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TRABALHO ACADÊMICO – NOÇÕES

1.1 Artigo

É publicado em revistas acadêmicas de diferentes áreas e com


periodicidades diferentes. Os artigos contidos nessas revistas correspondem
ao gênero mais usado, na academia atualmente, como meio de produção e
divulgação de conhecimento gerado na atividade de pesquisa para que o
público vá assimilando os avanços da ciência, isto é, são escritos para divulgar
pesquisa feita em revista especializada da área ou, também, para constituir
capítulos de um livro escrito por diversos autores.
O objetivo do artigo é discutir ou apresentar fatos referentes a um projeto
de pesquisa sobre um dado problema dentro de uma área de conhecimento
específica e é de relevante importância, pois servirá de consultas e pesquisas
futuras.
O artigo pode ser descrito em termos de:
a) Objetivo – discutir um experimento, fazer um levantamento da pesquisa
prévia sobre um tópico em uma dada área, discutir um estudo de caso
ou relato de experiência;
b) Forma – 10 a 20 páginas (como sugestão e depende das normas da
revista que irá ser publicado);
c) Publicação – revistas acadêmicas;
d) Atividades – delimitar e analisar um problema, discutir e avaliar os
resultados frente às pesquisas na área, selecionar bibliografia.

O artigo deve conter:


a) título;
b) autor(es);
c) resumo (alguns podem ter abstract) que orienta sobre o que vai ser lido;
d) palavras-chave;
e) introdução que apresenta o estudo, seu objetivo, a metodologia utilizada;
f) embasamento teórico;
g) discussão dos resultados e a inserção do trabalho atual no contexto de
trabalhos produzidos na área;
h) conclusão e sugestões para futuras abordagens; e
i) referências bibliográficas.
Geralmente é um texto contínuo marcado pelos títulos dos itens e não
há troca de laudas.
Palavras-chave são expressões que concentram os temas centrais do
texto, orientam o leitor sobre as idéias desenvolvidas na discussão do texto no
geral.

1.2 Resenha

É publicada em periódicos acadêmicos. É um texto que resume e avalia


um livro, ou seja, é um gênero textual em que a pessoa que lê e aquela que
escreve têm objetivos convergentes: um busca e o outro fornece uma opinião
crítica sobre um dado livro (geralmente é sobre um tópico apenas).
O resenhista basicamente descreve e avalia uma dada obra a partir de
um ponto de vista informado pelo conhecimento produzido anteriormente sobre
o mesmo assunto. O vocabulário usado na resenha inclui palavras que refletem
a avaliação positiva ou negativa do livro, explicitando a visão particular do
resenhista sobre o livro.
A resenha é um texto que proporciona ao leitor uma apresentação da
obra, descrevendo-a criticamente, relatando o seu conteúdo, situando o texto
dentro do campo de pesquisa ao qual pertence e evidenciando as suas
relações com o campo teórico.
A análise deste gênero nos indica que, ao resenhar um livro,
desenvolvemos quatro etapas em que realizamos as ações de:

Apresentar > Descrever > Avaliar > Recomendar o Livro

Uma resenha crítica pode ser composta de cinco partes, cada qual com
uma função específica e conteúdo próprio:
a) Referência Bibliográfica  como destaque, após o título, deve aparecer
a referência bibliográfica completa da obra;

b) Informações sobre o autor  a resenha deve dar conta da posição do


autor no campo de saber que se pesquisa, pois muitas vezes a sua
opinião vale como um argumento de autoridade que pode ilustrar e dar
fidedignidade ao trabalho;

c) Resumo  deve constar um breve resumo do texto, enfocando as idéias


principais do texto;

d) Conclusões do autor  quando o texto é conclusivo, a resenha deve


conter as conclusões, caso contrário deve advertir o leitor sobre a sua
falta indicando os caminhos percorridos pelo autor para deixar o texto
em aberto. É fundamental, também, indicar o quadro teórico que serviu
de referência para o autor, bem como a metodologia empregada por ele
para chegar às conclusões expostas;

e) Opinião Crítica  o resenhista não pode se eximir de emitir o seu


posicionamento crítico sobre o texto, pois ele é decisivo para o
pesquisador posicionar-se sobre a leitura do texto e a contribuição que o
mesmo vai prestar ao desenvolvimento da pesquisa na área. Cabe,
também, alguma advertência ao leitor quanto às questões formais, ao
estilo, precisão, coerência, coesão e mesmo correção da linguagem;

Lembre-se de que RESENHAR não é sinônimo de copiar, é preciso


resumir e apresentar uma opinião crítica sobre determinado texto, a partir
de uma leitura analítica, crítica e reflexiva.
1.3 Resumo

É uma breve síntese do artigo e serve para dar ao leitor uma idéia geral
e principal do que vai encontrar ao ler o texto integral. Não é emitida opinião do
leitor, somente é apresentada a síntese do texto em si, a fim de que o leitor
tenha um acesso mais rápido ao conteúdo do texto.
O abstract ou resumo é usado em artigos acadêmicos revelando a
essência do artigo que precede e também para persuadir o leitor a continuar a
ler o texto integral. Esses resumos costumam conter por volta de duzentas a
duzentas e cinqüenta (200 - 250) palavras e constituem-se de informações
breves, claras e diretas a respeito da pesquisa realizada, dos resultados a que
se chegou e das conclusões mais importantes do estudo.
Em geral, o resumo de abertura de artigo compõe-se de parágrafo único
com o texto expresso de modo conciso, seletivo e sintético destacando-se do
texto considerado as idéias de maior interesse e importância, sem desvirtuá-las
ou interpretá-las.

1.4 Exemplo Artigo

REFLEXÕES DISCURSIVAS ACERCA DO MANUAL DIDÁTICO


COMO OBJETO DA HISTÓRIA1

Rosaura Albuquerque Leão2


RESUMO
Pretende-se, neste artigo, refletir como a memória histórica se re-atualiza e re-
significa no Manual/Livro Didático, pois se sabe que o manual é um instrumento
não só de estabilização e de legitimação da língua nacional via escola, mas
também de fundação de novos discursos inscritos na memória história. Esse
artigo tem como apoio teórico de Orlandi, Pêcheux, Auroux e Foucault,
principalmente.

Palavras-chave: Memória Histórica; Manual/Livro Didático; Análise de


Discurso.

INTRODUÇÃO

1
Trabalho publicado na Revista Expressão, Departamento de Letras da UFSM, Santa Maria –
RS. jan/jun, 2004, p. 137-141.
2
Professora da ULBRA, Doutoranda em Estudos Lingüísticos pela UFSM.
Este artigo filia-se à Análise de Discurso de linha francesa que concebe
a materialidade da linguagem – o como se diz – como o fio condutor que leva à
compreensão dos sentidos. Os sentidos, por sua vez, entendidos em relação a,
não existem de per se, mas são constituídos nas relações que se estabelecem
em sua produção. Os sentidos não decorrem, pois, de propriedade da língua,
mas das formações discursivas em jogo. Por isso, há enunciados que remetem
ao mesmo fato, mas com sentido distintos, uma vez que o acontecimento é
singular para o sujeito, que viveu aquele momento, e guardado na memória,
que muda com o tempo e com a posição sujeito (ORLANDI, 1999).
Pretende-se com este artigo, refletir/entender como a memória histórica
se re-atualiza e re-significa no Manual/Livro Didático, pois como sabe-se o
manual é um instrumento não só de estabilização e de legitimação da língua
nacional via escola, mas também de fundação de novos discursos inscritos na
memória (ORLANDI, 2001).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os estudos relativos à memória reportam-se aos gregos da época


clássica que, realizaram estudos sobre a memória, concebendo-a como meio
privilegiado de acesso ao verdadeiro conhecimento. A concepção da memória,
como faculdade intelectual, ou como memória-conhecimento, sustentou toda a
tradição platônica e neoplatônica. Desse modo, dá-se importância às reflexões
sobre a memória de Santo Agostinho, para quem “a memória é o ventre da
alma. Sente-se com a alma, e o que é sentido passa para a memória. Lembrar-
se é retirar da memória o que ela contém, e que foi percebido, sentido ou
aprendido pela alma” (SANTO AGOSTINHO, 1973, p. 207-208). (...)

Hoje, é impossível fazermos uma distinção clara entre memória coletiva


e memória histórica, pois a primeira passa necessariamente pela história; ou
seja, é difícil a memória fugir dos procedimentos históricos. Assim, a memória
encontra-se prisioneira da história, transformando-se em “memória historizada”
(SEIXAS, 2001, p. 41). Rememorar é um ato que aconteceu no passado e
provocado pelo presente: o passado traz para nós, no presente, os
acontecimentos, a história reconstituída. Pela memória encontramos o passado
no presente.
Seixas (2001, p. 42) corrobora esse ponto de vista, afirmando que

toda memória é fundamentalmente ‘criação do passado’:


uma reconstrução engajada do passado e que
desempenha um papel fundamental na maneira como os
grupos sociais mais heterogêneos apreendem o mundo
presente e reconstroem sua identidade.
(...)
O livro didático é, hoje, um instrumento constitutivo do processo
educacional brasileiro, “é uma peça de linguagem que constitui o saber
escolar” (SCHERER, Pelotas, 2001). Por outro lado, todo o sistema de
educação, que é uma maneira política de manter ou modificar a aproximação
do saber, obedece a um conjunto de disciplinas que cobrem vários campos
desse saber. O sistema de ensino é considerado como uma manualização3 da
palavra, que vai acontecer na escola via disciplina de língua portuguesa. Por
sua vez, o livro didático é parte importante do aparato disciplinar. (...)
Sabe-se que, em AD, para “fazer sentido” é condição sine qua non que
haja outros sentidos já existentes na memória discursiva como já-ditos a
respeito do que é dito no presente. É o que Courtine (1981) chama de domínio
de formulações-origem, e, Orlandi (2001) de discurso fundador. A autora
concebe-os como “espaços da identidade histórica: é a memória
temporalizada, que se apresenta como institucional, legítima”. O discurso
fundador instaura e sustenta sentidos que modificam um já-dito, criando, nesse
caso, “uma nova tradição (filiação de sentidos), re-significa o que veio antes e
institui aí uma memória outra” (ORLANDI, 2001, p. 34). (...)

CONCLUSÃO

3
Termo usado pela Prof. Dr Amanda Eloina Scherer na palestra – Livro didático; arma
pedagógica do escrito e/ou da estrutura no PNLD? – proferida em Pelotas no III Seminário
Nacional sobre Linguagem e ensino – III SENALE, UCPel, 2001.
Entende-se, a partir dessas reflexões, que a Antologia Nacional foi o
suporte básico do livro didático, ou melhor, o discurso fundador de dizeres
autorizados e regularizados, que se re-significaram na memória histórica do
passado no presente re-atualizando-a. Em outras palavras, a memória está em
relação com o presente e com a história, uma vez que os sentidos se formam
na história e a língua significa com sua relação com a história. O recordar
através da memória também se concretiza no movimento presente em direção
ao devir, segundo Mariani (1998, p.38) engendrando uma espécie de “memória
do futuro” tão imaginária e idealizada quanto à museificação do passado em
determinadas circunstâncias. (...)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Tradução de


Eni Pulcinelli Orlandi. Campinas: UNICAMP, 2001.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho


simbólico. Petrópolis: Vozes, 1996.

_______. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas:


Pontes, 1999.

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