0001g. Em seguida, os papéis eram conduzidos à uma estufa
com temperatura de 105oC durante 24h, após este tempo os mesmos eram
pesados para determinação do teor de umidade;

5) Na pesagem do papel seco, a remoção dos mesmos da estufa até a balança era
feita dentro de um dessecador com sílica, evitando assim ganho de umidade do
papel até o momento da pesagem;

6) O tempo de pesagem (retirada do papel do solo e condução à balança) do papel


ocorreu em poucos segundos (entre 5 e 10s), no caso do papel úmido. No caso
do papel seco, este tempo desconsiderou o transporte desde a estufa, dentro do
dessecador, à balança. Mesmo considerando este tempo, o total não excedeu os
30 segundos;

7) Em todo período envolvido na realização dos ensaios, antes da colocação do


papel em contato com o solo, o papel filtro era mantido em um dessecador com
sílica, com o objetivo de evitar ganho de umidade em relação ao meio ambiente.
401

APÊNDICE B

ENSAIO DE PERMEABILIDADE – PERMEÂMETRO GUELPH

O Guelph é um permeâmetro de carga constante que permite realizar ensaios


pontuais de permeabilidade na zona não saturada do solo. Para manter a carga
constante, este equipamento aplica o princípio do tubo de Mariotte (Figura B.1), onde a
soma da pressão reduzida (vácuo) no ar (P1) existente acima do reservatório do
equipamento, com a pressão exercida pela coluna d’água (P2) existente entre a
superfície da água no furo do ensaio e a superfície da água do reservatório será sempre
igual à pressão atmosférica (Po).

Figura B.1. Princípio do tubo de Mariotte (SOILMOISTURE, 1991).


402

Na Figura B.2 apresenta-se um desenho esquemático da composição básica do


permeâmetro Guelph. O equipamento é composto, basicamente, de um reservatório, que
fornecerá o suprimento de água para manter o nível d’água (NA) constante na base do
furo. O reservatório pode ser dividido em duas partes: 1) o reservatório interno, o qual é
graduado para permitir as leituras da variação do nível d’água; e 2) o reservatório
externo. O ensaio pode ser realizado utilizando apenas o reservatório interno ou a
combinação dos dois, cuja seleção é feita através da válvula do reservatório. A escolha
de se utilizar o reservatório interno ou o combinado dependerá da permeabilidade do
solo. A interligação entre o reservatório e a base do furo é feita através do tubo suporte.
O tubo interno de entrada de ar conecta o reservatório à pressão atmosférica. Quando
houver um desnível entre o nível d’água no furo do ensaio e a base do tubo interno, uma
entrada de ar ocorrerá no reservatório, resultando em aumento na pressão P1 (alívio no
vácuo) e expulsão de água, reduzindo a pressão P2 (Figura B.1). Com isso, a soma das
duas pressões (P1+P2) permanecerá igual à pressão atmosférica. Quando a altura
constante de água é estabelecida, um bulbo de solo saturado (Figura B.3) é formado.
Este bulbo é muito estável e sua forma depende do raio do furo e da altura da carga
hidráulica aplicada.

A interpretação do ensaio baseia-se na hipótese de que o fluxo através das


paredes de um furo, no qual é mantida uma carga hidráulica constante pequena (5 a
25cm), em um solo não saturado, é um processo de infiltração tridimensional (forma de
um bulbo), que atinge o regime de fluxo permanente rapidamente (PHILIP, 1969 citado
por CAMPOS, 1993). Segundo CAMPOS (1993) esta hipótese foi confirmada
numericamente por STEPHENS e NEUMAN (1982) e experimentalmente por PHILIP
(1985) e REYNOLDS et al. (1985), resultando na solução analítica aproximada
expressa por:

2πH 2 2πH
Q= K fs + πa 2 K fs + φ B.1
C C m

onde: Q = vazão em regime de fluxo permanente (m3/s);


Kfs = condutividade hidráulica saturada em campo (m/s);
φm = potencial mátrico de fluxo (m2/s);
H = carga hidráulica (m);
a = raio da cavidade (furo) no solo (m);
C = parâmetro adimensional que depende da relação H/a e do tipo de solo.
403

Figura B.2. Composição básica do Permeâmetro Guelph (SOILMOISTURE, 1991).

Nos ensaios, o fluxo permanente é estabelecido através de um furo de sondagem


com dimensões bem definidas, mantendo-se o nível d’água constante no furo conforme
o princípio de Mariotte (Figura B.1). A vazão é monitorada pela variação no nível
d’água dentro do tubo do reservatório interno. Uma vez que o fluxo alcance a condição
de regime permanente (quando a variação de altura no nível d’água, em três leituras
consecutivas, permanecer constante), a condutividade hidráulica (Kfs) e o potencial
mátrico (φm) podem ser obtidos a partir da Equação B.1.
404

Figura B.3. Bulbo de solo saturado estabelecido a partir de uma carga d’água constante
(SOILMOISTURE, 1991).

Os dois primeiros termos da Equação B.1 representam a componente saturada do


fluxo, e o terceiro termo a componente não saturada. A forma do bulbo saturado, onde
ocorrerá o fluxo permanente, depende do parâmetro C e este, por sua vez, depende da
relação H/a e do tipo do solo. Na Figura B.4 está apresentada a variação de C com a
razão H/a, para três classes de solos distintas. Segundo CAMPOS (1993), a região
hachurada da Figura B.4 representa o intervalo de H/a onde a influência do parâmetro C
não é significativa nos parâmetros calculados e os ensaios devem ser realizados em
relações contidas neste intervalo.

Figura B.4. Curvas para obtenção do parâmetro C (CAMPOS, 1993).


405

A obtenção dos parâmetros (Kfs e φm) da Equação B.1, a partir dos dados de
campo, requer a solução de um sistema de equações lineares (Equação B.2), o qual é
obtido a partir da realização do ensaio para dois níveis diferentes de carga (H) em uma
mesma profundidade. No manual do equipamento, as duas alturas (H) padrão são 5 e
10cm.

⎛ 2.π .H i2 ⎞ ⎛ 2.π .H i ⎞
Q i = ⎜⎜ ⎟
2 ⎟
K + ⎜⎜ ⎟⎟ φ m B.2
+ π
fs
⎝ i
C .a ⎠ ⎝ C i ⎠

onde: Ci (C1, C2);


Hi (H2 > H1);
Qi (Q2 > Q1).

Conhecida a sucção matricial do solo, a condutividade hidráulica não


saturada (K) do solo pode ser determinada por meio da Equação B.3, proposta por
GARDNER (1958).

K (Ψ) = Kfseαψ, ψ≤0

B.3

onde: α = Kfs/φm é uma constante que depende das propriedades dos poros do
solo;
Ψ = sucção na água do solo expressa em cm de coluna d’água;
e = 2,71828.

Nesta pesquisa, os ensaios foram realizados segundo os procedimentos


do manual de equipamento (SOILMOISTURE, 1991):

1) Abertura, a trado, de um furo de 6 cm de diâmetro e nivelamento da base do furo


utilizando um trado nivelador;
406

2) Montagem do equipamento (tripé, conexão dos tubos, enchimento do


reservatório), com a extremidade do tubo suporte apoiada sobre a base do furo,
devidamente nivelada;

3) Aplicação da seqüência de carga (H1 = 5cm e H2 =10cm) e acompanhamento da


variação da altura d’água no tubo interno até atingir o regime de f luxo
permanente.

Os ensaios foram realizados de forma a obter a permeabilidade do solo a cada


0,5m do perfil de solo. Nos primeiros ensaios, na liberação do fluxo de água do
reservatório, observou-se dificuldade em atingir o fluxo permanente (não ocorria a
seqüência de três registros iguais na variação da altura de água no tubo interno).
Posteriormente, constatou-se que este problema ocorrera devido ao colapso do solo,
resultando na penetração da extremidade do tubo suporte no solo. Tal fato resulta na
redução da carga hidráulica no furo e altera as condições do fluxo. A Figura B.5
exemplifica um ensaio realizado sob condições normais (Figura B.5a) e o problema da
redução da carga hidráulica devido à penetração da extremidade do tubo suporte no solo
(Figura B.5b). Uma vez que o equipamento não dispõe de um tripé ajustável, uma
solução improvisada foi calçar a base do reservatório no tripé com discos de tubo PVC.
Este foi, basicamente, a única diferença adotada em relação ao procedimento padrão. Na
Figura B.6 apresenta-se um desenho esquemático da solução adotada.
407

(a) (b)

Ensaio realizado sob condições normais, Redução da carga hidráulica por


sem a penetração da extremidade do tubo conseqüência da penetração da
suporte no solo. extremidade do tubo suporte no solo
devido ao colapso.

Figura B.5. Representação esquemática do problema observado na realização do ensaio


de permeabilidade com o permeâmetro Ghelph no solo colapsível de Petrolândia.
408

Figura B.6. Representação esquemática da solução adotada para evitar a penetração do


tubo suporte no solo, durante a realização do ensaio Guelph no solo colapsível de
Petrolândia.
409

APÊNDICE C

METODOLOGIA DOS ENSAIOS EDOMÉTRICOS

C.I INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa, os ensaios edométricos foram realizados no laboratório de solos


da UFPE, utilizando células convencionais tipo Bishop e células edométricas com
sucção controlada construídas por FERREIRA (1995) baseado na proposta de
ESCÁRIO (1967 e 1969). A maioria dos ensaios convencionais foi realizada nas
amostras correspondentes a todas profundidades, enquanto nos ensaios com sucção
controlada foram limitados às amostras de três faixas de profundidade (1,0-1,3 m, 1,5-
1,8 m e 2,0-2,3 m). Os procedimentos adotados foram baseados em FERREIRA (1995).
Na Tabela C.1 está apresentado um resumo quantitativo e qualitativo de cada ensaio,
por amostra.

Tabela C.1. Resumo da quantidade de ensaios edométricos realizados.

PROF.
CAMADA AMOSTRA ENSAIO / TIPO
(m) EDN EDI EDN* EDNC EDIC EDS EDSC CLRS EDSV

BL 01 e 02 0,5 a 0,8 03 02 02 03 07 ----- ---- -----


I
BL 03 e 04 1,0 a 1,3 06 02 02 02 07 02 04 01

BL 05 e 06 1,5 a 1,8 04 02 02 02 07 02 04 01
II
BL 07 e 08 2,0 a 2,3 04 2 ----- 02 07 02 04 -----

Impen.
BL 09 2,5 a 2,8 03 2 ----- 02 07 ----- ----- -----z
SPT

EDN = ensaio edométrico na umidade natural.


EDI = ensaio edométrico inundado.
EDN* = ensaio edométrico com teor de umidade superior ao da estação seca.
EDNC = ensaio edométrico na umidade natural em amostra compactada.
EDIC = ensaio edométrico inundado em amostra compactada.
EDS = ensaio edométrico simples
EDSC = ensaio edométrico com sucção constante.
CLRS = ensaio de colapso com redução gradativa da sucção.
EDSV = ensaio edométrico com aumento e redução da sucção.
410

C.2 PROCEDIMENTOS GERAIS

C.2.1 Moldagem dos corpos-de-prova (CP)

C.2.1.1 Amostras indeformadas

Os corpos-de-prova foram obtidos pela cravação estática dos anéis edométricos,


com procedimentos idênticos ao adotado nos CP para obtenção da curva característica.
Foram utilizados anéis com 20mm de altura com área de 4.000mm2, nos ensaios
convencionais, e altura de 20,2 mm com área de 3.840 mm2 nos ensaios com sucção
controlada.

Em alguns ensaios, os CP foram pré-umedecidos por vapor de água quente,


seguindo o procedimento de JUSTINO da SILVA (2001). Em resumo, água quente era
adicionada a um dessecador, onde o CP apoiado sobre a malha de uma peneira era
mantido dentro do dessecador até alcançar a umidade desejada. Uma pequena calha era
colocada sobre o CP para evitar respingos de água, o que resultaria em não
uniformidade no umedecimento. Este processo era repetido várias vezes para um
mesmo CP até alcançar a umidade prevista, tornando esta atividade demasiadamente
demorada.

Nos ensaios edométricos EDSV, uma amostra indeformada separada do bloco


foi umedecida por capilaridade antes de iniciar a cravação do anel. O umedecimento foi
realizado mantendo uma lâmina d’água inferior a altura de uma pedra porosa, onde a
amostra era apoiada e mantida por 24 horas. Após este prazo, os CP eram moldados. O
objetivo deste procedimento era obter um grau de saturação mais próximo da saturação
quanto possível.

C.2.1.2 Amostras compactadas

Amostras, previamente secas ao ar, eram preparadas para compactação dinâmica


na energia Proctor Normal. Conhecida a umidade inicial e a curva de compactação do
solo (Figura III.17 – Capítulo III), calculava-se a quantidade de água necessária para o
solo atingir a umidade ótima. A amostra, com a quantidade de água assim definida, era
411

compactada, extraída do molde, envolvida por um filme de PCV e um papel alumínio e


mantida por, no mínimo, uma semana na câmara úmida para permitir o equilíbrio da
umidade. Após este prazo os corpos-de-prova eram moldados conforme o item anterior.

C.2.2 Ensaios convencionais

Para realização dos ensaios edométricos convencionais foram utilizadas prensas


de adensamento fabricadas pela Ronald Top S.A, do tipo convencional com sistema de
cargas através de pesos em pendural, com relação de braço 1:10 e células edométricas
do tipo anel fixo. As leituras das deformações foram realizadas através de
extensômetros fabricados pela Mitutoyo e com sensibilidade de 0,01 mm. Neste grupo
de ensaio incluem os EDI, EDN, EDN*, EDS, EDIC e os EDNC.

Em geral, os procedimentos de montagem foram os mesmos para todos os tipos


de ensaios. Com o auxílio de uma placa de acrílico, o corpo-de-prova era colocado
sobre o papel filtro e a pedra porosa, e o conjunto montado na célula edométrica.

Com o objetivo de evitar perda excessiva de umidade do solo, nos ensaios EDN,
EDS e EDCN, o papel filtro era mantido em contato com uma porção do solo
objetivando alcançar a umidade da amostra antes da montagem da célula. Após a
montagem, o topo da célula era envolvido por uma capa plástica fixada por ligas de
borracha.

Em todos ensaios, uma tensão mínima de assentamento de 1,25 kPa foi aplicada.
O recalque decorrente dessa tensão era atribuído à acomodação do sistema, não sendo
considerado no cálculo das deformações.

Na maioria dos ensaios, as tensões foram aplicadas de forma que o estágio


posterior fosse sempre o dobro do anterior, numa razão Δσ/σ = 1. A única exceção
ocorreu em alguns ensaios EDS onde a tensão de inundação (σvi) foi 200 kPa. A tensão
mínima adotada foi 1,25 kPa e a máxima 1.280 kPa. Na primeira série de ensaio, a
tensão mínima adotada foi 5 kPa, tanto no EDI quanto no EDN. Todavia, no primeiro,
observou-se considerável colapso em alguns CP durante o umedecimento. Assim, nos
demais ensaios EDI e EDN, passou-se a adotar como tensão inicial 1,25kPa.
412

O tempo de duração de cada estágio de tensão era definido quando a deformação


entre dois intervalos de tempo consecutivos, numa razão (Δt/t)=1, fosse inferior a 5% da
deformação total do solo ocorrida até o tempo anterior, conforme FERREIRA (1995).
Em geral, esta condição era alcançada nos primeiros 30 min. Mesmo quando a
estabilização ocorria neste tempo, os novos estágios só eram adicionados decorridos, no
mínimo, 60 min do estágio anterior.

Nos ensaio EDS inundados na tensão σvi de 200 kPa seguiu-se o procedimento
de HOUSTON et al (1988), cujas diferenças são: carga de assentamento de 5kPa;
estabilização quando as deformações entre intervalos de tempo de uma hora fosse
inferior a 1% e acréscimo de novos estágios de carregamento após a estabilização dos
recalques de colapso.

Nos ensaios EDI, EDS e EDIC a inundação foi feita da base para o topo, com
água destilada, sob uma vazão de 0,25 ml/s, a mesma adotada por FERREIRA (1995)
como padrão. Os recalques decorrentes da inundação eram acompanhados até a
estabilização, conforme descrito no parágrafo anterior. Nos ensaios inundados (EDI e
EDIC), após a estabilização, os novos estágios de carregamento só eram adicionados
após 24 horas desde o início da inundação, tendo em vista o solo alcançar a saturação.

Após a realização da seqüência de carregamentos as células eram, drenadas,


desmontadas, os CP’s pesados e retiradas três cápsulas de solo para determinação do
teor de umidade.

C.2.3 Ensaios com sucção controlada

Nos ensaios com sucção controlada foram utilizados quatro edômetros. Nas
Figuras C.1 e C.2 estão apresentados, respectivamente, desenhos esquemáticos da célula
edométrica e da prensa tipo Bishop adaptada para permitir a compensação da
excentricidade provocada pelo peso do manômetro e da válvula de passagem de ar.
Detalhes técnicos sobre este equipamento podem ser encontrados em FERREIRA
(1995).

A célula (Figura C.1) foi projetada baseada no princípio de translação de eixos.


A sucção é imposta ao solo pela diferença entre a pressão de ar (nitrogênio), aplicada
413

através da válvula de ar, e a coluna de água mantida no reservatório (1) fixado no topo
da prensa (Figura C.2). O ar no interior da célula é mantido por uma camada de graxa, a
base de dissulfeto dimolibideno, no topo da célula envolvendo o pistão e uma
membrana de celulose semi-permeável (permeável à água e impermeável ao ar), a qual
substitui a pedra porosa de alta resistência a passagem do ar. Esta membrana possui
duas vantagens em relação à pedra porosa: 1) permite a realização de ensaios sob
elevados valores de sucção (ex. 5MPa) e 2) pode alcançar a saturação em 5min (JUCÁ,
1993). A desvantagem é a possibilidade de ruptura da mesma, especialmente quando
são realizados ensaios com solos arenosos, resultando na perda do mesmo.

Nesta pesquisa os ensaios edométricos com sucção controlada tiveram o objetivo


principal de obter os parâmetros do solo a serem utilizados nos modelos elastoplásticos
apresentados no Capítulo II, a destacar:

Figura C.1. Edômetro de sucção contolada (ESCÁRIO, 1967 e 1969; citados por
FERREIRA, 1995).
414

(1) Reservatório

(2) Braço de Alavanca

(3) Contrapesos Superiores

(4) Deflectômetro

(5) Manômetro

(6) Válvula de Passagem

(7) Célula Edométrica de


Sucção Controlada

(8) Estrutura da Prensa

(9) Consolo de Aço

(10) Base da Prensa

(11) Pesos

(12) Mesa de Apoio

(13) Contrapesos
Inferiores

Figura C.2. Adaptações na prensa do tipo Bishop para realização de ensaios com a
célula de sucção controlada (FERREIRA, 1995).

EDSC (ensaio com sucção constante com carregamento e descarregamento de σv) –


obtém-se os parâmetros de compressibilidade λ(s) e κ(s) e a tensão de
escoamento σvm(s) em função da sucção.

EDSV (ensaio sob σv constante com carregamento e descarregamento da sucção) –


obtém-se os parâmetros compressibilidade λs e κs;

CLRS (colapso sob redução gradativa da sucção) – estes ensaios servirão para validar
as curvas de escoamento (LC) obtidas.
415

Os caminhos de tensões variaram com o tipo de ensaio e a profundidade da


amostra. Na maioria dos ensaios EDSC o solo era carregado até uma tensão em torno da
geostática (σvo), descarregado e recarregado na razão Δσ/σ = 1 até 1.335 kPa e, em
seguida, descarregada até 10,4 kPa. A tensão mínima nestes ensaios foi sempre 5,2 kPa.
As Figuras C.3, C4 e C.5 apresentam os caminhos de tensões seguidos em cada ensaio
por amostra EDSC. Nestas figuras, as linhas cheias representam os dados experimentais
e as setas o caminho seguido.

1600
CP74 CP75
1400
S=50kPa S=100kPa
1200
Sucção (kPa)

1000

800

600
400

200
(b)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
1800
1600 CP76
1400 S=500kPa
Sucção (kPa)

1200
1000
800
600
400 CP77
200 (c) S=1500kPa
(d)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.3. Caminhos de tensões dos ensaios EDSC – Amostra de 1 a 1,3m.


416

1600
1400
CP78 CP79
S=50kPa S=200kPa
1200
Sucção (kPa)

1000
800
600

400
200 (a) (b)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
1600
CP80 CP81
1400
S=500kPa S=1000 kPa
1200
Sucção (kPa)

1000
800
600

400
200 (c) (d)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.4. Caminhos de tensões dos ensaios EDSC – Amostra de 1,5 a 1,8m.

Nos ensaios CLRS o solo, sob uma sucção de 1.500 kPa, era carregado por
estágio até uma determinada tensão de inundação (σvi), estipulada com base na LC
experimental obtida a partir dos ensaios EDSC. Após a estabilização das deformações
na tensão σvi, a sucção era reduzida, por estágio, até 0 kPa, seguido de carregamento de
σv até 1.335 kPa e descarregamento até 10,4 kPa. Os caminhos de tensões seguidos em
cada ensaio estão apresentados na Figura C.6.

Nos ensaios EDSV, o solo era carregado até uma tensão em torno da geostática
(σvo), sob sucção de 0 kPa. Após a estabilização das deformações, a sucção era
aumentada por estágio até 1.500 kPa e, em seguida, reduzida por estágio até 50 kPa.
Neste último estágio, o solo era carregado até a tensão de 1.335 kPa e descarregado para
10,4 kPa. Os caminhos de tensões seguidos por estes ensaios encontram-se resumidos
na Figura C.7.
417

1600
1400
CP82 CP83
S=50kPa S=200kPa
1200
Sucção (kPa)

1000

800

600
400
200 (a) (b)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
1600
1400 CP84
S=500kPa
1200
Sucção (kPa)

1000

800
600

400 CP85
200 S=1000kPa
(c) (d)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.5. Caminhos de tensões dos ensaios EDSC – Amostra de 2 a 2,3m.

Em linhas gerais, os procedimentos adotados nos ensaios foram semelhantes aos


de FERREIRA (1995):

1) Limpeza e circulação de água na base da célula e colocação da pedra porosa, a


qual foi previamente fervida para saturar e retirar impurezas;

2) Submersão da membrana de celulose em água destilada por um tempo mínimo


de 10min (em geral a membrana era mantida submersa por várias horas antes da
utilização) e, em seguida, cortada em disco para se ajustar a parte interna da
célula, onde ficará o corpo-de-prova;
418

1600

1400 Prof.(m): 1 a 1,3


CP86 CP87
1200
σ v i=60kPa σv i =80 KPa
Sucção (kPa)

1000

800

600

400

200 (a) (b)


0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

1600
1400 CP88 Prof.(m): 1,5 a 1,8
100kPa
1200
Sucção (kPa)

1000
800
600
400 CP89
200 160kPa
(c) (d)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

1600

1400
CP90 CP91
1200
σv i=160kPa σv i =250kPa
Sucção (kPa)

1000

800 Prof.(m):
2 a 2,3
600

400

200
(e) (f)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.6. Caminhos de tensões dos ensaios CLRS.


419

1600

1400 CP93
CP92
Prof.(m): 1,5 a 1,8
1200 Prof.(m): 1,0 a 1,3
Sucção (kPa)

1000

800

600

400

200 (b)
(a)
0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.7. Caminhos de tensões dos ensaios EDSV – (a) amostra de 1 a 1,3m; (b)
amostra de 1,5 a 1,8m.

3) Por tratar-se de um solo arenoso, que poderia provocar rupturas da membrana,


evitou-se o contato direto entre a membrana e o solo, colocando entre eles um
disco de papel filtro;

4) Colocação do CP na célula, pedra porosa superior e a placa de transferência de


tensão (top cap). Esta etapa era precedida da retirada do excesso de água na base
da célula;

5) Colocação da graxa na parte superior da célula em contato com o pistão para


lubrificação e estanqueidade;

6) Conexão da parte superior da célula (tampa) por meio das porcas de fixação e
colocação da célula na base da prensa, deixando-a em nível e mantendo a
verticalidade do eixo do pistão da prensa com o pistão da célula, por meio dos
contrapesos nas hastes da base da prensa (Figura C.2);

7) Uma vez nivelada a prensa, aplicava-se a pressão no nitrogênio para alcançar a


sucção desejada, adicionando pesos ao pendural para compensar o empuxo do
pistão;
420

8) Nos ensaios EDSC uma tensão mínima, em torno de 2,6 kPa (alcançada pelo
peso do top cap e de um peso de 50g no pendural), foi mantida até a
estabilização da sucção, a qual, nos primeiros ensaios, procurou-se controlar por
sucessivas leituras no deflectômetro. Foram observadas deformações de
compressão em todos níveis de sucção, que se estabilizavam entre 12 e 18 dias.
Logo se suspeitou desses resultados, uma vez que para uma tensão de 2,6 kPa
certamente o solo estaria dentro do limite elástico, onde era de se prever
deformações de expansão. Tal fato foi verificado em um ensaio onde o CP foi
substituído por um CP de aço. Logo se concluiu que estas deformações eram
decorrentes do sistema. É possível que alguma insignificante expansão do solo
tenha ocorrido nesta etapa, a qual foi suplantada pela deformação do sistema.
Em função desses resultados, adotou-se um tempo mínimo de estabilização de
15 dias. Para uma areia pouco argilosa da Espanha, JUCÁ (1993) encontrou um
tempo de estabilização da sucção em torno de 12 dias sob uma tensão de 2 kPa;

9) Após a estabilização da sucção, eram aplicados os estágios de carregamentos. O


tempo mínimo de duração de cada estágio foi 24 horas, mesmo quando a
estabilização das deformações ocorria em tempo inferior;

10) Nos ensaios CLRS e EDSV, o tempo de estabilização de cada estágio da sucção
era determinado com base nas leituras do deflectômetro. Em ambos ensaios, os
contrapesos para combater o empuxo do pistão eram definidos previamente em
um ensaio simulado. Nos ensaios EDSV a estabilização variou de 2 a 8 dias,
com o máximo valor ocorrendo para o caminho de umedecimento (redução da
sucção). Nos ensaios CLRS, este tempo variou com o valor da sucção. Para
sucções entre 50 e 500 kPa, a estabilização ocorreu entre 5 e 15 dias, com o
maior tempo, em geral, ocorrendo para sucções de 50 e 100 kPa. Para sucção de
0 kPa este tempo variou entre 10 a 45 dias, embora nenhum ensaio tenha sido
considerado concluído antes de decorridos 12 dias neste último estágio;

11) No término de cada ensaio, a célula era desmontada e o corpo-de-prova era


retirado, pesado e três cápsulas de amostra de solo eram coletadas para
determinação do teor de umidade.

A membrana não é completamente impermeável ao ar e alguma perda ocorre


durante o ensaio, o que requer ajustes periódicos da pressão do ar. Segundo JUCÁ
(1993) a perda de pressão é da ordem de 2 % em 24 horas. Este ajuste é feito
421

manualmente, pois os equipamentos utilizados nesta pesquisa não dispõem de um


sistema automático de ajuste da pressão. Esta perda de pressão resulta em acúmulo de
bolhas na base da pedra porosa, cuja retira é feita manualmente. Nesta pesquisa, este
processo foi automatizado adaptando uma bomba submersa entre as conexões que
interligam o reservatório e a base da célula, a qual era mantida em funcionamento
durante todo ensaio.

Outra adaptação realizada no projeto original de FERREIRA (1995) consistiu de


um contrapeso fixado sobre o braço da alavanca do sistema de pendural, o qual
deslizava sobre uma barra de alumínio polida. A função desse contrapeso é realizar os
ajustes finos da tensão necessária para combater o empuxo do pistão. Este dispositivo
foi adicionado para obter maior precisão nos ensaios CLRS e EDSV.

Alguns ensaios sob sucções superiores a 1.000 kPa foram perdidos devido à
ruptura da membrana e outros por vazamento da graxa no pistão. Este último problema
foi minimizado adaptando um pequeno diafragma (um disco de plástico) no pistão. Este
diafragma permitia melhor distribuição da pressão sobre a graxa reduzindo a
concentração de esforços e, como conseqüência, o vazamento da graxa.

C.2.4 Calibração das células edométricas

Nos ensaios edométricos, quando aplicadas as tensões, ocorrem deformações


não relacionadas com a amostra em si. São deformações elásticas da própria estrutura,
oriundas dos apoios nas superfícies de contato, das partes que compõem a célula, do
papel filtro e pedra porosa. A estas deformações, normalmente, têm-se atribuído o termo
“deformação do sistema” (HEAD, 1980; e FERREIRA, 1995).

Em se tratando de solos compressíveis saturados, a deformação do sistema pode


ser considerada desprezível em relação à deformação total. Entretanto, quando se trata
de solos de considerável rigidez (argilas rígidas e solos não saturados), onde os
recalques são relativamente pequenos, esta deformação pode atingir valores
consideráveis em relação a total, devendo ser considerada no cálculo final das
deformações do ensaio.
422

A calibração pode ser feita através da realização de um ensaio edométrico da


maneira convencional, porém a amostra de solo é substituída pôr um disco metálico que
é admitido ser indeformável para os níveis de tensões geralmente adotados. Nesta
pesquisa as células edométricas foram calibradas de acordo com o seguinte
procedimento:

1) As partes das células, pedra porosa e anéis de adensamento eram todos previamente
numerados, conforme a numeração da prensa a ser utilizada;

2) Em seguida o sistema (célula, anel, papel filtro e o disco de aço) era montado e
levado à correspondente prensa, onde se fazia o nivelamento da mesma;

3) Uma vez cumprido os itens 1 e 2, as tensões eram aplicadas na mesma razão e


valores adotados nos ensaios realizados com os corpos-de-prova de solo;

4) Cada estágio de tensão era mantido por 1 hora. FERREIRA (1995) realizou a
calibração das prensas edométricas, constatando que as deformações ocorridas em
24 horas de duração, para um determinado estágio de tensão, foram equivalentes às
obtidas para 1 hora. Observou também, nenhuma influência significativa entre a
calibração realizada com a pedra saturada e com a pedra seca. Assim, o tempo
adotado na atual pesquisa é aceitável e condizente com os ensaios;

5) Nos ensaios convencionais, uma tensão de assentamento de 1,25 kPa foi adicionada,
não sendo consideradas as deformações decorrentes dessa tensão. Nos ensaios com
sucção controlada a tensão de assentamento foi, também, 1,25 kPa;

6) Nos ensaios com sucção controlada, eram considerados, também, os valores da


sucção.

As deformações registradas no item 3 serão provenientes do sistema célula e


prensa, as quais deverão ser reduzidas das deformações medidas nos ensaios. Nas
Figuras C.8 e C.9 estão apresentadas típicas curvas de calibração das células
edométricas utilizadas nos ensaios convencionais e com sucção controlada,
respectivamente. Nas Figuras C.8b e C.9b, são comparadas duas curvas de calibração
para um mesmo conjunto de célula e prensa.
423

0 0
Deslocamento Vertical (%) 0.1 0.1

0.2 0.2

0.3 0.3

0.4 0.4

0.5 0.5

0.6 0.6

0.7 0.7
Célula 40 - Calibração 1
0.8 0.8
(a) Célula 40 - Calibração 2 (b)
0.9 0.9
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.8. Curvas típicas de calibração das células convencionais: a) diferentes


conjuntos de célula e prensa; b) diferentes calibrações para o mesmo conjunto de célula
e prensa.

0 0
Deslocamento Vertical (mm)

S = 1000 kPa
0.1 0.1

0.2 0.2

0.3 0.3

0.4 0.4

Célula 4 - S = 50 kPa
0.5 0.5 Célula 2 - Calibração 1
Célula 4 - S = 200 kPa
Célula 4 - S = 1500 kPa (a) Célula 2 - Calibração 2 (b)
0.6 0.6
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000
Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.9. Curvas típicas de calibração das células com sucção controlada: a)
diferentes conjuntos de célula e prensa; b) diferentes calibrações para o mesmo conjunto
de célula e prensa.
424

Fatores associados ao ajuste da leitura inicial e a substituição dos papéis filtros


conduzem a dispersão na repetição dos resultados. A diferença nos resultados foi
significativa, chegando a ser superior a 50 % sob baixas tensões (1,25 e 5 kPa). Para
maiores tensões, as diferenças entre os resultados variaram entre 5 e 16 % nas células
convencionais e entre 2 e 13 % nas células edométricas com sucção controlada.
Comportamento semelhante foi observado nas outras calibrações. Estes resultados
divergem dos obtidos por FERREIRA (1995), onde a dispersão máxima obtida foi de 8
%, o que pode ser justifica, provavelmente, por tratar-se de pedras porosas de outro lote
de fabricação. Em função disso, a correção da deformação do sistema nos ensaios foi
feita com a média de três ensaios.

Na Figura C.10 estão apresentados exemplos de resultados dos ensaios


edométricos convencionais com e sem a calibração do sistema. Na Figura C.11 estão
apresentadas a relação entre a deformação do sistema e a deformação total (sem
calibração) com a tensão vertical.

Na Figura C.11, observam-se comportamentos distintos da variação de


εv(sistema)/εv(total) com o aumento da tensão vertical. Para os ensaios referentes aos
resultados da Figura C.11, a tendência geral é de aumento desta relação com a tensão
vertical, sugerindo maior influência da deformação do sistema para maiores tensões. No
ensaio na umidade natural (EDN) da Figura C.11a a influência da deformação tende a
estabilizar na tensão de 20 kPa, sendo da ordem de 20% da deformação total. No Ensaio
inundado (EDI) da Figura C.11a a influência da deformação do sistema tende a
aumentar com a tensão, chegando a ser próximo de 35% da deformação total na tensão
de 1280 kPa. Na Figura C.11b, o ensaio EDN indica redução da influência da
deformação do sistema sobre a deformação total, semelhante ao que foi observado por
FERREIRA (1995) e FUCALE (2000), exercendo maior efeito em baixas tensões
(superior a 85% na tensão de 5 kPa). Já o ensaio EDI da Figura C.11b segue a tendência
do ensaio EDI da Figura C.11a.

Estes resultados sugerem que a influência da deformação do sistema pode


depender da resposta do solo quando submetido à tensão, ou seja, pode depender do
comportamento tensão-deformação do solo.

Utilizando os resultados dos ensaios com e sem calibração, procurou-se avaliar a


influência da calibração nos parâmetros de deformabilidade do solo, na deformação
425

específica de colapso (εc), no coeficiente de colapso estrutural (i) e na tensão de


escoamento do solo, esta última obtida pelo método gráfico de Pacheco Silva, por ser
uma forma mais direta de determinação e menos susceptível a erros.

Na Figura C.12 são comparados os parâmetros de compressibilidade dos solos


de todos ensaios realizados, considerando a deformação total e a deformação corrigida
(sem a deformação do sistema). Na Figura C.12a são comparados o índice de
compressão sem calibração (Cc(s/cal)) e o índice de compressão considerando a correção
da deformação do sistema (Cc(c/cal)). Na Figura C.12b este procedimento é adotado no
índice de expansão Cs. Nestas figuras estão apresentadas também as linhas de igualdade.

Os parâmetros de compressibilidade obtidos das curvas corrigidas (Cc(c/cal) e


Cs(c/cal)) foram sempre inferiores aos parâmetros obtidos a partir das curvas sem a
correção do sistema (Figura C.12). A redução em Cc variou entre 11 e 63 %, com média
de 27 %, para os ensaios na umidade natural (EDN) e entre 8 e 39 % para os ensaios
inundados (EDI). No índice expansão, as variações foram maiores. Nos ensaios EDI a
redução em Cs variou entre 45 e 90 %, com média de 65 %, e nos ensaios EDN a
redução variou entre 60 e 90 %, com média de 72 %, indicando maior influência da
calibração nesse parâmetro.

0 0

1 1
Deformação Volumétrica (%)

2 2

3 3

4 4

5 5

6 6

7 7

8 Inundado 8 Umidade Natural


CP01 - Com Calibração CP02 - Com Calibração
9 9
CP01 - Sem Calibração (a) CP02 - Sem Calibração (b)
10 10
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

Figura C.10. Comparação de curvas de compressão edométricas com e sem correção da


deformação do sistema.
426

40 100
35 90 EDI - CP17
80 EDN - CP18
ε v(sistema) / ε v(total)

ε v(sistema) / ε v(total)
30
70
25 60
20 50
15 40
30
10
EDI - CP01 20
5 10
EDN - CP02
0 0
1 10 100 1000 10000 1 10 100 1000 10000

Tensão Vertical (kPa) Tensão Vertical (kPa)

(a) (b)

Figura C.11. Influência da deformação do sistema (εv(sistema)) sobre a deformação total


(εv(total)) representada pela relação εv(sistema)/εv(total).

Independente do tipo de ensaio, os pontos definidos pela interseção dos


parâmetros com e sem a correção do sistema (Figura C.12) definem uma relação linear
entre eles, com maior dispersão para o Cs. A diferença entre Cc e Cs estimados a partir
das equações apresentadas nas Figuras C.12a e C.12b, em relação ao parâmetro de
referência sem calibração foi de 22% para o Cc e 54% para o Cs, o que está muito
próximo das diferenças médias obtidas a partir dos dados experimentais.

Na Figura C.13a e C.13b estão apresentados a deformações específicas de


colapso (εc) e os coeficientes de colapso estrutural (i) obtidos a partir dos ensaios EDS,
com e sem a correção da calibração. Quase a totalidade dos pontos definidos pela
interseção dos dados experimentais posicionou-se sobre a linha de igualdade, indicando
pouca ou nenhuma influência da deformação do sistema em εc ou i. A única exceção
ocorreu para dois resultados (assinalados com um círculo) que divergiram da tendência
geral.
427

0.15 0.030
Cc (c/cal) = 1.0103Cc (s/cal) - 0.009 Cs (c/cal) = 0.8818Cs (s/cal) - 0.0042
2
R = 0.96 0.025 R2 = 0.73
0.12

Cs com calibração
Cc com calibração

1
0.020 1
0.09 1
1 0.015
0.06
0.010

0.03
0.005
(a) (b)
0.00 0.000
0 0.03 0.06 0.09 0.12 0.15 0 0.01 0.02 0.03

C c sem calibração C s sem calibração

Figura C.12. Comparação entre os parâmetros de compressibilidade Cc e Cs obtidos das


curvas com e sem a correção da deformação do sistema.

10 10
1 i (%) = Δ e/(1+ei) 1
εc(%)=Δ e/(1+eο) 1
εc (%) com calibração

8 1 8
i (%) com calibração

6 6

4 4

2 2

(a) (b)
0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10

ε c (%) sem calibração i (%) sem calibração

Figura C.13. Comparação entre a deformação específica de colapso (εc) e o coeficiente


de colapso estrutural (i) obtidos dos resultados com e sem a correção da deformação do
sistema.
428

Comparando os dados experimentais, os valores de εc e i obtidos a partir dos


resultados corrigidos foram, em parte, ligeiramente inferiores aos valores obtidos sem
levar em consideração a correção das deformações do sistema. A diferença máxima
entre εc e i corrigidos, em relação aos mesmos sem a correção foi da ordem de 3 % e
nenhuma diferença foi observada na maioria dos resultados. As únicas divergências
foram os dois resultados discrepantes, sendo aqui considerados irrelevantes. Fato
semelhante foi obtido por FERREIRA (1993), onde concluiu que a influência máxima
da deformação do sistema na deformação de colapso e de expansão é inferior a 3 %. Isto
é esperado, pois no cálculo de εc ou i, a deformação do solo antes e após a inundação
são corrigidos pelo mesmo valor, já que as calibrações não sofrem influência do
umedecimento.

Na Figura C.14 são comparados os módulos edométricos (Eed) secantes, para


todos intervalos de tensões, obtidos dos resultados dos ensaios convencionais com e
sem a correção da deformação do sistema. Estes resultados mostram forte influência da
deformação do sistema nos valores de Eed, sendo maior nos ensaios na umidade natural.
Na Figura C.15 são apresentadas curvas de variação de Eed com a tensão vertical média,
com e sem correção. Observa-se um aumento em Eed com a tensão vertical média,
porém sem indicar com clareza uma tendência da influência da deformação do sistema
nestes resultados. Este fato pode, melhor, ser visualizado na Figura C.16 a qual mostra a
variação da diferença entre o módulo edométrico com e sem a correção do sistema, em
relação ao módulo corrigido, com a tensão vertical média. As diferenças nos valores dos
módulos variaram entre 12 e 24%, com média de 20,5%, para o ensaio inundado (EDI)
e entre 23 e 43 %, com média de 32 %, para o ensaio na umidade natural (EDN),
indicando maior influência da deformação do sistema nos ensaios EDN, conforme
esperado.

Outro parâmetro de relevância, principalmente na determinação da curva de


escoamento LC, é a tensão de escoamento (σvm) ou tensão de “pré-adensamento
virtual”, assim definida por VARGAS (1973). Neste sentido, foram determinadas as
tensões de escoamento dos ensaios EDI e EDN, através do método gráfico de Pacheco
Silva. Estes resultados encontram-se representados graficamente na Figura C.17, a qual
compara os valores de σvm obtidos das curvas com e sem a correção da deformação do
sistema.
429

100
EDN (1) EDN

Módulo Eed com calibração (MPa)


EDI
80
1
1
60
(2) EDI

40

(1) Eed(c/cal) = 1.81E ed(s/cal) - 1.93


20
R2 = 0.90
(2) Eed(c/cal) = 1.45Eed(s/cal) - 0.78
R2 = 0.96
0
0 20 40 60 80 100

Módudo Eed sem calibração (MPa)

Figura C.14. Comparação entre os módulos edométricos (Eed) obtidos dos resultados
considerando e desconsiderando a deformação do sistema.

Na Figura C.17 não se observa com clareza alguma tendência de variação da


tensão de escoamento quanto ao efeito da calibração do sistema, embora a divergência
de parte dos pontos definidos pela interseção dos valores com e sem a correção, em
relação à linha de igualdade, indique alguma influência da deformação do sistema neste
parâmetro. Para alguns ensaios, a correção conduz ao aumento no valor da tensão de
escoamento, enquanto em outros a redução deste valor.

Como era de se esperar, a deformação do sistema exerceu maior influência nos


ensaios na umidade natural (EDN) do que nos ensaios inundados (EDI), o que é uma
conseqüência da maior rigidez do primeiro. Nos ensaios EDN, observou-se aumento de
cerca de 32% em σvm quando corrigida a deformação do sistema, embora houve um
caso onde a correção resultou na redução deste valor em cerca de 70 %.

As análises das Figuras C.10 a C.16, sugerem que a deformação do sistema


influencia, não apenas, na deformação total, como também na forma da curva, podendo
interferir de forma diferente nos parâmetros do solo. Fato semelhante foi observado nos
resultados dos ensaios com sucção controlada.
430

100 100
CP01 com calibração CP02 com calibração
Módulo Edométrico (MPa)
CP01 sem calibração CP02 sem calibração

Inundado Umidade Natural

10 10

(a) (b)
1 1
1 10 100 1000 1 10 100 1000

Tensão Vertical Média (kPa) Tensão Vertical Média (kPa)

Figura C.15. Variação do módulo edométrico (Eed) com a tensão vertical média, com e
sem a deformação do sistema.

45
Eed/Eed (com calibração)

40
35
30
25
20
15
10 EDI - CP01
5 EDN - CP02
0
1 10 100 1000

Tensão Vertical Média (kPa)

Figura C.16. Relação entre a diferença entre o módulo edométrico com e sem a correção
da deformação do sistema e o módulo corrigido, em função da tensão vertical média.
431

300
EDI

σvm com calibração (kPa)


250 EDN

200 1
1
150

100

50

0
0 50 100 150 200 250 300

σvm sem calibração (kPa)

Figura C.17. Comparação entre as tensões de escoamento (σvm) obtidas dos resultados
dos ensaios com e sem a deformação do sistema.

Embora a deformação de colapso e o coeficiente de colapso estrutural


apresentem pouca sensibilidade aos efeitos da deformação do sistema, os parâmetros
associados à deformabilidade do solo sofrem considerável variação quando são obtidos
de curvas não corrigidas. Em geral, as curvas corrigidas apresentam-se como se
houvesse um aumento da rigidez do solo, reduzindo os parâmetros Cc e Cs, e
aumentando o módulo Eed.

As análises de obras utilizando modelos constitutivos, onde os parâmetros de


deformabilidade e a tensão de escoamento compõem as formulações desses modelos,
podem conduzir a uma sobre-estimativa das deformações no campo quando estes
parâmetros são obtidos de ensaios não corrigidos, embora a favor da segurança.

Resultados de ensaios edométricos duplos e com sucção controlada, por


exemplo, foram utilizados por SILVA FILHO (1998) para simular o comportamento de
obras em solos não saturados através de programas de elementos finitos. Os programas
utilizados por este autor empregam tanto modelos elásticos quanto modelos
elastoplásticos. Procedimento similar foi adotado por COSTA et al. (2002) para simular
os recalques do equipamento Expanso-colapsômetro utilizando o modelo de ALONSO
et al. (1990).
432

No caso de obras de pequeno porte, o uso de resultados sem considerar a


calibração pode ter efeito pouco significativo em termos de custos, porém em obras de
grande porte, como barragens de terra, por exemplo, os custos podem ser inadmissíveis
do ponto de vista econômico. Em função disso, no laboratório, deve-se sempre proceder
as calibrações dos equipamentos antes da realização dos ensaios necessários a obtenção
dos parâmetros de projetos em solos não saturados.

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