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A REVOLTA DE QUEBRA-QUILOS:
DE UMA HISTORIOGRAFIA TRADICIONAL PARA UMA HISTORIA
VISTA DE BAIXO
RESUMO
RÉSUMÉ
1
Graduando em Licenciatura Plena em Historia na Universidade Federal da Paraíba
2
Quebra-quebra e quebra-pau,
quebra-faca e quebra-cabeça,
quebra de braço e quebra-rabicho,
quebra-queixo e quebra-enguiço,
quebra-quebra e Quebra-Quilos.
Fagundes, povoação do distrito de Campina Grande que prepara a sua feira semanal, espaço
privilegiado, tanto por sua função social, quanto econômica; os feirantes chegam, se instalam
e os arrematantes de impostos fiscalizam; poderia ter sido um dia de feira comum se não fosse
o ato de recusa, por parte de um feirante, de pagar o imposto do chão 2, considerado por ele
abusivo.
Eis aí o ponto de partida de um movimento de caráter político e social que se alastrou
em 35 localidades do agreste e da zona da mata paraibana, e que atingiu várias outras
províncias do Nordeste (Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte) sendo muito mais
significativa na Paraíba. Uma revolta do campo que terminou nos princípios de 1875,
violentamente reprimida, e que teria sido provocada por diversas causas como o aumento de
impostos provinciais e municipais, a implantação de um novo sistema de peso e medidas e por
uma nova lei de alistamento militar, num ambiente econômico geral de crise no campo e num
contexto de ressentimento religioso devido ao aprisionamento de bispos considerados
refratário ao poder religioso imperial.
Ultrapassando, na sua abrangência geográfica, os limites da Paraíba, esse movimento
ultrapassou também os limites das províncias do Norte na sua repercussão política: o próprio
Imperador Dom Pedro II se reportou a esse acontecimento em pronunciamento oficial, o
ministro da Justiça cobrou medidas enérgicas no restabelecimento da ordem nessas províncias
e a Assembléia Geral do Império discutiu o assunto em plenário (LIMA, 2001. P.9).
Qual foi o tratamento dado a essa revolta pela produção historiográfica paraibana
tradicional?
De fato, podemos nos interrogar quando Sá e Mariano afirmam:
A historiografia paraibana produzida sobre o século XIX foi elaborada numa
perspectiva basicamente política, feita nos moldes de uma história dita
tradicional, baseada em datas, em grandes feitos e homens, deixando um
vazio quando se tenta compreender, de forma mais específica, a integração
da Paraíba no processo de descolonização e formação do Estado nacional em
suas especificidades regionais e locais. Essa historiografia, na maioria das
vezes, ignora a sociedade global, a comparação e a análise. (SÁ,
MARIANO, 2003, p.13-14)
2
Imposto cobrado pelos arrematantes quando se ocupava o pátio da feira para expor os produtos à venda.
Quando o feirante se deslocava para outra parte da feira, podia ser cobrado varias vezes. (SÁ, 1994, p.106)
4
A revolta de Quebra-Quilos foi objeto de diversos estudos, ao longo dos quase 138
últimos anos. Longe de nós tentar abranger e refletir sobre a totalidade dessa produção.
3
“... a “relatividade histórica” compõe assim um quadro no qual, com a totalidade da história como plano de
fundo, emerge uma multiplicidade de filosofias individuais, aquelas de pensadores que se vestem de
históriadores.” Tradução nossa.
5
A nossa opção foi, primeiramente, delimitar dois períodos cronológicos que representam, a
nosso ver, dois momentos teóricos de reflexão histórica; em seguida, no seio de cada período,
escolher autores representativos de certo fazer histórico.
A nossa primeira investigação estende-se sobre o período de um século, e apresenta
um panorama da historiografia tradicional a respeito da revolta de Quebra Quilos, através de
quatro autores que representam, em nossa compreensão, tendências no tratamento desse
acontecimento; elegemos, portanto, um francês abrasileirado, Henrique Augusto Milet, dois
paraibanos, Horácio de Almeida e Geraldo Joffilly e um professor universitário
pernambucano, Armando Souto Maior. De 1876, data que marca a obra do primeiro, até 1978
quando veio à luz o trabalho do último, cada um a sua maneira, com suas palavras, em função
da sua própria história, da sua formação intelectual, da sua vivência e dos seus interesses
tentou apresentar uma explicação à essa revolta.
4
“Do desaparecimento do capital flutuante” A parte principal deste artigo é a reprodução de artigos publicados
em jornais brasileiros.
6
l’Étranger”5 e que havia sido recusado pelo Secretario de Redação por falta de conformidade
com as teorias clássicas, ele já explicava que a grave crise econômica, principalmente a crise
do setor açucareiro, provocava o desaparecimento do capital flutuante no setor agrícola, na
indústria, no comércio, e que essa situação impedia os produtores do Nordeste de economizar
e os obrigava até a hipotecar os seus instrumentos de trabalho concluindo que “chacun de
nous retient instinctivement une petite partie de ce capital, dont la disparition ôte le sommeil à
nos hommes d'Etat, et, malheureusement, le pain à beaucoup de nos concitoyens.” 6 (MILET,
1889, p.96-98)
Essas três referências apresentam, em poucas palavras, a visão de Milet no que diz
respeito às causas desse movimento social, e deixa transparecer certa fibra socialista e
humanista que pode surpreender, vindo de um senhor de engenho que foi, em 1878, Secretario
Geral do Congresso Agrícola do Recife.
Mesmo Milet reconhecendo o envolvimento de forças políticas e religiosas no
desenrolar do movimento, ele defende a tese que o povo nordestino não se revolta sem
motivos reais e que ele não se deixaria manipular por alguns agitadores sem prestigio; é,
portanto, a razão pela qual ele afirma que:
A sedição dos Quebra-quilos tem raízes mais profundas; nasce do mal estar
das nossas populações do interior; mal-estar de que não pode duvidar quem
se acha em contato com elas, e prende-se pelos laços mais evidentes à
tremenda crise pela qual está passando a nossa agricultura e a das nossas
vizinhas do Norte e do Sul, desde que a alça do cambio, junto a falta de
credito suficiente e a juro razoável, há tornado o preço dos nossos principais
gêneros de exportação inferior as mais das vezes ao custo da produção.
(MILET, 1987, p.30)
Milet era engenheiro, formado na prestigiosa Escola Politécnica de Paris e era, como
Vauthier (chefe da Missão Francesa), discípulo de Fourier. Eles eram também ex”Quarante-
huitards”7e através do seus papeis de cientistas, carregavam também uma missão de
reformadores sociais na qual positivismo e socialismo se misturavam. Segundo Vamireh
Chacon: “Positivismo e socialismo, portanto, explodindo como experiências científicas, e às
5
Revista Cientificas da França e do Exterior. Essa revista foi criado em 1863 e era a publicação de referencia em
matéria de conhecimento cientifico. Mudou varias vezes de nome e, em 1971, então denominada “Nucleus” foi
absorvida pela revista “La Recherche” até hoje uma das mais conceituada revista de referência para a informação
cientifica francófona.
6
“Cada um de nós retém instintivamente uma pequena parte deste capital, cujo desaparecimento tira o sono dos
nossos homens de Estados e, infelizmente, o pão de muito dos nossos co1ncidadãos.” Tradução do autor
7
Eles foram testemunhos do que acontecia na Europa na década de quarenta do século XIX. Essa denominação
os apresenta como indivíduos compartilhando o espírito desse movimento revolucionário. Se Vauthier, que
regressou à França em 1846, pode ter mesmo participado da Revolução de 1848, Milet que ficou no Brasil
parece ter acompanhado esses acontecimentos mais de longe.
7
vezes científicas nos seus excessos, num país dominado por latifundiários e bacharéis, onde só
por exceção aqueles pioneiros médicos, engenheiros e matemáticos fizeram ouvir suas vozes”
(CHACON, 1981, p.149-150). Milet era também economista e grande crítico das doutrinas
estrangeiras que eram aplicadas de uma forma dogmática no Brasil, sem verdadeiros estudos
locais, considerando as peculiares situações geográficas, econômicas, climáticas e mesmo
etnológicas (MILET, 1987, p.103). Esta crítica da doutrina liberal e do sistema comercial e
industrial que dominava a sociedade ocidental se expressa ainda mais nos escritos sobre
economia política. Ele defende o Estado social e os princípios de justiça ou de igualdade e,
portanto, a necessária intervenção do poder social em todas as relações e, sobretudo, na
economia, para defender os interesses de cada individuo dentro dos limites exigidos pelos
direitos dos outros. Para ele o progresso da civilização, criando novas relações, deve gerar
novas atribuições ao poder social. O objetivo final seria a proteção dos mais pobres pelo
poder publico e não a utilização deste para justificar o aumento de poder e de riqueza dos
mais abastados. (MILET. 1889, p25-26)
Para Milet, o progresso científico deveria ser utilizado em todos os domínios, aplicado
e adaptado ao Estado brasileiro dentro de um projeto que poderíamos classificar hoje de
desenvolvimentista e protecionista frente à globalização da economia, segundo princípios
econômicos ortodoxos, no qual o Brasil seria, nada mais que um produtor de matéria prima.
Nessa visão economicista com uma perspectiva social forte, o povo, a classe laboriosa, não
era realmente ator, agente do seu destino. Esse grupo social reage, segundo ele, até
inconscientemente e é percebido, portanto, como uma peça importante do sistema econômico.
De acordo com Chacon, Milet terminou mais como um defensor do dirigismo nacionalista
que como um militante do fourierismo, tendo em vista a sua experiência concreta da realidade
brasileira, longe de qualquer radicalismo nem dogmatismo (CHACON, 1981, p.185). No
entanto, pertencendo à classe social dominante, Milet não esquece que melhorar a vida do
homem do campo é a garantia da estabilidade social, já que “a sedição Quebra-quilos avisa
claramente aos senhores dos nossos destinos que não devem perder um instante em procurar
os meios de salvarem-se a si, a nós e á ordem social” (MILET, 1987, p.40)
Horácio de Almeida
A trajetória de Horácio de Almeida e a sua atuação na elaboração de uma história dos
acontecimentos da revolta dos quebra-quilos divergem radicalmente daquelas de Milet;
primeiramente pelo seu período de atuação, já que ele nasceu no dia 21 de outubro de 1896,
portanto dois anos após a morte do dono de engenho franco-brasileiro e, sobretudo, porque a
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sua motivação e as suas referencias intelectuais são radicalmente diferentes, pela sua história
de vida e pelo seu posicionamento tanto político quanto intelectual.
Natural de Areia, ele estudou no liceu Paraibano, bacharelou-se pela Faculdade de
Direito do Recife em 1930, uma escolha razoavelmente comum pelos jovens do seu meio
social nessa época; até esse momento havia atuado como jornalista e depois exerceu a
advocacia, primeiramente em Areia, e depois em João Pessoa, com grande sucesso. Foi juízo
eleitoral, e assumiu, em 1935, a presidência da Junta de Conciliação e Julgamento na Paraíba.
Após uma breve incursão na função de Secretário do Interior, Justiça e Segurança da Paraíba
em 1946 que o deixou com certo desgosto em relação à política, Horacio de Almeida “exila-
se” no Rio de Janeiro, instala o seu gabinete e exerce a advocacia. (ARRUDA, 2003, p.193-
194),
Um elemento relevante da sua biografia é a sua aversão ao clericalismo católico
romano, forjado ao longo do tempo a partir de um trauma de infância e no seu
posicionamento político, caracterizado entre outras coisas, pela sua luta em favor de um
Estado laico, garantia da liberdade de pensamento religioso, como o testemunha a sua
participação ativa na criação da Liga Pró-Estado Leigo, no período pós Revolução de 30.
(ARRUDA, 2003 , p.193-194)
Grande letrado, a sua produção intelectual eclética e fecunda impressiona e demonstra
a sua grande erudição universalista.
Horácio de Almeida foi ligado às esferas do poder; poder político, diretamente ou
através de uma rede de contato que ele soube tecer durante a sua vida profissional e pessoal;
mas também poder intelectual na sua atuação em numerosas instituições de letrados como
sócio ou como membro fundador: Academia Paraibana de Letras, Academia Brasileira de
Literatura, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) e Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB) entre outras. São essas duas últimas que nos interessem e, mais
especificamente, o IHGP e a sua cadeira nº42 que ele ocupou desde 1936 até a sua morte no
dia 5 de junho de 1983.
O IHGP, ramo paraibano do IHGB, foi criado em 1905 e, de acordo com Dias, antes
do IHGP, do empenho dos seus fundadores e, sobretudo, da publicação da sua Revista a partir
de 1909, não existia história da Paraíba (DIAS, 1996, p.27). Essa instituição, cujos membros
vinham da elite paraibana, elite política e intelectual, portanto, representante da classe
dominante oriundos do Liceu Paraibano e/ou da Faculdade e direito de Recife, se propôs
como principal objetivo escrever uma genuína História da Paraíba; dessa maneira,
alforriando-se da posição de simples participante da História do Brasil ou de elétron livre
9
Horácio de Almeida representa, por um lado, esse tipo de historiador, moldado pelo
fazer história institucional. Por causa da sua ligação com o poder, tanto político quanto
intelectual, ele nos deixa uma história essencialmente política, seguindo os padrões da
historiografia tradicional pouco diferente da História Oficial, próximo do espírito positivista e
metódico na sua exigência com a verdade sem a qual, segundo ele não haveria uma verdadeira
história; no entanto, essa mesma exigência o leva a usar a crítica para construir a sua própria
versão da história, apesar de não apresentar na sua produção intelectual um referencial
teórico-metodológico. (ARRUDA, 2003, p.200-202).8
Horácio de Almeida apresenta a sua versão explicativa da Revolta de Quebra-Quilos,
em duas obras: “Brejo de Areia” (1958) e “História da Paraíba - vol.2” (1978), a segunda,
retomando com uma nova roupagem os argumentos da primeira. Ele consagra um pequeno
capitulo de 6-7 paginas, em ambos as obras, com a mesma retórica, defendendo a tese de que
a Paraíba serviu de palco para as consequências da luta que travavam a Igreja Católica e o
Estado Imperial, acusado de agir a serviço da maçonaria, na conhecida Questão Religiosa no
Brasil.
Nas duas obras, o autor vai apresentar as causas, geralmente apontadas para explicar a
revolta: adoção do sistema métrico decimal, o aumento dos impostos provinciais, a mudança
8
Segundo Arruda, existe um diferencial em Almeida em relação às obras produzidas até então sobre a História
da Paraíba: ele apresenta aspectos culturais que nos dão informações preciosas sobre o cotidiano e os costumes
da época (ARRUDA, 2003; p.203); no entanto, em relação aos Quebra-Quilos, episodio no qual o aspecto
político, na percepção de Almeida, é primordial, esse diferencial não aparece de forma alguma e o tratamento
dado é eminentemente tradicional retomando os padrões clássicos do IHGP.
10
lei do alistamento militar e o descontentamento religiosa; mas, de forma ligeira, (meia pagina)
e, após um exame que ele considero objetivo, vai descartar as três primeiras por ser
respectivamente uma benfeitoria para a população, um assunto desconhecido pelo povo e
ainda não aplicado, uma melhora em relação ao antigo sistema de recrutamento (ALMEIDA,
1958, p. 93).
Portanto, a única explicação plausível e racional seria o fanatismo religioso. Para ele,
houve uma manipulação por parte do padre Calixto da Nóbrega, vigário de Campina Grande,
e do padre Ibiapina, missionário católico cujo zelo apostólico e inúmeras obras sociais
marcaram a consciência do Nordestino, para explicar a revolta do povo contra o Estado
Imperial e a maçonaria.
Podemos apresentar alguns elementos significativos da maneira com que Almeida
defende o seu ponto de vista.
Em relação á responsabilidade exclusiva do fanatismo religioso e lembrando a aversão
do autor ao clericalismo católico, não podemos não notar a maneira expeditiva em descartar
as outras causas possíveis da revolta mesmo sendo conhecido o posicionamento do vigário.
Se é interessante notar a leitura crítica que o autor realiza em relação ao ponto de vista
de Irenêo Jofilly (Irenêo Ceciliano Pereira Joffily), figura publica e política local, apresentado
pelo autor como “um nome de alto conceito na história da Paraíba” e “o notável historiador
paraibano” (ALMEIDA, 1958, p.95), notamos também a diatribe acerca de Jofilly em ambos
as obras, o apresentando como um suposto co-mentor dos acontecimentos em parceria com o
Padre Calixto. Podemos perceber aqui, em parte, o aspecto “metódico” de Almeida no
tratamento da história: é preciso um distanciamento indispensável em relação ao próprio
objeto de estudo e Joffily foi testemunha ocular dos acontecimentos, o que o desqualificaria
para poder interpretá-lo, com a isenção necessária ao trabalho de historiador.
Outro ponto muito importante é que ele justifica várias vezes as suas afirmações a
partir das únicas falas emanantes de autoridades oficiais como o Presidente da Província da
época ou do Chefe de Polícia, registradas em documentos políticos considerados por Almeida
como fontes oficiais, como fatos evidentes e, neste título, dignas de fiabilidade. (ALMEIDA,
1978, p.169). Como aponta Lima, Almeida termina caindo na armadilha das fontes oficiais,
quando ele omite de ter um olhar crítico sobre essas mesmas fontes (LIMA, 2001, p.48).
Enfim, quando o autor se refere aos verdadeiros atores da revolta, ele os apresenta
como uma massa destruidora, uma horda de invasores, exaltada, fanatizada, quase hipnotizada
e manipulada por forças “ocultas”, que ele designa rapidamente como sendo religiosos, cujo
zelo apostólico empurraria a população à desobediência. E mesmo se, na parte introdutora do
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seu discurso acerca de Quebra-Quilos, em “Brejo de Areia”, ele diz que “o caso vai tomando
um aspecto de uma revolução de fundo social que se alastra rapidamente para além dos
limites da Província, como se a opressão exercida contra a população pobre do interior fosse o
motivo de sua eclosão” e que mesmos os “negros cativos tomam parte do levante”
(ALMEIDA, 1958, p.93) é para melhor desconstruir essa hipótese, retirando, assim, toda
capacidade de ação a essa mesma população no movimento de contestação, subjugada ao
controlo dos clérigos.
9
Informação biográfica existente no sítio eletrônico institucional do TRE do DistritoFederal. Disponível
em:<http://www.tre-df.jus.br/default/institucional/galeria3.jsp>. Acesso em: 19 agosto. 2011.
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teórico-metodológica capaz de sustentar esse discurso. Para ele, a degradação do clima social
na Paraíba seria, em grande parte, de responsabilidade do Presidente da Província da época,
Dr. Silvino Elvídio, proprietário do Jornal da Paraíba, órgão de imprensa a serviço do
governo e do partido conservador; em contraponto estaria o partido Liberal, progressista,
representado na imprensa pelo O Despertador, em que escrevia o avô do autor, Irinêo Joffily.
Uma grande parte do livro explica os acontecimentos através de uma batalha oratória entre os
dois jornais. A sua posição, quanto às causas prováveis da revolta, retoma, em parte, os
argumentos defendidos pelo seu avô; segundo Geraldo I. Joffilly
Para Geraldo I. Joffily, se todo o material ao qual ele teve acesso, publicado sobre o
assunto, apresenta e categoriza o matuto como ignorante e inconsciente, “o estudo das normas
e preceitos vigorantes naquela época vem demonstrar que os matutos eram bem mais atilados
do que se poderia supor, reagindo contra o arbítrio do recrutamento e do “imposto do chão”,
realmente intolerável” (JOFFILY, 1977, p.56). Da mesma forma, ele afirma que esses matutos
se revoltavam contra os doutores, contra o governo e a administração pública e não contra os
senhores de engenho (JOFFILY, 1977, p.80). e conclui que essa rebeldia “serviu para
demonstrar que os matutos tinham capacidade de reivindicar direitos, principio básico para o
desenvolvimento de toda organização social” (JOFILLY, 1977, p.96). De fato, Joffily esboça
um novo olhar sobre os, até então, desprezados e esquecidos atores principais da revolta de
Quebra-Quilos; é bom lembrar que Geraldo Joffily foi o primeiro juiz a aplicar a Lei Afonso
Arinos, contra a discriminação racial, e que o ostracismo que ele teve que enfrentar por parte
de ditadura durante anos pode em parte explicar esse olhar diferente frente a uma revolta
social. Todavia, ele não vai explorar essa idéia nem construir uma argumentação à altura. Ele
se limita à exploração das fontes oficiais, que são, de fato, imprescindíveis e de grande
importância, mas limitadas na sua utilização pela marca registrada do poder da época. Além
do mais, Joffily, tenta, no seu livro, abranger muitos objetivos como, por exemplo, a sua
tentativa de exonerar o seu avô de qualquer responsabilidade nos acontecimentos, ou
13
caricaturar a rivalidade entre Partido Liberal e Conservador, entre o bem e o mal, o progresso
e o atraso. Segundo Lima, apesar de apresentar uma problemática interessante, o raciocino de
Joffily, frequentemente apressado e apriorístico, dá luz a “uma espécie de colcha de retalhos”
(LIMA, 2001, p 50).
No final do seu livro, num parágrafo chamado “Política e Ideologia”, que parece ter
sido um acréscimo de ultima hora, Jofilly vai fazer referencia a outro trabalho, a tese de
doutorado que tinha acabado de ser defendida sobre Quebra-Quilos pelo Professor Armando
Souto Maior. Apesar de não ter utilizado esse material no seu trabalho, e elogiando essa
contribuição ao estudo dos movimentos populares no Brasil, Joffily não pode não critica-lá
quando seu avô é de novo acusado, injustamente segundo ele, por Souto Maior. Esse objetivo
transparecendo ao longo do seu livro, de restabelecer a sua verdade sobre o seu avô, numa
verdadeira cruzada, o empurra a terminar seu trabalho de certa maneira glorificando a atuação
do seu ancestral, apresentando-o como um “quarante-huitard”, influenciado pela Comuna de
Paris. Mas o mais interessante é a sua reflexão final: “A pesquisa de dados objetivos é a parte
mais difícil da nossa história”(JOFFILLY, 1977, p.106). É nesse intuito que estudaremos
agora o caso do Prof. Armando Souto Maior.
“Quebra Quilos. Lutas sociais no outono do Império” que ele apresentou como tese de livre
docência em 1977.10
O perfil profissional desse historiador é, sem duvida, muito diferente dos autores
citados nesse sobrevôo historiográfico a cerca dos acontecimentos ocorridos no episodio
chamado de Quebra-Quilos; Armando Souto Maior é um acadêmico com uma formação
especifica de historiador, com um percurso universitário de formação e de profissionalização
respondendo a padrões, em matéria de pesquisa científica, reconhecidos por seus pares
nacionalmente e internacionalmente. A sua graduação em Direito parece ter sido um resquício
da via sacra da geração anterior.
Além desse aspecto formal da sua biografia que apresenta o meio profissional no qual
evolui Souto Maior, podemos vislumbrar, por conseqüência, a sua visão do fazer história, aqui
focalizada a partir da obra sobre o Quebra-Quilos.
Primeiramente, destaque-se que ele fez a sua pesquisa baseado em fontes ampliadas
em relação aos seus predecessores: além das fontes presentes nos arquivos locais, utilizadas
tradicionalmente, recorreu ao Arquivo Público Nacional, onde parte de documentação sobre
esses acontecimentos se encontrava num só códice, misturada com outros tipos de revoltas
acontecidos na segunda metade do século XIX (SOUTO MAIOR, 1977, p.56). Segundo,
discutiu com autores que já publicaram sobre essa temática, especialmente com Milet que ele
cita muito para tentar caracterizar a situação econômica da época. Enfim, e sobretudo, existe
na sua abordagem um referencial teórico que vai assegurar uma estrutura básica em torno da
qual o autor vai tecer uma rede de questionamentos, de informações, de hipóteses e de
respostas para dar forma a um trabalho que busca explicações para o Quebra-Quilos.
Nas primeiras linhas da introdução da sua obra, Souto Maior já define a linha teórica
que ele vai seguir:
Histórica e sociologicamente o movimento Quebra-Quilos poderia ser classificado
como uma forma primitiva ou arcaica de agitação social. Em algumas cidades é mais
do que um tumulto e menos que uma revolta, noutras é uma revolta quase articulada,
onde se nota interferência de juízes ou padres e reflexos da dicotomia partidária
imperial. Na sua dimensão maior corresponde a uma crise ora contestada ora
reconhecida pelos economistas dos fins do século XIX, como também pelo próprio
governo. (SOUTO MAIOR, 1978. P.1)
Ele retoma, numa ambientação nordestina, a teoria que Eric J. Hobsbawm desenvolveu
no livro “Bandidos”, publicado em português em 1976, sobre o conceito de banditismo social.
10
Informações biográficas existentes no sítio eletrônico institucional do CNPQ, disponível em.
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4781323H0> Acesso em: 20 de julho de 2011;
assim como no sitio eletrônico institucional do CFCH da UFPE, disponível em <http://www.ufpe.br/cfch/>
acesso em 20 de julho de 2011.
15
Segundo Hobsbawm, o bandido social é um proscrito rural considerado como criminoso tanto
pelos Senhores quanto pelo governo, mas que continua pertencendo à sociedade camponesa,
recebendo apóio e ajuda por essa mesma sociedade; para ele, esse banditismo social é um
fenômeno universal na História e com uma impressionante uniformidade, sendo que
podemos definir dois ou três tipos correlatos em sociedades baseadas na agricultura e cujos
atores são principalmente camponeses e trabalhadores sem terras, submetidos à opressão e
exploração por parte de senhores e governos, com variações relativamente superficiais
(HOBSBAWM, 1976, p.11-13). Nesse contexto, o pauperismo e a crise econômica seriam
fatores desencadeadores; entretanto, esses bandidos são menos rebeldes e revolucionários que
camponeses que se recusam à submissão, não têm outras idéias que as do campesinato e não
são ideólogos com novos planos de organização política; seu único “programa” seria a defesa
ou restauração da ordem de coisas tradicionais, a partir de um critério de relações mais justas
entre os ricos e os pobres; nesse sentido, o bandido social é reformador e não revolucionário
(HOBSBAWM, 1976, p.18-20).
Quando Souto Maior apresenta a revolta em sua obra, afirma:
O quebra-quilos é resultado da evolução histórica da economia do império e seus
agentes mais visíveis nem sempre tem noção mais ou menos precisa do que seja o
Estado e sua maquina de soldados e policiais, cobradores de impostos, diferenciação
de classes, concentração fundaria, comercio, etc ...(SOUTO MAIOR, 1977,
p.2)
Nesse trecho, o agente histórico é caracterizado pela sua ignorância da estrutura macro
da sociedade na qual ele está inserido; em seguinte, é outro aspecto, aquele do analfabetismo e
por consequência, segundo Souto Maior, da inaptidão em expressar idéias que é apresentado;
os sediciosos são descritos como pertencendo
ao inframundo especial dos que não tem nem escrevem livros expondo idéias. Os de
maior categoria social são extremamente cautelosos e agem mais como profiteurs11,
do que como agentes ativos. A ótica com que deve ser observado, portanto jamais
poderá ser a mesma que clareia a analise de grandes revoluções ou revoltas com
corpo de doutrinas progressistas ou retrógradas, pouco importe porém com intenções
históricas perfeitamente definidas (SOUTO MAIOR, 1977, p.2).
Após essa caminhada não exaustiva, mas a nosso ver representativa, de um século de
historiografia acerca do Quebra-Quilos, podemos concluir que o conceito de lugar social, ao
qual estavam ligados os autores referenciados, é fundamental para explicar essa fase. Desse
estado de fato, surgem as importantes lacunas devido, de acordo com Dias, a essa tendência
em tratar fatos e pessoas considerados históricos de uma forma desvinculada dos processos
históricos mais gerais e que é necessário estudar o processo histórico paraibano em toda sua
amplitude, considerando não somente o político–administrativo, mas também todos outros
aspectos relativos a uma sociedade (DIAS, 1996, p.25). Certos grupos subalternos ou
categorias sociais foram silenciados ocultando, assim, os seus papeis na compreensão da
história dos movimentos sociais na Paraíba, “lembrando que o esquecimento também é
produzido pela história e assim como as lembranças, são relevantes” (SÁ, MARIANO, 2003,
p.13). Precisamos, portanto, de outro prisma para observar, e ouvir a voz desses esquecidos da
História Tradicional.
analisar a atuação desses novos agentes históricos necessita a busca de novos modelos,
diferentes daqueles oferecidos pelo marxismo tradicional ou pela história do trabalho.
Hobsbawm ressalva que os movimentos populares deixaram as suas marcas na história e,
apesar das suas quase invisibilidades em certos momentos, elas podem aparecer para quem
saiba olhá-las. No entanto, qualquer que seja a fonte, o problema fundamental é a constituição
de um quadro, de um modelo a partir do qual o historiador vai montar o seu próprio quebra-
cabeça; para isso, ele deve saber o que ele está procurando para poder reconhecer se os
resultados encontrados se encaixam ou não na sua hipótese e, no caso contrário, inventar
outro modelo. Deve, portanto, construir, mesmo que teoricamente, um sistema de
comportamento ou pensamento coerente e consistente que ele elaborou a partir das premissas
da sua investigação e das suas interrogações. (HOBSBAWN, 1998, p.224-226). É a razão pela
qual, recorrer, além das fontes oficiais a outro tipo de documentação oficial ou semi-oficiais, a
fonte literária, cultural é imprescindível, como também fazer uma nova leitura,
freqüentemente comparada, dessas mesmas fontes para apreender a mensagem dos silêncios,
como a riqueza dos detalhes, supostamente insignificantes. Um verdadeiro trabalho de
investigação policial, em que imaginação e erudição permitam ampliar a nossa percepção do
passado descobrindo o que aconteceu, mas, sobretudo, explicá-lo. Nesse sentido, a
contribuição de Thompson foi fundamental, sobretudo no que diz respeito ao lugar do
historiador e a sua implicação pessoal no entendimento das populações silenciadas pela
historiografia clássica:
Thompson não se limitou apenas a identificar o problema geral da
reconstrução da experiência de um grupo de pessoas "comuns". Percebeu
também a necessidade de tentar compreender o povo no passado, tão distante
no tempo, quanto o historiador moderno é capaz, à luz de sua própria
experiência e de suas próprias reações a essa experiência. (SHARPE In
BURKE (Org.), 1992, p.41-42)
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Publicado originalmente na França em 1978, esta obra foi traduzida em 1989 sob o titulo “Historia do medo
no Ocidente” pela Companhia das Letras. Na referencia que faremos, utilizaremos a versão original em francês.
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Para ele, longe de ser entendida como remanescente do passado, da tradição no seu
sentido de imobilismo, o “costume” era uma terminologia operacional que incorporava tanto
uma dimensão cultural, no sentido atual, quanto uma dimensão de direito consuetudinário; é a
razão pela qual, segundo Thompson é fundamental definir o conceito de cultura popular ou,
como ele a denomina, de cultura plebéia: afastando-se de uma visão antropológica que
privilegiaria uma dimensão consensual, ele reinsere essa cultura dentro de contextos
históricos específicos e a situa “dentro de um equilíbrio particular de relações sociais, um
ambiente de trabalho de exploração e resistência à exploração, de relações de poder
mascaradas pelos ritos do paternalismo e da deferência” (THOMPSON, 1998, p.17).
Se vários costumes são reproduzidos por gerações, isso não quer dizer que essa cultura
é somente “tradicional” no sentido de estar submissa ao domínio ideológico das elites, dos
patrícios: a lei pode cercar um espaço de atuação da cultura plebéia, mas não pode controlar o
caráter dessa mesma cultura. Por isso, a cultura plebéia da Inglaterra do século XVIII é
conservadora, tradicional, e ao mesmo tempo rebelde e resistente, em nome dos costumes e
em defesa dos costumes. Esse aparente paradoxo encontra-se também na dupla identidade
social, na dupla consciência do trabalhador: ao mesmo tempo se conformando as regras
impostas devido ao seu estatuto na sociedade, e se rebelando em respostas às suas
experiências de vida (THOMPSON, 1998, p.19-20).
No período histórico do século XVIII, época de separação entre a cultura patrícia e
plebéia, a ofensiva político-social dos patrícios, refletindo o processo capitalista através das
inovações técnicas, da racionalização do trabalho, da imposição de novos valores, vai,
portanto, entrar em choque com uma conduta essencialmente não-econômica baseada no
costume. O autor nos propõe outro modelo explicativo das confrontações sociais e simbólicas,
baseado, portanto, sobre uma análise do momento que constituía o século XVIII nas relações
sociais: ”uma série de confrontos entre uma economia de mercado inovadora e a economia
moral da plebe, baseada no costume” (THOMPSON, 1998, p.21); essa economia moral dos
pobres sendo uma percepção enraizada e tradicional de um conjunto de normas e obrigações
sociais, de funções econômicas peculiares a diferentes grupos na comunidade (THOMPSON,
1998, p. 152).
Thompson nos apresenta uma hegemonia patrícia, em certas situações, vulnerável, um
teatro do paternalismo repetidamente submetido a críticas, freqüentemente desrespeitado, e
podendo se deparar, em certos momentos, com revoltas, apesar de sempre atuar um
conformismo conjuntural. Os patrícios abriram mão de uma total hegemonia cultural, antes
propiciada pela predominância das relações paternalistas e uma plebe que, dentre de novos
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Chegando ao final da nossa caminhada, estamos vislumbrando uma nova estrada a ser
construída, novas pesquisas a serem realizadas, a partir de materiais provenientes da releitura
de fontes oficiais já conhecidas e, por outra, por novo material a ser considerado e
investigado, e cujo direcionamento será dado por um novo foco de análise:”a história vista de
baixo”. Como o assinala Sharpe, ela “abre a possibilidade de uma síntese mais rica da
compreensão histórica, de uma fusão da história da experiência do cotidiano das pessoas com
a temática dos tipos mais tradicionais de história” (SHARPE, 1992, p.54).
Na historiografia tradicional, e de forma recorrentemente, ao exemplo de Elpidio de
Almeida na obra “Historia de Campina Grande”, a revolta de Quebra-Quilos é descrita como
“um movimento sedicioso sem idealismo, selvático, sem orientadores conhecidos, sem chefes
descobertos e responsáveis. Grupos de ignaros, a que se iam agregando desajustados e
criminosos, saíram a invadir povoações, vilas e cidades...” (ALMEIDA, 1978, p.147). Esse
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ponto de vista apresenta os principais atores desse acontecimento, os homens pobres livres,
segundo uma representação partilhada pelas elites, tanto políticas, quanto econômicas.
Observado através de um prisma focalizando e privilegiando “a história vista de
baixo”, ficamos surpreendidos pelo barulho estrondoso dos silêncios dessa mesma
historiografia, dita tradicional, acerca dessa população. Novas abordagens, tais como aquelas
apresentadas por Jean Delumeau e Edward Palmer Thompson, permitiriam empreenderam
novas pesquisas acerca da revolta dos Quebra-Quilos, investigando a sociedade paraibana
imperial na segunda metade do século XIX.
Longe de ser uma mera transferência dos resultados obtidos por esses autores, seria
preciso entender a vida, a resistência, as experiências desses homens e dessas mulheres pobres
livres, do ponto de vista deles, de suas crenças, dos seus medos, das suas inseguranças e
angustias, dentro de um complexo emaranhado de relações sociais entre “plebeus e patrícios”.
Assim esperamos, como Thompson o sugere na prefacio do seu livro - Formação da classe
operária inglesa - resgatar os homens e as mulheres pobres livres “dos imensos ares
superiores da condescendência da posteridade” (THOMPSON, 1997, p.13 ) e tentar, assim,
entender como, e porque, essas experiências e a vivência dessas mesmas experiências, dentro
de um contexto socioeconômico em mudança, na sociedade imperial do final do século XIX ,
puderam desencadear uma revolta tão explosiva quanto efêmera.
Citando Benjamim, nos não poderíamos sentir, enquanto historiadores do século XXI, “uma
lufada daquele vento que girou em torno dos ancestrais” e ouvir “um eco de vozes agora
silenciadas” (BENJAMIN, 1987, p.223)? Grande amigo de Benjamim, Stephane Hessel, nos
lembra que é a indignação que leva à resistência e à desobediência; seus protagonistas, fortes
e engajados, vão se unir à corrente da história; e a grande corrente da história prossegue
graças a cada um deles e ela caminha em direção de mais justiça, de mais liberdade, mas não
da liberdade descontrolada da raposa no galinheiro. (HESSEL, 2011, p.12). Nós estamos,
portanto, mais equipados, hoje, graças às novas abordagens teórico-metodológicas, mas,
também graças as nossas próprias vivências e experiências frente a um mundo globalizado em
mutação, para melhor entender o que pensava os atores da revolta de Quebra-Quilos.
Nos limites deste artigo, buscamos contribuir com a reflexão sobre a revolta do
Quebra-Quilos, partindo da historiografia existente e apontando para novas possibilidades de
revisitar o tema a partir de aportes teóricos especialmente apoiados na ampliação conceitual
da história social inglesa e da nova história francesa (que já não é tão nova assim). Sugerimos
ser possível, a partir dessa perspectiva, lançar novas luzes sobre o evento a partir do estudo de
seus protagonistas, dos homens comuns, recobertos pelo silêncio da história das elites,
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deixando que ocupem seu lugar de atores sociais e políticos e, pois, de sujeitos da história,
numa perspectiva de protagonismo ausente nas principais versões da historiografia
tradicional.
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