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08/01/14 Técnica: Paradoxo de Epicuro/Problema do Mal – Parte III (algumas observações) | Projeto Quebrando o Encanto do Neo-…

Técnica: Paradoxo de Epicuro/Problema do Mal –


Parte III (algumas observações)
anjoshihourencho / 27/08/2012

Esse é o último post da série sobre o Paradoxo de Epicuro que – acredito eu – deu um panorama do essencial
sobre o problema.Aproveito para fazer mais duas observações que deixei de fora dos posts originais, mas que
são interessantes. A primeira é a respeito do problema lógico e a segunda do problema probabilístico.

Sobre o problema lógico, alguns levantam a questão do Céu. Não seria ele um mundo possível onde as
pessoas nunca fazem nada de ruim? Então, nesse caso, temos liberdade ou não?

Temos duas respostas e as duas são aceitáveis.

Pode ser que tenhamos liberdade. Mas talvez só seja possível criar um mundo de criaturas sem os
“contrafactuais” ruins com uma etapa de seleção anterior (como essa seria). Poderia ser, por exemplo, que só
pessoas que entrem livremente numa relação completa de amor com Deus consigam causar-se para não
cometer atos maus mesmo com uma liberdade significante. Como Deus dá a opção de entrar ou não nessa
relação, seria preciso essa “etapa” para criar um mundo livre sem tais contrafactuais. Se é possível, então
ainda não há erros.

No segundo caso, pode ser também que seja o caso de perdemos a liberdade de alguma forma. As pessoas,
nesse caso, poderiam fazer o sacrífico de parte de sua liberdade para viver com Deus. Mas o sacrífico seria
voluntário para os que querem entrar estar lá. Deus dá a liberdade, mas as pessoas podem optar não tê-la (o
que seria diferente de Deus tirar a liberdade, é bom frisar) em “troca” de algo.

Então essa objeção também falha.

Sobre o problema probabílistico, gostaria de elencar algumas justificativas teológicas (do Cristianismo)[1] para o
a existência do Mal que ajudariam a deixar mais clara alguns pontos. Utilizarei como base um artigo
do Reasonable Faith. Seriam elas:

a. A moralidade de Deus não é igual a moralidade dada aos humanos: assunto já tratado em um dos primeiros
posts nesse blog. Muitos expressam o sentimento de que Deus não poderia determinar a morte de uma pessoa
ou permitir o uso do sofrimento. A analogia usada é quase sempre é de um pai que mata um filho. Mas a
analogia é falsa. Um pai e um filho estão no mesmo nível ontológico, pois são seres de mesma estatura (seres
humanos ). O pai só deu origem a outro ser humano, mas não pode dispor dos direitos dele. Já Deus é superior:
Ele é o senhor da vida e da morte, então teria o direito de decidir sobre elas (basta lembrar que pessoas,
quando discutimos pena de morte, não raro expressam essa idéia dizendo “O quê? Eles pensam que são o
que para decidir sobre a vida dos outros? Deus ?” ou ainda quando alguém falece: “Bom, Deus devia saber
que essa era o melhor momento de levar ele”.) E, considerando a idéia de que Deus determinou a criação, ele
nos fez mortais : nós iriamos morrer de qualquer jeito. Então se ele determinasse que prefere que uma pessoa
viva 65 anos ao invés de 80 não haveria problema. Só um materialista pode julgar como pior das coisas a morte
de uma pessoa, pois no materialismo essa é a nossa única chance e fim; mas se Deus existe, obviamente
esse não é o caso.

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b. O propósito da vida não é a felicidade terrena, mas conhecer Deus: um dos problemas com o Paradoxo é a tendência
de achar que o propósito de Deus é criar felicidade para os humanos na Terra. Então se o mundo não é uma
maravilha cor de rosa, onde eu tenho tudo que quero, AQUI e AGORA, significa que Deus (meu “call-center”
preferido”) não existe. A mentalidade moderna de “direitos” (todo mundo tem o direito de exigir qualquer coisa,
por mais absurda que seja) e do “o importante é ser feliz” não possivelmente pode ter agravado esse
pensamento. Mas no Cristianismo, isso é falso. Nós não somos os “cachorrinhos poodle” de Deus e a meta
não é a felicidade nesse mundo, mas o livre conhecimento de Deus, que representa, em última instância, a
maior e mais perfeita felicidade e completude humana de todas. Então momentos de dificuldade e tristeza na
nossa vida podem ser justificadas como uma forma de baixarmos a guarda e nos reaproximarmos de Deus de
forma mais estreita e duradoura o que, no fim das contas, é a melhor das coisas.

c. Conhecer Deus é o maior bem de todos: Conhecer Deus, uma fonte ilimitada de amor e compaixão, é um bem
incomparável e o maior possível de toda a existência humana. Os sofrimentos dessa vida não são
absolutamente nada comparados ao que seria o amor de Deus uma vez que estivessemos em uma relação
livre com ele. Então uma pessoa que, no fim das contas, acaba conhecendo Deus poderia dizer, sem chances
de arrependimento, não importa o quão dura fosse sua vida, não importa quantas dificuldades passou, “Deus é
bom” – justamente pelo fato que nenhum mal chega perto de se equiparar ao conhecimento de Deus.

d. O conhecimento de Deus se estende na vida eterna: Segundo o Cristianismo, essa não é a nossa única vida. Todos
aqueles que confiam e dedicam sua salvação à Deus terão acesso à vida eterna de uma felicidade
incomparável. E quanto mais tempo passamos na eternidade, mais e mais aqueles momentos de sofrimento
parecem apenas um momento minúsculo e infinitamente insignificante perto do que teríamos na nova situação.
Imagine um mendigo que precise trabalhar duro durante um minuto para ficar para sempre numa ilha
paradisíaca. Por maior que seja sua aversão ao trabalho, os benefícios fariam impossível ele reclamar desse
breve momento de dedicação.

e. Crianças e mal natural: Muitos perguntam: “Mas e as crianças que morrem em desastres ou semelhantes?”.
Observe que essa reclamação, como explicado acima, só serviria no materialismo, pois aí sim seria a única
vida que temos. Não sendo esse o caso, podemos reclamar de uma criança que viveu pouco inevitavelmente?
Talvez fosse o momento de Deus levá-las. Também é possível que nosso mundo esteja ajustado com uma
quantidade de sofrimento (natural ou não) que permita o maior número de pessoas possível livremente aceitar
Deus – poderia ser o caso de que menos pessoas (incluindo as próprias crianças) livremente iriam se salvar se
elas não partissem agora e que mais pessoas entrariam na perdição eterna. Então, lembrando dos itens acima,
esse seria um motivo justificável para crianças que vivem pouco.

f. Deus não fica parado – ao contrário, ele trabalha pela salvação de todos: de acordo com a visão de mundo cristã,
Deus não fica parado olhando para as coisas ruins que acontecem aqui embaixo e dizendo: “Hm, é, isso aí.”
Pelo contrário. Ele teria um papel ativo todos os dias tentando fazer as pessoas aceitá-lo e aproveitando
oportunidades para pessoas abertas a Ele se aproximarem. Ele também aceitou sofrer numa escala sem
precedentes para pagar nossos pecados. Então dependeria de nós aceitarmos sua redenção e seu convite – e
nos livrarmos do mal que nos aflige para sempre.

Essas são algumas abordagens teológicas para a existência do Mal. Sempre haverá mais alguma teodicéia ou
defesa que merecam notas – e você pode ler mais livros e pesquisá-las. Por enquanto, o meu caso está
encerrado.

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