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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Programa de Pós-Graduação em Direito


Curso de Mestrado
Área de Concentração em Ordem Jurídica Constitucional

CLIMATE CHANGE POLICY, INNOVATION AND GROWTH


Antoine Dechezleprêtre, Ralf Martin, Samuela Bassi

Lia Carolina Vasconcelos Camurça

Fortaleza – Ceará
2018
1. INTRODUÇÃO

Trata-se de relatório formulado por autores versados na problemática ambiental sobre


a necessidade de se implementar uma mudança radical nas tecnologias utilizadas para
produzir e consumir energia. As questões ambientais chegaram ao ponto de requerer
inovação nas existentes e potenciais energias de baixo carbono, isto implicando na inovação
não apenas para a criação de novas ideias, mas também para a difusão e adoção dessas
energias pela economia.
O relatório subdivide-se em três seções a serem abaixo identificadas.

2. O IMPACTO DA POLÍTICA DE MUDANÇA CLIMÁTICA NA INOVAÇÃO

A partir do momento em que os recursos e as técnicas são limitados, a política de


mudança climática leva à uma mudança nos esforços da inovação de tecnologias poluentes
para a inovação em tecnologias de baixo carbono.
De acordo com os autores, muitos estudos afirmam que políticas públicas são uma
motivação crucial para a adoção de tecnologias de baixo carbono. Ademais, a alteração nos
preços devido à mudança climática estimula as inovações induzidas. Para ilustrar o ponto,
insere-se gráfico1 a demonstrar a correlação entre os esforços de inovação medidos por
depósitos de pedidos de patente. Portanto, a atividade patentária para energias renováveis
aumentou drasticamente, sendo uma resposta às políticas nacionais e esforços internacionais
de combate à alteração climática.
Outro estudo demonstra como a inovação reage a preços mais altos resultantes de
diversas políticas. Em suma, um aumento de 10% nos preços de energia aumentam a
atividade de patentes em novas energias em 4%. Além disso, tende-se a inovar mais em
tecnologias de baixo carbono, em vez de tecnologias de alto carbono, quando se encara
maiores preços de combustíveis fósseis.
Outra conclusão obtida é que a resposta de inovações às novas políticas ocorrem de
forma rápida. Evidências sugerem que respostas a maiores preços de energia ocorrem em
cinco anos ou menos. Em suma, há ampla evidência empírica que regulações de mudança
climática, seja diretamente ou por meio de alterações nos preços de energia, encorajam a

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difusão de tecnologias ambientalmente sustentáveis e a motivação para uma maior P&D nas
tecnologias de baixo carbono. Regulações de mudança climática podem ajudar economias a
alterarem a trajetória econômica para uma de baixo carbono.
Ao final do tópico, discute-se se a inovação em tecnologias de baixo carbono
desestimularia P&D em outras tecnologias. Há evidência empírica que o desestímulo ocorre,
eis que os fundos para P&D em energia não vêm de outros setores, mas sim de uma
redistribuição dos fundos de pesquisa que atuam em P&D. A questão agravaria se o
desestímulo ocorresse em detrimento pesquisas socialmente relevantes. No entanto, há
evidência que seriam mais desestimuladas patentes vinculadas à produtividade de energias
fósseis, como de refinamento e exploração, ante o maior estímulo de inovação em pesquisas
de baixo carbono.
Portanto, políticas de mudança climática possuem um papel crucial em garantir que
a atividade de inovação de baixo carbono venha ao custo de inovação em tecnologias
poluentes, em vez de outras tecnologias com alto valor social.

3. O IMPACTO DA INOVAÇÃO DE BAIXO CARBONO NOS LUCROS, NA


COMPETITIVIDADE E NO CRESCIMENTO

No presente tópico, os autores se propõem a verificar o impacto nos lucros de firmas


privadas. Após a análise de alguns estudos, obtém-se a conclusão que a regulação de
mudanças climáticas é custosa. Lanoie et al., por exemplo, descobriram que a inovação de
baixo carbono melhora a performance comercial de uma companhia, mas não de forma a
compensar os custos de lidar com as regulações. Apesar disso, esse custo pode ser mitigado,
eis que a inovação em si pode reduzir os custos diretos da própria regulação.
É bem estabelecido na literatura econômica que atividades de P&D não apenas geram
retornos privados aos inventores, mas também à sociedade. Esses transbordamentos de
conhecimento ao público em geral não beneficiam diretamente o inventor. Portanto, desde
que as companhias fazem decisões de investimentos baseadas nos retornos privados, a
distância entre retornos privados e sociais sugere que oportunidades de pesquisa socialmente
benéficas são ignoradas pelas companhias porque estas são incapazes de capturar totalmente
os benefícios dessas inovações.
Quiçá, isso justificaria uma intervenção pública, de forma a incentivar os benefícios
da inovação que não são estimulados pelo interesse privado.
Em estudo realizado por Dechezleprêtre et al., verificou-se que as externalidades de
conhecimento são muito maiores para tecnologias de baixo carbono do que para as de alto
carbono.2 Ademais, ao analisar a mudança do valor da companhia ao inovar, medido pelo
depósito de pedidos de patente, o valor aumenta deveras se aplicarem em patentes de
tecnologia de baixo carbono do que em tecnologia de alto carbono. Em outras palavras, os
transbordamentos de tecnologias de baixo carbono são mais valiosos economicamente que
transbordamentos de tecnologias de alto carbono.
Enquanto as políticas ambientais serão provavelmente custosas às companhias por
conta dos custos de regulação, elas podem angariar benefícios econômicos pelos retornos da
inovação e suas externalidades. Uma implicação importante é que de quaisquer soluções
procuradas haverão custos, sob o risco que de, se não observado isto, políticas socialmente
benéficas estarão fora de questão.
Por fim, verifica-se a captura de benefícios da inovação localmente. Um possível
impacto da competitividade ao impor políticas de mudança climática seria o da eventual
realocação de companhias para países com legislações mais flexíveis ambientalmente.
Apesar das evidências inconclusivas, uma análise empírica indica que, na maioria dos
setores, tais políticas possuiriam pequenos efeitos negativos na performance e realocação.
Portanto, se houverem fortes transbordamentos locais, os efeitos negativos poderiam ser
compensados. As inovações de baixo carbono provocam externalidades de conhecimento
tanto localmente quando além das fronteiras, com uma pequena vantagem aos benefícios
locais. Isto sugere que os benefícios locais da inovação são muito maiores que os benefícios
locais de apenas reduzir as emissões de carbono, eis que, diferentemente dos primeiros, estes
são igualmente divididos entre todos os países do mundo.

4. COMO MELHOR INCENTIVAR A INOVAÇÃO DE BAIXO CARBONO?

Em último tópico, os autores se propõem a avaliar qual combinação de políticas pode


fornecer o melhor incentivo desenvolvimento de novas tecnologias de baixo carbono, ou
seja, um incentivo à essa inovação.
A primeira questão seria sobre o financiamento público de P&D. Esse tipo de
financiamento em países membros da OCDE aumentou significamente desde o ano 2000.

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Isto com base em análises estatísticas que consideram o número de citações realizadas. Patentes de baixo
carbono possuem uma maior chance de serem citadas simplesmente porque existem menos delas.
Apesar disso, ainda está abaixo do que era no início da década de 80, após a segunda crise
do petróleo. Ainda se vê uma forte ligação do montante a financiar a P&D de tecnologias de
baixo carbono com o desempenho das energias fósseis no país. Determinar quanto investir
em inovação de baixo carbono com dinheiro público é uma importante questão.
Recentes pesquisas mostram que o estado ótimo de uma política de mudança
climática depende fortemente de subsídios de pesquisa. Apesar disso, os orçamentos de P&D
devem ser concedidos de forma lenta e fixa, de forma a permitir o próprio desenvolvimento
dos pesquisadores no campo. Ora, não adianta um súbito alto investimento se ainda não
existem muitos pesquisadores aptos a desenvolver a inovação. Também é importante
destacar que qualquer esforço em acelerar a inovação em tecnologias de baixo carbono
incluem o componente de treino de novos cientistas e técnicos para aumentar o fornecimento
dessa mão de obra a longo prazo.
Também, importante alvo de estudo é a natureza das políticas que incentivam
inovação. Distinguem-se, entre outros tipos, as de comando e controle e as baseadas no
mercado. As primeiras buscam alcançar um nível específico de performance, enquanto as
últimas estabelecem preço para as emissões de forma direta ou indireta. Historicamente,
fixou-se o conceito de que as políticas baseadas no mercado fornecem recompensas para o
melhoramento contínuo da qualidade ambiental, enquanto as políticas de comando e controle
penalizam poluidores que não atingem o patamar definido, sem recompensar aqueles que o
atingem.
Estudos recentes sugerem que, em verdade, tais políticas podem se complementar.
Os patamares definidos pelas de comando e controle podem ser complementos chaves para
as políticas baseadas no mercado, por exemplo em casos de comportamentos anômalos aos
instrumentos econômicos.
A estabilidade a ser fornecida pela política também é crucial. Em estudo realizado
por Butler e Neuhoff, é demonstrado como as tarifas FIT3 da Alemanha, de modo geral,
estimularam uma maior quantidade de investimento que as quotas de energia renovável do
Reino Unido, isto por conta da receita garantida por estas tarifas, bem como a diminuição
dos riscos do investimento.

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Feed-in tariff
Portanto, uma possível solução seria utilizar um portfólio de políticas que garantam
a adequação para as novas tecnologias de baixo carbono a curto prazo e com baixos custos,
mas que também a elas forneçam financiamento públicos.
Por último, evidências recentes mostram que países europeus dão ênfase na
implementação de políticas que o suporte direto em P&D. Isto sugere que os atuais esforços
na implementação de políticas devem ser aumentados com suporte adicional à P&D.

5. CONCLUSÕES

Um papel crucial para as políticas de mudança climática é garantir que a atividade


de inovação ocorra às custas da possibilidade de inovação em tecnologias poluentes, não de
pesquisas valiosas socialmente.
As tecnologias de baixo carbono induzem maiores benefícios econômicos, em termos
de transbordamentos, do que das tecnologias de alto carbono que substituem. O suporte
público em P&D também é necessário para incentivar tecnologias que estão mais distantes
do mercado, mas, apesar disso, possuem potencial a longo prazo.
O incentivo à inovação que parte unicamente das companhias está altamente ligado
aos retornos privados a serem obtidos. Cresce, portanto, a necessidade de políticas de forma
a financiar e incentivar P&D. No entanto, este financiamento deve ser sustentado de forma
lenta, de forma a permitir a ampliação dos próprios pesquisadores na área. Os países devem
ser incentivados a estabelecerem metas de P&D até 2030.
Por todo o exposto, é amplamente reconhecido que inovação é essencial para o
desenvolvimento tecnologias de baixo carbono e melhoramento das tecnologias existentes.
Há ampla evidência empírica que as políticas de mudança climática induzem inovações em
tecnologias de baixo carbono, ampliando o bem-estar.

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