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Biorrefinarias: avanços sustentáveis na indústria química

Por definição, biorrefinarias são unidades onde ocorre o processamento sustentável de


biomassa para a produção de bens industriais de maior valor agregado. O termo
“biorrefinaria” foi concebido em analogia às refinarias de petróleo, de sorte que, assim como
o petróleo, a biomassa é dividida em frações diversas, que são refinadas para originar
produtos de grande utilidade. Os procedimentos envolvidos no biorrefino têm enfoque na
geração intermediária dos chamados “blocos construtores” (ou “plataformas químicas”),
substâncias de alta versatilidade muito utilizadas em indústrias.

Nesse aspecto, as biomassas habitualmente utilizadas são aquelas de base


lignocelulósica, presentes em tecidos de sustentação de vegetais. Uma vez que as
biorrefinarias se fundamentam no desenvolvimento sustentável e na química verde, um
aproveitamento responsável seria feito no uso de resíduos de colheitas ou de resíduos
industriais para gerar novos produtos. Os biopolímeros lignina (C9H10O2, C10H12O3 ou
C11H14O4), celulose [(C6H10O5)n] e hemicelulose [(C5H8O4)n], que constituem essa biomassa,
podem ser decompostos por vias químicas, termoquímicas e bioquímicas, que objetivam o
desenvolvimento de substâncias úteis, por meio do refino.

O bagaço da cana-de-açúcar é um exemplo de substrato abundante, posto que é


produzido em diversos setores da economia, como subproduto do setor sucroenergético, por
exemplo. Apresenta altos níveis de hemicelulose, de modo a ser uma das biomassas de maior
quantidade desse polímero. Em virtude disso, o bagaço da cana é considerado um resíduo com
bom aproveitamento na composição de produtos formados por pentoses, visto que a
hemicelulose é constituída, predominantemente, de D-xilose (C5H10O5), um açúcar de cinco
carbonos.

Molécula de D-xilose

Por Edgar181 - Wikipedia in English,


https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1721008
O isolamento da D-xilose envolve uma série de processos químicos e bioquímicos. Em
primeiro lugar, a hemicelulose é extraída do bagaço, por meio de um pré-tratamento, que pode
ser físico, químico ou biológico. Um dos métodos de pré-tratamento no processamento de
hemicelulose faz uso de catálise por bases, em que a lignina é removida parcialmente, de
forma que a hemicelulose possa ser hidrolisada por enzimas denominadas hemicelulases.

Nos pré-tratamentos que envolvem altas temperaturas, é formado furfural (2-


furanocarboxialdeído), por meio da desidratação das pentoses, e ácido acético, obtido a partir
da hidrólise de grupos acetil da molécula. A geração de furfural tem relevância na indústria
por conta dos derivados desse bloco construtor, tais quais os polímeros de fibras de vidro e de
resinas para aviação e freios, além do THF (tetra-hidrofurano), um solvente orgânico
fundamental para a indústria química. Ademais, outros compostos sintéticos podem ser
produzidos a partir do furfural, como a furfurilamina, substância de ação farmacológica e
pesticida, ácido furoico, imprescindível na fabricação de medicamentos, e ácido levulínico,
intermediário indispensável na síntese de ácido succínico, empregado na confecção de
fármacos.

Molécula de Furfural

Por Jynto [CC0], Wikimedia Commons,


https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5d/Furfural_3D_ball.png

Após a hidrólise enzimática da hemicelulose, a D-xilose já pode ser convertida em


químicos de maior valor agregado, como o ácido lático (ácido 2-hidróxipropiônico). A
obtenção desse composto orgânico pode ocorrer pela fermentação controlada da xilose por
bactérias anaeróbicas, uma vez que esta é um açúcar fermentável. Esse processo é importante,
pois o ácido lático tem diversos usos na indústria, desde o ramo alimentício até o campo dos
polímeros biodegradáveis.

Logo, nota-se que, a partir de uma pequena fração da biomassa, é possível obter uma
diversidade de compostos. Dado que os materiais de teor lignocelulósico compõem cerca de
50% da biomassa mundial, é de suma importância o investimento governamental nesse meio,
a fim de se diminuir a dependência econômica do petróleo. Ademais, o fato de as frações da
biomassa terem possibilidades de produção mais diversas em relação às frações do petróleo
precisa ser reafirmado, em vista da visão limitada que ainda se têm dos materiais de origem
renovável. Dessa forma, conclui-se que o aproveitamento dos recursos renováveis no mundo
atual é extremamente restringido, de modo que a substituição gradual do petróleo pela
biomassa seria um avanço fundamental para o desenvolvimento sustentável.

Referências Bibliográficas:

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